Robert.




Capítulo Seis; Robert.



É incrível, mas acabei de descobrir que existe algum ser maluco nesse mundo que me odeia. Odeia tanto que provavelmente quer me ver sendo humilhado na frente de um montão de gente.

O negócio é que eu acabei de descobrir que - contra a minha vontade, que isso fiquei bem claro! - eu, Robert Caldwell, virei prêmio de uma festa. Certo, eu já sabia que era irresistível, mas até eu mesmo acho que isso é demais. Sério, fica até parecendo que eu estou à venda, credo.

Pelo menos eu acho que sei quem fez isso. Tenho quase certeza, pra falar a verdade. Foi fácil perceber que Johanna não era - já que ela nunca se ofereceria à, como dizia o cartaz, "realizar um desejo do garoto vencedor" -, nem Felicity - ela não teria tempo de se encarregar da decoração e ainda organizar a festa -, nem Nate - a cabeça dele dói ao somar dois mais dois, imagina a dor ao preparar uma festa! -, muito menos Todd - que é da Corvinal. No final, duas pessoas sobraram: Emily Welsh e Jason Reid.

Os dois começaram a namorar faz uns sete meses, e, apesar de não ser muito íntimo da Emily, Jason era meu amigo, e também capitão do time de quadribol da Grifinória. Como os dois estavam no Sétimo Ano, era óbvio que Emily - ela sempre adorou uma festa - queria deixar uma lembrança dela aqui em Hogwarts, e que jeito melhor de fazer isso do que organizar a festa do ano? Aposto que ela que meteu o Jason nesse troço, fazendo o coitado de DJ.

- Rob, Rob! Você não vai acreditar, seu nome apareceu em um cartaz no Salão Comunal! - Nate apareceu correndo desembestado. Ao me ver sentado na cama, ele tentou parar, mas tropeçou nos próprios pés e caiu em cima de mim.

- Sai de mim, capeta! - gritei, fazendo o sinal da cruz com os dedos e o empurrando de cima de mim. - Nathaniel, se você causar um arranhão que seja nesse meu rosto lindo, vai desejar nunca ter nascido.

- Foi mal, foi mal - Ele riu e ficou de pé. - Eu só quero saber a razão de o seu nome estar num pôster gigante lá embaixo e não o meu.

- Você quer ficar no meu lugar? Fala sério, Nate, presta atenção no que você tá falando. Eu vou ter que dançar uma música velha com alguma menina qualquer. Ótimo se ela for gostosa; péssimo se ela for horrorosa.

Nate pareceu refletir um pouco, com a mão no queixo e um olhar perdido. Então ele levantou os braços no ar como um macaco e começou a rir descontrolado.

- Se fudeu! Ah, Rob, você se fudeu bonito! - Ele apontou o dedo pra mim, enquanto eu cobria minha cabeça com o travesseiro e abafava um grito frustrado.

Acabei de confirmar algo que já sabia: Nathaniel Benson é uma anta total.



Lá pela hora do almoço, resolvi procurar a Emily, esclarecer as coisas e depois pedir para ela tirar aquele cartaz do Salão Comunal. Mas, infelizmente, parecia que a má-sorte me seguiria o dia inteiro. Não achei a garota em lugar nenhum, e olha que eu até entrei no banheiro feminino pra procurar.

Então eu fui procurar o Jason. Porque, obviamente, sendo namorado dela, ele era a coisa mais perto da Emily que eu acharia hoje. E o coitado tava metido no meio da bagunça também, de qualquer forma.

Eu não teria tempo de almoçar se quisesse falar com ele, mas - a única coisa decente do dia - parece que o Hagrid acabou se machucando ao cuidar de algum bicho esquisito, então a aula de Trato de Criaturas Mágicas foi cancelada e a gente ficou com o horário livre.

Corri para o campo de quadribol, o lugar onde eu tinha absoluta certeza que Jason estaria. Eu não sei como a Emily aguenta; ele fala, pensa, sonha, respira quadribol vinte e cinco horas por dia.

- JAAASON! - berrei, assim que pisei na grama verde. Ele estava voando e rebatendo um balaço junto com o outro batedor do time da Grifinória, e eu nem sabia o nome desse menino, só que ele era do quinto ano e impressionantemente mais ruivo do que Nate.

- Ah, fala, Rob! - Jason disse, voando até mim. Ele passou uma mão na testa e eu vi gotas de suor caírem no chão. - Veio treinar também? A McGonagall me liberou da aula dela quando eu falei que tinha que treinar mais ou a Sonserina ia ganhar a taça.

- Não, meu filho, eu não vim treinar. - falei, lançando um olhar medonho pra ele. - É só que eu estava pensando na razão de o meu nome estar numa merda de cartaz no Salão Comunal, sabe, e então o seu nome apareceu na minha mente, assim, do nada.

Jason pareceu ficar nervoso, evitou me olhar nos olhos, sorriu estranho e começou a enrolar o cabelo no dedo como uma menininha.

- É... É que... É que... - ele se embolou pra falar, e baba escorreu pelo seu queixo.

- Tudo bem, Jay. - falei, suspirando e tirando a franja dos olhos. - Eu sei que você faz tudo que a Emily quer mesmo. Aposto que foi ela que te meteu nessa roubada também, não é?

- Hm, você tem razão - Jason disse, sorrindo pra mim como se pedisse desculpas. - Mas a Em me convenceu, e, na verdade, eu nem queria ser DJ. Eu nem gosto de música eletrônica, pelo amor de Merlin! Enfim, agora não tem mais jeito, todo mundo já viu o cartaz e tal, então é melhor você se acostumar com a idéia de dançar com uma menina qualquer aê. É, é isso mesmo. Tchau, Robert, e boa sorte!

E então ele montou na sua vassoura e voltou a jogar com o batedor, encerrando o assunto.

Ah, é uma pena que eu não bata em meninas, ou a Emily estaria mor-ta.



- Boa tarde, meus queridos! - Sprout disse. Suas bochechas gordas se tornam mais redondas aindas quando ela sorri.

- Boa tarde - algumas pessoas responderam.

Eu gosto da aula de Herbologia. É a minha preferida, parece que eu tenho jeito com plantas, sei lá. Por isso eu sempre fico animado quando me vejo seguindo os outros grifinórios até uma das estufas. A prof. Sprout pode ser mais feia que um trasgo, coitada, mas ela até é legalzinha. E sabe muito sobre o que ensina, obviamente. De vez em quando eu até fico depois da aula pra ajudá-la a regar e adubar as plantas. É divertido, e eu simplesmente adoro sentir a terra úmida debaixo dos meus dedos, o esterco se entranhando nas minhas unhas... Ok, eca. Que nojo, espero que ninguém nunca saiba disso, imagina o que as garotas pensariam do "Robbiezinho" delas!

- Hoje nós iremos trabalhar em pares - Sprout falou, enquanto colocava umas luvas grossas e amarelas. Que coisa, esses professores gostam de duplas, vou te contar.

Olhei para o Nate, que estava do meu lado, mas acabei notando uma menina baixinha e peituda rindo e acenando pra mim do outro lado da sala. Se eu conseguir pegar essa gostosa, meu dia vai melhorar. E muito.

Mas aí eu lembrei da menina-estranha-dos-pães-enrolados-em-papel-brilhante-e-do-medo-de-altura. Rolei os olhos, procurando a dita-cuja pela estufa, mas ela não estava em lugar nenhum. Comemorei internamente e sorri de lado pra garota gostosa, que mordei o lábio e, como quem não quer nada, abriu um pouquinho sua capa, revelando o decote de sua blusa. E que decote, cara! Mostrava tudo, tudo mesmo.

Merda, acho que to começando a ficar excitado.

- Não fiquem tão animados, eu escolherei as duplas, não vocês - Sprout começou. - Assim vocês podem até fazer novos amigos, não é uma maravilha?

Ótimo, a única coisa interessante e boa do meu dia - além do Hagrid ter cancelado a aula dele - não vai mais acontecer. Ó, Merlin, por que tu me dás esperanças?

- Vou escolher na sorte, entenderam? Hm, você - Ela apontou para um menino moreno, que era tão musculoso que sua camiseta tava quase rasgando. - e você. - E depois apontou para uma menina feia pra cacete, com olhos gigantemente arregalados.

E assim Sprout continuou. É estranho, mas mesmo depois de todo esse tempo, ela ainda não gravou o nome de seus alunos. Bem, pelo menos o meu ela sabe, disso eu tenho certeza, porque ela apontou o dedo gorducho pra mim e disse:

- Robert, querido - Levantei uma sobrancelha. - e você.

Segui com os olhos o lugar paraonde ela havia apontado. Meu rosto formou inconscientemente uma careta, e eu xinguei a Pomona Sprout de todos os nomes feios que eu conhecia em pensamento.

Porque ali, perto de umas flores roxas e sorrindo ironicamente para mim, estava Beatrice Woodville, minhas ex-namorada.



A minha história com ela não é tão simples assim. Antes de começar, devo esclarecer uma coisa: eu nem sempre fui pegador e tal. Teve uma época em que eu era quieto e certinho, e foi nessa época que Beatrice entrou em minha vida.

Nos meus primeiros anos em Hogwarts, eu - um menino quieto, como já disse - não era exatamente o que poderia ser chamado de popular. Lógico que eu tinha amigos - Johanna, Nate e Felicity -, e era bonitão, mas não tinha, hm, atitude, acho. Andava sempre com os olhos voltados para o chão e os ombros curvados para frente, com vergonha, assim como a menina-estranha-e-meu-novo-alvo. No início do Primeiro Ano, eu e meus amigos estávamos sempre juntos, mas depois eles começaram a não ter mais tempos pra mim. Estavam sempre ocupados com novos amigos, festas, namorados e namoradas, e inúmeros admiradores, então eu passei a não me encaixar mais no grupo deles. Os três sempre tentavam arrumar um jeito de falar comigo e manter a amizade, mas eu sentia a distância aumentando cada vez mais.

Então, no meu Segundo Ano, eu deixei completamente de falar com eles e virei um frequentador assíduo da biblioteca. Digamos que eu poderia ser até chamado de um "amigo íntimo" da Madame Pince, uma coisa que não é nada, nada legal. E foi em um dos meus dias solitários em meio à livros que eu conheci a Beatrice. Eu costumava dizer que ela havia me salvado de um futuro triste, mas hoje em dia eu digo que ela apenas me mostrou que existem coisas mais interessantes que páginas empoeiradas e livros mais grossos que meu braço.

Beatrice virou minha amiga quase que imediatamente, e em um piscar de olhos eu me vi apaixonado por ela. Afinal, quem não se apaixonaria por aquela menina fofa, com cabelos escuros e olhos tão verdes que eu me sentia dentro de uma floresta quando olhava para eles? Eu achava que ela gostava de mim também, então começamos a namorar firme. Embora seja meio difícil definir o significado de "namorar firme" quando se tem doze anos, nós andávamos de mãos dadas e chamávamos um ao outro de chuchuzinho, amoreco e derivados. Meu primeiro beijo foi com ela, um troço babado e desajeitado, mas que pareceu simplesmente perfeito na época.

Provavelmente, se uma certa coisa não tivesse acontecido, nós estaríamos juntos até hoje, eu um bobo apaixonado e ela apenas se aproveitando de mim. Acho que foi até uma coisa boa aquilo ter acontecido, já que assim eu pude ver o verdadeiro caráter da menina. Enfim, acontece que um dia, perto do fim do meu Terceiro Ano - e o dia do aniversário de namoro de um ano e sete meses de nós dois -, eu estava esperando por ela, nervoso, segurando uma rosa vermelha em uma mão e uma caixa de trufas de chocolate em outra. Então eu vejo um vulto se mexendo atrás de uma das armaduras do corredor. Ia passar reto, mas uma coisa chamou minha atenção: uma pulseira exatamente como aquela que eu havia dado à Beatrice alguns meses antes.

Acho que dá pra deduzir o que aconteceu depois. Quando eu joguei as coisas no chão e a puxei, perguntando com raiva o que significava aquilo, ela apenas riu, apontou para a pulseira que estava usando, pegou a caixa de trufas e pisou na rosa, dizendo: "Obrigada pelos presentes, amorzinho." Beatrice saiu andando depois, rindo alto, enquanto eu a olhava sem ação, com - admito - lágrimas escorrendo pela minha bochecha. Descontei a dor do coração partido no menino que estava se agarrando com ela, Ashton Ludmoore. Ele pode ter passado uma semana na enfermaria depois daquilo, mas eu tenho certeza que demorei muito mais tempo para sarar.

Não tenho idéia do que a levou a fazer aquilo. Ela é a menina mais rica que eu conheço, então não precisava dos meus presentes ou dinheiro. E, fala sério, qual é a dificuldade em terminar com a pessoa antes de traí-la? Assim tudo ficaria melhor. Me deu tanta vontade de perguntar coisas do tipo: "E todas aquelas vezes em que você disse 'eu te amo'? Era tudo mentira, então?". Eu ficava repetindo e repetindo a cena na minha mente, culpando a mim mesmo, dizendo que eu havia feito algo de errado e por isso ela havia me traído. Mas é como dizem: "O tempo é o melhor remédio", não é? Demorou, mas eu melhorei.

De qualquer forma, esse acontecimento me levou a ficar com mais e mais meninas, a pegar um monte. Não sei, talvez eu ainda esteja tentando achar em alguma delas alguém que me faça tão feliz como a Beatrice me fez naqueles tempos, e que, com apenas um sorriso, faça eu me senti o cara mais sortudo de todo o mundo por tê-la ao meu lado. Eu voltei a andar com Johanna, Felicity e Nate, e me tornei um dos caras mais populares da escola. Há.

Eu não guardo mágoas, sabe? Até converso o mais civilizadamente possível com o Ashton, e ignoro a Beatrice completamente. Não possuo mais nenhum sentimento por ela, tenho certeza. Sei que ela e o Ashton estão numa fase de "amizade colorida", desde aquele tempo. Não me pergunte como uma amizade colorida possa envolver beijos de língua e mãos dentro do sutiã, mas isso é problema deles.

Eu sei que disse pro Todd, há alguns dias atrás, que não sabia como ele havia conseguido ficar com a Jennifer por tanto tempo, como podia ter aguentado a mesma garota por mais de dois anos... Mas, na verdade, é como ele disse. Muito fácil quando se está apaixonado, tão fácil que os anos passam voando.

Nunca contei a ninguém a história toda. É óbvio que muito sabem que nós fomos namorados, mas para todo mundo a gente terminou porque não estava dando mais certo. Pelo menos, essa foi a mentira que eu contei. Achei até estranho Beatrice não espalhar pra todos o verdadeiro motivo do término, mas talvez sua imagem de santa fosse manchada se as pessoas soubessem que ela tá mais pra demônio do que pra querubim. E Ashton? Aposto que ele ainda deve sentir seu nariz doer de vez em quando.



Agora, com licença, mas já que a aula de Herbologia acabou sem muitos problemas - ou seja: sem eu trocar uma palavra sequer com Beatrice e colocar sem querer uma mistura para crescimento mágico em sua planta -, acho que preciso começar a decidir qual vai ser a minha fantasia. E a me preparar psicologicamente para dançar aquelas músicas velhas que minha avó dançava nos bailes de antigamente. Por que eu tinha que ter nascido com esse rosto perfeito, meu Merlin? Não seria melhor se você tivesse me dado um narigão, espinhas, dentes tortos e miopia?

Hm, não. É, acho que não. Vou bater na madeira, cruz-credo.




N/A: eu adorei escrever sobre a Beatrice e o Rob nesse capítulo. ela não é uma piranha como vocês devem estar pensando. é só meio... incompreendida. o perfil dela já tá lá nos Personagens (: espero que tenham gostado. terminei de escrever o sete agora. a festa ainda vai demorar um pouco, provavelmente no capítulo 9 ou até no 11. hm, tenho que ir. meu pai tá gritando meu nome aqui, e é bem capaz de ele chegar aqui agora e me arrastar até a cozinha pra almoçar (?)' 'Brigada a todo mundo que comentou e passou na fic. (: Beeijo !

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