Volta



Harry não se deu conta de como o tempo passou rápido. Ficara quase duas horas dentro daquele quarto. Foi de bom grado que aceitou o convite de seu pai para tomar chá com bolinhos – que Tiago havia feito – e do que arrependeu-se logo em seguida.


Percebeu então que o tempo corria, e que quanto mais permanecesse ali, mais a despedida seria dolorosa.


 


CAPÍTULO 4 – VOLTA


 


- Tem certeza de que você não colocou Pó de Flú nisso daqui? – Lílian examinava um dos bolinhos, que estava compacto e tinha o aspecto de uma granada – eu posso quebrar uma vidraça com isso! – e atirou o bolinho na direção do marido que pegou o mesmo no ar, antes que atingisse um enorme vaso de porcelana.


Eles estavam esparramados pelo tapete da sala de visitas e a lareira estava acesa. Harry lembrou que era Dia das Bruxas, o que justificava os bolinhos de  (Tiago!) em forma de morcegos, abóboras e afins – que na realidade lembravam mais uma meia-lua irregular e bezuários. Era compreensível que a casa não tivesse nenhuma decoração, visto a natureza quase clandestina da família.


- Tenho certeza absoluta! – reclamou o marido – E eu usei receita que sua mãe me passou.


- Você tentou usar a receita que minha mãe passou para mim e que eu ensinei a você depois de muita insistencia.


- Ele só está fazendo um agrado... – Harry defendeu o pai.


- Isso mesmo! – concordou Tiago, apontando para Harry e gesticulando freneticamente – Você deveria sentir-se honrada!


- E tenho muita honra sim!


Harry achava estranho o fato deles não perguntarem nada acerca da sua vida, sua família e seu trabalho, mas era muito melhor assim. Brandon havia pensado em tudo.


No entanto, o tempo estava passando, e embora pudesse ficar lá até o dia seguinte, não queria fazê-lo. Isso implicava em ver os pais morrerem – e não era forte o bastante para suportar isso. Já havia visto em sonhos, não queria tem uma imagem vívida.


Quanto mais tempo permanecesse ali, mais ia ser difícil abandoná-los, sabendo que eles morreriam e que nunca mais poderia vê-los. Ele repetia para si mesmo constantemente, mas aquilo não surtia efeito.


Eles morreriam.


E se usasse aquela chave nunca mais poderia voltar.


Nunca mais.


Aquele sentimento passou a tomar conta de Harry, e ele necessitou de uma enorme dose de autocontrole para não gritar desesperadamente para os dois que corressem dali, se escondessem, já que Voldemort estava cada vez mais perto, que eles tinham sido traídos.


Todavia, eles pareciam tão felizes. Não teria coragem de fazer isso.


Não deveria.


O chá havia acabado e eles passaram para o wiski de fogo. Harry não queria beber, pois estando sóbrio já havia grande probabilidade de cometer um ato insano.


Estava quase escurecendo quando ele decidiu agir.


Iria embora.


Aquelas foram as palavras mais difíceis de pronunciar.


- Eu preciso ir.


- Como? Vai sair assim? Não quer passar a noite? – Lílian interveio, ele imaginou que faria aquilo.


- Eu preciso ir – ele limitou-se a repetir.


- Não é bom voltar agora – ele observou como a frase de seu pai tinha duplo sentido.


- Eu preciso ir – ele repetiu, não queria repetir de novo.


Ele se levantou e foi seguido pelos dois.


- Você tem certeza? – ela estava preocupada.


- Eu realmente preciso fazer isso agora – onde está minha vassoura? – ele perguntou para Tiago.


- Deixei encostada ali no hall – ele também ia ficando preocupado.


- Por favor, não me entendam mal, eu agradeço muito a vocês por tudo.


- Se quiser voltar algum dia, sinta-se a vontade – Lílian sorriu.


Aquilo era demais. Harry disparou na direção dela e abraçou o mais forte e carinhosamente que pode. Era difícil traduzir vinte anos de saudades, pesares e sofrimentos em apenas um abraço.


Queria dizer que a amava, que sempre quis conhecê-la; dizer que ela era linda e simplesmente chamá-la de mãe. Mas não poderia fazer nada disso. Quando estava quase a ponto de chorar, se desvencilhou do abraço e sentiu como se estivesse abandonando um pedaço do seu peito.


- Obrigado – ele sussurrou.


Tiago apertou sua mão e ele o deteve, puxando-o para outro abraço demorado. Lembranças de coisas que nunca aconteceram invadiram a sua mente. Eles praticando Quadribol durante o verão, Harry aprendendo feitiços defensivos antes mesmo de entrar em Hogwarts, ele contando de suas namoradas, e Tiago contando segredos de Hogwarts que não estavam no Mapa do Maroto.


Então ele pegou a sua vassoura e eu silêncio rumou para fora da casa, atravessando o portão. Ele ainda teve forças para olhar uma última vez para trás.


- Adeus – ele acenou, e pôde ver sua mãe sorrindo antes de aparatar em busca de uma porta.


*******
 Então?
O que acharam?
Este foi o último capítulo da parte 4, e na sexta dia 04/02 já estarei postando o primeiro capítulo da parte 5 (e última) desta fic.
Aguardem!
Um abraço, AUGUSTO 

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