Exílio



Resumo do cap. anterior – Rony e Hermione enfrentam orcs e gobelins, que guerreiam pela posse do cristal que fará surgir a ponte sobre o abismo de Nephasta. Atacados pela serpente das sombras, Hermione percebe que um grupo de resgaste chegou. Nele, está Dumbledore. O diretor de Hogwarts vence a serpente e parte em busca de Harry. Na arena da cidade, Harry se segura numa rocha para não cair nas águas escuras do rio Flama. Voldemort convoca o espírito maligno e atira seu oponente no leito. Mas Rony, montado numa vassoura, consegue pegar o amigo no ar. Eles tentam escapar, porém são atingidos pelo balrog que se escondia nas sombras. Gina salva os rapazes e é perseguida pelo demônio. Harry voa atrás da garota. Quando ambos se encontram, ela revela mais uma vez suas habilidades, mas Harry é obrigado a partir porque ouve o grito de sua tia. Enquanto isso, Dumbledore, que havia sido ferido por Voldemort, luta por sua vida e prepara uma poção para se livrar do veneno utilizado pelo senhor das trevas para liquidá-lo. O velho amigo McKinley o ajuda e depois socorre Rony e Gina. Os três aprisionam o balrog numa armadilha de gelo e, em seguida, saem para auxiliar Harry. Com o primo ameaçado de morrer, o rapaz atende o apelo da tia e decide se entregar para Voldemort, abrindo mão de sua varinha. Harry é arrastado à força para o rio e percebe que seu inimigo teme o espírito das águas. Para aumentar-lhe a insegurança, o jovem amaldiçoa Voldemort. Nesse momento, Harry começa a se transformar. O lorde das trevas tira a vida de Duda. O rapaz atinge o máximo de sua fúria e reage mesmo sem ter a varinha, destruindo o chão sob os pés de Voldemort. O bruxo cai nas águas e é engolido pelo espírito do rio Flama. Belatrix corre até seu mestre. Harry lança a maldição cruciatus sobre a Comensal e anuncia que chegou a hora da vingança. Dumbledore surge e lhe diz que ele não é igual a Voldemort.






Harry mantinha os olhos fixos sobre Belatrix. A Comensal continha os gritos o máximo que podia. Não estava disposta a dar essa satisfação ao rapaz. Ainda mais ela, o braço direito do Lorde das Trevas. Mas seus gemidos e a expressão de dor nas pupilas dilatadas demonstravam claramente o sofrimento atroz que a atingia.

Com o cenho franzido, Dumbledore se aproximou com dificuldade. Usava um cajado para forçar a penosa caminhada. Mas esse sacrifício escapava ao rapaz.

- Professor, nada que o senhor me diga vai alterar minha decisão. Belatrix vai pagar agora pelo que fez – vociferou.

- Todo homem tem direito a um julgamento.

- Belatrix já teve o dela. Ela já foi condenada. E tenho certeza que se os dementadores ainda estivessem do nosso lado, esta maldita seria condenada a um beijinho daqueles sugadores de alma – respondeu Harry, que de tão nervoso fez com que o corpo de sua inimiga se contorcesse em espasmos cada vez mais dolorosos.

Gina conseguira ouvir somente as últimas frases. Montados na mesma vassoura, ela e Rony tinham visto à distância o momento em que Voldemort submergira nas águas negras. O ar vibrara e uma onda de energia varrera a arena, mas parecia que apenas os irmãos Weasley haviam sentido isso. Sem fazer ruído, a dupla se aproximara do rio. Tinham pousado ao lado de McKinley, que também voara em silêncio e exibia uma expressão preocupada diante do quadro: Harry e Dumbledore de frente um para o outro e Belatrix com o corpo retorcido pela tortura. Os dedos tensos do professor apertavam a varinha e seu maxilar estava duro. Gina olhou para Rony. O rapaz desconhecia a segunda profecia de Cassandra, porém uma ruga funda se formou na testa. Num murmúrio, trouxe à tona a angústia da irmã. “O Harry está muito diferente”.

- Estamos no meio de uma guerra, Harry, mas esqueça as maldições imperdoáveis – aconselhou Dumbledore. - Elas não fazem bem...

- Tem algo mais a dizer, professor? – cortou, erguendo Belatrix no ar, ainda sob efeito da maldição Cruciatus. - Porque eu tenho coisas pra fazer.

- Meu caro, se insistir nessa idéia, terei de agir – respondeu Dumbledore, serenamente, mas apontando sua varinha para o ex-aluno. – Ponha um fim a essa magia!

Os olhos de Harry se acenderam. Seu queixo tremeu de ira. Uma onda de frio invadiu o espaço.

- Está contra mim, Dumbledore?

- Professor Dumbledore! É professor Dumbledore! Já esqueceu da educação, é?! – gritou Gina, transtornada e com a varinha estendida na direção do jovem bruxo.

Para Harry, foi um choque ver Gina se indispondo contra ele. E de modo tão ameaçador. Mas a garota não ficou só no discurso. Bradou Expelliarmus e a varinha que estava na mão do rapaz voou longe. A cor fugira totalmente do rosto dela. Seus lábios estavam brancos e gelados. Harry não se mexeu. Sentiu o peito se agitar entre a fúria e a angústia. “Você, não”, pensou, engolindo a saliva com dificuldade. Mas o breve momento de tristeza foi interrompido. Belatrix caiu no chão sem condições de levantar o corpo. Gemia e um fio de baba escorria de sua boca. A face estava vermelha e molhada de suor. McKinley fez menção de atendê-la, porém Harry se antecipou, rilhando os dentes.

- Não toque nela! Ela merece tudo o que recebeu. Prestem atenção! Vamos sair daqui, mas o destino de Belatrix ainda está nas minhas mãos. Eu a capturei! Eu acabei com Voldemort! – disse com as sobrancelhas franzidas.

Abaixou-se para pegar a varinha que pertencera ao seu adversário. Mal tocou nela, o espírito maligno se inflamou, ganhou altura e espalhou fogo por todo seu leito negro. A voz da criatura reverberou pela arena. Mas o rapaz não compreendia o que dizia.

– O que é isso?

Os bruxos relancearam um olhar ao redor e viram o que as labaredas revelavam. Os orcs e gobelins que restaram tentavam saltar, montados nos bewolfes, sobre a larga fenda aberta na arena, a que Voldemort cobrira com a magia do cristal. As chamas incendiaram as criaturas que estavam muito perto da margem do rio. Os gritos de dor fizeram Gina estremecer mais uma vez. Harry estava muito perto do Flama.

- Alguém aqui pode me explicar o que ele está dizendo? – insistiu.

Dumbledore e McKinley se entreolharam, em dúvida. Isso irritou o jovem ainda mais. Berrou Incarcerous e lançou um jato sobre Belatrix. Depois de prender as mãos e o tronco da bruxa, a corda conjurada por ele se enrolou no pescoço da mulher e a ponta se jogou na mão de Harry. O rapaz a puxou com força para obrigá-la a se mexer e murmurou com ironia.

– Você consegue traduzir... Bela? Não era assim que seu mestre te chamava?!

- Maldito seja, Potter! – cuspiu a Comensal, acertando o rosto do jovem.

Os olhos de Harry se tornaram negros. Mas McKinley se colocou entre os dois, pegando a corda em suas mãos.

- O espírito do rio Flama fala na língua élfica. Ele está te oferecendo o poder de Voldemort. Você não precisa responder para recusar. Vamos!

- “Não deixe que esses idiotas decidam por você”.

Harry virou-se rapidamente em direção à criatura sem rosto. Desta vez, tinha entendido perfeitamente.

- Você conhece a minha língua...

- “Falo todas as línguas. Falo para quem queira me ouvir. Falo para você, Harry Potter.”

- Não responda para ele, Harry. O espírito maligno é ardiloso – alertou Dumbledore, num fio de voz. Sua vista começava a escurecer.

- “Fui despertado com um pedido e recebi o tributo. É a vez de entregar o que me solicitaram. O poder do inimigo!”

- Acha que eu quero o poder de Voldemort?

- Não se atreva! Você não está à altura do milorde! – berrou Belatrix, sacudindo o corpo para se livrar das amarras.

- Vamos embora agora. O chão está começando a tremer – observou Rony, convocando as vassouras que faltavam. E balbuciou para Gina – Continuo sem entender nada dessa língua élfica. Inferno!

- Seu milorde já virou cinza, Belatrix. E a menos que se cale esse também será o seu destino – disse Harry.

- Nunca o poder de Lorde Voldemort será seu! – respondeu, com os olhos chispando.

- “Basta que você diga sim e ele será seu!”

- Entendeu, sua estúpida! Eu só tenho de dizer...

- Por Merlin, cale-se! Não se deu conta de que o espírito arrumou um meio de se fazer compreender por você, Harry? Ele continua falando élfico, mas o demônio já achou uma maneira de te atingir – interrompeu Dumbledore, sentindo que as pernas não sustentavam mais seu peso. Colocou a mão no peito. – O veneno ainda faz efeito.

O diretor de Hogwarts foi ao chão mais uma vez. Estava fraquejando na hora mais importante de sua vida. Gina tentou correr até ele, porém algo a aprisionou no mesmo instante. Era algo que queimava sua pele e ela não pode evitar um gemido de asco. Os bruxos estavam tão concentrados no espírito maligno que não perceberam a aproximação de uma serpente das sombras. Sobre ela, estava um Comensal encapuzado, armado com sua varinha. A serpente arremessara sua língua comprida e viscosa e abocanhou a garota com tanta rapidez que ninguém pode fazer nada.

- Gina – berrou Rony, com o sangue gelando em suas veias.

No mesmo instante, outra surgiu. E sobre ela estava Lúcio Malfoy, acompanhado de Zarkis, o líder dos orcs. Uma onda de ar gelado ergueu as capas dos bruxos. O olhar de Harry, varinha apontada para a primeira serpente, cortava como se fosse uma fria lâmina.

- Não arrisque a vida da mocinha. Ela ainda está viva, presa entre os dentes da serpente. Um movimento a mais e nossa amiga quebra o pescocinho dela.

O bruxo abaixou a varinha. De onde estava, Malfoy viu o contorno do corpo de Harry recortado contra a luz das labaredas vindas do rio Flama. Atrás dele, o espírito maligno mergulhou em suas chamas, como se estivesse se divertindo com o novo confronto que se desenhava. Pouco antes de desaparecer, o ser sem rosto avisou que aguardava pelo pedido. Malfoy compreendia a língua élfica. “O poder de Lorde Voldemort!”, pensou, suando gelado.

- Potter, vamos fazer um acordo! Largue a varinha do milorde no chão, afaste-se do rio, deixe Belatrix livre e nós devolvemos a garota!

- Muito conveniente para você, não é, Malfoy?! A varinha vai ficar tão perto das suas mãos... – falou com uma expressão cínica.

- Não seja maldoso. Sou eu quem acaba cuidando de tudo mesmo. Até arrumar transporte – ironizou, lançando um olhar furibundo para o outro Comensal. - Por que, então, não cuidaria da varinha de meu mestre? Lovett, diga-nos como está essa sua serpente. Imagino que esteja faminta.

- Sim, ela está – rosnou o Comensal, queimando por dentro por causa do sarcasmo de seu companheiro.

- Lamentável! A jovem Weasley mal daria para saciar tamanha fome. Bem, em todo o caso, o nobre Potter não deixaria uma amiga ter uma morte tão terrível. Os dentes destes animais despedaçam um carvalho sem o menor esforço. Que se dirá de um corpo tão frágil e pequeno... – sorriu maldosamente Malfoy.

Imediatamente, Harry apontou a varinha para Belatrix. Por um segundo, McKinley prendeu a respiração. Arregalou os olhos. Mas o rapaz apenas soltou a Comensal. O semblante do rapaz era de puro ódio. Em seguida, Harry olhou para Malfoy, desafiador.

- Se quer a varinha, desça e solte a Gina – disse, começando a se afastar da margem, sendo acompanhado por McKinley e Dumbledore, que foi amparado por Rony.

As duas serpentes pousaram assim que o grupo se deslocou alguns metros. Malfoy e Zarkis saltaram e ajudaram Belatrix a se recompor. Ela esfregava o pescoço, coberto de marcas vermelhas.

- Suba na serpente de Lovett, Bela.

- Não. Eu vou pegar a varinha do milorde.

- Suba na serpente! Você está fraca! Eu recupero a varinha.

Belatrix assentiu. Dirigiu-se até a serpente onde estava Lovett. O Comensal fez uma careta. Numa voz sussurrante, perguntou se ela confiava em Malfoy. E a bruxa respondeu num muxoxo. “Sim. Ele é meu primo”. Belatrix não tinha idéia do que estava para acontecer.

- A varinha, Harry – ordenou Malfoy, aproximando-se do rio.

O rapaz deixou escapar um riso sarcástico.

- Você a quer mesmo? Quer também o poder de Voldemort?

- O poder do lorde das trevas cabe à gente dele, não a você, fedelho!

- Você se tornaria muito poderoso, não é, Malfoy? Poderia mandar no mundo. Dominaria quem quisesse. Bastaria pegar esta varinha e invocar para você o “prêmio”. O espírito do rio Flama só está esperando pelo pedido. Não é assim? – comentou soturnamente.

- O que ele está fazendo? – perguntou baixinho Rony a Dumbledore.

- Está atiçando a cobiça de Malfoy. E de Zarkis. E o orc está...

- Babando, professor! É isso que está acontecendo – respondeu.

Harry estufou o peito, aprumou a coluna.

- Muito bem. Eu entrego a varinha. Mas queremos a Gina. Já!

Malfoy fez um sinal para Lovett. O Comensal balbuciou algumas palavras para a serpente, que expeliu Gina com violência. A garota caiu perto de McKinley, com as vestes esbranquiçadas e úmidas e um ar de horror. O professor verteu água da varinha para reanimá-la. Harry olhou rapidamente para ela, mas não lhe disse nada. Voltou o rosto para Malfoy e exibiu um sorriso enigmático. Arremessou a varinha de Voldemort como se fosse uma lança e ela se fincou na terra. Sobre o objeto mágico pulou Zarkis. O orc tentou arrancá-lo e Malfoy jogou um feitiço para afastá-lo.

- Seu animal estúpido. Não ouse tocar com seus dedos imundos a varinha que pertenceu ao meu mestre!

O espírito do rio se ergueu pela terceira vez. Soltou uma gargalhada grave, sendo acompanhado por Harry. McKinley franziu o cenho.

- Não ria. Pode ser muito perigoso se um deles invocar o poder de Voldemort!

- Não se preocupe, McKinley. Eu sei o que fazer – respondeu o jovem de modo soturno, assistindo Malfoy e Zarkis lutando pela posse da varinha.

Belatrix gritou para que o orc se afastasse. Mas ele não estava disposto a obedecê-la. Malfoy conseguiu puxar a varinha de Voldemort e a usou para estuporar Zarkis. Mas a criatura estava tão sedenta pelo poder que não cedeu à magia. Puxou o machado que estava em sua cintura e com apenas um golpe atingiu mortalmente o bruxo, pego de surpresa pela resistência do orc.

- Isso é por você me chamar de animal! – urrou Zarkis, que tomou a varinha das mãos inertes de Malfoy. – E isto é meu agora.

Os orcs que restavam e estavam escondidos nas sombras soltaram gritos de triunfo. Porém eles não duraram muito. Harry convocou a varinha de Voldemort e também as de Belatrix e Lovett com tanta rapidez que mal houve tempo para que os bruxos piscassem os olhos. Zarkis armou o braço mais uma vez. Era muito maior do que Harry, porém ele demonstrava muita tranquilidade. Assim que o braço do orc desceu sobre ele, o rapaz jogou um jato de luz branca que lançou seu inimigo diretamente no rio. Sentia-se mais confiante do que nunca. Viu Zarkis afundar nas águas negras e o espírito destruidor se ergueu mais alto do que antes.

- “Seus inimigos foram derrotados” – observou, fazendo as chamas se intensificarem e o chão tremer novamente.

- Nem todos – respondeu Harry, encarando Belatrix.

Pálida como um cadáver, Belatrix rilhou os dentes. Ainda era uma Comensal. Percebeu que a varinha de seu primo estava ao lado dele. Harry se esquecera que Malfoy sucumbira quando ainda estava armado. “Potter, você vai se arrepender da sua pose”, pensou. Não tinha sido a favorita de Voldemort à toa. Usou a maldição Imperius para fazer a serpente lançar a língua pegajosa mais uma vez. E capturou alguém que também tinha escapado à atenção do rapaz: Petúnia.

- Ah, Potter, você realmente continua com inimigos para enfrentar. Só que isso terá de ficar para depois. Entregue a varinha de meu mestre. Ou sua titia vai virar picadinho.

- Pelos cabelos de Medusa. Como pudemos esquecer dos prisioneiros? – lamentou-se McKinley. E com sua varinha trouxe Moody até onde estavam.

- Faço outra proposta: eu não invoco o poder de Voldemort e você liberta minha tia.

- Tenho a sua palavra, Harry Potter?

- Tem – e seu olhar era desdenhoso. – Não sou como vocês.

Belatrix sorriu triunfante. A serpente abriu a boca e soltou Petúnia. Àquela altura, o olhar da mulher estava perdido. Distante. Não havia cor em seu rosto. Era como se não se importasse mais com o fato de estar viva. Encarou o sobrinho com uma expressão estúpida.

- Harry... Você... Com essa varinha... Com ela... Você... Harry, pode trazer meu Duda de volta?

Nesse instante, Harry fraquejou. E se pegasse o poder de Voldemort? Seria capaz de atender o pedido da tia? Olhou para o ser sem rosto. Ele se ergueu mais alto do que antes. Mais negro. Mais tenebroso. O espírito sentia que seu coração hesitava.

- A varinha! – berrou Belatrix.

- Traga sua tia, Harry – desesperou-se McKinley.

- “Com seu poder somado ao de seu inimigo, você será o maior de todos os bruxos!”

- Você já tem a megera. Entregue-me a varinha logo!

- Eu poderia ressuscitar quem está do outro lado do véu? – perguntou-se Harry, olhando para a varinha de Voldemort.

- “Você poderá fazer o que quiser...”

- É mentira, Harry. Isso está além dos poderes humanos – cortou Dumbledore, com a voz sufocada e os olhos febris.

- DÊ-ME A VARINHA!

- Harry, por favor, o professor Dumbledore, Moody e sua tia não vão agüentar muito tempo aqui – murmurou uma voz trêmula. Gina.

Foi o suficiente. Harry jogou as varinhas nas águas negras, que se agitaram violentamente. Belatrix urrou. Lovett puxou violentamente as rédeas presas na serpente.

- “Você só tem de dizer SIM. E terá o mundo a seus pés”.

- Minha resposta é não. Volte para o lugar de onde veio.

- “HUMANO TOLO. ARREPENDA-SE ANTES QUE SEJA TARDE. EU TE DOU MAIS UMA CHANCE. DIGA SIM.”

- NÃO! NÃO QUERO SUA AJUDA MALDITA. SUMA DA MINHA VISTA!

O espírito se enfureceu. Projetou-se com vigor para o alto e destruiu um amontoado de pedras que tampavam a antiga abertura do vulcão, bloqueada desde antes da derrocada dos shadows, centenas de anos atrás. A passagem por onde, num passado longínquo, as serpentes das sombras ganhavam acesso ao mundo exterior. Aberto o canal, o ser maligno mergulhou com violência em seu rio e provocou ondas negras, que invadiram a arena, queimando o solo como se ele fosse um amontoado de folhas secas. O líquido viscoso avançou rapidamente sobre o terreno. O fogo iluminou o chão que Harry pisava e ele encontrou sua varinha, pegando-a de volta. Num gesto brusco, arremessou um feitiço no meio do redemoinho.

- Eu disse para voltar para o lugar de onde veio!

Seus cabelos se eriçaram. McKinley pulou para o seu lado e repetiu o movimento. O velho professor sentiu que o corpo de Harry trepidava, tamanha energia usava. Gina, ainda atordoada pelo que lhe acontecera, fez o mesmo. Apenas Rony permaneceu em seu lugar, sustentando Dumbledore, já quase inconsciente. Belatrix se aproveitou do momento. “Eu também posso usar magia sem a minha varinha”. Mirou a que estava ao lado de Malfoy.

- Accio varinha.

Ela voou imediatamente para suas mãos. Surpresa, a Comensal notou que a ação dos bruxos estava surtindo efeito. O espírito do rio Flama soltou um grito rouco quando viu suas águas sendo tragadas como se alguém houvesse destampado um buraco. Em seguida, ouviu-se uma risada roufenha.

- “Não posso mais permanecer aqui. Mas não vou embora sem deixar minha marca. Eu sou o espírito destruidor!”

O ser sem rosto se dissolveu nas águas, porém cumpriu sua palavra. Num assomo de fúria, fez o rio lamber as paredes da arena e elas começaram a tremer. O chão se abriu e das fendas surgiram rios de lava, provocando gritos de susto e temor. Labaredas se elevaram e o fogo que consumia a região se intensificou. Em meio ao caos, Belatrix lançou um feitiço sobre a venda da serpente que fora montada por Malfoy. “Desculpe, querida. Tenho de me prevenir”, riu. O animal uivou tenebrosamente. A luz das chamas era forte demais para a criatura. Seus olhos brancos e leitosos se encheram de água. O ruído atraiu a atenção dos bruxos. E Belatrix provou porque tinha sido o braço-direito de Voldemort. A serpente que montava se ergueu no ar e a bruxa levou consigo, por magia, a estática senhora Dursley.

- Já que você, moleque, não cumpriu sua palavra, eu não tenho mais nada a fazer aqui! – bradou, sarcástica, fazendo o monstro partir rumo à abertura do vulcão, à passagem para o mundo externo.

O bruxo da cicatriz em forma de raio correu até a outra serpente, que estrebuchava. Usou a língua dos ofídios para comandar o animal, que guinchou lutando desesperado contra a dor nos olhos feridos pela luz. Gina também disparou em direção à criatura e se agarrou à cauda antes que ela alçasse vôo. “Ah, de novo neste bicho, não... Mas eu preciso chegar até o Harry.”

Protegida pela venda e sem se incomodar com as chamas, a serpente de Belatrix voava rapidamente. Entrou pela abertura do vulcão sem tocar nas pedras que despencavam.

- Como ela consegue fazer isso? – perguntou assombrado Rony, ajeitando Dumbledore sobre uma vassoura e sentando-se nela, pronto para voar.

- A serpente se guia pelo sonar – respondeu McKinley, vendo o velho companheiro tão esgotado que não se sentia capaz de abrir a boca. - São criaturas das sombras, não se esqueça. Elas fogem da luz e podem se mover no escuro. Temos de ir atrás deles, Rony. Eu levo Moody comigo.

Montaram nas vassouras, mas não podiam simplesmente sair voando. Cada vez mais pedras despencavam. Nephasta estava condenada.

Na abertura do vulcão, Belatrix olhou para trás e viu Harry em seu encalço. Uma idéia lhe veio à mente. “Para você não faz mais diferença, não é, querida”, perguntou zombeteira para Petúnia. A mulher não respondeu. Seu espírito estava alquebrado. “Hummm, pobrezinha. Vou te dar o alívio que você quer. E em troca você causa mais um tormentozinho na vida do seu sobrinho. Isso não deve ser nada para você”, ironizou. Lovett não entendeu. “Você é um palerma mesmo, rapaz! Estou começando a entender por que Lúcio te detestava tanto. Não merece o nome que carrega”, vociferou, enquanto se virava para dar o golpe final em Harry. Lovett empalideceu.

Harry tentava conduzir a serpente o melhor que podia. A criatura continuava guinchando. Não lhe ocorreu proteger os olhos aquosos do animal. Habilidoso graças aos anos de quadribol, ajudava o monstro a deslizar mais facilmente pela passagem, escapando às pedras que desmoronavam. Quando se descobriu numa posição mais confortável, apontou a varinha para Belatrix. Viu a bruxa se virar para trás. “Não posso perder nem um segundo”. Seu coração transbordava de ódio. Tinha certeza que não falharia.

- Avada Keda...

Uma mão cobriu sua boca com força. Uma mão quente que produziu um choque térmico porque seu corpo estava gelado. Sacudiu-se vigorosamente e, furioso, tentou acertar quem o prendia com um golpe do cotovelo. A pessoa soltou um grito, quase perdeu o equilíbrio e o agarrou pelo braço. Assim que identificou quem o atacava, perdeu o ar.

- Por que você está contra mim? Por que, Gina? – perguntou, puxando-a para junto das rédeas, onde ela se segurou com toda a energia que tinha nas mãos.

- Só posso pedir que confie em mim – gemeu, assustada.

Não puderam falar mais nada. Belatrix soltou Petúnia. A mulher despencou pela abertura. Gina gritou que salvasse sua tia. Harry olhou mais uma vez para a Comensal. A distância aumentara, mas ele ainda podia eliminá-la se...

- Harry! – insistiu a garota.

O bruxo apontou a varinha para a tia e a convocou antes que ela caísse na lava que engolia a arena. Petúnia subiu rapidamente e, por um átimo de segundo, seu olhar reconheceu o gesto do sobrinho. Como se o agradecesse de livrá-la de morte tão horrível. E o brilho repentino sumiu no exato instante em que um jato verde de luz atravessou seu corpo. Belatrix tentara atingir Harry, mas sua mira não era tão boa. Destruíra Petúnia Dursley! O rapaz estremeceu. O corpo da tia chegou a suas mãos, sem vida. E ele a abraçou sem coragem de falar qualquer coisa. Fechou as pálpebras por um instante. Ela era irmã de sua mãe! Era um pesadelo. Não conseguira salvar sua família. Urrou, sem encontrar palavras que pudessem exprimir o que explodia em seu peito.

Não havia mais condições de voar no encalço de Belatrix. A Comensal disparava feitiços contra as paredes da passagem, tornando a perseguição ainda mais perigosa. Então, uma rocha gigantesca se chocou contra a cabeça da serpente das sombras e o animal, inconsciente, deixou de mover suas asas, numa queda veloz para a morte. Gina gritara algo, mas Harry não ouviu. Estava atento a outro fato. Belatrix estava escapando. Ela, ao se dar conta disso, soltou uma sonora gargalhada. O riso penetrou na pele de Harry, circulou pelas veias, atingiu a mente e manchou seu coração com uma invisível tinta negra. Os dedos do bruxo apertaram fortemente o corpo inerte de Petúnia.

- Você não está me ouvindo?! – berrou Gina, aflita, puxando-o pelas vestes. – Solte a serpente. Vou abrir o círculo protetor para a gente. Agora.

Gina fez com que Harry, agarrado à tia, soltasse as rédeas e se jogasse no ar junto com ela. A garota criou a bola transparente que tantas vezes já a protegera. Estava preparada para amortecer a queda sobre a lava quando foram atraídos por McKinley. “Por Merlin, obrigada”, gemeu a ruiva, sentindo que o calor infernal estava derretendo seu corpo. O professor, que estava montado numa vassoura, arrastou os três para uma parte da arena que ainda estava intacta.

- Rápido. Subam nas vassouras. Temos de resgatar o professor Snape e a Hermione antes que tudo desmorone. O espírito do rio Flama está arrebentando isto aqui.

McKinley entregou a Firebolt para Harry, mas ele continuou segurando o corpo da tia. Então, o professor descobriu o que tinha acontecido.

- Desculpe. Eu nem tinha perguntado se vocês estavam bem. Eu só os vi caindo... Harry, eu lamento.

O bruxo não abriu a boca. Pegou a Firebolt com a mão livre, ajeitou a tia sobre a vassoura e executou um encantamento para que ela não caísse. Em silêncio, levantou vôo e se afastou de todos, deixando a arena odiada para trás. Gina olhou tristemente para McKinley e depois para o irmão. Saíram sem trocar impressões.




*****




Severo Snape se movia sem fazer ruído. Antes de acionar a varinha, percorria os arredores da torre da ponte com um olhar frio. Nenhum gesto era desperdiçado. Nenhum grito saía de sua garganta. Era incrível como sabia se locomover sem despertar muita atenção dos orcs e gobelins. Se ele era tão cuidadoso com seus movimentos, deveria perceber perfeitamente os alheios. Era nisso que Hermione pensava no momento em que o chão trepidou de modo estranho. Mas não havia brecha para conversas. Os inimigos continuavam atacando. Protegida pela capa de invisibilidade, Hermione defendia o posto que ocupavam com afinco. No entanto, os orcs e os gobelins estavam doentes pelo desejo de atravessar a ponte. Snape, embora se revelasse um bruxo realmente talentoso, não conseguia impedir sozinho o avanço das criaturas do submundo.

- Professor, parece que eles não vão desistir nunca – desabafou, depois de ter se livrado de um grupo de gobelins que saltara da barreira.

A resposta tardou a vir.

- Nem nós vamos desistir, senhorita Granger.

- Não estou dizendo isso. Mas nós estamos lutando, lutando e lutando... e eles continuam atacando... Ai!

Um bewolf atravessou a barreira, seguido de outro que destruiu o que restava do obstáculo.

- Se você ficar quieta, será mais seguro – resmungou Snape, fazendo o primeiro bewolf adormecer e arremessando o segundo de volta para o lugar de onde tinha vindo.

Súbito, a terra tremeu violentamente. Hermione caiu sentada no chão. Snape errou a mira e deixou um orc escapar. E os bewolfes começaram a uivar. Gobelins se encolheram e cochicharam entre si, lembrando da vez em que o solo sacudira da mesma forma, muitos anos atrás. “A terra vai se abrir de novo”, “Temos de fugir”, “Vamos morrer”, “O bruxo deve ter fracassado”, guinchavam, assustados. Os orcs engoliram os receios se organizaram para partir em mais um ataque. Mas um tremor ainda mais forte os dispersou e uma cratera profunda e larga surgiu, separando Hermione e Snape de seus inimigos. Do alto, pedras despencavam. E novos abalos se seguiram. Os bewolfes dispararam no sentido contrário ao da ponte. E atrás deles seguiram muitos gobelins. Os orcs ainda tentavam passar para o outro lado do abismo.

- Vamos. Eles são só humanos – berrava o capitão das criaturas.

Porém a cratera se abriu mais e engoliu o capitão. Os outros orcs recuaram. Hermione soltou mais um grito. A parte onde estavam começou a se soltar do resto do terreno. As ruínas da torre se inclinaram e Snape, desequilibrado, deu com o nariz no chão. Qualquer aluno teria rido da cena. Porém a situação não era para brincadeiras. Se permanecessem ali, os dois bruxos iam cair no abismo. Não havia dúvidas quanto a isso. O professor se levantou com agilidade e ordenou que Hermione fizesse surgir a ponte. A garota tirou a capa e a prendeu na cintura. Puxou o cordão com o cristal e correu até a haste onde tinha de encaixar a peça.

- Tem certeza, professor? E se eles conseguirem saltar a fenda? – perguntou apontando os orcs que ainda se mantinham no local.

- Se eles conseguirem saltar esse buraco, merecem mesmo atravessar a ponte. Não podemos esperar mais!

Hermione usou a varinha para fixar o cristal e a ponte surgiu, fazendo com que orcs e gobelins arregalassem os olhos. Os bruxos se encararam apenas uma vez. O terreno oscilou e eles tomaram a decisão de atravessar a ponte imediatamente. Hermione mancava. O osso remendado por Dumbledore ainda lhe provocava dores. Ela olhou para trás e viu que as criaturas do submundo jogaram cordas, tentando inventar um meio de vencer a cratera que se alargava mais e mais. Os archotes se apagavam e a luz que iluminava a entrada de Nephasta se extinguia.

- Lumus! – bradou para enxergar melhor o caminho. - A gente precisa se apressar. Quer dizer, se o senhor quiser correr, eu não me importo. Não é justo que fique do meu lado enquanto...

- Senhorita Granger, quer se calar?! – bufou Snape, que ajudou a bruxa a andar. – Lumus!

De repente, uma pedra se soltou do alto e mergulhou na escuridão. Poderia ser mais uma entre tantas que se desprendia e feriam orcs e gobelins. Mas aquela caiu exatamente sobre a haste da ponte, espatifando o cristal e destruindo a passarela encantada. Snape e Hermione não sentiram mais o chão. Ela ainda gritava quando algo a sustentou no ar.

- Definitivamente, eu deveria ser apanhador!

Era Rony, que a pegou nos braços durante a queda. O rapaz sorria. Entreguera Dumbledore aos cuidados de Gina porque estava disposto a acelerar ao máximo a fim de encontrar a amiga. Hermione quis agradecer, mas o ruivo a soltou na vassoura e pediu que ela se segurasse. Com um movimento da varinha, convocou Snape, prendendo-o com uma corda mágica.

- Olá, professor Snape. Acho que essa deve ser a primeira vez que o senhor fica satisfeito em me ver, não é mesmo?! Sinto muito não oferecer nada mais confortável, mas as outras vassouras estão carregadas.

- Rony, o que aconteceu? E Harry?

- Voldemort já era, Mione! – respondeu, com um tom de ternura na voz. Porém, seu rosto se entristeceu. – Mas só conseguimos resgatar Moody com vida. Harry está trazendo o corpo da tia. E o McKinley lembrou de pegar o do primo dele.

- Como está o professor Dumbledore? – inquiriu Snape, pendurado na corda.

- Não está bem. Assim que chegarmos na passagem, o senhor poderia fazer uma poção para fortalecer o professor e eliminar o que resta do veneno de Voldemort.

- E você, Rony? Como está? – perguntou Hermione, lutando para vencer a timidez.

- Eu? Ahn – ruborizou-se. Decidiu brincar para disfarçar o embaraço. – Ora, eu vou me recuperar. Quem sabe daqui a uma semana. Um mês. Ou um ano. Mas pode ser que eu morra amanhã.




*****




Cansados da batalha, nenhum dos bruxos trocou palavras entre a entrada de Nephasta e a longa passagem subterrânea que levava à cidade. As vassouras voavam rapidamente, com Harry à frente. Assim que saíram do túnel secreto, eles depositaram os corpos de Petúnia e Alastor na neve.

- Vou abrir um portal para nos levar à Toca, mas primeiro preciso de ajuda para lacrar este lugar condenado – disse Dumbledore, revigorado com a poção de Snape, embora ainda estivesse debilitado.

O sol estava se pondo, o que tornava o momento quase inacreditável. O mundo parecia continuar como antes, mas ele tinha mudado muito. Era o que Harry sentia, com o coração oprimido a tal ponto que quase o sufocava. Dumbledore o chamou, insistindo com o pedido de ajuda. Os demais já estavam ao lado do diretor. Ele se moveu lutando contra a angústia que quase o paralisava. O professor pronunciou algumas palavras élficas em tom solene. Estendeu a varinha e disse com firmeza.

- Ritorna!

Os bruxos o acompanharam e uma névoa branca subiu do solo. Ela tomou toda a passagem e a passagem se fechou lentamente. As letras gravadas na rocha brilharam intensamente até que a névoa se dissipou e a luz das inscrições se apagou.

- Dei um jeito de acalmar a lava. Mas precisamos fechar um acesso que ainda resta: a boca do vulcão. Vamos para lá, Thelonius. Harry, preciso de você também.

Os três subiram nas vassouras e atravessaram a cortina de nuvens que escondia o topo do vulcão. Havia pouca visibilidade. As últimas luzes do sol não eram suficientes para clarear aquela região mergulhada no nevoeiro. Mesmo assim, quando chegaram à boca, descobriram um enorme vulto destacando-se na paisagem. Harry aproximou-se com cuidado, acompanhado de perto pelos dois bruxos. Um líquido róseo escorria pela neve. Seguiram a trilha e encontraram a serpente das sombras que fora montada pelos Comensais. Estava morta. Em seu imenso corpo branco feridas se espalhavam e delas escapava o líquido róseo. Pegadas na neve que sumiam de repente indicavam que por ali tinham desaparecido os bruxos das trevas.

- Esses animais eram muito sensíveis à luz. Olhem, é como se a serpente tivesse sido atravessada por lanças. Quando Belatrix escapou, o sol estava mais forte do que agora.

Ao ouvir o nome tão odiado, Harry tremeu. Seus dedos apertaram a varinha.

- Se a Gina não tivesse me atrapalhado, Belatrix não estaria mais neste mundo e essa criatura poderia estar viva! Assim como minha tia – murmurou entre dentes.

- Não sei o que Gina fez, mas durante toda a batalha ela teve um comportamento exemplar. Confie nos critérios dela.

- Não quero saber de critérios. Belatrix escapou! É só isso que me interessa – berrou, com os olhos fuzilando Dumbledore.

- Só isso te interessa, Harry? Lembre-se que você livrou o mundo da ameaça de Voldemort. A guerra acabou.

- Para você, Dumbledore! Para mim, ela continua.

- Professor Dumbledore, Harry, por favor – observou McKinley.

- Não sou mais aluno de Hogwarts – respondeu Harry, com o rosto contorcido de raiva. – E Dumbledore não pode mais mandar em mim.

- Depois de tudo por que passou hoje, Harry, imagino que ninguém nunca mais poderá mandar em você – disse Dumbledore. – Espero, no entanto, que isso não te impeça de ouvir os amigos.

- Estou cansado de ouvir! Quero fazer! E o que eu quero fazer é encontrar Belatrix e fazê-la se arrepender de todos seus crimes.

- Nada vai tirar essa idéia da sua cabeça?

- Nada!

- Não há nada mais importante em sua vida, Harry? Algo? Alguém?

- Não – respondeu categórico, com os olhos enraivecidos, brilhantes e escuros.

O som de alguém limpando a garganta atraiu a atenção dos três bruxos. Gina, com o rosto branco como a neve, estava sobre a vassoura, planando. Tinha escutado parte da conversa.

- Ahn, o professor Snape pediu para avisá-los que ele abriu o portal. E que é melhor a gente se apressar porque o Moody está começando a despertar e precisa de atendimento.

Virou a vassoura e desceu imediatamente. Tinha sido duro escutar as palavras de Harry, mas não queria pensar nisso. Pousou ao lado do corpo de Petúnia Dursley e seus olhos marejaram. Os três bruxos logo surgiram. A abertura do vulcão fora lacrada também. Podiam, finalmente, deixar aquele lugar para trás.




*****




Na Toca, a noite caíra. A senhora Weasley andava de um lado para o outro, apesar das dores generalizadas pelo corpo. Ela e o marido tinham acabado de voltar de St. Mungus.

- Molly, sossegue. Você viu o que disseram? Por ter sido estuporada pelo próprio Você-Sabe-Quem, vai precisar de muito descanso.

- Não consigo ficar quieta. Meus filhos ainda não voltaram – desatou a chorar.

- Mas eles vão voltar. A gente sabe que Você-Sabe-Quem não é mais uma ameaça. O Centro de Vigilância do Ministério da Magia captou o fim da energia malévola que cercava Aquele-que-não-deve-ser-nomeado – disse Tonks, procurando tranqüilizar a mulher.

- Ora, o Centro de Vigilância. Foi ele que espalhou por toda a Inglaterra que Você-Sabe-Quem tinha morrido naquela noite em que Harry sobreviveu. E ele NÃO tinha morrido de verdade – respondeu, inflamada. - Agora estão de novo espalhando a notícia. Como as pessoas podem estourar fogos enquanto a gente não sabe se eles estão bem? – fungou a senhora Weasley.

- Seus outros filhos estão bem. Eles só não saíram do hospital porque essa foi a única maneira de você sossegar. Vamos, Molly, tenha fé! – insistiu Tonks.

- É, mas o relógio continua mostrando “desconhecido” para os três – retorquiu a mulher, passando um lenço nos olhos avermelhados.

Subitamente, um vento se fez sentir na casa. Vinha de fora e carregava uma lufada de ar gelado. A senhora Weasley olhou outra vez para o relógio e suspirou de alívio. Os ponteiros de Rony, Gina e Harry apontavam a Toca. O senhor Weasley não se conteve.

- Eles voltaram! – e correu a abrir a porta e sair para o jardim, sendo seguido por todos.

No jardim, o grupo caminhava em silêncio. Estavam muito cansados e exibiam, sem exceção, as marcas de uma luta terrível. Rasgões na roupa, feridas, manchas de sangue, rostos suados e olhares baixos. Hermione estava apoiada em Rony. Harry carregava a tia nos braços. McKinley locomovia Duda. Snape cuidava de Moody e Dumbledore carregava suas dúvidas e receios.

- Por mil dragões, vocês estão bem? – perguntou Tonks, arrepiando os cabelos cor de rosa. E abriu a boca, exprimindo o espanto ao ver os corpos.

Enquanto os outros começavam a responder, Harry nada disse. Compreendendo o que ocorrera, o senhor Weasley se adiantou e pediu licença para enterrar a família do rapaz no cemitério onde repousavam seus parentes. O jovem concordou ainda sem abrir a boca e entregou o corpo para o senhor Weasley. Remo Lupin se aproximou, mas não teve êxito na sua intenção de falar com o ex-aluno. Harry desviou-se das pessoas, entrou na casa, recusou as ofertas de água e biscoitos, lavou as mãos e o rosto enquanto os demais contavam o que tinha acontecido em Nephasta e subiu discretamente para o quarto. Dumbledore tinha acabado de receber a segunda poção feita por Snape para eliminar de vez o veneno de Voldemort e o grupo terminava o relato no minuto em que Harry retornou. Trazia seu malão.

- O que é isso, senhor Potter? – arregalou os olhos a professora McGonagall.

- Isto é o que eu deveria ter feito há muito tempo. Vou partir. Tenho alguns planos para perseguir e encontrar Belatrix.

- Esperava ver seu nome na lista do curso de aurores deste ano, Harry – continuou McGonagall.

- Se até o início do curso, eu tiver eliminado Belatrix, a senhora verá.

- Harry, você quer realmente ser auror? – inquiriu Dumbledore.

- Sim – respondeu, sem dar maior importância ao que diretor dizia.

- Tenho uma sugestão a fazer. Algo que eu ia propor antes de... bem, eu estive pensando e conversei longamente com meu amigo Thelonius McKinley. Você sabe que ele já foi auror, não é?! Mas ele também foi instrutor especial do curso de aurores. Muitos anos atrás ele preparou um auror no que chamamos de programa de estudos à distância.

- Não estou interessado, Dumbledore – resmungou o jovem bruxo.

Minerva McGonagall inchou como se tivesse surpreendido um de seus alunos cutucando um dragão adormecido. A senhora Weasley chamou a atenção do rapaz para o respeito com os mais velhos. Porém Harry não se alterou. Dirigiu-se à porta da casa.

- Devo lembrá-lo, talvez, senhor Potter, que, com tudo o que domina atualmente, não foi capaz de voltar de sua missão com o objetivo cumprido. No final, Belatrix escapou e sua família não existe mais – comentou friamente Snape.

Harry voltou-se, furioso.

- Não fale da minha família!

- Não fale como se não precisasse de ninguém. Até hoje estas pessoas reunidas na sala te ajudaram muito. Não as menospreze.

- Não menosprezo. Mas não quero ninguém mais do meu lado. Nem contra mim – murmurou, irritado. – É perigoso ficar comigo. E é muito decepcionante ver que as pessoas em quem eu confiava agem contra mim.

Gina sentiu as orelhas arderem como brasas.

- Não pretendo mais te influenciar, Harry – cortou Dumbledore. - Faça o que quer. Apenas sugiro que ouça a proposta. McKinley está disposto a dar de novo aulas dentro do programa à distância. Conversamos com o Ministério da Magia. E eles aceitaram a idéia. Comece o curso e, em paralelo, faça suas investigações. Quer procurar Belatrix? Procure-a, mas esteja pronto para enfrentá-la. Porque ela está furiosa...

- Não mais do que eu!

- Que seja. De toda a forma, Belatrix estará mais perigosa do que antes. Porque ela também desejará vingar seu mestre. Portanto, aprimore sua magia e aprenda a se defender das artimanhas dos bruxos das trevas. Harry, agora todo cuidado é pouco. É vital que você se esconda.

- Não sou covarde! Eu posso enfrentá-la.

- Ao custo de quantas vidas mais? – provocou Snape.

Dumbledore lançou um olhar de reprovação ao professor. Harry apertou a mandíbula mais fortemente.

- Já tenho os detalhes prontos, Harry. Você seguirá com Thelonius para um destino desconhecido. Ninguém saberá para onde. Nem eu. Seus rastros não serão seguidos. Você ficará inencontrável, a mesma magia que protegeu Voldemort. As mensagens que quisermos te encaminhar seguirão para algum lugar fixo que será trocado de tempos em tempos. Edwiges saberá para onde ir e como buscar os recados. E nós, eu e Minerva, nos comprometemos a estabelecer os pontos para a entrega do correio.

- Está mesmo com um esquema preparado. Só falta a minha concordância, não é? – debochou Harry. – Mas acho que o que senhor montou foi uma maneira de me vigiar.

- Não é verdade, Harry. Alvo não terá mesmo idéia do que passará com você. Serei seu professor. E seus exames e trabalhos serão feitos comigo. Estaremos em viagem constante. Ninguém poderá nos encontrar – explicou McKinley. – Acho que nunca te dei motivos para duvidar de mim.

- Ok, aceito. O senhor realmente é um dos poucos de quem não duvido - respondeu num tom que misturava ira e amargura.

O jovem bruxo lançou um olhar enviezado para Gina, que sentiu seu coração se desmanchar. “Está com raiva de mim. Ele está com muita raiva de mim”, pensou.

- Eu também nunca dei motivos para você duvidar de mim, cara – interrompeu Rony. - E, já que é assim, eu me ofereço para ser qualquer coisa nessa viagem. Ahn, o senhor precisa de algum ajudante, professor?

- Filho, você enlouqueceu? – cortou a senhora Weasley.

- Bem, no plano que valia até esta manhã eu ia viajar com o Harry, lembram? Só estou retomando o projeto original.

- Rony, você honra a Grifinória. É fiel mesmo – comentou Harry. E, como seu coração estava envenenado pelo ódio por Belatrix, foi mordaz. – Algo que precisa ser aprendido pelos alunos que ainda estão em Hogwarts.

Os lábios de Gina tremeram. O endereço da alfinetada só podia ser ela. Ainda era aluna de Hogwarts. Enquanto os senhores Weasley discutiam com Dumbledore e McKinley se a companhia de Rony seria útil ou seria mais uma complicação, a garota se levantou do sofá e avisou para Hermione e Tonks que subiria para tomar um banho. Seus olhos estavam marejados. Naquela manhã tinha acordado sentindo-se a mulher mais feliz do mundo. “Agora, só levo patada”, disse para seus botões. Abriu a porta do quarto e foi até a janela em busca de paz de espírito. Inspirou fundo e ouviu alguém entrar.

- A observação sobre fidelidade foi forte demais para você? – perguntou Harry, com o semblante carregado.

- Não quero discutir. Subi para tomar um banho e...

- Eu também queria ter tomado um banho, mas isso não ia lavar toda a sujeira que eu presenciei naquele lugar maldito. Ela ia continuar diante dos meus olhos. Estou vendo aquela imundície até agora. Mas você pode tomar seu banho. Para você vai ser mais fácil se livrar dela.

- Por que?

- Para você não foi tão terrível assim. O mundo ficou livre de Voldemort, ninguém da sua família se feriu e você ainda saiu de heroína, mesmo depois de ter me impedido de consertar parte do mal que os Comensais fizeram.

- Não fale assim. Eu também sofri. Só acho que não se faz justiça com as próprias mãos.

- Que bom para você. Pode dormir com a consciência e o coração tranqüilos. Bem à vontade – ironizou.

Gina disfarçou o desconforto, mexendo em um robe. “Esse deve ser o sacrifício. Harry me odiar e eu, que não posso esclarecer nada, vou ter de suportar tudo calada”, refletiu, com os olhos ardendo.

- Ninguém que tira a vida de outra pessoa deveria se sentir à vontade com isso – sentenciou.

- Aposto que a Belatrix está super à vontade com as coisas que fez. Não é incrível?

- Pare de ser sarcástico comigo.

O maxilar de Harry estava duro e ele mal se dava conta que rilhava os dentes.

- Responda por que fez aquilo.

- Eu achei que era o melhor a ser feito.

- Grande idéia a sua! E o resultado disso é que minha tia morreu! Tem noção disso? Que foi por sua interferência que eu não tenho mais família?

- Se ter raiva de mim te ajuda a lidar com a tragédia, então, você está livre para me odiar.

- Ah, por que você não disse antes? Agora ficou bem mais fácil... – ironizou mais uma vez.

A garganta de Harry doía terrivelmente. Ele lutava para conter a fúria e ao mesmo tempo a mágoa crescia. Queria ver Gina ajoelhada, pedindo perdão pelo que fizera. Imaginava-a arrependida, dizendo que, se soubesse o que ocorreria, jamais o teria impedido de atacar Belatrix. Mas a garota não pronunciava nenhuma dessas palavras. Preferia se justificar a confessar que errrara. Aquilo ia ferindo seu peito, mais e mais, abrindo novas chagas.

Gina não queria demonstrar que estava abalada. Para fugir do assunto, soltou o cordão que prendia seu pingente. Sem conseguir refletir direito, comentou em voz alta, tentando parecer calma.

- Ah, agora isto aqui perdeu a utilidade.

Tinha esquecido que Harry não ouvira o relato dos acontecimentos. Não desconfiou que ele não sabia que foram os fios de seus cabelos que ajudaram a localizá-lo em Nephasta. Quando McKinley contou o fato, Gina enrubescera e abaixara a cabeça, fingindo coçar as costas de Bichento, que viera se enroscar em seus pés. Ninguém lhe perguntara como tinha obtido as mechas.

Porém Harry não tinha esses detalhes. Para sua mente atordoada e seu coração magoado, o gesto foi forte demais. Ofendeu-se.

- Que bom que você se descarta rapidinho do que é inútil.

Gina não entendeu. Ela o encarou e encontrou seus olhos verdes tão escuros que mal se distinguia a cor natural.

- Por que não joga essa porcaria no lixo de uma vez? – ele continuou, atormentado pela raiva e pela sensação de ser desprezado.

A jovem também se ofendeu. Harry a estava ferindo. Gina estava cansada de ser compreensiva.

- Tem razão – e jogou o cordão no cesto de latão do quarto.

O barulho do pingente caindo no latão foi agudo e cortou Harry por dentro. Por um segundo, Gina se arrependeu. Mas, teimosa, não quis dizer que a medalhinha ainda era preciosa para ela, mesmo sem os cabelos negros de Harry em seu interior. Estava tão concentrada em simular naturalidade que não viu o rapaz empalidecer. O bruxo mal conseguiu engolir a saliva. Aquele golpe merecia algo à altura. Ele retirou seu cordão e também o jogou no lixo. E o fez com tanta fúria que o ruído do choque entre o pingente e o cesto ecoou pelo quarto.

- Muito bem. Para mim, isso também não me importa. A gente não precisa mais ser cínico.

Gina ficou vermelha, no entanto, se recusava a dar o braço a torcer. Não iria admitir que estava machucada.

- Quando é para terminar algo, Harry, termine direito. Pira! – e tocou um fogo forte e localizado no cesto. – Que não reste nenhuma cinza! – bradou e saiu do quarto, levando o robe e uma toalha. Passou pelo rapaz, dando-lhe um empurrão para que ele saísse de seu caminho.

A respiração de Harry se acelerou. Viu o fogo crepitar. Abaixou a cabeça por instantes, perturbado. Seus olhos se encheram de água e recuperaram o tom original. Não sabia o que lhe doía mais. O triunfo de Belatrix ou o desprezo de Gina. Na véspera de seu aniversário, tinha acreditado que poderia ser feliz. As chamas iluminaram seu rosto. Não acreditava mais.

- Accio pingentes – murmurou, com uma mágoa profunda.

As medalhinhas voaram para sua mão. Queimavam. Ardiam. Com a varinha, esfriou os pingentes. E desejou fazer o mesmo consigo.




*****




Hermione estava nervosa. O ambiente estava conturbado e as conversas se cruzavam. Tonks passava informações recentes para McKinley. O senhor Weasley recebia e respondia corujas que a toda hora entravam pela janela da sala. Dumbledore e Minerva discutiam em voz baixa. A senhora Weasley reabastecia os copos e os pratos enquanto enxugava os olhos com um lencinho que trazia apertado na mão. Harry, muito pálido, desceu as escadas e parou ao lado de seu malão, taciturno e imóvel, quase sem reagir às bicadas carinhosas de Edwiges. A amiga foi até ele.

- Ei, tente não se entregar ao desânimo.

- Nem sei se tem jeito de não me entregar – respondeu cabisbaixo.

- Agora há pouco você parecia tão decidido. Pensei que fosse brigar com todo mundo.

Ele engoliu em seco.

- Não tenho mais nada, Mione. Nem família, nem... – hesitou. – Nada. Não existe mais no mundo o sangue da família da minha mãe, nem da do meu pai.

- Aí é que você se engana. O sangue deles sobrevive em você – argumentou, dando um tom carinhoso à voz.

Deprimido, ele deu de ombros.

- Nunca me senti tão sozinho em toda minha vida – desabafou.

- Que é isso? Mesmo que a gente não se veja com a mesma freqüência dos últimos anos, eu estou e vou continuar ao seu lado. E você terá o Rony. Olha só. Sinto até inveja. Você e ele juntos, e eu fora da vida de vocês.

O ânimo de Harry não subiu nem um pouquinho. Ele ergueu os olhos e se deparou com o relógio da casa dos Weasley. Viu os ponteiros com seu nome e o de Rony. Escutou o chefe da família se aproximar de McKinley e perguntar-lhe como poderia pagar para que seu filho também fizesse o curso. Ouviu o velho professor responder que o trabalho do rapaz, como seu ajudante, cobriria qualquer custo. “As coisas vão se ajeitando para todo mundo. Menos para mim”, pensou, amargamente. Viu que Hermione se dirigiu a Rony, que acabara de descer com seu malão, para desejar-lhe boa viagem. E percebeu que nenhum dos dois dizia o que deveria estar passando na cabeça. Ela falou uma bobagem qualquer. Ele riu, mas sem vontade. “É, para esses dois tontos também não se ajeitam”, refletiu, mergulhando ainda mais na depressão. Reparou também que Dumbledore avisava aos presentes que qualquer mensagem deveria ser encaminhada ao Correio Central Bruxo da Transilvânia que dentro de seis meses os pergaminhos seriam recolhidos por Edwiges. Notou que Gina voltara para a sala, sem fazer alarde. Sentiu seu peito se contrair, como se um peso tivesse sido posto sobre ele. Tornou a prestar atenção ao diretor de Hogwarts, que acrescentava o pedido de que a direção para qual as corujas seriam mandadas deveria ser mantida em segredo para aumentar a segurança dos três bruxos. Harry pigarreou, atraindo os olhares sobre si.

- Fui aconselhado a quando tiver que terminar algo, terminar direito. E já que estamos falando de segredos, melhor que o segredo seja completo. Que o exílio seja total – e disparou um raio contra os ponteiros, apagando seu nome e o de Rony.

Fora um gesto simbólico. O silêncio que se seguiu denunciou o esforço da senhora Weasley em segurar o choro. A mulher soluçava. O marido a abraçou.

- Molly, eles vão retornar um dia! Não seja tão dramática.

- Muito bem, como não sou fã de despedidas, vou abrir o portal para a gente ir embora. Que fiquem todos bem. Nós faremos o nosso melhor – disse McKinley, pegando um pedaço velho de barbante. – Segurem isto, rapazes.

Rony pegou uma ponta do barbante. Harry segurou a outra. Manteve a cabeça baixa. Não queria rever o rosto de Gina. Remoia-se. “Ela não merece. Ela não merece”. Mas cedeu, odiando-se por ser tão fraco. Ergueu os olhos. Só que a garota não estava mais na sala. E o portal se abriu e se fechou tão rápido que Harry teve a ilusão de que tudo não passava de um sonho. Um vento gelado e cortante, entretanto, lhe demonstrou que estava em outro lugar. Um lugar completamente desconhecido. Sobre eles, caía uma garoa fina e persistente e as gotas miúdas rapidamente molharam seu rosto e seu corpo. Não era um sonho, afinal. Era apenas o início cinzento de mais uma etapa de sua vida.








Ufa! Juntei dois capítulos. Achei que era melhor fazer isso a alongar esta fase. Obrigada pela leitura. K.

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