Adalberto Groski



- HARRY! HARRY PARE! – a voz de Hermione chegou aos seus ouvidos de um modo muito difuso, será que ela não tinha mesmo noção de como ele se sentia?


Ela o ergueu rapidamente e ele ficou de joelhos na terra úmida. Harry estava coberto até os cabelos por uma mistura de suor, terra, sangue e lágrimas.


- SERÁ QUE VOCÊ NÃO ENTENDE QUE ISSO NÃO VAI ADIANTAR NADA? – ela sacudia os ombros de Harry, o que fazia boa parte daquela mistura espirrar nela mesma.


- QUEM NÃO ENTENDE É VOCÊ, HRMIONE! – ele tentou se controlar, mas sua voz saiu bastante demente, insana – FOI VOCÊ QUE SOFREU TUDO AQUILO QUE EU SOFRI DA ÚLTIMA VEZ! NÃO FOI VOCÊ QUE TEVE QUE MORRER E VER TODOS OS SEUS AMIGOS MORREREM DIANTE DOS SEUS OLHOS SEM VOCÊ PODER FAZER NADA PARA EVITAR AS SUAS MORTES!


- Você está enganado – ela estava mais calma – você o derrotou. Impediu que ele matasse...


- MAS ISSO NÃO OS TROUXE DE VOLTA! ELES ESTÃO MORTOS E ENTERRADOS E VER VÁRIOS FUNERAIS SEGUIDOS UMA VEZ NA VIDA JÁ É SUFICIENTE!


 


CAPÍTULO 2 – ADALBERTO GROSKI


 


 


- Mas Harry, na verdade você não vai precisar ver isso de novo – essa era uma boa hora para Hermione levar um tapa na cara – Nós nem sabemos por que estamos aqui afinal!


Harry permaneceu calado, talvez porque não houvesse o que discutir.


- Vamos, vamos descansar e pensar um pouco depois.


- NÃO! EU QUERO RESOLVER ISSO AGORA! QUERO VOLTAR AGORA! EU NÃO QUERO MAIS FICAR AQUI! – Harry lembrava mais Duda com quatro anos de idade – NÃO QUERO DEMO...


Harry foi interrompido por um tapa de Hermione.


- SE VOCÊ FICAR PARADO AÍ NUNCA NÓS VAMOS VOLTAR! – Hermione o sacudiu mais uma vez enquanto Rony, que assistira à cena em silêncio, ajudava Harry a se levantar.


Os três caminharam de volta para perto de onde o sofá “aterrissara”, pois transmitia certa segurança naquela atmosfera sinistra que voltara a imperar de uma hora para a outra.


Era estranho como tudo dava a sensação de dèjavú. Seja a barraca ou Hermione andando em círculos conjurando feitiços de proteção ao redor deles. Seja pelos colchões finos, pelas poucas cobertas ou pelo cheiro de gatos.


A última lembrança de Harry foi sua cabeça afundando no travesseiro após o banho.


- Bom dia, cara – disse Rony ao acordar Harry no dia seguinte. Ele quis ver que horas eram, mas verificou que o relógio que ganhara da Sra. Weasley havia parado. “Muito apropriado”, pensou – o café está pronto?


- Café? – sua voz saiu rouca, talvez de tanto gritar.


- Eu guardei alguns enlatados na bolsa da última vez que eu limpei ela – Hermione apareceu carregando uma bandeja – Ia deixar no armário de casa como um kit de emergência para o caso de incêndios, inundações e coisas do tipo.


- Brilhante.


- Obrigada – ela sorriu, parecia ter esquecido o que aconteceu na noite anterior – mas agora você precisa comer – ela colocou a bandeja no colo de Harry, ainda um pouco trêmula – Rony, ajude ele a comer que eu vou lá fora reforçar os feitiços de proteção. Sempre achei uma besteira essa história de “Feitiço ao anoitecer, desfaz ao amanhecer.”, mas na atual conjuntura...


Harry esperou ela sair da barraca para perguntar o que queria a Rony.


- E aí?


- E aí o quê?


- Vocês andaram pensando nisso ontem a noite? Quer dizer, vocês já têm um plano?


- Plano? Acho que não. Mas acho que seria bom comprar um presente para o pai dela quando eu for à casa dele, você poderia me ajudar...


- Seu idiota! Não é sobre isso que eu estou falando! – reclamou Harry – Vocês já têm alguma idéia de como a gente vai voltar?


- Acho que não, bom, pelo menos ela não me contou nada – ele suspirou – nós fomos dormir logo depois de você na verdade. Ela chorou por umas duas horas e eu não consegui dormir muito bem. Aliás, eu não dormi nada.


- Talvez ela explique agora, ontem ela parecia tão certa do que estava fazendo, como se soubesse o que aquilo ia acontecer... você não está pensando o mesmo que eu...


Não precisou de resposta, quando Hermione entrou na barraca Rony levantou depressa e apontou a varinha para o peito da noiva.


- ONDE FOI O NOSSO PRIMEIRO BEIJO?


- Na sala Precisa e...e Harry estava junto – ela respondeu.


- Não vai me testar? – Rony perguntou.


- Não – ela sentou numa das poltronas – sua falta de percepção é inconfundível.


- Desculpe – Rony baixou a cabeça – na verdade, por um momento eu pensei... quer dizer, ontem você parecia ter previsto aquilo.


- Claro – Hermione sorriu – não se esqueça que eu já tive um vira-tempo.


Rony fez cara de quem se esquece de algo familiar.


- E existe algum tipo de manual para se usar um vira-tempo? – perguntou Harry, terminando seus figos em calda.


- É claro que existe!  Mexer com o tempo não é uma coisa assim tão simples! – ela abriu a bolsinha de contas e convocou um livreto usando a varinha. Ele deveria ter mais ou menos umas cem páginas encadernadas em couro marrom desbotado. Aos olhos comuns seria um caderno de um aluno desleixado – a Profª. Minerva me deu junto com o vira-tempo no terceiro ano, e por um acaso do destino esqueci-me de devolvê-lo junto com o colar. Ainda bem – ela acrescentou, pondo o livro na mesinha de centro.


Harry deu uma olhada no título:


 


“OS SEGREDOS DO TEMPO – POR ADALBERTO GROSKI”


 


- Adalberto é o inventor do vira-tempo – explicou Hermione, ao notar o olhar de Harry.


- Espero que ele saiba o que deve ser feito – Rony pensou alto.


- Na verdade eu nunca cheguei a ler esse livro, mas basicamente contém regras e instruções sobre como proceder no caso de acidentes. Talvez ele tenha as informações de que a gente precisa. Pelo que eu sei, Adalberto sofreu um acidente desse tipo ao testar a sua invenção, e se empenhou em aperfeiçoá-la. Quando ele finalmente voltou para sua época, demorou trinta anos para publicar esse manual, pois muitos achavam que ele era louco. Então ele decidiu fabricar seus vira-tempos para convencer os editores de que era um negócio lucrativo, mas teve sua produção confiscada pelo Departamento de Mistérios, que temia que a invenção caísse em mãos erradas. Por fim, Dumbledore conseguiu um para fins acadêmicos, que acabou sendo emprestado a mim.


- Isso explica muita coisa – admirou-se Rony – imagino se você tivesse lido o livro.


- Com toda certeza – concordou Harry.


- Então – Hermione abriu o livro – Acho melhor começarmos com “Algumas regras básicas”, página 3 – Hermione localizou a página e começou a ler:


“Olá meu amigo, presumo que você já tenha lido a minha biografia contida no prefácio desta obra. Então, você já me conhece e podemos iniciar a nossa conversa.


Os motivos que o levaram a alterar a ‘essência do tempo’, como gosto de me referir ao equilíbrio cronológico das coisas,não me interessa, porém, tenho a certeza de que você está no mínimo arrependido.


E isso já é de grande valia, pois assim você não vai sair fazendo qualquer besteira!


Antes de qualquer coisa, é muito importante que você tome ciência da gravidade da situação, e também mantenha a calma. Seja como for, o simples fato de você ter feito essa viagem já pode acarretar terríveis conseqüências. Por isso, procure o local mais remoto que você conhecer, onde os efeitos da sua presença serão os menores possíveis.


Agradeça aos céus por estar vivo!


Esses processos costumam envolver uma magia muito concentrada, que pode causar danos sérios e irreversíveis a bruxos que têm pouco controle dos próprios poderes. Também é de grande valia que você saiba que existem dois tipos de acidentes envolvendo essas viagens:


a)    O indivíduo foi e agora não consegue voltar;


b)    O indivíduo cometeu um erro e se perdeu no meio do caminho


- Espere – disse Rony – o que ele quer dizer com “se perdeu no meio do caminho”?


- Ele quer dizer – Hermione ergueu os olhos do livro – que algum erro aconteceu durante a viagem, ou seja, a sua “máquina do tempo” ou seja lá o que for não funcionou corretamente e ele não foi parar aonde queria.


- Entendi, desculpe – mas Hermione já havia retomado a leitura:


Se o seu caso é semelhante à alternativa a, parabéns! Você tem mesmo muita sorte! Seu caso é de simples resolução!


Mas lembre-se que ‘simples’ não é sinônimo de ‘rápido’.


Já se for o caso b, é melhor ter um pouco de paciência.


Agora você deve estar se perguntando: ‘ o que acontece se o meu caso for semelhante ao b?’


A resposta é bastante óbvia, e creio que delongas não irão suavizar o seu peso:


A SUA EXISTÊNCIA FOI QUEBRADA.


‘Como assim?’


Não, você não morreu. Você deixou de existir.


- COMO ASSIM? – Rony estava desesperado.


- Calma Rony – pediu Hermione – o nosso não é o caso B – ela não desgrudou os olhos do livro.


- Como você tem tanta certeza disso?


- Se você me deixar terminar de ler...


E se você está se perguntando:


‘Por que eu ando, penso etc., etc., etc.’


É bom que você entenda: esse é o ponto mais importante de tudo.


No seu caso, ocorreu o que eu chamo de ‘colapso de energia mágica’, ou seja, houve um erro de cálculo e você usou energia demais durante o processo. Toda essa energia voltou-se contra você, criando uma espécie de bolsão que protegeu o seu corpo de ser esmigalhado numa outra dimensão.


Como você rompeu com o tempo, a ordem cronológica já não importa para você, e todos os efeitos do tempo sobre você, como envelhecimento e metabolismo já não importam mais.


É confuso, eu sei. Mas você não está sozinho.


Isso aconteceu com outras pessoas, algumas dezenas delas. Elas procuram viver em locais isolados, como disse antes, e passam o tempo tentando encontrar uma forma de consertar o seu erro.


Durante a minha estadia no ‘tempo’, encontrei uma dessas pessoas, e ela foi de grande ajuda.


E isso nos leva ao caso a.


Se o seu caso é semelhante ao a, tudo que você tem a fazer é procurar um desses ‘professores’, que ele irá ajudá-lo.


Para ajudá-lo, eu preparei uma lista com a localização de alguns professores ao fim deste livro, mas cuide para que ela não caia em mãos erradas.”


 


- Alguém entendeu alguma coisa? – perguntou Harry, após alguns instantes de silêncio. Agora entendia por que Adalberto havia sido taxado de louco.


- Gente, isso é apenas incomum, não incompreensível! – Hermione parecia indignada com a incapacidade dos dois.


- Explique então se você entendeu! – reclamou Rony.


- É assim – ela suspirou – digamos que eu tenha viajado no tempo em 2000...


- E como se faz isso afinal? – perguntou Rony.


- Por uma junção bastante sortuda de feitiços de progressão ou regressão às vezes combinados com aparatação. E é nesse último caso que surge a margem de erro. E não me olhem com essas caras! Eu prestei atenção à aula do Prof. Bins! – ela acrescentou ao ver o espanto dos rapazes – mas, é claro, isso é puramente teórico – ela retomou o tom de palestrante – pelo menos era.


- Então, digamos que você tenha viajado no tempo – retomou Harry.


- Então, ocorreu um erro durante o processo – continuou Hermione – e a minha existência até o ano de 2000 foi apagada (ou não). A partir daí, eu começo a viver como que numa dimensão paralela, porém separada do conjunto normal de passado – presente – futuro onde você e Harry continuaram vivendo como se nunca tivessem me conhecido (ou não), o que é bastante grave de qualquer forma.


- E por estar separada do conjunto cronológico normal – continuou Harry – você deixa de envelhecer e de ter sono ou comer, ou seja, o tempo não exerce mais influência na sua vida.


- Exatamente – concordou Hermione – mas eu continuo vivendo aqui neste planeta, e os anos continuam passando por mim como se eu estivesse dentro de um barril flutuando em mar aberto.


- Então, digamos – continuou Rony – se isso aconteceu com você enquanto você queria voltar para 1997, digamos, você volta para 1997 e perde todos os meios para voltar para o ano 2000? Ou fica em algum lugar no “meio do caminho”?


- Não tenho certeza, mas acho que sim, devo voltar para 1997 – Hermione abriu novamente o livro – acho que é mais ou menos esse o ponto onde o tempo deixa de influenciar você.


- E quanto ao fato de encontrar um professor? – perguntou Harry.


- Tempo é diferente de espaço, Harry – repetiu Hermione – mas acho que a uma pessoa que viajou no tempo a 300 anos atrás pode buscar auxilio com o mesmo professor que nós, mesmo que esse professor tivesse feito sua viagem 200 anos depois dela.


- Por isso é tão difícil determinar o ponto onde o tempo deixa de influenciar você.


- Exato – Hermione procurava um nome na lista no fim do livro – bem, entender a situação não é o nosso problema. Devemos procurar o tal professor...


- Mas ele disse que existem vários! – lembrou Rony.


- Sim, mas acho melhor irmos consultar um que Adalberto conheceu. O que ajudou ele a voltar, talvez ele saiba nos ajudar, visto que o nosso caso não é nem A, nem B.


- E onde ele está? – perguntou Harry.


- Aqui diz – suspirou Hermione – que ele mora no norte do Alasca.“Fazer o que”? Pensou Harry. Seguir as instruções de alguém já morto e que havia sido chamado de louco por meio mundo era a única opção que tinha, embora fosse muito estranha.



 
*********
 N/A:
Eu sei que este capítulo para quem lê pela primeira vez surge como algo extramente confuso, sem lógica/nexo, etc.
Mas peço que tenham só um pouco de paciência com a história, já que as coisas são reveladas em doses homeopáticas daqui em diante.
Torno a dizer,  estou aberto à dúvidas e sugestões que podem ser mandadas por e-mail e até pelo twitter. Também respeito as opiniões dos meus leitores, crio tramas complexas pois sempre gostei desse tipo de literatura, prossigam na leitura se acharem justo .
Este projeto me demandou quase dois anos, e me preocupo bastante com a sua qualidade.
Espero que estejam gostando!

Um abraço,
AUGUSTO.
 

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Comentários (1)

  • Luh Broekhart

    E eu pensando que ia ter a minha curiosidade saciada, ao menos parcialmente. Doce engano... Mas enfim, sobre o capítulo: não achei tão confuso não :S Quando tu disse que as pessoas desistiam da sua fic nele achei que tu matasse um dos personagens ou algo assim. Tava pronta para um capítulo bem dramático, mas nem era isso. Que decepção Nemo... tsk, tsk... Certo, vou parar de devanear aqui. Beijos ;**

    2011-04-24
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