Na penseira de Snape



Capítulo XV – Na penseira de Snape

- Bem Potter, – Começou Snape – eu acho que se eu simplesmente contar ficará um pouco cansativo, e nada, nada, real. Então decidi que é melhor lhe mostrar. – Snape puxou sua mala de baixo da cama e a abriu. Tirou de lá de dentro algo parecido com a penseira de Dumbledore, na qual Harry já tinha entrado duas vezes, só que esta era um pouco menor. – Sabe Potter, eu gostei muito da idéia de poder tirar alguns pensamentos da minha mente, por isso comprei essa penseira para mim. É menor que a de Dumbledore, mas é boa. Deixe-me só separar algumas memórias para lhe mostrar. – Snape tirou a varinha do bolso da calça e pôs-se a retirar finos fios prateados de sua têmpora e depositar na penseira. – Pelo que sei Potter, - dizia enquanto retirava os pensamentos – todas as suas experiências com penseiras, foram meio, digamos, ilícitas. Então você deve ter visitado memórias aleatórias. Não deve ter noção então que quando se entra numa penseira juntamente com o dono da mesma é possível ter controle sobre a ordem e a forma com que se vê as memórias.
- É mesmo? – perguntou Harry intrigado.
- Não Potter, - Snape crispou os lábios – Falei de brincadeira. É claro que é seu tonto. E, para contar a minha história, acho que deveria começar pela história dos meus pais. Deixe-me apresenta-los a você. – Snape colocou a penseira sobre a cama de Harry – Segure no meu braço, temos de entrar juntos. – Harry obedeceu, o bruxo mais velho tocou o conteúdo da penseira com sua varinha e o líquido prateado começou a girar ferozmente. O menino olhou para o objeto e o líquido se tornou transparente, Harry então vislumbrou um cômodo do alto, como se fosse de uma janela no teto. – Vamos.
Snape entrou na penseira e Harry o acompanhou, segurando seu braço. Os dois começaram a cair e cair, rodopiando sem parar. E então pousaram com um pequeno baque no chão de uma cozinha empoeirada que, mesmo com um número bom de velas acesas em candelabros, era meio medonha, como se suas paredes emanassem frio e escuridão.
- Pode largar o meu braço, Potter. – falou Snape friamente e o menino obedeceu.
Uma mulher de estatura baixa, com cabelos e olhos negros, estava sentada à mesa, juntamente com um menino que aparentava ter uns seis ou sete anos, apesar de ser pequeno e magrelo. O garoto, que tinha cabelos também negros cortados bem pequenos e pele muito branca, lia um livro velho e encardido em voz alta, mas em tom baixo, algo sobre um filhote de unicórnio que havia se perdido na floresta, era, muito provavelmente, uma fábula bruxa. E a mulher ouvia, com muito gosto, a criança ler vagarosamente bem, como quem não foi alfabetizado há muito tempo, mas que se esforça para melhorar.
- Esse garoto aí, Potter, sou eu. E esta mulher é minha mãe. Subjugada, reprimida, sem voz dentro de casa, sem amor, sem carinho, sem atenção, sem o merecido valor. Covarde demais para enfrentar os problemas de frente, corajosa demais para dá-los as costas. Mesmo assim não sei porque suportou tanto, dizia ela ser por mim. – Snape fez cara de pouco caso, mas a amargura estava estampada em seus olhos – Mas eu, no lugar dela, teria ido embora antes mesmo de gerar frutos. Esta é Valery Tyrrel Snape. Casou-se contra sua vontade, seus pais a obrigaram. Não queriam que a filha passasse o resto da vida solteira ou que se casasse com alguém que eles não aprovassem, e a maioria dos que a interessava eles não aprovavam. Era preciso manter o nome da família, o brasão. Era precisa manter o sangue-puro, as tradições. Então eles aceitaram a proposta do primeiro partido, que vinha de uma família de bom nome, que lhe pediu em matrimônio. – Snape fechou os olhos e segurou no braço de Harry, e de repente tudo girou e girou em torno deles, como em um grande redemoinho. Snape abriu os olhos e o redemoinho parou.
Estavam agora em uma escada, que aparentemente pertencia à mesma casa que a cozinha, a julgar pela decoração e o ambiente empoeirado e mal iluminado. Havia um menino parado no fim dela poucos degraus abaixo dos dois, era o mesmo menino da cozinha, era Snape. O garotinho tinha mais ou menos a mesma idade, ou era pouco mais novo. Ele olhava para a sala, escondido atrás de uma parede.
- Vem comigo, Potter.
Snape desceu os últimos degraus da escada e Harry o acompanhou. Pararam no corredor, olhando para sala, assim como o menino, que tinha só a cabeça além da parede. A sala era ampla, mas empoeirada e mal iluminada como deveriam ser todos os cômodos da casa, havia uma lareira grande que estava apagada, alguns quadros encardidos, que no momento não tinham ocupantes, e dois enormes sofás cor de musgo. Num deles havia um homem de uns trinta e tantos anos deitado, rosto quadrado, nariz adunco, cabelos castanhos escuro, ralos e oleosos, corpo grande e esguio, poderia-se presumir que era alto. Dormia um sono pesado, suas roupas estavam amarrotadas, a boca aberta, babava na almofada, uma garrafa de uísque pendendo de uma das mãos.
- Este é o meu pai. Ou melhor, este é o dono do espermatozóide que me concebeu, - disse com uma sobrancelha levantada – já que ele nunca agiu como um pai de verdade. – a amargura de Snape tornava-se cada vez mais clara em seus olhos, e dessa vez também na voz. - Bêbado, vagabundo, preguiçoso e pervertido, tinha muitas mulheres na rua, muita preguiça, sede de sangue e muito provavelmente uma grande inclinação para a insanidade. Este é Sillas Snape. Casou-se também por pressão dos pais, que amavam seu lindo menino, mas com certeza queriam ver-se livres do filho mimado e indolente. Fazia trabalhos sujos e ganhava bastante dinheiro com isso. Mas adorava gasta-lo todo em jogo, mulheres e bebida, antes mesmo que um Nuque sequer chegasse em casa.
O homem se mexeu no sofá e resmungou alto. O menino, assustado, correu escada à cima.
- Agora que você conheceu meus pais, já posso lhe mostrar no que a união deles resultou. – Snape, segurando Harry, fechou os olhos novamente e tudo recomeçou a rodar.
Estavam agora dentro de um quarto amplo que era mais mal iluminado do que os outros da casa. Havia uma cama de casal no centro, e um grande guarda-roupa encostado à parede, havia ainda uma escrivaninha perto da porta.
A mesma mulher da cozinha entrou correndo e carregando nos braços um Snape de cerca de cinco anos. Ela colocou o menino no chão e trancou a porta.
- Ele não vai poder te machucar de novo, mãe. – disse o menino de rosto triste e olhos negros e expressivos, um dos suspensórios lhe caía do ombro, e deveria estar trocando os dentes de leite, pois lhe faltavam dois na boca. – Eu roubei a varinha dele… - Completou sussurrando e tirando o fino pedaço de madeira do cós da pequena calça.
- Você não deveria ter feito isso Severus, meu menino… - falou a mulher com voz chorosa – Isso só vai causar mais ira nele! Dê-me aqui!
O menino entregou relutante a varinha à mãe, e ela a pôs em cima da escrivaninha.
- Vallery, minha flor, – disse uma voz seca, sarcástica e embriagada atrás da porta dando murros na madeira – Não se esconda de mim… Sabe que não pode fazer isso…
A mulher puxou a escrivaninha para que ela travasse a passagem da porta.
- Isso não vai detê-lo… - falou a mulher como se pensasse alto.
- Cadê a minha varinha? – falou a mesma voz fria, mas agora em tom de surpresa – Vaaall... Cadê a minha varinhaaaa?? – completou em tom de quem brinca de esconder com uma criança.
– Severus, venha cá – sussurrou a mulher. Ela puxou o menino pela mão até perto do armário – Quero que você pense em uma música que goste muito e a cante para si mesmo, mas não quero que seu pai o ouça, por isso apenas tampe seus ouvidos e cante baixinho.
- Eu vou entrar mesmo assim! – disse o homem atrás da porta. Ele bateu contra a madeira e a escrivaninha tremeu.
A mulher abriu a porta do guarda-roupa.
– Vamos, entre aqui, e não saia até que eu venha lhe buscar tá? Não saia e não faça barulho, não importa o que aconteça, ouviu bem?
- Tá bom mamãe. – disse o garotinho de rosto triste.
O garotinho entrou no armário, e Snape adulto e Harry viram-se obrigados a entrar também, atravessando camisas e casacos como se fossem hologramas, afinal a memória era de Snape menino e eles só poderiam ver o que o menino via. Apesar de estar muito escuro, podia-se distinguir a silhueta de Snape criança. Ele estava sentado em cima de uma pilha de colchas, tampava os ouvidos com as mãos e cantarolava uma canção sobre uma estrela cadente que realizava pedidos. Snape adulto tinha um brilho perverso nos olhos os quais Harry enxergava mesmo dentro da escuridão do móvel.
Do lado de fora, Sillas Snape tinha arrombado a porta magicamente, com o estrondo de uma pequena explosão, jogando a escrivaninha no chão.
- Eu disse que você não podia se esconder de mim… - disse friamente – Cadê o moleque?
Vallery nada respondeu.
- Ele não importa. Quem importa agora é você… Minha linda… - falou de um jeito sarcasticamente carinhoso – Venha cá… Me dá um beijo… Me faz um carinho…
- Sillas, não… - disse a mulher em tom de súplica, barulhos de passos, a mulher tropeçou e caiu no chão – Não… Por favor… Hoje não…
- Você sabe que não é você que escolhe, meu bem… Você ainda não aprendeu?
Vallery ainda relutou um pouco, mas acabou vencida. Seguiu-se então uma sucessão de ruídos e ganidos, gemidos e gritos martírio.
- Sabe Potter, - disse Snape adulto em tom de ódio – Aos cinco anos, eu perdi a pouca pureza que poderia ter, o pouco resquício do lado infantil que ainda me restava. Aos cinco anos eu presenciei o meu próprio pai, violentar a minha mãe… Você tem noção do que é isso para uma criança, garoto?
Um gemido baixo de dor vindo do lado de fora do armário foi ouvido, e um frio desceu o estômago de Harry. Algo dizia ao menino que as próximas memórias de Snape não seriam nada, nada, legais.
- Ele não fazia amor com ela como se diz nas histórias bonitas, garoto – disse com amargura – ele não lhe dava prazer, satisfação. Não havia de ser de gozo os gritos dela que eu ouvia quando os dois estavam sozinhos. Nem havia de ser com deleite que ela escondia as marcas roxas e os machucados que ele lhe causava.
O bruxo então focalizou seus olhos na criança sentada nas colchas e ela se iluminou como se uma lâmpada tivesse sido acesa dento do armário, acima de sua cabeça. Harry então pôde ver que o menino comprimia ferozmente os ouvidos com as mãos e continuava a cantarolar a música sobre a estrela cadente. Seus olhos fortemente fechados não impediam que grossas lágrimas lavassem seu pequeno rosto triste.
Snape adulto segurou Harry, fechou os olhos e tudo escureceu, recomeçando a rodopiar.
Estavam novamente na sala de estar. Sillas discutia com uma Vallery encolhida enquanto um Snape de pouco mais de nove anos chorava, sentado no chão. E Harry sentiu como se já tivesse visto esta cena antes. Lembrou-se então da aula de oclumência em que havia conseguido transpassar as barreiras da mente de Snape e ter acesso aos seus pensamentos.
O Snape criança se levantou, os cabelos negros na altura das orelhas lhe caíam sobre o rosto e os olhos, molhados de lágrimas. Pôs-se então entre os pais.
- Não briga com ela… Por favor… Pára… - disse entre soluços, mais e mais lágrimas desciam de seus olhos negros.
- Não se mete moleque! – o homem que desta vez parecia sóbrio empurrou o menino, que caiu no chão batendo com o braço na mesa de centro, olhava com rancor para o pai – Eu disse a ela que você traria problemas! Eu não o queria! Nunca quis! Mas depois dos dois primeiros abortos, essa vadia não quis fazer um terceiro. – falou apontando para a mulher que estava de cabeça baixa – Disse que pelo menos esse traria ao mundo. E você veio. Não por minha vontade, de minha parte você sempre foi indesejado. Você apanhou muito não foi Vall? – disse com um brilho maníaco nos olhos olhando para a mulher – Mas a sua vontade de tê-lo foi mais forte não é? E eu nunca gostei muito de você moleque, – voltou-se ao menino de novo – magrelo, feio, sem grandes aptidões, nada que eu pudesse me vangloriar com os amigos, e sempre pareceu mais com ela do que comigo. Que bebê mais sem graça que você era… Não chorava muito, mas também nada fazia de diferente. Não comia direito e mal dormia, vivia deitado naquele berço estúpido com aqueles olhos arregalados, como se me vigiasse. E essa idiota tinha medo de que as surras que eu havia lhe dado durante a gravidez tivessem feito mal ao seu neném. – falou com ironia – Aprendeu a andar, mas vivia sentado pelos cantos da casa. Aprendeu a falar, mas poucas vezes dizia alguma coisa. Depois que aprendeu a ler então? Só vive com livros e mais livros, a ler quieto em todos os lugares! Você nem sabe jogar quadribol como os outros meninos da sua idade! Sua primeira magia? Evitou que um tubo de ensaio caísse no chão e se quebrasse! O que foi isso? O filho do vizinho levitou uma vassoura, um de seus primos quebrou uma vidraça, o outro fez o cachorro da casa sumir sabe-se lá pra onde, eu mesmo explodi um vaso de porcelana aos sete anos, e você evita que um tubo de ensaio caia?! Ah, faça-me o favor… Eu não tenho motivos para me orgulhar de você moleque. A não ser pelo fato de ter nascido homem, ou pelo menos espero que seja não é? – completou com um sorriso torto e uma risada rouca – Mas sinceramente não acredito que venha a ter tantas mulheres quanto eu…
- O menino não precisa ouvir isso tudo Sillas! – reclamou Vallery energicamente.
O homem deu um forte tapa no rosto da esposa.
- Nunca mais ouse levantar a voz contra mim, mulher! E você garoto, - voltou-se contra o menino que tinha lágrimas de ódio nos olhos – PÁRA DE CHORAR! Chorar é coisa de meninas. – disse entre os dentes. Snape criança engoliu o choro. – Vai pro seu quarto! Vai agora! Antes que eu me chateie com você! – O menino se levantou – E vê se não faz barulho! Senão eu vou te dar motivos para chorar!
Snape adulto seguiu a criança que subiu as escadas correndo e esfregando o braço dolorido, Harry seguiu os dois também. A escada deu em um corredor escuro, o menino correu até a última porta e entrou, batendo-a com um estrondo.
Snape e Harry atravessaram a porta. O bruxo mais velho tinha um olhar de fúria. Entraram num quarto pequeno e tão mal iluminado quanto o resto da casa. Havia um pequeno guarda-roupa encostado à parede, e uma mesinha com muitos papéis e poucas penas já muito gastas. Sentado à cama, segurando os joelhos com força contra o peito, estava Snape menino, o choro contido, mas o olhar de ódio permanecia.
- Sabe garoto, - disse Snape adulto em tom ironicamente desleixado, andando pelo quarto como se lembrasse de tempos ruins – minha mãe ficou infértil. Além dos abortos que fez, o meu querido papai fez-lhe o favor de romper com a quarentena depois que eu nasci, o que lhe causou uma infecção e lhe tirou a fertilidade. Minha mãe tinha muitos, muitos problemas ocasionados por seu marido, este foi apenas mais um. Para ele não fazia a menor diferença.
Snape agachou-se perto da cama e olhou para o menino sentado em cima dela. Harry sentia-se triste pelo garoto. Sabia como era ser destratado pelos próprios parentes. Sabia como era não ser bem quisto em sua própria casa. Sabia o que era não ser amado, se sentir sozinho. Mas pelo menos os Dursley não eram seus pais. E isso tornava as coisas um pouco mais tristes para Snape.
- Acho que foi nesse dia, - o bruxo olhava fixamente para o garotinho – acho que foi exatamente neste dia que eu perdi a pouquíssima esperança que ainda tinha de que um dia meu pai pudesse vir a agir como um pai de verdade. A partir deste dia eu perdi o pouco de expectativa que tinha sobre a minha vida em família, o pouco de sentimentos que me restava.
Snape levantou-se com ódio estampado no rosto, segurou o braço de Harry, fechou os olhos e tudo rodopiou mais uma vez.

N/A: genti, dsculpa ter demorado..... Eh q essi cap. tah maior do q eu imaginava e eu ainda naum consegui termina-lo.... Entom vai aih soh a metade.... Eu ponho o resto em outro cap. Dsculpa mais uma veix. Spero q stejam gostanu. Ah! Eu keria a opinião de vcs..... O q cês axam, a fic deve se limitar às férias ou continuar em Hogwarts??? Por que eu tenhu mts idéias p/ Hogwarts e se ela tiver que terminar nas férias eu vou ter q começar a travar um poko o enredo da história.... Bem, vcs eh q sabem!!!! Digam o q axam!!! Bjus!!!!

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