O Labirinto



Resumo do super cap. anterior (super porque grande) – Harry, Rony e McKinley partem para Berlim onde se encontram com o alquimista Dieter Gutmann, o último integrante de uma sociedade secreta conhecida como A Ordem dos Inseparáveis. Gutmann conta sua história e se mostra ainda apaixonado pela esposa, Anya, que havia perdido a vida numa luta contra Comensais no passado. Mione decide escrever para Rony e dar uma indireta já que foi pedida em casamento por Krum. O rapaz resolve ir atrás da garota, disposto a impedir que ela se case. Draco intercepta as cartas entre Harry e Gina e escreve outras no lugar delas, dando a entender que não há mais amor entre eles. Gina fica fragilizada, facilitando a aproximação de Draco. Harry, desolado, resolve beber além da conta na despedida de Rony. No retorno, o trio é atacado por Comensais liderados por Belatrix. Rony é obrigado a lutar porque Harry, afetado pela bebedeira, não consegue reagir. Ele é aprisionado por uma planta encantada por seus inimigos. Gutmann tenta salvá-lo. Mas é Rony quem o livra. Rony enfrenta Belatrix e perde. Quando a bruxa joga a maldição imperdoável fatal, Harry se lança à frente, disposto a se sacrificar por seu amigo. Ele usa, porém, a espada reforçada pela magia do velho dragão chinês. A espada resiste à maldição e há uma forte liberação de energia. Os Comensais escapam. Harry reencontra Gutmann, ferido mortalmente. O trio se junta em torno do mago, que se despede do mundo com a perspectiva de reencontrar sua amada e seus amigos da Ordem. Ele se vai com um sorriso. Harry e McKinley partem para um novo destino e abolem o correio dos exilados. Rony volta para a Inglaterra e procura Mione. Os dois, finalmente, ficam juntos.





Harry ainda estava deitado quando ouviu passos se aproximando da porta de seu quarto. Era mais cedo do que costumava se levantar. Mas não se incomodou em despertar de vez. Sabia que havia um motivo. Afastou um pouco a coberta e ergueu o tronco. Pegou os óculos e com um movimento da mão fez a porta se abrir. Com o punho fechado pronto para bater na madeira, estava um rapaz alto e magro, mais velho do que Harry, porém ainda jovem. Seus olhos arregalados demonstravam o espanto.

- Com todo esse tempo que estou trabalhando como assistente do professor McKinley, devo dizer que você ainda me surpreende, Harry. Eu fiz o menor ruído possível...

- Em geral, o silêncio é minha companhia mais constante quando estou no quarto, Chris. Quando se quebra a rotina, consigo perceber – respondeu o jovem, saindo da cama e começando rapidamente a trocar de roupa. Fazia frio.

- Ah, eu vim te avisar que a Edwiges chegou! Dois dias depois do seu aniversário, mas chegou! – comentou o sujeito, animado.

- Normal. O McKinley anda cada dia mais zeloso. Não acho que precisava criar uma rota para confundir eventuais perseguidores. Fazia dois anos que ninguém escrevia para a gente quando o correio foi reaberto.

- Aquilo foi tão empolgante! Lembro até hoje o dia em que a Edwiges saiu e reapareceu um dia depois, com uma carta daquele seu amigo que você vive falando.

- O Rony.

- Esse mesmo. E agora? Vamos ver o que a Edwiges trouxe? – perguntou, ansioso.

Harry terminou de vestir a blusa e lançou um olhar de “ah, qual é?”. Chris ficou ligeiramente desapontado. Coçou os cabelos pretos, fez uma careta e andou pelo quarto, esperando por outra resposta.

- Chris, eu não tenho pressa. Se há uma coisa que a gente precisa aprender aqui, nesta atmosfera, é que o tempo tem um ritmo a ser obedecido.

- Arre, nem me fale. Gosto de agitação! – murmurou o rapaz, olhando pela janela a neve cintilando sob o sol da manhã. A neve que cobria picos majestosos.

- Faça o seguinte: volte para o seu quarto, vista-se porque você ainda está de pijama, caso não tenha percebido, e dê um toque no McKinley. A gente se encontra na mesa do café. Eu levo a mensagem que a Edwiges trouxe.

Chris se retirou no mesmo instante, voltando para seu quarto. Harry deu de ombros. Fazia mais de um ano que o rapaz era o assistente de McKinley e ainda assim não conseguia se sentir plenamente à vontade com ele. “Nem sei por quê. Deve ser só implicância da minha parte. Tudo porque ele não é o Rony”, pensou. De fato, Chris nada fizera que merecesse crítica. Pelo contrário. Era muito dedicado. E procurava ser discreto. Dois pontos muito positivos na visão do professor. O escocês tinha decidido arrumar um novo auxiliar depois da passagem pela Jordânia, onde fora concluída a dedicação à alquimia. Os seis meses passados no deserto tinham lhe mostrado que era melhor contar com uma pessoa para ajudá-lo com os detalhes da vida no exílio. “Perder tempo procurando uma fonte de água com a minha varinha enquanto comia poeira foi demais para mim”, resmungara no dia em que a dupla aportara em Salem, a cidade bruxa dos Estados Unidos. Lá, McKinley recorrera a antigos amigos e pedira a indicação de alguém para ser seu assistente. Um auror aposentado recomendara Chris Taylor, um rapaz que tinha pouca experiência como auror, mas que estava sempre disposto a aprender. E assim o rapaz de cabelos e olhos negros se unira aos exilados.

Harry deixou seu aposento e se encaminhou para um celeiro que havia perto da casa onde estavam. Antes de abrir a porta da sala, prendeu o último botão do casaco. Era muito cedo e o vento aumentava a sensação de frio. Era inverno no hemisfério sul. Quando saiu, recebeu uma lufada de ar gelado. Aquilo o arrepiou, mas chamou sua atenção para a beleza do cenário em torno. “Velho Mac, você se superou ao escolher este lugar”, murmurou. Estavam num território sagrado, com picos elevados que se recortavam no céu azul, limpo de nuvens. Era um segredo da Confederação Internacional dos Bruxos. No coração dos Andes, numa terra encantada e protegida por uma barreira de feitiçaria viviam os últimos Incas, pessoas que os trouxas davam por desaparecidas havia séculos. Entre aquela gente, havia quem tivesse poderes mágicos. E havia quem não tivesse o dom. Porém, todos viviam em harmonia. Harry se sentia feliz de encontrar uma comunidade como essa. Dava-lhe a impressão de que um dia bruxos e trouxas poderiam se entender, apesar das diferenças. Ele não seria visto como uma aberração. E seu mundo poderia ser compreendido.

Andando como um igual entre os Incas, seu coração voltara a se aquecer. Desde o dia da carta derradeira de Gina e do ataque dos Comensais, trancara-se numa redoma invisível, gelada como os picos dos Andes. Blindara seu espírito, pouco se comovendo com o que estava fora da redoma. Resolvera que seria desse jeito para que não mais experimentasse a dor que experimentara. Até fisicamente se transformou. Encorpou um pouco, embora continuasse magro. Deixou os cabelos crescerem e cultivou uma barba rente à pele, com aspecto descuidado, de quem tinha preguiça de fazê-la pela manhã. Em Salem, as bruxas se sentiram atraídas pelo viajante misterioso. McKinley e Harry tinham arrumado uma casa distante do centro, porém ocasionalmente saíam juntos à noite, protegidos pelo anonimato e pelas mudanças na aparência. Nesses momentos, as moças lutavam para chamar a atenção do jovem de olhos verdes, que nunca dizia seu nome verdadeiro. McKinley incentivava o aprendiz de auror a conhecer as garotas, numa tentativa de arrancá-lo de seu mutismo. Harry, para tranqüilizar seu professor, aceitava as investidas. Tinha beijado algumas, e chegara a ir além do beijo com outras. No entanto, afastara-se de todas. Não pretendia se emocionar com ninguém mais.

Seis meses de Salem tinham sido o suficiente para enfastiar Harry. McKinley notava que dia a dia estava perdendo a concentração do aprendiz. Ele continuava empenhado nos treinos e nas lições. No entanto, sua mente estava distante. O máximo que fazia era se lamentar pela perda dos poderes mágicos da espada. Harry sabia que isso tinha sido fundamental para salvar sua vida. Porém não estava muito interessado em sua vida. Em seguida, já na companhia de Chris – que tinha sido aprovado após uma série de entrevistas e testes aplicados pelo escocês –, os três tinham se mudado para uma pequena cidade no interior do Quênia, onde ficaram estudando a magia dos xamãs da região durante um semestre. Isso, entretanto, não melhorara a situação. Harry não se animava. Cumpria o programa à risca, sem questionar nada que seu orientador lhe oferecia. Diante da falta de entusiasmo do pupilo, o professor decidira, então, fazer uma aposta alta. Muitos anos atrás, quando ainda era um auror errante, McKinley conseguira chegar ao território inca. Aventurara-se sozinho, como sempre, e tivera êxito em descobrir o caminho para a Montanha Sagrada. Por acaso, durante o longo percurso que fizera na cordilheira, esbarrara num importante homem do povo escondido, que estava disfarçado de camponês. Graças a sua simpatia conquistara a confiança do sujeito, o qual jamais suspeitara se tratar do líder da comunidade. O que na língua deles era chamado de curaca. Tempos depois, ele se revelara e garantira a McKinley o acesso ao lugar mágico. “Levarei Harry para lá. É impossível que ele não se sensibilize num ambiente como aquele”, matutara antes de escrever uma mensagem para o homem.

E McKinley acertara em cheio. Quando o portal criado pelo escocês se abriu numa picada aberta no meio de uma mata de montanha, Harry recordou-se imediatamente do tempo passado com Mestre Lao. Um tempo em que ainda acreditava em seu destino. Tinha suspirado com desencanto na ocasião. Iniciara em silêncio a árdua subida, já sabedor de que o lugar para onde iam não era acessível por magia. Ao atravessarem uma região encoberta pela neblina, Chris relutara em prosseguir. McKinley contara aos rapazes que os camponeses locais não gostavam de subir até ali por causa da lenda que dizia que quem mergulhasse na neblina se transformaria numa estátua de pedra e nunca mais regressaria para casa. Harry não ligara para a história, porém o assistente resmungara, contrafeito. “Não tenho família, mas aprecio a vida. E não pretendo terminar meus dias petrificado nesta montanha gelada”, despachara durante a caminhada. McKinley dera risada até o momento em que se aproximara de uma parede lisa como um espelho. Harry tinha sacado a varinha e alertado o professor que havia um animal sentado numa pedra, bem perto deles e que estava protegido pela neblina. O escocês se limitara a balançar a cabeça. “Ah, ele tinha de estar aqui mesmo. O que quer que aconteça, rapazes, não se mexam. Olá, Inti! Abra a passagem para mim. Eu peço com humildade”, e fizera uma reverência para a criatura, exibindo ao mesmo tempo um medalhão dourado onde se via uma figura estilizada do sol. Um rugido havia soado e subitamente o animal saltara, abocando o medalhão e levando o objeto para o lugar de onde viera. Um minuto depois, a parede começara a se mover, revelando uma passagem secreta no meio da montanha. E desse modo acessaram o território inca. Acompanhados pelo puma, felino venerado pelo povo e que guardava a entrada do lugar sagrado.



*****

Harry deixou a casa onde ele, McKinley e Chris se alojavam desde que tinham chegado à comunidade. Era o lar do curaca. Enfiou as mãos no casaco e atravessou o pátio, rumo ao pequeno celeiro onde ficava a gaiola de Edwiges. Assim que entrou, viu que sua coruja estava sendo alimentada por uma garota de longos cabelos negros, divididos em duas tranças. Edwiges soltou um piado e a moça, alertada da presença do bruxo pelo som, se virou para o rapaz.

- Bom dia. Você se levantou cedo. Ouviu Edwiges chegando?

- Sim, ouvi, Nina. Mas o Chris veio me chamar antes que eu tivesse pensado em vir até aqui – respondeu, sorrindo.

- O Chris é sempre tão ansioso. Parece que está procurando algo o tempo todo. O pior é que ele não consegue enxergar o que vê. Sei que é a personalidade dele. Mas, enfim... Ainda bem que você não é assim.

Harry a olhou com curiosidade, desejando saber como era. Apesar de exibir um aspecto plácido, Nina, a filha de seu anfitrião, ficou sem jeito. Desviou o rosto e deslizou os dedos pela cabeça branca de Edwiges.

- Sabe, você mudou desde que chegou aqui. Quando te vi pela primeira vez, tive a impressão de encontrar uma pessoa fria e incapaz de se sensibilizar. Um ser sem alimento para a vida. Você parecia alguém que bebia e comia apenas para ficar de pé. Dava a sensação de que somente acordava para cumprir obrigações e que em seu repouso não havia sonhos. Eu me dizia: “está aí um homem que anda sem olhar para os lados”. Depois, com os dias, percebi que o verdadeiro Harry despertava. Você tem calor, movimento, energia. Vi também que você se preocupa com os outros. É gentil e generoso. Tudo isso estava adormecido. Ah, não ria de mim. Foram essas mudanças que notei. Só tem uma coisa que não se alterou: você continua muito fechado. Se eu tento avançar um passo para te compreender melhor, você se afasta.

- Desculpe. Eu não estava rindo de você. Mas de mim. Eu estava exatamente desse jeito. Err, jura que eu me afasto? É muita grosseria da minha parte. Perdão de novo. Agora, sempre que quiser dar um passo, prometo ficar parado.

Nina bateu as mãos para livrar-se dos restos do farelo que dera à coruja. Encarou o jovem, fixando suas pupilas negras nos olhos verdes do rapaz. Em seu rosto moreno, surgiu uma expressão que intimidou Harry. “Não devia ter falado isso. Só falta ela me perguntar coisas que não posso responder”, pensou.

- Muito bem. Darei um passo. Por que escreveu ao seu amigo dizendo que não iria ao casamento dele? – perguntou, movendo-se lentamente para ficar mais perto do bruxo.

Harry inspirou fundo. Essa era a pergunta que todos tinham lhe feito seis meses atrás, quando Edwiges trouxera uma surpreendente carta de Rony, falando que ele e Hermione iriam se casar e que o casal contava com sua presença como padrinho. E sublinhara que o próprio Dumbledore aprovava a idéia de convocar Harry para um merecido – e seguro – intervalo. McKinley saltara da cadeira, de tanta alegria. “Vamos rever nossos amigos, meu caro. Já estava na hora”, tinha dito na ocasião. Mas ele jogara um balde de água fria no orientador. Durante muito tempo, sonhara com o retorno. Agora, porém, não queria se atrever a sair da vila. Não desejava abrir mão da paz de espírito que encontrara. Ainda mais porque o regresso implicava em reviver uma velha ferida: a rejeição de Gina. Sem dúvida, ela estaria lá. Por isso, optou por recusar a viagem, alegando que não pretendia se expor e correr o risco de atrair Comensais até a festa de seus melhores amigos. Estupefato, McKinley argumentara que o perigo era mínimo. Harry, entretanto, não se deixara convencer. Não perdera tempo e escrevera para Rony, desculpando-se pela impossibilidade de atender o convite e enviando um cheque bruxo com uma bela quantia de galeões como presente de casamento.

- Creio que já expliquei meus motivos.

A garota andou mais um passo na direção de Harry. Tinha nas mãos uma nova carta de Rony, que estendeu para o rapaz.

- Tome! Eu tirei de Edwiges. Talvez aqui teu amigo te cobre mais razões. Eu mesma não sei se é apenas a segurança dele que te preocupa. Eu... – hesitou, enquanto observava Harry pegar a carta e enfiá-la no bolso. – Eu preciso contar que sem querer descobri algo que me fez pensar na sua justificativa e imaginar que tem mais coisas por trás da sua decisão. Lembra-se daquela vez que você sofreu um acidente feio? Isso foi uma semana depois da carta do Rony.

- Sim, lembro. Foi ridículo. Achei que podia voar nas costas de Quilla, como você e seu pai voam... – interrompeu Harry.

- Embora Quilla seja um condor especial, ela é um animal consagrado à minha família. Ela não gosta de voar com pessoas estranhas e naquele dia devia estar irritada com alguma coisa.

- Não foi isso. É que eu estava nervoso. Acho que a machuquei de algum modo. Por isso, ela fez aquela rasante e eu perdi o equilíbrio. Não conseguir amparar a queda direito foi muita estupidez da minha parte.

- Realmente, você ficou nervoso naquele dia. E esse acidente te fez tão mal que à noite você teve febre. E delírios.

- Sério? Nem foi tão grave assim. O que é cair em cima de um cacto cheio de espinhos venenosos?! – debochou, olhando para fora pela porta que estava entreaberta.

Nina distendeu os lábios ligeiramente, dividida entre rir ou se manter séria. Mas a jovem estava decidida a arrancar a história que a intrigava.

- Deixe-me continuar. Como você me autorizou a ficar no seu quarto, passei a noite inteira ao seu lado. Depois que meu pai e o professor McKinley se foram, eu ajeitei seu travesseiro e então, num de seus delírios, você falou um nome que nunca tinha ouvido da sua boca – contou, notando que Harry virou o rosto em sua direção imediatamente, com apreensão. E, enfim, ela despejou a dúvida que a perseguia desde aquela noite. – Quem é Gina? E o que ela te fez de mal?

O rapaz arregalou os olhos. Seu estômago se contraiu. Sem raciocinar, recuou um passo e, em seguida, soltou uma imprecação. Tinha se afastado, exatamente como Nina dissera que fazia sempre que ela tentava ter uma conversa mais íntima com ele. Fez uma careta e tratou de voltar ao lugar. Limpou a garganta antes de responder, procurando recuperar a calma.

- Ela é a irmã do Rony e não fez nada contra mim. Pelo contrário. Já salvou minha vida. De onde você tirou que ela me fez mal?

- Irmã do Rony?! Eu não sabia! Naquela noite, você dizia que não queria vê-la. Era mais ou menos assim: “Não vou te ver, Gina, não vou”. E repetia isso como se estivesse brigando com alguém. Imaginei que você estivesse zangado com ela. E que ela fosse um motivo para não ir ao casamento.

- Não tenho nada contra ela. Só que uma vez discutimos feio. Há muito tempo. Acho que meu inconsciente trouxe a cena de volta à memória. Só isso – disfarçou, recordando-se que sonhara com Gina, de fato, e que tinha brigado consigo porque desejava vê-la, apesar de temer o encontro.

Nina arqueou as sobrancelhas.

- O detalhe, Harry, é que seu inconsciente trouxe mais coisas. Meu pai tinha preparado um chá para baixar sua febre e pouco antes de dar um pouco dele para você, o delírio retornou. Quase não te entendi. Sei que você se queixava de alguém ter te abandonado e apertava essa medalhinha que carrega no pescoço.

Instantaneamente, Harry segurou a medalhinha sob a camada de roupa que o agasalhava do frio. Abaixou a cabeça, pensativo. Nina continuava parada perto dele. “É inútil esconder”, refletiu. Então, decidiu se abrir.

- Eu gostava dela. Muito. Ficamos juntos numa época. Nesta medalhinha está guardada uma mecha dos cabelos dela... Nem sei por que ainda a carrego comigo. Ela não gosta mais de mim. E eu tinha praticamente me esquecido de tudo isso.

- Você gostava dela ou ainda gosta? – perguntou Nina, com um ligeiro tremor na voz, que Harry não percebeu.

- Não sei. Não quero pensar nisso.

- É por isso que não quer ir ao casamento do seu melhor amigo? Para não ter de pensar nisso?

- Não quero pensar em coisa alguma. Basta saber que aqui vivo em paz. Nada me atormenta. Estamos seguros e eu não ofereço perigo para ninguém.

- Oferecer perigo? De que maneira? E você é um mago excelente!

- Como se isso garantisse minha felicidade – ironizou, pensando em tudo que já passara.

Os olhos negros de Nina voltaram a perscrutar os verdes de Harry.

- Aqui você é feliz?

- Acho que vivo o mais perto disso. Depois de Hogwarts, a escola onde estudei, esta vila é o mais se parece com o meu lugar. Se o Rony e a Mione vivessem aqui, aí estaria perfeito.

- E a Gina?

- Ela faz parte do passado. Não do presente, nem do futuro.

- Se fosse tão passado, você não ficaria com receio de ir ao casamento de seu amigo e encontrar com ela.

Harry engoliu em seco.

- A última vez que tive notícias dela, ela estava namorando alguém. Isso me machucou muito porque eu acreditei que o sentimento seria para valer, que duraria para sempre. Acho... acho que o pé na bunda ainda me magoa. Talvez magoe. Sei lá – suspirou, passando as mãos nos cabelos. Surpreso por se revelar tanto, deu um sorriso triste. – Pronto! Você arrancou algo em que eu não vinha pensando faz tempo. Mas nem vou pensar mais. Prefiro deixar tudo como está.

- Entendi. Mas e se... – Nina titubeou mais uma vez. Porém foi em frente. – E se ela não estiver mais namorando? Bom, existe essa chance, não é? Se você pudesse descobrir isso, poderia ir ao casamento do Rony sem problemas.

- Não sei. Ela não gosta mais de mim. Ela foi bem clara na carta que escreveu. E para que isso? Eu não tenho certeza se restou alguma coisa daquele sentimento em mim. Eu tenho a mágoa. Mas o sentimento? Ah, e quem quer saber disso?!

Nina não respondeu. Pediu licença para preparar o café da manhã e partiu. Harry ficou parado, pesando a possibilidade levantada por Nina. Como reagiria diante de Gina? Seriam reações diferentes se ela estivesse com alguém ou sozinha? “E como é que eu vou saber? Já se passaram dois anos desde a carta. Apaguei tudo da cabeça desde aquela época. Eu nem olhava mais para o retrato dela”, refletiu. Edwiges soltou um piado, arrancando-o da distração. Os olhos da coruja o seguiram como se cobrasse a leitura da carta que trouxera. Harry desenrolou o pergaminho. “Harry, seu maluco. Que história é essa? Estamos seguros aqui! Ainda mais que acabo de ser nomeado auror do Ministério da Magia. Fiz os testes e o resultado veio agora. Cara, é mais um motivo para você sair daí, seja lá onde estiver. Venha comemorar comigo. E aproveita e presta o exame. Ok, Ok. Vou entender se insistir em ficar escondido. O Dumbledore disse que você sabe o que faz. De qualquer forma, montamos um esquema para te receber. Quando você e o McKinley chegarem, irão para uma sala que fica atrás do altar que estamos montando no jardim da Toca. Aí, vocês só entram na hora do casamento. Depois, vão embora quando o Dumbledore encerrar a cerimônia. Tá vendo? Eu e a Mione pensamos em tudo. Ora, por favor, venha! Escreva se resolver mudar de idéia. Caso contrário, fica valendo aquela sua resposta baixo-astral. Ah, desculpe! É que gostaríamos muito de estar com nosso grande amigo no momento mais feliz das nossas vidas. Abraços do velho Rony. P.S.: Venha, Harry. Você faz falta. Um beijo, Hermione.”

Harry dobrou o pergaminho com o coração apertado. Notou que Edwiges ainda seguia seus movimentos com atenção. “Bandida! Está me analisando. Mas eu vou enganá-la”, disse para si. Assobiou enquanto guardava o papel no bolso do casaco. Aproveitou para dar uma olhada pela porta aberta. Viu que Nina estava junto à janela da cozinha e que demonstrava por gestos que era para voltar para casa. Ela ergueu uma xícara, sorrindo. O café estava pronto. O rapaz não evitou a admiração. Quando Nina sorria era como se o ar ficasse mais leve ao redor. Fez sinal de positivo com os dedos e a moça saiu da janela. Harry tinha lhe ensinado o significado do gesto. “Além de ser inteligente, é a moça mais bonita da vila inteira”, pensou também sorridente. Então, se deu conta que ela era sua companhia mais fiel nos últimos meses. Sim, os dois ficavam mais tempos juntos do que ele passava com McKinley. Nina cumpria um pouco o papel que Rony desempenhara em seus primeiros anos como aprendiz de auror. Sem falar que ela era meiga e paciente, como nunca seu companheiro poderia ser. E que a garota o tratava bem demais. Assustou-se um pouco com o que isso sugeria. “Será que a Nina está interessada em mim?”, perguntou-se espantado, tentando adivinhar quais as chances de essa hipótese ser real. No entanto, outro piado da coruja o arrancou do devaneio.

- Pode ficar sossegada, Edwiges. Não vou mandar resposta. O Rony e a Mione vão ter de me desculpar, mas eu não irei. É melhor assim. Para todo mundo – murmurou.



*****



Hermione parou diante do espelho comprido que ocupava parte de uma parede do quarto de Gina. Soltou um riso triunfante. O vestido branco que ela e sua futura cunhada tanto tinham se empenhado em produzir estava perfeito.

- Ficou lindo – pulou, batendo palmas.

- Tinha de ficar! A gente lutou, né, minha cara – riu Gina, guardando sua varinha no bolso traseiro da calça. – Nunca pensei que produzir um vestido de noiva desse tanto trabalho!

- Eu gosto principalmente das estrelinhas que piscam na barra do vestido. Ah, se já fosse de noite... – suspirou Mione, movendo a saia e imaginando o efeito que os enfeites dariam na hora em que as luzes baixassem durante a primeira dança do casal. – Eu falei para você colocar estrelinhas no seu também.

- Nada disso. Uma madrinha de casamento não pode chamar atenção.

- Quem está chamando atenção de quem? – interrompeu uma voz masculina.

Rony entrou no quarto de repente, fazendo as moças protestarem com gritinhos.

- Não vale! Vai estragar a surpresa – reclamou Gina, pulando sobre o irmão para cobrir-lhe os olhos com as mãos, enquanto Mione fazia o vestido desaparecer com um movimento curto da varinha.

- Uau, assim está melhor – brincou o ruivo, afastando as mãos de Gina e vendo que a noiva estava apenas de roupa íntima.

Hermione fingiu que estava brava, mas logo caiu na risada. Usou a varinha novamente para colocar a roupa que tinha vestido antes da prova. Em seguida, correu até a cama onde Rony estava sentado. Envolveu o pescoço dele e deu um beijo apaixonado no rapaz.

- Bobo! Ainda bem que não viu como vou ficar depois de tudo pronto.

- Boba! Mesmo que você ficasse verde, eu ia gostar do mesmo jeito.

- Bobos! Vão me deixar sem graça aqui... – tripudiou Gina.

A noiva se aninhou mais no colo de Rony, como para provocar a jovem ruiva. Mas aprumou o corpo e encarou o futuro marido.

- Rony, recebeu alguma resposta? O correio já se fechou, não é?!

O bruxo balançou a cabeça negativamente.

- É. O Harry não mudou de idéia. Eu até falei dos exames do Ministério da Magia, mas pelo visto ele não se entusiasmou. Vamos ter de nos conformar.

- Por que, Rony? Não vou me conformar. A gente vai ter um grupo de aurores na cerimônia. E Dumbledore. E a Minerva, o Lupin e até o McKinley, que garantiu que virá.

Gina ficou quieta, acompanhando a conversa dos noivos com muita atenção e com a pulsação acelerada.

- Eu sei, Mione. Mas não é por isso que vou desconsiderar os argumentos do Harry. Eu me lembro bem da vez em que fomos atacados. Não tínhamos feito nada. E ainda assim nos localizaram. Isso custou a vida do professor Gutmann. Jamais vou me esquecer do horror que é perder uma pessoa numa situação dessas. Então, entendo o receio dele. Ele, mais do que qualquer um de nós, tem medo de se reaproximar porque já viu muita gente morrer.

- E quem pode assegurar que o lugar em que ele está neste momento é mais seguro do que este? E que lugar é esse, tão mais poderoso? – ironizou. – No dia do casamento, Rony, vamos ter bruxos fantásticos e...

Rony puxou Mione para si e a calou com um beijo caloroso. A garota relaxou o corpo, entregue ao carinho. Ele afrouxou a pressão dos braços e separou seus lábios dos dela com uma expressão divertida.

- Claro que teremos, minha teimosinha. Concordo com você. Só que isso não muda nada. É o Harry quem decide. E quanto ao lugar, nem adianta a gente especular. O McKinley só comunicava o local escolhido no dia em que nós íamos embora.

- Então... então está garantido que o Harry não virá? – perguntou Gina, sacando a varinha para arrumar um estojo de costura que ela e Mione estiveram usando. A caixa se fechou com um estrondo, reflexo de seu nervosismo. – Nossa, foi força demais! – admirou-se.

- Foi mesmo... Agora, pensando melhor, ainda bem que o Harry não vem, querida maninha. Só desse jeito para ter certeza que o seu namorado não vai encher a paciência dele.

- Rony! – repreendeu Hermione.

- Até quando terei de repetir que o Draco não é o mesmo dos tempos da Sonserina? Arre, Rony, você já esteve com ele tantas vezes. Pára com essa implicância.

- Eu não implico! Mas que a presença do Harry seria uma prova de fogo para testar essa mudança, ah, isso seria – afirmou o rapaz e tratou de sair do quarto para não ver Gina esbravejar. Ela sempre brigava quando Rony debochava de Draco.

- Não esquenta, Gina. Um dia isso vai passar. É que foram muitos anos de picuinhas entre eles. Mas não se preocupe. Eu realmente fiquei impressionada com a transformação do Draco. E eu sei que ele fez isso por você!

- Nem ligo mais, Mione. O Rony só faz isso para mexer comigo. Pelo menos, ele nunca foi chato de verdade com o Draco – e sorriu.

Hermione deixou o quarto e Gina fechou a porta com cuidado. Tirou o sorriso do rosto e se jogou na cama. “Que droga! Por que eu ainda me abalo com o nome dele? Já faz tanto tempo. Eu devia ter esquecido!”, recriminou-se. A garota fechou os olhos e a imagem de Harry surgiu em sua mente de imediato. “Como será que ele está? Mudou? Não mudou? Estará com alguém? Ah... é ótimo que ele não venha. E, ao mesmo tempo, é ruim. Queria muito voltar a vê-lo”, suspirou, entristecida. Abraçou o travesseiro. “Sinto sua falta”, murmurou antes de sacudir a cabeça. Desejou afastar a lembrança dele da cabeça. Mas desde que Rony avisara à família que iria mandar um convite para o amigo seu coração andava disparado, concentrado na figura do rapaz. O remorso veio em seguida. Draco a amava. Era nisso que devia pensar.



*****

Alguns dias já tinham se passado e Harry estava cada vez mais incomodado com a aproximação da data do casamento. McKinley deixara de lhe perguntar o que desejava fazer. Mas os dois estavam vivendo um impasse. O programa de treinamento chegara a seu final. Quatro anos depois de iniciado no curso de auror, o professor considerava seu aprendiz totalmente preparado. Era hora de prestar o exame final, o qual ele não podia aplicar. Tratava-se de uma incumbência do Ministério da Magia.

McKinley estava à beira de uma pedra larga que se projetava num precipício. Era de lá que Tupai, o curaca, costumava sair quando sobrevoava a região nas costas do condor. Os dois tinham se ajeitado por ali, comendo queijo e bebendo um mingau preparado por Nina. Aguardavam o retorno da jovem, que levara Harry consigo nas costas de Quilla, o maior pássaro que havia nas redondezas. Quilla era descendente de uma linhagem de condores fêmeas que serviam ao líder dos incas remanescentes. Quando uma ave morria, era substituída pelo filhote que o animal escolhera e preparara como sucessor. E seu nome era sempre repetido. O mesmo ocorria com Inti, o puma sagrado.

- Os dois se dão muito bem. Você não acha? – perguntou McKinley.

- Bem demais. Por isso, eu me preocupo com minha filha – respondeu Tupai, com uma expressão de pesar no rosto.

- Ora, o que há de mal? Harry é um ótimo rapaz. Quem não gostaria de tê-lo como filho? No seu caso, que seja como genro – brincou o escocês, pegando mais um naco de queijo.

- É ótimo, sem dúvida. Ele aprende rápido. Dominou em pouco tempo tudo o que eu pretendia ensinar. Nem Nina foi tão habilidosa quanto ele.

- Eu não me referia à magia dele. Estava falando do caráter! – observou McKinley.

Tupai apertou os olhos para enxergar melhor o vôo de Quilla. A ave movia-se com graça no céu azul. E do alto lançou seu chamado. Outros condores se juntaram ao pássaro enorme naquele fim de tarde.

- Não duvido do caráter de Harry. Ele é uma excelente pessoa. Mas este não é o lugar dele. Harry precisa enfrentar seu mundo. Tem de encarar seus receios e seguir sua vida no ambiente para o qual foi destinado.

- Que jeito de dizer as coisas, meu velho?! Ademais, o lugar de um homem nem sempre é o local onde nasceu. Por este não seria o caso? Fale a verdade. Está com medo por sua filha? Eu garanto que ela será feliz ao lado de Harry!

- Ele não será feliz ao lado dela! – disse Tupai, surpreendendo McKinley. – Há algo que muitas vezes nós, humanos, não percebemos. Mas os animais sentem. E você sabe que eu tenho essa habilidade com os animais. Nós, Incas, falamos com a natureza. Nós a ouvimos. E ocorre freqüentemente que os humanos se abrem apenas com ela. A coruja de Harry me contou algumas coisas. Inti também me revelou outras. Até Quilla, que não gosta muito do seu aprendiz, por ciúmes de Nina, me abriu os olhos para essa realidade. Harry se sente à vontade aqui porque é tratado como gente comum. Nesta vila ninguém sabia de seus feitos. Vivemos num ambiente isolado e gostamos disso. Por isso, quem chega nestas terras sempre será um igual. Nem pior, nem melhor do que ninguém. Harry não tem o que enfrentar entre nós. Não tem o que responder para o meu povo. Essa é uma das razões de Harry se sentir bem aqui. Mas quando a mensagem de seu amigo surgiu, ele perdeu parte de seu equilíbrio.

- Por Merlin, não me diga isso. Estou batalhando há muito tempo para manter esse equilíbrio nele! Há anos ele quase pendeu para o lado negro da magia. Foi uma fase difícil e nem ele tem idéia do que foi...

- Não se trata de magia negra, McKinley. Fique tranqüilo. O problema é que Harry gostaria de estar entre os seus, mas reluta em seguir adiante. Está escondendo seus desejos dele mesmo. Ele está se anulando em nome da ilha de segurança que encontrou aqui. A ilha em que ele se encarcerou.

- Às vezes, ele se vê como uma pessoa amaldiçoada. Teme que os outros sejam ameaçados apenas por estar perto dele. Harry sofreu muito, Tupai.

- Harry precisa retomar seu mundo. Ele é um mago poderoso. Tem de voltar ao seu ambiente e não recear seu papel. Dele, muito se espera. Que assim seja.

- Com o diabo, Tupai, ele não é um deus!

- Nunca o vi dessa forma! Ele é um homem. E está na hora de se erguer como um e enfrentar o que tiver de enfrentar.

- Tupai, há uma profecia...

- McKinley, o período de aprendizado terminou. Você e ele sabem disso. Ele está preparado para enfrentar o que tiver de enfrentar. Deixe que o destino se encarregue do resto. Harry é um homem bom. Confie nele.

- Eu não confio é no outro lado da profecia... Há uma bruxa realmente terrível, Tupai. Ela é a maior ameaça para Harry. Ele não sabe da profecia. Nem poderia. Há uma parte que nos impede de contar para ele. Mas uma profetisa famosa por nunca ter se enganado ressurgiu para nos trazer um vaticínio maldito que está associado a essa bruxa. Não podíamos permitir que Harry se aproximasse dela. E isso aconteceu algumas vezes. Ficamos apavorados. Nós iríamos perder o Harry se não tivéssemos isolado o rapaz. Imagino o custo que tenha sido para ele. Agora, acho mesmo que ele está bem equilibrado. Espero que não tenha restado nada da influência da magia negra sobre ele.

- Uma vez você me contou que um mestre chinês sugeriu que ele fosse ao Labirinto...

- Não era prudente! Harry ainda estava sob forte influência.

- Ele não está mais, McKinley. Leve-o para lá. Será um bom teste para Harry.

- Muitos desapareceram no Labirinto, Tupai. Bruxos poderosos se perderam e jamais retornaram.

- No Labirinto, o que menos pesa é a força da magia. O que mais importa é o espírito. E eu confio no espírito do seu aprendiz – insistiu o inca, indicando com a cabeça que Harry se aproximava.

Quilla pousou com majestade e Nina saltou com agilidade. Harry pulou um tanto desajeitado porque a ave estendeu as asas de repente. O condor gigante emitiu um ruído baixo. Nina olhou para a ave com severidade.

- Páre de pregar peças no Harry. E não seja debochada!

- Não brigue com ela, por favor. Deve ter sido ruim carregar um peso extra por tanto tempo. Obrigado, Quilla. Você foi muito gentil.

O condor fechou os olhos por um segundo. Quando os reabriu, emitiu outro som. Todos entenderam seu significado. Viraram os rostos na direção em que o bico de Quilla apontara. Era Chris que vinha apressado.

- Eu... eu... não sei o que houve... Mas... ô, me falta fôlego!

- Diga logo, rapaz – alarmou-se McKinley.

- Aquele puma... ele apareceu... do nada... na porta de casa. Acho que está ferido...

A cara morena de Tupai se contraiu. Os olhos amendoados de Nina revelaram espanto. Os dois correram imediatamente rumo à casa. McKinley ordenou que Chris retirasse as mantas que estavam nas costas de Quilla e ele seguiu o mesmo caminho, acompanhado de Harry. Chris puxou a varinha que estava em seu casaco e o condor soltou um grito ameaçador.

- Calma! Eu só vou tirar as mantas, sua galinha super desenvolvida.

Quilla abriu as asas e sacudiu o corpo, livrando-se das mantas. Com as asas ainda abertas, olhou desconfiada para Chris. A envergadura de dois metros impressionaria qualquer um. Mas o bruxo deu um risinho leve.

- Pode se exibir à vontade. Você não me assusta. Como minha obrigação é apenas pegar estas porcarias aqui, posso ir embora agora, animal idiota! – e convocou as mantas no mesmo instante. – Tchauzinho, feiosa!

Chris deu as costas ao condor sem a menor sombra de medo. E Quilla seguiu seus movimentos com os olhos bem abertos.



*****

Draco aparatou diante da casa de Gina e bateu na porta. Não esperou nem um segundo para ser recebido por Rony. O irmão de sua namorada estava com o eterno olhar de desconfiança que lançava desde que soubera que o antigo inimigo freqüentava sua casa.

- Malfoy! Pensei que você só aparecesse aqui nos finais de semana.

- Oi, Rony. Realmente, quase não venho para cá durante a semana. Mas hoje é uma noite especial. São dois anos de namoro! – sorriu, pouco se importando com a cara fechada do rapaz.

- Entre de uma vez, Malfoy. Não quero ninguém reclamando de mim...

A senhora Weasley surgiu da cozinha e fez uma careta risonha ao ver como Draco estava elegantemente vestido.

- Caprichou, hein, Draco?! A Gina disse que vocês vão jantar num lugar chique. Ela está terminando de se arrumar.

- Obrigado, senhora Weasley. É o melhor restaurante de Londres! Sugeri Paris para ela, mas a Gina não quis. Disse que amanhã tem de levantar cedo.

- Ah, são coisas do casamento. Eu falei que poderia ir no lugar dela, mas a Gina é teimosa...

- Acho bom que ela continue sendo uma moça responsável – cortou Rony. – Se combinou, faz bem em seguir o acertado.

- Você está certo, Rony. Certíssimo – respondeu Draco, estalando os dedos para que surgisse um ramalhete de flores em suas mãos. – Permita-me, senhora Weasley. Trouxe este presentinho para a senhora.

- Puxa-saco – murmurou o ruivo para seus botões. Era difícil tolerar a presença de Draco, ainda mais porque ele nunca saía da linha.

Gina desceu as escadas na seqüência. Trajava um vestido preto que moldava suas formas. Os cabelos vermelhos estavam presos com uma fivela. No pescoço, um lenço escarlate. E nas orelhas, os brincos com estrelas que se acendiam por magia, aqueles que Draco suponha serem um presente de Harry.

- Nossa, você está linda! Ah, esses brincos. Você gosta mesmo deles...

- Eu gosto! Estava até pensando em usá-los no dia do casamento...

- Não faça isso. Para que repetir? Posso te dar brincos novos, se quiser.

- Ei, Gina. Eu gosto deles. Use-os na cerimônia, por favor. Por mim – interrompeu Rony, disposto a provocar Draco. Tinha escutado a conversa do casal.

Draco engoliu em seco. Teve de se esforçar para não responder torto para Rony. Irritado, decidiu sacar ali o presente que tinha reservado para a namorada. Esfregaria na cara do ruivo a realidade incontestável: Gina era sua garota. Puxou do bolso uma caixinha e se aproximou da moça, enlaçando-a pela cintura.

- Vou aproveitar este momento que sua mãe está aqui, Gina, para te dar meu presente.

A ruiva se surpreendeu com o gesto. Pegou o embrulho e o abriu, despertando a curiosidade da senhora Weasley. Ela ficou ainda mais espantada quando sacou um anel de ouro branco. Antes que pudesse falar algo, Draco se adiantou. Segurou a mão livre de Gina e a beijou com delicadeza.

- Esse presente é na verdade um pedido. Quer casar comigo, Gina?

A senhora Weasley levou a mão ao coração. Rony saltou do sofá onde estava vendo um roteiro de viagem para a lua de mel. Gina ficou vermelha e seus olhos se encheram de água. Não conseguiu abrir a boca. Sua mão tremia. Draco tomou o anel e o colocou no dedo anular da garota. Depois, ele a abraçou com ternura redobrada.

- Não precisa responder agora. Vamos jantar, passear... aí, eu te trago de volta e você pensa direitinho na minha proposta.

Gina balançou a cabeça, ainda incapaz de falar. Despediu-se da mãe, atônita, e de Rony, duro como uma estátua. Assim que o casal desaparatou, o rapaz atirou o catálogo de viagens diretamente para o cesto de revistas.

- E essa agora?

A senhora Weasley desatou a chorar.

- Estou tão feliz. Todos meus filhos estão encaminhados... – disse, convocando um lenço para limpar os olhos. – Eu sempre desejei que Gina se casasse com Harry, mas ele nunca se interessou pela minha pequenina... Oh, não faz mal. Draco poderá dar uma boa vida para o meu bebê.

- Quer parar com isso, mãe? Por Merlin, eu preferia mil vezes o Dino Thomas. Até o Neville seria bem melhor. Draco Malfoy na minha família?! Ah, isso não vai ser fácil.

- Quieto, filho! Não o julgue. Ele já fez muito pela sua irmã. E ele gosta dela como nunca vi um rapaz gostar de uma moça. Ahn, tirando você e a Mione, claro. Ah, Draco mudou, meu querido, e foi por amor. Pelo amor da nossa Gina – fungou, emocionada.

A senhora Weasley deixou a sala, mirando ansiosa o relógio de casa. Queria comunicar logo a novidade para o marido. Rony, por sua vez, afundou no sofá. Torcia para que Gina recusasse o pedido. “Vou falar com a Mione. Ela vai saber o que fazer. Se houver algo a fazer”, lamentou-se.



*****

Quando Harry se juntou a Tupai e Nina notou que o puma respirava com dificuldade. McKinley surgiu em seguida e deixou escapar um palavrão, um fato raro em sua vida. O jovem bruxo não entendia a gravidade da situação.

- O que aconteceu?

O felino, que não exibia feridas aparentes, emitiu um grunhido baixo. O curaca virou-se para a filha no mesmo instante.

- Vá, Nina. Traga o filhote. Você ouviu onde ele está.

- O que significa isso? – insistiu o rapaz.

- O puma se comunicou com eles, Harry. Inti vinha preparando um de seus filhotes para ser seu sucessor. Nina, eu vou com você. Fique aqui, Harry, e ajude Tupai no que puder. Ah, e você, Chris, faça seu papel de auror. Vá investigar! – ordenou o professor, assim que viu seu assistente chegar ao local.

Chris assentiu com a cabeça. Antes de partir, ele se aproximou do líder da comunidade inca e pediu sua atenção. O curaca estava debruçado sobre o animal, tentando fazê-lo mastigar umas ervas que fizera surgir em suas mãos. A interferência do auror naquele momento tão delicado envergonhou Harry. “Será que ele não se tocou?”, afligiu-se.

- Senhor, necessito de suas chaves, caso não se importe de ficar sem elas brevemente. Isso me poupará tempo. Eu preciso atravessar a passagem. Não sei como o puma fazia para abri-la, mas sei que há um mecanismo para que qualquer um, bruxo ou não, possa sair daqui e descer a montanha.

Tupai se manteve quieto por segundos, empenhado em fazer o puma beber a água que escorria pelo focinho quase inerte. Desanimado, enfiou a mão por baixo do poncho e sacou das vestes um molho de chaves feitas de ouro.

- Sim, há um mecanismo que só podemos acessar pela passagem e que está guardado por um portão. Use a chave com o relevo de sol.

O auror fez uma mesura pela entrega das chaves e também partiu, deixando Harry e Tupai sozinhos com Inti. O curaca olhou para o céu.

- Finalmente, livre dele! Harry, vou precisar de minutos de solidão. Fique por perto, se quiser. Mas este momento é meu, de Inti e dos espíritos!

O bruxo ficou quieto, observando Tupai juntar as mãos enquanto parecia orar em seu idioma ancestral. Do corpo do inca, desprendeu-se uma luz branca e uma onda de energia arrepiou os cabelos e os pêlos de Harry. O rapaz sacou a varinha discretamente. Não enxergava nada de diferente, mas percebia que havia algo por perto. O cheiro da terra se acentuou. Harry captava um som muito baixo vindo do puma. O animal estava morrendo. Podia perceber isso. Tupai voltou a murmurar palavras estranhas. Mas o fluxo de energia se rompeu repentinamente. E a luz branca se dissipou. O homem pousou a mão sobre a cabeça do felino, numa despedida silenciosa. E se levantou com um ar pesaroso.

- Inti não teve chance. O que o atingiu foi forte demais. O sopro de vida que lhe restava foi insuficiente para me contar o que se passou. E foi insuficiente também para que eu pudesse requerer à mãe-terra uma chance a mais para o puma.

- Não consigo compreender, Tupai.

- Eu invoquei um espírito da natureza, a mãe-terra. Pedi que ela concedesse um tempo a mais para Inti. Para que eu pudesse salvá-lo. Mas era muito tarde.

- Por Merlin, o que você está dizendo? Que espírito é esse?

- Alguns de vocês, bruxos do ocidente, acreditam em devas. Outros preferem falar em elementais. Para nós, tudo isso é o espírito da natureza. O meu espírito fala com o espírito da natureza. Nós, incas, veneramos um deles, a mãe-terra. Respeitamos também os apus, os espíritos das montanhas.

Para Harry, foi como se acendesse um clarão em sua mente. Recordou-se de uma lição antiga que McKinley lhe dera, ainda no tempo de Hogwarts.

- O sétimo elemento é o espírito! – exclamou, rouco. – O velho Mac um dia me disse que é preciso um poder superior para controlá-lo. Porque... porque... a força do espírito se manifesta e se extingue rapidamente. Foi isso. Tupai, você controla o sétimo elemento.

- Não é possível controlar o espírito, Harry. Ele é livre desde que se conserve saudável. E para isso é preciso somente duas coisas: a razão e o coração.

- Mas você disse que pediu por um tempo a mais para Inti.

- Pedi. Não ordenei. Nós não temos poderes para isso. Não podemos trazer a vida de volta para alguém que se foi. Eu roguei para que a mãe-terra desse um pouco de seu espírito a Inti para que ele sobrevivesse por mais tempo. Atente. O puma sagrado ainda estava vivo. A mãe-terra é generosa e teria me atendido se ele não estivesse tão ferido. Foi somente isso, Harry. Eu não controlo o espírito da natureza.

- McKinley falou também que não era possível ensinar alguém a usá-lo. Havia somente a compreensão do fenômeno – lembrou-se.

- Vocês, do ocidente, pouco olham para a natureza. Não há segredo. Se quiser falar com os espíritos da terra, das montanhas, dos rios e dos mares... ah, eles são muitos... Mas basta convocá-los. E usar a energia certa, ter boa concentração e um motivo muito importante. Nunca se pede um minuto com os espíritos sem ter real necessidade. Os anciões do meu povo sabem convocá-los. Eu aprendi com meu pai. E eu ensinarei a Nina quando ela atingir uma idade mais serena. Já demonstrei algo para minha filha, porém Nina está numa fase de arroubos. Não consegue se focar.

Calaram-se. Tupai soltou um suspiro triste. Com a palma da mão aberta, ergueu o puma e o carregou pelo ar. O curaca e o bruxo caminharam juntos para uma região um pouco distante do povoado. Um local onde costumavam enterrar seus mortos.

- O que terá acontecido a Inti?

- Não tenho certeza. Vamos esperar a avaliação do Chris. Mas suspeito de alguém de fora. Alguém com poderes não-físicos. O puma não se deixaria ferir por um humano comum.

Harry estremeceu.

- E se for alguém que veio atrás de mim? E se for um Comensal da Morte?

- McKinley me falou deles. Você acabou com o líder desse grupo, não é? Pode ter sido um deles, sim. Chris nos dirá se isso faz sentido.

- Não, Tupai. Voldemort não era um simples líder. Garanto a você que qualquer Comensal que tiver restado deseja me matar a todo custo. Eles fariam qualquer coisa. Inclusive destruir Inti se fosse preciso para invadir este lugar.

- Se eles invadirem aqui, será terrível. Muitos não têm poderes mágicos. Teriam de se defender com meios físicos.

O bruxo olhou ao redor. Observou as casinhas das quais saiam anéis de fumaça. A noite caía e as pessoas retornavam a seus lares para fazer o jantar e se aquecer. Se seu receio fosse confirmado, aquela vila estaria condenada. E só podia haver uma pessoa por trás disso, para caçá-lo daquele jeito.

- Belatrix! – disse, rilhando os dentes.

Harry começou a tremer de raiva. “Nunca vou ter sossego”, pensou, apertando a varinha com força. O vento frio bateu em seu rosto e ele sentiu sua pele se retesar. Os cabelos se arrepiaram outra vez. Uma sombra cobriu seu olhar. Mas ele continuava verde.

- Tenho de procurar essa mulher! – disparou.

Tupai permanecia silencioso. Entretanto, seus modos indicavam que esperava por explicações.

- Essa bruxa é a minha sina maldita. Enquanto ela estiver livre, não terei paz. Parece que estou numa prisão, num labirinto.

Então, os olhos de Harry se acenderam. O Labirinto. O velho dragão tinha dito que lá ele poderia encontrar pistas a respeito do paradeiro de Belatrix. O bruxo se virou para o inca e contou-lhe o que se passava em sua mente. Iria ao Labirinto para se livrar de uma vez por todas de seu fantasma. Não podia suportar mais a prisão em que vivia.

- Faça o que seu coração mandar, Harry. Sua razão já apontou a trilha a ser seguida.

Depois de terem coberto Inti com terra e flores, os dois fizeram o caminho de volta. Os demais aguardavam por eles. Chris se aproximou primeiro para avisar que a passagem estava aberta quando chegara ao local. Era apenas uma fresta. Mas era suficiente para um homem passar por ela. Não encontrara mais pistas. McKinley ouviu as suspeitas de Tupai e admitiu que pensara o mesmo. O ataque devia ter sido obra de algum bruxo. Nina contou que levara o filhote de Inti para uma área fechada do celeiro. Com as lágrimas descendo do rosto, disse que cuidaria do pequeno puma, o novo guardião da cidade. Por fim, Harry contou seu plano. Partiria imediatamente para o Labirinto. McKinley abaixou a cabeça, porém não contestou o pupilo. Depois de o professor explicar para Nina do que se tratava, a moça levou a mão ao peito, assustada.

- Eu vou agora, só que pretendo voltar – interferiu Harry, notando que Nina empalidecera.

- Eu te acompanho, rapaz. Até porque eu sei onde fica o Labirinto. Chris, você está encarregado da segurança da vila. Se me der um minuto, vou até meu quarto pegar meu bussolábio.

A noite tinha se instalado em definitivo. McKinley deixou a entrada da casa, chamando Chris para passar mais instruções. E Tupai se encaminhou à casa dos anciões para relatar o ocorrido. Nina aproveitou o momento a sós com Harry para fazer uma confissão. Há muito desejara falar com o amigo a respeito do que vinha sentindo. Mas não tivera coragem. A possibilidade de o bruxo não retornar a obrigou a se abrir.

- Harry, tome cuidado, por favor!

- Tomarei, Nina. Eu preciso! Tenho de sair do Labirinto para encontrar Belatrix. Está na hora de ajustarmos contas. Infernizar minha vida já tinha virado hábito, só que nunca me perdoarei se algo acontecer com este lugar. – e riu amargo, apontando com um movimento da cabeça as outras casas da cidade escondida. – Perdi muitas pessoas. Mas jamais provoquei um desastre dessas proporções.

- Não seria sua culpa.

- Claro. A velha conversa de sempre. Não é minha culpa. Podem falar o que bem entender. A verdade é uma só: das perdas que tive, nenhuma eu consegui assimilar. Não adianta jurarem para mim que não é minha culpa. Isso continua pesando na minha consciência. Eu não quero mais isso. Permitir que a vila seja destruída seria um fardo demais para carregar. Não posso ficar parado.

- Eu te compreendo perfeitamente, Harry. Por isso, não me oponho a sua decisão. Só peço que se cuide porque por você eu me preocupo.

- Obrigado – murmurou, com o coração estranhamente oprimido. “O que está acontecendo comigo?”

Nina se jogou em seus braços e o apertou com força. Harry a enlaçou com ternura. E prometeu que voltaria. A jovem ficou colada ao bruxo por um minuto. De súbito, buscou a boca do rapaz e o beijou. No carinho, revelou seu sentimento. O bruxo quase foi às lágrimas. Fazia tempo que não se sentia amado. Retribuiu o beijo, porém logo veio à memória a figura de Gina. Detestou-se por não conseguir se livrar da imagem da garota ruiva naquele momento em finalmente vislumbrava uma chance para seu coração.

- Nina, não sei se me sinto preparado.

- Eu não te pedi nada, Harry. Somente que se cuide e que volte. Se um dia você me quiser, eu estarei aqui.

Ele acariciou os longos cabelos de Nina e agradeceu de novo. Foi o tempo de McKinley ressurgir, carregando duas mochilas. A dele e a de Harry.

- Estou pronto, meu caro.

Colocou o bussolábio na palma da mão. O artefato se abriu e revelou o que queria o velho bruxo. O escocês deu um tapa amistoso nas costas de Harry, mostrando as coordenadas para o rapaz. Com as varinhas iluminando a trilha, os dois desceram rumo à passagem. Tinham uma bela caminhada a cumprir antes de aparatar em seu novo destino.











Eu lamento! Pensei em colocar o trecho inteiro do Labirinto aqui. Mas aí vcs iriam dormir na metade. O capítulo está longo e eu não quero cansar ninguém. Não tive habilidade para diminuí-lo e conseguir encaixar o momento em que o Harry entra nesse "túnel de perdição" (que exagero!). Se tivesse mais tempo, até conseguiria, imagino. Só que achei que vcs preferem ler logo parte da história. Bom, no próximo, ele estará lá. Assim como... hummm... o reencontro de Harry e Gina e o casamento do Rony e da Hermione. Fãs de R/H me perdoem se fui muito rápida com eles. Mas é que se não for assim, essa fic nunca terminará. E eu quero terminar porque o lançamento do sexto livro está chegando.

Adendo: fiz uma salada de mitologias em toda a história, como vcs já devem ter percebido. Mas há coisas que são tais e quais as lendas. No caso dos incas, por favor, não levem em tanta consideração. Na tradição inca, por exemplo, o condor é o mensageiro do deus sol (Inti, na língua dos incas). Mas o condor que eu inventei se chama Quilla, a lua. Então, se tiver UM ESPECIALISTA entre nós, me dê um desconto, pls. Curaca é mesmo a forma como se designa um chefe de vila. E apus são de fato os picos montanhosos, considerados divindades protetoras. Fic também é cultura!!!! Bjs e obrigada pelos comentários!!! Até o próximo capítulo, K.

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