Addie.



Capítulo 17; Addie.



Fiquei sem ação, apenas olhando pro cachecol caído no degrau. Lentamente, voltei meu olhar para Robert, e percebi que ele parecia tão - ou até mais - chocado do que eu.

- Caralho. 


- O que foi? – Forcei minha voz a continuar firme, mas evitei encarar seus olhos azuis. Que vergonha, que vergonha! Ele deve estar pensando que eu sou uma qualquer, que dá pros outros mais que cadela no cio.


Não que eu me importe com o que Robert Caldwell pensa de mim, só pra deixar bem claro.


- Você... Seu pescoço... Eu... Ai, Merlin, o que aconteceu com seu pescoço? – Robert começou a andar de um lado pro outro, passando a mão freneticamente por sua franja. Então, ele parou do nada e arregalou os olhos. – Era você... Ah, não, era você, Addie!


- Eu...?


O encarei por alguns segundos, até que finalmente as peças começaram a se encaixar em minha mente, uma por uma, como um quebra-cabeças, e eu me dei conta da verdade.


Vamos raciocinar. Que outro menino atacaria uma garota indefesa que entra em seu dormitório no meio da noite? Certo, ele pode até ter pensado que eu era a tal da Heather Miller, mas só o Robert seria baixo o bastante ao ponto de beijar uma pessoa sem ao menos ter certeza de quem ela é antes.


Meu rosto todo começou a arder de vergonha.


- V-você é o... – Engoli um seco. - Robbie?


Robert assentiu levemente, suas bochechas extremamente rosadas.


- Ai, meu Merlin – sussurrei, colocando uma mão em volta da boca por medo de vomitar meu almoço ali mesmo. – Ai, meu Merlin!


Não pode ser!, gritei em pensamento. Eu não posso ter... ter me sentido tão bem quando ele me beijou! Robert é um idiota, é impossível que ele tenha causado aquelas sensações em mim. O que eu faço? O que eu faço?


- Me desculpa – ele murmurou, chegando mais perto. – Eu sinto muito, Addie. Se eu soubesse que aquela garota era você, e não a Heather, eu nunca... eu nunca teria feito aquilo. Juro.


Eu queria acreditar nas palavras dele. Realmente queria. Talvez Robert não tenha feito por querer, vai ver ele pensou de verdade que eu era a Heather. Mas é que é tão, tão difícil não ficar com raiva dele!


Eu não sei o que pensar. Por um lado, quero sair correndo e chorar, por outro, quero matar esse idiota. Eu não sei o que deu em mim mais cedo quando eu achei que ele era até legal. Meu pai sempre disse que eu não consigo julgar o caráter das pessoas, e parece que ele está certo.


- Que vergonha... – murmurei, enterrando o rosto nas mãos pra esconder o vermelho.


- Addie... – ele disse, tocando meu ombro. Pulei pra trás, mordendo o lábio inferior.


- Você não vale nada, Robert, nada mesmo! – exclamei. E, antes que eu me desse conta do que estava acontecendo, minha mão direita voou em direção à cara dele, fazendo um barulhão de tapa ecoar pelo Salão Comunal.


- Você... Você me bateu... – Robert balbuciou, encostando de leve na marca vermelha que agora existia em sua bochecha.


- Tarado! – berrei, sem conseguir me conter. Dei as costas pra ele e comecei a subir as escadas até o dormitório feminino, sentindo o coração bater forte por causa da adrenalina.


Hm, a única coisa que me deixa feliz é a certeza de que o rosto dele está doendo mais do que minha mão.


 
 


- Addiiiiie!


Assim que entrei no meu quarto, senti os braços de Felicity serem jogados contra meus ombros, e ela me abraçou com força. A afastei, respirando fundo e fazendo uma cara de “não-aconteceu-nada-e-eu-estou-bem-obrigada”.


- Você está bem? O Robert não te mordeu, não, né? Ai, me conta tudo, Addie! Se aquele menino fez alguma coisa com você, eu juro que arranco cada pêlo do nariz dele, um por um! Ele te machucou, por acaso? Ou falou algo que não devia? Você se sentiu invadida de alguma forma? Foi explorada de maneira verbal, sexual, qualquer coisa?! Hein, Addie? HEEEIN?!


- Calma, Licy! Deixa a garota respirar – Johanna disse, empurrando Felicity pro lado. Comecei a rir de nervoso.


- Nada aconteceu, gente – falei. – Eu to bem. Mesmo.


- Ufa, que alívio! – exclamou Licy, abrindo um sorriso. – O Rob é meu amigo e tudo mais, mas ele sabe ser safado quando quer. Por isso eu fiquei tão preocupada, imagina aquele ser dando em cima da Addie, meu bebê?


- Seu... bebê?


- Hm, é. Já que você foi a última pessoa a entrar no grupo, você é a bebê. Entendeu? Bebê, Addie, Bebaddie! HAHAHAHA! – Felicity começou a gargalhar como uma louca, e se jogou no chão com as mãos na barriga, chutando o ar.


- Liga não, Addie – Johan rolou os olhos, me puxando pra longe da maluca da Licy. – Ela bebeu café antes de você chegar, por isso ta assim. A Licy simplesmente não pode ingerir cafeína, ou ela fica meio, hm, fora de si.


- É, percebi. – falei, meio assustada. – Ué, cadê a Em?


- Foi falar com o Jason. Disse que tava com saudade do namorado e que não o via desde ontem – Johan sorriu, e então se jogou na minha cama e abraçou meu travesseiro. – Aaaah, a Emily é tão sortuda! Ela tem um namorado bonito, fofo, legal, e que faria qualquer coisa por ela. Eu queria ter alguém assim na minha vida.


Johanna parecia bem triste ali, tanto que eu esqueci meus próprios problemas por um momento e a encarei com pena. Eu sempre achei que ela não namorava porque não queria, já que ela tem praticamente todos os meninos da escola aos seus pés, mas parece que a razão é bem simples: ela ainda não achou alguém especial.


Eu costumava pensar assim também, mas acabei me conformando com minha, hm, “solteirice” depois que percebi que nenhum garoto vai entender meus sonhos. Quando Hogwarts acabar, eu pretendo voltar para a Escócia, mais especificamente para Midland – ou talvez eu vá pra Glasgow, ainda não decidi – e comprar uma casa grande e antiga, com papel de parede florido e um grande quintal onde eu possa ter minha própria horta e plantar abóboras. Talvez eu vire escritora, ou curandeira, não sei.


- Eu te entendo, Johan... – eu disse, me jogando ao lado dela. – Eu também penso assim.


- Addie, cala a boca! – ela exclamou. – Você tem o Robert. E ele pode não admitir, mas ele realmente se importa com você. Talvez ele nem tenha se dado conta disso ainda, mas um dia o Rob vai perceber que os sentimentos dele são verdadeiros, e você dois vão formar o casal mais fofo do mundo!


Abri minha boca pra responder que eu nunca mais conseguiria olhar na cara dele de tanta vergonha – e que ela estava falando um bando de asneiras, porque é impossível que alguém como Robert Caldwell se apaixone por alguém como eu –, mas fiquei quieta. É estranho como aquelas memórias boas de Hogsmeade e de um Robert até legal parecem não ter importância perto de uma descoberta como a que eu fiz hoje mais cedo.


Acho que continuo em certo estado de choque.


- Já por minha parte, eu não tenho ninguém. Ok, posso ter alguns pretendentes...


- Alguns? – a interrompi.


- Tá, tá, muitos pretendentes, mas eu sei que nenhum deles se importa de verdade comigo, como o Jason se importa com a Em, e até como o Rob se importa com você. Você sabe do que eles estão atrás, e sexo com certeza é algo que eu não estou disposta a dar.


- Johanna, eu...


- Espera, Addie. Não me interrompe – Ela levantou uma mão. – E, pra finalizar, o único menino que mexeu comigo de verdade me deu falsas esperanças e depois esmigalhou meu coração. As pessoas acham que eu tenho sorte por ter um cabelo legal, roupas de marca, ótimas amigas, e vários garotos pedindo pra sair comigo diariamente, e talvez eu até tenha. Mas elas não se colocam no meu lugar. Não entendem que essa rotina se torna cansativa e que às vezes eu tenho vontade de cortar todo esse cabelo e fazer o que eu realmente quero, não o que os outros esperam que eu faça. E ainda tem o fato de eu, depois de tanto tempo, não ter esquecido aquele maldito menino que me beijou na sala de Transfiguração. Eu me sinto tão idiota e...


- Johanna, você tá divagando.


Ela suspirou.


- Eu sei, Addie. Desculpa. É que tem tanta coisa que eu quero botar pra fora, e agora que eu comecei, não consigo parar.


- Não precisa se desculpar – falei. Me sentei na cama e coloquei sua cabeça em meu colo. – Olha, Johan, você é uma pessoa incrível, maravilhosa, linda por fora e por dentro. E se o Todd não foi capaz de reconhecer as suas qualidades e te dar o valor merecido... Bem, ele é o idiota, não você.


- Addie... – ela balbuciou, limpando os olhos que começavam a lacrimejar. – Você é tão legal comigo... Eu gosto muito de você, apesar de só ter te conhecido de verdade ontem.


Ela se levantou, e, por mais brega que isso soe, nós nos abraçamos.


- Esquece o Todd, não vale a pena – eu disse, a entregando uma caixinha de lenços de papel. – Agora, me promete que amanhã na festa você vai se divertir muito e esquecer que esse garoto existe.


- Prometo. – Johanna sorriu.


Naquele momento, Emily entrou no quarto, sorrindo e dando pequenos rodopios no ar enquanto suspirava apaixonadamente. Infelizmente, ela não viu que Licy continuava deitada no chão, e acabou tropeçando nela.


- AH! – Em gritou, pousando em cima de Felicity. – Licy? Mas o que diabos você ta fazendo no chão?


- Ouvindo a conversa da Johanna e da Addie sem que elas percebam, é lógico – Felicity respondeu, jogando Emily pro lado e se levantando.


- Felicity, você tem problemas – Johan disse, rolando os olhos. – Enfim, já que estamos todas aqui agora, que tal começarmos a falar sobre as nossas fantasias? E decidir a maquiagem e o penteado pra festa de amanhã?


- Pode ser – Em disse, sentando do nosso lado na cama.


- ‘Bora! – exclamou Licy, se juntando a nós.


- Nossa, tá apertado aqui. – falei, sendo esmagada contra a parede.


- É porque essa é uma cama de solteiro, e somos quatro adolescentes bundudas que estão se amontoando em um colchão tamanho P. – esclareceu Licy.


- Vamos fazer uma roda no chão, então. Mais prático – Emily sugeriu.


Sentamos no chão, apoiando as costas contra as camas. Isso me fez lembrar do jogo de Verdade ou Consequência, e consequentemente do que aconteceu comigo no dormitório masculino. Balancei a cabeça com força pra espantar esses pensamentos, e me concentrei em discutir sobre cílios postiços com Em.


- Eu gosto. Acho que vai ficar ótimo se eu colocar minhas lentes de contato violetas e cílios postiços bem compridos.


- Bem, depende da sua fantasia, né? – falei. – Por falar nisso, qual a fantasia de vocês?


- Eu vou de Minnie! – berrou Licy. – Tenho esperanças de achar um Mickey nessa festa.


- Felicity, minha filha, raciocina comigo. Que menino em sã consciência se vestiria de rato? – Johanna disse, dando um tapa na testa dela.


- Eu vou de Sininho – disse Emily. – E o Jason vai de Peter Pan.


- E eu me recuso a falar.


- Ah, Johanna! Fala, vai! – exclamou Felicity, fazendo cara de coitadinha. – Por favoooor... ?


- Não, não. Eu só posso dizer que vai chocar o mundo! E, principalmente, vai chocar o garoto que vencer o concurso onde eu tenho que realizar um desejo do vencedor.


- Ai, meu Merlin! Você não vai se vestir de Eva não, vai?


- Claro que não, Em! – Johan riu. – Mas e você, Addie? Vai de que?


- Hm, não sei se vocês merecem saber... – falei. Licy tacou um travesseiro na minha cara. – Tá bom, tá bom. Eu vou de... Bem, na verdade eu nem que fantasia é, mas parece com os vestidos que a Maria Antonieta usava.


- Own, se é o que eu estou pensando, vai ficar lindo! – disse Johanna. – Será que a sua fantasia vai combinar com a do Rob?


- Não roga praga, Johan – Ri.


- Mas é sério, se a sua fantasia for muito bonita, você pode ganhar o concurso de fantasias! E, se você por um acaso ganhar, vai ter direito a uma dança lenta com o Robert.


Eu havia até me esquecido desse detalhe. Se bem que, com tantas meninas atendendo a festa, eu duvido muito que eu vá me destacar. Com certeza, quem quer que esteja julgando esse concurso não vai me escolher, de qualquer forma, então eu não preciso me preocupar em ter que colar meu corpo no do Robert e tal.


- Hm, mas se a Addie vai com uma roupa de época, ela vai ter que usar uma maquiagem mais leve, né – começou Em. – Talvez a gente deva apertar suas bochechas como se fazia antigamente, sabe, pra ter aquele visual original do passado.


- Há-há, muito engraçado – Dei língua pra ela. – Ninguém vai pegar nas minhas bochechas, ok? Eu prefiro nem usar maquiagem, pra falar a verdade.


- Mas maquiagem vai te deixar mais bonita! – Johan exclamou. – Além do mais, é praticamente uma lei que todas as garotas devam se maquiar pra uma festa. Principalmente uma festa importante como essa.


- Certo, certo. Eu deixo vocês me maquiarem, fazer o que – Suspirei.


Pensei em como tanto produto no só entupiria meus poros e aumentaria o número de espinhas já existentes no meu rosto. Bem, acho que posso fazer esse sacrifício. Essa provavelmente vai ser a única festa que eu irei freqüentar em muito, muuuuito tempo, já que eu não gosto de sair e prefiro ficar em casa ouvindo música, lendo um livro, ou assistindo desenhos na Tv.


Emily e Johanna continuaram a discutir sobre tons de sombra, batom, blush e qual era o melhor demaquilante. Meu olhar parou sobre Licy, que não havia pronunciado uma palavra sequer fazia vários minutos – um tempo incrivelmente longo para alguém como ela.


- Licy... ? – perguntei, a cutucando com um dedo. Ela caiu pro lado, roncando alto.


- O que aconteceu com ela? – Em fez uma careta.


- Acho que ela tava dormindo sentada – respondi, segurando o riso. – Coitada, o efeito do café deve ter passado.


Nós rimos um pouco, e então as duas voltaram a conversar como antes. Suspirei, o rosto de um certo menino irritante ainda insistindo em alugar meus pensamentos. Por que eu não consigo esquecer de uma vez por todas o que aconteceu e simplesmente apagar a existência dele da minha vida?


Corei quando me peguei refletindo que, se Robert Caldwell não fosse tão estúpido e se nada daquilo tivesse acontecido, eu provavelmente teria aceitado seu convite pra sair.





N/A: Sim. Me matem. Me coloquem num espeto e façam churrasquinho de mim. Eu sei que sou uma péssima autora e pessoa por ter ficado tanto tempo sem postar. Não vou inventar uma desculpa nem nada, porque a verdade é que eu simplesmente enjoei dessa fic e não tinha inspiração. Agora, resolvi voltar porque percebi que gosto muito dela, e eu queria terminar de escrever. Esse capítulo tá no meu computador faz meses. Acho que escrevi assim que postei o capítulo 16. Não tá muito bom, mas espero que sirva como uma desculpa da minha parte. Até o final de janeiro eu vou estar em provas na escola, então não posso nem entrar no computador. Mas, em fevereiro, pretendo postar bastante e escrever vários capítulos. Desculpa a demora e tudo o mais.

Beijo.
 

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