Breve pausa para o coração

Breve pausa para o coração



Harry se revirava na cama. A poção de Snape surtira efeito. Mas não conseguia pegar no sono. O mundo estava caindo sobre sua cabeça. Estava preocupado com Moody, com o recado de Voldemort e com suas chances de vencer a guerra. “Será que já estou preparado?” Esses eram os tormentos pelos quais a mente passava. Porém o coração se angustiava mais ao pensar em Gina. Avaliava tudo o que se passara desde o verão passado. Sua imagem deveria ser a pior possível.

Olhou pela janela e viu uma lua imensa. Era uma bela madrugada. Perfeita para quem tinha perdido o sono. Vestiu um robe sobre o pijama e se dirigiu ao salão comunal. Queria andar um pouco. Desceu as escadas. Vislumbrou a lareira ainda acesa. Provavelmente havia mais um notívago. Quem seria? Aproximou-se do sofá e viu Gina adormecida, com um livro nas mãos preste a escapar dos dedos. Sorriu. “Temos as mesmas manias.” Harry se instalou numa poltrona em frente à garota. E ficou admirando a jovem por longos minutos. Não sabia o que mais lhe agradava. Se eram os fios vermelhos caindo sobre o rosto, se era o contorno delgado da moça, se era o pé escapulindo da camisola. Tanto fazia. Com ela entregue ao sono, podia observá-la à vontade. Gina franziu levemente a testa. E mexeu o corpo. “Não deve ser um sonho bom”, preocupou-se o rapaz. Ele saiu de onde estava e se aproximou com cuidado. Retirou o livro com delicadeza e o estudou com curiosidade. Lembrou-se da conversa que tivera com McKinley. O volume falava de números, mas sob uma ótica negativa. Em como eles podiam atrapalhar a vida de qualquer bruxo. Recordou-se em seguida do que Tonks lhe contara. A auror descrevera exatamente o que tinha acontecido pouco antes de eles partirem para o concurso. Harry depositou o livro sobre a mesa e apoiou-se no sofá onde Gina dormia. Com um movimento leve, segurou a mão dela que beijou com suavidade.

- Você é especial, Gina. É muito especial para mim.

Ficou assim por mais um tempo. Apenas olhando o rosto da garota e segurando sua mão. Então, ela se agitou. Murmurou algo muito baixo que Harry não entendeu. O rapaz virou o corpo e se ajoelhou, atento à jovem. Gina sacudiu a cabeça repentinamente e abriu as pálpebras. Assim que o viu soltou um gritinho de susto.

- Ah, o que você faz aqui?!

Ao procurar endireitar o corpo, Gina notou que sua mão estava presa a de Harry. O rapaz a liberou rapidamente.

- Foi algum pesadelo?

- Foi. Mas já passou – respondeu, arrumando a camisola, fechando o robe e ajeitando os cabelos.

- Quer um copo de água? Um chá?

- Não, obrigada. Vou para a cama. Peguei no sono sem querer. Tchau.

- Gina, você pode me dar um minuto? Eu preciso esclarecer...

- Você não precisa esclarecer nada – replicou, pegando o livro que estava sobre a mesa.

- Um minuto. Eu só peço isso.

- Ok. Começando – disse a garota, mantendo a visão sobre o relógio da sala. O livro estava junto ao peito.

- Eu sei que você está brava comigo e eu acho que se não me explicar direito é capaz de você não querer mais olhar para a minha cara. Não quis te tirar da Ordem.

- Ah, você quis sim!

- Tá. Eu quis, mas não foi porque não te julgo importante para o grupo. Você é. Para valer. Se não fosse por você no ano passado, teria caído na armadilha dos Comensais e não estaria aqui.

- Ainda bem que isso você reconhece.

- Estamos quites, certo? Eu te ajudei na Câmara Secreta e você me ajudou na Floresta Proibida – e titubeou. Não tinha idéia de como continuar a explicação. Podia dizer que gostava muito dela e que não queria arriscar sua vida. Podia?

- O tempo está passando...

- Olha um pouquinho para mim, por favor.

Gina baixou a guarda. Estava chateada, mas não deixaria de atender ao pedido. Virou-se para ele e se deparou com os olhos verdes fixos em seu rosto. Por que ela tinha de se sentir tão atordoada com aquele jeito de Harry encarar? Havia tanto poder nele que mal podia sustentar a mirada. Voltou a fixar sua atenção no relógio.

- Não... Para mim, por favor – disse, estendendo a mão para tocar com gentileza o rosto dela em sua direção.

A ruiva sacudiu a cabeça, escapando do toque. Não se mostraria submissa à força dele. Lançou-lhe um olhar orgulhoso. Harry quase sorriu. Estava lá a marca de Gina. Doçura e rebeldia habitando o mesmo corpo.

- É melhor se apressar, senhor Harry Potter.

- Entendo a sua raiva, Gina. Eu também ficaria furioso se alguém tentasse me tirar do grupo. Mas é que eu não quero te ver perto do perigo. Se eu pudesse de alguma maneira evitar que Voldemort aparecesse diante de você, nossa, eu faria.

- Não se preocupe. Mesmo que aconteça algo comigo você jamais será responsabilizado por isso. Eu assumo a responsabilidade. Eu quero participar da Ordem porque para mim é muito importante vencer os Comensais. E te ajudar a vencer Vol...de...mort – afirmou, arrastando as sílabas finais.

- Eu não vou me perdoar se alguma coisa acontecer com você.

- Que clichê, Harry!

Ele ficou vermelho. As orelhas arderam como se o fogo tivesse saído da lareira para se instalar em sua cabeça.

- Mas é verdade! Se você soubesse como eu me preocupo com você não iria tirar sarro...

- Por que não se preocupa com a Hermione e o Rony? Eles correm tantos riscos quanto eu. E você não tentou tirar os dois da Ordem.

- Gina, com você o lance é diferente.

- O que tem de diferente?

Harry estacou. Podia abrir o coração. Podia torná-la sua namorada, se ela quisesse. Mas se Voldemort descobrisse, muito provavelmente a garota seria escolhida como vítima. Primeiro, morreram seus pais. Depois, Sirius. Era mais seguro ficar longe de Gina. Mais seguro para ela.

- É diferente. Você é a mais nova. Eu já te vi quase morrendo por causa do Tom Riddle. Talvez por isso... – raciocinava rápido, aflito -... eu te veja como a pessoa mais ameaçada. É só isso.

- Só? - perguntou, sem disfarçar um ligeiro desapontamento.

Por um instante Harry pensou em falar tudo. Seus olhos estavam muito claros e brilhantes. A respiração, acelerada. A garota encarava ansiosamente o amigo, aguardando por algo novo.

- Gina, se eu pudesse...

- Pudesse...

O rapaz, porém, resistiu. Harry olhou para o relógio.

- Se eu pudesse gostar de você... – balançou a cabeça de um lado para o outro. - Mas eu não posso. Sinto muito se não dá para ser mais claro. Peço apenas que não me queira mal – concluiu com embaraço.
Gina murmurou um “ok”. Olhou para o relógio mais uma vez e encerrou a conversa com voz firme.

- Acabou o minuto. A gente se vê por aí. Na escola. Ou na Ordem. Afinal, eu continuo lá, apesar do seu voto contra. Mas tudo bem. Não te quero mal, Harry.

A ruiva subiu as escadas em silêncio. Entrou no dormitório, jogou o livro sobre sua mesa e voltou para a cama. Tremia um pouco. “Se pudesse, ele gostaria de mim? Se pudesse? O que isso quer dizer? Ele gosta de mim ou não gosta? Como eu sou besta! Não consigo fazer as perguntas importantes. Será que eu sou a única mulher no mundo a não conseguir falar o que eu quero? Será que todas as outras chegam nos caras, cobram o que têm de cobrar e vivem felizes para sempre? Devo ser a única ou devo ser a líder das tontas.” Ajeitou o travesseiro e deitou a cabeça. Não tinha o que decidir. Restava-lhe esperar o que os dias a reservariam dali em diante.














No próximo capítulo, finalmente Harry é posto à prova. É o momento em que ele volta a se encontrar com os Comensais e Você-Sabe-Quem...

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