O tributo



Resumo do cap. anterior – orcs atacam o Comensal que vigiava a entrada de Nephasta. Eles tentam tomar o cristal que cria a ponte sobre o abismo, mas Rony o captura. As criaturas, então, decidem atacá-lo. Hermione cria um escudo. Começa, assim, uma disputa pela posse do cristal. Os orcs resolvem chamar seus companheiros. Enquanto isso, o grupo de resgaste penetra pela passagem. McKinley lê a história da cidade e conta os horrores que ocorreram naquelas terras e por que ela foi lacrada por elfos, magos e homens. Gina ajuda Dumbledore a encontrar um meio de localizar Harry e eles partem voando sobre vassouras. Em outra parte de Nephasta, o rapaz, escoltado por Lúcio Malfoy, se depara com a serpente das sombras, um animal gigantesco e alado. Quando os bruxos partem, os orcs se juntam aos gobelins e decidem que vão batalhar pelo domínio da ponte e marcham para onde Rony e Hermione estão entrincheirados. Finalmente, Harry se encontra com Voldemort e a luta se inicia. A batalha é dura, mas num ataque do senhor das trevas, o jovem cai numa armadilha. Um chão falso desaparece. Harry despenca, porém consegue se segurar numa rocha e descobre aos seus pés um estranho leito de águas negras. É o rio Flama.




Hermione Granger segurava sua varinha com tanta força que calculou que ainda iria quebrá-la. O coração estava pesado pelo medo. Não o medo de ser descoberta, mas sim o de perderem a batalha. Ela e Rony precisavam ajudar Harry. No entanto, não podiam dar um passo pois estavam na expectativa do ataque dos orcs. Ficou quieta, aguardando um movimento do amigo para saber o que fazer. Olhou para o rapaz por longos segundos, protegida pela capa de invisibilidade. Não podia suportar a idéia de que ele se ferisse. Tinha de protegê-lo. “Eu morro se acontecer alguma coisa com o Rony”, pensou, sentindo o sangue fluir rápido pelas veias.

- Imobilus! – gritou o ruivo, atingindo os primeiros orcs que galgaram o monte de entulho. – Mione, fique atenta. Começou...

Rony foi interrompido no mesmo instante, atingido no estômago por uma pedra arremessada por trás da barreira. Caiu de costas, gemendo, e outros orcs surgiram, saltando sobre o rapaz. Hermione lançou um feitiço que jogou os inimigos para trás, dando tempo para Rony se recuperar. Em seguida, um grupo atacou pelo lado oposto e a garota berrou o que lhe ocorreu na hora.

- Vingardium leviosa!

Imediatamente, os orcs urraram, assustados por subir aos ares e por não saber de onde vinha aquela voz feminina. Rony não teve tempo de elogiar a amiga. Estavam sob ataque cerrado. Mal usava a varinha sobre alguns inimigos, logo surgiam outros. E mais outros. Ele não sabia onde estava Mione, mas sentia que a garota estava por perto. Isso o dava ânimo para continuar a lutar. De repente, um forte estrondo na barreira o lançou para a terra. Antes de conseguir se levantar, viu o focinho escancarado de um bewolf abrindo caminho em meio aos destroços da torre. Um grito agudo indicou onde Mione se encontrava. Assustada com a cena, a jovem correu até Rony.

- Você está bem? – perguntou, abaixando o capuz.

- Que droga, Mione! Eu estou. Esconda-se! – ordenou, enquanto sacudia o pó das roupas e mantinha os olhos sobre o bewolf.

Hermione ajeitou a capa de invisibilidade, porém não se afastou de Rony. O bewolf balançou a imensa cabeça, desfazendo-se do entulho que restara. O orc que estava no lombo do animal saltou e desembainhou uma espada de lâmina larga e grosseira.

- Entregue o cristal que nada vai acontecer com você.

- Eu posso ser um pouco bobo de vez em quando. Mas não agora – respondeu Rony com deboche. E murmurou entre dentes. – Mione, faça esse bicho levitar!

A garota não esperou um segundo. A maneira como o enorme bewolf subiu aos ares foi surpreendente. Rony, porém, agiu sem perder um segundo. Arremessou um feitiço sobre o orc armado e, na seqüência, apontou a varinha para a barriga do animal, que se agitava desesperado.

- Estupefaça! – bradou o rapaz e o bewolf deixou de se debater.

Um enxame de orcs surgiu para atacar. Vinham raivosos por ver que o bewolf estava batido. Voaram com fúria para cima de Rony.

- Bota essa coisa feia no chão. Já! – gritou o ruivo.

Mione prontamente o atendeu e cessou a magia. O monstro caiu sobre a fenda que tinha aberto e também sobre boa parte dos orcs, restando somente alguns inimigos para serem alvejados pelos dois bruxos. Quando estes estavam abatidos e amarrados, os jovens ouviram passos apressados e um barulho incessante de tambores se aproximando. Do outro lado da barreira, escutaram perfeitamente os orcs cochichando entre si. Não compreenderam o que diziam. “Mas eles estão aprontando alguma”, sussurrou Rony, sem saber para onde se dirigir já que a garota continuava protegida pela capa. Durante minutos, ficaram na expectativa. O som dos tambores aumentava. No entanto, não havia nenhuma movimentação de porte vindo das imediações dos destroços da torre. Foi Mione quem captou primeiro um ruído diferente. Algo como um silvo. Não parecia muito distante deles. Ela se encolheu um pouco. Aproximou-se de Rony e o segurou pelo braço. Ele soltou um palavrão num gemido rouco.

- Por Merlin, você não sabe como é estranho ver sua mão aparecer do nada, Mione – desabafou Rony, assim que se refez do susto.

O silvo voltou a soar. E o rapaz também o notou.

- Tem mais alguma coisa vindo, não é?!

Rony sentiu que o perigo estava aumentando. Pegou a mão de Mione, mantendo os dedos dela bem firmes entre os seus.

- O que quer que seja, cuide-se. Não quero que você se arrisque. Ok? Se nada der certo, use um feitiço para espantar os orcs por algum tempo. Coloque o cristal na haste e atravesse a ponte. Assim que chegar do outro lado, destrua a pedra. Prometa que fará isso.

- Como vou prometer isso? É impossível sair e deixar você – respondeu com o rosto afogueado. E emendou, apressada. – E deixar o Harry! Não posso deixar vocês dois aqui.

Outra vez o silvo se fez ouvir. Não havia mais dúvidas. Era algo que já estava bem perto.

- Afaste-se agora – pediu Rony, subindo num monte de pedra para ter uma visão melhor do que estava se aproximando.

Do outro lado da barreira, os orcs também se agitaram. Mal atingiu o topo do entulho, Rony apertou os olhos para enxergar melhor. Viu os orcs se mexendo, porém o que mais o atemorizou foi a visão de um animal gigantesco, branco e esguio voando pela larga caverna onde começava a cidade de Nephasta.

- Que diabos é isso?! – perguntou em voz tão alta que atraiu a atenção dos inimigos, que dispararam flechas.

Rony se atirou, rolando pelo monte, escapando de ser alvo dos orcs. Quando o ruivo tocou o chão, o monstro que havia visto executou um vôo de terror sobre eles. Em seguida, se arremessou diretamente sobre um ponto, sem dar atenção ao rapaz. Ele arregalou os olhos. Compreendeu no ato que a criatura devia estar atrás de Hermione. Teve de ser muito ágil. Com o feitiço convocatório, atraiu a garota para si na mesma fração de segundo em que as garras de uma das patas do animal tentaram se fechar sobre a jovem. Hermione ainda estava gritando quando se viu nos braços de Rony. A capa resvalara e agora ambos estavam visíveis. Tremendo, ela jogou os braços em volta do pescoço do amigo. Rony a abraçou brevemente. Não havia condições de conversarem. O monstro se preparava para atacar de novo e os orcs – em número muito superior ao que havia antes – começavam a descer o monte de entulho.

- Rápido, Rony. Precisamos criar um escudo forte. Anda! – berrou Mione, refeita e acionando a varinha para proteger as costas de Rony.

O rapaz também criou seu escudo, fechando uma bola transparente em torno deles. Nunca tinha se visto em situação tão desesperadora. Hermione continha a respiração. Precisava encontrar uma saída.

- Aí vem o bicho, Mione. Segura daí que eu seguro daqui. Ahhhh – urrou Rony, concentrando-se ao máximo para manter firme o escudo. O medo endureceu seus músculos e contraiu seu estômago ante a terrível visão do mergulho do animal, com as garras projetadas à frente e os dentes imensos arreganhados como se vislumbrasse o jantar.

O golpe foi violento e o escudo rachou, para desespero de Rony. Mione gritou aterrada de ver as garras se fechando sobre o círculo, querendo quebrá-lo. Tinha de usar mais energia. Rony pensou o mesmo e berrou Protego uma vez mais com toda a força de seus pulmões. Para surpresa dos dois, o monstro branco os soltou e ganhou altura. Foi quando viram vassouras voando em torno do animal. Havia poderosos disparos de luz por todos os lados, iluminando o que restava da ponte. Os orcs se detiveram por instantes, assombrados com a visão.

- Rony, Rony... É Dumbledore! Dumbledore está aqui – disse Hermione, entre lágrimas e sorrisos.

O rapaz abaixou a varinha, fazendo o escudo desaparecer. Pegou a garota pelo braço e a fez correr entre os destroços, para longe dos orcs. Não conseguia tirar os olhos das vassouras. Eram quatro, mas ele só conseguia perceber Dumbledore, com sua barba e cabelos prateados. Depois, voltou-se para Hermione, que ainda chorava de alívio.

- É Dumbledore mesmo – riu. E, sem pensar, segurou o rosto dela entre suas mãos e deu um beijo no canto da boca de Hermione. – Agora, nós vamos ganhar. Eu tenho certeza.

Rony retomou a varinha nas mãos e, com a coragem aumentada, correu em direção aos orcs, disparando feitiços. Antes de segui-lo, Mione enxugou as lágrimas. Tremia.




*****




Severo Snape nunca em sua vida fora um bom condutor de vassoura. Apesar de seguir à frente, deixava Gina impaciente. Se fosse por ela, já estariam ao lado de Harry. A linha clara que mostrava o caminho seguido pelo rapaz lhe injetou um pouco de ânimo, mas ainda sentia o coração oprimido. Tocou mais uma vez no pingente, agora vazio. Era assim que estava sua alma. “Onde você está, Harry?”, perguntou-se, aflita, temendo que Belatrix Lestrange arrastasse o jovem para o lado negro da magia.

- A passagem está se alargando – observou Snape.

Logo, o grupo se deparou com o portão imenso que levava à Nephasta. A bola de cristal que guardava as mechas de Harry parou diante dele, girando continuamente.

- Estamos perto, muito perto agora – murmurou McKinley, fazendo surgir outro clarão para copiar as inscrições do local.

Montados nas vassouras, eles atravessaram o portão e viram o abismo escuro que os separava da cidade. Era uma distância muito grande para ser vencida facilmente.

- Como eles passaram para o outro lado? – inquiriu Snape, ainda à frente.

- Creio que uma ponte foi criada. A linha branca mostra um caminho bastante regular. Eles não usaram magia para levitar objetos – comentou Dumbledore, seguindo o rastro luminoso da bola de cristal. Então, o diretor de Hogwarts sentiu um arrepio percorrer a espinha. – Severo, preciso ficar à frente. Há algo terrível mais adiante. Posso captar a energia...

Alvo Dumbledore assumiu a dianteira. Seus olhos se acenderam, como duas pequeninas brasas. E com uma habilidade inimiginável fez a vassoura deslizar com velocidade rumo ao outro lado do abismo. McKinley se posicionou à direita do amigo e orientou que Snape ficasse mais à esquerda.

- Gina, fique para trás. Só avance em caso de necessidade. Está entendido?

- O que está acontecendo, professor? – gritou a garota, tentando enxergar algo diferente na outra extremidade da ponte que não existia.

- Eu ainda não sei o que é. Mas tem gente se defendendo com magia. E há algo realmente grande por perto. Algo que se move rápido e que está sob efeito da força das trevas. É por isso que nós conseguimos captar sua presença.

Em seguida, McKinley se calou. Seus olhos se arregalaram, assim como também os de Snape e Gina. Apesar da fraca iluminação vinda de suas varinhas e do brilho dos archotes na entrada de Nephasta, notaram um gigantesco animal alado surgir da escuridão e mergulhar em direção ao solo. A criatura se ergueu no ar mais uma vez e atacou de novo. Puderam vislumbrar ainda um escudo mágico sendo armado. Não sabiam por quem. Porém Dumbledore não queria esperar por respostas. Projetou-se rapidamente sobre a criatura e lançou um feitiço que chegou a erguer os cabelos de Gina, tamanha a potência com a qual fora desferido.

Não foi o suficiente, no entanto, para derrotar o monstro branco. A criatura soltou a presa e voou, pronta para o revide. Dumbledore recorreu a uma azaração que teria arrastado um elefante para trás. O animal apenas guinchou, furioso.

- Só pode ser a serpente das sombras – berrou McKinley para seus companheiros, voando para o lado oposto de Dumbledore e arremessando um jato de luz amarelada.

A criatura urrou, tirando o diretor de Hogwarts de sua mira, justamente a intenção de McKinley. Antes que a serpente atacasse o amigo, Dumbledore conjurou uma lança branca que atirou com precisão.

- Vá e livre-nos da força das trevas – ordenou.

O objeto encantado fez um vôo em curva no momento em que a serpente abriu a boca para lançar sua língua, comprida e pegajosa. McKinley soltou uma imprecação quando se viu envolvido como se fosse um inseto capturado por um camaleão. O contato fez sua pele arder, mas logo a língua foi decepada por um feitiço atirado por Snape. E a arma de Dumbledore atingiu o alvo. A lança branca fincou-se entre as asas, penetrando fundo até o coração da criatura, que soltou um último silvo antes de mergulhar na escuridão do abismo.

Tudo isso Hermione vira do chão, ainda coberta pela capa de invisibilidade. Ficara tão atenta que apenas se deu conta que ainda estavam em perigo quando Rony berrou ao ser atingido de leve no braço por uma das flechas dos orcs. A garota soltou um grito e correu até ele, transformando as outras flechas em flores que caíram sobre o rapaz.

- Rony, desculpe. Eu me distraí.

Hermione armou a varinha para lançar outro feitiço sobre um grupo de orcs que vinha. Nesse momento, no entanto, algo a atingiu violentamente. Gemeu alto sem conseguir mexer a perna direito.

- Mione! – chamou o ruivo. – Onde você está? Eu te ouvi...

Flechas flamejantes foram arremessadas e Rony teve de apagá-las no ar antes de partir em busca da amiga. Hermione tentou se virar para descobrir como fora atingida e viu com horror que um bewolf se voltava para ela, depois de tê-la ferido com um golpe do rabo.

- Seu maldito – disse e procurou estuporar o animal, mas seu golpe falhou porque a criatura avançou, sem dó nem piedade.

- MIONE! – gritou desesperado Rony, tendo apenas como referência do perigo que corria a garota o galope acelerado de um bewolf.

O animal, entretanto, não alcançou a jovem. McKinley atingiu a criatura com uma azaração, que a fez tombar para o lado. E Snape completou a tarefa, apagando-a com um feitiço direto no peito. Tinham percebido, pelo movimento do bewolf, que ele se preparava para atacar alguém que não conseguiam enxergar. Do alto, Gina também se aproximou. Porém para disparar jatos de uma luz vermelha sobre os orcs. A magia fez as flechas se incendiarem na mão das criaturas e ateou fogo às roupas que usavam.

- Muito bem, senhorita Weasley. Quem brinca com fogo sai queimado – declarou McKinley com uma estranha solenidade para a ocasião.

O bruxo pousou sua vassoura ao lado de Rony e reforçou o contra-ataque do rapaz. Snape desceu junto ao ponto onde o bewolf sucumbira à magia. E passou a lançar jatos de luz contra os orcs e os gobelins. Por sua vez, Dumbledore pairou sobre Hermione.

- Senhorita Granger, por favor, revele-se para nós para que possamos ajudá-la.

Hermione soltou a capa e, finalmente, se tornou visível. Desejosa de cumprimentar o diretor, ela procurou se erguer. Mas soltou um uivo, sem conseguir. Estava com uma perna quebrada. Foi como um chamado. Rony deixou McKinley sozinho e atravessou os destroços aos saltos para ficar junto da amiga.

- Mione, não! Eu... eu... – não sabia o que falar.

- Ela ficará boa – interrompeu Dumbledore assim que terminou de examinar a perna ferida. - É apenas um osso partido. Ruim seria se nossa querida Hermione tivesse sido envenenada. Não sou bom como Madame Pomfrey, mas sei o que fazer. Remendum!

O diretor fez dois movimentos com a varinha. No primeiro, o osso voltou a ficar inteiro. No segundo, surgiu uma tala. Ele explicou que o talento de Madame Pomfrey permitiria que Hermione andasse no mesmo instante. Não era seu caso, infelizmente.

- Com minha magia você terá de esperar um pouco mais até recuperar os movimentos. Lamento, senhorita Granger. Agora, diga-me, o que aconteceu com Harry?

- Ele partiu com Lúcio Malfoy para um encontro com Vol-vol-demort. Nós tivemos que ficar aqui. Mas com o senhor aqui podemos ir atrás dele. Só não sabemos como.

- Nós sabemos – cortou Gina, surgindo em cima da vassoura e planando sobre os quatro. – Só que temos resolver dois problemas. Tem uma multidão de orcs e gobelins vindo para cá. E temos de correr até o Harry porque o tempo está passando.

- Gina, quem mandou você vir para cá?! É muito...

- Sem essa, maninho. Eu trouxe os professores! E agora não é hora para discussão.

- Gina está certa. Vou resolver um dos problemas provisioriamente – afirmou Dumbledore. E com energia galgou o monte de entulho. As flechas disparadas contra ele não o atingiam porque um halo de luz branca o cobria, fazendo com que as setas se desmanchassem em pó assim que tocavam a aura. Quando alcançou o topo da barreira construída por Rony, o diretor de Hogwarts mostrou porque Voldemort temia seu poder. Ergueu a mão para o alto, executou um círculo no ar, liberando faíscas da varinha, e disse em voz grave e clara. – Vocês são almas corrompidas que não deveriam ter sido libertas do sono em que foram aprisionadas. Por todas suas maldades e vilanias, foram condenadas a um castigo. Para o qual voltarão. RITORNA!

Do chão saíram faíscas que se uniram às liberadas pela varinha de Dumbledore. A poderosa bruxaria que impregnara aquelas terras no passado longínquo se restabeleceu. O encantamento lançado pelos quatro magos da Fraternidade Branca, que fora reforçado pela magia dos elfos do mundo antigo, ressurgiu do solo, evocado pelo feitiço do diretor, em forma de uma névoa densa. Controlada por Dumbledore, ela rapidamente envolveu os orcs e gobelins que ali estavam. As criaturas tentaram escapar, mas seus gritos de terror morreram na garganta. Todas as que estavam ali e nos arredores caíram sem ação.

McKinley soltou um assobio.

- Por mais que eu me esmere, Alvo, nunca vou estar no seu nível.

- Mmmuito menos eu. Err, eu dei um duro danado para derrubar uns poucos – disparou Rony, contendo um gemido pela dor que sentia no braço ferido.

- Chega, gente. É a vez de ajudar o Harry – apressou-se a dizer Gina, que não descera da vassoura, aflita que estava em continuar a seguir a linha branca da bola de cristal com os fios negros do rapaz.

- A senhorita Granger não pode nos acompanhar. Ela não tem condições de ficar em pé e terá de ficar aqui até que retornemos.

- Não, professor! Os outros orcs e gobelins já estão bem perto. Dá para ouvi-los marchando para cá – interrompeu Rony. – Eles querem o cristal que está com a Mione. É ele que faz a ponte surgir.

- Ah, é assim que vocês atravessaram o abismo? Entendo, senhor Weasley. Mas eu já não pretendia deixá-la sozinha, meu caro. O professor Snape cuidará dela – e se dirigindo ao discípulo, continuou. – Posso contar com você para isso, não é, Severo?!

Snape não disfarçou a cara de espanto. Pretendia se bater com os Comensais, mas acatou a decisão do diretor.

- Claro, senhor. Eu farei o meu melhor.

- Perfeito, Severo. Isso deve ser o suficiente para mantê-los sãos até nossa volta. Vamos, Thelonius e senhorita Weasley.

- Eu também vou. Já que o professor Snape vai ficar, eu pego a vassoura dele.

- Rony, você não vai ficar comigo? – perguntou Hermione, com os olhos tão abertos que pareciam engolir o rapaz.

- Não – respondeu, vermelho. – Você não quer que eu ande colado em você, não é?!

- Sim. Não – atrapalhou-se, também com o rosto rubro. - Quer dizer, vai, vai. É melhor assim.

Rony montou na vassoura deixada por Snape e partiu junto com o trio. Dumbledore, mais uma vez, assumira a dianteira. Hermione procurou se ajeitar melhor para ficar na espera.

- Dumbledore falou o tempo todo no retorno. Professor, o senhor acredita que todos retornarão? – perguntou, com o coração disparado.

- Eu acredito no professor Dumbledore, senhorita Granger. Isso me basta. Se dependesse exclusivamente da minha crença em seu amigo, eu já teria deixado este lugar.

- Por que o senhor não confia em Harry, professor Snape? Por que?

- Porque ele puxou ao pai. É teimoso e tem aquela arrogância estúpida de quem pensa que já pode fazer tudo sozinho.

- Ele não é assim, professor. Palavra!

- Veremos, veremos – e encerrou o assunto.




*****




Harry usava toda a energia que tinha para manter as mãos firmes na rocha que o salvara de cair naquele leito de águas estranhas. A pedra era áspera e feria seus dedos, mas não podia se importar com isso. Pendurado como estava, olhou ao redor e percebeu que o cristal quebrado por Voldemort destruíra o acesso ao centro da arena. Os orcs que tinham permanecido ali se encaravam desconfiados. O que teria aquele rio?

- Eu pensei que você faria uma luta limpa, Voldemort! – despejou numa voz entrecortada. Precisava ganhar tempo.

- Como você é tolo, rapaz. Acha que vou me desgastar lutando com você, quando está claro quem detém o poder? Eu não tenho necessidade de um duelo de varinhas para mostrar quem é grande aqui.

O jovem bruxo relançou um olhar para baixo. Não tinha certeza se a varinha mergulhara naquele redemoinho. “Se não caiu, posso usar o feitiço convocatório. Se caiu, já era”, pensou. O suor cobria totalmente sua testa. Não entendia por que Voldemort não o matava ali mesmo. Tinha de manter a conversa viva, antes que ele resolvesse acabar com tudo.

- Você só mostra que tem medo de mim. Senão me enfrentava sem truques.

- Basta! – gritou o senhor das trevas. Ele apontou a varinha para as mãos de Harry. – Incarcerous!

Amarrado, o rapaz calculou que se safar ficaria ainda mais difícil. O redemoinho ampliava seu alcance, como se sentisse que ele logo iria cair.

- Interessante. Em vez de me jogar nessa água putrefata, você me amarra...

- Insolente! Já está na hora de parar de falar assim com o milorde.

- Lúcio Malfoy, como gosto de te irritar – debochou Harry, procurando se concentrar em convocar a varinha. “Ahhh, não consigo!”

Mas Voldemort conseguia se concentrar. Seus olhos de serpente refulgiam. Começou a falar palavras desconhecidas e as águas se agitaram mais. Ele as pronunciava num ritmo cadenciado, repetitivo. Então, o líquido viscoso se condensou e se ergueu num formato quase humano. Não tinha rosto. Não tinha expressão. Porém naquele instante Harry tinha a certeza de que aquilo – ser ou coisa, não havia meios de definir – era algo maligno. Seu coração lhe dizia isso com uma agonia subitamente despertada. Primeiro, o ser saiu do centro do redemoinho e deslizou em direção à margem onde se encontrava Voldemort. O senhor das trevas apontou para o rapaz preso à rocha. A figura sinistra virou lentamente a cabeça e a base de seu corpo começou a se mover devagar em direção ao jovem.

- Você sabe o que é o rio Flama, Harry Potter? É o rio que acorda os vulcões. Nele vive um espírito muito antigo que tem o prazer de destruir. Ele gosta tanto disso que não se importa em compartilhar parte de seu poder com quem estiver disposto a vencer e destruir seu inimigo. Eu só tenho de oferecer um sacrifício. No caso, você. Em troca, recebo parte de sua magia. Não que faça diferença para mim – desdenhou.

Uma risada surda se fez ouvir, vinda das águas. O espírito maligno antevia o momento em que seria alimentado mais uma vez. À medida que avançava, seus movimentos agitavam a superfície, reunindo o líquido viscoso que estava espalhado pelo leito normal do rio e tornando-o ainda mais denso. As águas escuras borbulhavam e um vapor nauseante subia até as narinas. O calor tinha aumentado muito. Sem poder fazer nada naquele momento, Harry olhou mais uma vez para baixo e viu sua varinha na estreita margem oposta. Afinal, tinha uma chance. “Preciso dela na mão antes de mergulhar no redemoinho. Preciso do círculo protetor que McKinley criou quando a gente enfrentou o balrog. Preciso me concentrar antes que esse espírito chegue ao centro”, refletiu numa sucessão rápida de idéias. A camisa grudava no corpo. Os braços começavam a doer.

- Termine logo com isso, então. O que você está esperando? – desafiou.

O espírito maligno mergulhou. Harry arregalou os olhos. “Deve ser o bote”. Os orcs começaram a urrar.

- É o seu fim, Harry Potter! – decretou Voldemort, libertando-o das cordas que o aprisionavam.

Os Comensais acompanharam o mestre em gritos de triunfo. E Harry berrou assim que seu corpo foi solto no ar. A varinha veio de imediato para sua mão direita. Mas o espírito do rio Flama saltou das águas, abrindo seus braços negros para receber o sacrifício. Um jato de vapor quente e putrefato saiu do corpo líquido e atingiu em cheio o bruxo, atordoando-o como se tivesse recebido um golpe no rosto. Seria, de fato, seu fim se não tivesse sido capturado em plena queda, antes de ser tocado pelo ser fantasmagórico.

- Harry! Harry! Cara, você está bem? E, por Merlin, faça um regime. Você pesa uma tonelada – alfinetou Rony Weasley, brincando para disfarçar seu nervosismo.

Rony não tivera muito tempo de pensar. Quando ele, Dumbledore, McKinley e Gina chegaram à arena – depois de terem desviado dos ataques de orcs e gobelins no meio do caminho -, a bola de cristal voou numa velocidade espantosa, anunciando que chegara a seu destino. Por estar na dianteira, embicou primeiro a vassoura e partiu sem pestanejar, descobrindo aos poucos a situação de Harry. Tinha sido alertado pelo diretor de Hogwarts do perigo das águas. Estava atento e não deixaria o amigo cair no rio. Já estava bem próximo e, pouco antes de executar um mergulho no ar, percebeu que os orcs urravam. “Merda, já viram a gente”. Por isso, abaixou-se o máximo que pode para ganhar velocidade. Harry despencou. “Não posso falhar! Não agora!” E estendeu o braço, puxando o rapaz para a vassoura numa fração de segundo salvadora.

- Anda, cara. O cheiro daquela coisa era horrível, mas se recupera logo. Não posso parar para te ajeitar na vassoura. Não percebeu que a gente está sob ataque? – forçou Rony, agoniado por ter de segurar Harry e executar fintas para escapar dos disparos de luz feitos pelos Comensais.

Harry sacudiu a cabeça, ainda tonto. Não estava numa posição confortável. Tinha sido jogado por Rony atravessado sobre o fino cabo. O amigo o mantinha firme com a ajuda de uma das mãos. A outra tentava controlar a vassoura, que voava num zigue zague maluco.

- Não sei como você foi aceito no time de quadribol. Vai voar mal assim na China – respondeu, enquanto tentava se ajeitar.

- De nada, Harry. De nada. É essa piadinha sem graça que eu recebo por ter te salvado... – começou o ruivo, olhando para trás no desespero de localizar os demais. – Cadê o povo para nos ajudar?

- RONY! – gritou Harry, puxando o cabo da vassoura para o alto.

A manobra, no entanto, não evitou um choque inesperado. Vigiando os prisioneiros de Voldemort estava o balrog. O demônio cuja presença Duda tentara alertar com os movimentos frenéticos dos olhos no momento em que Harry o encarara. Encostado na parede e com o corpo negro encolhido, ele se parecia com uma rocha. Tinha ficado camuflado até a hora em que Rony voara para o ponto mais escuro da arena. E de lá saltara, com o chicote flamejante em punho. O açoite não atingiu os rapazes, mas pegou a parte traseira da vassoura. E os dois caíram da altura de um prédio de três andares.

Ouviam-se gritos e urros de todas as partes, mas Harry percebeu claramente um deles. A voz alterada de Gina chegou a seus ouvidos, aguçando seus sentidos e provocando-lhe um arrepio de terror.

- Arresto momentum! – gritou a garota, apontando a varinha para os dois e amortecendo a queda.

- Não! Gina não podia estar aqui! – exclamou assim que tocou o chão. Seus olhos seguiram o vulto de cabelos vermelhos que atraía a atenção do balrog para que os rapazes pudessem fugir.

- Foi ela que trouxe o socorro, Harry. Dumbledore e McKinley também estão aqui. E Snape está com a Mione, protegendo a ponte. Vamos! A gente tem de se reunir aos outros.

- MAS A GINA ESTÁ SENDO PERSEGUIDA PELO BALROG!

- Ela sabe se virar. E ela está numa vassoura. E se você ainda não se deu conta, olha os Comensais vindo para cá. Voldemort já deve estar lutando com Dumbledore.

Harry viu Gina se afastar, fazendo com que o balrog lançasse um urro de desafio e partisse em seu encalço. Por um segundo, sua mente entrou em parafuso. Pensou em pegar a vassoura de volta e partir atrás dela. Mas um grito de Rony o fez perceber que os Comensais já estavam disparando feitiços contra eles. Com o canto dos olhos, notou também que trovejavam raios no local onde seria sacrificado. Virou o rosto em direção a sua família. Tia Petúnia e Duda estavam pálidos, apavorados com as cenas de batalha que se desenrolavam.

- Inferno, Harry, vá logo até Dumbledore! Dê um jeito de escapar e chegar até ele. Ele vai te ajudar a vencer Voldemort! – gritou Rony, abrindo um escudo que repeliu a maioria dos feitiços.

Os Comensais começavam a fechar o cerco. Percebendo a intenção, Rony disparou azarações para impedir a estratégia.

- O que você está esperando, cara? Eu protejo a retaguarda! – continuou. E usou o escudo sobre eles outra vez antes de serem atingidos pela magia de Malfoy. – Protego!

Mas Harry não desejava ir até Dumbledore. Saiu da proteção, convocou a vassoura, subiu sobre ela e desejou sorte a Rony.

- Primeiro, eu vou atrás da Gina. Depois, é a vez de Dumbledore – e partiu.

- Que diabos! A gente combinou isso! A prioridade é derrotar Voldemort de uma vez por todas. Harry. HARRY!

O chamado foi inútil.




*****




Dumbledore desceu da vassoura como se aquele fosse um dia comum. Acabara de ver Rony salvar o melhor amigo do abraço letal das águas negras. Assistira também a ação dos Comensais, correndo todos à caça dos rapazes. McKinley se aproximou, varinha firme na mão, olhar fixo em Voldemort.

- Thelonius, por favor, livre-nos dos perigos desta arena. Eu tenho um assunto a tratar com meu antigo aluno. Uma última lição que precisa ser dada.

McKinley fez que sim com a cabeça e, sem dar as costas para o senhor das trevas, se afastou para enfrentar os orcs e gobelins que partiam para cima deles. Voldemort comprimia os lábios com fúria contida. Os olhos de serpente chispavam.

- Você vai pagar caro pela interferência, Dumbledore.

- Não, Tom. Não sou eu quem pagará. Mas você está certo. Um preço está sendo exigido. Exatamente pelo ser que você convocou.

- Velho idiota! O espírito do rio Flama terá seu tributo! – e lançou uma bola de fogo contra Dumbledore.

Com um movimento discreto da varinha, o diretor tocou seu corpo para transfigurá-lo em água. Quando as chamas o atingiram, a água se evaporou, a bola desapareceu e o vapor se condensou em sua conhecida forma humana. O bruxo teve apenas o trabalho de ajeitar os óculos de meia-lua sobre o nariz.

- Tom, você pode ter sido um dos alunos mais brilhantes de Hogwarts. Mas ainda tem coisas a aprender. Você fala do rio Flama como se ele fosse mais uma criatura do submundo. Acaso não percebeu com o que está mexendo?!

Voldemort fez uma luz negra sair da varinha e com ela partiu para cima do velho professor como se usasse um sabre.

- EU POSSO DERROTAR QUALQUER UM!

Dumbledore executou o mesmo feitiço. Mas de sua varinha surgiu uma densa luz branca. Aparou o ataque com sua magia materializada no formato de um sabre reluzente e desferiu outro golpe.

- Ninguém derrota os espíritos antigos. Nunca houve mago que vencesse os seres que dominam a natureza. Eles fazem o que querem!

Voldemort jogou o corpo para trás, livrando-se da lâmina mágica, que refulgia na arena mal iluminada. Em seguida, atirou-se à frente, executando com o brilhante sabre negro um movimento veloz de cima para baixo sobre Dumbledore.

- Não há um ser superior quando se domina a magia negra. Seu bruxo estúpido, não entendeu isso até agora?! – bufou enquanto desferia um golpe seguido do outro, todos contidos pelo sabre branco numa sucessão de movimentos que produzia intensas faíscas de luz, arrancando os dois das sombras de Nephasta. – Com a magia negra, tenho acesso a poderes que vocês, amantes de trouxas, nunca alcançarão.

Os sabres mágicos nascidos das varinhas se colidiam no ar a cada golpe dado pelos bruxos. O ruído da batalha, no entanto, não afastava dos ouvidos de Dumbledore uma voz soturna cuja irritação aumentava a cada minuto que passava.

- Deixe de ser imbecil, Tom. Escute o que diz o rio. Ele está se enfurecendo. Ele quer o tributo prometido! – gritou, lutando bravamente com o sabre. - E ele não é somente o espírito de um rio. Ele é o pai de todos os demônios. O espírito maligno não tem uma única cara. Ele tem várias. Você está lidando com apenas uma delas. Peça perdão por despertá-lo e diga para ele ir embora – disse, girando o corpo em 180º graus e atingindo o braço esquerdo do inimigo num gesto surpreendente.

Voldemort urrou. A luz branca não apenas retalhara sua pele, como queimava e provocava tremores em seu corpo. O ódio alimentado pela dor do ferimento lhe deu mais forças. E ele partiu com violência dobrada para cima do antigo professor.

- Dumbledore, não é à toa que eu sou conhecido como o Lorde das Trevas. Estou no meu elemento. E VOCÊ NÃO!

A batalha obrigou Dumbledore a dispender tanta energia que ele não foi capaz de conter o novo golpe. O sabre negro arrebentou o branco e a lâmina escura fez um corte fundo no ombro do velho bruxo. Dumbledore imediatamente recuou e cobriu a ferida com a mão direita.

- Acabou para você, Dumbledore! Ao contrário do seu, o meu sabre contém veneno. Essa mancha negra que começa a se espalhar não é exclusivamente seu sangue. Diga adeus para este mundo.

Orgulhoso, Voldemort recolheu a luz negra, abaixou a varinha e se afastou de Dumbledore com uma expressão de desprezo. O diretor tirou a mão do ferimento e olhou para a palma banhada de sangue e de um líquido tão negro quanto as águas do rio Flama. “Preciso descobrir que veneno é esse”, pensou, sentindo que a força das pernas estava indo embora. Passou a varinha para a mão esquerda com dificuldade e dor. “Pelo poder dos alquimistas, tenho de ser rápido”, refletiu, conjurando uma espátula e um tubo tomado pela metade por uma solução azulada. Por magia fez a espátula recolher o líquido negro da palma da mão direita e jogá-la no tubo. Sua respiração estava ofegante. O veneno penetrava em sua carne. E aos seus ouvidos continuava chegando a voz soturna, cobrando o tributo.




*****




Harry acelerou a vassoura o máximo que pode. Graças a sua destreza, logo alcançou o balrog. O monstro tinha ateado fogo ao corpo e preparava o chicote para açoitar a moça de cabelos vermelhos, que executava vôos de linhas sinuosas e vertiginosas para escapar aos golpes. Assim que o demônio jogou a ponta do chicote para trás, Harry lançou um feitiço que prendeu o fio flamejante na terra. O balrog perdeu o equilíbrio e tombou, fazendo o chão tremer. Rosto rubro pela excitação da fuga, Gina virou-se para descobrir o que acontecera. Quase gritou ao ver o rapaz que amava ao seu lado.

- Você?!

- Eu digo o mesmo! Ficou maluca? Eu falei que era para você ficar longe daqui.

- Harry, corra até Dumbledore. Você tem de ficar com ele. Só assim há chances de a profecia... – calou-se. Tencionara dizer “não se cumprir”. Quando o diretor recomendara ao grupo que o rapaz não saísse de perto dele tanto Gina quanto ele sabiam que a idéia principal era afastar Harry de Belatrix e impedir que o rapaz se deixasse tomar pelo efeito das trevas.

- A profecia diz que sou eu ou o Voldemort. Não tem nada falando de interferência do Dumbledore – respondeu. – Fuja daqui AGORA!

Enquanto gritava, Harry abriu um escudo para evitar o jato de chamas despejado pelo balrog, refeito da queda. O chicote ainda estava preso, porém a criatura continuava sendo uma terrível ameaça. Gina conjurou arco, aljavas e flechas. Sob a vassoura, tocou as setas com a varinha, transformando-a em armas cristalizadas.

- Esse balrog é o mesmo que McKinley enfrentou. Não vê a asa destruída pelas mãos do Grope? O demônio tinha escapado do McKinley porque Voldemort abriu um portal para resgatar esse bicho horrendo. Foi o professor que me disse. Só que desta vez eu tenho alguns trunfos. Eu sei que ele ficou cego de um olho, tem velhas feridas... e que o gelo é o melhor elemento para se utilizar contra essa coisa – comentou, mostrando as flechas para Harry, que estava concentrando na proteção.

- Não começa. Você vai...

- Lutar. É para isso que estou aqui! – cortou a garota, saindo de trás do escudo e lançando a primeira flecha, bem no alvo em mira: o olho são do demônio.

O balrog soltou um grito que ecoou pela arena inteira. As chamas se extinguiram momentaneamente e o monstrou cobriu a vista com as mãos. Harry encarou Gina cheio de admiração, os olhos verdes brilhando. Mas antes de pronunciar qualquer coisa, escutou um apelo terrível.

- HARRY!

Era tia Petúnia. Girou a vassoura e voou célere para o ponto de onde partira o chamado. Gina gritou desesperada. “Procure Dumbledore”, mas não tinha certeza se o rapaz a ouvira. O balrog, sim. E, embora cego, com o tridente acertou a moça distraída.




*****




Voldemort estava mais furioso do que nunca. Não permitiria que a vitória escapasse de suas mãos. Ainda mais que Dumbledore estava fora da batalha. Berrou o nome de Belatrix. Dois orcs se aproximaram, sequiosos de novos comandos e atemorizados com a guerra de luzes aqui e ali produzidas pelas varinhas dos bruxos. O senhor das trevas ficou ainda mais irritado ao vê-los curvados, submissos, desconfiados. E os pulverizou com a bola de fogo que falhara momentos atrás diante do diretor de Hogwarts.

- Milorde – apresentou-se a Comensal, que exibia cabelos despenteados e o rosto suado pelos esforços na batalha.

- Traga-me os parentes de Harry. Não restará nenhum traço do sangue da família dele na Terra!

Belatrix desapareceu na escuridão e logo retornou arrastando Duda e tia Petúnia. Ambos foram jogados diante do bruxo.

- Perdão, milorde, mas o que diz a voz do rio? Não consigo compreender. Mas ela me assusta.

- Ele está cobrando o sacrifício, Bela. Por isso, tenho de atrair Harry de novo para mim.

- Jogue para o rio estes dois trastes, milorde! Vamos nos livrar logo do rio Flama, senhor. Não me sinto bem vendo aquele redemoinho e aquela... aquela... criatura...

- Não quero covardes entre os Comensais, Bela. Se não quer mais ver o rio, posso resolver seu problema. Para mim, é muito fácil te tornar cega.

- Milorde, não foi isso que quis dizer – gemeu. – O que posso fazer agora?

- Faça com que esta mulher chame Harry – ordenou friamente.

Belatrix soltou a mordaça de Petúnia Dursley e poderia ter usado a maldição Imperius. Mas preferiu pegar Duda pelo pescoço e conjurar uma adaga, que espetou a papada do rapaz. A Comensal estendeu os lábios, pretendendo sorrir. Ainda estava abalada pela reprimenda de Voldemort, porém não deixaria de desempenhar o papel que mais gostava: o de mulher sádica. Petúnia não poupou o ar dos pulmões ante o gemido sufocado do filho que exprimia o horror.




*****




Dumbledore sacudia debilmente o tubo azulado onde caíram as gotas negras do veneno que infectava seu organismo. O grande bruxo sentia as juntas do corpo se endurecendo pouco a pouco. A dor da paralisia se estendia às extremidades. Concentrado, afastava o veneno de seu coração e cérebro, impedindo por magia que o mal se alastrasse para seus pontos vitais. Mas estava difícil vencer a guerra particular. Ergueu a varinha para o alto e lançou faíscas pedindo socorro. “Não tenho tempo para ser orgulhoso. Não conseguirei me livrar dessa sozinho”, pensou, percebendo que as pálpebras estavam pesadas. Trouxe o tubo junto às narinas e notou que as articulações rangiam como dobradiças gastas e ressequidas. “Por Merlin, já perdi o olfato! Se não identificar logo o veneno, não sobrará um minuto sequer para buscar a cura”, murmurou.

- Jesus, Maria, José! Foi picado por algum escorpião de caverna? – perguntou assombrado Thelonius McKinley.

- Nunca fiquei tão feliz em ouvir essas expressões que você copia dos trouxas, meu amigo – disse, em sussurros espaçados. – Voldemort me atingiu com uma lâmina envenenada. Aqui, no tubo, já recolhi o líquido. Ele me subestima demais e esquece que conheço alquimia.

McKinley aspirou o aroma que saia do tubo. Fez uma careta.

- Não sou um expert como você, mas isso é uma combinação de venenos. Se Snape estivesse aqui, ele resolveria num segundo. Eu terei que fazer uma combinação de poções.

O professor abaixou-se e gastou o latim para conjurar ingredientes. Fez surgir um vidro de água borbulhante e despejou tudo dentro do recipiente. Dumbledore pronunciou palavras mágicas e acelerou o processo. O amigo ergueu as sobrancelhas.

- Voldemort vai se lamentar por te menosprezar, Alvo. Mesmo envenenado como está, você ainda tem energia para reagir. Com sua ajuda, a poção ficou pronta. Tome.

Dumbledore sorveu a beberagem e, com o olhar embaçado, pediu que McKinley o deixasse. Que fosse atrás de Harry. O professor usou a varinha para improvisar uma camuflagem para o amigo e correu até as luzes que sinalizavam um confronto entre bruxos. Não tardou para que McKinley visualizasse Rony, acuado. Ele franziu o cenho. Já tinha derrotado e prendido um número considerável de orcs, bewolfes e gobelins. Mas ainda não tinha satisfeito seu velho espírito de auror. Ao chegar por trás, derrubou com uma sucessão de azarações um grupo de Comensais. Restaram três ou quatro, entre eles Lúcio Malfoy, que decidiu correr a enfrentá-los.

- Professor McKinley! Por que demorou tanto?!

- Estou vendo que deu conta de alguns bruxos muito procurados pelo Ministério da Magia! Mais uns minutos e teria capturado todos e você receberia uma medalha, senhor Weasley. Onde está Harry? Temos de levá-lo já até Dumbledore.

- O cabeça-dura foi atrás da Gina! E ela está enfrentando um balrog que estava escondido nas sombras. Só que tem mais um detalhe: o Harry levou a minha vassoura.

- Rápido. Vamos na minha – e retirou das vestes o objeto que havia miniaturizado.

Rony assumiu o comando do vôo e disparou como um bom jogador de quadribol que era. Se McKinley ainda tivesse seu chapéu, ele o perderia naquele instante. O professor puxou o relógio de bolso e conferiu as horas. Tanta coisa já tinha acontecido, mas o dia ainda não terminara. Faltavam poucos minutos para o sol se pôr. Ficou preocupado com Snape e Hermione. “Se eles falharem e as criaturas do submundo pegarem o cristal, elas vão atravessar a ponte e chegar ao lado externo quando a noite tiver descido. Estarão livres”, pensou, formando uma ruga funda na testa.

- Ei, o maldito... – o ruivo não completou a frase. Mergulhou e fez seu segundo resgate no ar. – Eu deveria ser apanhador! – gritou depois de ter puxado Gina para a ponta da vassoura.

- Ora, ora, esta é a ocasião perfeita para um ajuste de contas – emendou McKinley, saltando da vassoura e amortecendo a própria queda. Mal tocou o solo, apontou a varinha, resoluto. – Estupefaça máxima!

O feitiço atingiu o peito do balrog. O demônio sacudiu o corpo gigantesco, mas permaneceu de pé. Assim que se ajeitou na vassoura, Gina aprumou a coluna, pegou o arco e mais uma flecha encantada e a arremessou no mesmo local focado por McKinley. O monstro soltou mais um grito tonitruante. O professor aproveitou o momento de fraqueza da criatura, fechou os olhos e evocou com todas suas forças uma tempestade de neve. Rony, então, lançou um jato de água violento contra o balrog.

- Mantenha-o firme, senhor Weasley. De novo, senhorita Weasley – ordenou McKinley.

Gina lançou a terceira flecha diretamente no coração do balrog. O demônio estremeceu. A tempestade de neve aliada ao jato produzia efeitos. A água começou a se congelar e a seta de gelo enviada pela garota completou o serviço.

- Petrificus totalus! – bradou o ex-auror.

O balrog não conseguiu se mover e a magia o envolveu por completo. Estava encarcerado numa armadilha congelante. McKinley, por acaso, esbarrou na Firebolt que Gina estivera usando. Montou sobre ela e disse alarmado para os irmãos.

- Pelas barbas de Netuno! Temos de achar Harry.




*****




Voldemort esfregou as mãos quando viu Harry surgir montado numa vassoura. O rapaz planou sobre ele. Seu olhar estava transtornado.

- Sem truques desta vez, sua víbora.

- E sem concessões também – vociferou. – Desça da vassoura e jogue sua varinha.

Harry permaneceu quieto. O senhor das trevas semicerrou os olhos de serpente. Belatrix entendeu perfeitamente o que aquilo significava. Puxou o pescoço de Duda para trás e Petúnia suplicou em prantos.

- Pelo que há de mais sagrado no mundo, Harry, salve Duda!

O jovem bruxo não tinha alternativa. Pulou da vassoura, sentindo os músculos se retesarem pelo assomo de fúria que tomou parte dele. Ver Belatrix sorrindo debochada despertava nele uma dose extra de energia. Engoliu a raiva por um instante. Hesitou em lançar a varinha por terra. Mas viu o sofrimento genuíno da tia. E jogou.

Era a hora da profecia. Harry e Voldemort estavam de frente um para o outro. O senhor das trevas começou a sorrir.

- Finalmente...

Por magia, aprisionou Harry com cordas. Mas nem isso atemorizou o rapaz. Por algum motivo que desconhecia, estava confiante. Fixou seus olhos verdes nas pupilas ofídicas de seu oponente. Voldemort usou a varinha para arrastá-lo em direção ao rio. Harry podia ouvir um som grave vindo do redemoinho. As águas pareciam ter esquentado. Um vapor nauseante subia pelo ar. O ar estava carregado, tenso. Ele notou uma ponta de receio em seu inimigo. E sorriu maldosamente. Percebeu que ele temia o espírito do rio. Decidiu desestabilizá-lo.

- Eu te amaldiçôo, Voldemort! - sibilou.

Os olhos de Harry escureceram, seus cabelos se eriçaram e o senhor das trevas não conseguiu arrastá-lo mais. Era como se o rapaz tivesse fincado suas pernas no solo.

- Lançar maldições, Harry, é próprio dos bruxos das trevas – observou Voldemort sinistramente.

- Em Roma como os romanos – ironizou.

- Perfeitamente, Harry! A decisão é sua. AVADA KEDAVRA! – berrou o bruxo.

Duda, que assistia tudo com pavor, não soube o que aconteceu com ele. Não conseguira pronunciar um “ai” quando foi atingido pela maldição. Seus olhos se perderam no vazio. Petúnia soltou um lamento longo, chamando-o. Mas o rapaz jamais a respondeu.

A cena tinha sido forte demais para Harry Potter. O grito que lançou arrebentou as cordas que o aprisionavam. Ao redor de seu corpo um halo de energia chispava. Os olhos estavam negros. Os olhos de serpente de Voldemort também se acenderam. E uma aura negra cobriu seu corpo, da mesma forma que ocorrera com Harry. O rapaz pulou sobre ele, tentando esganá-lo. Voldemort intensificou a energia que saia de seus poros. Harry não se importou com a queimação em sua pele. Não tirou as mãos do pescoço do bruxo. Mas o senhor das trevas contava com a vantagem de ainda possuir sua varinha. Ergueu o objeto mágico e repeliu o rapaz. A azaração não o afastou completamente.

- Eu sempre disse a Dumbledore que as trevas nos tornam mais fortes – murmurou entre dentes. – Mas eu ainda sou mais poderoso do que você! – e tentou jogá-lo com um jato de luz nas águas agitadas, ansiosas pelo sacrifício.

Harry, porém, se abaixou a tempo de escapar do feitiço. E com as mãos nuas fez de novo o que Voldemort já percebera naquele mesmo lugar. Mirando a terra sob os pés de seu inimigo, executou magia sem a ajuda de sua varinha.

- Reducto!

O chão sacudiu violentamente, explodindo como se Lorde Voldemort tivesse pisado numa mina explosiva. Ferido, ele não teve condições de se segurar. A terra desbarrancou e deslizou num átimo de segundo, arrastando junto o terror do mundo bruxo. Harry, mais uma vez, gritou, focando seu olhar negro sobre Voldemort.

- Accio varinha!

Harry tinha sido tão rápido que seu oponente não pode manter a varinha em sua mão. Voldemort mergulhou nas águas negras com um urro de espanto. Tentou se prender na margem, resistindo o quanto podia, arranhando a terra no desesperado afã de escapar do líquido viscoso, que começava a subir em seus braços, nas costas, no peito. Mas o ser sem rosto, que antes se erguera para receber Harry num abraço mortal, saltou das profundezas e se jogou com gana sobre aquele que um dia tinha sido apenas Tom Riddle. Finalmente, o espírito destruidor recebia o tributo clamado. Voldemort submergiu e dele só restaram as marcas de suas unhas na terra.

- Milorde! – berrou Belatrix, correndo para a beira do rio.

- Crucio! – bradou Harry, atingindo a Comensal com a maldição disparada pela varinha que fora de seu inimigo.

Belatrix curvou-se numa agonia que fez seus olhos saltarem nas órbitas.

- Por Sirius e por Hagrid, chegou a hora da vingança – completou o jovem bruxo sinistramente.

- Não, Harry. Por Merlin, não. Você não é igual a Voldemort – respondeu uma voz cansada.

Dumbledore mal tinha forças para andar. A mancha do veneno ainda tingia suas vestes e ele perdera muito sangue. Mas seria capaz de dar o restava de sua vida para impedir que a segunda profecia de Cassandra se cumprisse.









Desculpe, gente. Não revisei. Este é o capítulo mais longo, como devem ter percebido. Vou fazer as correções e ajustes depois. Bjs. K.

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