O não-convidado

O não-convidado



As primeiras luzes da manhã invadiram o quarto de Gina, despertando Harry do melhor sono de sua vida. Dormira profundamente depois de ter permanecido atento por minutos aos mínimos movimentos da garota deitada ao seu lado. Tinham se amado intensamente, esforçando-se para abafar gemidos e sons indiscretos e trocando palavras carinhosas, confissões amorosas, desejos e esperanças. Gina conseguira aumentar a confiança de Harry no futuro. E, por causa dela, chegara a se esquecer de Belatrix. Quando a ruiva finalmente adormecera, o rapaz continuou acordado, acariciando os cabelos vermelhos e o contorno delicado do rosto amado. Vê-la adormecer e vigiar seu sono tinha sido uma experiência que não se apagaria de suas retinas. “Por Merlin, quero reviver este momento muitas vezes mais”, pensou antes de ser vencido pelo sono.

Por isso, quando os raios tépidos do sol bateram em seus olhos, Harry quase lamentou por ter chegado o dia. Era hora de deixar a cama e voltar para seu quarto. Ele e Gina tinham combinado de revelar a todos que estavam juntos logo após o rapaz soprar as velas de aniversário. Até lá, seriam discretos, guardando a surpresa para o final. Assim que tinham acertado esse detalhe – na madrugada, depois de terem se amado outra vez – começaram a rir, deliciados com a brincadeira. Não contariam para ninguém que já tinham dormido juntos. Seria um segredo deles enquanto Gina ainda não completasse 17 anos, a idade com que os bruxos ingleses eram considerados maiores. Isso porque a garota suspeitava que a senhora Weasley não ficaria muito contente de saber que sua menininha não era mais uma menininha. “É uma bobagem. Tudo começa mais cedo na vida dos bruxos do que na dos trouxas. Mas é melhor segurar as pontas porque minha mãe é zelosa em excesso e meus irmãos são meio brutos”, tripudiara a ruiva. Harry concordara. Concordaria com qualquer coisa que ela dissesse. Estava tão encantado e feliz que teria assinado naquela noite a certidão de casamento se a jovem pedisse.

Gina se mexeu preguiçosamente, aninhando-se no corpo de Harry. Abriu os olhos ao sentir o braço direito dele deslizar mansamente por suas costas.

- Hum, que jeito mais gostoso de acordar – murmurou ainda sonolenta.

- É, mocinha, gostoso mesmo. Seria ótimo se eu pudesse ficar aqui mais tempo.

Ela o abraçou e beijou o ombro de Harry. Depois, o pescoço, o queixo e os lábios.

- Vou pedir isso de presente de aniversário – brincou. – Hum, eu já te dei os “parabéns”?

- Da melhor maneira possível – sorriu, apertando a cintura da garota contra a dele. A temperatura de seu corpo imediatamente se elevou. – Hum, vou precisar ficar mais afastado de você se eu não quiser estragar a surpresa. Vai ser difícil bancar o santo. A minha vontade é já sair gritando que você é minha. Epa, posso falar isso ou é politicamente incorreto?

- Por mim, pode. Eu gosto. E sou sua mesmo... – riu.

- Ok. Já que é assim, deixa ver onde vou tatuar o meu nome – respondeu, gozador, fingindo escolher um ponto em suas costas, braços e ombros. – Uma marca minha na sua pele vai lembrar todo mundo que você tem dono.

- Engraçadinho. Mas, falando em lembrança, sabe o que os bruxos do passado faziam? Eles guardavam pequenos cachos de cabelos da pessoa amada em pingentes com um compartimento secreto. Meus bisavós fizeram isso. Quando eu era criança, minha mãe me deu os dois cordões deles com esses pingentes.

- E você ainda tem os cordões?

Gina balançou a cabeça e estendeu o braço para abrir a gaveta da cômoda. De dentro, sacou uma caixinha e de lá retirou duas correntes finas e prateadas.

- Quando eles morreram, cada um foi enterrado com a mecha do outro. Os cordões ficaram de herança, junto com os pingentes. Olha, parecem medalhinhas. São bem bonitas com esse relevo de dragão – comentou, mostrando o desenho que ornava a “caixinha” em formato oval.

Harry pegou uma corrente e examinou o pingente com atenção. Em seguida, conjurou uma tesoura.

- E então? Pode me emprestar este aqui e me dar uma mecha do seu cabelo?

A ruiva olhou surpresa para o rapaz. Perguntou se ele queria mesmo fazer aquilo. Harry confirmou com um murmúrio. Gina encarou o jovem com curiosidade. Ele mantinha uma expressão serena e séria. Estava decidido. A garota abriu o pingente, pegou uma fita pequenina que se encontrava em seu interior, puxou uma mecha e cortou uma ponta, que amarrou com cuidado antes de alojá-la na caixinha.

- Pronto. Nossa, foi um sacrifício cortar essa mecha. Portanto, cuide bem dela.

O bruxo prendeu a corrente no pescoço. Na seqüência, pegou a tesoura e cortou uma parte de seu cabelo. Repetiu os gestos de Gina e entregou o outro cordão prateado para a garota.

- Que tal? Para mim, é um compromisso assumido – disse, antes de dar um beijo em sua caixinha.

Em seguida, encarou a garota. “Se não concordar, pode guardar a minha mecha para fazer um feitiço. Nunca se sabe se você vai querer me transformar num sapo qualquer dia desses”, brincou. Gina riu e respondeu que não era assim que se transformava um humano num sapo. O bruxo gargalhou. E, então, ela fez o mesmo que o rapaz, tocando o pingente com os lábios. Os dois ficaram se olhando em silêncio por um tempo. Trocaram mais um beijo e Harry deixou a cama. Precisava voltar para o quarto antes que alguém notasse sua ausência.






*****





Gina terminava de se arrumar para tomar o café da manhã. Tinha se demorado mais tempo na cama, ainda encantada com o que acontecera. Atrasada, ela resolvera tomar uma ducha rápida e retornar voando para o quarto. No caminho até o banheiro, cruzara com Rony. “Que cara é essa, maninha? Viu algum pássaro azul”, perguntou, notando a expressão da irmã. A garota deu um pulo, assustada que pudesse revelar seus sentimentos. Mas rebateu sem pestanejar. “Azul? Não! Verde”, e correra. Entrara debaixo d’água pensando no tom. Verdes. Os olhos de Harry tinham voltado a ficar verdes como antes. Tão límpidos que imaginou que a energia das trevas finalmente se dissipara. “Tenho de contar isso ao professor Dumbledore. E falar que Harry desistiu de sair à caça de Belatrix.”

Com esse espírito, ela se sentou diante da escrivaninha do quarto para escrever uma mensagem ao diretor de Hogwarts. Lembrou-se da profecia de Cassandra. Havia uma chance de Harry escapar do perigo que Belatrix representava desde que fosse feito um sacrifício pela primeira mulher de muitas gerações de bruxos puro sangue. A sétima criança dentro de uma família. “Sacrifício? Que sacrifício é esse? Será que tem a ver com a gente ter dormido junto? Mas isso não foi nenhum sacrifício para mim”, e imediatamente sentiu o rosto pegar fogo. Na verdade, teve um pouco de medo. Tinha sido sua primeira vez, ora. Mas Harry fora tão delicado e cuidadoso que o temor tinha sumido. E o melhor é que não sentira a dor que algumas de suas amigas tinham sentido. “Foi perfeito”, concluiu, sonhadora. O problema é que não havia a menor condição de dizer isso para Dumbledore. Sua face voltou a enrubescer.

Segurou a pena com firmeza e apenas escreveu que tinha motivos para suspeitar que a ameaça sobre Harry estava afastada. E que ele ficaria na Toca, matriculando-se na semana seguinte no curso de auror do Ministério da Magia, conforme havia prometido para ela. Sorriu. O bruxo tinha jurado mesmo que faria o que ela pedisse. Esperta, Gina pedira exatamente aquilo. O que Harry só atendeu, depois de relutar muito e depois de ouvir da garota que ela se empenharia também em encontrar Belatrix quando encerasse os estudos em Hogwarts. Até lá, o rapaz esperaria por Gina, quieto e paciente.

- Ah, professor, a gente faz cada coisa quando está apaixonado – murmurou enquanto selava a carta.

Gina nunca tinha se sentido tão confiante no futuro. Tinha a certeza do amor de Harry. O que ele prometera era uma grande prova do quanto estavam ligados. O gesto de beijar o pingente onde guardara um cacho de seus cabelos vermelhos também tinha sido forte. E como se isso fosse pouco ainda havia o anúncio que faria mais tarde, assim que o bolo de aniversário fosse cortado. Ele planejara pedir a garota em namoro ao senhor Weasley. Gina observara que aquilo era mais velho do que fazer poção de amor. “Pode ser, só que os seus pais vão gostar”, dissera.

Um piado chamou sua atenção e a arrancou do devaneio.

- Pichi! Que bom que você captou a minha necessidade. Tem uma mensagem para você entregar. É para o professor Dumbledore.

A corujinha que saltitava na beira da janela mudou subitamente de atitude. Afastou-se de Gina com um vôo curto. Suas penas estavam arrepiadas e a ave passou a emitir um som de agonia.

- O que foi? Endoideceu de vez? Calma. Vem pra cá...

Não adiantou afagar a cabeça da coruja. Ela tremia e com bicadinhas impedia que Gina prendesse o pergaminho em sua pata. A garota tentou descobrir a razão do desespero da ave, porém não teve sucesso.

- Ai, já entendi que você não quer levar mensagens hoje! Está cansado? Doente? Como não sabe? Está com medo do tempo? De algum pássaro maior? Foi atacada por algo ou alguém?

Pichi não poderia responder. A idéia de ir até Hogwarts era terrível para a coruja. O feitiço dos Comensais sobre sua memória fazia efeito, porém não bloqueava seu instinto animal, que o alertava do perigo de sair rumo à escola. Não havia meios, portanto, para Gina conseguir compreender o medo do pássaro.

- Tudo bem! Tudo bem! Depois cuido de você, Pichi. O professor Dumbledore está vindo mais tarde para cá. Você não precisa entregar a mensagem para ele.

O pássaro deu um piado baixo, de alívio. E se encolheu na janela, sem coragem de deixar aquele espaço que lhe parecia tão seguro.






*****




Harry não cabia em si de felicidade. Acabara de ser presenteado pelos Weasley com um ponteiro exclusivo no relógio da família. Tudo o que já ganhara na vida parecia bem pequeno diante daquela haste com seu nome que apontava para a Toca. Teve de se controlar para não ceder à emoção e começar a chorar ali mesmo.

- M-m-muito obrigado – balbuciara, quase sem voz.

Logo em seguida, a senhora Weasley o chamou para o campo onde costumavam jogar quadribol. O bruxo ficou surpreso com a arrumação. Pela manhã, tinha sido proibido de xeretar o local da comemoração e agora via que havia sido montada uma tenda de panos brancos que esvoaçavam com o vento. Uma enorme mesa estava no centro, protegida do quente sol do verão.

- E aí, Harry? Hoje vamos almoçar fora? – brincou Jorge que, por magia, prendia no teto pequenos balões com as cores da Grifinória.

- No final do dia, teremos uma bela queima de fogos que nós criamos – emendou Fred, esfregando as mãos.

- E à noite podemos organizar uma partida de quadribol – acrescentou Carlinhos, abrindo uma garrafa de cerveja amanteigada.

O rapaz estendeu um sorriso largo. Durante a manhã, pensara muitas vezes na mudança de planos. Em alguns momentos, ficara em dúvida se tinha tomado a atitude correta. Mas naquele instante sentia que sim. Era aquilo que deveria ter feito. Estava bem consigo. Amava e era amado. E estava absolutamente integrado à família Weasley. “Perdão, Sirius. Perdão, Hagrid. Esperem mais um ano até que eu possa vingá-los”, pensou com uma pontada no coração. Para sua alegria, Gina surgiu pedindo sua ajuda com o ponche que preparava. Tinha falado com os olhos brilhantes, denunciando que não queria ajuda nenhuma. Era apenas um pretexto. Harry não perdeu tempo. Foi atrás da garota, que andava decidida para a cozinha. Assim que chegaram lá, longe da visão dos outros, se abraçaram e trocaram um beijo rápido e apaixonado.

- Minha garota tem de ser espertinha mesmo. Eu já estava ficando doido de te ver e não poder te tocar – disse Harry, prendendo-a pela cintura.

- Agora, só à noite, no meu quarto. Daqui a pouco vão aparecer os convidados – respondeu, conjurando na seqüência um copo do ponche. – Prove e me diz se está bom.

Enquanto bebericava, Harry sentiu uma tontura súbita. Estranhou, porém preferiu não revelar o que acontecera.

- Está ótimo!

- Você não fez uma cara muito animada. Devo colocar mais frutas ou mais vinho?

- Frutas – e soltou Gina imediatamente porque ouviu passos se aproximando.

Era o senhor Weasley, avisando que Neville, Simas e Dino tinham aparatado no jardim. Harry piscou discretamente para Gina e foi encontrar seus amigos. Minutos depois, Tonks e Lupin surgiram. Luna recorreu ao pó de Flu para se juntar a todos os Weasley. E logo o aroma do almoço tomou conta do ambiente. Além dos pratos elaborados pela senhora Weasley, Rony montara uma grelha para fazer peixe na brasa.

- Você tem certeza de que quer fazer isso sem magia? – perguntou Luna, olhando interessada para o rapaz, que jogava o carvão na churrasqueira e se cobria de pó negro.

- Se os trouxas podem fazer, eu também posso – retrucou, achando divertida a idéia de não usar a varinha. No fundo, queria mostrar para Hermione que ele se daria bem em qualquer mundo. Inclusive naquele onde a garota se criara. Queria impressioná-la mais uma vez, como fizera no Natal.

- Mas justamente peixe? É mais fácil fazer carne – intrometeu-se Dino.

- Eu gosto de desafios – sorriu, confiante, pouco ligando para a sujeira que se acumulara em suas roupas. – E a Gina me ajudou. Ela pegou dicas de um livro de culinária trouxa.

- Ahn, falando nela, eu também trouxe um... bem... um presentinho para ela. Você sabe...

- ... onde a Gina está? – interrompeu Harry, que se aproximara. – Ali, servindo ponche para a Tonks. Se esse presente for tão legal quanto o que você me deu, ela vai adorar.

Dino ficou meio encabulado e encarou o bruxo, com desconfiança. Harry, entretanto, estava tranqüilo. Desta vez, não se incomodara com o ex-namorado de sua garota. Tinha certeza de que Dino não era uma ameaça. Teria mantido o sorriso no rosto se não tivesse visto Hermione surgir junto com Krum. “Ai, não. O Rony vai ficar mal”.

- Hey, Harry. Parabéns! – falou o jogador em voz alta.

Rony virou-se imediatamente para a direção de onde vinha aquela voz com sotaque. Não contava com a presença de Krum.

- Olá para todos. Eu trouxe o Vitor – disse Hermione com um jeito tímido.

- E fez muito bem – respondeu Carlinhos. – A gente estava pensando em jogar quadribol mais tarde.

Os irmãos Weasley cercaram Krum com perguntas sobre o esporte, a seleção búlgara e modelos novos de vassoura. Luna elogiou a elegância do jogador. “Você está sempre tão alinhado”, afirmou sem sair de perto de Rony. Este, por sua vez, não tirava os olhos da churrasqueira, desesperado em disfarçar a surpresa. Tinha se saído tão bem nessa tarefa que após alguns minutos, ouviu alguém reclamar com ele.

- Rony, seu mal educado. Nem me cumprimentou!

- Ah, Mione! Err, estou meio atrapalhado aqui. E nem é bom você se aproximar porque estou sujo de carvão.

A bruxa sacou a varinha e limpou a roupa de Rony.

- Por que não usou magia para fazer churrasco? Seria mais fácil e você não ia se sujar. Francamente, que idéia!

Ele não respondeu de cara. “Eu mereço! Sou muito idiota mesmo”, pensou, sentindo-se desconfortável.

- Rony gosta de desafios – cortou Luna, entregando para o rapaz o prato onde estava o peixe, prontinho para assar. – Foi ele que temperou e tudo.

Hermione, que ardia de ciúmes por ver Luna tão solícita, não evitou uma careta. Permaneceu ao lado dos dois, atenta aos movimentos de Rony. Ele, no entanto, se empenhou em não olhar a amiga. Quando finalmente arrumou o peixe na grelha, Krum se aproximou. Os rapazes se cumprimentaram sem grandes alardes.

- Parece que o peixe vai ficar muito saboroso. Diga-me, Rony, tem alguma coisa em que você não faça bem. Seus talentos são amplos. Do quadribol à gastronomia – brincou Krum.

- A Mione pode enumerar uma porção de coisas em que eu sou péssimo – respondeu com uma expressão dura.

- Não acredito. Ela só faz falar bem de você.

Hermione ficou vermelha com a revelação. Entendeu que o namorado estava com uma pontinha de ciúmes. Mas Rony, ainda chateado com a situação, não percebera.

- Deve ser porque ela fala pouco de mim. Se falasse mais, você veria que eu sou caso perdido – disse com uma certa ironia na voz. - Com licença, vou me lavar. Reparou que sempre que você vem aqui, você me pega num momento em que eu não estou nada apresentável? – perguntou sarcástico antes de se afastar.






*****




- Salamandras despenquem do céu se não comi além do que meu estômago suporta – disparou Tonks quando o almoço chegava ao fim.

- Elas podem até despencar que você vai ter de segurar a onda. Ainda tem a sobremesa! – comentou Jorge, soltando o cinto de propósito.

- E bolo de aniversário – retorquiu Fred, afagando a barriga magra.

Tonks dirigiu um olhar arregalado para Lupin. O ex-professor apenas sorriu.

- Não adianta me encarar. Eu tenho fome de lobo.

Todos gargalharam. Harry também se divertia, mas voltou a sentir um incômodo. A tontura de novo. E um ligeiro enjôo. “Raios, será que foi o ponche?”, perguntou-se. Instintivamente, pôs a mão na cabeça.

- Você está legal?

Rony estava sentado à esquerda de Harry e percebera o movimento do amigo.

- Acho que não deveria ter misturado cerveja amanteigada e ponche – respondeu sem muita convicção.

- Qualquer coisa você toma o chá anti-ressaca que minha mãe faz.

Harry agradeceu a dica com um sinal de cabeça. Notou que Rony estava bastante quieto e que mal tocara na comida. Sabia a razão daquele comportamento tão incomum. Na frente do ruivo estava Hermione que, logicamente, se sentara ao lado do namorado. Os três mal tinham conversado. Harry não tinha idéia dos sentimentos da amiga. Porém imaginava que, se ela correspondesse à paixão secreta de Rony, ela também deveria estar insatisfeita de ver o amigo junto de Luna. A loira da Corvinal cercava Rony de tanta atenção que o mutismo do bruxo chegava a causar constrangimento. Para Luna, no entanto, isso não parecia aborrecê-la. Continuava animada. Inspirado na nova situação que vivia com Gina, Harry decidiu forçar o companheiro a se decidir.

- Você precisa revelar o que você sente por ela – disse bem baixinho.

Rony franziu o cenho.

- Mas eu não sinto nada pela Luna – respondeu de modo quase inaudível.

- Você sabe de quem eu estou falando.

- Como?! Realmente. É bom você não misturar as bebidas!

- O que é que vocês estão cochichando? – perguntou Hermione.

- É algo que não te diz respeito – replicou Rony, mordido pelo ciúme de ver o braço de Krum sobre os ombros da amiga.

A garota ficou vermelha.

- Às vezes você consegue ser muito grosso, Ronald Weasley – sibilou. E alteou a voz. – Gina, você me acompanha até a toalete?

Hermione saiu da mesa tão rápido que deixou Krum confuso. A sorte é que Luna foi ligeira na emenda. “Garotas sempre vão juntas ao banheiro”. Harry aproveitou para puxar o braço de Rony.

- O que está fazendo? Não é atacando a Mione que você vai ter alguma chance com ela. E, aliás, a conversa dizia sim a respeito dela. Se você tivesse coragem...

- Se eu tivesse coragem, expulsava o ilustre não-convidado que está aqui, nesta mesa – confessou, rubro. E ironizou. – Só que aí eu estaria sendo grosso de verdade, não é? Exatamente como a Mione vive dizendo. Não é ela que vive jogando na minha cara que eu sou isso, que sou aquilo? Ela se esforça tanto em me criticar que quase não percebe quando faço algo legal.

- Não é verdade. Ela sempre fala bem de você para mim.

- Só se for para você. Porque para mim nunca vem nada de positivo. E, que diabos, eu preciso ouvir esse tipo de coisa. Isso, o lado bom, ela me nega sempre! – respondeu, alterado.

- Você está falando de mim, querido? – perguntou a senhora Weasley, preocupada ao ter captado um trecho da conversa sussurrada.

- Não. Estou falando... da... professora McGonagall. Ela raramente me elogia – disfarçou, vermelho de vergonha por ter sido surpreendido. – Acho que a... que a... a McGonagall... a professora McGonagall não gosta de mim.

A senhora Weasley fez cara de quem não acreditava naquilo. Harry compreendeu que Rony se referia a Hermione. Ficaram em silêncio, terminando os pratos do almoço até que a garota ressurgiu. Ela se ajeitou na cadeira como se nada tivesse ocorrido, porém não olhou para Rony.

- Ahnnn, e a Gina? – perguntou Harry, dando um tom casual à voz.

- Ficou na Toca. Ela vai trazer as sobremesas e o bolo. Eu quis ajudar, mas a Gina se recusou e praticamente me expulsou da cozinha.

- Bom, enquanto ela não chega com os doces vou aproveitar para ir ao banheiro – apressou-se Harry, ansioso pela oportunidade de ficar a sós com a garota nem que fosse por breves segundos.

Harry deixou a tenda e o campo de quadribol para trás, avançou pelo jardim lateral, passou por um caramanchão e chegou até o jardim frontal. Assim que estendeu a mão para abrir a porta da sala, sentiu uma dor aguda na testa. Tão violenta que acabou no chão. Levantou-se com a sensação de que o mundo girava. “Não tem nada a ver com o ponche! Inferno! É Voldemort”, pensou, fazendo força para se recuperar. Concentrou-se e afastou a energia ruim que o atacara. Olhou para todos os lados, transtornado. Ele estava por perto. Tinha certeza disso. Sacou a varinha, indeciso quanto ao que fazer. Correr até Lupin, Tonks e o senhor Weasley para avisá-los? Caçar Voldemort sozinho sem perder um minuto? Ou...

- Gina! – gritou, alarmado com a possibilidade de a garota estar em perigo.

Entrou na casa com estrépito, chamando a ruiva com desespero. Gina saiu da cozinha, espantada.

- O que aconteceu?

- Voldemort! Eu sei que ele está por aqui. Viu algum sinal? Algo suspeito?

- Nada! Por que você acha que ele está por aqui?

- Eu senti. Preciso voltar e ver se está tudo bem.

Gina tirou a varinha das vestes e Harry rapidamente abaixou o braço dela.

- Não, Gina. Eu não quero que você saia daqui.

- Negativo! É a minha família que está lá fora.

- Já é gente demais em perigo. Eu te quero bem segura! Dentro da Toca! Depois eu volto para te buscar – e a puxou para dar um beijo.

Harry saiu sem dar tempo para que a jovem protestasse. E selou a porta com um feitiço. Gina bem tentou desfazê-lo, mas não teve sucesso. A magia do rapaz estava se tornando mais e mais forte. “Valei-me, Morgana! Não posso ficar parada. E se a Belatrix estiver junto com Voldemort?” Aflita, lembrou-se de Dumbledore. Naquele exato minuto se tocou que o diretor de Hogwarts ainda não aparecera. Usou a varinha mais uma vez para tentar abrir a porta. Ela, porém, continuou trancada.






*****




O coração estava pesado. E o estômago, embrulhado. Harry andou com cautela pelo jardim da frente e caminhou em silêncio rumo ao campo de quadribol. Teve a impressão de ouvir relampejos. O som de disparos faiscantes. Gritos sufocados. Acelerou os passos e aumentou o cuidado. Havia algo de muito errado no ar. Estava deixando o caramanchão para trás quando escutou a senhora Weasley berrar:

- NÃO SE ATREVA A ATINGIR MINHA FAMÍLIA!

O que se seguiu foi um uivo alto e uma série de gritos e gemidos. Identificou claramente a voz alterada de Rony. “Mãe!” E mais uma seqüência de zunidos. O sangue corria mais rápido em suas veias. Harry invadiu a tenda com a varinha a postos. E, com toda sua experiência enfrentando a força das trevas, descobriu que não estava preparado para a cena. Todos os convidados mais velhos jaziam no chão, inclusive Fred, Jorge e Krum. Foram os alvos prioritários de um ataque surpresa. O grupo dos colegas de Hogwarts estava acuado a um canto. À frente deles, a senhora Weasley, imóvel no solo. Tinha tentado defendê-los.

- Olá, Harry. Pelo visto, chegamos na melhor hora. A da sobremesa – disse friamente Lorde Voldemort.

O senhor das trevas ainda segurava a varinha com que ferira a senhora Weasley. Estava acompanhado de Comensais encapuzados e em posição de ataque. Desdenhoso, Voldemort guardou o objeto mágico no bolso, como sinal de que não temia Harry, que mirava sua cabeça desde o instante em que descobrira os inimigos. O lorde seguiu até uma mesa onde havia taças e o ponche preparado por Gina. Serviu-se sem cerimônia e ergueu o copo, oferecendo um brinde ao rapaz.

- Capricharam para você, não é mesmo?! Nós também caprichamos – declarou com um sorriso gelado.

- Maldito – respondeu Harry, sentindo que seu corpo tremia de fúria.

Cada um dos Comensais avançou um passo. O bruxo desejou ardentemente começar a briga, mas percebeu que todos seus amigos tinham varinhas apontadas para as cabeças. Estava num impasse. Ele estava pronto para lutar com Voldemort, porém não queria colocar em risco a vida de Neville, Simas, Dino, Luna, Rony e Hermione.

- É inútil resistir. Se quiser, terá de agüentar as conseqüências. Como o seu amigo ruivo ali – replicou, apontando Rony que exibia um filete de sangue escorrendo pelo canto da boca e que estava sendo amparado por Luna e Hermione. - Tive de lançar uma azaração contra ele quando o imbecil tentou me atacar depois de eu ter estuporado essa mulher atrevida.

- O que você quer? – interrompeu Hermione, incapaz de se conter, apesar de suas pernas bambearem de medo.

- Cale-se, sua sangue-ruim. Não se dirija ao milorde! – gritou um Comensal.

- Lúcio Malfoy! Tinha de ser você – replicou Harry, rilhando os dentes ao reconhecer a voz.

O lorde das trevas soltou uma risadinha irônica.

- Conhece alguns de meus Comensais, não é mesmo? Agora, que tal conhecer a “família” toda? Foi isso que vim fazer aqui. Não fui convidado para a sua festa, mas faço questão de te convidar para conhecer meus aliados do submundo. Na casa deles. No terreno das sombras que tantos bruxos procuraram, mas que apenas eu encontrei. Anime-se, meu caro Harry. É uma oportunidade de ouro.

- E por que eu deveria ir até lá? Você podia liquidar tudo aqui. Não é?! O que você está escondendo, Voldemort?

- Tenho meus motivos, Harry. E tenho meios de te convencer a aceitar meu convite. Bela!

Ao ouvir esse nome, os cabelos de Harry se arrepiaram. Belatrix! Ela estava diante dele. Apertou a varinha com mais força. Talvez não sobrevivesse a mais nada, mas poderia concretizar sua vingança.

- Acabe com o ruivo de uma vez – ordenou Voldemort.

- AVADA... – começaram os dois, Harry e Belatrix, ao mesmo tempo, porém com alvos distintos. Ela mirava Rony. E Harry, a Comensal.

Foi tudo tão rápido e o terror se espalhara de tal forma pelos ex-estudantes de Hogwarts que ninguém conseguiu entender direito como a cena se desenrolara. Mas o fato é que Gina Weasley surgira do nada e jogara uma azaração que arremessou Belatrix para longe, afastando o perigo da maldição sobre seu irmão. E Harry fora atingido por Voldemort com um feitiço que o fizera cambalear de dor, embora o mantivesse lúcido.

- Ora, ora. Você, de novo! – vociferou Voldemort.

Gina resistiu e não olhou para o senhor das trevas. Varinha estendida, a garota estava empenhada em se manter concentrada sobre Belatrix.

Harry ficou agoniado de ver a ruiva tão exposta ao perigo. “Por que é que foi sair de casa?”, perguntava-se, lutando para vencer a tontura e o enjôo que mais uma vez o atormentavam. Rapidamente, estudou as posições dos inimigos. Malfoy e mais quatro Comensais estavam em situação de ataque, atentos aos seus colegas de Hogwarts. Voldemort trazia a varinha nas mãos, mas sem apontá-la para ninguém, absolutamente seguro de si. E Belatrix, sentada no chão, estava na mira de Gina. O golpe da garota havia sido tão forte que arrancara o capuz da Comensal. Ao vê-la assim descoberta, a ira de Harry se acentuou. E foi com uma voz soturna que se dirigiu a Gina.

- Mate logo esse monte de estrume!

Belatrix arregalou os olhos. Gina estremeceu. Sem se virar para encarar o rapaz, ela podia sentir o que estava acontecendo com Harry. Um inesperado vento enregelante rondou a tenda. A garota viu as flores da festa murcharem sob esse impacto e a tristeza invadiu seu coração. O objeto do ódio estava em sua frente e ela poderia pôr um fim à profecia se obedecesse Harry. Afinal, se assim fosse, não seria ele a proferir a frase derradeira, a maldição imperdoável máxima. Mas Gina tinha certeza de que não conseguiria lançar o Avada Kedavra. Não estava preparada para isso. Era uma mácula grande demais para um bruxo que nem sequer tinha concluído os estudos fundamentais. Uma mácula que poderia causar danos permanentes ao espírito. “Quem pode tirar a vida de alguém e não sofrer por isso?”, pensou, aflita. Seria esse o sacrifício previsto por Cassandra?

- GINA! – gritou Harry, impaciente, furioso e pálido.

Ela, que segurara a respiração por segundos, soltou o ar com estrondo. “Não posso! Não consigo!”, desesperou-se em seus pensamentos.

- O professor Dumbledore está a caminho! – foi o que conseguiu dizer.

Voldemort observara tudo com atenção e um sorriso sarcástico nos lábios finos. Estava claro para ele que Harry estava sob influência das trevas. Podia sentir isso porque captava a vibração de energias negativas vindas do rapaz. Por outro lado, riu da indecisão de Gina. Fosse uma aluna da Sonserina não teria duvidado e aplicaria a maldição imperdoável sem pestanejar. Imaginou que havia chance de o feitiço não funcionar caso fosse lançado, porém não pretendia arriscar. A chance de a maldição falhar se devia ao fato de que nenhum garoto naquela casa era um mago exímio. Exceto Harry. Podia sentir isso nele. Ainda mais naquele momento. Sim, as trevas potencializavam a feitiçaria. E quanto mais intensa a energia das trevas, mais poderosa a magia do bruxo. Era isso que Dumbledore não queria aceitar.

- Sinto avisá-los, mas o querido diretor de vocês não virá. Digamos que eu consegui ludibriá-lo – comentou com sarcasmo. – Harry, sei que a festa está ótima, só que tenho de ir. Para um lugar onde espero te ver em cinco minutos. E sozinho. Seremos apenas eu e você. Nada de Dumbledore no meio.

Para Harry, o ideal na batalha contra Voldemort era afastar seus colegas do perigo. Ainda assim não pretendia ir até o local escolhido pelo inimigo. Suspeitava que o terreno já estava preparado para celebrar sua morte. Deveria haver armadilhas e toda sorte de artimanhas para que ele fosse derrotado mais facilmente.

- Eu teria de ser muito burro para ir até onde você quer – sibilou.

- Acha que não calculei isso? Vejo que estamos aqui em situação de empate. Um bando dos seus amigos inúteis na mira dos meus Comensais. E na mira de vocês, Belatrix, meu braço-direito. Confesso que não esperava ter de barganhar a vida de um aliado. Mas, de qualquer modo, não terei de fazê-lo. Tenho um recurso que ainda não usei – e sorriu.

Com um movimento da varinha, Voldemort fez surgir a poucos metros deles um grupo que estivera até aquele momento escondido sob um feitiço de ilusão. Amordaçados e amarrados pelos braços estavam os Dursley, tão assustados que os olhos pareciam saltar das órbitas. Caído na terra e preso com correntes, havia um homem debilitado. E ao seu lado uma garota branca como papel e com uma expressão alienada.

- Trix! – murmurou Harry, chocado de ver a namorada de Duda, antes tão alegre e vivaz.

A jovem ergueu os olhos para ele e piscou seguidas vezes. Mas não parecia reconhecer o rapaz. Lúcio Malfoy, sem baixar a varinha que apontava para os amigos de Harry, deu uma risada maldosa.

- Sua ‘namoradinha’ nos ajudou bastante, Potter. Foi ela que nos abriu as portas dos Dursley. Nem precisei me esforçar muito com minha maldição Imperius.

A varinha de Gina balançou ligeiramente. Ela mordeu os lábios. Não sabia quem era Trix e ficou intrigada com o que ouvira. Belatrix percebeu o que se passou e exibiu uma careta que pretendia cômica. “Ciúmes, querida?”. A ruiva não teve tempo de responder porque Harry disparou uma azaração violenta contra Malfoy e lançou um feitiço estuporante contra Voldemort, que se defendeu agilmente com um escudo.

- EU VOU ACABAR COM VOCÊS! POR QUE FIZERAM ISSO COM GENTE INOCENTE?

Um Comensal vestido inteiramente de negro reagiu com um jato de luz que procurou arremessar sobre Harry, mas, acostumado a se desviar de balaços, o rapaz saltou para um lado e retribuiu o ataque na mesma moeda. O bruxo despencou como se fosse uma fruta madura e de seu corpo saiu um halo fumegante. O frio se intensificara sob a tenda e Voldemort se enfureceu.

- Não desperdice sua magia, Harry. Enfrente alguém a sua altura. Eu o espero em Nephasta. Creio que Dumbledore já deve ter te falado a respeito de Nephasta.

- EU NÃO VOU A LUGAR NENHUM. SOLTE MEUS AMIGOS E A GENTE SE ENFRENTA AQUI E AGORA. EU CONTRA VOCÊ E SEUS COMENSAIS!

Voldemort gargalhou.

- Você se julga bom demais. Mas está enganado. Posso te enfrentar em qualquer lugar e se alguém precisa de ajuda é você. Não estou te apresentando alternativas de arena. Tenho meus motivos para escolher Nephasta e você é ignorante demais para saber quais são. Chega de perder tempo! Você fará o que eu quero porque é para lá que vou levar sua família e seu querido amigo Alastor Moody.

Lúcio Malfoy murmurou algo em voz inaudível e Trix ficou de pé, forçando o homem acorrentado a se erguer. Hermione soltou um grito ao reconhecer o antigo auror. De onde estava, Rony berrou “Covardes!” A magreza do rosto de Olho Tonto acentuava as deformidades. E o tom da pele era mortiço. A debilidade, no entanto, não o impediu de falar, ainda que quase sem fôlego.

- Não faça o que ele quer, Harry!

Um Comensal desferiu um tapa em Moody enquanto o senhor Dursley sacudia a cabeça vigorosamente, com revolta. Por magia, Voldemort livrou o tio de Harry da mordaça.

- FAÇA LOGO O QUE ESSE HOMEM QUER. NÃO VÊ QUE É A SUA FAMÍLIA QUE ESTÁ SOFRENDO?! NÓS TE ABRIGAMOS E TE ALIMENTAMOS, SEU MOLEQUE MAL AGRADECIDO! – berrou, completamente vermelho e com as veias do pescoço inchadas.

Por mais que os Dursley tivessem transformado sua vida num inferno, Harry não podia deixar de reconhecer que eles eram sua família. Olhou para sua tia, que derramava lágrimas de terror. Duda mal se mexia e exibia um ar de pânico.

- Vou deixar uma chave de portal que te levará à passagem para Nephasta. Você tem cinco minutos para se decidir. Nesse tempo, o portal se abrirá por dez segundos e se fechará para sempre. Se você não aparecer, Harry, vou acabar com todos eles. Com o que resta do sangue da sua família! E com Moody, que me falou sobre os “simpáticos” Dursley e revelou o endereço desta Toca.

- Fui torturado e, por Merlin, nem assim falei o que sabia, Harry. Esse maldito invadiu minha memória! – disparou Moody, com as forças que lhe restavam.

Voldemort caminhou até Trix para quem entregou uma pedra arredondada. A garota soltou Moody. Malfoy sussurrou outro comando e a jovem se dirigiu a Harry para depositar em suas mãos a chave do portal. Para o bruxo foi um momento doloroso vê-la daquele jeito. Lembrou-se que Trix lhe pedira auxílio para deixar a rua dos Alfeneiros e ele se negara a ajudá-la.

- Trix, eu não sabia. Por favor, me perdoe – e tocou a mão da loira com carinho.

O gesto despertou Trix. A garota tombou o corpo para frente e Harry a amparou rapidamente, fazendo com a chave escapasse de seus dedos e rolasse no solo.

- Deus! É você que tem de me perdoar – murmurou a jovem. – Eu via tudo e não conseguia reagir. Fazia o que me mandavam. Só tive dois momentos de verdade.

- Quando você quis fugir... – observou Harry em voz baixa e carregada de remorso.

- E o beijo – disse Trix, apertando o braço do rapaz com força e fazendo com que ele se espantasse.

- Sou obrigado a interromper este idílio – debochou Voldemort. – Comensais, venham!

Os aliados do senhor das Trevas recuaram, andando de costas e sem abaixar as varinhas. Belatrix fez menção de se erguer, mas Gina a empurrou de volta com um movimento da varinha.

- Vai descontar em mim? – alfinetou a bruxa. E elevou a voz. - Milorde, tem uma pessoa aqui que não quer colaborar.

Todos viraram os rostos para as duas mulheres. Harry sentiu o corpo vibrar ante o ódio que tinha por Belatrix. Mas precisava ceder.

- Liberte minha família e meus amigos. Nós soltamos Belatrix e eu juro que vou até onde você quer.

- Fique com seu tio e sua namoradinha. Não soltarei os outros enquanto não te encontrar em Nephasta. Não confio em você, Harry Potter! – e fez desaparecer as amarras do senhor Dursley. – Agora, venha, Bela!

Por mais que se controlasse, Gina não tinha mais condições de esconder o tremor. Olhou para Harry, que meneou a cabeça num sinal afirmativo. Tinha de libertar Belatrix. Gina viu que a garota loira ainda se segurava nele e a garganta se fechou. “Não é momento para esses sentimentos”, pensou. E abaixou a varinha. A bruxa imediatamente se ergueu e partiu para junto dos outros Comensais.

Valter Dursley foi arremessado aos pés de Harry. O rapaz tentou ajudá-lo a ficar de pé, mas o tio se encolheu, esperneando numa voz sufocada, quase à beira da loucura. “É tudo sua culpa, sua aberração! Sua culpa!”. Harry engoliu em seco. Recordou-se do aviso de Dumbledore. Aviso que não seguira. Se tivesse obedecido, os Dursley não estariam ameaçados.

- Controle-se, tio.

- NÃO VOU ME CONTROLAR!

- Eu te vejo em breve, Harry – cortou Voldemort, abrindo um portal por onde começaram a passar os Comensais.

Malfoy e Belatrix usaram as varinhas para levar o companheiro atingido por Harry e os prisioneiros. Petúnia tentou berrar e Duda debateu-se o máximo que pode. Mas era inútil. Assistir o sofrimento de ambos foi demais para Valter Dursley. O homem saltou e disparou em direção ao portal, arremessando algumas pedras e tufos de grama que arrancara do solo. Trix soltou Harry e correu para segurá-lo.

- Não, senhor Dursley! Harry vai salvar sua família.

Atônito com a reação do tio, Harry não conseguiu mover um músculo. Valter Dursley continuou andando aos tropeços, arrastando Trix que se jogara sobre suas costas.

- ELE NÃO É CAPAZ DE SALVAR NINGUÉM! PETÚNIA! DUDA! – e jogou outra pedra que atingiu Voldemort nas costas.

Irritado, o lorde das trevas virou-se e lançou a maldição imperdoável fatal contra o enlouquecido senhor Dursley. A energia liberada por sua varinha foi tão forte que todos sentiram seus reflexos. Uma onda de frio percorreu os corpos de quem estava sob a tenda. Mas para Trix foi pior. Ela estava perto demais do homem que tentara conter. Os dois despencaram sem vida para completo horror de Harry.

- TRAIÇÃO! VOCÊ MENTIU... – e disparou uma corrente de luz potente como um relâmpago contra Voldemort.

Mas o portal já tinha se fechado. O senhor das trevas escapara mais uma vez.











Ufa! Ainda bem que a Floreios voltou. Pessoal, eu já fiz duas doações. Quem puder ajudar, pls, ajude. Continuarei fazendo, mas espero que surjam mais almas generosas por aí, eheheheheheheh. E já que fiz as doações, será que vcs podem me prestigiar? Acho que estou ficando abusada. Desculpem se surtei. Bjs, K.

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