De volta à Toca

De volta à Toca



Na mesa dos Weasley, os convidados se divertiam com as histórias de Fred e Jorge. Os gêmeos contavam dos novos inventos e da reação dos compradores na loja de logros. A senhora Weasley bem tentava controlar o riso e manter a pose, já que demorara a aceitar a idéia de que o negócio era afinal algo decente. Mas era impossível.

Um dos únicos que não ria era Rony. Ele estava ocupado demais comendo os pratos que a anfitriã servia. Quase não conversava. Gina o olhava, preocupada. Conhecia bem o irmão e sabia que o rapaz se sentia desconfortável com a presença de Krum. "Não é nada bom ter um rival por perto", lamentou-se a jovem em seus pensamentos. Na hora da sobremesa, a caçula fez questão de montar um prato bonito para o irmão.

- Rony, espero que goste desta torta. É um devil cake bruxo.

O rapaz piscou para a irmã e observou que a calda quente fazia desenhos circulares ao redor da torta. Ele mexeu o talher e a calda fez uma cara triste. Rony ficou vermelho imediatamente e tratou de dar uma bela garfada no prato antes que alguém reparasse na cena.

Assim que terminaram a sobremesa, a senhora Weasley convidou todos a se dirigirem à sala para abrir os presentes colocados debaixo da nova árvore da família. Os murmúrios de aprovação foram unânimes. Alguns mais entusiasmados do que outros. Rony se ergueu em silêncio, seguido por Gina. Os dois irmãos se abraçaram, unidos na tristeza dos corações, embora não soubessem disso.

Os comentários a cada pacote aberto eram divertidos. Os gêmeos e nem Carlinhos deixavam passar a oportunidade de fazer a família dar mais risadas. O Natal estava sendo realmente animado, comentou a senhora Weasley. Gina ganhou de Fred e Jorge um belo vestido. "Queremos te ver usando do bom e do melhor, maninha", disse Fred. A garota sorriu com as bochechas coradas. Arthur Weasley demonstrou grande satisfação com o presente. "Ora, ora, nossa pequena está virando uma mulher, não é Molly", comentou com a esposa.

Hermione entretinha-se com os embrulhos dados pelos pais. Rony estava sentado a um canto da sala, observando discretamente a amiga abrir os pacotes. Quando ela encontrou o seu, se agitou um pouco. Queria ver a reação da garota ao presente que escolhera. Era um anel prateado com uma pedra que mudava de cor com um simples sussurro. "É para combinar melhor com a roupa", disse tentando manter a voz num tom baixo para não chamar a atenção dos outros. Hermione colocou o mimo num dedo e agradeceu o rapaz com um sorriso. Ela notou um olhar ligeiramente melancólico no amigo. Sentiu-se impelida a perguntar o motivo daquele semblante. Mas Krum logo lhe apresentou um embrulho que tinha sido depositado momentos antes do encontro familiar na sala. Sem chance de conversar com Rony naquele minuto, ela pegou o pacote espantosamente grande. O jogador demonstrava ansiedade. E os demais se acercaram, curiosos. Assim que terminou de rasgar o papel, Hermione soltou um leve grito de excitação.

- Mas isto é uma... uma...

- Firebolt Plus! - gritaram quase em uníssono os rapazes da família Weasley.

- E o que isso significa exatamente? - perguntou a senhora Granger.

- É o modelo mais recente da melhor vassoura do mundo - respondeu Carlinhos com entusiasmo.

- Só tinha uma loja vendendo esse modelo no Beco Diagonal. E nem deu para ver direito os detalhes. A Firebolt Plus chegou lá nessa semana e o estoque acabou rapidinho. Havia lista de espera - assobiou Jorge.

- Uau. Isso é que é presente - brincou Fred.

- Rony, ainda bem que você deu lições de vôo para a Mione. Assim, ela vai poder aproveitar bem a vassoura - disse Percy.

Krum se espantou.

- Mione, você não sabe voar direito? Por que nunca me falou? Eu te ensinaria.

- Ah, Vitor, eu jamais iria te incomodar com isso. Mas não tem problema. Eu treinei um pouco com o Rony - respondeu a garota, envergonhada.

- Pouco? Treinou bastante. Mas acho que ainda vai precisar treinar mais antes de voar nesta Firebolt - cortou Percy.

- Não seja indelicado e nem duvide dela. A Mione tem talento e inteligência suficientes para voar em qualquer modelo. Seja nas nossas vassouras ou nessa.

O comentário de Rony trouxe ordem à balbúrdia. Percy se afastou pedindo desculpas por qualquer inconveniência. Os gêmeos fizeram mais alguns elogios à vassoura e também se retiraram para acender alguns fogos de artifício que tinham trazido da loja. Hermione estava agradecida pela interferência do amigo e pela defesa que fizera em seu nome.

- Você foi muito gentil, Rony. Mas talvez o Percy tenha razão.

- Nada. Não falei da boca pra fora. Eu realmente acredito nisso. E depois você tem ao seu lado um grande apanhador, famoso e admirado por dez entre dez bruxos. Não tem como arranjar instrutor melhor.

- Obrigado, Rony - alegrou-se Krum

- Você foi ótimo... - emendou a garota ao mesmo tempo.

- Parabéns pelo fantástico presente, Mione - interrompeu o amigo - E parabéns a você também, Krum, por ter um excelente gosto. Er, acho que abusei da comida. Estou me sentindo sonolento. Vou me deitar.

- Venha ver conosco os fogos - convidou o jogador.

- Melhor não. Assim não atrapalho vocês. Tchau!

Rony subiu as escadas sem pressa. O coração, porém, estava acelerado, ao contrário do que sua atitude tranqüila dera a entender. Entrou em seu quarto e se jogou sobre a cama, encarando o teto. Da janela, ouviu sua mãe rindo dos desenhos esboçados pelos fogos. Não quis ver as figuras que os rojões estavam riscando no céu escuro. Sentia-se deprimido. "Uma Firebolt Plus!!! Nem que eu passasse dois anos economizando minha mesada eu conseguiria comprar uma", lastimou. Ainda deitado, observou seu quarto, decorado com móveis capengas e com marcas de consertos. "Quem vai querer um pobretão como eu? Só a maluca da Luna." E suspirou enquanto foguetes explodiam no ar.





*****




As horas, os dias, tudo se arrastava lentamente na mansão dos Chang. Harry não sabia o que o aborrecia mais. O servilismo de Pin, a constante severidade de Madame Kitty, a frivolidade de Kim (sempre envolta em reuniões com amigas e compras), a distância do senhor Chang e a necessidade de mimos de Cho. A todo instante ela desejava ouvir elogios à sua casa, às suas roupas, à sua beleza. E agora mãe e filha queriam apresentar-lhe uma "distinta representante dos bruxos de Londres". Nunca imaginara que o feriado seria tão entediante. E nem suspeitaria que pudesse sentir tanta falta da Toca. Lá estavam seus amigos. E Gina. Naquela semana, não pudera deixar de comparar as duas garotas. Cho era realmente linda, mas não conseguia fazer seu coração se aquecer. E a irmã de Rony? "Ela é verdadeira, leal, divertida, doce... e apimentada ao mesmo tempo", sorriu, enquanto descia as escadas.

- Que bom vê-lo feliz, Harry. Espero que esteja gostando do tratamento da nossa família - disse Kim ao surgir ao pé da escada.

- Sim. Estou gostando bastante - respondeu corando violentamente pela mentira.

Àquela altura já estavam na sala, onde o rapaz viu Cho fazendo companhia a uma mulher alta, magra, loura e com a pele do rosto muito esticada. Tão esticada que ela quase não tinha expressão. Harry suspeitou que a "distinta" convidada se esforçava para parecer mais jovem do que realmente era. Notou também que ela fumava e soltava baforadas que reproduziam uma silhueta feminina esquia e comprida que sumia rapidamente. Só podia ser uma representação dela mesma.

- Esta é uma grande amiga, Candice Scott. Já ouviu falar dos Scott, obviamente. Quem não conhece a história de sir Phillip Scott? Ele é seu bisavô, não é querida?

Harry não tinha a menor idéia de quem era Phillip Scott e o que ele poderia ter feito para ser tão importante. Afundou-se no sofá e procurou Cho com o olhar em busca de socorro. Mas a garota não entendeu seu pedido. Felizmente para o rapaz, Kim e Candice tinham muita conversa para colocar em dia e logo elas se esqueceram dos jovens. Aproveitando a distração das duas, Cho fez com que uma das silhuetas desenhadas pela fumaça engordasse até virar uma bola. Harry riu da brincadeira, chamando a atenção da visitante. Para a sorte dos dois, a fumaça já havia se dissolvido.

- Pelo visto, vocês têm se divertido nestes dias.

- Oh, sim. Um bocado - mentiu mais uma vez.

- Nestes tempos sombrios, é muito bom ver um casal cheio de alegria como vocês. Cansei das notícias ruins. Quero agora só as boas - completou a mulher loura.

- Se pudesse, eu também ficaria só com as boas. Mas nós devemos nos informar de tudo, inclusive das notícias ruins. Com Voldemort por perto a gente não pode se descuidar - comentou o rapaz, provocando arrepios nas três mulheres.

- Meu caro, não diga esse nome nesta casa. Atrai azar. O Ministério da Magia é quem deve cuidar de nossa segurança. Nós nem temos condições de enfrentar Você-Sabe-Quem.

- Não teremos se continuarmos pensando que ele pode vencer tudo e todos. Se não nos prepararmos...

- Rapaz, não é porque você o derrotou uma vez que deve imaginar que será fácil desta vez.

- Jamais pensei isso - respondeu abruptamente.

- Então, vamos deixar esse assunto para quem está realmente preparado para enfrentar o inimigo.

- Perfeito, senhora Scott - emendou num tom irônico, que apenas Cho percebeu.

Harry estava se irritando com a visitante, mas decidiu ficar calado. Ouviu o quanto pode da animada conversa que se seguiu sobre festas e gente da sociedade bruxa. Estava com a mente longe quando a loura se dirigiu a ele.

- Evidentemente, Harry estará na torcida da sua filha, Kim. Afinal, qualquer rapaz ficaria imensamente feliz de ter uma Miss Magia como namorada.

- Nós não estamos na... - Harry ia dizer "namorando", porém parou no meio do caminho.

- 'Não estamos' o quê, querido? - perguntou Candice.

- Planejando nada de especial - disse rapidamente.

- Por um segundo, achei que você ia falar 'namorando'. Mas isso seria um absurdo, não?! Afinal, você está aqui. Por que outro motivo ficaria nesta maravilhosa mansão senão fosse pelo fato de namorar Cho? É claro que você sabe que os Chang jamais hospedaram um rapaz aqui antes de você.

- Candie, você vai deixar Harry inibido - riu Kim.

- Minha querida, saber disso só o fará se sentir orgulhoso.

Harry nem notou que Cho ficara vermelha. Ao ouvir "Candie", sentiu a fúria tomar conta dele. Acabava de descobrir que estava diante da autora da nota social com a qual Tonks se divertira dias atrás.

- A senhora assina uma coluna no Profeta Diário? - esforçou-se em manter o tom de voz natural, embora fervesse por dentro.

- Você conhece minha coluna?! Que bom. Na verdade, esse é só um passatempo.

- Numa nota recente a senhora fez uma referência ao concurso. Falava da Cho e de mim?

- Mas eu fui bem sutil, não acha? - piscou o olho.

- Alguém chegou a descobrir de quem se tratava? - perguntou, controlando a raiva.

- Bruxos podem ser muito espertos. E digamos que vocês não foram muito discretos em Hogsmeade - gargalhou a loura. - Mas não se preocupe. Os holofotes mudam de direção a todo instante. E, para ser bem sincera, apenas uma pessoa me ligou para saber de quem se tratava.

- Quem, Candie? - perguntou Kim, ardendo de curiosidade.

- Aquela prima esquisita de Lúcio Malfoy, Ingrid Fulton.

- A solteirona?

- Essa mesmo, Kim. Não gosto dela. Nunca recebe ninguém em sua casa. Sei disso porque ela é minha vizinha - retorquiu Candice.

- E essa prima de Malfoy obteve a resposta? - interrompeu Harry, cada vez mais nervoso.

- Acha que eu passaria alguma informação assim, de graça? Ora, ela que circule mais pela sociedade. Ingrid nunca sai de Scottville!.

- Scottville?

- Vai me dizer que nunca ouviu falar de Scottville? - espantou-se a visitante.

- É um condomínio bruxo de luxo em Londres. Foi criado pelo bisavô de Candice. São poucas as áreas exclusivas de bruxos na cidade, Harry. As mais famosas são o Beco Diagonal e Scottville - explicou Kim

- Harry ainda tem muitas coisas a aprender do mundo dos bruxos. Ele foi criado por trouxas - acrescentou Cho.

- Já me contaram. Oh, Harry, por que não conversamos um dia desses sobre sua vida com os trouxas? Eu poderia arranjar um belo espaço para você. Não tenho idéia por que nunca mencionaram o nome dessa família e nem onde vocês vivem. Ah, daria uma matéria fantástica.

- Não gosto de falar da minha vida pessoal - respondeu secamente.

- Hum, já se comporta como uma celebridade. Muito bem, rapaz. Você precisa assumir seu papel.

- Assumir meu papel? Certamente. Essa é a coisa mais sensata que ouvi nesta noite - alfinetou Harry, deixando as três confusas, sem saber se aquilo fora um elogio.

- Obrigada, rapaz. Costumo ser bem sensata. E você me parece bastante ajuizado. Excelente escolha, Cho, querida. Hum, acaba de me ocorrer que vocês poderiam passar uma tarde em minha casa. Seria ótimo. Tome aqui, Harry. Eis um passe de entrada para Scottville. Guarde-o com cuidado. Nós, moradores do condomínio, somos rigorosos com nossos visitantes. Apenas as famílias mais distintas recebem esta honraria - sorriu a loura, que fez surgir com um toque da varinha um convite dourado.
Harry pegou o papel onde estava escrito em letras de fogo "Scottville - Portaria Principal (Alameda Emily Scott sem número)". Se pudesse, ele o arremessaria imediatamente ao lixo. Guardou-o no bolso, porém, e retribuiu o sorriso de Candice.

- Não mereço tanta gentileza - debochou.

- Você merece - riu, para em seguida mudar o tom de voz, agora irritado - Quem não merece é Ingrid Fulton. Aquela mulherzinha. Estou até agora engasgada com o que ela me fez.

- E o que ela fez, Candie? - perguntou Cho, tão curiosa quanto a mãe.

- Bom, como eu não estava disposta a contar nada a Ingrid, ela insistiu e insistiu. Até que falou que podia dar uma informação em troca de outra. Eu respondi que só se fosse uma realmente boa. Ela jurou que era. Então, me disse que estivera na casa de Narcisa recentemente e que ouviu por acaso uma conversa dela com a senhora Crabbe. Podia ser algo bem interessante, mas aquele pedaço seco de mulher não me apresentou nada de valor. Aliás, não me falou nada na hora. À noite, ela me enviou uma coruja com uma cartinha ridícula. Nunca mais Ingrid vai me pregar uma peça dessas.

Harry agora estava interessado e pediu detalhes. A prima de Lúcio Malfoy podia ter dado alguma dica importante para a Ordem. E o rapaz tinha certeza que Candice não iria perceber uma notícia relevante mesmo que ela viesse piscando em cor verde limão. A colunista acionou a varinha mais uma vez, fazendo com que um bilhete aparecesse na mesa.

- Pode ler à vontade. É uma bobagem - disse e na seqüência voltou a falar sobre o concurso com Cho e Kim.

A mensagem era longa, escrita numa letra miúda e irregular. Harry se esforçou para entender o que estava escrito. "Candie, não me esqueci da promessa. Só não te contei àquela hora porque queria verificar uma coisinha. Na noite em que estive na casa dos Malfoy ouvi Narcisa cochichando algo que só pude captar em partes. Escutei claramente 'sem-nariz', 'velho teimoso', 'o refúgio de Lovett' e 'o segredo da passagem'. O único sentido que encontrei nessas palavras foi a respeito do refúgio. Meu primo, com quem você sabe que nunca me dei bem, teve um colega em Hogwarts que se chamava Lovett. Mas, pelo que me lembro, esse sujeito morreu há mais de vinte anos. Por que o nome dele foi mencionado era um mistério para mim até que me veio à mente o álbum de fotografias de minha mãe, que conservo comigo por puro capricho. Lá encontrei um antigo retrato que mostra Lúcio, ao lado desse Lovett, diante de uma cabana de caça. Então, recordei que eles a chamavam de refúgio. Bingo! A cabana voltou a ser usada. Imagine por quem. É o máximo que posso fazer por você, pois não sei onde fica esse refúgio. Não tenho como utilizar essa informação. Mas talvez você tenha como aproveitá-la. Quem sabe assim Lúcio e Narcisa aprendam a me respeitar. E finalmente me entreguem o camafeu que a avó Malfoy sempre disse que seria meu. Acredita que até hoje eles tentam me enrolar com essa história de que o camafeu se perdeu? Tenho certeza de que ele está naquela casa. Um dia vou encontrá-lo ou não me chamo Ingrid Fulton."

Para Harry, foi como se tivesse soado um sinal de alerta. Em suas mãos estava uma pista de onde se encontravam Lúcio Malfoy e Moody. O 'velho teimoso' e o 'sem-nariz' só podiam se referir ao amigo desaparecido. Eles deveriam estar no refúgio do antigo parceiro do Comensal. Ergueu-se da cadeira, sentindo o estômago doer e a boca secar. As mulheres o olharam sem entender. O rapaz se dirigiu a Candice.

- A senhora não mostrou isto para o Ministério da Magia? Os aurores poderiam usar essa informação.

- Não dê credibilidade a essa mulher. Está na cara que isso é tudo mentira. Harry, é notória a briga que ela teve com Lúcio Malfoy por causa desse camafeu ridículo. Ela está sempre aprontando confusões na família por suspeitar que a jóia está com eles. Mas Narcisa jurou-me que o camafeu, que é um objeto muito feio na minha opinião, sumiu. Não é a primeira vez que Ingrid inventa histórias para prejudicar os Malfoy. Ela foi à casa de Narcisa para bisbilhotar. Como não achou nada, me procurou na verdade para ver se eu caía nessa novelinha que criou. Estou realmente aborrecida com essa minha vizinha. Oh, faça um favor, sim?! Jogue essa mensagem fora. Cansei dessa tolice.

Harry fez que sim com a cabeça. Em seguida, reclamou de uma forte dor de cabeça. Com essa desculpa, ele se despediu e correu para o quarto. Mal fechou a porta, começou a arrumar sua mala. Tinha de ir à Toca e mostrar a mensagem de Ingrid Fulton para o senhor Weasley e os outros membros da Ordem. Depois de aprontar a bagagem, rabiscou um bilhete em que dizia ter sido chamado de última hora para cuidar de sua coruja, que estava muito doente. "Uma mentirinha ao estilo de Cho", pensou. Já era tarde quando desceu as escadas rumo à porta. No instante em que saiu para o jardim, foi cercado pelos gatos de Kitty. Eles não o deixavam andar direito e miavam sem parar.

- O que vocês querem? Estão me enchendo o saco - disse enquanto tentava arrastar a mala.

- Para onde vai, Harry Potter?

O rapaz saltou para um lado, a varinha em punho. Era a avó de Cho que usava um robe grosso para se proteger do frio cortante. Seu rosto exibia o tradicional ar de severidade, porém ela mesma parecia estar bastante tranqüila.

- Tenho de ir. Surgiu um problema de última hora.

- E vai sair desse jeito, na surdina e sem se despedir de nós?

- Deixei um bilhete no quarto. Ahn, agradeço a hospitalidade. Eu me diverti bastante.

- Não minta, rapaz. Sei o quanto esta casa consegue ser exasperante.
Harry se surpreendeu mais com essa frase do que com a aparição de Madame Kitty.

- Eu...

- Vejo claramente que você não está à vontade aqui. Talvez porque você não seja o homem para a minha neta.

Aquilo também o espantou.

- Não sou bom o suficiente para ela?

- Ah, você é bom, sim, mas é muito diferente dela. Acabaria infeliz ao lado de Cho. Adoro minha neta, mas acho que ela precisa mudar bastante até encontrar alguém com juízo e bom coração. Você parece ter grande coração.

- E juízo? - perguntou, ainda assombrado pela conversa que estava tendo com a mulher.

- Precisa melhorar esse quesito. Agora vá, se necessita realmente ir embora desse modo. Você pode aparatar a partir do portão.
Andaram em silêncio. Com Kitty por perto, os gatos abriram caminho para Harry. O jovem bruxo estava tentando entender a personalidade da senhora. Tinha se enganado redondamente com todos naquela casa. Os que o acolheram com simpatia no início agora lhe pareciam os mais desagradáveis. Mesmo Cho. Isso o faz pensar na verdade contida nas palavras da "madame". Não poderia nunca ser feliz ao lado da garota. Assim que chegaram ao portão, Harry se lembrou que deveria haver um auror por perto. Mas como encontrá-lo? Olhou de um lado para o outro da rua. Nenhum sinal de presença humana.

- Se está procurando o auror de plantão, melhor esquecer. Não conseguirá vê-lo.

- Como?

- Jovem, moro nesta região há muitos anos. Conheço cada folha, cada lata de lixo, cada pedra e cada gato da vizinhança. Eles se comunicam comigo e sei que dia e noite um auror está de prontidão para tomar conta de você. Pode avisar que mandarei um recado para seu "guarda-costas" - e deu uma leve risada. - Gosto de aurores. São excelentes pessoas. Entre as melhores do nosso mundo.

- Sua neta não pensa da mesma maneira.

- Ela ainda tem muito a aprender. E já que falou de Cho, o que devo dizer quando ela me perguntar para onde o senhor foi?

- Eu vou para a Toca.

- Toca?

- É a casa dos Weasley, uma família muito boa.

- Conheço os Weasley. Têm excelente caráter.

Harry se sentiu grato pela observação. Sorriu para Madame Kitty, que também exibiu um sorriso, embora fosse sutil. O rapaz estendeu a mão para a senhora e ela a apertou com firmeza. E então desaparatou.










Nossa, ainda bem que o site voltou ao ar... Não queria deixar esta história incompleta.

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