Nephasta



Resumo do capítulo anterior: durante a festa dos 18 anos de Harry, surgem Comensais que atacam os convidados. Alguns tombam. Outros ficam acuados. E Harry se confronta mais uma vez com Voldemort. O senhor das trevas entrega para o rapaz uma chave de portal que o conduzirá à cidade de Nephasta, uma lendária região do submundo. Para convencer Harry a segui-lo, Voldemort leva com ele a tia Petúnia, o primo Duda e Alastor Moody. Antes de partir faz mais duas vítimas fatais, o senhor Dursley e Trix, uma garota trouxa que esteve sob o domínio de Lúcio Malfoy.







No íntimo de Harry, algo se transformou. Tudo o que pensara e planejara naquela manhã se desvanecera em questão de minutos. Não durara muito, afinal, a fantasia de felicidade que tecera na mente. Naquele momento, estava certo que ele não nascera para viver em paz. Quando poderia relaxar e dar seqüência aos dias sem que se sentisse obrigado a renunciar ou perder? Era o que vinha acontecendo desde que viera ao mundo, não era? Ou renunciava ou perdia. E por conta disso a dor e o remorso vinham se convertendo em companheiros fiéis. Alegria era uma palavra efêmera, datada, fugaz... Tudo isso lhe ocorrera nos breves segundos em que ficou parado diante dos corpos de seu tio e de Trix. Mal percebeu a movimentação de seus amigos. Caminhou até as vítimas de Voldemort e viu estampado nos rostos a surpresa. Os dois eram trouxas e jamais saberiam quão rápido um bruxo poderia tirar a vida de uma pessoa. Ajoelhou-se e tocou os cabelos dourados de Trix. Era terrível demais. A garota não tinha nada a ver com aquilo e agora ele não tinha idéia de como avisar a família dela. Não tinha o que dizer. Prendeu a cabeça entre as mãos, atormentado.

- Quanto isso tudo vai acabar?! Eu não agüento mais... – gemeu, completamente desolado.

Uma mão pousou sobre o ombro de Harry, que se ergueu cabisbaixo. Rony não encontrou as palavras para consolar o amigo, mas o gesto foi suficiente para despertá-lo para a realidade. Contemplou a tenda. Cada um de seus amigos corria para avaliar as condições das pessoas desmaiadas. Gina estava debruçada sobre a mãe tentando despertá-la. Hermione estava ao lado do senhor Weasley. Neville sacudia o corpo de Lupin. Dino e Simas davam atenção aos gêmeos. E Luna mantinha a cabeça de Tonks em seu colo. A vida estava um completo caos.

- Temos pouco tempo para arrumar tudo e ir até esse lugar amaldiçoado.

Harry olhou de modo estranho para o companheiro.

- Não. Essa história não tem “nós”, Rony. Eu vou sozinho.

- Cara, você pode falar o que quiser neste minuto. Vou perdoar porque o baque que você sofreu foi pesado demais. Mas acontece que não dá para confiar em Você-Sabe-Quem. Então, não tem papo. Não vou deixar você na mão. Por Merlin, já te acompanhei em todas as outras encrencas. Acha que vou te abandonar justo agora?

- Rony, é muito perigoso...

- Exato! Por isso, você não pode ir sozinho!

- O Rony está certo. Nós iremos com você.

Os dois fizeram cara feia para Hermione.

- Nada disso. Você está fora – resmungou o ruivo.

- Rony, você deu o argumento que me faltava. Eu também estou junto com vocês desde o início. E devo lembrar que muitas vezes foi a minha lógica que nos livrou de boas?

Os rapazes se calaram. Rony ainda insistiu a respeito da segurança. Ponderou que enfrentariam algo que nem sequer podiam imaginar. E salientou que, dos três, era Hermione quem tinha um futuro mais brilhante. A garota foi irônica no agradecimento e quando os dois começavam a discutir, Harry deu um basta.

- Eu não tenho tempo a perder com bobagens. Onde está a chave do portal? – e passou a rastrear o chão em busca da pedra entregue por Trix e que escapara de seus dedos.

- Ahn, enquanto isso o que nós vamos fazer? – perguntou Neville.

Antes que os três pudessem dar uma resposta, Gina se aproximou.

- Vocês cuidam de quem foi estuporado. Levem todos para casa. É inútil tentar acordá-los por meio da magia. O ataque foi forte. Então, alguém tem de desaparatar e buscar ajuda em St. Mungus. E eu acho que a gente devia procurar agora o professor Dumbledore.

- Não dá tempo. O portal vai se abrir em três minutos – desesperou-se Hermione, conferindo o relógio.

- Droga! Preciso da minha capa de invisibilidade. Onde está a chave do portal? – disse Harry, abaixando-se para tatear a grama.

- Eu pego – respondeu Rony, disparando para a Toca.

- Como é que é? A gente não vai avisar Dumbledore?! Isso é uma loucura – espantou-se Gina.

- É sério, Gina. Não dá tempo. Eu ouvi a sua mãe pedindo desculpas pra Luna porque acabou o pó de Flu. Ela disse que mandaria buscar no Beco Diagonal depois dos parabéns.

- Ok. Então, Neville, dê um jeito de procurar o professor. Aparate em Hogsmeade e voe até Hogwarts...

- Sem querer te cortar, Gina, e já te cortando: você poderia fazer isso.

- Não vai dar, Mione. Eu vou com vocês.

Harry, que continuava procurando a chave, se levantou como se tivesse molas.

- De jeito nenhum! Você não vai, Gina! Não vou deixar! Não preciso de mais ninguém na linha de tiro!

- Arre, quantas vezes será que vou ter de brigar para não ser excluída?! – bronqueou a ruiva.

- Não se trata de um clube, Gina. Isto aqui é perigo real. Pessoas estão morrendo! Não percebe?! Não vou permitir que você corra um risco desses. É desnecessário!

- Assim você me ofende. Claro que percebo o tamanho do perigo, Harry! Mas eu vou! Eu posso ajudar.

- Engano seu! Você vai é me atrapalhar! Vou ficar preocupado o tempo todo.

- Com a Mione e o Rony você não vai se preocupar, não?

- É diferente. Nós estamos acostumados! Eu sei como o Rony age, eu sei como a Mione pensa. A gente se entende.

- E comigo não rola esse entendimento? É isso que quer dizer? – perguntou, com os lábios tremendo.

- Não é isso. Eu só quero te proteger – respondeu Harry, amansando a voz e tentando segurá-la pelo braço. Mas assim que a garota se afastou, com uma expressão zangada, ele voltou a se exaltar. – Inferno! Todos me ajudem a encontrar essa chave.

Gina fervia por dentro. Não podia ser barrada quando ela era a única pessoa presente ali a saber da ameaça que Belatrix representava para Harry. Ainda mais porque Dumbledore estava totalmente alheio ao que se passava. Não podia ficar de braços atados. Enfiou as mãos nos bolsos dos jeans. Num deles, estava a pedra que Harry deixara escapar. A garota a pegara porque a chave rolara bem perto dela. E se trocasse o objeto pela garantia de sua presença? Olhou para todos abaixados, vasculhando a grama em busca do que estava em seu bolso. Irritou-se. “Mas são bruxos ou não? Bastaria usar Accio que a chave...”. De repente, sua mente se iluminou. Ela era uma bruxa! Imediatamente, executou um feitiço que aprendera em suas longas horas de biblioteca. Sem que ninguém percebesse, sacou a varinha do bolso de trás da calça e a apontou para o bolso lateral. Murmurou algumas palavras e na sua mão surgiu uma pedra exatamente igual à chave do portal. Ela não era encantada e Gina desconhecia como ativar o portal. Mas tendo a cópia em suas mãos Dumbledore seria capaz de encontrar o caminho que conduziria à Nephasta. Só restava fingir que acataria a decisão de Harry e pronto. A ruiva jogou a pedra no chão. Afastou-se para disfarçar e, em seguida, ergueu a varinha.

- Accio chave do portal! – e a pedra voou direto para sua mão.

- Oh, como é que não pensamos nisso antes? – murmurou Hermione, vexada.

- É que eu estou habituada a pensar em feitiçaria o tempo inteiro. Ao contrário de vocês, eu convivo com o mundo bruxo desde que nasci – respondeu Gina, encarando Hermione e Harry sem sorrir. – Ainda bem que pelo menos o Rony vai junto. Ele tem essa vantagem sobre vocês dois.

- Ah, não fique brava conosco, Gina – pediu Hermione. – É melhor assim, acredite, por favor. Eu concordo com o Harry. Você não precisa correr esse perigo.

Com a pedra nas mãos, Harry parou em frente a Gina. Queria dizer muitas coisas, mas não encontrava os meios. Hesitava também porque estava num momento crucial. Tinha certeza que partiria para o confronto que ele e Voldemort tanto esperavam.

- O-obrigado, Gina... Por tudo.

- Não me agradeça, Harry. Fiz tudo o que pude – retrucou a garota, sentindo os olhos úmidos.

- Rápido! O portal vai se abrir já, já. Demorei para achar a capa! – gritou Rony, ofegante.

- Estamos prontos – replicou Hermione, com a varinha na mão e o coração na boca.

- Bolaram algum plano?

- Na verdade, não – lamentou-se a garota, recriminando-se por não ter pensado nisso também.

- A gente perdeu muito tempo procurando a chave – disse Harry se aproximando de ambos depois de ter ficado agoniado diante de Gina e da impossibilidade de se despedir como gostaria.

- Perderam tempo? Inacreditável. Era só usar o feitiço convocatório – assombrou-se Rony.

- Quieto! Começou!

Harry estendeu a pedra para que Rony e Hermione pudessem tocá-la. Uma luz escapou da chave e foi crescendo até envolvê-los completamente. Os três se entreolharam, mudos. Do outro lado, nenhum murmúrio até que Luna quebrou o silêncio.

- Até a volta! Quando vocês retornarem, acho que todos vão estar recuperados. Nós vamos cuidar bem deles.

- Cuidem-se também, Luna. Obrigado! – Harry gritou e depois virou o rosto em direção a Gina, para quem lançou um último olhar.

A luz se intensificou e, em seguida, desapareceu, levando o trio para longe. Neville suspirou.

- Agora, está nas mãos deles! Anda, gente, temos que levar o povo para a casa. Ei, Gina, onde colocamos as pessoas? E quem vai a St. Mungus?

- Levem para a sala. E vocês decidam quem irá até St. Mungus. Eu tenho outra coisa a fazer – disse, apalpando a cópia da chave em seu bolso.

- O que você quer dizer com isso? – inquiriu Dino, desconfiado.

- Eu tenho de procurar Dumbledore. Agora.

- Não sou eu quem vai até Hogsmeade? – perguntou Neville.

- Podemos ir juntos, se você quiser. Mas eu vou de todo jeito.

- E como você pretende chegar em Hogsmeade? E acho que para comunicar o que aconteceu basta o Neville – insistiu Dino.

- Aí é que está. Eu tenho mais coisas a comunicar. E eu sei muito bem como vou para lá. Vou aparatar.

- Gina, você não pode! – disse Simas, como quem acabava de escutar a maior tolice de sua vida.

- Eu sei que não posso. Em tese. Mas esta é uma emergência. Eu preciso falar com Dumbledore. Além disso, o Fred e o Jorge estavam me ensinando.

- Posso estar enganado, mas eles não têm habilitação para serem instrutores! Você vai se meter em encrencas com o Ministério da Magia – alertou Simas.

- E o que isso significa perto do perigo que o Harry, a Hermione e o Rony estão correndo? Ah, por favor, eu agüento as conseqüências – disse, enquanto se dirigia decidida até um galpão que ficava perto da tenda.

- O que você está fazendo?

- Tenho pressa, Neville. Assim que chegar em Hogsmeade, vou voando até Hogwarts – respondeu enquanto pegava a Firebolt de Harry.

- Gina, para você aparatar sem problemas concentre-se num ponto específico. Eu escolheria a porta da Dedos de Mel. Visualize a entrada, com o máximo de detalhes que puder e se veja lá, inteira e com a vassoura. Não tem erro.

A voz animada de Luna pegou o grupo de surpresa. Gina sorriu. Sentiu-se finalmente apoiada.

- Obrigada, querida! – disse, apertando a mão da loira.

- E pode deixar. Eu vou tomar conta de todos. Coloco o pessoal na sala, acomodado da melhor maneira possível e depois vou para St. Mungus buscar ajuda.

- Nesse caso, só me resta te acompanhar, Gina – interrompeu Neville, pegando uma vassoura.

- E eu também – concordou Dino, separando outra.

Simas coçou a cabeça por um minuto até que decidiu se juntar aos amigos. Os três rapazes colocaram a mão sobre os ombros de Gina como forma de dar-lhe mais segurança. E desapareceram. Para a caçula dos Weasley, a experiência veio seguida de uma dorzinha de estômago. Fred e Jorge realmente tinham sido bons instrutores, mas Gina sabia que as primeiras aparatações eram feitas sob supervisão. Felizmente, podia contar com os amigos para fortalecer sua confiança. Quando se viu diante da porta da Dedos de Mel, soltou um suspiro de alívio. Não faltava nenhum pedaço de seu corpo e a Firebolt estava intacta. Não demorou um segundo nessa contemplação. Montou sobre a vassoura.

- Vamos! – e partiu assumindo a dianteira do grupo e voando com uma habilidade de fazer inveja a Simas.

- Também! Ela convive com o Harry e o Carlinhos – berrou o rapaz para ser ouvido pelos colegas.




*****




Harry, Rony e Hermione se viram na base de uma montanha coberta de neve. O ruivo sacou três capas da mochila que trouxera e entregou para os amigos. “Como não sabia para onde a gente ia, resolvi trazer algumas coisas”, murmurou. A capa não era muito grossa, mas pelo menos os abrigava dos finos flocos brancos que caíam sobre eles.

- Tem idéia de onde estamos, Mione?

- Infelizmente, não. Mas deve ser no hemisfério sul porque está fazendo frio.

- Acho que a pergunta correta é para onde vamos – cortou Rony, intrigado por não encontrar indicação nenhuma.

Os três olharam ao redor. Não se via quase nada, exceto outras montanhas e uma pequena trilha que ladeava a parede da montanha onde estavam. Mas Harry notou que a neve estava mais pisada para um lado.

- Foi ali que o portal se abriu para eles. Atrás da gente não tem marca nenhuma. O lance é ir em frente.

- Gostaria de estar usando roupas e calçados mais apropriados – resmungou Hermione, andando com desconfiança.

- Nem Voldemort, nem os Comensais estavam com roupas de inverno. Acho que a gente não vai precisar.

- Do que a gente precisa é de um plano. Ou a gente chega lá e diz: “oi, seu Voldemort. Estamos aqui do lado do Harry. Se quiser matá-lo, vai ter de matar a gente primeiro”? Quem sabe assim conseguimos comover o homem e ele desiste de acabar com o mundo.

- O único plano que eu tenho é localizar essa maldita passagem, derrotar Voldemort, acabar com a Belatrix e livrar o Moody e a minha família.

- Nunca vi um plano tão perfeito nos detalhes – ironizou Rony, ajudando Hermione a passar por um monte de neve.

Andaram por mais um minuto, sentindo o frio penetrar nos ossos. Até que terminaram de contornar a parede e se depararam com um vale ermo. A montanha formava um côncavo de pedra sólida. Não se via uma abertura. E as marcas da neve pisada se detinham no meio do vale.

- E essa agora?

- Calma, Rony, alguma pista tem de haver – comentou Hermione.

- Ou isto aqui é uma emboscada – arriscou o ruivo, apertando a varinha e mirando o alto da montanha, atrás de possíveis inimigos.

- Não é. Não aqui. A gente deve estar no lugar da passagem porque as marcas somem de repente. Só tem agora essa neve fofa e branca. Não parece que eles atravessaram a parede.

- Se fosse assim, a gente podia tentar algo como Abre-te, Sésamo. Ei, será que eles desaparataram? – questionou Hermione.

- Não é possível. Tem de existir algum acesso. Por que Voldemort se daria ao trabalho de me trazer até este lugar se não fosse para entrar em Nephasta?

- Senão desaparataram, vai ver eles foram tragados pela terra.

Os olhos da garota se acenderam.

- Rony, você é um gênio!

- Sou?!

- Sim! Vejam. Essa neve está branca demais, quase brilhante. Não está como o resto da paisagem, que é uma alvura mais opaca. E vocês repararam que os flocos de neve não estão caindo sobre essa parte? Essa neve é encantada!

- Sério? Nossa! ... – começou Harry. - Mas ainda não entendi por que o Rony é um gênio. Sem ofensas, Rony.

- Normal. Eu também não saquei.

- Você disse que eles foram tragados pela terra. Só podiam ter sido mesmo. A neve está intocada nesse trecho até a parede côncava. E a parede não tem marca nenhuma. Inscrição, abertura, fechadura. Nada. Claro que vocês sabem que uma passagem mágica precisa de alguma instrução para que os bruxos possam atravessá-la.

- Claro! – mentiram os rapazes, um tanto encabulados.

- Se não há inscrições na parede e eles sumiram como se fossem tragados, então a passagem deve ser aberta no próprio chão. A gente só tem de limpar a neve. Um minuto que eu cuido disso.

Hermione acionou a varinha e logo o chão foi descoberto. Como ela dissera, os três puderam ver perfeitamente uma seqüência de inscrições lavradas no chão rochoso. Havia também um desenho de um dragão cujo olho era um buraco circular.

- Foi fantástico, Mione. Mas eu não consigo entender lhufas!

- Deve ser élfico. Os orcs são elfos que se corromperam. Eles devem ter sido aprisionados aqui, junto com as outras criaturas do submundo, pelos elfos do mundo mágico antigo.

- Ora, por que não disse logo? Eu só tenho de aprender a falar élfico de uma hora para a outra.

- Como Harry falou, Rony, Voldemort não o faria vir até aqui se fosse para impedi-lo de entrar no submundo. Você ainda tem a chave do portal com você, Harry?

- Aqui está.

A garota pegou a pedra e a analisou com atenção. Viu que a ordem das marcas era diferente das apresentadas na rocha.

- Talvez se a gente seguir esta ordem, batendo com a varinha na pedra...

- Ou talvez se a gente encaixar a pedra no olho do dragão – cortou Rony.

- Será tão simples? – perguntou Hermione, atrapalhada.

Rony encaixou a pedra e a empurrou com força para que ela se nivelasse ao solo. Imediatamente, a rocha começou a baixar, como se fosse uma ponte apontando para baixo. Os três seguraram a respiração. A abertura era larga. Compreendia quase que toda a extensão da parede côncava. Desceram com as varinhas a postos e deram com um túnel amplo e escuro.

- Lumus! – disse Harry prontamente.

Os amigos copiaram o gesto.

- Ti-tiramos a pedra? – gaguejou Hermione, assustada com o breu e o desconhecido.

- Acho bom. Não sabemos se vamos precisar dela de novo. E olha para cá. Tem um dragão nesta parede. Para abrir a passagem, é só colocar a pedra no olho. Quer dizer, eu imagino – respondeu Harry.

- Isto aqui já é Nephasta? – perguntou Rony, retirando a pedra que voltara a ficar saliente quando a rampa rochosa tocara o solo do túnel.

- É ainda a passagem. Nephasta era uma cidade subterrânea. A gente vai ter de andar um bocado até encontrar o portão dela. É essa a lenda que o McKinley me contou. Ah! Melhor usarem a capa de invisibilidade. Voldemort deve pensar que eu vim sozinho.

Rony abriu a capa sobre Hermione e os dois apagaram as luzes de suas varinhas, ficando apenas com a de Harry. Depois, ouviram o som da rocha fechando a passagem. Foi um ruído grave e perturbador. E o túnel ficou negro como a noite.





*****




Gina voava baixo e com o pensamento fixo. Mal ouvia o que seus companheiros de viagem diziam. Só conseguia rever o momento em que Harry olhara para Belatrix. Sentira a transformação. Pressentira a ameaça. Não havia tempo a perder. Assim que visualizou o castelo, o coração bateu apressado. Dumbledore teria a solução. Sua mente se concentrou com todas as forças no diretor.

- A janela de Dumbledore está aberta! Vamos direto até a sala dele – gritou para os amigos.

- Você está louca? Não podemos entrar sem mais nem menos na sala de Dumbledore. Ainda mais voando nessa velocidade – rebateu Simas.

- É preciso.

- E se ele estiver pelado? – insistiu o rapaz.

No mesmo instante, todos fizeram uma careta. “Ewwww”, gemeu Neville.

- Se a gente gritar, ele pode nos ouvir. Mas de jeito nenhum eu vou entrar voando. A janela parece pequena – ponderou Dino. – E você pode ser boa na vassoura, Gina, só que esse movimento que você pretende é bem perigoso.

- Todo segundo é precioso – respondeu Gina, repetindo mentalmente o nome do professor, se esforçando para que seu chamado fosse captado.

- Quando eu contar três, a gente grita. Um, dois...

Dino, porém, não necessitou contar mais. O diretor saiu à janela e fez um gesto claro que os convidava a entrar. Gina exultou. Os rapazes, entretanto, trocaram olhares assustados. Nenhum deles se sentia seguro a ponto de fazer a manobra.

- Ahn, eu não sou muito bom de vôo. Então, vou pousar mesmo no portão e depois encontro vocês – disse Neville.

Os dois colegas acharam a idéia boa.

- Ok. A gente se vê – gritou Gina, dando um mergulho e se distanciando dos rapazes.

O movimento foi descrito com graciosidade. A vassoura ganhou velocidade nos metros finais, mas a garota conteve o ritmo quando estava já bem perto da janela. Abaixou o corpo, se agarrou mais ao cabo da vassoura e entrou pela sala de Dumbledore sem tocar na moldura da janela e nem nos objetos. Lançou a Firebolt para cima para refreá-la e a puxou imediatamente de volta para o chão. Fez a vassoura parar como se domasse um cavalo bravio. Dumbledore ergueu as sobrancelhas, admirado. Mas Gina não se deu conta da aprovação tão preocupada estava em falar logo o que não podia ser discutido na frente dos amigos.

- Professor, neste exato momento Harry está indo ao encontro de Belatrix e Voldemort. E ele voltou a ser atacado pela força das trevas. Eu trouxe...

- Calma, senhorita Weasley! Para onde Harry está indo? Ele saiu da casa dos tios?!

- Eu já passo os detalhes, por favor. Estou preocupada com a profecia de Cassandra. Harry vai tentar acabar com a Belatrix. Eu sei disso! E ele já está influenciado por energias muito negativas. Eu vi as flores de casa morrerem, o frio que invadiu a Toca... ohhh, professor McKinley... eu... – surpreendeu-se Gina ao perceber o mestre de Defesa Contra as Artes das Trevas sentado ali perto, ouvindo tudo.

- Não se preocupe, minha querida. Lembra-se do plano que eu estava bolando e que te avisei por carta? Bem, o professor McKinley vai nos ajudar. Ele sabe da nova profecia. E agora me explique como Harry encontrou Belatrix e por que você falou da Toca se ele está com os tios.

No mesmo instante Minerva McGonagall pediu licença. Estava acompanhada de Neville, Dino e Simas. Um intrigado Snape também se juntou ao grupo assim que despachou Filch que berrava que invasores deveriam ficar presos numa masmorra. Mal a porta de Dumbledore se fechou, os quatro desandaram a narrar o que acontecera na Toca. Não esperaram por pedidos de explicações e descreveram com calor o que tinham testemunhado e o que Você-Sabe-Quem dissera durante o período em que esteve na festa.

- Como Voldemort conseguiu chegar à família de Harry? – perguntou Dumbledore, com a voz firme mas com uma nota de fúria.

- Eles usaram a maldição Imperius com uma trouxa. Não sei quem é ela, de fato – respondeu Dino.

- E penetraram na memória de Moody, depois de o terem torturado. Voldemort disse que conseguiu ludibriar o senhor, professor – completou Gina, vendo as narinas do diretor de Hogwarts se dilatarem num assomo de ira.

Dumbledore, que estivera sentado o tempo inteiro, levantou-se parecendo mais alto do que era. Estava realmente zangado.

- Thelonius, precisamos encontrar Harry. Nem que seja necessário virar a Terra do avesso!

Gina se adiantou e retirou a pedra que trazia no bolso.

- Isto talvez ajude. Eu fiz uma cópia da chave do portal. Calculei que o senhor poderia ativá-la.

McGonagall juntou as mãos, emocionada. McKinley assobiou. Snape se agitou, surpreso, porém não alterou a expressão do rosto. E Dumbledore olhou a aluna por cima dos óculos de meia-lua. A ira diminuíra um pouco, substituída por um ar de admiração.

- Parabéns, senhorita Weasley. Sua perspicácia fez a grande diferença. Você receberá um reconhecimento por causa disso. Com esta cópia, eu e os professores McKinley e Snape poderemos ajudar Harry.

A garota abaixou a cabeça, com humildade. Mas quando a reergueu trazia um brilho nos olhos.

- Professor, perdoe-me se eu estiver sendo muito abusada. Mas troco o reconhecimento pela minha presença no grupo. Quero ir até Nephasta. Tenho certeza de que sou capaz de colaborar e trazer meu irmão, Harry e Hermione de volta! Estou disposta a fazer esse... sacrifício – e sublinhou a palavra final. Era um modo de recordar o diretor da profecia de Cassandra.

- Senhorita Weasley, não creio que tenha a noção exata do perigo que Nephasta representa! – exclamou McKinley.

- Exata? Não tenho. Mas sei que para lá foram pessoas que eu amo!

- Minha cara, você falou como se fosse o próprio Godric Griffyndor. Concordo com sua participação, desde que obedeça às ordens dadas por nós, seus professores. Vamos ao jardim. Temos de abrir este portal o quanto antes.

A professora McGonagall não teve como protestar. Recebeu a incumbência de entrar em contato com o Ministério da Magia e partir para a Toca em seguida para verificar o estado dos amigos feridos e liberar Luna Lovegood. Os rapazes foram orientados a retornar para suas casas. “E o que fazemos com as vassouras?”, perguntou Neville timidamente. Gina teve um estalo.

- Professor Dumbledore, elas foram úteis agora e podem ser úteis em Nephasta também. Posso levá-las?

- Por que não, senhorita Weasley? Até o momento, suas idéias foram brilhantes. Preparem-se todos. É hora de partir!

Os quatro seguraram a pedra. Dumbledore pronunciou palavras mágicas que Gina nunca antes ouvira. E uma luz surgiu, cobrindo o grupo. Não houve pausa para despedidas. Sumiram em segundos.





*****




- Você acha que tem alguém nos vigiando, Harry? – perguntou Rony baixinho.

- Eu também tenho essa sensação, mas não dá para garantir.

- Humm, eu preciso contar um negócio. Agora há pouco, eu fiz um teste. Tentei desaparatar e aparecer na entrada, só que não consegui.

- Aqui não deve ser possível aparatar, Rony. Por que eles usariam um portal e ainda mais um que se abre antes da passagem? Esta região está carregada de magia. Uma magia muito antiga – observou Hermione.

- Vejam, uma bifurcação! – interrompeu Harry.

- E que caminho a gente segue? – balbuciou Hermione.

- Tem um pergaminho ali, preso na parede. Mas ele é muito estranho.

- É um pergaminho de fogo, cara. Ele vira um monte de cinzas assim que você ler o que está escrito. Deve ser um recadinho de Você-Sabe-Quem.

Harry pegou a mensagem. Demarcava qual trilha deveria ser escolhida. No final do pergaminho estava a marca negra de Voldemort. Concluída a leitura, o papel se incendiou.

- Esse é o primeiro. Tem mais outros ao longo da passagem. É o que estava escrito – murmurou o rapaz.

Após terem percorrido túneis e mais túneis, o trio se deparou com um portão gigantesco resguardado por duas imensas figuras de pedra. Nele, havia mais inscrições élficas que eles não conseguiam decifrar. E também estava preso no portão mais um pergaminho de fogo.

- O que diz esse aí?

- Apenas que eu devo abrir o portão e atravessar a ponte para estar em Nephasta. E que tem um “comitê de recepção” me esperando. Que civilizado – ironizou Harry.

- Alohomorra! – gritou Hermione, ansiosa demais para esperar.

Harry teria fuzilado a amiga com o olhar se pudesse enxergá-la. Ela não podia se denunciar com aquele grito. O portão, no entanto, não se moveu um milímetro. Hermione e Rony começaram a cochichar sob a capa de invisibilidade. Ele reclamava da precipitação. Ela se justificava. Harry deu de ombros. Apontou a varinha, aprumou o corpo e, sem elevar a voz, deu o comando.

- Alohomorra.

E o portão foi se abrindo lentamente. Hermione deixou o queixo cair, ligeiramente frustrada. Rony a confortou. “Ele está ficando cada dia mais poderoso, Mione. É natural que o feitiço do Harry seja mais potente que o seu ou o meu.” Calaram-se porque aos poucos surgiu uma ponte de pedras tão claras que pareciam surreais. Era comprida e larga. Debaixo dela, havia um abismo. Antes de iniciarem a travessia, depararam-se com uma haste comprida sustentando um cristal. Não compreenderam a razão daquilo, mas prosseguiram. Na outra extremidade da ponte, puderam enxergas tochas nas mãos de orcs. Além de um grupo de Comensais encapuzados.

À medida que avançava pela ponte de pedras claras, Harry imaginou que ela tivesse sido criada ou recriada por Voldemort. Hermione teve a mesma impressão, que transmitiu para o amigo num cochicho. Harry sentiu ainda que do abismo vinham lufadas de ar quente e desagradável. “A gente desceu tanto que deve estar na boca do inferno”, pensou enquanto caminhava com passos decididos. Notou também que, do outro lado da ponte, havia uma construção que se parecia com uma torre de vigia. Ouviu um urro que vinha de lá e se assustou. Debaixo da capa de invisibilidade, Rony gemeu.

- O que foi? – sussurrou Hermione.

- Esse urro é de um bewolf. De nada vai adiantar esta capa!

- Silêncio! Eles vão ouvir vocês – resmungou Harry.

Assim que Harry atravessou a ponte, os orcs arreganharam os dentes e soltaram exclamações numa língua incompreensível. Alguns urraram, sacudindo armas e escudos de material grosseiro. Sob a capa, Hermione estremeceu e buscou conforto em Rony. O rapaz a puxou junto de si pela cintura. Suspeitava que em breve a presença deles seria denunciada. Era só um bewolf apurar as narinas.

- Harry Potter! O milorde te aguarda – disse com uma irritação indisfarçável um Comensal inteiramente vestido de negro.

- Onde ele está? – perguntou Harry, reconhecendo pelas roupas e pelo porte físico o Comensal que atingira na Toca.

- Tolo! Não fale com ele – resmungou outro, que veio da Torre acompanhado de um orc enorme. Era Malfoy – Ora, então, você teve a ousadia de desafiar as ordens do lorde das trevas!

- Do que você está falando, Malfoy?

- Quem está com você? Dumbledore? Diga logo senão mando um bewolf devorar seu companheiro – sibilou.

O orc gigantesco começou a rir de modo medonho. Rony apertou o corpo de Hermione contra o dele. Ela enterrou o rosto no peito dele por alguns segundos. Harry viu que não tinha jeito.

- Não é Dumbledore. São dois amigos de Hogwarts. Como você descobriu?

- Os bewolfes sentiram pelo olfato. Nunca tente enganar um bewolf! – gargalhou o orc.

- Faça com que fiquem visíveis agora! – gritou Malfoy.

Rony imediatamente puxou a capa, revelando quem eram os companheiros de Harry. Os orcs voltaram a sacudir as armas e escudos, gritando excitados.

- Escória bruxa – desprezou Malfoy. – Nem para servir de comida de bewolf vocês prestam.

- Nós vamos com Harry! – disse Rony, vermelho de raiva.

- Não vão, não – disse o Comensal, rilhando os dentes e erguendo a varinha.

- ATREVA-SE E VOCÊ MORRE!

O grito de Harry foi seguido por uma onda intensa de energia, seguida de uma queda súbita de temperatura. Os olhos do rapaz tinham escurecido e se tinha a impressão que se alguém tocasse nele levaria uma descarga elétrica violenta. Os orcs mais próximos se afastaram, assustados com a transformação. Malfoy, que não era estúpido, recolheu a varinha e dirigiu um olhar desconfiado para o rapaz. Refeito do assombro, recuperou o ar de superioridade.

- Muito bem. Mas eles ficam aqui! Se você se julga capaz de retornar, então, encontrará seus amigos neste lugar – respondeu com sarcasmo. – Zarkis, traga as montarias.

- Os bewolfes – grunhiu o orc, lançando um olhar furioso para o Comensal. – Podemos atravessar a ponte agora?

- Você sabe o que o milorde disse. Mais tarde. Precisamos resolver antes aquela... pendência – disse Malfoy, mirando Harry de esguelha.

- Eles são apenas garotos! – resmungou. – Todos estão vendo isso. Não querem mais esperar. Querem a liberdade!

- Zarkis, não direi mais nada! Não insista – murmurou aborrecido.

A conversa escapara a Harry, que ficara ao lado de Rony e Hermione. “Se eu demorar, fujam! Voltem pela ponte! E usem a capa porque os orcs não conseguiram perceber vocês”, orientou. Rony, que estava com uma das mãos nas costas de Hermione, numa tentativa de protegê-la, fez uma careta.

- Eu sei como enfrentar os bewolfes. Mas eu estou preocupado com você, cara. Como a gente vai saber que você precisa de ajuda? Eu não tenho idéia de onde te procurar.

- Agora é comigo. Tenho de ir sozinho. Ahn, desculpem-me por ter trazido vocês. No final, só coloquei meus melhores amigos em perigo! – disse, angustiado.

- Fomos nós que decidimos te acompanhar, Harry. Não se preocupe conosco. Vamos dar um jeito de sermos mais úteis. Nós vamos pensar em algo – respondeu Hermione, segurando a mão livre do amigo.

- Eu só quero que vocês se cuidem. Que voltem para a Toca. E cuidem de todos. Todos, Rony. Seus pais, seus irmãos... a Gina – murmurou, sentindo o coração bater apressado. No desespero ante a possibilidade não mais ver a garota, pôs a mão sobre o pingente que guardava uma mecha dos cabelos ruivos que adorava.

- Ih, as montarias são aqueles bewolfes. Você vai voltar fedendo, cara. Isso até vai ajudar. Vou te encontrar pelo olfato – brincou Rony, dando um tapa amistoso no colega.

Harry deixou os amigos para trás e se dirigiu para um bewolf arrumado com uma cilha imensa. Apoiou o pé no estribo e subiu sem dificuldade. O animal estava no meio de uma fila liderada por Zarkis. Malfoy seguia atrás de Harry. O Comensal se virou para os dois companheiros que estavam na Torre.

- Recolham a ponte! E vigiem esses dois! Dentro de alguns minutos, tudo estará resolvido – berrou, dando um tom maldoso à última frase.

O Comensal vestido de negro se dirigiu até o final da ponte e estendeu o braço para uma haste igual a que Rony, Hermione e Harry tinham visto do outro lado. O bruxo usou a varinha para soltar o cristal e o recolheu, pendurando-o por magia numa grossa corrente que trazia no pescoço. A ponte ficou translúcida e desapareceu em seguida. Os orcs que ainda estavam por perto uivaram e espernearam. Aos poucos, eles se afastaram, sumindo na escuridão. Ficaram apenas alguns nos arredores, atentos aos bruxos.

- Detesto esses orcs. Não dá para confiar nesses monstros – resmungou o Comensal de preto.

Para Rony, aquilo era inegável. Puxou Hermione de novo para junto dele. A garota se sentiu grata pelo gesto protetor. “Pense, Mione, pense. A gente tem de achar uma saída para esta situação. Deu para sacar que existe uma tensão entre os Comensais e os orcs. Isso pode ser útil”, murmurou o rapaz. Ela questionou o motivo da tensão. O ruivo não se incomodou. “E isso importa? Vamos jogar uns contra os outros”, sugeriu.

- Vocês, fiquem deste lado. Está muito escuro aí – disse com maus modos o outro Comensal.

- Claro, claro. Vocês têm de nos vigiar. Têm de seguir as ordens do chefinho – tripudiou Rony, andando para onde o bruxo apontara.

- Malfoy não é meu chefe! – saltou das sombras o irritado Comensal de preto.

- Desculpe. Pensei que fosse – falou com um brilho repentino no olhar.

- O que você está fazendo, Rony? – sussurrou Hermione, notando que o rapaz maquinava algo.

- É que ele falou de um jeito e ainda levou o Harry naquela... hum... como devo dizer? Nobre comitiva? E já que vocês ficaram aqui, imaginei que o Malfoy fosse o líder e vocês... o segundo escalão.

- Mais uma palavra e arranco a sua língua! – ameaçou.

- Oh, não se aborreça – apressou-se Hermione. – O Rony tem problemas com autoridades. Mas já que o Malfoy foi embora, tenho certeza de que ele vai se comportar melhor daqui para frente.

- Aquele idiota não está acima de mim! Eu e ele ocupamos a mesma posição junto ao milorde!

- Eu me enganei, naturalmente. Tudo porque ele pareceu ter dado a ordem de o senhor ficar aqui e...

- Eu não preciso ficar aqui. Posso ir a hora que quiser.

- Sei, sei – disse a garota, deixando escapar um sutil tom de descrença.

O Comensal se enfureceu. Retirou a corrente pesada do pescoço e a entregou para o colega, assombrado com a reação do companheiro.

- Cuide você da ponte! Eu não vou fazer o favor de tomar conta de dois bebês! – exclamou. Deu alguns passos e berrou para as sombras. – Tragam-me um bewolf!

Um orc surgiu da escuridão, trazendo um animal imenso. O Comensal subiu na montaria e partiu. “Nenhum Malfoy vai dar ordens para um Lovett”, pensou, orgulhoso. Mal o bruxo se afastou, ouviu-se um murmúrio entre os orcs. Parecia de satisfação.

- Rony, será que fizemos a coisa certa? – gemeu Hermione, esforçando-se para contar o número de orcs no local, ao menos os iluminados pelas tochas.

- Provocamos um movimento, Mione. Isso vai valer de alguma coisa. Seja para o nosso bem ou para o mal – respondeu o ruivo, com o mesmo ar reflexivo que incorporava ao jogar xadrez bruxo.





*****




O portal aberto por Dumbledore conduziu o grupo para o mesmo lugar onde tinham estado Rony, Hermione e Harry. O dia ainda estava claro e flocos de neve caíam sobre eles. Graças à luminosidade, conseguiram descobrir rapidamente o caminho seguido pelo trio.

- Thelonius, por favor, diga-nos onde estamos – pediu o diretor de Hogwarts, assumindo a dianteira do grupo.

Gina se espantou de ver McKinley retirar das vestes um estranho instrumento semelhante a um relógio de bolso. O professor apertou um botão e a traquitana se abriu, formando um estranho objeto triangular e vazado. McKinley apontou o aparelhinho para o céu e mirou numa minúscula seta desenhada numa extremidade. No centro da estrutura havia um círculo repleto de números e letras e algumas hastes que giraram de um lado para o outro até se fixarem num ponto. O antigo auror apertou um botão e o instrumento recuperou o formato original.

- Como eu suspeitava. Estamos na Nova Zelândia. Mais precisamente num local que os bruxos do passado chamavam de Vale Eterno.

- E o senhor sabe disso como? – perguntou Gina.

- Minha querida, viajei por tantos lugares no mundo que eu acabei virando uma enciclopédia geográfica – comentou. – E, claro, sempre posso contar com meu bussolábio! Este instrumento aqui que me dá as coordenadas de onde estou. É uma mistura mágica de bússola com astrolábio. A patente é minha!

Andaram pela neve até se depararem com a massa branca e macia que cobria a entrada da passagem. Para Dumbledore, foi fácil descobrir que o local estava encantado. Estendeu a mão para pegar um punhado de neve e ela logo se transformou numa poeira brilhante.

- A cidade de Nephasta foi lacrada por elfos do mundo antigo. Eles eram muito ligados à natureza e só poderiam mesmo pensar em camuflar a passagem com elementos naturais e belos aos olhos.

- Por que a cidade foi lacrada? – inquiriu a garota.

- Senhorita Weasley, a palavra nefasta vem do latim nefastus e significa infausto, de mau agouro – explicou Snape, com voz sombria. – Ela acarreta a morte e a ruína. Aos povos da antiguidade deve ter chegado a lenda de Nephasta, uma cidade erguida nos subterrâneos e habitada por criaturas vis. Deve ter sido tão tenebrosa que aos elfos do mundo antigo só restou lacrá-la para sempre. E o nome desse lugar virou sinônimo, uma mera expressão, sumindo da memória dos homens sua terrível origem.

- E Voldemort abriu esse lugar horroroso.

A voz de Gina se perdeu, mas ninguém prestou atenção. Dumbledore com um gesto fez a neve desaparecer e as inscrições no solo rochoso surgiram para deleite de McKinley.

- Está em élfico. Diz que aqui começa a passagem para Nephasta, a nefanda cidade que... ei, há mais coisas. Alvo, você já ouviu falar do rio Flama?

- Sim – respondeu o bruxo, com um tom de lamento, enquanto seus olhos percorriam as inscrições. Dumbledore também conhecia a língua élfica.

- Não é mais outra lenda antiga, McKinley?! – questionou Snape, intrigado.

O professor ergueu os olhos para o alto da montanha, cujo cimo estava coberto de nuvens, e suspirou.

- Com o diabo, não estamos numa simples montanha. As nuvens não deixam a gente ver que isto é um vulcão. Inativo, mas ainda assim um vulcão. Preparem-se, meus amigos. De acordo com esta inscrição, uma fenda se abriu bem no centro de Nephasta e dela brotou a Flama. Isso não é nada bom – e prosseguiu em tom preocupado. - Havia mais um motivo para os elfos esconderem esta cidade. Agora entendo porque Voldemort atraiu Harry para cá.

- Eu não entendo!

- Um minuto, Gina. Primeiro, vamos entrar. No caminho, eu explico tudo.

Dumbledore apontou a varinha para algumas palavras em élfico, marcando-as com uma luz dourada. E a passagem voltou a se abrir.








Obrigada pelos comentários e msgs. Até o capítulo 27.

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