A volta



- Lily, por favor, se acalme. Harry precisa de nós! - Tiago pedia à esposa, e ela tentou se recompor.


- O que está havendo aqui?


- Harry, por favor, peço-lhe um pouco de paciência. Esta não vai ser uma conversa fácil, e todos devemos estar preparados. - falou o diretor. - Sente-se melhor, Lily? - perguntou-lhe, depois de lhe entregar um lenço e providenciar um copo d‘água.


Ela assentiu e sentou-se ao lado do marido, de frente para o filho. Tiago segurou a mão dela e tentou sorrir, e Harry tentava em vão entender o que se passava.


- Harry... - o diretor deu um longo suspiro. - Você já ouviu falar no nome “Voldemort”?


- Acho que ouvi algo sobre esse tal numa aula de História da Magia, mas sou péssimo nessa matéria... - admitiu, envergonhado.


- Então me deixe refrescar sua memória. Voldemort foi um dos bruxos mais poderosos do século, senão o mais poderoso. Seu auge se deu durante a década de 70, quando ele tinha aliados em todos os lugares, os chamados "Comensais da Morte".


- Eu me lembro de ter lido sobre isso, professor. Mas o que -


- Voldemort era obcecado pela vida eterna, e se esforçou em atingir esse ideal. - continuou, como se não tivesse sido interrompido. - Então, no começo dos anos 80, uma profecia antevendo o fim do reinado de terror dele foi feita, e, assim que Voldemort soube, e nós hoje sabemos que ele só soube de uma parte, tentou matar aquele que poderia derrotá-lo. Esse alguém é você Harry, a única pessoa de que se tem notícia que sobreviveu a um Avada Kedavra, saindo apenas com essa cicatriz peculiar que você tem na testa.


Harry não esboçou reação. Olhou de Dumbledore para os pais, e viu nos olhos deles que era verdade. Mas como podia ser possível? E como conseguiram manter isso por tanto tempo na surdina?


- Essa cicatriz é fruto de um acidente que eu tive quando criança; eu roubei a vassoura do meu pai e caí... - refutou, recusando-se a levar essa história a sério. Lily mordeu os lábios e olhou para o marido, que deu um longo suspiro.


- Filho, nós mentimos pra você. Voldemort te atacou quando você tinha pouco mais de um ano.


- Vocês mentiram pra mim? - perguntou, magoado.


- Eles foram obrigados por mim a não te contar a verdade, Harry. Creio que, do mundo mágico, só quem sabe que você é o Menino-que-Sobreviveu são os integrantes da Ordem da Fênix.


- Ordem do quê? - perguntou, mais confuso.


- A Ordem da Fênix é um grupo de Bruxos que lutou na época em que Voldemort estava no auge, contra a sua ditadura de horror. Seus pais são da Ordem, assim como eu, Sirius, Lupin, Moody, os Longbottom, parte dos Weasley...


- Meus pais são da Ordem? A Ordem não funcionava na época de Voldemort?


- É por isso que estamos tendo esta conversa agora, Harry; A Ordem da Fênix foi restituída, porque Voldemort voltou. Ainda não sabemos como, mas ele voltou, e você sentiu na hora que isso aconteceu.


- Vo-voltou? - não conseguia acompanhar o raciocínio dos mais velhos.


- Voltou, Harry. Pelo que parece, essa cicatriz é uma ligação entre vocês dois. Depois que você passou mal, fui informado por fonte fidedigna que era verdade que ele tinha voltado.


- Mas ele estava morto, não?


- Receio que Voldemort não tem humanidade suficiente para morrer; Horace é um grande estudioso de magia antiga e, nas suas pesquisas, constatou que Voldemort fez uso de um dos mais perigosos rituais mágicos, para assegurar a sua "imortalidade"; dividiu sua alma em precisamente 6 pedaços, além do que ficou em seu corpo. - Harry mal respirava, atento. - Cada pedaço desse se chama Horcrux.


- Eu não estou entendendo onde vocês querem chegar... O que eu tenho com isso?


- Infelizmente, sabemos que a primeira coisa que ele vai fazer é tentar descobrir exatamente o que dizia a profecia, para saber porque não conseguiu te matar.


- E que profecia é essa? Se for do tipo das que eu estudei com a profª. Trelawney, então deve ser uma grande mentira...


- Eu tenho que discordar, Harry. Até porque foi Sybilla quem predisse a profecia, e eu estava lá. Vou lhe mostrar.


Retirou uma penseira de um móvel ao lado da sua mesa. Em seguida, levou a varinha às têmporas e de lá saiu uma substância cinzenta liquefeita para a bacia prateada. Harry e os pais foram levados há cerca de 17 anos atrás, e presenciaram o transe da atual professora de Adivinhação.


- Professor, - Harry começou, depois de terem voltado da lembrança do diretor. - eu posso não ser o "escolhido" da profecia; outros podem ter nascido no fim do último mês, e podem ter desafiado Voldemort, ou -


- Há um detalhe importante; diz a profecia que Voldemort o marcaria como um igual.


- Isso não quer dizer nada! E eu não sou igual a ele!


- É uma metáfora, Harry. Havia outro garoto que podia ser o "escolhido"; também nasceu no fim de julho, e os pais também tinham desafiado Voldemort três vezes, e esse garoto é o seu amigo, Neville Longbottom. - o garoto boquiabriu-se. - Mas, como eu disse, Voldemort escolheu você; escolheu aquele que não era sangue-puro, assim como ele... Ele o marcou.


- Se eu sou o "escolhido", - falou, depois de um longo silêncio se fazer na sala. - então vou ter que matar ou ser morto? É isso?


- Não, meu caro. A magia não é uma ciência exata, e menos exata ainda é a área de predições. São rumos que tem grande tendência de acontecer, entendeu? - Harry fez que não. - Você pode, assim como Voldemort, levar a profecia ao pé-da-letra e, a partir de agora, preparar-se para a guerra... Ou pode perceber que essa metáfora é maior que você; fala de derrotar o mal que Voldemort representa e desperta nos outros. Você não está sozinho, todos estamos unidos, lutando para acabar com isso.


Harry olhou para os pais. A mãe estava mais calma, e Tiago confirmava com a cabeça o que o diretor dizia ao filho.


- Harry, eu já esperava que Voldemort voltasse. Só não sabia quando ia acontecer, mas eu te garanto que estamos preparados! Parte da Ordem está à procura das Horcruxes, e parte dela é sua guarda.


- Guarda? Eu tenho uma guarda?


- Você sempre teve uma guarda, Harry. - Tiago falou. - Desde que nasceu... Mas esta guarda agora foi reforçada, pois além da volta do "Lord das Quantas" - falou com desprezo. -, você foi criminosamente inscrito no Torneio Tribruxo.


Harry não falou nada. Só que pensava era que tudo o que vivera até aquele momento havia sido, se não uma grande mentira, uma deslavada maquiagem. A cicatriz, a profecia, a Ordem da Fênix... Tantas coisas escondidas, com as quais ele convivera sem nem saber...


Lilian observava a luta mental do filho, e pensava, com pesar, que teria dado a vida para que ele não passasse por isso. Por mais preparada que estivesse para a volta de Voldemort, ela não deixava de ser a mãe daquele que seria caçado sem clemência. Para ela, ele não passava de um garoto crescido, parecido demais com o pai quando tinha a mesma idade.


Tiago segurava a mão da esposa, e também se via refletido nos olhos do filho; lembrou-se do dia em que souberam da profecia. Lily estava grávida de seis meses, tinham uma vida relativamente tranquila, e tudo conspirava para que melhorasse. Quando Dumbledore reuniu a ordem e contou o que se passava, sentira como se todo o peso do mundo tivesse caído na sua cabeça, e sabia que era exatamente assim que Harry devia estar se sentindo.


- Sei que foi informação demais para você, Harry, mas quero abusar um pouco mais da sua generosidade em me escutar e lhe pedir um favor. - o garoto apenas olhou para o professor, cansado, esperando o pedido. - Quero que você passe o restante do recesso com seus pais, na sede da Ordem da Fênix. Lá você terá tempo para absorver a nossa conversa, além de os ter à disposição para tirar as dúvidas que sei que surgirão. Não se preocupe com os seus amigos, por ora; direi-lhes que seus pais fizeram questão de levá-lo, para cuidar de você.


- Não se preocupe, Harry. - a mãe se levantou e o abraçou. - Estaremos juntos, e vamos resolver isso, tá? - beijou-lhe a testa.


- Mãe, eu não quero que ninguém saiba disso agora; nem mesmo Liam. - falou, com a voz arrastada.


- Ele vai ficar na escola, certo? Esqueça isso agora, e vamos para a sede. - falou o pai, bagunçando o cabelo do filho.


* * * * * * * * *


Fazia dois dias que tinha chegado ao Largo Grimmauld, 12. Suas coisas chegaram no mesmo dia, e desde então ele se mantinha praticamente o tempo todo trancado no "seu" quarto, pensando na conversa que tivera de "presente" de Natal.


Mal via os pais. A despeito do feriado, eles mal ficavam na casa que o padrinho havia disponibilizado para ser a sede da Ordem da Fênix. Sirius tentara conversar com ele, mas só recebera monossílabos como resposta e desistira, por enquanto.


Harry estava em completo torpor, deitado na cama e olhando a esmo para o teto, lembrando-se da sua infância, de quando não tinha que se preocupar em ser adulto ou responsável, mesmo tendo que enfrentar, sem lembrar-se de nada, aquele que era o bruxo mais poderoso dos últimos tempos. Seus devaneios foram interrompidos por uma batidinha familiar na janela.


- Edwiges! - sobressaltou-se e correu para abrir a janela. Esquecera-se que tinha deixado a coruja em Hogwarts, e espantou-se ao vê-la esticar a pata, para que ele tirasse o pergaminho preso nela.


Harry,


Desculpa ter usado Edwiges sem permissão, mas eu sabia que só ela poderia te encontrar.


Dumbledore disse que seus pais fizeram questão de levá-lo, para cuidar de você, mas que não devíamos nos preocupar.


Impossível, não é, senhor Potter? Para mim, você estava bem até demais, naquela manhã, na ala hospitalar. Esperei que você mandasse ao menos alguma carta, mas então pensei que você poderia realmente ter piorado...


Apesar de ser totalmente contra os meus princípios, tenho que admitir que estou morrendo de saudades. A escola realmente não tem graça nenhuma sem você...


Ah, adorei os brincos que você me deu, são lindos! Desculpa não ter te dado nenhum presente mesmo... Prometo que vou compensá-lo por isso, tá?


Um beijo! (e vê se escreve!)


Gina


"Ruiva, você quer me deixar louco, é?" - gemeu, deitando-se novamente na cama, relendo ininterruptamente a carta, decorando a letra dela, sentindo o cheiro do pergaminho... Fechava os olhos e se transportava para a ala hospitalar, quando a beijara.


- Como pode uma coisa dessas? Minha vida estava começando a engrenar... - suspirou, levantando-se e abriu o malão. Retirou um baú de madeira escura de lá de dentro, e sentou-se na cama novamente.


Abriu a pequena arca, e nela estavam seus maiores tesouros: uma foto do casamento dos pais; seu primeiro pomo; a carta de Hogwarts, chamando-o para estudar lá; outra foto de família, no aniversário de um ano de Ellen, onde Harry segurava a irmã, sorridente, cercado pelos pais, Sirius, Lupin e Liam, este último tentando chamar a atenção do irmão; uma foto no seu primeiro ano em Hogwarts, com Ron, Neville e Mione.


Harry sorriu entre as lágrimas, puxou a última foto do baú; a que tinha ganhado dos irmãos em julho passado, com Gina sorrindo. Passou os dedos pela foto, dobrou cuidadosamente o pergaminho que ela lhe havia mandado, e guardou os dois, lacrando o baú.


- Sinto muito, Foguinho... - falou baixo, acariciou a cabeça de Edwiges e, pela primeira vez em dois dias, saiu do quarto.


* * * * * * * * *


Harry voltou com a sua guarda até Hogsmead, e de lá foi para o castelo, acompanhado por Lupin, um dos muitos professores que também são da Ordem.


- Você está bem, Harry?


- Já estive melhor. - retrucou, seco. Lupin arqueou as sobrancelhas, mas não refutou o que o garoto falara.


- Dumbledore falou com você sobre as aulas extras de DCAT?


- Falou. Só não sei como vão permiti-las, com esse acompanhamento tão exaustivo que estão fazendo com os campeões do Torneio...


- Não se preocupe com isso; Dumbledore vai dar um jeito.


Realmente, não era isso que preocupava Harry. A despeito de tudo o que podia acontecer, o que mais lhe afligia, no momento, era encontrar Gina. Felizmente (ele pensou), ela não estava no Salão Principal quando ele chegou. Então se lembrou de que ela era monitora, assim como Rony e Mione, e tratou de ir correndo para o seu dormitório. Sabia que era infantilidade se esconder assim, mas no dia seguinte, quando acordasse, se preocuparia com isso, pensou, antes de se jogar na sua cama.


Sonhava com um lugar escuro, lúgubre, e acabara de abrir uma porta, dando numa sala circular com muitas portas. Passou pela sala, abriu outra porta e sentiu a adrenalina circulando forte no seu sangue. Estava curioso, e pôs a mão na maçaneta para abrir a terceira porta (a que ele tinha certeza que seria a última), quando sentiu um cheiro bom, de flores, estranhamente familiar. Soltou a maçaneta e foi atrás do cheiro, que começava a inebriá-lo.


- Por que você está fugindo? - escutou um sussurro.


- Não estou fugindo! - respondeu, meio dormindo, meio acordado, abrindo os olhos e vendo o vulto ruivo sentado na sua cama. Pegou os óculos e se sentou de pronto.


- O que houve, Harry? - perguntou, carinhosa. Ele sentiu um peso no coração, mas não podia voltar atrás.


- O que houve? Eu estava dormindo, você não viu? - respondeu, áspero. Ela se assustou, retirando a mão que tinha posto no braço dele, para acordá-lo.


- Por que você está sendo tão estúpido? - começou a se irritar.


- Você ia gostar que alguém fosse te acordar desse jeito? Parecendo uma mortalha?


- Harry, por que você está me tratando desse jeito? - a voz dela saía fraca. - Eu pensei que -


- O seu problema, ruiva, é que você pensa demais! - cortou a fala dela. - Ou pelo menos, pensa na hora errada!


- Qual o seu problema, garoto? - levantou-se, indignada.


- O meu problema são as pessoas que não percebem quando estão sobrando!


- O QUÊ?!


- Coloque uma coisa na sua cabeça, Gina: foi legal e tudo ficar com você, mas não dá, sabe? Foi trabalho demais pra eu ganhar a aposta que fiz com o Malfoy, que ficaria com você! - inventou. Ela estava perigosamente vermelha. - Você é bonitinha, mas não dá! Talvez você devesse voltar pro Dino, ou partir pra outra, porque eu -


PAF! Gina deu uma tapa na cara dele, que caiu na cama, e os óculos caíram no chão. Ela tremia de raiva, e ele não se mexia; sabia que merecera.


- Me faça um favor, Potter... Sei que não vai ser esforço algum... ESQUEÇA QUE EU EXISTO! - saiu do quarto, batendo a porta.


- Espero que um dia você me entenda, Foguinho... - murmurou triste, pegando os cacos dos óculos e consertando-os.


* * * * * * * * *


Sei que esse ficou pequeno, mas se não postasse hoje, talvez só pudesse fazê-lo na segunda. Compenso no 10, tá?


Você já perceberam que eu não gosto de tudo muito bem não, né? Pois é, tava tudo muito fofo... Mas não se preocupem!


Bjos a todos, obrigada pelos comments, e vem chumbo grosso por aí! =D

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