Robert.



Capítulo 16; Robert. 



Ashton Ludmoore e Beatrice Woodville. Juntos. Em Hogsmeade. Na minha frente.

Isso é um pesadelo. Eu devo estar dormindo, eu tenho que estar.  Se só a Beatrice já é uma megera-malvada-traíra-nojenta, imagina essa menina mais seu fiel escudeiro, o cachorrinho que a segue por aí e a idolatra como se ela fosse uma deusa.

Meu dia tá uma bosta, vou te contar.

- Ashton? – Addie perguntou. Não sabia que ela conhecia esse traste. Hm.

- Addie? – Ashton abriu tanto a boca que um chiclete mastigado caiu no chão.

Não sei por que, mas tenho a impressão de que já aconteceu alguma coisa entre esses dois.

- Vocês se conhecem? – perguntei. A curiosidade foi mais forte do que eu.

- É uma longa história – Addie disse. Estava me coçando por dentro pra pressioná-la a me contar essa “longa história”, mas fiquei quieto.

Tornei meu olhar pra Johanna quando percebi que ela sorriu de um jeito muito esquisito. Deve estar tendo uma de suas idéias malucas.

- Emily, Felicity, acho que esqueci de falar pra Mildred uma coisa sobre minha fantasia – Johan começou. Há, não disse? – Vamos lá comigo? Por favooor?

A safada pretende me deixar aqui sozinho junto com minha ex-namorada, seu bicho de estimação e a Addie. Que beleza.

- Hã, claro. Me dá sua fantasia, Addie, eu tomo conta dela pra você – Licy disse. Ela sempre vai na onda da Johanna, é impressionante. As três sumiram dentro da Madame Malkins em poucos segundos.

- O que vocês dois estão fazendo em Hogsmeade? – perguntei, cruzando os braços e voltando minha atenção para aquele belo casal.

- Não te interessa, Robert – falou Beatrice, afastando uma mecha castanha dos olhos. – E você? Me seguiu até aqui, é isso?

Certo, certo. Me acusar de um perseguidor paranóico em um corredor de Hogwarts de manhãzinha e quando ninguém está olhando é uma coisa. Agora, fazer isso na frente da Addie é outra completamente diferente. Fiquei com raiva dela.

- Claro que não, Beatrice – Rolei os olhos, me preparando pra soltar a bomba. – Na verdade, eu vim aqui com a Addie.

- O QUE? – berrou Ashton. Isso só aumenta minhas suspeitas de algo entre esse bicho e a Addie.

Percebi que ela abriu a boca pra contestar, e comecei a suar frio.

- Só concorda comigo, pelo amor de Merlin. Eu to te implorando, Addie, por favor, por favor – murmurei por entre os dentes no ouvido dela. Nossa, nunca tinha percebido como a Addie tem um cheiro bom de laranja e mel. Hmm.

Ela assentiu de leve, e, subitamente, eu senti uma onda de compaixão imensa em direção a ela. Talvez ela não seja tão ruim quanto eu pensei que fosse.

Não, eu não posso pensar assim!, gritei em pensamento. Eu não posso começar a achar o cabelo dela brilhante, ou os olhos bonitos, ou o sorriso encantador. Eu simplesmente não posso gostar de alguém de novo. Não depois do tanto que eu sofri com aquela menina que agora se encontra parada na minha frente.

E, de qualquer forma, eu gosto dessa vida de solteiro. Posso pegar quantas meninas eu quiser, não tenho que dar satisfações a ninguém e tal. É, é isso, Robert. Se concentra nas garotas gostosas e peitudas.

O problema é que... Eu não me sinto estranho assim desde o Segundo Ano. Acabei abrindo o maior sorriso que eu consegui involuntariamente.

- Com ela? – Beatrice perguntou, e eu voltei a atenção a ela, agradecido por tirar a Addie da minha mente.

- É, com a Addie – respondi, não gostando do jeito que Beatrice a encarava. Coloquei meu braço em volta dos ombros dela. – Por quê? Algum problema?

Eu me senti exatamente como antes, na loja, quando meu braço encaixou direitinho no corpo dela. Merda, acho que minhas bochechas estão esquentando.

- Não, problema nenhum... –Beatrice passou a encarar suas unhas pintadas de vermelho. Esse foi sempre um hábito que eu odiei nela. – Apenas nunca achei que seus padrões pudessem cair tanto.

Senti mais raiva ainda, e nem sei por que.

- Eu não vou admitir que você fale assim da minha namorada, Beatrice. – falei, uma certeza estranha na minha voz. Por favor, Merlin, que esse plano dê certo!, pensei, olhando pro céu.

- Então essa qualquer é sua namorada, não é? – Beatrice disse, colocando toda a frescura existente naquele corpinho magrelo dela em suas palavras.

- Olha só, eu já te avisei – falei, apertando os olhos. – Não admito que você fale assim com a Addie. Ela é uma pessoa muito melhor do que você jamais conseguiria ser, Beatrice. E, com certeza, ela é uma namorada melhor também.

Beatrice começou a bater o pé com força no chão, quase quebrando seu salto. Não sei de onde tirei coragem pra falar assim com ela, mas admito que agora me sinto muito, muito melhor.

Ela andou até mim lentamente, um sorriso maléfico brincando em sua boca.

- Eu sei que você ainda me quer, amorzinho – E então ela roçou seus lábios nos meus, causando um turbilhão de emoções dentro do meu peito. – E você pode me ter... É só largar essa menina feia, e voltar para mim. Hm, o que você acha? Poderíamos nos divertir bastante juntos... – Beatrice aproximou a boca do meu ouvido e sussurrou: – Como nos velhos tempos.

Engoli um seco. Imagens disparavam na minha cabeça, cada uma mais nauseante que a outra. Lembrei de tudo o que passamos juntos, o início do nosso namoro, os beijos, os encontros às escondidas na biblioteca... Parece que mesmo depois de anos eu não me tornei imune ao toque dela.

Beatrice me beijou – um beijo simples, apenas de lábios. Ela se virou e começou a andar na direção de onde tinha vindo.

- Vamos, Ashton. – Beatrice estalou os dedos. Não disse que ele era o totó dela?

Incrivelmente, Ashton não a obedeceu. Assisti chocado enquanto ele encarava a Addie.

- Hm? – Addie fez, franzindo o cenho.

Meu queixo caiu quando o cachorro começou a andar em direção a ela.

- É verdade, Addie? Você está mesmo namorando esse cara? – ele perguntou, com um olhar triste, algo que eu nunca achei que apareceria nos olhos de Ashton Ludmoore.

Addie arregalou os olhos, e sua respiração acelerou. A puxei mais pra perto, achando que as pernas dela subitamente poderiam virar gelatina.

- Eu... Hm, eu... – ela balbuciou. Me meti no meio da conversa, com medo que ela falasse algo que não devia.

- É verdade sim, Ludmoore. Agora, xô. Sua dona está chamando.

Addie me olhou com um olhar indignado. Mas o que eu fiz?

- Vamos, Robert – ela murmurou, me puxando na direção contrária de Beatrice e Ashton.

O que mais eu podia fazer? Apenas a segui, aonde quer que ela estivesse indo.

Addie andava com os olhos fechados, murmurando algo incompreensível. Estou seriamente começando a me preocupar. Ela não parece muito bem.

Com os pensamentos, meu passo ficou mais lento. Nem tinha percebido isso, até que Addie me puxou pelo braço com força, caminhando decidida até um banco perto do Três Vassouras e da Casa dos Gritos.

- O Ludmoore agiu muito estranho perto de você, Addie – comecei, depois de juntar coragem. – O que aconteceu entre vocês?

- Eu já disse, é uma longa história, e eu não gosto de falar sobre isso – Ela suspirou. – Por favor, não faça mais perguntas.

- Ok, foi mal. – Olhei pros meus pés.

- Mas... E você e a Beatrice?

- Vou repetir o que você disse. É uma longa história, e já tá no passado. Prefiro ignorar a existência dela, só isso.

Talvez eu até pudesse ter revelado o meu passado se ela também concordasse em revelar o seu. Mas, como ela não o fez, eu simplesmente fiquei quieto.

Era meio doloroso lembrar de todas aquelas coisas sobre minha, hm, relação com a Beatrice. Sempre que eu sentia que estava começando a pensar nela, eu me forçava a focar em outra coisa, e isso costumava dar certo. O problema é que minha mente se concentrou na pessoa mais perto de mim: Addie.

Nossa, eu nunca havia percebido como ela tem um rosto bonito. Seus olhos cinzentos estão se tornando azulados na luz do sol, e sua boca é tão... desejável.

Pára com isso, Robert!, pensei. Foca em meninas peitudas, meninas peitudas, meninas peitudas...

E então lembrei de uma coisa que fazia quando era menor. Pra tirar pensamentos da cabeça, sabe?

- EU TE ODEIO, BEEAAATRIICEEE! – berrei, levantando e praticamente pulando de tanta agitação.

- Mas o que...? – Addie murmurou, arregalando os olhos.

- Ah, desculpa, Addie – Sorri. – Mas eu não tava aguentando mais. Sabe, às vezes é bom deixar a raiva ir embora. Nossa, eu me sinto infinitamente melhor!

E aquilo era totalmente verdade. Eu me sinto aliviado, como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas, como se eu tivesse emagrecido uns cem quilos – o que é humanamente impossível pra mim, porque se eu perdesse tanto peso, sumiria, mas tudo bem.

- Você tá doido – ela disse, balançando a cabeça. – Completamente doido.

A cara dela estava tão cômica que eu não aguentei e ri.

- Como você é engraçada, Addie – falei, não conseguindo deixar a ironia não aparecer em minha voz. – Mas por que não tenta me imitar? Pode te ajudar com a sua “longa história” com o Ludmoore. Você está com vergonha? Ou será que é medinho mesmo? – Sorri de lado e ergui uma sobrancelha, lançando meu olhar desafiador pra ela.

Não sei por que, mas lá no fundo eu já tinha uma certeza de que ela aceitaria. A Addie não parece uma menina fraca – bem, pelo menos não por dentro. Tenho a impressão de que ela é uma pessoa forte e decidida, só não mostra isso.

De repente, ela pigarreou, levantando também e me empurrando com um olhar malvado pro lado.

- EU TE ODEIO, AAAASHTOOOON! VOCÊ É UM IDIOTA POPULAR QUE É PÉSSIMO EM ESTUDO DOS TROUXAS!

Que Ashton é popular – embora muito menos que eu –, eu já sabia. Mas acho que descobri duas coisas hoje: ele e Addie fazem Estudo dos Trouxas juntos e... ela quase me deixou surdo com seu berro. Ah, é, e eu caí no chão de susto. Uma posição extremamente digna, com minha bunda esfolada no chão.

- Nunca duvide de mim, Robert – Addie falou, sorrindo vingativa. Hm, não disse? Pessoa forte por dentro.

Ela estendeu a mão pra mim. A peguei, agradecido, tentando ignorar como a mão branquela dela pareia tão frágil e bonita ali, junto da minha.

- Ah. Valeu – eu disse. – Você tem umas cordas vocais potentes pra cacete!

Addie ficou quieta, apenas me encarando. Minha boca estava me implorando pra sorrir, e eu simplesmente senti que aquele momento era oportuno demais, bom demais, perfeito demais. Ao mesmo tempo em que o rosto da Addie se contorceu e uma gargalhada escandalosa fugiu de seus lábios, eu a imitei.

Nem sei por que, mas naquela hora tudo sumiu e só havia eu, a menina na minha frente, e o som de nossas risadas.

Passamos bastante tempo ali, recuperando o fôlego. Então, quando nos recuperamos, sentamos juntos no banco.

- Até que você é bem legal, Addie – sussurrei, tirando uma coragem maluca de sabe-se lá onde. Pra disfarçar a minha, hm, timidez, coloquei os braços atrás da cabeça e passei a observar o céu.

- Hm, obrigada, acho – ela disse, em um tom muito mais amigável que antes. – Você também não é tão ruim quanto parece.

Sorri, socando ela de fraco no ombro, como costumava fazer com Johanna. Sinceramente, eu tinha essa certeza distorcida na minha cabeça de que a Addie era uma pessoa sem-graça, impopular, sem amigos e solitária. Achei que ela nunca sorria, nunca brincava e só ficava sozinha no canto dela, lendo livros e tal. E, embora eu odeie admitir estar errado, eu, bem, estou. Porque hoje eu descobri uma garota legal, que não tem medo de me socar de volta e nem vergonha de gargalhar alto na minha frente.

E, por mais estranho que isso soe, eu estou realmente me divertindo com ela.

- Soube que você vai dançar com a vencedora de melhor fantasia na festa de amanhã – Addie disse.

- Ah, é – falei. Tá todo mundo sabendo, que porcaria. – Isso é coisa da doida da Emily. Eu não quero dançar com uma menina qualquer. Tipo, eu nem me importo de dançar com uma garota, principalmente se ela for gostosa, mas, sei lá... Eu meio que me sinto usado, entende?

- Hm – ela fez. – Então eu presumo que, se a vencedora for feia, você vai recusá-la?

- Não, eu não vou recusar a coitada – Balancei minha cabeça negativamente. – Eu vou apenas matar a Emily depois. Já se ela for bonita... Aí é outra história.

Eu não menti, apenas disse o que estava pensando. Afinal, pra mim é muito mais proveitoso se a garota for gostosa, entende? Mas, se ela for feia, eu vou dançar com ela, ser educado, e, em seguida, planejar uma morte bem dolorosa pra Em.

- Beleza é tão importante assim? – perguntou Addie, me encarando.

- Essa é uma pergunta difícil – Ri, mas parei quando percebi que ela estava falando sério. – Hm, beleza é muito importante pra mim. Mas isso é porque eu só fico com as garotas, não quero nada sério. Se eu estivesse atrás de uma namorada, levaria em conta a personalidade dela e muitas outras coisas. Beleza é bastante relevante nesse caso. – Suspirei. – Mas não no meu.

Alguns milésimos de segundo depois eu finalmente me dei conta de que havia falado a maior besteira do mundo, e, que se eu ainda tivesse alguma esperança de sair com ela, teria que me esforçar pra caramba.

- Hm, entendo – disse Addie. – Vamos voltar? Já passou da hora do almoço.

- Tem razão – concordei, percebendo como eu estava com fome. – Talvez a gente ainda consiga achar um pouco de comida na mesa da Grifinória, se tivermos sorte.

- Podemos ir até as cozinhas – ela disse. – Conheço um elfo doméstico e ele sempre cozinha o que eu quero.

- É uma alternativa – Sorri, imaginando um sorvete de creme com calda salgada de amendoim. – Só precisamos pegar minha vassoura na Dedos de Mel antes. O dono da loja tá tomando conta dela pra mim.

- Certo. Mas e a Johanna, a Felicity e a Emily?

- Elas já devem ter ido. Se eu conheço a Licy, ela nunca perde uma refeição – Ri, porque é verdade. Ela come mais que Nate, sério.

Andamos até a Dedos de Mel. Addie ficou esperando do lado de fora, enquanto eu ia lá dentro e pegava a Sunny.

- Aqui está, Robert – disse Oliver, me entregando a vassoura.

- Valeu, Ollie – agradeci. – Ah, e a propósito, o nome dela é Mildred.

- Mildred... – Oliver murmurou, enquanto abria um sorriso safado.

Me despedi e fui até Addie.

- Hm, pode ir voando se quiser – ela falou. – Eu vou a pé, não tem problema.

Em minha mente vieram imagens de várias coisas que poderia espreitar por detrás das árvores no caminho de volta à Hogwarts, como animais raivosos, sonserinos, e, principalmente, homens bêbados que gostam de se aproveitar de pobres meninas indefesas.

- E deixar você andar sozinha por essas ruas obscuras e perigosas? – eu disse, arregalando os olhos. Vi ali uma ótima oportunidade pra fazê-la rir. – Ó, donzela, tens a minha palavra de que vou proteger-te enquanto viver. Nunca a deixarei só, meu coração é teu.

Addie riu. Há, ninguém resiste a essa.

- Tá, não precisava dessa última parte, mas tudo bem. – Ela rolou os olhos, mas não estava zangada. – Tu tens permissão de acompanhar esta frágil e indefesa donzela até o teu castelo, ó, gentil e nobre cavalheiro.

- Se assim desejas, assim será – Fiz uma reverência e nós dois começamos a caminhar juntos em direção ao castelo.
 


 


- Coça a pêra.

- O que? – Ergui uma sobrancelha, olhando pro quadro na nossa frente. O desenho era uma cesta de frutas gigante, com um candelabro esquisito pendurado acima dela e uma mesa de madeira escura com uma toalha branca a sustentando.

- Coça a pêra – Addie repetiu. Eu tinha entendido, não sou surdo. Só não via como coçar uma fruta em um quadro nos ajudaria a entrar nas cozinhas. – Assim.

Ela estendeu o dedo e, por mais besta que isso soe, realmente coçou a pêra. O quadro rodou pra trás, e nós estramos nas cozinhas. Era tudo tão legal. Vários elfos domésticos faziam várias coisas. Alguns mexiam em panelões, outros misturavam ingredientes, outros descascavam batatas, e alguns fritavam comida nas frigideiras.

O cheiro era melhor do que o da cozinha da minha casa. E olha que isso é difícil, porque nossa elfa é uma ótima cozinheira.

- Oi, Manny – Addie disse, se dirigindo a um elfo magrelo que cortava massa em forma de estrelinhas. Ele era praticamente careca, possuía orelhas imensas e olhões amarelados e lacrimejantes. – Tudo bem?

- Addie! – o tal do Manny exclamou. – Você voltou pro Manny! Manny estava com muitas saudades!

Ele correu até ela e a abraçou com força, chorando.

- Calma – Addie disse, um pouco encabulada. – Calma, Manny.

Manny a soltou e assuou o nariz no trapo velho que usava.

- O que vai querer hoje, Addie? – ele perguntou, a olhando com tanta admiração como se ela fosse uma deusa ou sei lá o que.

- Eu quero pizza. De novo – Hm, parece que a alimentação dela é realmente saudável. – E você, Robert?

- Sanduíche de geléia com manteiga de amendoim, por favor – pedi, minha voz abafando um ronco alto do meu estômago.

- Quem é esse, Addie? – Manny sorriu de lado. – Seu namorado?

- NAMORADO?! – gritei.

Addie se engasgou, tossindo igual uma louca. Manny – agora conhecido por mim como o Elfo Maldito – pegou um copo d’água pra ela.

- Esse é o Robert. E não somos namorados. Somos apenas... – Ela corou. – Colegas.

- É, é isso. Colegas – concordei, assentindo freneticamente.

- Hm... – fez o Elfo Maldito, colocando a mão no queixo e nos encarando com desconfiança. – É que a Addie e o menino loiro formariam um belo casal. E Manny teve uma sensação esquisita quando viu os dois juntos. Manny não sabe o porquê, simplesmente acha que vocês vão acabar juntos.

Um fluxo de calor subiu pro meu rosto, se alojando nas minhas bochechas. Xinguei o Elfo Maldito em pensamento. Addie também estava vermelha, mas isso não é novidade vindo dela.

- Deve ter sido só impressão, Addie – Elfo Maldito disse. – Manny pede desculpas se os deixou envergonhados. Agora Manny vai preparar o almoço.

Segui Addie até uma mesa pequenininha no canto do cômodo. O elfo começou a preparar um molho de tomate, provavelmente pra pizza dela.

Depois de alguns segundo em silêncio, uma força sobrenatural tomou conta do meu ser, e eu proferi as seguintes estúpidas palavras:

- Hey, Addie... Quer sair comigo?

- Não. E por que você continua insistindo? – Ela não parecia surpresa. Me amaldiçoei internamente por ter estragado nossa, hm, cumplicidade.

- Não sei. É divertido – falei, porque realmente não sabia o que dizer.

Percebi que Addie passou a me ignorar depois disso.

Elfo Maldito trouxe nosso almoço em pouco tempo. Certo, o elfo é safado, mas que ele sabe fazer um ótimo sanduíche de geléia e manteiga de amendoim, ah!, isso ele sabe.

Caminhamos até a saída quando terminamos de comer.

- Tchau, Manny – Addie disse, acenando de leve pra ele. – Te vejo em breve.

- Promete, Addie?

- Prometo – Ela sorriu, dando tapinhas amigáveis em sua cabeça como se ele fosse um cachorrinho. Estranhamente, aquela cena me lembrou da relação dona-totó de Ashton e Beatrice.

Depois de assegurar Elfo Maldito que ela iria voltar, o amava e mais um monte de blá-blá-blá, escapamos e corremos pro Salão Comunal.

- Criaturinha simpática aquele elfo – comentei, mais pra agradá-la do que qualquer outra coisa, porque aquele elfo não é nada legal. Coloquei as mãos nos bolsos dos meus jeans. O Salão estava vazio.

- É – Addie disse. – O Manny é um bom amigo.

Ela sorriu sem-graça pra mim.

- Hm, posso perguntar uma coisa?

- Fala, Addie – eu disse.

- Por que você disse pro Ashton e pra Beatrice que eu sou sua, hm, namorada? – ela perguntou, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

Merda. Eu sabia que tava demorando pra ela perguntar isso! Então, antes que eu me desse conta ou pudesse as impedir, as palavras escaparam de meus lábios.

- Ah, é. Desculpa por aquilo, mas eu precisava de algum motivo pra tirar a Beatrice do meu pé, sabe? Ela acha que eu continuo apaixonado por ela, vê se pode. – falei. – Aí eu pensei: o que seria melhor do que fingir que a Addie é minha namorada? Você tava perto, a situação era ideal... Então, eu meio que te usei. – Sorri de lado, como em um impulso. – Mas você bem que gostou, hm?

Cara, como eu sou retardado! Estava tudo dando certo, tudo uma beleza, até que eu abro essa minha bocona e falo uma porcaria dessas.

Nesse momento, eu me odeio de verdade.

- Você é um garoto estúpido – disse Addie. E eu concordo com ela. – Quando eu finalmente estava começando a mudar minha opinião a seu respeito, você diz uma besteira dessas. Me usando como se eu fosse um troço sem sentimentos, no que você estava pensando? – Ela fez uma pausa e respirou fundo. – Eu te odeio, Robert.

Senti o impacto de suas palavras. Fiquei mal, não quero que ela me odeie. No canto de seus olhos cinzentos, lágrimas se formaram. Eu me senti a pior pessoa do mundo, o mais idiota, o mais... Ah, o mais tudo-de-ruim. Eu sei que machuquei a Addie, e ela não merecia isso, não merecia mesmo.

Será que dzer “Eu também me odeio e eu sinto muito” ajudaria?

- Addie, eu... – comecei, planejando dizer exatamente o que eu estava pensando.

Addie se virou, andando decidida até as escadas que davam pro dormitório feminino e me ignorando. Mas, de repente, o cachecol verde que ela usava agarrou no prego que segurava um quadro qualquer.

Isso não teria sido nada demais, se o cachecol não tivesse caído no chão e agora eu estivesse encarando com olhos do tamanho de pratos as marcas de chupão roxas em seu pescoço branquelo.



N/A:
Sim, eu sei. Mereço todos os castigos e tipos de tortura existentes, mereço uma daquelas punições medievais, isso sim. Desculpa, gente. Desculpa. Mas o que eu posso dizer? Acho que tive uma crise de bloqueio criativo esses dias. O capítulo 17 não saía de jeito nenhum, e vocês sabem que eu não posto um cap. se não tiver o próximo pronto. Maaas, hoje cá estou eu, indo contra tudo que eu acredito e postando o capítulo 16 sem ao menos ter terminado o 17. Pois é, estou cometendo um crime pessoal ao som de Counting Crows (Big Yellow Taxi!) e às 12:43 da manhã. Enfim, espero que gostem. Eu sei que não tem muita novidade quando o capítulo é narrado pelo Rob porque nada de novo acontece, mas tentem aguentar um pouquinho. No próximo já vão acontecer coisas novas. (: E, antes que eu termine essa n/a, sei que não respondi os comentários, e tenho vergonha por causa disso. :~ Prometo, prometo, prometo que respondo amanhã. Sem falta. Mesmo mesmo. Obrigada a todo mundo por não desistir da fic apesar da falta-de-vergonha-na-cara da autora que demora séculos pra postar! Eu amo vocês (L).

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