Addie.





Capítulo 9; Addie



- Anda, Addie!

Lanceu um olhar zangado pra Johanna, que estava me empurrando porta afora. Licy havia me emprestado sua câmera trouxa, uma daquelas Polaroid antigas, em que a foto sai na hora.

- Como eu vou saber qual é o quarto certo? Existem vários do Sexto Ano! – exclamei.

- Entra em qualquer um, não importa – Licy falou.

- Addie, quanto mais você enrolar, mais vai demorar. Vai lá logo e acaba com isso rápido – Emily disse, retocando o gloss na minha boca.

- Por que você tá me maquiando? Ninguém vai me ver.

- Vai que um menino acorda e é amor à primeira vista, né – Johanna disse, sorrindo.

Elas me obrigaram a colocar uma camisola lilás curta que pertencia à Emily. Com chantagem e olhinhos tristes, Licy, Johan e Em haviam me ganhado, mas mesmo assim eu insisti em vestir um roupão azul-escuro por cima.

- Duvido muito. – falei, rolando os olhos. Ia dizer mais alguma coisa, tentar convencer Emily a mudar a consequência, mas elas me deram um empurrão e eu caí de bunda no chão. – Mas o que... ?

Não pude terminar a frase, porque Licy havia fechado a porta na minha cara, gritando um “Boa sorte!” em seguida.

Suspirei, finalmente aceitando meu destino triste. A única coisa que eu posso fazer agora é rezar e esperar que todos os meninos estejam realmente dormindo.

Desci as escadas com cuidado. O Salão Comunal estava escuro, já que eram duas da manhã, e uma chama fraca estava acesa na lareira. Parei em frente a escada que dá pro dormitório masculino, tentando criar alguma coragem. Quando estava colocando o pé no primeiro degrau, ouvi um barulho.

Olhei pra trás assustada e corri para trás de um dos sofás, me escondendo e prendendo a respiração. Duas pessoas entraram no Salão Comunal, sentando no sofá oposto ao que eu estava escondida. Um menino e uma menina, pude perceber. Apesar da luz escassa, eu conseguia enxergar o contorno deles.

- Aqui não – disse a menina, rindo, quando o garoto começou a enfiar uma mão por baixo de sua camisa. – Aqui não, Robbie.

- Ah, Heather, deixa, vai – ele disse, e eu tive a ligeira impressão de ter ouvido sua voz em algum lugar.

- Não – a tal da Heather falou, empurrando o “Robbie”. – Eu vou te encontrar no seu quarto em meia hora. Me espere, viu, Robbie? Posso te garantir que vai valer a pena...

Eles se beijaram bem na minha frente, com língua e tudo. Senti nojo. Ela soltava uns barulhos estranhos durante o beijo e ele estava com uma mão escondida dentro da saia dela, sabe-se lá em que parte do corpo da garota.

- Não demora. – o menino disse, e então a garota acenou um tchauzinho brega e subiu as escadas que davam pros quartos das meninas, rebolando a bunda grande.

O garoto sorriu, levantou do sofá e passou por mim, subindo para seu quarto. Ele tinha um cheiro familiar, uma mistura de baunilha, suor e lavanda.

Fechei os olhos, contei até quarenta e três e levantei.

Subi devagar, com a câmera segura por uma tira em volta do meu pescoço. Percebi que minhas mãos estavam tremendo, e eu tive que trincar os dentes para impedí-los de tremer também.

A respeito do “Robbie”, eu só podia esperar e torcer para que ele fosse do Sétimo ou Quinto Anos – ele parecia grande demais para ser do Quarto pra baixo. Fora que a Heather vai no quarto dele daqui a pouco. E eles, eu presumo, estiveram juntos até essa hora... Vai saber o que aquele menino estava fazendo com essa qualquer, né.

Estava tão perdida em pensamentos, que nem percebi a porta do dormitório e bati a cara nela. Mordi minha língua pra não falar um palavrão.

- Um. Dois. Três. – contei.

Respirei fundo e entrei.



- Lumus.

A ponta da minha varinha acendeu e, apesar da escuridão do quarto, consegui ver um pouco do que estava na minha frente.

Eu nunca imaginei que um quarto ocupado apenas por garotos poderia ser tão... tão... limpo. Claro, haviam meias jogadas no chão, camisas penduradas junto com as cortinas e um odor, hm, masculino tomava conta do lugar. Mas, fora isso, tudo parecia bem normal.

Segui até a primeira cama, a mais perto da porta. Um menino moreno estava dormindo, uma perna esticada pra fora da colchão. Uma poça de baba estava se formando em seu travesseiro. Ele estava usando apenas um lençol, já que seu cobertor se encontrava embolado no chão.

Ajustei a câmera e tirei uma foto beeem mal-tirada. Mas era uma foto, de qualquer forma. Peguei o papel – leia-se a foto - que saía da câmera fotográfica e guardei no bolso do roupão.

Andei até a próxima cama. O garoto, também moreno, estava tão quieto que eu achei que ele pudesse estar morto. Seu cobertor estava puxado até o pescoço, e ele dormia em uma posição que me lembrava a de uma múmia.

Tirei a foto dele e coloquei no bolso junto com a outra. É verdade, o flash – agregado à câmera com magia, óbvio, já que Polaroids velhas não têm coisas modernas como flash e tal - incomoda um pouco e fiquei com medo dos meninos acordarem, mas o que eu podia fazer? Sem flash, a foto seria apenas um borrão escuro.

A terceira cama estava sendo ocupada por um ruivo. Ele abraçava seu travesseiro com força e roncava alto. Era o único barulho além do som dos meus passos. Quando peguei a câmera novamente, o menino se mexeu na cama, murmurando um “Hmmm...”. Congelei. Então ele virou de lado e voltou a roncar.

Tirei a foto.

Quando cheguei perto da quarta e última cama, tomei um susto. Meu coração começou a bater forte de medo, minhas mãos estavam suando e minhas pernas tremendo.

A cama estava... vazia.

Tentei controlar os batimentos cardíacos. O menino poderia estar na Ala Hospitalar, certo? Ou até no quarto de uma menina. Ou viajando.

- Nox.

Apaguei a varinha, virei rapidamente e caminhei com passos ligeiros até a porta do quarto. Quando estava com a mão na maçaneta, uma outra porta se abriu.

- Aonde pensa que vai?

Olhei pra trás aterrorizada, só pra encontrar a porcaria da porta do banheiro aberta e a silhueta de um garoto contra a luz. Infelizmente estava muito escuro pra ver seu rosto, e o fato de ele encostar a porta do banheiro, deixando apenas um pouquinho de luz iluminando o quarto, não ajudou em nada.

Tenho que admitir, a voz era familiar. Mas, embora eu me esforçasse pra lembrar onde eu já a tinha ouvido, não conseguia.

- Desculpe – sussurrei. O menino começou a vir em minha direção. – Já estou indo, não precisa se preocu...

- Shh – Ele fez, colocando um dedo em meus lábios. – Nem pense em ir embora. Temos um compromisso importante hoje, lembra?

- Hã? – falei. – Desculpe, mas eu tenho mesmo que ir.

- Não, não – ele falou, segurando minha cintura com uma mão e sentindo minha camisola por debaixo do roupão com a outra. – Seda, não é? Meu tipo preferido. Desliza pelo corpo, entende? Muito mais fácil de tirar.

- Mas do que você tá falando? – perguntei, minha voz tremendo um pouco.

- Não dê uma de difícil – ele disse. – Isso só me excita ainda mais...

Então o menino colocou a boca pertinho da minha orelha e sussurrou:

- Eu sei que você também quer, Heather.

Antes que eu tivesse alguma reação, o garoto colou seus lábios no meu pescoço, o beijando com carinho.

... Minhas bochechas explodiram em vermelho.

Tudo fazia sentido agora. Ele devia ser o “Robbie” e achava que eu fosse a tal da Heather. Bem, pelo menos ele não é um pervertido que ataca todos que entram em seu quarto.

Tentei me mexer - sair de lá, empurrar o garoto, qualquer coisa - mas meu corpo não me obedecia. Os beijos dele se tornavam cada vez mais violentos, e suas mãos estavam ocupadas desamarrando meu roupão.

Adeline Finley, sua idiota!, gritei em pensamento. Sai daí agora, o que você tá fazendo? Sai, sai! Agora!

Abri os olhos – que estavam fechados de nervoso -, e balancei a cabeça com força. Empurrei o dito-cujo, que cambaleou um pouco e, antes que pudesse me arrepender de ter feito isso, abri a porta e corri escada abaixo, sem olhar para trás.



Ao chegar ao meu dormitório, enfiei as mãos tremidas no bolso do roupão e bati na porta. Forcei um sorriso torto, pena que até pra mim mesma ele não parecia convincente.

- Senha? – Alguém abriu uma fresta da porta e uma cabeça rosa surgiu.

- Abre essa porcaria logo, Felicity! – exclamei. Ela sorriu, abrindo a porta toda.

- Essa é a senha. – E piscou.

Andei até minha cama e me joguei com força nela. Queria dormir pra ver se conseguia me esquecer do que havia acontecido.

- Ai, meu Merlin! – Johanna exclamou, pulando com força em cima de mim.

- Que foi? – perguntei.

- Meninas, venham aqui!

Emily e Licy chegaram mais perto, com uma expressão intrigada. Johan sentou na beirada da minha cama, finalmente me deixando respirar.

- Fala, mulher! – Em disse, cruzando os braços.

- Vocês ainda não perceberam? – Johanna perguntou, com olhos arregalados. – Olha direito pra Addie, gente!

Elas apertaram os olhos e me analisaram de cima a baixo.

- Caramba! – Felicity exclamou, a boca aberta em surpresa.

- Não! – Em quase gritou, um sorriso pervertido em seu rosto.

- Que foi? – perguntei de novo.

- O seu pescoço! – elas falaram juntas. Franzi o cenho e corri para a penteadeira, examinando meu pescocinho branquelo no espelho enorme.

Haviam marcas lá. Pequenas marquinhas redondas e avermelhadas em toda a extensão do meu pobre pescoço.

- O que... O que é isso? – perguntei, aterrorizada.

- Marcas de chupão – Johanna riu. – Vai dizer que você nunca teve uma?

- Não – sussurrei, corrend o dedo por elas. – Ai, o que eu vou fazer? Não posso ir pra aula assim... Nem pra festa.

- Addie! – Emily exclamou. – A gente não vai na aula amanhã...

- Hoje – Licy corrigiu. – Já são três da madrugada.

- ... Porque vamos escolher a fantasia e tal – Em continuou como se não tivesse sido interrompida. – E sábado... Hm, ah, até lá a gente pensa num jeito.

Suspirei, ajeitando o cabelo de um jeito que cobriria um pouco os tais... chupões.

- Mas, Addie, você ainda não contou pra gente como as conseguiu – Johanna falou, começando a rir de um jeito estranho. Ela, Licy e Em me encurralaram contra uma parede.

- Conta, Addie – Felicity disse, sorrindo inocentemente.

Pensei no assunto. Por um lado, se não contasse não morreria de vergonha. Por outro, me sentiria muito mais aliviada ao contar.

Escolhi a segunda opção. Afinal, elas iam acabar descobrindo a verdade mesmo. Eu ia acabar deixando escapar alguma coisa, tenho certeza, então era melhor esclarecer tudo agora.

- Um dos meninos estava acordado – comecei. – No banheiro. Então ele abriu a porta, chegou perto de mim e beijou meu pescoço.

Felicity, Johanna e Emily me olharam de queixo caído.

- E como você fala isso assim, Addie? – Johan perguntou, indignada. – Como se não fosse nada? É importante, meu Merlin, e eu quero detalhes!

- Concordo – Licy disse. Em balançou afirmativamente a cabeça.

- Certo – Rolei os olhos. – Hm, ok. Eu cheguei no quarto masculino e tirei uma foto de cada menino que estava dormindo. Quando fui até a quarta cama, ela estava vazia. Então me virei pra sair do quarto deles, mas a porta do banheiro abriu e o garoto que faltava saiu de lá, me abraçou, me chamou de Heather, e, bem, deixou essas marcas aí. Eu o empurrei e corri pra cá.

- Hm, entendo – começou Emily. – Você ficou assustada, né? Porque ele estava te beijando, quero dizer.

- É.

- Ainda bem que você não deixou ele ir mais longe. Vai saber o que poderia ter acontecido – Felicity falou, segurando minhas mãos e sorrindo solidária. – Meninos são seres estranhos e pervertidos, não se pode confiar neles.

- Você só fala isso porque tá solteira – Em disse, rindo. Licy pegou meu travesseiro e bateu na cara dela.

- Qual era o nome dele? – Johanna perguntou.

- Sei lá. Mas ele me chamou de Heather, e eu vi os dois se beijando no Salão Comunal – falei. – Deve ser o namorado dela.

- Não, não – Johan balançou a cabeça. – Se você está falando da Heather Miller, bem, essa daí não tem dono, é do povo.

- Como assim “do povo” ? – perguntei, levantando uma sobrancelha.

- Ela fica com qualquer um, desde que ele seja musculoso e popular. Provavelmente o menino que te beijou estava esperando a Heather pra, hm, sei lá, fazer coisas. – Licy revirou os olhos.

- Mas se você não sabe o nome do garoto, não tem como brigar com ele – Emily disse.

- Eu não quero que ninguém brigue com ele – falei. – Tá, ele beijou meu pescoço do nada, mas não é exatamente culpa dele. O menino achava que eu era a Heather, né.

Elas deram de ombros.

- Por falar nisso, cadê as fotos? – Johan perguntou.

- Aqui – Peguei as fotografias e enreguei a elas. Johanna, Felicity e Emily começaram a rir.

- Amei a foto do ruivo! – Licy exclamou, sorrindo. Em seguida sua expressão se fechou e ela suspirou pesadamente. – Pena que tá meio escuro, não consigo ver o rosto dele direito. E, como existem vários dormitórios masculinos do Sexto Ano, eu não tenho como descobrir quem ele é.

- Apaixonou, é, Felicity? – Em disse, com uma expressão engraçada. – Quem é que estava falando que garotos não prestam, hein?

- Ah, cala a boca, Emily.

Eu, Johanna e Emily rimos juntas, olhando pra cara enfezada de Licy. Ela não conseguiu aguentar e acabou rindo com a gente.

- Ok, ok – Licy admitiu. – Talvez eu tenha uma pequena queda por ruivos. Mas é beeem pequena, viu?

- Hm, sei – Johan falou, sorrindo.

- Eu odeio interromper e tal – comecei. – Mas já são três e cinquenta da manhã e, se a gente vai ter um dia cheio, é melhor irmos dormir.

Elas concordaram e foram para suas camas. Apaguei a luz e me virei de lado, fechando os olhos, mas o sono não veio por mais algumas horas.

A cena do menino beijando o coitado do meu pescoço ficava se repetindo em minha mente. Já era horrível ter que esconder aquelas marcas de chupão até elas sumirem, mas a pior coisa era... Bem, era saber que os meus pensamentos estavam trazendo toda aquela sensação boa de volta, fazendo minhas pernas formigarem e meu rosto arder na escuridão da madrugada.




N/A: vou viajar depois de amanhã, na sexta, então resolvi postar logo. (: espero que gostem, finalmente aconteceu alguma ação Addie e o Robert HUASHUHASUH'. eu não pretendo transformar a Heather numa personagem 'meio principal' tipo a Beatrice [que tem um perfil só dela, mó chique (?)'], mas vai saber, né... talvez ela se torne importante. (: acho que vou indo agora. ainda não arrumei minha mala e tenho prova amanhã --' 'Brigada meesmo a todo mundo que comentou e passou na fic :D respondo os comentários depois, mas agora to meio ocupada :\ mas eu não vou esquecer, prometo ;D Beeijo !

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