Trapalhadas e mal entendidos

Trapalhadas e mal entendidos



Alastor Moody tinha a sensação de que não existia mais. Seu corpo estava acorrentado, preso num quarto escuro. Porém não sentia se o ambiente era frio ou quente. Se o chão onde se encontrava era um piso duro ou um tapete ou um monte de palha. Sua mente vagava por cenas do passado. Algumas boas. Outras ruins. Mas ele não reagia a nenhuma das lembranças. Era como ver um filme nos cinemas trouxas que freqüentara nos tempos de auror. Fome e sede não o atormentavam mais. Estaria vivo? Seria isso a morte? Tinha a impressão de estar dias e dias nesse torpor.

Em certos momentos, forçava-se a manter um pouco de lucidez no cérebro embotado. Recordava-se com dificuldade de ter sido capturado numa situação absolutamente inesperada. Fora uma presa fácil. Fácil demais. Onde errara? Quando estava entre os aurores do Ministério da Magia tinha sido condecorado um par de vezes. Pelos serviços prestados. Sua capacidade de desvendar mistérios, de seguir pistas, de escapar de armadilhas sempre merecera os mais altos elogios. Como pudera falhar, então? Por que estava ali trancafiado num lugar que desconhecia? Por mais que tentasse, a mente não lhe dava essas respostas. E estava cansado de pensar nisso. Quanto mais se concentrava parecia que mais fraca se tornava a consciência. Estaria imaginando coisas ou havia fumaça no quarto? Era um odor característico. Que o enjoava terrivelmente.

- Ar! – disse debilmente.

E Moody desmaiou mais uma vez, mergulhando no torpor.

Na escuridão, um vulto pequeno se movimentou em direção à porta do quarto. Trazia nas mãos um prato onde ardia uma brasa. Vendo que o prisioneiro estava inconsciente de novo, ele resmungou de satisfação. E saiu daquele ambiente sufocante. Assim que fechou a porta, correu até a sala.

- Senhor, reacendi o braseiro e coloquei mais óleo de fígado de Gila sobre as folhas de salgueiro. O homem estava acordado quando entrei, mas agora não está mais.

- Ele apagou?

- Sim, senhor.

- O sujeito ainda está vivo, espero. Lembrou-se de alimentá-lo esta manhã, não é?

- Sim, senhor. Kreacher* não esquece de suas obrigações.

- Muito bem. Pode se retirar. E amanhã prepare uma boa refeição para o jantar. Teremos visitas.

- A senhora Lestrange virá?

- Ela e mais um convidado muito especial. Por isso, não nos desaponte, Kreacher. Quero uma bela mesa. Vá planejando. Mas, acima de tudo, não deixe de manter acesa a chama do difusor. Se isso acontecer de novo, vou te castigar severamente. Agora vá.

Lúcio Malfoy despachou Kreacher com um gesto de impaciência. Detestava a presença daquela criatura, porém compreendia que sem ele teria muito mais trabalho a fazer. “Bela ainda vai me pagar por ter empurrado esse elfo estúpido para cá. Preferia trazer um de casa. Ao menos teria comida decente”, reclamou enquanto esquadrinhava pela centésima vez um mapa que sinalizava uma cadeia de montanhas. “Tem de estar por aqui. Em algum lugar por aqui”, pensou febrilmente.





*****




A vitória sobre a Sonserina tivera o poder de reativar um pouco do velho humor de Harry. Os companheiros da Grifinória celebraram durante boa parte da noite o resultado da partida. Até Hermione decidira deitar mais tarde para poder se divertir com os colegas. Além de Harry, Rony recebera muitos cumprimentos. A festa estava tão boa que Colin gastou um filme bruxo inteiro para guardar de lembrança. Quando estava na última chapa, Gina tinha finalmente aparecido e o amigo fizera questão de fotografá-la. Mas a garota se recusara. “Fotografe Harry, Rony e Hermione. Eles formam o trio inseparável”, sugerira. Colin concordou com a idéia e pediu que os três se juntassem para fazer o registro. Mas, espertamente, ele se colocara numa posição para também captar Gina na foto.

- Isso não vale – protestara a ruiva ao se dar conta do estratagema.

Gina tinha tentado escapar, porém Colin estava atento. E fez a foto.

- É melhor fazer outra dos três sozinhos.

- Sinto muito, querida. Mas esta era a última foto. Não tenho outro filme – respondeu Colin, sorrindo.

- Qual o problema, maninha? Você é bem-vinda entre nós – riu Rony.

- Não é isso. É que vocês estão juntos desde o início. Eu, não. Ah, mas deixa para lá. Eu vou para o quarto. Estou morta de cansaço.

- Fique mais um pouco, Gina. Eu vou deitar daqui a pouco. A gente pode subir juntas depois – propôs Hermione.

Harry levantou-se do sofá e ofereceu um lugar ao lado do seu. Estava sorrindo como há muito ela não via.

- Isso mesmo. Fique. Afinal, uma vitória sobre Draco Malfoy merece uma comemoração – brincou.

Ao ouvir o nome do capitão da Sonserina, Gina sentiu o sangue circular mais rápido. “Espero que ele não tenha dito nada para ninguém”, pensou aflita.

- Melhor não. Quero acordar bem amanhã. Tchau e boa comemoração – disse, apressando os passos com medo de que notassem o rubor que tomara seu rosto.

- Gina... – insistiu Harry, mas a artilheira não lhe deu ouvidos, frustrando o rapaz de olhos verdes.

- Querem saber? Gina foi essencial para o resultado de hoje. Se ela não tivesse impedido o Goyle de te acertar com um balaço, a essa altura Malfoy poderia estar comemorando – comentou Rony.

Harry balançou a cabeça, concordando. E pensou na garota com carinho redobrado. “Ela podia ter ficado um pouco mais. Nem consegui falar com ela direito”. E sentou-se já sem o sorriso.

- Vocês precisavam ver como Malfoy estava arrasado – observou Neville.

- Eu não vi a cara dele depois que o jogo acabou. Achei que ele tivesse sumido debaixo da terra. É mesmo uma fuinha – tripudiou Simas Finnigan.

Os estudantes riram.

- Uns minutos atrás eu desci para pegar mais suco de abóbora com os elfos e cruzei com ele. Malfoy estava irreconhecível. Sem querer tropecei nele e sabem o que o fuinha fez? Ele me pediu desculpas – contou Neville.

- Malfoy fez isso? Ele endoideceu – zombou Simas.

- Só pode. A cara dele estava muito diferente da hora em que ele saiu do vestiário. Naquela hora, ele parecia só ansioso. Depois não o vi mais. Mas agora...

- Cara de quê? – perguntou Lilá.

- De alguém que está completamente perdido. Desolado. Como se tivesse recebido a notícia da morte de alguém na família. Quase fiquei com pena.

- Você também endoideceu, Longbottom. Ter pena daquela fuinha branquela? Ele deve ter tido tempo de pensar no desastre que foi o jogo para a Sonserina.

- Simas, não fale assim. A gente não tem de ficar rindo da desgraça alheia – disse Hermione.

- Ok, Mione. Você não precisa rir. Mas tenho certeza de que o Malfoy merece cada “desgraça” que cai sobre ele – replicou Harry.

- Você não sente pena por ele estar assim tão triste?

- Pena dele?! Mas do que é que você está reclamando? Não é você que sempre diz que isso é só um jogo? Já que é “só um jogo” para que vou me preocupar com a reação do Malfoy?

- Como só um jogo? Se eu um dia disse uma besteira dessas é porque eu não estava no meu juízo perfeito. Nós ganhamos da Sonserina! E somos praticamente campeões!!!

Rony e Harry caíram na gargalhada.

- Demorou, mas finalmente você entendeu o que a gente sente depois de uma partida de quadribol, Mione. Vamos brindar – disse Rony pegando um copo de suco de abóbora, no que foi imitado pelos demais.

- Ao trio inseparável – brincou Colin.

- A todos nós – corrigiu Harry, com um largo sorriso. E completou com a mente concentrada em Gina. – Aos que estão presentes na sala e aos que não estão aqui, mas que fazem muita falta nesta hora tão especial.





*****




Na manhã seguinte, boa parte dos alunos da Grifinória bocejava pelos cantos. Na hora do café, os rostos denunciavam as poucas horas dormidas. Rony e Harry estavam com tanta preguiça que optaram por apenas engolir um pouco de mingau. Nada de torradas ou ovos mexidos. Hermione abrira mão da refeição por alguns minutos a mais na cama. Estavam nessa apatia quando surgiram as corujas com a correspondência do dia. Uma delas veio direto até Harry trazendo um pergaminho amarrado com uma enorme fita vermelha que chamou a atenção dos colegas.

- Cartão atrasado do dia dos namorados, Harry? – brincou Simas.

- O que é isso, cara? – perguntou Rony.

Harry não tinha idéia. Pegou o pergaminho e o desenrolou sentindo-se observado pelos estudantes. Assim que começou a ler a mensagem, fez uma careta. Rony fez um sinal de que estava atento. Pronto para ouvir qualquer bomba.

- É da Cho. Ela está enviando um convite para aquele concurso. Eu tinha esquecido completamente. E está me dando uma bronca por não ter escrito. Arre, que coisa chata.

- É o Miss Magia? Vá! Aproveita para conhecer outra garota. Meninas bonitas é que não vão faltar.

- Eu não quero conhecer outras garotas. E não estou com a menor vontade de ir até essa droga de concurso.

- Tá certo. Não vá.

- Mas a Cho vai encher o saco.

- Então, vá.

- E eu vou fazer o que enquanto acontece esse maldito concurso? Acho que não vou.

- Decida-se, Harry!

- Decidi. Não vou – respondeu no mesmo minuto em que conjurou um rolo de pergaminho e uma pena.

O rapaz escreveu na resposta que o professor Dumbledore não iria concordar com uma viagem naquele momento. Todos temiam um ataque de Comensais e, portanto, seria melhor evitar correr riscos.

- Dei uma enrolada e no final desejei sorte. Pronto. Problema resolvido – disse Harry, que prendia a resposta na coruja. – Amanhã fico sabendo do resultado pela coluna social. Depois, é só enviar outra coruja e fico bem na história.

- Por que você não escreve que não tem mais clima para namorar?

- Porque ela vai querer discutir a relação. E isso vai ser mais desgastante. E eu não sou namorado dela de verdade.

- Só você pensa assim. Aposto que a Cho se julga sua namorada.

- Enquanto isso não atrapalhar minha vida...

- Ohhh, muito egoísta esse pensamento, senhor Potter. E enrolar a menina desse jeito não vai acabar bem.

Harry sabia que Rony estava certo. Mas a coruja já tinha ganhado altura. O dia passaria em brancas nuvens se no final da tarde ele não tivesse sido chamado por Dumbledore em sua sala. O diretor segurava em suas mãos um pergaminho.

- Notícias de Voldemort, professor?

- Não, Harry. Mas tenho notícias da senhorita Chang. É a sua namorada, não é?!

- Cho???? Que notícias são essas? – assombrou-se.

- Aparentemente, ela está brava comigo. Não entende como eu posso ser tão desumano que não permita um rapaz visitar a namorada quando esta realmente precisa do apoio dele. A senhorita Chang acrescenta que sempre me viu como um homem justo e que está muito triste por se sentir enganada por mim. O interessante é que sempre pensei que um dia alguém diria poucas e boas a meu respeito. Pena que neste caso eu não mereça, de fato, as reprimendas.

- Lamento, professor. Isso foi um... grande mal entendido – disse, completamente roxo de vergonha.

- Não precisa se lamentar, meu jovem, desde que corrija o... mal entendido.

- Vou escrever agora mesmo para Cho dizendo...

- Vá ao encontro dela, Harry. Dê-lhe o apoio que sua namorada tanto necessita.

- Mas professor ela vai estar num concurso de beleza! É para isso que a Cho quer meu apoio!

- É o Miss Magia? Que maravilha! O último que vi foi vencido por uma ex-aluna de Hogwarts que já tem filhos – riu o diretor. – O evento é interessante. Pode ir, torça por Cho e se divirta. Tomara que Hogwarts emplaque mais uma de suas representantes no panteão da beleza.

Dumbledore entregou a Harry três convites que Cho enviara junto com o pergaminho. “Leve seus amigos para não se sentir só enquanto a senhorita Chang estiver desfilando”, aconselhou. O rapaz tartamudeou, dizendo que seria inútil no concurso. O diretor olhou para ele por cima dos óculos. “Tenho certeza que se não for útil, não atrapalhará”. Aborrecido, Harry ponderou que poderia ser arriscado se expor assim. O velho professor respondeu que já havia comunicado a Tonks que viesse para acompanhá-lo ao evento. Então, ele explodiu.

- Por que tenho de ir a um evento idiota? Ganharia mais se eu estivesse ajudando a descobrir onde está Moody. E Belatrix – acrescentou com raiva, fazendo vibrar um copo de água que estava sobre a mesa de Dumbledore.

- Todos estão fazendo sua parte. A sua, neste momento, é relaxar. Os NIEMs estão chegando. E você tem de concluir Hogwarts antes de partir para qualquer missão que desejar.

- Fred e Jorge não terminaram.

- Eles tinham outros propósitos na vida. E estão se saindo muito bem.

- Também tenho um.

- Esqueça a profecia por um tempo, Harry. É para o seu bem. Aproveite a vida. É o que te peço agora.

- Que vida se ela está sempre ameaçada por Voldemort?

Dumbledore colocou uma mão sobre o ombro do rapaz.

- Tenho um compromisso importante esta noite. Se quiser, podemos conversar mais amanhã. Agora, chame seus amigos para acompanhá-lo e tente descansar a mente e apaziguar o coração, Harry. Isso é realmente importante.

Harry deixou a sala do diretor e correu ao encontro de Rony e Hermione para contar o que tinha conversado com Dumbledore. O ruivo soltou um assobio. Estava realmente animado. “Sair de Hogwarts é sempre interessante. Eu nunca estive num concurso de beleza”, e esfregou as mãos. Hermione semicerrou os olhos. “Não seja bobo”, alfinetou. Mas também estava curiosa em ver um evento bruxo de mega proporção. “É como estar numa convenção bruxa”, comparou. Enquanto os amigos trocavam comentários, o rapaz sentiu um ligeiro incômodo. A cicatriz ardia levemente.

- Querem parar com esse papo. Eu não estou nem um pouco a fim de ver esse concurso.

- Analise por outro lado, cara. Estamos sempre aqui. Ou quando muito vamos para Hogsmeade. Um passeio não vai atrapalhar em nada.

- Na verdade eu estava planejando ler uns pontos de... – começou Hermione.

- Não! – gritaram os dois ao mesmo tempo.

E assim o trio concordou que iria ao Palais Morgana, o único centro de convenções bruxo da Inglaterra. Hermione logo deixou os amigos sozinhos porque precisava se arrumar. Rony e Harry ainda ficaram conversando no salão comunal.

- Para quem você vai entregar o último convite?

- Para ninguém. Ninguém precisa pagar mico por minha causa.

- Ah, você anda muito chato, Harry. Pode ser divertido. Por que você não chama minha irmã? Acho que ela vai gostar.

O bruxo fez que não com a cabeça. Tinha a impressão que ela não gostaria. E, além disso, ficaria constrangido de posar de namorado de Cho diante de Gina. De repente, percebeu que não a vira o dia inteiro. Até aquele preciso instante não lhe agradecera a intervenção que o poupara do balaço de Goyle.

- Onde está a sua irmã?

- Quando você foi falar com Dumbledore, encontrei com ela na saída da última aula. Chamei para jantar com a gente, mas a Gina disse que tinha de ir para a biblioteca. E ela foi mesmo. Palavra, a Mione tem sido uma má influência para minha irmã. Ei, é melhor subirmos. Temos de dar um jeito na nossa aparência. Vai estar cheio de mulher bonita lá e você não vai querer parecer um ogro. Bom, não que você vá conseguir ficar muito diferente de um.

- Não enche, Rony. Você está igual a um troll nórdico. Seu rosto tá ficando peludo.

- Sério?! Acha que consigo fazer crescer um cavanhaque para usar agora à noite?





*****




Gina Weasley fechou de supetão o volume que lia. As páginas de “Sete vezes sete, a maldição dos números” gemeram alto, o que atraiu a atenção da bibliotecária. A garota pediu desculpas com um gesto tímido e passou a juntar seus papéis. Estava cansada de se esconder na biblioteca. Toda vez que se sentia acuada, triste ou confusa corria para o mesmo lugar. Sabia que poucos alunos optavam por aquele espaço quando o dia escolar chegava ao fim. A caçula dos Weasley ainda lembrava os detalhes da noite anterior. Mais calma agora, pensava se não teria sido muito dura com Draco Malfoy. Em todo caso, optara por se refugiar. Não queria vê-lo tão cedo. “Não acredito que eu estou de volta à biblioteca! Sou quase uma prisioneira. Primeiro, vim para cá para não ter de encarar o Harry. E desta vez por causa do Malfoy! Por causa dele! Eu deveria bater minha cabeça na parede.”

Assinou o papel de empréstimo do livro e partiu para o dormitório. Não estava com fome e não pretendia jantar. “E assim não vou ser obrigada a ver o pessoal da Sonserina. E muito menos o Malfoy.” Estava distraída e por isso não pressentiu que outra pessoa vinha no sentido contrário e com pressa. A trombada foi um desastre.

- Oh, Gina!!!! Perdão! O que eu fiz com a sua camisa?

- Tonks! Oi... ahnn, não faz mal. Não é nada que uma boa lavada não resolva.

- Que é isso? Minha mãe limpa qualquer coisa com um piparote. Eu só tenho que fazer... hum... como é mesmo?

- NÃO! Quer dizer, não precisa. Minha mãe me deu um manual de socorros domésticos – adiantou-se Gina, preocupada em ficar com a roupa em pior estado do que estava. Tonks a atingira com uma torta de amora com uma enorme camada de chocolate.

- Ora, Gina, eu sei fazer. Evanesco!

Os restos do doce tinham desaparecido, mas na roupa da garota permanecia uma enorme mancha gordurosa com tons arroxeados e escuros.

- Ok, ok. Disso eu cuido. Eu só tenho de olhar no manual – sorriu Gina. – Agora posso perguntar o que você está fazendo aqui?

- Acho que o feitiço de limpeza é Limpium. Posso tentar, Gina?

- Ah, por favor, esquece, Tonks. Agora me diz...

- Oh, que livro é esse? “Sete vezes sete”? Por que está lendo isso? Claro, já sei – despejou Tonks, batendo a mão na testa. – É porque você é o sétimo filho. Se você fosse homem, poderia virar lobisomem – riu. – Eu estou brincando. Isso é uma lenda trouxa. Mas todo bruxo sabe que o sétimo filho de uma família puro sangue é sempre especial.

- Especial para quê? Gina Weasley nem consegue manter suas roupas limpas – debochou uma voz feminina que pegou as duas de surpresa.

Gina dirigiu um olhar furioso para Pansy Parkinson que tinha se aproximado sem que ela percebesse. Mas assim que viu a garota, a ruiva se encolheu. Junto de Pansy estavam Crabbe, Goyle, uma aluna da Sonserina com quem nunca conversara... e Malfoy. Imediatamente sentiu o rosto pegar fogo e tinha noção de que seu rubor era bem visível para todos.

- Garota, não seja má. O que aconteceu foi um acidente. Eu sou um pouco desastrada. Mas com um único feitiço eu posso...

- Não, obrigada, Tonks.

- Está vendo? Ela nem se importa com a sujeira. Weasley pode ser especial num concurso de germes.

- No seu concurso, Parkinson? Oh, não. Você deve ser hors-concours no reino das criaturas nojentas. Não precisa participar dele – retrucou Gina, sem conseguir atinar com resposta melhor.

Pansy puxou a varinha. Mas com um gesto rápido Draco fez com que ela a abaixasse.

- Sossegue!

A sonserina olhou incrédula para o rapaz, enquanto Tonks dizia que uma agressão a mais e ela contaria tudo para o diretor.

- Salamandras me mordam, por que você tem de ser desagradável? Eu já disse que foi um acidente. Pare de provocar minha amiguinha.

- Por acaso, é guarda costas dela? Quem é você e o que faz aqui com esse cabelo medonho? – continuou Pansy.

Tonks passou a mão nos cabelos curtos e arrepiados e verdes.

- Ah, isso?! Ficou feio? Que me diz, Gina? Tá bom para a festa.

- Se for uma festa diferente, ahn, até que está bem.

- Você não tem mesmo bom gosto, Weasley. Isso está um horror. E o Halloween já passou faz muito tempo.

- Chega, Pansy. Será que a gente pode ir até o refeitório? – interrompeu Draco, puxando a garota pelo braço.

Gina estava se sentindo muito desconfortável com aquela situação. Ainda mais sendo enxovalhada daquele jeito. E diante de Malfoy! Lembrou-se das palavras dele na noite anterior. “Ele deve estar feliz de ter alguém confirmando o que disse”, lamentou-se, procurando fazer com que Tonks andasse. Mas a auror trocara a cor dos cabelos para um tom avermelhado como os de Gina e agora ria de satisfação.

- Que tal irmos como irmãs ao Miss Magia, Gina? Meu cabelo ficou melhor assim?

Ao ouvir isso, Pansy voltara para perto das duas. Ainda estava irritada com Gina. Draco não conseguiu retê-la. Sem reparar nisso, Gina estacara intrigada.

- Como assim?

- Olhe aí. Harry, Rony e Hermione estão vindo para cá. E já estão prontos. Vamos para o Miss Magia, torcer pela Cho. Você vai também, não é? – inquiriu Tonks.

- E ela vai com essa mancha de gordura? Como se a roupa dela já não fosse um terror – debochou Pansy em voz tão alta que o trio ouviu o comentário maldoso.

Draco se aproximou nervoso da garota e murmurou entre dentes que ela ficasse quieta. Ainda sem entender o que se passava, Harry se colocou ao lado de Gina tão contrariado que crispou os lábios e franziu a testa. Tonks virou-se para Pansy e respondeu que bastava um feitiço que tudo se resolveria.

- Só se for um feitiço completo de transfiguração – zombou.

- Alguém já se preocupou em te dar educação? Aliás, alguém se preocupa com você? – retrucou Harry, fuzilando Pansy com um olhar.

- Malfoy, leve essa gralha para longe da minha irmã – disse Rony tão irritado que quase saíam chispas de seus olhos.

- Deixe, Rony. Essa mocinha está com inveja porque não vai ao Miss Magia como a gente – tripudiou Tonks.

Harry queria sumir. Agora compreendia o que estava acontecendo. Tonks falara do concurso. Que azar encontrar Gina justo naquele momento. O estômago fez evoluções estranhas tamanho o nervosismo. Era como se tivesse engolido uma espada flamejante. Falou num fio de voz com a garota.

- Quer nos acompanhar, Gina?

Mas Pansy estava muito atenta e gargalhou ao captar a pergunta.

- Ela nem tinha sido convidada. Nem o senhor maravilha quer andar do seu lado, Weasley.

Com um movimento brusco, Draco arrastou Pansy e o grupo da Sonserina se afastou em meio aos risos. O único que saiu em silêncio tinha sido o capitão do time. Gina viu tudo isso com muita dor. Sentia-se humilhada. Harry gritara para Pansy sumir dali, mas a ruiva nem registrara a frase. O mundo parecia girar aos seus pés.

- Escuta, Gina, eu não tinha te encontrado até agora...

- Eu tenho coisas para fazer...

- Vem com a gente. Tenho um convite...

- Estou ocupada. E não dá tempo de eu me arrumar.

Tonks, que se dera conta da gafe, tentou consertar o estrago.

- Você está ótima. Eu só tenho de lembrar direitinho do feitiço de limpeza.

- Limpium! – disse Hermione com um curto piparote da varinha.

A camisa de Gina estava finalmente limpa.

- Eu disse que era assim. Eu disse – festejou Tonks.

Hermione insistiu que Gina os acompanhasse. Mas a gentileza da amiga não foi suficiente para apagar a mágoa da ruiva. A garota disfarçou a tristeza o quanto pode e alegou que precisava estudar e se despediu com um agradecimento. Rony a puxou pelo braço para dar um beijo na testa da irmã. “Não acha que está exagerando com os estudos?” Ela deu um risinho e se foi. Quando Gina não podia mais ser vista, Tonks quebrou o silêncio constrangedor que se formara.

- Eu sou um desastre ambulante! Mas por que é que vocês não convidaram a Gina?

Harry abaixou a cabeça e respondeu envergonhado que não queria submeter mais ninguém à chatice de ver o concurso.

- Qual é, cara? Eu não estou achando chato. Até me divirto. A Mione também não está fazendo sacrifício nenhum. Não custava mesmo convidar a Gina – observou Rony.

- Obrigado por me fazer sentir pior do que estou me sentindo.

- Depois eu converso com ela e explico tudo. Mas o que detonou tudo foi a presença da Pansy e mais aquele bando.

- Tirando o rapazinho loiro, todos foram muito desagradáveis – emendou Tonks.

- O Malfoy só não falou nada porque não quis enfrentar o Harry e o Rony. Tenho certeza disso – afirmou Hermione.

- Ele é o filho do Lúcio Malfoy? Não tinha reparado – assobiou a bruxa. - Mas até que não é tão ruim se for comparado ao pai. Eu teria gostado de conhecer um cara como ele nos meus tempos de escola.

- Isso é alguma piada de mau gosto?! Ah, nem responde, Tonks. Vamos logo. E como é que a gente vai para o concurso?

- Está tudo programado. Lá fora tem uma charrete puxada por testrais. A gente vai até Hogsmeade e aparata para o endereço do convite. Simples. Na volta, faz a mesma coisa.

- Então vamos logo. Quanto antes esta noite acabar, melhor – respondeu Harry com azedume.










*Kreacher é o nome do Monstro no original em inglês. Não gostei da opção da tradutora. Por isso vou manter Kreacher para o velho elfo doméstico da família Black
Obrigada pela leitura.
K.

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