Decisão



Foi como tropeçar e não sair do lugar.


Harry sentiu o coração em sua garganta, ou em algum outro lugar próximo. Acordou completamente tonto e sem ar, numa escuridão esmagadora proporcionada pelas pesadas cortinas de veludo que filtravam toda a luz de seu quarto.


Queria abri-las e constatar que estava de volta ao Largo, e que Gina estava ausente apenas por ter acordado mais cedo que de costume.


 


CAPÍTULO 2 – DECISÃO


 


No entanto, aquela realidade ainda estava distante por alguns anos de diferença. Mau ele sentou-se na cama, as quatro cortinas que o cercavam abriram e foram presas no dossel por mãos invisíveis.


Novamente a dura realidade se abateu sobre Harry.


Ele estivera sonhando.


Pena que não estava. E aproveitou a oportunidade para refletir sobre o que acabara de sonhar. Será que Brandon o estava levando para uma cilada? Eram tantas questões que o abalavam em tão pouco tempo que às vezes ele mesmo pensava que aquilo seria apenas um sonho, e que acordaria no sofá da sala de visitas do Largo com um notável torcicolo.


Não, aquilo era muitíssimo improvável.


E seria até meio desconcertante, devia admitir. Porque apesar de toda a loucura daquela situação, ele gostava muito dos Especialistas – e naquele momento reconsiderava se Brandon estava querendo prejudicá-lo – principalmente de Lavalle, e achava Frederich um tanto engraçado.


Seria difícil deixá-los para trás, gostaria de poder ajudá-los de alguma forma, mas no fim, quem seria ele diante dos séculos de pesquisas e estudos daqueles bruxos? Não era o certo a fazer, embora fosse uma coisa boa. Afinal de contas, se Brandon não tivesse virado Especialista, “Harry” nunca teria existido, e Harry não estaria ali.


Não, aquilo era complicado demais. Aparentemente, a dependência que os Especialistas tinham um do outro ia muito além da construção do diagrama. Frederich havia dito que era mera coincidência que houvessem três Especialistas – para Passado, Presente e Futuro – mas Harry já não pensava assim: o Tempo dependia de um frágil equilíbrio, e assim como o Mal precisa do Bem, aqueles três tempos dependiam um do outro para existirem.


Harry saiu da cama. De alguma forma aquela última constatação havia injetado bastante energia nele. Óbvio que ele não tentaria fazer aquilo; era muito complicado e poderia piorar ainda mais a situação. Ele calçou os chinelos macios e felpudos que haviam surgido em seu quarto na noite anterior, juntamente com o pijama xadrez que agora vestia.


Ele contornou a cama, enxergava tudo ao seu redor, graças à luz da lua que vinha de cima, e das paredes brancas que a refletiam. Nem se deu ao trabalho de perguntar que horas eram, uma vez que seu relógio estava parado havia alguns meses, e dentro daquela mansão não se tinha acesso a nenhum ponto de referência.


Harry tomou um banho rápido, desta vez uma ducha havia surgido no lugar da banheira, e um cano fino de cobre descia do teto, despejando uma água quente e agradável com alguma pressão. Ele se despiu e deixou que a água em queda massageasse as suas costas.


Nem assim conseguia acalmar-se. Não sabia se confiava em Brandon ou não. Mesmo com Derose e Lavalle para supervisionar era muito complicado.


Poderia ser uma armadilha.


Como poderia não ser.


Decidiu, por fim, seguir o conselho de Hermione: agiria de acordo com o que Frederich lhe dissesse. E foi com esse pensamento que ele vestiu seu jeans e moletom antes de sair do quarto.


 


Chegou do “modo mais rápido” à sala de visitas, que para sua surpresa estava diferente. Era uma réplica maior e mais arejada da cozinha que havia no mundo além-corredor: as cortinas e as amplas janelas de acrílico estavam abertas e deixavam entrar uma senão verdadeira, extremamente convincente brisa de primavera.


Era muito reconfortante ter aquela amostra do mundo real, após tanto tempo de confinamento e lutas. Todos tomavam um saboroso café colonial com tudo o que se tinha direito – até os Professores estavam aproveitando – acomodados numa comprida mesa dourada e sem ornamentos.


- Bom dia Harry – Lavalle sorriu, gostava do sorriso dela.


- Bom dia – ele respondeu, sendo cumprimentado pelos demais.


- Foi ótimo poder ter uma noite bem dormida depois de tanto tempo, não acha? – comentou Hermione, que saboreava uma notável pilha de waffles com calda.


- Foi sim – concordou Harry, servindo seu prato de ovos e bacon.


- Não esqueça que temos que falar com Frederich depois – lembrou Rony, com alguma dificuldade para equilibrar no pires dois de cada item do que havia na mesa.


Na noite anterior eles haviam combinado de abordar Frederich ao mesmo tempo, para evitar que ele os enganasse em algo, só por via das dúvidas.


- Me explique novamente, Lavalle, como foi que vocês prenderam Voldemort fora da Mansão? – perguntou Harry, que havia perdido muito das explicações da noite anterior por conta da preocupação com a proposta de Brandon.


- Ora – ela tomou um gole de chá verde, um pouco mais verde do que o que estava na jarra, Harry observou – logo que nos separamos, Derose e Frederich sugeriram que seria melhor verificar os corredores próximos, para que não fôssemos pegos desprevenidos – ela tomou mais um pouco da bebida – então, eu recordei que “naquele momento” ele estaria revistando o jardim...


- Já que ele “havia dito” anteriormente que iria revistar o jardim – completou Derose.


- Exato – concluiu Frederich – então bastou que o trancássemos lá fora!


- Eu calibrei o feitiço para que quebrasse ao desaparatarmos – explicou a Especialista.


Harry achava graça na displicência com a qual ela contava aquilo.


- E Brandon, onde está? – ele perguntou, distraído.


- Está por aí – Frederich deu de ombros – serviu o café e saiu. Disse que ia resolver algumas coisas, já deve voltar.


- A propósito – começou Harry – eu estou curioso sobre a sua máquina.


- O que tem ela? – o Professor perguntou, diante do comentário um tanto vago – Está no meu quarto, é claro.


- Como ela funciona, exatamente? – ele reformulou a pergunta, e temeu ser mal-interpretado pelo Professor – quer dizer, nós dependemos dela para voltar em segurança – emendou, indicando Rony e Hermione.


- Naturalmente – ele sorriu – garanto que ela é segura – e focalizou um ponto distante e invisível enquanto pronunciava – tão segura que se houver um mínimo erro a porta simplesmente permanecerá trancada, como da última vez.


Um peso enorme pareceu sair das costas de Harry, e tanto ele como os outros dois deram um suspiro.


- E é possível ir e voltar? – perguntou Hermione, em tom acadêmico.


- É óbvio – ele quase riu da pergunta, o que deixou ela um pouco ofendida – imagino que ao fazer uma longa viagem mais cedo ou mais tarde vai querer voltar para casa.


- E de que forma se faz isso? – perguntou Rony, Harry engoliu em seco, esperando a resposta.


- O próprio diagrama produz uma chave – esclareceu – sendo uma cópia exatamente reversa do diagrama. Basta que ao fim do prazo estabelecido você abra qualquer porta usando aquela chave, e isso independe do tipo ou qualidade da porta.


Harry permaneceu em silêncio por longos instantes, e sentia os olhares convergirem nele. Ele não sabia o que dizer: aquilo estava de acordo com o que Frederich havia lhe dito no sonho, no entanto, ele garantiu que a porta não abriria em caso de erro, e disso Harry tinha certeza.


- O que houve Harry? – Hermione pousou a mão em seu ombro.


Ele ainda não havia comentado sobre o sonho com seus amigos, e nem pretendia, não queria preocupá-los ainda mais. Antes que pudesse inventar qualquer desculpa para a amiga, Brandon voltou.


- Vejo que está aproveitando seu chá verde – ele chegou carregando uma pequena pasta e olhando para Lavalle, que de fato já estava na quarta xícara da bebida (o que para um Especialista era um verdadeiro porre).


- Não sei se Harry chegou a comentar com os senhores, mas eu recentemente fiz uma proposta...


- Como pedido de desculpas, dando-lhe a chance de passar um dia com Lílian e Tiago Potter – completou Derose.


- Desconfiei que fosse isso – comentou Lavalle.


Harry achou que era hora de agir, hora de acabar com aquela embolação.


- E eu aceito sua proposta.


Rony e Hermione o encararam, surpresos.


- Você tem certeza disso, Harry? – indagou Hermione.


- Nunca tive tanta certeza.


- Pois bem – Brandon deslocou algumas bandejas e copos na mesa, para abrir espaço – aqui está o diagrama que elaborei. Fiz a minha parte em pouco tempo, já que é uma viagem de apenas um dia, mas preciso que o completem – ele abriu a pasta na mesa, revelando um pequeno pedaço de pergaminho com o que parecia uma complexa árvore genealógica.


- Certamente – Lavalle o encarou, transparecendo desconfiança.


Brandon entregou uma pena, e dez minutos depois a parte dela estava feita, o mesmo para Derose. Por fim, o pergaminho passou para Frederich, que demorou um pouco mais para lê-lo – apenas por via das dúvidas.


- Creio que está tudo correto – ele respondeu, repassando o papel aos Especialistas, para que conferissem novamente.


- Sim – Lavalle e Derose assentiram.


- Então podemos começar – Brandon levantou-se – sigam-me por favor.


Derose entregou o diagrama para Frederich, que o segurou firmemente na mão, para que Brandon não o trocasse. Seguiram em silêncio até a sala escura que parecia uma masmorra. Tudo estava acontecendo exatamente como no sonho.


Brandon abriu a porta da direita, revelando o quarto de Frederich. O Professor encaminhou-se para a máquina, tratando dos preparativos:


- Você vai passar um dia lá – mas quando retornar para cá vão ter se passado apenas alguns segundos. Harry completou mentalmente a frase – E quando voltar vai ter se passado dois dias. Esse atraso é um erro que pretendo arrumar para quando vocês três forem voltar.


Esquisito, aquilo era novo. Harry pensou que se seu sonho estivesse errado, afinal.


- Entendo – Harry se posicionou – vejo vocês em breve – ele acenou para os amigos. A porta já havia se materializado na frente dele – a chave? – ele olhou assustado para Frederich.


- Oh, é claro! – o Professor então passou o diagrama pela fenda destinada ao carteiro, e do outro lado da porta saiu a chave – Aqui está, guarde-a bem!


Harry assegurou que a chave estava segura, deu uma última olhada para trás e girou a maçaneta.




******


 Queria agradecer a todos vocês por estarem lendo a minha fic – principalmente agora nessa fase da história, que está bem chata. Estes últimos capítulos não saíram bem como eu gostaria, mas estou me esforçando ao máximo para finalizar a fic até abril (pretendo finalizar o texto no carnaval).


No próximo capítulo veremos se Harry fez a escolha certa, e depois a ação volta com força total. A parte 5 é a última desta fic – e estou no segundo capítulo dela.


Muito obrigado pelos votos e comentários! A “SEGREDOS” ESTÁ NO TOP 20, ESTOU FELICÍSSIMO! AGRADEÇO IMENSAMENTE A TODOS – já que sem leitores não há porque escrever.


Também gostaria de dar mais uma notícia:


A FIC TERÁ UMA CONTINUAÇÃO!


Desde que comecei a escrever senti que a história merecia algo assim, e nessas últimas semanas pude finalizar o storyboard – que tem 7 partes, nas quais pretendo dar uma ênfase maior à vida dos Especialistas, anexando mais personagens, Professores novos e muitos mistérios!


Mesmo assim, não sei quando poderei postá-la, pois preciso de vários capítulos de vantagem para evitar o “hiatus”, e estou entrando no terceirão (preciso dizer mais alguma coisa?). De qualquer forma, avisarei a todos quando postar (não vou antecipar nenhuma data por enquanto) e no mais, OBRIGADO.


AUGUSTO

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