Lembranças de um grande amor

Lembranças de um grande amor



Harry colocou uma gravata vermelha com listras amarelas que lembravam as cores da Grifinória. Estalou os dedos e ela executou sozinha um nó perfeito. Vestiu um sobretudo por cima da roupa e pronto. Na Toca, não necessitaria do abrigo. Mas nas alturas dos Andes fazia frio. Ao sair do quarto, recordou-se de algo que desejava levar. Largou a porta aberta e se encaminhou a um móvel com gavetas. De dentro de uma delas, sacou uma correntinha e uma fotografia. Olhou para o retrato e deslizou o dedo suavemente sobre uma figura que corria para uma das margens do papel.

- Ah, você já terminou de se arrumar! – disse Chris, com estardalhaço.

A presença do auror surpreendeu Harry, que deixou a fotografia escapar de seus dedos. Chris se abaixou para pegar o retrato e olhou com curiosidade para as imagens. Rapidamente, Harry a recuperou.

- Obrigado! Ahn, não tinha te percebido por perto.

- É! Acho que é a primeira vez que te vejo distraído. Fico até feliz por ter pego o grande Harry Potter no pulo.

- Não seja debochado – retrucou.

- Bom, vim te avisar que o McKinley está te esperando. Ei, gostei do seu novo visual. Aquela barba sempre me incomodou. Não combinava com você.

- Valeu pela sinceridade. Pode dizer que eu já vou! – respondeu Harry, doido para ver Chris longe. Quando o assistente de McKinley o deixou sozinho, ele guardou a foto num dos bolsos do terno, junto com outros objetos que tinha separado.

Harry fechou a porta de seu quarto e um lacre mágico percorreu o umbral. Só podiam entrar em seu aposento se utilizassem uma senha, conhecida apenas por McKinley e por Tupai, além do próprio Harry. Antes de chegar à sala, o bruxo passou na frente do quarto de Nina. Como se estivesse esperando por ele, a garota saiu de seu quarto. Ela analisou com interesse sua aparência.

- Humm, você ficou bem. Eu estava tão acostumada a sua barba que imaginei que não iria aprovar a mudança.

- Bom, nem o Rony, nem a Hermione me viram de barba. Eles iam estranhar bastante.

- E a Gina também – murmurou a morena.

Nina e Harry tinham conversado longamente sobre o que acontecera no Labirinto. Apesar de se sentir insegura com o que poderia acontecer, ela também achava melhor que o rapaz visse Gina mais uma vez. Um pouco sem jeito, Harry agradeceu a moça por compreender sua situação.

- Ainda não falei sobre isso com o McKinley. Sei lá. Eu me senti envergonhado... – desabafou.

- Envergonhado por ter sentimentos por alguém?

- Não. Envergonhado por não ter falado nisso antes. Bom, mas minha viagem não significa que... – e ficou sem graça de prosseguir.

- Que vocês vão se acertar? Isso você só vai descobrir na hora – disse Nina, sentindo o rosto esquentar. – Por favor, não falemos mais nisso.

Harry concordou, absolutamente desconfortável. Entrou na sala e ouviu McKinley tratar dos últimos detalhes da segurança da vila com Chris. O auror americano fez sinal de que tinha compreendido tudo. Os dois bruxos ingleses se despediram e partiram outra vez. Nina acompanhou a dupla com os olhos e sentiu a mão de Tupai pousar sobre seu ombro. Não trocaram palavras, porém se entenderam perfeitamente. Nina tinha certeza que, qualquer que fosse sua dor, sempre poderia contar com o pai.



*****

Rony se olhou pela última vez no espelho. Nunca se vira tão elegante na vida. A casaca preta caía perfeitamente sobre seu corpo. Dava a impressão de que o rapaz estava mais alto.

- Eu teria escolhido outra gravata – arriscou-se Percy.

- Ora, cale-se. Pelo menos o Rony não ficou parecido com um pingüim como você no dia do seu casamento com a Penny – rebateu Fred.

- Não queremos discussões hoje – cortou o senhor Weasley, atento ao relógio. – Bom, ainda temos alguns minutos antes do Rony se dirigir até o altar. Proponho um brinde, rapazes.

Gui ergueu uma taça e uma garrafa de champanhe. Os homens reunidos no depósito reformado pegaram taças e elas se encheram no mesmo instante em que a de Gui. Artur Weasley tentou iniciar um breve discurso, mas gaguejou tanto que todos caíram na risada. Nesse momento, a porta se abriu e Dumbledore entrou usando uma veste completamente branca.

- Professor, assim o senhor vai ofuscar a noiva? – brincou Jorge.

- Esperem para ver a surpresa que tenho para vocês.

Dumbledore abriu passagem para a entrada de McKinley. Todos ergueram suas taças e gritaram “hey”. Em seguida, surgiu Harry. Os Weasley ficaram boquiabertos. Rony largou a taça e correu até o amigo. Abraçaram-se enquanto os demais aplaudiam entusiasmados.

- Vim garantir que você não fuja da Mione! – riu Harry.

- Melhor garantir que ela não fuja dele – disse um homem vindo dos fundos do depósito.

- Até tu, Lupin – tripudiou Rony. – Foi idéia da Mione a gente casar assim que terminássemos os cursos. Por mim, eu teria esperado mais alguns anos.

- Não acredite nele. Ele estava mais ansioso do que a noiva – sorriu o senhor Weasley. – Que bela surpresa, Harry! Pensamos que você não viria.

- E ele quase não veio. Anda alucinado com esse negócio de segurança. Para virmos aqui, montamos um esquema de vigilância que ficou sob os cuidados de um auror que contratei como meu assistente.

Enquanto os rapazes cercavam Harry para conversarem sobre os anos de afastamento, McKinley chamou Dumbledore para um canto. Contou-lhe sobre o misterioso ataque ao puma.

- O líder inca não acredita que haja algum invasor na vila neste momento. Mas estou preocupado, Alvo. Alguém descobriu o povoado. E provavelmente é alguém ligado a Belatrix.

- Falando nela, Thelonius, como Harry tem reagido à menção desse nome?

- Ele está ótimo. Harry progrediu bastante, Alvo. Acredito que ele não atacaria Belatrix se a visse hoje, por exemplo.

- Belatrix não se atreverá a atacar um lugar cercado por aurores. Rony convidou seus novos colegas e Tonks chamou os antigos. E estamos aqui eu, você, Severo e Minerva.

- Oh, Minerva está aqui?

- Claro que sim. Ela é uma das madrinhas de Hermione.

De repente, a porta se abriu e uma cabeça loura surgiu na fresta.

- Professor Dumbledore, a professora Minerva pediu para avisar que a ministra da Magia já chegou e que a cerimônia pode começar logo, logo.

- Obrigado, senhorita Lovegood. Irei em mais alguns minutos.

- Professor McKinley, não tinha visto o senhor chegar. Ei, aquele é o Harry? Harry! – e correu para abraçar o colega de Hogwarts. – Que história é essa de se esconder aqui? Aposto que a Hermione não sabe que você veio... Todos diziam que você não daria as caras. Mas eu apostei com o Neville que você viria. Não sei se você sabe, mas eu e o Neville estamos juntos.

- Não sabia. Meus parabéns, Luna. Neville é um ótimo sujeito... – começou Harry.

- E onde raios você esteve esse tempo todo? Não se cansou de rodar pelo mundo? Qual a profissão que pretende seguir: turista profissional? Ah, deixe para lá. Preciso contar as novidades para as meninas.

Luna saiu como veio, apressadamente. Harry olhou para Rony querendo rir. Cochicharam. “Convidou uma ex?”, perguntou com malícia. “Convidei o Neville. E a Luna, como não podia deixar de ser. Eles são um casal. A Hermione disse que não tem ciúmes de ex-possível namorada. Mas ficou uma arara quando enviei um convite para a Mei”, respondeu. “Ficou maluco? Você contou o lance da Mei?”, espantou-se. “Claro que sim. Não tenho segredos para minha noiva. Mas a boa notícia é que o Jin conseguiu conquistar a Mei. Demorou, mas eles se acertaram”, observou. Harry riu mais uma vez. “Seu charme, então, não é assim inesquecível.” Rony acompanhou o riso e partiu para o ataque. “E você? Não conquistou ninguém nesse tempo todo? Vai ficar solteiro como o McKinley?”, provocou. Ele não revidou. Fez uma cara enigmática. “Talvez sim, talvez não”. O ruivo quis entender a frase, porém Dumbledore pediu que todos saíssem e escolhessem seus lugares.

- Os padrinhos e o Rony ficam aqui mais um pouco. Espero vê-los no altar em dois minutos. Depois, é aguardar pela noiva.

Rony balançou a cabeça. Inspirou profundamente e soltou o ar aos poucos, para relaxar. Ficaram no depósito, além do noivo, Harry, McKinley e Lupin. Harry também se sentia nervoso. Tinham aparatado diante de Dumbledore e ele os conduzira imediatamente até o lugar onde estavam os rapazes. Não tivera tempo de procurar por Gina.



*****

Luna abriu a porta do quarto de Gina sem a menor cerimônia. Hermione, que estava pronta, arregalou os olhos com a entrada tempestiva. A senhora Weasley, que limpava os olhos após mais uma série de lágrimas, também se espantou. Gina olhou para Tonks e soltou um risinho ao ver que os cabelos da auror estavam ainda mais arrepiados.

- Desse jeito, garota, você pode causar uma parada cardíaca em alguém. Ainda bem que a Mione já é uma medibruxa – reclamou a senhora Weasley.

- Oh, eu sinto muito. Mas tenho a melhor das intenções. É que o Harry acabou de chegar! Ele está no depósito com os rapazes.

O alvoroço foi total. Algumas colegas de St. Mungus de Hermione que estavam no quarto começaram a falar ao mesmo tempo. Uma tremenda balbúrdia se fez, com vozes femininas excitadas com a presença do famoso bruxo. Era tamanha a confusão que Luna achou por bem se retirar. “Ah, vou lá para fora. Em vez de falar do Harry, prefiro falar com ele”, declarou como se tivesse dito para um bando de crianças que pirulitos estavam sendo distribuídos no jardim. Num minuto, no quarto restaram apenas Gina e a noiva. Até a senhora Weasley se retirara na esperança de reencontrar o rapaz que tanto adorava antes de a cerimônia se iniciar.

- Nossa, sobramos nós! – riu Hermione. – O Rony deve estar tão feliz. Eu também estou... Vê como meu coração está batendo – disse, pegando a mão de Gina e fazendo com que esta encostasse em seu peito.

- É verdade – sussurrou a garota.

- Sua mão está gelada, Gina. Será que você está tão nervosa quanto eu? Nossa, daqui a mais alguns minutos, seremos irmãs – murmurou Hermione, com a voz embargada.

- Estou nervosa, sim. Como não poderia?

- Gina! Você está tremendo... Calma, senão eu vou começar a chorar e borrar minha maquiagem – disse Hermione, abraçando-se à ruiva.

Bateram à porta. Era o senhor Granger. Via-se que o homem também estava emocionado.

- Está pronta, querida? Ahn, Gina, a senhora McGonagall mandou o recado de que ela a aguarda na entrada que fica à esquerda do altar.

Gina ficou de pé, alisou o vestido verde que as madrinhas usavam, tocou no cabelo para verificar se as madeixas vermelhas continuavam presas no alto da cabeça e, enfim, deixou seu quarto. O coração estava na boca. Tremia tanto que passou antes na cozinha para tomar um copo de água com açúcar. “Harry está aqui!”, sua mente gritava para ela. Pousou as mãos nervosas sobre uma cadeira. Seu anel de noivado brilhou, atraindo sua atenção. “Isso. Lembre-se. Estou noiva! Quase noiva! Eu só tenho de responder ‘sim’ para o Draco. Oh, por Merlin, Draco está na tenda. Ele não vai gostar de ver o Harry”, afligiu-se. “Calma! No altar, só preciso me concentrar no casamento. Não vou olhar para frente. Eu só tenho de olhar para o Rony, para a Hermione, para o Dumbledore. Mais nada”, pensou. Ouviu um sino bater. Era o sinal de que a noiva poderia descer. Gina deixou rapidamente a casa, atravessou o jardim, contornou o caramanchão e se aproximou da tenda branca que tinha sido montada. Havia três entradas. A principal, por onde passavam os convidados. A lateral à direita do altar, pela qual tinham entrado os padrinhos e o noivo. E a lateral à esquerda, em que duas mulheres vestidas de verde esperavam por Gina. A professora McGonagall por pouco não lhe deu uma bronca pelo atraso.

- Os padrinhos já entraram! – disse, com severidade. Mas suavizou a voz assim que viu como Gina estava trêmula. – Oh, minha querida. Este é um momento tão feliz... Não precisa ficar nervosa. Está com a aliança? Ótimo. Eu entro primeiro, depois Tonks... e você.

Minerva McGonagall beijou a testa da jovem e entrou. Tonks sorriu, toda animada. “Uhul, minha primeira vez como madrinha”. E também avançou pela lateral. Gina respirou fundo.



*****

Assim que Harry surgiu, ouviu-se um murmúrio por toda a tenda. O bruxo olhou rapidamente para os convidados e viu braços sinalizando para ele. Respondeu a alguns acenos, inclusive de gente que não conhecia. Virou o rosto em direção a Rony e sorriu para o amigo. O ruivo colocou a mão no pescoço, dando a entender que estava sentindo uma corda apertá-lo. McKinley riu da piada.

- Harry, essa é a primeira vez que venho a um casamento. Tenho um certo trauma disso. Por nunca ter conquistado a mulher da minha vida, decidi que jamais iria a um. Bobagem, não é?! – comentou baixinho o escocês. – Mas talvez eu possa ver um segundo, o seu. Que me diz?

- Errr, velho Mac, tenho uma confidência. Não é nada disso que você está pensando. Quando a gente estava subindo a montanha para voltar para a vila, não te contei algo bem importante a respeito do Labirinto.

- Como? Isso não é uma estratégia para mudar de assunto, é?

- Não. De certa forma, é sobre esse assunto. A gente ficou conversando tanto a respeito das pessoas que vi. Ficamos analisando tanto as minhas reações diante das imagens dos meus pais, do Sirius, Hagrid e de todos os outros, que deixei de te falar a respeito da segunda sala em que entrei.

- Pelas barbas de Netuno, Harry, você entrou numa segunda sala? E o que viu lá?

- A mulher da minha vida.

- O quê? – guinchou McKinley, atraindo a atenção de Dumbledore, Lupin e Rony.

Harry fez cara de que não era com ele. Dumbledore tocou um sino, chamando a noiva. McKinley ficou calado durante um tempo. Mas não se conteve. Entre cochichos, pediu a atenção do pupilo.

- Explique essa história direito, rapaz...

- Por enquanto, vai ter de se contentar com isso. Não posso ficar contando segredinhos aqui, no casamento dos meus melhores amigos. Mas garanto que essa mulher não é a Belatrix.

- Por acaso, é a Nina?

O jovem bruxo balançou a cabeça negativamente. McKinley estava pronto para fazer mais um comentário quando Minerva McGonagall entrou e se colocou à frente de Remus Lupin. O escocês a cumprimentou com uma ligeira reverência. A professora corou levemente, mas permaneceu dura como uma estátua.

- Minerva fica muito bem de verde. Parece-se ainda mais com um anjo – murmurou McKinley, distraído.

Harry ergueu as sobrancelhas e subitamente teve vontade de rir. Deu um cutucão em McKinley.

- Você disse anjo. É assim que você chama a sua musa misteriosa!!!

O professor ficou vermelho. E permaneceu mudo. Cumprimentou Tonks, que acabava de chegar, com um aceno da mão. Harry fez o mesmo, no entanto, continuou perturbando seu mentor.

- Essa é boa! Como quer que eu fale da mulher da minha vida se você faz segredo da sua para mim? – debochou Harry. – Minerva McGonagall! Qual é, meu velho? Vai continuar calado. Perder a voz só pode significar uma coisa: que é ela a mulher.

Harry ainda exibia um sorriso triunfante no minuto em que Gina entrou. A garota caminhou silenciosamente, de um modo tão discreto que quase escapara a seus olhos o momento em que ela surgira. Foi como perder o ar. Harry sentiu o sangue circular mais rapidamente em suas veias e um calor tomou conta do peito. A ilusão que vira no Labirinto não se equiparava à Gina real. Lá estava a garota, com a pele fresca, os cabelos presos e alguns fios vermelhos soltos caindo com delicadeza sobre o rosto e os lábios ligeiramente entreabertos – como se também ela estivesse sofrendo com uma possível falta de oxigênio. O estado do rapaz não escapou à percepção de McKinley. De fato, aquilo caiu como um cometa em seu cérebro. Imediatamente, o professor lhe devolveu o cutucão.

- O que você disse mesmo a respeito de perder a voz?

O rapaz virou o rosto para ele, completamente aparvalhado.

- Não te ouvi.

- Perder a voz, perder a audição... Tanto faz. São sintomas da mesma coisa. Desde quando você gosta da Gina Weasley?

- Não gosto.

- Não?! – estranhou o professor.

- Eu a amo. Há muitos anos.

Interromperam os cochichos assim que a noiva apareceu de braço dado com o pai na entrada principal. Um coral bruxo começou a entoar uma canção de amor enquanto instrumentos musicais tocavam sozinhos uma melodia nupcial. Pela enésima vez naquele dia, a senhora Weasley começou a chorar, sendo acompanhada pela senhora Granger. Hermione avançou pelo meio da tenda, distribuindo sorrisos. Seu olhar se iluminou ao encontrar o de Harry. O amigo também sorriu, feliz em vê-la. Hermione prosseguiu andando, arrastando um longo véu branco carregado por fadas pequeninas. Harry estava admirando a beleza da companheira de aventuras quando sentiu que alguém o observava com atenção. Desviou o rosto e se espantou de ver Draco Malfoy sentado entre alguns bruxos que desconhecia. O semblante do antigo capitão da Sonserina estava pálido. Seus olhares se cruzaram. Draco abaixou a cabeça, disfarçando que arrumava o punho da camisa. “O que esse sujeito faz aqui?”, pensou, sem atinar com nenhuma resposta plausível.

Alheia à curiosidade de Harry, Gina arriscou observá-lo pelo canto dos olhos. Ao perceber que ele estava atento à noiva, a jovem decidiu encará-lo. Estava mais alto, porém ainda era menor que Rony. Continuava magro. Contudo, não parecia fraco. Pelo contrário. Avaliou sua postura e gestos, típicos de alguém que sabe quando e como agir. Havia segurança em seus modos. E sua aparência dizia que devia levar uma vida saudável. Sua pele exibia um tom levemente bronzeado que realçava ainda mais a beleza de seus olhos verdes. “E eles estão tão verdes”, admirou-se. Os cabelos escuros estavam mais assentados. Alguns fios ainda apontavam em direções diferentes, mas davam um estilo moderno ao rosto do bruxo. “E, por Merlin, como ele está bonito nessa roupa”, concluiu, notando que as amigas de Hermione não tiravam os olhos dele. Havia uma entre elas que Gina julgava linda. Sentiu uma pontada no coração. Se Harry se interessasse pela garota, não tinha o direito de ter ciúmes. Para sua felicidade, Hermione chegara ao altar e deixava o braço do pai para ser conduzida por Rony. Não precisava mais pensar nisso.

A cerimônia transcorreu alegremente. Dumbledore lembrou dos primeiros anos dos noivos em Hogwarts, ressaltando como eles tinham brigado até finalmente se entenderem. Harry sorria, divertido com as histórias. Em seguida, o velho bruxo recordara dos pontos que cada um conquistara para a Grifinória e dos atos de heroísmo praticados por ambos. Falou um pouco do tempo em que Rony permaneceu longe e de como o rapaz se dera conta que ele e Hermione formavam a dupla perfeita.

- É verdade que custou para que estes dois jovens percebessem esse fato incontestável. Mas creio que valeu a pena. A longa espera foi compensada por um amor sólido, resistente à distância e à saudade. Acredito, no entanto, que eles não queiram esperar mais – anunciou, fazendo todos rirem. – É chegada a hora de vermos esse sentimento sacramentado. Senhor Potter e senhorita Weasley, por favor, as alianças.

Harry se aproximou primeiro. Esperou Gina se acercar para entregar o anel para Rony. Com o rosto corado, a garota veio.

- Oi, Gina – ele disse num sussurro.

Ela ergueu os olhos, disfarçando o nervosismo com muita habilidade.

- Olá – respondeu, encarando-o por um segundo.

Entregou o anel para Hermione com a mão firme. Harry fez o mesmo em relação a Rony. Concluída a tarefa, Gina se afastou sem voltar a olhar para o rapaz. Em seu peito, havia um tambor que não parava de batucar. Tinha a sensação de que logo a descobririam. Concentrou-se mais uma vez na figura da cunhada e teve vontade de chorar. Hermione estava exalando felicidade. Se ela se casasse, suspeitava que só conseguiria transmitir tristeza. Aos poucos, seus olhos se encheram de água. “Não adianta me enganar. Não posso aceitar o pedido de Draco. Eu ainda estou apaixonada pelo Harry.” De repente, ouviu Rony dizendo ‘sim’. Tinha divagado demais. Seu irmão colocou a aliança no dedo de Hermione. Foi a vez de a noiva dizer o ‘sim’ e Rony recebeu sua aliança. O casal trocou um beijo apaixonado e, de braços dados, deixou o altar, sendo seguido pelos pais e pelos padrinhos. Harry esperou por Gina, na esperança de acompanhá-la. Mas a garota ofereceu o braço para Dumbledore.

Mal os noivos chegaram ao jardim, as pessoas saíram da tenda e os cercaram para cumprimentá-los. Harry tentou se aproveitar desse momento para se aproximar de Gina. Entretanto, foi rodeado por uma porção de gente entusiasmada por conhecê-lo. “Eu sabia que um dia teria a oportunidade de te ver, Harry. Sei tudo da sua vida”, dizia uma colega de Hermione, animada. “Oi. Você não me conhece. Mas fiz o curso de auror com o Rony. Nossa, é uma honra apertar sua mão”, afirmava um rapaz, com um forte sotaque. “Por favor, assine o convite que a senhorita Granger enviou para mim. Sou uma das primeiras pacientes dela. Minha sobrinha vai me matar se eu não levar seu autógrafo”, sorria uma mulher de idade. Harry jamais suspeitaria que isso pudesse ocorrer. Para sua sorte, foi resgatado por Colin Creevey. O rapaz pediu passagem e um pouco de sossego para “tão ilustre convidado”. Envergonhado por ser chamado assim, Harry não teve condições de contestar. Colin rapidamente o levou de volta para a tenda, que já estava transformada. Era agora um salão com mesas para o banquete. E uma pista para dançar.

- Harry, que ótimo te reencontrar! Eu sou o fotógrafo do casamento. Venha agora. Os noivos querem tirar uma foto com os padrinhos.

- Obrigado por me tirar de lá... Tem tanta gente aqui que eu não conheço.

- Mas é claro. Há quatro anos que você sumiu. Cheguei a imaginar que você tinha morrido e que o Ministério da Magia não queria revelar a verdade. Ah, não ria. Bom, posso te contar algumas coisas para você ficar por dentro. Dos professores de Hogwarts, a maior novidade é que o Snape virou professor de Defesa contra a Arte das Trevas. Dos seus colegas de quarto, o Neville está com a Luna, o Simas continua solteiro e o Dino parece que está namorando uma trouxa ruiva. Dos Weasley, Rony entrou para o departamento de aurores com a maior nota de que se tem notícia e Mione, que agora é uma Weasley, foi nomeada assistente do medibruxo-chefe de St. Mungus. Que mais? O Fred está noivo da Angelina e o Jorge vai se casar com a Alicia, Fleur tornou-se mulher de Gui há um ano, Percy casou com a Penny faz uns seis meses e a Gina, pelo visto, está noiva do Draco. Humm, o Carlinhos...

Harry teve a impressão de ter levado um soco no estômago.

- Como?! O que você disse a respeito da Gina e do Draco? – puxou-o pelo braço, antes de se juntar aos padrinhos.

- Ai, meu braço, Harry! Pois é, isso espantou todo mundo. Eles estão namorando há uns dois anos. Você acredita que o sujeito mudou? O Draco está até simpático...

Completamente atônito, o bruxo passou a mão pelos cabelos. Ouviu que o chamavam e tratou de se controlar. Colocou-se entre Rony e McKinley. Enquanto as pessoas faziam gracejos antes da foto, o escocês falou bem baixinho para o pupilo que acabara de descobrir que Gina e Draco estavam juntos.

- Sinto muito, meu caro...

- Você acha que enfrentei tudo o que enfrentei para chegar aqui e ficar quieto diante dessa bomba?

- E o que você vai fazer?

- Vou falar com ela. Seriamente. E você vai me ajudar, Mac. Puxe o Draco para uma conversa. Dê um jeito de afastar o cara de fuinha de perto dela. Eu preciso de alguns minutos a sós com a Gina.

Harry cochichou mais alguns detalhes e McKinley concordou com o plano. Colin pediu atenção e fez a foto. Duas poses mais tarde, os padrinhos foram liberados. O escocês se aproximou de Rony e disse que a senhora Weasley tinha voltado correndo a Toca e que precisava da ajuda de Gina. “É alguma coisa a respeito do vestido dela. Não entendi muito bem”, apressou-se a dizer. O noivo, sem desconfiar de nada, pediu que a irmã fosse até a casa. A garota balançou a cabeça e avisou a Draco que voltaria logo. O rapaz, que ficara por perto durante a sessão fotográfica, fez menção de segui-la. Mas McKinley foi ágil.

- Draco Malfoy! Que surpresa te ver aqui...

- Como vai, professor McKinley? Humm, podemos conversar daqui a pouco? Tenho de acompanhar...

- Imagina, Draco! Eu só vou ver o que minha mãe quer. Segure o professor McKinley por mim. Quero muito conversar com ele na minha volta – disse Gina, sorrindo.

A jovem deixou a tenda e caminhou em direção à Toca. Estava aliviada de ficar longe do lugar por alguns minutos. Draco bufava de ciúmes. Ainda mais porque via como ela estava agitada. “Ah, por que o Harry não vai embora logo? Está muito difícil ficar ali. Quero sumir”, pensou, sentando-se no banco que ficava perto do caramanchão. De repente, sua mãe surgiu, vindo da Toca.

- Mãe, teve algum problema com seu vestido?

- Ah, Gina, o que está fazendo aí? – surpreendeu-se a senhora Weasley, deixando a filha intrigada. – Não tem importância. Diga-me: qual a cor da minha roupa?

- Bordô!

- Pois há um minuto atrás, era cinza! Eu tentei mudar a cor várias vezes, mas o vestido voltava a ficar cinza. Quando decidi ir para casa trocar de roupa, essa loucura parou. Você acha que foi obra do Fred? Ou do Jorge?

- Possivelmente dos dois.

- Eles que me aguardem... – e parou de falar ao ver que uma pessoa surgia. Alegrou-se ao reconhecê-la. – Oh, olá, Harry. Ainda não tivemos muito tempo para conversar, não é, meu querido? Sente-se aqui conosco. Na tenda, você está sendo muito assediado.

- Obrigado. Vou me sentar mesmo. Aqui terei alguns minutos de sossego. Mas eu vim dizer que o senhor Weasley está procurando pela senhora – alertou, com uma expressão neutra. Ele e McKinley tinham feito uns truques para envolver os senhores Weasley, sem que estes soubessem, no plano para isolar Gina.

- Então, vou lá... Gina, seja uma boa anfitriã e faça companhia ao Harry. Ah, eu nem preciso falar isso! Vocês são amigos! – e saiu muito satisfeita de deixar a filha ao lado do rapaz. No fundo, nutria o desejo de vê-los juntos.

Gina estava vermelha como uma rosa. Não tinha idéia do que falar. A sua mente somente vinha a lembrança da última carta que recebera de Harry. A carta que dizia para ela conhecer outras pessoas porque não a amava mais. Por sua vez, Harry ensaiava em seus pensamentos como começaria a dizer que continuava apaixonado por ela.

- É engraçado estar de novo aqui. Faz tanto tempo que eu parti... Quatro anos!

- Tempo suficiente para mudar a vida de uma pessoa.

- Verdade. Às vezes, de um modo surpreendente. Você, por exemplo, Soube agora que você está com o Draco.

O rubor da garota se intensificou, mas ela manteve a voz sossegada. Harry não estava certo de ter feito o comentário correto naquela hora. Arrependeu-se, porém não demonstrou isso.

- É isso mesmo. Estou com ele – respondeu de imediato. Fez um biquinho com os lábios enquanto dava um tempo para mudar o rumo da conversa. – Mas eu queria dizer que quando você partiu, a Mione namorava o Vitor e agora é mulher do Rony. Eu ainda era estudante de Hogwarts e hoje estou começando meu último ano no curso de aurores – e sorriu como uma criança que conta a nota máxima tirada numa prova.

Harry exibiu um sorriso largo. Gina sentiu o rosto esquentar.

- Tenho certeza que você será a melhor auror do Ministério. Você é excepcional. Já era naquela época. E deve estar dominando a magia como poucos.

- Você que é excepcional – respondeu, corada. – V-vai prestar o concurso? Ou vai continuar... err... você sabe... fora?

- Quero voltar! Eu não tinha certeza disso até ontem. Mas agora eu sei o que desejo realmente.

- Que bom. Às vezes, é tão difícil a gente tomar uma decisão assim, com toda essa segurança – replicou. A vontade era perguntar o que ele tanto queria. Sem coragem de ir adiante, optou por olhar para o céu e se concentrar nas primeiras estrelas que surgiam.

Harry seguiu o movimento dos olhos da garota. Também ficou contemplando o infinito azul. No minuto seguinte, porém, virou o rosto em direção à jovem, observando seu perfil. De súbito, reconheceu os brincos que ela usava. Eram os de estrelas, que comprara muitos anos atrás.

- Esses brincos ficaram lindos em você. Aliás, você está linda! Gosto do vestido, do cabelo, dessa maquiagem leve que destaca seus olhos, sua boca...

Para Gina, aquilo era provocação pura. Levantou-se do banco. “Ele, por acaso, imagina que vai flertar comigo? Depois de tudo o que escreveu? Ou será que isso é por causa da rivalidade com o Draco? Logo de cara ele falou do Draco.” Os pensamentos se sucediam rapidamente. Calculou que adentrava um terreno perigoso. Resolveu se afastar do rapaz.

- Acho que vou voltar. O Draco deve estar me esperando.

- Não. Fique mais um pouco – afirmou Harry, também se levantando. – Gina, são quatro anos sem a gente conversar direito. Vamos aproveitar agora, que não tem ninguém para atrapalhar.

- O Draco atrapalharia? – sondou a garota, ansiosa para descobrir se Harry ainda detestava o velho rival de Hogwarts.

- Claro que sim. Você sabe que eu nunca gostei dele. Só que vamos falar de outra coisa. Eu... – começou, procurando um meio de conduzir a conversa para onde queria. – Ahn, desde a nossa última correspondência...

- Para que falar sobre isso? É embaraçoso – disparou a ruiva, lembrando-se envergonhada de como suplicara nas cartas pela atenção dele.

O bruxo chegou a rir. De nervosismo.

- O que você quer dizer com isso? A situação chata ficou para mim – comentou, pensando na rejeição que sofrera.

Gina engoliu em seco. Sentiu-se magoada com o tom usado por Harry. “A situação chata ficou para ele? Que egoísta! Não pensa na minha situação. Cadê a consideração pelos sentimentos que eu tinha”, perguntou-se, atordoada.

- Ou você se sente embaraçada por causa das coisas que eu escrevi? Não é motivo para tanto. Eram só sentimentos passageiros, não é?! – disse Harry, amargamente. – Por que você estaria envergonhada? Seu namorado leu tudo aquilo? É isso?

A garota ficou escarlate. Era muita falta de tato. Resolveu contra-atacar.

- Noivo! Ele é meu noivo – retrucou, mostrando a aliança de ouro branco em seu dedo.

Era quase um tapa no rosto. Por instantes, Harry teve ganas de largar tudo. “Noivo?!” A angústia se instalou no peito. Pensar em Draco casando-se com ela fazia sua temperatura ferver. O ciúme embotava seu cérebro.

- Perdão. Não tinha reparado! Bonito anel. Está combinando com os brincos. Você nem sabe como fico feliz de ver que eles formam um conjunto tão ‘harmonioso’ – rebateu, com a ironia de um animal ferido. – A aliança do Draco e o meu singelo presentinho. Obrigado pela delicadeza de usá-lo.

- Seu?! Qual é o seu problema? – espantou-se Gina, ao escutar Harry dizendo que os brincos que usava eram um presente dele.

Harry se impacientou.

- O problema é que você não pode ser do Draco. Isso é conspirar contra a ordem do Universo... – soltou, com a veia saltada no pescoço, tamanha a tensão. – Ele não tem nada a ver com você. Com o que a gente preza, valoriza...

Era exatamente o ponto que Gina vivia rebatendo com sua família. Teimosa, não deu trégua nem ao rapaz que sabia amar.

- O Draco se transformou. E foi por minha causa. Não conheço prova de amor maior do que essa.

Harry sentiu-se miserável por sua fidelidade ter sido preterida como prova de amor. A fidelidade ao sentimento que tanto alardeara nas cartas. Afinal, mesmo depois da rejeição dela não tinha, de fato, entregue o coração a ninguém. Apesar do baque, insistiu.

- Realmente. Que provas eu te dei? Nada, perto dessa transformação – respondeu com sarcasmo.

- Essa sua rivalidade com o Draco é ridícula. Olhe o que ela está te obrigando a fazer – criticou. – Não seja sarcástico. Eu estou falando a verdade. O Draco tem sido atencioso comigo há muito tempo. Desde Hogwarts. Ele me conhece! Sabe se eu estou triste, preocupada ou qualquer outra coisa sem me perguntar nada. Ele me ama de modo incondicional. Não se importa de enfrentar a própria mãe por minha causa. Ele mudou a postura em relação às pessoas. Deixou de ser mesquinho. Ele ajuda até quem não conhece. E não pensa exclusivamente nele. O Draco me colocou em primeiro lugar na vida dele. Em suma, ele cuida de mim. E isso ele me diz sempre: quem ama, cuida. É isso. Ele me ama como ninguém jamais me amou.

O silêncio momentâneo serviu para que ambos controlassem as emoções. Gina tinha se alterado tanto que sua garganta doía. Deu as costas para Harry a fim de se recuperar sem que ele visse seu estado. Harry tinha a impressão de ser o último dos homens.

- Ok. Aceito. Ele é um novo Draco. Deve te amar muito. Por que não amaria? – perguntou, com a voz entrecortada. – Mas vou discordar da parte final. Duvido que ele te ame mais do que eu.

Gina perdeu o ar. Virou-se para ele sem acreditar no que tinha ouvido.

- Desculpe por não ter cuidado de você. Por não ter te dado a atenção que você merecia. Eu não estava com a cabeça no lugar – e enfiou os dedos nos cabelos. Estava irritado com ele mesmo. – Droga! Como me arrependo de ter demorado em escrever... Não é à toa que as cartas não funcionaram. Elas devem ter soado bem ridículas perto do que fazia o super Draco. Que idiota que fui! Eu só escrevia, enquanto ele agia.

- Que cartas? Você só escreveu uma e para dizer que eu deveria conhecer gente nova! – cortou a garota, com um bolo na garganta.

- Eu?! Nunca escrevi isso...

Ela não suportou o que julgava ser um momento de cinismo.

- Sei. Você nunca escreveu isso e ainda me deu estes brincos – respondeu, com as lágrimas descendo pelo rosto. “Maldição! Estou chorando de novo”, resmungou, baixinho.

- Tem alguma confusão aí. Eu nunca escrevi isso. Em nenhuma das minhas cartas. Palavra! E eu te dei esses brincos quando a gente ainda estava em Hogwarts. Escolhi as estrelas porque você um dia disse para mim que gostava de ficar olhando as estrelas, como estava fazendo agora há pouco. Eu queria que fosse uma prova do quanto te considero especial. Coloquei isso no cartão.

Aquela revelação abalou Gina de tal modo que ela cambaleou. A garota colocou as mãos na cabeça. “Como ele sabe disso?”, atordoou-se. Não queria acreditar que Draco, a quem defendera com tanto ardor nos últimos anos, tinha mentido para ela a respeito dos brincos. Sentiu-se tonta e Harry correu para ampará-la. Ficaram abraçados por um segundo. Então, Harry segurou o rosto da garota e a beijou com o desejo acumulado em todos aqueles anos. Gina não ofereceu resistência. Também não podia retribuir o carinho. Ainda estava confusa. Tentou se afastar, mas Harry não permitiu. Puxou a mulher amada de volta para ele, estreitando-a fortemente contra o peito. Num segundo movimento, deslizou os lábios pelo pescoço da garota e, ao chegar ao ombro, mordeu levemente sua pele. Assustada com o que podia acontecer, Gina o empurrou. Não conseguia compreender. Durante muito tempo, as palavras escritas na carta tinham ficado gravadas na mente. E elas tinham sido escritas pela mesma pessoa que estava diante dela. O que tinha mudado?

- Admita. Não ficarei brava. Isso tudo é por causa do Draco, não é?! Se fosse outra pessoa...

- Meu interesse é único: você. Quero reconquistar o amor que perdi. Mas eu assumo que o Draco estar noivo de você é algo que eu não posso aceitar – disse com fervor. – Ser recusado é horrível. Mas ser recusado e trocado por alguém como ele é algo bem pior!

Gina estava nervosa, sem compreender o discurso de Harry.

- Isso é patético! Dois anos se passaram desde aquela maldita carta. Por que só agora você vem com essa história? E não fale de ser recusado. Eu é que sei o isso significa – respondeu, com as bochechas vermelhas. – Tem mais. Não ouse reclamar o amor que perdeu?! Foi você que quis assim. Eu segui suas instruções...

De repente, escutaram McKinley chamar por Harry. O professor não devia estar longe. Gina olhou para o rapaz, porém ele deu de ombros. Naquele momento nada podia ser mais importante.

- Por mil dragões, não estou te entendendo. Eu te mandei duas cartas a respeito do que eu sentia – exclamou, com os olhos brilhantes. – E você fala como se não tivesse sido você quem acabou com tudo!

A garota perdeu a cor. Como Harry se atrevia a dizer que tinha sido ela a culpada?

- Não quero ouvir mais nada. Para mim, acabou! Brinque com outra pessoa. Vou voltar para o Draco – replicou, com amargura. De repente, ouviu-se o nome do bruxo no ar mais uma vez. Recuperando o sangue frio, ela se conteve. – É o segundo chamado.

- O McKinley vai esperar! A gente precisa resolver essa história. Eu explico por que só te procurei agora. Eu não queria encarar a possibilidade de te ver com outra pessoa. Tentei apagar o que eu sentia. Só que eu percebi que isso é impossível. Você falou de prova de amor. Eu tenho algumas coisas que podem provar...

Um terceiro chamado fez com que Harry se calasse. Desta vez ele partira de uma voz inesperada. De alguém que o bruxo nunca sonharia encontrar ali. Pegou Gina pela mão e a levou junto. A ruiva perguntou o que tinha acontecido. “Não sei. É muito estranho”, respondeu, acelerando os passos. Já estavam entrando na tenda quando notaram um pequeno tumulto no salão. Observados pelos convidados, os dois titubearam. Gina soltou a mão de Harry e ele tentou recuperá-la, virando-se para trás, porém um grito feminino o surpreendeu. Sem entender como, Nina estava ali, em seus braços, trêmula e pálida. Assustada em vê-la dessa forma, Harry afagou seus cabelos e depois ergueu o rosto dela.

- O que houve, Nina? Como veio parar aqui?

- Vim com o Chris – começou a dizer. Subitamente, ficou muda. Seus olhos perceberam uma moça ruiva perto de Harry.

- Onde está o Chris? E por que vocês vieram? McKinley!

Chris surgiu correndo, seguido de perto por McKinley. No mesmo instante, um irritado Draco apareceu e, ao ver a namorada, deixou uma pergunta escapar em voz alta.

- Gina Weasley, fiquei te procurando. Onde você esteve?!

O tumulto se ampliou, obrigando McKinley a puxar Harry e, por tabela, Nina para um canto mais sossegado. Chris tinha ficado para trás e escutou Hermione perguntando para Gina quem era aquela garota com Harry.

- É a Nina, namorada dele. Olá. Eu sou o assistente de Sir McKinley, Chris Taylor. É um prazer conhecer...

- CHRISTOPHER – urrou McKinley, fazendo com que o rapaz saísse às pressas.

- Que história de namorada é essa? Eu não entendi nada – comentou Hermione.

- Muito menos eu – acrescentou Gina, sentindo-se enganada.



*****

Harry nunca tinha visto McKinley tão branco como naquele momento.

- Rapaz, não me ouviu? Eu te chamei duas vezes aqui do lado de fora. Quis evitar essa confusão toda lá dentro.

Dumbledore estava entre eles e colocou uma mão sobre o ombro do escocês para acalmá-lo. Rony estava tão espantado quanto o amigo.

- Mas que diabos aconteceu? – disparou o dono da festa. – Não podem ser Comensais aqui. Não há sinais!

Enquanto McKinley dava um berro, chamando seu assistente, Dumbledore tratou de esclarecer para Harry o que recém soubera.

- Meu caro, esta moça e o rapaz americano saíram de um portal há cerca de cinco minutos. Eles procuraram o auxílio de vocês porque o líder da vila em que vivem foi atacado!

- Tupai?! – estremeceu o bruxo, notando que Nina soluçava baixinho. – O que houve?

- Não sabemos exatamente. Nina tinha acabado de voltar do celeiro. Procurou pelo pai e ele estava no chão, inconsciente. Não, ele não está morto, mas foi atingido por algum feitiço que roubou sua sanidade – explicou McKinley. – Provavelmente uma maldição imperdoável.

Harry apertou Nina com mais força entre os braços. Sentiu-se desolado.

- E o seu quarto, Harry, foi revirado. Quem invadiu a casa do curaca não estava atrás dele, e sim de você – completou Dumbledore, com a voz grave.

Chris se aproximou de Harry para acrescentar que no momento do ataque ele estava na entrada da vila, cuidando da segurança. “E isso foi testemunhado por algumas pessoas”, emendou, com uma ruga na testa. A frase incomodou o rapaz por um segundo, porém não havia condições de pensar nisso. McKinley orientou o retorno imediato. Rony pediu calma.

- Não há como, Rony. É como se tivessem atacado o próprio Dumbledore em Hogwarts. É uma infâmia. Um sacrilégio! Aquele é um lugar sagrado! E secreto! Há leis protegendo o território inca! Ninguém poderia ter violado a vila. A Confederação Internacional dos Bruxos precisa ser informada disso.

Dumbledore concordou em silêncio. Prontificou-se a procurar a Confederação na seqüência. Rony engoliu em seco. Harry apertou a mão do amigo.

- Foi ótimo te ver, cara. Mas eu tenho de ir...

- Quando você volta?

Então, Harry buscou Gina com os olhos. A garota estava ao lado de Hermione. As duas estavam no jardim, um pouco distantes, mas atentas à movimentação. Outros bruxos também observavam a cena, curiosos. Entre eles, Draco.

- Juro que eu não sei, Rony. Mac, eu preciso me despedir –disse e correu até onde estavam as garotas, apesar dos protestos do professor. Pegou a mão de Hermione e a beijou com delicadeza. – Algo grave aconteceu e nós temos de ir agora. Lamento.

Depois, tentou segurar a de Gina, mas ela estava tão empenhada em não demonstrar suas emoções que manteve seu braço junto ao da cunhada. Harry não se intimidou.

- Tenho de ir, Gina, e não sei quando voltarei. Mas, por Merlin, não se case antes que a gente consiga esclarecer essa confusão porque eu continuo sem entender. Fui sincero na correspondência. Nada mudou para mim. Acredite! Ainda sinto tudo o que a gente viveu, guardo tudo que me lembra você, adoro cada minuto que passei ao seu lado.

Pressentindo o que ocorria, Draco avançou. Porém, tropeçou em algo e caiu. Não percebeu que Fred e Jorge tinham estendido uma corda na altura das canelas do bruxo na hora em que ele dera o primeiro passo. Harry tampouco notou isso. Prosseguiu, mesmo diante do olhar assombrado de Hermione.

- Gina, você é a mulher da minha vida. Eu te amo! Jamais duvide disso...

- Harry! O portal... – gritou McKinley, mostrando um graveto que Nina e Chris já seguravam.

Não havia mais tempo. Voltou para perto do grupo. Tocou no graveto e viu que Draco puxou Gina para junto dele. McKinley começou a contagem para a abertura do portal quando ele tomou uma decisão. “Dez...”. Harry soltou a chave, pegou rapidamente a varinha e retirou alguns objetos do bolso do terno. Bateu com a varinha sobre um lenço branco, que se transformou numa pomba que pousou em seu ombro. “Oito...” Com outro piparote, fez surgir um pequeno pergaminho e nele colocou um cordão com um pingente. Feito isso, entregou a encomenda para a pomba e a fez voar. “Seis...” Harry guardou a varinha e segurou a chave do portal com a mão direita.

A pomba voou célere para Gina. A garota abriu as mãos para recebê-la. No mesmo instante, a ave retornou à sua forma original. Um lenço que tinha as iniciais da jovem e apresentava uma mancha escura e seca de tinta negra. Num flash, ela se recordou da vez em que um atrapalhado Harry espalhara tinta na mesa da biblioteca de Hogwarts e sujara seu rosto por causa da bagunça. Gina tinha limpado a testa dele com seu lenço e o abandonara lá. O que ele tinha acabado de dizer mesmo? “Guardo tudo que me lembra você”. Então, reparou que havia um cordão dentro do pergaminho. Ao puxá-lo, seu coração deu um salto violento. Lá estava a medalhinha que um dia recebera uma mecha do cabelo de Harry. Gina compreendeu no ato que ele não deixara que as chamas destruíssem o pingente. As lágrimas caíram. Emocionada, ela ergueu os olhos para o bruxo. Era o último segundo antes que o grupo desaparecesse. Harry já estava com a sua medalhinha entre os dedos da mão esquerda. Seus olhos brilhavam ao levar o pingente aos lábios e beijá-lo. E assim sumiu.

- Gina, o que foi isso? – disparou Hermione, segurando a cunhada pelos ombros.

- O que esse cara quer? – esbravejou Draco, puxando Gina de volta para ele. – O que é essa porcaria na sua mão? Um lenço imundo? Uma medalhinha velha? Esse sujeito é um cretino! Fica anos sem aparecer e só porque escreveu duas cartinhas acha que tem o direito de assediar a mulher dos outros.

A jovem estremeceu. Recordou-se de Harry falando em duas cartas. Por que duvidara dele? Sentiu-se mal imediatamente.

- Ele escreveu duas cartas para a Gina? – perguntou Hermione, cada vez mais boquiaberta. – Rony, você nunca me contou.

- Eu não sabia de nada disso – defendeu-se o ruivo.

- Até conversar com o Harry, nem eu sabia disso – murmurou Gina, com a alma gelada. – Como você sabia, Draco?

O ex-capitão da Sonserina teve um arrepio.

- Ele disse isso, não disse? Qual é? Todos nós ouvimos...

A palidez de Gina foi sendo substituída por um tom rubro. Rony lançou um olhar feroz sobre Draco. E Hermione fez uma expressão de repugnância. Era evidente a mentira. Gina cobriu o rosto com as mãos.































Continua. ---> Sempre quis escrever isso. Agora escrevi. Pensaram que os capítulos finais seriam apenas capítulos finais? Não. Tem história e explicações.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.