Robert.



Esse capítulo é dedicado ao Gabriel. Estava sem inspiração e, bem, ele a trouxe de volta pra minha vida. Meu moço, eu amo você.





Capítulo 20; Robert.



Eu, Todd e Nate ficamos lá nos jardins por mais um tempo. Eu estava deitado na grama, quase dormindo, quando fui literalmente chutado por Nate.




- Porra, Nathaniel! – exclamei, enquanto levantava e massageava minha perna doída. – Se eu ficar com um hematoma, você tá morto!




- Foi mal, Rob – ele disse, cobrindo a boca com a mão pra não rir. – Mas não foi minha culpa. O Todd que mandou.




Olhei feio pro Todd, que se encolheu e sorriu sem-graça.




- Desculpa – ele falou. – Mas a gente tem que ir. A festa começa em duas horas.




- O que?! – gritei. – Duas horas? Ta brincando, né? Como é que eu me arrumar em tão pouco tempo? Você que perfeição é criada tão rápido assim?




Os dois se olharam, olharam pra mim, se olharam de novo, e começaram a gargalhar.




- Eu to falando sério! Preciso de no mínimo uma hora pra deixar meu cabelo sexy. Que merda, eu não queria chegar atrasado na festa.




- Calma, Robert – Todd disse, respirando fundo pra se recuperar dos risos e colocando uma mão no meu ombro. – Vai dar tudo certo. O Nate te ajuda com o seu cabelo, pode ser?




- Vou te deixar lindão, Rob – Nate sorriu safado. – Tão totoso que até aquela tal de Addie vai cair de amores por você.




Assim que eu ouvi o nome dela, meu rosto começou a ficar vermelho. Eu conseguia sentir o calor subindo pelo meu pescoço, e logo me virei pra que os dois não pudessem ver meu estado. Não sei o que eu estava sentindo; não sei se era vergonha, desespero, remorso ou alguma coisa mais profunda e perto de gostar.




- Cala a boca e vamos logo – murmurei, já andando em direção ao castelo.








Estávamos no corredor do segundo andar quando Todd parou do nada e socou uma pedra na parede três vezes.




- Passagem secreta – ele disse, piscando. – Vamos economizar uns bons dez minutos aqui.




Entramos em um lugar escuro, cheio de teias de aranhas e candelabros medonhos. Eu estava por último, e comecei a rir baixinho quando uma teia de aranha grudou no cabelo do Nate e ele não percebeu.




- Então, Todd. Você vai se arrumar no nosso dormitório?




- Vou não, Nate – ele respondeu. – Prometi pro Austin que ia ajudar ele a colocar o capacete de astronauta.




- Astronauta foi minha primeira opção, na verdade, mas eu acabei ficando com o Mickey mesmo – Nathaniel disse, coçando o queixo como se estivesse pensando.


- Ah, vá! – exclamou Todd, rindo. – Com tantos personagens legais da Disney pra você escolher, você foi se fantasiar de rato? Por que não o Pateta?




- Tá me chamando de cachorro, é?




Eu estava prestando tanta atenção na conversa deles que só fui perceber o espelho à minha esquerda quando ele brilhou. Deixei os dois indo na frente e me aproximei do espelho, meu cenho franzido. Dei um passo pra trás quando li as palavras escritas no topo: Ojesed.




Eu já tinha ouvido falar desse espelho antes. Ele mostra o desejo mais profundo da pessoa no momento. Achei que ele tivesse desaparecido depois da morte de Dumbledore, mas parece que eu acabei de achá-lo.




Estiquei uma mão inconscientemente e encostei na superfície empoeirada. Do nada a imagem começou a ondular, e ao invés de ver a mim mesmo, eu vi um casal de costas. O homem, com o cabelo loiro parecido com o meu, tinha os braços em volta dos ombros de uma mulher de cabelos compridos e castanhos. Eles olhavam para alguma coisa nos braços dela.




Eu já ia começar a andar pra longe quando os dois se viraram e eu me engasguei de susto... Porque o homem era eu, a mulher era a Addie e eles seguravam um bebê que possuía os mesmos olhos azuis que eu.




- Mas o que...? – comecei, e meus olhos arregalados caíram sobre o bebê. Estranhamente, senti meu coração apertar, por mais gay que isso soe. – Meu... filho?




Nessa hora o bebê fez um barulhinho contente e a Addie-adulta sorriu, fazendo carinho na bochecha gordinha dele com um dedo. Enquanto isso, eu – ou o Robert-adulto – olhava pros dois com um olhar meloso, idolatrador... me atreveria a dizer até apaixonado. 




- Rob!




O grito me acordou de meus devaneios, e eu olhei pros lados assustado, sem saber o que estava acontecendo.




- Vem logo, cara! – Nate gritou, acenando para mim de um lugar lá no fim do corredor. – Estamos atrasados, lembra?




- Ah – balbuciei. – Ah, é. To indo, to indo.




E apesar de ter ido embora sem olhar pro espelho sequer mais uma vez, aquela imagem ficou gravada em minha mente. E eu tinha certeza de que ficaria por muito, muito mais tempo.








Nate me deu um tapa na cara e foi aí que eu acordei. Fiquei olhando pra ele com um olhar distante até ele me pegar pelos ombros e me chacoalhar com força.




- O que ta acontecendo, Robert? Você ta agindo estranho desde que a gente pegou aquela passagem secreta – ele disse, colocando uma mão na minha testa e sentindo minha temperatura. – É sério, eu to preocupado. A gente chegou aqui faz meia hora e você nem se mexeu, só ficou sentado na cama olhando pro nada.




- Eu vi... Eu vi uma coisa.




- Hm? O que você viu?




Nate sentou do meu lado, apoiou os cotovelos nos joelhos e me encarou pensativo. Pra falar a verdade, eu nem tinha percebido que estava agindo tão estranho, porque minha cabeça estava preenchida por aquela imagem.




E, por alguma razão, eu cismei que a única maneira de melhorar seria contar pra alguém. E como Nate é meu melhor amigo e estava por perto, achei que eu devia colocar tudo pra fora.




- No Espelho de Ojesed – comecei. – Eu vi...




- Não me diga que você se viu careca! – ele berrou.




- Não, seu idiota. – Rolei meus olhos, rindo um pouco. – Eu vi a mim mesmo com a Addie.




- A menina-dos-embrulhos?




- A menina-dos-embrulhos – afirmei, assentindo com a cabeça. – E nós tínhamos um filho.




Os olhos do Nate ficaram do tamanho de pratos e ele começou a tossir, engasgado pela própria saliva. Bati em suas costas, mas ele demorou uns bons cinco minutos pra se recuperar.




- Eu sei, é chocante, né – falei, suspirando. – Eu também não consigo acreditar.




- Não é que eu não consiga acreditar – ele disse. – É que é acreditável até demais, pra falar a verdade.




- Hã? Como assim?




- Robert, eu te conheço há o que, dez anos? Eu vejo o jeito que você olha pra essa menina. Eu percebo que sua voz muda quando você fala o nome dela e que, por mais brega que isso seja, seus olhos brilham também. Ela não é uma qualquer, Rob, pelo menos não pra você. Você pode até tentar se convencer que ela não importa, mas no fundo você só vai estar mentindo pra si mesmo.




- Você acha? – sussurrei, encarando meus sapatos.




- Eu tenho certeza. Eu não sei se o que você viu no espelho vai se concretizar ou não, mas eu acho que você vai se arrepender pelo resto da sua vida se você não pelo menos tentar algo com ela.




- Mas eu... Eu tenho medo de me machucar de novo.




Nessa hora eu já conseguia sentir meus olhos lacrimejando. Xinguei em pensamento, mas deixei as lágrimas caírem. Eu odeio chorar, mas essas lágrimas estavam entaladas na minha garganta faz tanto tempo que eu não conseguir evitar e enterrei minha cara no travesseiro.




- Eu entendo. A Beatrice te fez muito mal, Rob, mas você não pode pensar que todas as garotas são como ela. A maioria não é. E eu tenho a impressão de que essa tal de Addie se encontra nessa maioria. Além do mais – ele continuou. – Qual melhor jeito de você superar a Beatrice que namorar uma garota que realmente se importe?




Respirei fundo, refletindo no que ele me disse, e levantei meu rosto molhado. Nate tinha razão; a Addie não é como qualquer outra. E se eu gostar – só gostar, porque não acho que a amo – mesmo dela, por que não tentar algo? Tudo bem, eu teria que desistir das minhas noites divertidas passadas na cama de outras meninas, mas eu trocaria todas aquelas “diversões” por uma namorada que me abraçasse quando eu estivesse mal e que lavasse minhas meias.




Ok, ela não precisa lavar minha meias. Só se enrolar comigo debaixo do cobertor em uma noite fria de inverno é o bastante.




- Certo – murmurei, logo depois falando mais alto e com mais certeza. – Certo. Você tem razão, Nate. Eu tenho que me livrar dessa memória da Beatrice, dessa sombra que me atormenta há anos. Eu vou tentar algo com a Addie, e vou fazer esse algo valer a pena.




Ele não disse nada, apenas sorriu e deu um tapinha amigável no meu ombro. Em seguida, Nate se virou e se trancou no banheiro, gritando lá de dentro:




- A festa começa em uma hora. Você prefere gel ou brilhantina?








Por mais incrível que pareça, Nate conseguiu deixar meu cabelo bonito. Eu não tava levando muita fé nas, hm, habilidades capilares dele, mas parece que ele daria um ótimo cabeleireiro.




- Eu sou um gênio – ele disse, sorrindo orgulhoso.




- Nunca achei que fosse dizer isso na vida, mas Nate, você se superou hoje – falei, admirando meu cabelo no espelho do banheiro. Ele havia feito minhas madeixas ficarem bagunçadas, mas não tão bagunçadas, e ao mesmo tempo arrumadas, mas não tão arrumadas. – Eu nunca achei que pudesse ficar mais sexy do que já sou.




- Ainda bem que eu não preciso arrumar o meu, já que as orelhas do Mickey cobrem. – Ele colocou as orelhas, que mais pareciam um capacete, e desfilou pelo quarto. – Essa roupa pinica um pouco, mas acho que dá pra agüentar.




Ele estava vestindo meia calça – MEIA CALÇA! – preta e uma bermuda bufante vermelha com aquelas listras brancas. A blusa era preta de manga comprida, e os suspensórios eram vermelhos. As luvas eram a parte mais legal, porque eram gigantes mas funcionavam direito por causa do feitiço que eu havia jogado nelas; ou seja, Nate podia mexer os dedos que a luva mexia também. Os sapatos eram gigantescos e amarelos, mas muito engraçados.




Já eu, modéstia a parte, estava um gatão. Minha fantasia era perfeita – tenho que lembrar de agradecer o Matt, por falar nisso. O casaco vermelho e a calça apertada branca, as botas pretas e uma espada de mentira na cintura. Os botões dourados eram muito legais, mas eu preferi não usar o chapéu pra não estragar o penteado.




- Nossa, que tigrões!




Eu e Nate nos viramos pra porta de nosso dormitório, onde um garoto de cabelos castanhos se encontrava. Apertei os olhos instintivamente.




- O que você quer, Christopher?




- Ih, acordou de mal humor, é? – Ele andou até Nate. – Fala, Nathaniel. Tá gatinho, hein?




- Você quis dizer ratinho, né? – Nate brincou, e os dois começaram a rir que nem doidos com a piada sem-graça. Quando se recuperou do ataque de risos, ele perguntou: - E então, cadê sua fantasia? Não vai na festa não?




- Você realmente acha que eu ia perder uma festa dessas? A minha fantasia é surpresa, só vou colocar antes de descer.




- Eu e o Rob já vamos descer – ele disse. – Quer que a gente te espere?




Christopher olhou pra mim antes de responder e sorriu sem-graça.




- Não precisa não. Eu não vou demorar.




- Hm, ok. A gente se vê lá embaixo então. – Nate sorriu e bagunçou o cabelo do Christopher. – Tchau, Chris.




Não sei o motivo, mas nunca fui muito com a cara dele. Nós dividimos o dormitório desde o terceiro ano e desde aquela época ele tenta grudar em mim e nos meus amigos como chiclete. É meio medonho, sério. Especialmente porque faz quase dois meses que ele não dá as caras por aqui e agora ele apareceu do nada.




Fechamos a porta e começamos a descer as escadas. No meio do caminho, Nate me puxou pela manga da fantasia e me olhou feio.




- Que foi? – perguntei.




- Você podia ser mais simpático com o Chris, né? Você sabe que ele não tem muitos amigos.




- Eu não gosto daquele garoto – falei, suspirando e enfiando as mãos no bolso pra não passá-las pelo cabelo. – Sei lá, tem alguma coisa sobre ele que me irrita. Não consigo confiar naquela simpatia exagerada dele.




- Poxa, Rob – ele começou. – O Chris é do quinto ano, ele só quer dar um bom exemplo pros alunos mais novos. Deixa ele, ele só quer ser amigo da gente.




- E aí que tá. – Parei de andar e me virei pra ele. – Ele tenta ser amigo demais.




- Pára com isso, Rob. Olha, esquece o Chris e aproveita a festa, tá?




Suspirei e assenti. Quando chegamos no Salão Comunal, esqueci totalmente daquele menino e só me concentrei em admirar a decoração que a Felicity tinha preparado.




Estava muito bonito mesmo, e eu não sei como ela conseguiu arrumar aquele lugar todo em tão pouco tempo. A cor das paredes havia mudado de vermelho pra branco e véus prateados e azuis haviam sido pendurados em algumas paredes. O teto havia sido enfeitiçado pra parecer o céu à noite, tipo o do Salão Principal. Em um canto havia uma mesa comprida com vários doces e garrafas de cerveja amanteigada. Pufes prateados haviam sido espalhados pelo lugar, que havia sido aumentado de tamanho três vezes. Licy também havia enfeitiçado o Salão inteiro e o feito a prova de som para que McGonagall não ouvisse o barulho da festa.




- Jason! – Acenei pra ele, que se encontrava em um pequeno palco com uma mesa de DJ.




- E aí, Robert? – ele disse, rindo. – Já escolhi a música da sua dança lenta.




Dei um dedo feio pra ele, mas não pude deixar de sorrir. Nada estragaria meu humor, nada mesmo.




Não achei que pudesse ver uma coisa mais bonita que a decoração até eu virar pra minha esquerda e ver a Addie.




Ela estava linda – maravilhosa, estonteante, perfeita. Eu nem me importei em soar brega e ridículo enquanto elogiava ela em minha mente, porque eu estava falando a verdade. O vestido dela era comprido e como o de uma princesa, e o cabelo dela estava cacheado e brilhante. Meus olhos caíram sobre mim mesmo e eu sorri internamente quando percebi que as nossas fantasias combinavam.




Nate não perdeu tempo e correu pra cima da Licy, se jogando em cima dela. Quase não acreditei quando vi que ela estava vestida de Minnie Mouse – eles foram feitos um pro outro, só pode.




- FELIZ! – ele gritou.




- Natinho, sai de cima de mim!




Apesar de eles estarem fazendo muito barulho, toda a minha atenção estava focada na Addie, que os observava com um sobrancelha erguida.




- Nate, eu não acredito que você também se vestiu de rato! – Johanna quase berrou e eu arregalei os olhos quando percebi o tipo de fantasia que ela estava usando. – Vocês dois nasceram um pro outro mesmo.




- Hey! Johan, fica quieta. O Natinho é como um irmão pra mim. Ele pode ter a cor de cabelo mais legal do mundo, mas isso não quer dizer que a gente vá namorar.




- É verdade. – Ele balançou a cabeça com força. – A Feliz também é como uma irmã pra mim. E ela não gosta de admitir, mas ela nunca vai conseguir pintar o cabelo da mesma cor que o meu. Porque eu sou ruivo natural, há!




- Esse é o Nate, ou melhor, Nathaniel Benson. Melhor amigo do Rob – disse Johanna. – Ele é legal, mas meio estranho. Ele e a Licy se amam, apesar de não admitirem.




- HEY! – os dois berraram juntos e partiram pra cima de Johan.




Os olhos da Addie foram até a Emily, que estava se atracando com o Jason. Pelo jeito que ela se mexia, pude notar que ela estava bem deslocada ali, então respirei fundo, tirei as mãos do bolso e andei decidido até ela, falando uma das frases mais sinceras que já disse na vida.




- Você está bonita.




Ela se virou e fizemos contato visual. As bochechas dela ficaram muito vermelhas e ela começou a andar pra longe. Quase estiquei o braço pra segurá-la, mas achei que iria me rebaixar demais. Suspirei, frustrado, e num gesto automático passei as mãos pelo meu cabelo perfeito, estragando o penteado.




- Rob, não! – Nate exclamou, correndo até mim. – O que você ta fazendo? Te falei pra não encostar no cabelo, não foi?




- Desculpa – falei. – Mas é que eu to meio chateado, sei lá.




- Hm, é por causa dela, né? – Enquanto ele falava, Nate tirou um pote de pomada não sei de onde e se pôs a rearrumar minha cabeleira. – Fica assim não. É só o início da noite, você ainda tem horas pra roubar o coração dela.




- É, você tem razão. – Forcei um sorriso confiante. – E é isso mesmo que eu vou fazer.




Até o fim da noite, prometi pra mim mesmo, ela seria minha.


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N/A: Eu sei, eu sei. Abandonei isso aqui por meses, como tem virado costume. Nem sei o que falar; acho que desculpas não adiantam mais. Então, vou só dizer que adorei escrever esse capítulo. Enquanto escrevia descobri um lado do Rob que nem eu mesma conhecia, e foi muito divertido ver ele descobrindo os sentimentos pela Addie. Não vou prometer nada, mas vou tentar voltar a escrever. Porque é uma coisa que eu amo e eu não quero que esse amor se perca assim. Não quero assistir algo que antes me fazia tão feliz ir embora, entendem?

Ah sim. E por falar em coisas que amo e que me fazem feliz, tem uma certa pessoa que do nada conseguiu se tornar extremamente importante na minha vida. Eu dediquei o capítulo pra ele, ó. Eu te amo, Biri <3

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