Robert.



Capítulo 12; Robert.




Quando abri os olhos, a primeira coisa que eu vi foi uma cabeleira alaranjada. Estava tão perto da minha cara que chegava a entrar no meu nariz.

- Mas que porcaria é essa... ? – resmunguei, tossindo quando os fios ruivos entraram na minha boca.

Demorou alguns segundos até eu raciocinar decentemente e perceber que a pessoa que se encontrava abraçada comigo na cama não era ninguém menos, ninguém mais que Nathaniel Benson.

- AAAAH!

Ao berrar, acabei caindo da cam e batendo minha cabeça com força no chão.

- Hm? Rob? – Nate disse, abrindo os olhos lentamente. – O que você tá fazendo aqui, caído do lado da minha cama?

- E eu que sei? Acordei do seu lado. – falei, levantando e me espreguiçando.

- Ai, meu Merlin! Rob, você acha que a gente... Fez coisas ontem à noite? – ele perguntou, com cara de nojo.

Só o pensamento de fazer alguma coisa com outro homem é extremamente nauseante, com o Nate é pior ainda.

Fiquei com vontade de vomitar.

- Não, Nathaniel, a gente não fez nada ontem à noite – eu disse, mais para mim mesmo do que pra ele. – Acho que eu tava meio cansado e acabei dormindo na cama errada, sem querer.

- Ainda bem, porque eu não lembro de ter bebido nada! – Ele riu. – Hey, Robert, que cara é essa?

- Que?

- Você tá com uma cara pensativa. Aconteceu alguma coisa ontem? – Nate ergueu a sobrancelha e sorriu de lado.

- Hm... – Depois de lutar internamente comigo mesmo, acabei decidindo por contar. Afinal, Nate já sabe de toda a minha vida mesmo. – Sabe a Heather?

- Heather Miller? – ele perguntou, e eu assenti. – Claro. Beija bem pra caralho.

- Fiquei com ela ontem. – falei, ignorando o comentário dele.

- Mas que eu saiba você sempre fica com ela. Por que isso parece ter te afetado tanto? – Nathaniel sentou-se na cama e cruzou as pernas.

- Ah, bem, eu combinei de me encontrar com ela aqui no quarto de madrugada – comecei. – Então, quando ela chegou, eu comecei a beijá-la e tal. Mas a Heather simplesmente me empurrou e saiu correndo. E eu fico me perguntando o por que.

- Isso é estranho, cara – Nate disse. – Mas você já parou pra pensar que a menina poderia não ser a Heather?

Acho isso meio impossível, mas tudo bem.

- Sei lá. Talvez. Ela parecia mais baixa, e, vou te contar, nunca beijei um pescoço tão macio quanto aquele.

Nate tacou o travesseiro em mim, rindo.

- Não quero saber de detalhes!

- Mas se ela não era a Heather, quem era ela? – perguntei a mim mesmo, franzindo o cenho.

- Acho que nunca iremos descobrir – Nate falou com uma voz mais grossa. – Não é como se você pudesse sair abraçando todas as meninas da Grifinória até descobrir a “garota-do-pescoço-macio” e... Não, Rob! Que cara de safado é essa? Você não vai mesmo fazer isso, vai?

- Talvez sim. Talvez não. Como você disse, acho que nunca iremos descobrir.

Rindo e deixando um menino ruivo com cara de chocado para trás, caminhei até o banheiro. Em meio a todos os produtos pra cabelo, pele e tal, achei minha escova de dentes e a pasta com gostinho de amora. Nham.

- Que horas são? – falei, enquanto saía do banheiro. - Nate?

Ao olhar pra ele, descobri o idiota roncando alto, com o cobertor enrolado em volta de suas pernas como um casulo gigante.

Andei até meu despertador e vi a hora: sete e dez. Ótimo, vou chegar na loja de Hogsmeade bem cedo e evitar ser pego por algum professor – ou pior, Argo Filch.

Procurei em meu malão uma roupa decente, e acabei escolhendo uma calça jeans clara e uma camiseta azul. Calcei meus tênis e, voilá!, a perfeição foi criada.

Desci as escadas com cuidado. Qualquer barulho poderia acordar McGonagall, já que o quarto dela é praticamente do lado do Salão Comunal da Grifinória. Sim, mesmo depois da morte do antigo diretor – um tal de Dumbledore que eu só vi em fotos e pinturas -, ela não quis se mudar para a sala dele, então continuou com seu antigo quarto e escritório aqui. 

Enquanto andava pelos corredores em direção ao campo de quadribol – onde eu pegaria a Sunny e iria voando até Hogsmeade -, vi algo se mexer perto de uma estátua do lado da biblioteca.

- Isso, me beija. Assim – uma voz feminina disse, e em seguida ouvi barulhos de beijos. – Nossa, como você é um menino mau, Ashton...

- E você me deixa louco, Beatrice – um menino disse.

Ashton? Beatrice?, pensei. Ah, não! Eu acordo cedo pra não encontrar com ninguém e quem eu acabo achando? Minha ex e seu bichinho de estimação se agarrando. Eu não mereço isso, cara. Não mereço mesmo.

Virei e comecei a andar lentamente pro outro lado, tentando ser o mais silencioso possível. Agora teria que pensar em outro jeito de chegar no vestiário masculino da Grifinória – onde as vassouras estão guardadas.

Estava quase virando o corredor quando tropecei no pé de uma armadura. Merda, merda, merda!, gritei em pensamento.

- Quem está aí? – Ashton gritou e ouvi passos chegando cada vez mais perto.

Tentei me arrastar como uma cobra até um lugar seguro, mas não tive muita sorte.

- Caldwell?

Respirei fundo e imaginei o quão digna deveria ser minha posição naquele momento.

- Ah, Ludmoore. É você. – falei, levantando e tirando a poeira da minha blusa.

- O que você tá fazendo aqui? – Ashton perguntou, cruzando os braços. Beatrice veio andando calmamente até a gente enquanto tentava ajeitar os cachos castanhos.

- Eu estava só... andando por aí.

- Hm, sei – Ele rolou os olhos. Maldito. – Vai, admite que você estava espionando a Beatrice.

- O que? – O QUE?

- É isso mesmo, Robert – Beatrice finalmente abriu a boca. – Eu percebi que você tem andado bastante interessado na minha vida ultimamente.

Meu queixo foi lá no chão.

- Você tá é paranóica, Beatrice – Balancei minha cabeça negativamente. Normalmente eu não falaria com ela, mas essa era uma situação crítica. – Eu não to te espionando! Eu nunca faria isso.

- Então como você explica o fato de que onde a Bea está, você também está?

- Sei lá, deve ser só coincidência!

- Claro, Robert, claro – Beatrice disse. – Mas acho que você deveria admitir a si mesmo que nunca superou o fim do nosso namoro.

Isso está mesmo acontecendo? Eu realmente  estou ouvindo direito? Beatrice Woodville acabou de insinuar que eu ainda estou apaixonado por ela ou eu to ficando maluco?

Isso é uma total mentira. Porque eu realmente já superei, tanto que saio com várias garotas. Eu não voltaria com Beatrice nem se ela se ajoelhasse e implorasse por meu perdão.

- Eu não vou nem entrar no assunto do nosso namoro, Beatrice – falei. – É passado e eu, com toda a certeza, já superei aquilo. Eu não quero ter mais nada a ver com você, e muito menos com esse seu brinquedinho aí. – Apontei para Ashton.

Ele me fuzilou com os olhos, mas eu só retribuí com um olhar de desprezo.

- Isso é o que veremos, Robert – ela disse, olhando para as unhas.

- Agora, chispa daqui, Caldwell – Ashton disse, crente que pode. – Eu e a Bea temos um assunto importante e inacabado...

Os dois começaram a se agarrar na minha frente, as línguas passeando de boca em boca.

- Certo, acho que eu não preciso ver isso – murmurei, passando por eles e indo – finalmente! – em direção ao campo de quadribol.

Sério, depois dessa conversa totalmente surreal eu acredito que tudo pode acontecer. Porcos podem voar, McGonagall pode rejuvenecer e ficar gostosa e eu posso acabar me apaixonando pela menina-esquisita-dos-embrulhos-prateados. Afinal, tudo pode acontecer nesse mundo, né.

... Claro. E eu sou o Merlin.


  


- Sunny! – exclamei, abraçando minha vassoura. – Você é a única que me entende, menina. Acredita no que acabou de acontecer? Pois é, acho que eu vou acabar me casando com você mesmo. Assim poderemos ter várias vassourinhas juntas, e elas vão se chamar Anacleto, Severino e Amélia.

Montei na minha bebê e dei um impulso. Já no ar, virei a vassoura na direção de Hogsmeade. São só trinta minutos de vôo, contra duas horas a pé. Na verdade, aposto que eu consigo chegar lá em vinte, devido às minhas... habilidades voadoras.

Olhando lá de cima, consegui ver alguns alunos saindo do castelo e se dirigindo à estufa. Passei tanto tempo tendo aquela conversa – que eu chamo de idiotice – e depois desabafando com a Sunny que já eram dez horas quando levantei vôo.

Vinte e dois minutos depois, pousei no meio de Hogsmeade, perto do chafariz da praça. Não havia ninguém nas ruas, exceto por um casal e seu filhinho olhando a vitrine da Zonko’s.

Olhei em volta, observando com atenção cada loja, até que vi a Dedos de Mel. Havia uma loja de doces como essa perto da antiga casa dos meus avó também, e eu costumava ir lá para tomar milkshakes de menta todos os dias.

Ao entrar na loja, fui recebido por Oliver, o dono cinquentão. Ele é um cara bem simpático, careca e magrinho. Não sei como ele mantém aquela forma tendo os mais maravilhosos doces ao alcance de seus dedos ossudos. Vai saber, né.

- Robert! – ele exclamou, saindo de detrás do balcão e apertando minha mão. – Há quanto tempo!

- É mesmo, Ollie – falei. – Tá bonitão, hein?

Ele riu.

- Minha coruja teve filhotes essa semana. São as coisas mais fofas, você tem que ver.

- Parabéns – disse, mas nem sei por que. Corujas são piores que ratos, procriam que nem uma coisa. Ainda bem que a Queen ainda não se engraçou com nenhum corujo, porque senão, ah!, coitado dele!

- Então, o que vai ser? O de sempre?

- O de sempre – concordei. – Ah, e também quero a maior barra de chocolate que você tiver, por favor.

Eu costumo voar até a Dedos de Mel quase toda semana, e sempre compro, bem, o de sempre: um milkshake de amendoim, três varinhas de alcaçuz, um saquinho de torrões de batata e dois pirulitos de caramelo.

- Problemas com garotas? – Oliver perguntou, enquanto pegava as coisas.

- Hã?

- É que, normalmente, quando alguém pede tanto chocolate assim é porque brigou com o namorado ou com  a namorada.

- Não, não – Balancei a cabeça. – Só... Muitos pensamentos. Só isso.

Oliver sorriu enquanto me entregava minha comida. Deixei um galeão e sete sicles no balcão e me sentei numa pequena mesinha que há no canto da loja.

Dei a maior mordida que pude na barra de chocolate e me pus a pensar. Por que será que Beatrice acha que eu quero voltar com ela? Eu nunca dei nenhum sinal de que ainda nutria sentimentos por ela, muito menos tenho a espionado. Isso é estranho, muito estranho. E o pior é que os dois – ela e Ashton – realmente parecem acreditar que eu ando a perseguindo. Acho que vou ter que provar pra Beatrice que realmente superei o fim do nosso namoro. Mas preciso de um plano.

Parece que Merlin gosta de mim, porque assim que comecei a pensar em um plano, vi Johanna, Felicity, Emily e a menina-dos-embrulhos andando juntas do outro lado da rua, em direção à Madame Malkins. Há, parece que elas também estão matando aula. Tsc, tsc, que meninas malvadas.

Enfim, meu olhar pousou sobre a menina estranha, e então uma luz se acendeu na minha cabeça. E se – mas só se e se -, eu fingisse namorar com ela para fazer a Beatrice desistir de me atazanar de uma vez por todas? Poderia funcionar, afinal, eu tenho mesmo que fazer a coitada se apaixonar por mim. A única parte difícil seria convencê-la a me “namorar”, mas acho que meu charme consegue dar conta disso.

Terminei meu café-da-manhã e levei o copo de milkshake vazio até o balcão.

- Aqui, Ollie. Valeu, tava ótimo.

- De nada, Robert. Você é um cliente especial aqui na Dedos de Mel.

Sorri.

- Então, vai aonde agora? – ele perguntou.

- Conhece a nova loja que abriu, uma tal de Madame Malkins?

- Claro. A vendedora de lá é um broto! – Ergui a sobrancelha. Ao ver minha expressão, ele pigarreou e ajeitou a gravata borboleta que usava.

Fui andando até a porta, porém quando eu coloquei a mão na maçaneta, ouvi Oliver me chamar.

- Ah, e Robert... – Suas bochechas ficaram vermelhas. – Se você pudesse descobrir o nome daquela vendedora, você faria um certo homem realmente feliz!

Rindo, assenti com a cabeça e saí da Dedos de Mel.

Me dirigi até a Madame Malkins, fazendo uma careta ao notar a purpurina e as plumas rosas que cobria a vitrine. Quando entrei, um sininho tocou.

E, quando eu vi a menina estranha parada lá, com uma roupa até bonita, eu me peguei pensando que talvez meu plano não fosse tão ruim assim.




N/A:
nossa, eu acho que bati meu recorde hoje! nunca tinha postado dois dias seguidos. :D enfim, espero que gostem. e eu quero agradecer mais uma vez Istéfani M., por todo o apoio *³* (vou continuar agradecendo até você ver). obrigada também à Lannah Dursley, que continua comentando mesmo depois de eu ter demorado um tempão pra postar (: e a Julia-Moreira também. ;D eu quero avisar que vou viajar amanhã pro Brasil, então só vou poder postar semana que vem. vou levar meu laptop comigo, então vou continuar escrevendo :D e eu não sei por que, mas bateu a vontade de dizer que eu fiz um bando de mechas laranja no meu cabelo (?)' Hsauhsauh; de qualquer forma, obrigada a todo mundo que passou/comentou nessa fic. Beeijo !

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