Alea jacta est

Alea jacta est



Resumo do capítulo anterior: transtornado pelo rapto de sua tia, seu primo e de Alastor Moody por Voldemort, Harry parte junto com Rony e Hermione para Nephasta. A chave de portal que leva o trio até os subterrâneos do submundo é copiada por Gina. A garota entrega a cópia para Dumbledore que decide aceitar a presença dela no grupo que sai para socorrer os ex-alunos de Hogwarts. Enquanto isso, o trio atravessa a escura passagem que conduz à cidade e se encontra com um comitê de recepção encabeçado por Lúcio Malfoy. Rony e Hermione são obrigados a ficar. Harry prossegue sozinho, acompanhado de Comensais e orcs. Rony provoca um momento de tensão, à espera de uma chance de reagir e dar seqüência à missão. O grupo de Dumbledore chega à passagem e descobre que mais uma lenda cerca Nephasta. Mais um perigo que ronda Harry.








Rony Weasley observava com atenção o Comensal encapuzado. Embora mantivesse a varinha apontada para eles, o bruxo continuamente desviava os olhos para as sombras. Estava preocupado. O rapaz também perscrutou a escuridão. Notou alguma movimentação, mas era impossível definir o que era. Sentiu ainda que os orcs confabulavam em voz muito baixa. Atitudes muito suspeitas.

- Eles estão aprontando alguma, Mione. Já faz tempo que os orcs estão assim.

- Ah, Rony, tudo já é tão assustador sem isso.

- É por isso que nós temos de ficar muito atentos. O Comensal está sozinho, mas nós estamos juntos. Portanto, não se afaste de mim.

Hermione o tocou no braço.

- Nunca...

Talvez tenha sido o tom de voz da garota, o fato é que Rony sentiu um arrepio agradável na pele. Porém não conseguiu olhar para ela. Atrapalhado, limpou a garganta, endireitou o corpo e se concentrou no desenho arquitetônico da Torre. Bem se via que o tempo havia sido cruel. Havia um enorme buraco na base de uma parede.

- O que é que você está olhando?

A pergunta do Comensal o pegou de surpresa. Rony respondeu que não era nada. Mas o bruxo não acreditou nele. Sem condições de enxergar o que havia atrás dele, o Comensal mandou que os dois andassem para perto da ponte. O casal não discutiu. Deu alguns passos para a esquerda e o vigia fez o mesmo, aos poucos virando as costas para a estrada que Malfoy e Harry tinham seguido, junto com a comitiva de orcs. O Comensal manteve a varinha apontada para Rony e passou a vasculhar com os olhos o que havia atraído a atenção do rapaz.

- O que você está escondendo? Tem alguém aí?

- Eu não estou escondendo nada. A gente mal se mexeu!

- Não tente me enganar – disse quase gritando.

- Que é isso?! Não jogue sua tensão pra cima de mim.

- Cale-se! Se você pensa que vai me distrair com essa conversa mole... – mas subitamente ele ficou quieto e arregalou os olhos. Virou-se rapidamente de frente para a estrada, consciente do perigo maior: ficara de costas para as sombras. O Comensal girou a cabeça de um lado para o outro e se horrorizou ao perceber que nenhum orc estava mais visível. Aqueles que tinham ficado perto das tochas agora não ocupavam mais as posições.

- O que aconteceu, Rony?

- E eu sei? O sujeito ficou louco.

- Não é isso. Enquanto ele esteve falando com você, os orcs desapareceram.

– Onde se meteram esses demônios? – resmungou o Comensal para si, com o suor empapando o capuz. Irritado, voltou-se para Rony – Você vai me pagar por isso!

- Eu não tenho nada a ver com o sumiço dos seus amiguinhos.

- Sumiço?! Eu não falei nada. Como sabe que eles sumiram? O que você combinou com eles? – e andou para mais perto da Torre, revirando os olhos entre Rony e Hermione e a estrada. Bastou, porém, se aproximar da construção que das sombras saltou um orc sobre ele. A criatura conseguira rastejar na escuridão e se esconder parcialmente na Torre.

- Traidor! O milorde vai saber disso... – gritou o bruxo, lutando para apontar a varinha sobre o orc.

Uma flecha zuniu na escuridão e atingiu o Comensal no peito. O homem soltou um berro e caiu com o orc puxando de seu pescoço a grossa corrente que prendia o cristal. Assim que a teve nas mãos, a criatura soltou um berro de triunfo, seguido por outros vindos da escuridão. Rony não esperou um minuto e utilizou o feitiço convocatório para se apoderar do objeto.

- Por enquanto isso fica comigo!

O orc se ergueu furioso. No mesmo instante, flechas partiram das sombras e Hermione só teve tempo de conjurar o escudo que os salvou da mira das criaturas. Rony murmurou um obrigado e tratou de guardar a corrente no bolso. O monstro que atacara o Comensal aproveitou o momento e correu para eles com um machado já erguido no ar, pronto para o golpe. Hermione desviou o escudo para proteger o amigo. Rony saltou para trás e com a varinha desviou uma lança que havia sido arremessada contra a garota.

- Estamos sob fogo cruzado! Tá na cara que eles ficaram danados porque você pegou o cristal. Eles vão matar a gente se não entregarmos o cristal – gritou a jovem.

- A coisa, então, vai esquentar! Porque nós não vamos entregar. Sem o cristal, eles não conseguem atravessar a ponte. É isso que os pestes querem. Ou será que é para dar boas-vindas pra gente que eles estão deixando a escuridão? – disse, fazendo troça do perigo.

Como baratas saindo do esgoto, os orcs avançaram. Seriam 20, 50? Rony não tinha condições de contar. Lançou algumas azarações sobre as pedras para repelir as criaturas até que ouviu o grito de desespero da amiga. O orc era forte demais e estava cansando Hermione. O rapaz saiu da proteção da magia da garota e berrou o feitiço que sabia funcionar bem contra os monstros.

- Impedimenta!

Hermione voltou a acionar o escudo porque os outros orcs dispararam mais flechas e lanças. Mas parecia haver um enxame. Eles surgiam por todos os lados. E Rony disparava feitiços sem parar. A escuridão estava prejudicando os jovens. Então, o ruivo teve a idéia de derrubar a torre e criar uma barreira que lhes desse tempo de preparar melhor a defesa. Apontou a varinha para a base esburacada da construção.

- Reducto!

A base da torre explodiu em várias partes e o prédio tombou, erguendo uma cortina de fumaça branca, dificultando ainda mais a visão. Hermione começou a tossir e Rony a pegou pelo braço arrastando para perto do monte de pedras onde antes estava a construção. Com a varinha, moveu um pouco do entulho para fechar um círculo sobre eles. Os dois ficaram entre a torre tombada e o espaço onde a ponte surgiria caso o cristal estivesse na haste.

- Se eles quiserem pegar a gente, vão ter de subir esse monte. Assim, fica mais fácil para acertar os cretinos. Ah, Mione, só use magia imobilizadora. Tem orc que resiste ao feitiço estuporante. E vista a capa de invisibilidade.

- E você?

- Eu tenho experiência contra esses bichos. Pode deixar – brincou, aguçando os ouvidos e a visão para não deixar nenhum orc escapar.

Então, um longo toque de trombeta soou. Tinha sido executado a alguns metros de onde estavam. Estava claro que era uma mensagem para outros orcs. Rony olhou para a amiga por um breve segundo. Sacou do bolso a corrente e a entregou para a garota. Hermione entendeu o que era para ser feito. Pendurou o cristal no pescoço e se cobriu com a capa, nervosamente. Rony permaneceu em silêncio e ficou aflito ao ouvir passos apressados sobre o entulho, do outro lado da barreira. Mas o que mais o assustou foi escutar o som de tambores. Estavam ainda distantes, porém isso não o confortou.

- Droga, tomara que não seja uma resposta a um convite do tipo “juntem-se a nós para dar porrada nuns intrometidos” – balbuciou para seus botões.

No mesmo segundo, ouviu os urros dos inimigos, que começaram a escalar o que restara da torre.

- Prepare-se, Mione. Vai ter chuva de orc! – foi o que Rony teve tempo de gritar.




*****




A luz das varinhas iluminava pouco o túnel da passagem, mas foi suficiente para que Thelonius McKinley fizesse a descoberta mais espetacular de sua vida. O bruxo soltou uma longa exclamação ao se deparar com uma série de inscrições na parede rochosa.

- Raios me partam! Isto aqui é um achado, Alvo! Os elfos do mundo antigo escreveram a história de Nephasta nestas paredes! Não há nada igual em biblioteca bruxa alguma.

- Sem dúvida, Thelonius. Mas precisamos apressar o passo...

- Alvo, as inscrições vão se sucedendo. Andemos, andemos. Só que eu posso ler rápido enquanto caminho.

- Certamente os elfos assim a fizeram para que quem entrasse nesta passagem fosse alertado a respeito do que encontraria caso prosseguisse – disse Dumbledore, que caminhava à frente do grupo.

- Não foram apenas elfos, Alvo. Havia magos também. Quatro magos brancos. Junto com os elfos, eles formaram a Fraternidade Branca para acabar com as histórias de horrores que vinham de Nephasta. É o que está escrito – respondeu McKinley, o último da fila.

- Está aí uma novidade – murmurou o diretor, preocupado em vigiar o entorno.

- Professor, por favor, me explique por que Voldemort atraiu Harry para cá. Eu preciso saber – insistiu Gina, que transfigurara as quatro vassouras para que elas ficassem pequenas e coubessem no bolso da calça.

Ouviram um ruído atrás deles e um clarão surgiu. Todos se voltaram a tempo de ver McKinley manipulando um caderno surrado que retirara das vestes.

- Ah, estou copiando as inscrições já que não temos muito tempo. E para fazer uma cópia decente preciso de muita luz. Desculpem-me se atrapalho – comentou, enquanto apontava a varinha para um amontoado de letras élficas. Outro flash estourou e com um golpe leve na varinha McKinley despejou uma luz dourada sobre as folhas do caderno, imprimindo-as.

- Desde que o senhor não faça com que sejamos descobertos, professor McKinley, não vejo por que seu hobby atrapalharia – começou Snape, irônico.

- Thelonius, enquanto descemos, fale-nos sobre Nephasta. Já que você está copiando tudo e você domina a leitura dinâmica, pode nos resumir um pouco do que está nas inscrições. Isso nos ajudará a encarar o perigo e ainda esclarecerá a dúvida da senhorita Weasley – ponderou Dumbledore.

- Que seja. Isso servirá para te mostrar, Severo, o valor deste... hobby – sublinhou a última palavra com azedume. – Na época dos ancestrais de nossos ancestrais habitou as entranhas desta montanha um povo que não era nem humano, nem elfo, nem qualquer dos seres que hoje conhecemos. Eles eram chamados de o povo das sombras, ou shadows, como os habitantes destas terras preferiam dizer. Não tinha dons mágicos, nem eram bons, nem maus. Mas estes seres tinham uma habilidade igualável somente a dos anões do mundo antigo. Eram excelentes mineiradores e construtores. Outra característica era que não suportavam a luz do sol. Por viverem havia muitos anos nas profundezas da terra eram pálidos como fantasmas. Muitos humanos chegavam mesmo a confundi-los com espíritos. Isso porque eles eram vistos de tempos em tempos, quando deixavam a montanha para caçar.

- Como podiam sair para caçar se eles não toleravam o sol?

- Boa pergunta, senhorita Weasley. As inscrições élficas relatam que eles saiam apenas à noite. Ficavam escondidos na passagem esperando o sol se por e então partiam para as caçadas – respondeu McKinley, que continuava copiando as inscrições sem perder de vista o caminho traçado por Dumbledore.

- E eles tinham de caçar uma quantidade enorme de animais para levar para a cidade?

- Não, minha cara. Os shadows conviviam com animais que habitavam as profundezas. Alguns serviam de alimento. Há nomes aqui que desconheço totalmente. O único que consegui entender foi um que os elfos chamaram de serpente das sombras. Muito perigosa!

Snape passou a vasculhar o solo. A descida até Nephasta ganhava tensão.

- Severo, não adianta olhar para baixo. As serpentes eram voadoras. E eram imensas. Pelo que estou lendo, os shadows temiam esses monstros, mas elas subiam aos céus pela abertura do vulcão e saiam para caçar sem atacar a cidade. Até que...

- Continue, Thelonius – pediu Dumbledore, sentindo que o calor aumentava à medida que avançavam pelo largo túnel, que seguia num declive sinuoso. Estavam penetrando na terra.

- As inscrições apontam que Nephasta não era muito conhecida até o dia em que houve um terremoto. Um grupo de caça dos shadows havia partido e não pode retornar para casa porque parte da ponte que levava à cidade ruíra. Os que ficaram em Nephasta trataram de buscar mais pedras e escavaram mais fundo. Os que tinham saído à caça retornaram para a floresta para obter mais madeira. A reconstrução começou dos dois lados, mas os que estavam na cidade sofreram muito mais. Morreu uma boa parte dos animais que criavam e a abertura do vulcão foi parcialmente fechada, bloqueando o caminho para as serpentes. Elas passaram a atacar Nephasta, dizimando um bom número de shadows. Para acelerar a reconstrução, o grupo de caça passou a negociar com os habitantes das redondezas do Vale Eterno. Pediram ajuda para cortar mais troncos e trazer a madeira até a ponte e deram em troca pedras preciosas, ouro e prata. Isso despertou a cobiça dos homens. Logo a notícia se espalhou.

- Pobre gente – suspirou Dumbledore.

- Até esse momento o povo élfico mal sabia da existência dos shadows. A reconstrução levou tanto tempo que os moradores de Nephasta foram morrendo de inanição. Surgiu uma guerra interna por causa das provisões, que se acabaram. E no meio do conflito estourou o primeiro caso de canibalismo. Alvo, eles estavam se matando!

- Há canibais em Nephasta?! – estremeceu Gina, sobressaltada.

- Não há canibais. Nem shadows. Eles desapareceram. As inscrições mostram que quando a nova ponte foi finalmente concluída, os shadows caçadores se juntaram aos que restaram. Mas com eles vieram também homens que viram a cidade. Os homens retornaram para seus lares e contaram tudo para tanta gente que rapidamente gobelins souberam das riquezas de Nephasta. Gobelins também gostam da escuridão e decidiram conquistar a rica cidade. Os shadows, enfraquecidos, foram derrotados e se tornaram escravos dos gobelins. Essas criaturas obrigaram o povo a escavar ainda mais a terra em busca das riquezas minerais. Na mesma época, orcs errantes ouviram a história e decidiram também invadir a vila subterrânea. Os gobelins foram pegos de surpresa, mas resistiram. Travaram uma longa batalha pelo domínio da ponte. Os orcs, entrincheirados do lado da passagem, enviavam seus soldados para a região, atrás de provisões e reforços. Saquearam cidades, derrubaram florestas, trouxeram os bewolfes, mataram muita gente. O terror se espalhou pela redondeza e uma comitiva élfica foi enviada para apurar os boatos que se espalhavam de uma cidade maldita. Foram todos exterminados.

- Que horror! – exclamou Gina, lançando um olhar angustiado para as inscrições.

- O extermínio da comitiva élfica obrigou os elfos do mundo antigo a se preparar para um confronto – prosseguiu McKinley. – Foram convocados homens valorosos, guerreiros de coração puro, os elfos mais corajosos e bravos e quatro magos brancos, com poderes extraordinários. Oh, isso está ficando cada vez mais interessante.

- McKinley, vá direto ao ponto. O que aconteceu à cidade? – resmungou Snape, virando-se para o colega depois de terem descido mais alguns metros.

- Paciência, Severo. Foi formada a Fraternidade Branca, que marchou para a guerra. Quando o grupo chegou à passagem, aconteceu o que os shadows tanto temiam. Tinham escavado tanto que abriram caminho para os balrogs. Despertos de um sono secular, eles atacaram a cidade. Acuados sob dois fogos, os gobelins tiveram de optar por defender um dos lados, o das profundezas. Os balrogs mataram muitos deles e, saciados, logo retornaram para a escuridão de onde tinham saído. Quando os gobelins voltaram a se concentrar na defesa da ponte, já era tarde. Foram derrotados pelos orcs. A batalha final se deu à beira do rio subterrâneo que alimentava Nephasta. O líder dos orcs cortou a cabeça do líder dos gobelins à margem das águas e ali ofereceu um sacrifício aos espíritos do mal em troca do poder de seu inimigo. Tanto mal e ódio já havia se espalhado que um espírito atendeu ao chamado. E das águas do cristalino rio subterrâneo surgiu o rio Flama. Eis a resposta para sua dúvida, Gina. O rio Flama é um leito de águas escuras e viscosas. Nele habita um espírito maligno e antigo. Um espírito sem capacidade de sentir piedade ou amor ou qualquer emoção nobre. Sua essência é destruidora. É ele que desperta vulcões adormecidos, destruindo cidades, espalhando o terror.

- Voldemort pretende usar o rio para destruir Harry? – perguntou a garota, cada vez mais assustada.

- Provavelmente, ele fará o mesmo que fez o líder dos orcs. O rio Flama era lendário por isso também. Quem oferecesse um sacrifício para alimentar as águas negras receberia em troca o poder do inimigo imolado. Voldemort não apenas deseja destruir Harry. Quer também o poder dele. Encontrar informações sobre o rio Flama nas inscrições élficas deve ter sido a glória para ele. O maldito montou uma armadilha e tanto.

- Harry não sabe nada disso. As condições são desiguais demais para que ele possa triunfar com a ajuda de somente dois amigos – disse Dumbledore, com voz profunda e irritada. – Por Merlin, será que Tom não vê que está indo longe demais?! Ninguém mexe com energias tão tenebrosas sem correr riscos sérios. Ele quer a imortalidade, mas não será isso que encontrará se envolvendo com algo tão incontrolável quanto o rio Flama.

Os quatro caminharam em silêncio por alguns minutos, com a sensação de que a atmosfera ficara ainda mais pesada. Foi Gina quem quebrou o silêncio.

- Professor McKinley, o senhor ainda não nos contou o que aconteceu com a cidade.

- Perdão. Eu me distraí. O líder dos orcs recebeu do rio a força do inimigo e se tornou maior e mais poderoso. E menos clemente. Destruiu quase todos os shadows. Teria eliminado os gobelins senão tivesse sido atacado pela Fraternidade Branca. Outra dura batalha se travou. Elfos, homens e os quatro magos invadiram a cidade. Encontraram remanescentes dos shadows caçadores e com eles lutaram para livrar Nephasta dos orcs e dos gobelins. Quando descobriram o rio Flama, concluíram que não havia escapatória. Era preciso lacrar o local onde o espírito do mal se manifestara. Lançaram feitiços para fechar o acesso dos balrogs, bloquearam o estreito canal do vulcão por onde ainda saíam as serpentes das sombras e quando tentaram obstruir o rio, o Flama reagiu. Provocou um terremoto violento, afastando os elfos e os magos do local onde se encontrava. O terromoto abriu ainda mais o abismo sob a ponte, que ruiu em partes. A Fraternidade teve de mudar de planos. Não podia deixar livre o caminho para águas tão perigosas. E nem podia deixar impune aquele exército de criaturas malignas. Atraiu parte dele para a ponte e de lá os magos conjuraram as forças da terra para mergulhar os invasores de Nephasta num sono congelante. Nephasta se cobriu de uma névoa branca paralisante e a Fraternidade destruiu o que restava da ponte, levando para as profundezas parte do exército de orcs. A outra metade sucumbiu à magia. A Fraternidade fechou os portões da cidade e encantou a passagem e seus arredores para que seu segredo não fosse descoberto. No final, apenas um representante dos shadows havia sobrevivido. Os demais tinham desaparecido. Foi ele quem contou a história de Nephasta contida nas inscrições. E é possível que tenha contado a outros mais, além dos integrantes da Fraternidade. Por isso, a lenda sobreviveu e algo da verdade chegou aos ouvidos dos bruxos de hoje. Infelizmente, quem mais se aproximou da verdade não foram os bruxos mais decentes – lamentou-se McKinley, guardando o caderno nas vestes.

Dumbledore suspirou.

- Você está certo, Thelonius. Voldemort ter descoberto primeiro este lugar já é, em si, um acontecimento terrível. Mas o pior é que ele teve tempo de estudá-lo, tempo que nós não temos. Veja, estamos diante de uma bifurcação e não há nada nas inscrições que aponte o caminho para Nephasta. Teremos de contar com a sorte para escolhermos o correto. Não há meios de descobrir por magia qual nos levará direto à cidade. Pegar o errado pode significar o fim dos nossos esforços em ajudar Harry.

McKinley saiu de trás e percorreu as paredes em busca de instruções. Snape aumentou a intensidade da luz de sua varinha. E Dumbledore permaneceu quieto diante dos dois túneis. Gina sentiu o coração bater acelerado. Tinham de encontrar Harry. Era só nisso que conseguia pensar. “Por Merlin, diga-nos que há uma pista para acharmos Harry”, afligiu-se e, instintivamente, tocou no pingente onde guardava uma mecha do cabelo do rapaz. Foi como se encostasse em brasa. Teria sido sua imaginação ou sentira de fato um calor súbito ao pegar a medalhinha? Nesse instante, teve outra idéia. Abriu o compartimento secreto do pingente e derrubou a mecha em sua palma aberta. Talvez não houvesse condições de descobrirem o caminho certo para a cidade. Mas isso não queria dizer que era impossível encontrar Harry.

- Professor Dumbledore, é possível rastrear Harry se tivermos algo dele, não é mesmo?

- Num lugar como este, somente se for algo orgânico, senhorita Weasley.

- Então, isto deve servir! – e mostrou a mecha para o diretor.

Mais uma vez, Dumbledore a olhou surpreso. O bruxo bem gostaria de perguntar como a garota tinha aquela mecha em suas mãos, mas decidiu deixar para outra ocasião. Com a varinha fez surgir uma pequenina bola de cristal transparente que se abriu para receber os fios de Harry. McKinley e Snape se entreolharam, igualmente espantados com a novidade de Gina. A jovem sentiu que o rosto pegava fogo, porém estava resolvida a não entrar em detalhes com ninguém. Voltou a prestar atenção na magia do diretor de Hogwarts. Dumbledore ergueu a bola no ar.

- Oriundi!

A bola refulgiu e iluminou o túnel à direita, criando uma linha de luz branca que se perdia na escuridão. O diretor sorriu.

- Agora está mais fácil.

Gina se adiantou.

- E pode ficar ainda mais, professor. Lembre-se que eu trouxe as vassouras comigo – disse, retirando as que estavam em seu bolso e fazendo com que voltassem ao tamanho natural.

McKinley pegou uma delas e não conteve um assobio.

- Senhorita Weasley, não sei o que seria de nós sem a sua presença! Trouxe a solução para um problema imediato e ainda me fará sentir de novo a delícia que é voar numa vassoura. Sem dúvida, a senhorita é a grande heroína.

- Se houver heróis, McKinley. Ainda não resgatamos Harry Potter – cortou Snape friamente, montando numa vassoura e disparando à frente.




*****




Nada no mundo teria preparado Harry Potter para o cenário que surgiu diante de seus olhos. Minutos antes, montado sobre o bewolf, fizera um trajeto penoso, em meio a construções demolidas e detritos no solo. O ar de destruição era desolador e a escuridão tornava o ambiente fantasmagórico. A luz projetada das varinhas e das tochas dos orcs não permitia um olhar que cobrisse a vastidão. Mas aos poucos o caminho foi se iluminando. Os bewolfes se moviam rapidamente, apesar das irregularidades do terreno. E o que antes era silêncio e negrume se transformou em um ruído surdo e uma estranha claridade. “Parecem tambores”, pensou o bruxo, que mantinha a varinha firme na mão e os olhos em constante atividade, percorrendo da ponta onde estava Zarkis até o extremo onde Lúcio Malfoy seguia. De repente, ao contornar uma larga parede, o grupo se deparou com uma rua de pedras que se alargava. Era um chão de brilho dourado. Adiante, pequenas casas se erguiam. Todas cor de areia e com janelas estreitas. E atrás dela, outras ruas surgiram. E mais e mais construções. As paredes das casas tinham pedras brilhantes incrustradas. Aqui e ali, archotes e tochas iluminavam os arredores. As pedras brilhantes espalhavam a luz, clareando a cidade de um modo quase mágico. Harry apertou os olhos na tentativa de encontrar algum morador. Não viu ninguém. Entretanto, o som dos tambores se intensificava. Remoeu-se por dentro porque não queria perguntar nada a Malfoy. O Comensal, no entanto, se pronunciou assim mesmo.

- Surpreso, Harry? Aposto que você esperava ver uma cidade medonha. Não é de espantar que uma vila iluminada à custa de tantos brilhantes possa ser conhecida como Nephasta? Isso faz pensar que nem tudo que é nefasto é necessariamente feio – e riu.

- Quando quiser contar outra piada, me avise antecipadamente, Malfoy.

O Comensal mal prestou atenção. Somente naquele instante se deu conta dos tambores.

- O que é isso, Zarkis?

- São meus soldados, antecipando o momento em que vão atravessar a ponte.

- Nenhum momento será antecipado, Zarkis – sibilou Malfoy.

- Vou avisando, senhor Malfoy... – disse o orc, forçando gentileza na voz. - ... não desmoralize minha autoridade. Isso é muito perigoso.

- Você não será desmoralizado enquanto estiver ao lado do Lorde das Trevas.

O orc apertou os dentes. Estava furioso, porém se conteve. Conduziu o grupo até um dos lados da cidade. Os bewolfes se agitaram, sacudindo as caudas, prontos para o ataque.

- O que diabos eles têm? – berrou Malfoy. - Zarkis, o que está acontecendo com estes animais?

Os bewolfes se enfileiraram, desobedecendo ao comando de Malfoy. Harry não tinha a menor idéia de como controlar o monstro. Zarkis, contrafeito, foi obrigado a chamar um de seus soldados em sua língua gutural. Logo, o motivo do nervosismo das bestas ficou claro. Um batalhão de soldados orcs surgiu, seguido por um grupo de gobelins e por uma criatura imensa, branca e luzidia. A cabeça era de serpente, embora a boca fosse diferente: os dentes gigantescos e afiados ficavam visíveis o tempo todo. O corpo do monstro destoava do crânio. Era esguio, comprido e terminava numa cauda fina e longa. Poderia ser de uma serpente se não fosse pelas quatro patas curtas com dedos com garras grossas e por duas gigantescas asas semelhantes às de morcegos, que estavam fechadas. Montado por um gobelin e um orc, o animal se locomoveu silenciosamente e com destreza, apesar de trazer uma grossa venda sobre os olhos. A criatura fez com que os bewolfes recuassem e mostrassem os dentes ameaçadores. Malfoy arregalou os olhos. Harry pressentiu o desconforto no Comensal. Os orcs grunhiram entre si. A situação ficou tensa.

- Parem de falar nessa língua bárbara. Quero saber o que vocês estão fazendo. Quem mandou que trouxessem para cá uma serpente das sombras?

- Meus soldados também querem o controle sobre esses animais. Eles não acham bom que o lorde das trevas tenha dominado as serpentes para que somente os gobelins tenham o direito de montá-las.

- Seus idiotas! Não ousem questionar as decisões do milorde! Desça já daí, orc dos infernos – gritou Malfoy. – Vamos embora, Zarkis.

O líder dos orcs bufou. Os soldados ficaram atentos ao comando de Zarkis. Mas ele nada fez. Apenas ordenou que o orc descesse da serpente. Em seguida, forçou o bewolf a se mover para o outro lado. Os outros animais o seguiram.

Os orcs viram seu líder se distanciar. Alguns soltaram risinhos sarcásticos. Outros abaixaram as cabeças, aborrecidos.

- O grande Zarkis não parece tão grande agora. Não é o mesmo que venceu Guran, o líder dos gobelins, e abriu o olho do rio Flama. Virou fantoche de humano.

- Não seja estúpido. Esse humano de que você fala é um bruxo poderoso. Tão forte quanto os magos brancos. E nós somos seus aliados.

- Um bruxo tão poderoso não pode ter um garoto como maior inimigo. Com a minha lança, eu poderia eliminá-lo. Se esse bruxo é tão poderoso assim por que montou uma armadilha para derrotar aquele monte de osso e pele?

- Porque ele quer o poder desse monte de osso e pele. O poder que você é estúpido demais para perceber.

- Bah, o bruxo vai derrotar o garoto de qualquer jeito e vai sumir pelo canal do vulcão. Esse é o meu palpite e nós vamos apodrecer aqui, sem acesso para o vale.

- Zarkis não permitirá. Ele nos prometeu...

- Esqueça Zarkis. Ele não é respeitado nem pelos humanos. Nós podemos tomar a ponte dos Comensais. Agora que temos as serpentes.

- Nós não temos as serpentes. Os gobelins controlam essas criaturas.

- Se fizermos um acordo com os gobelins...

- Eu deveria arrancar sua cabeça por causa dessa asneira.

- Experimente!

O orc ergueu o machado que carregava e desferiu um único golpe. Mas não atingiu o outro orc. Este saltara para trás e lançou em seguida sua lança, com precisão. Ao ver o alvo tombando, urrou vitorioso.

- Eu sou o novo capitão! Vocês devem obediência a mim.

Os soldados se agitaram mais uma vez. O grupo de gobelins passou a se insinuar entre os orcs com os quais tinham mais diálogo. De repente, um batedor orc surgiu esbaforido, contando que a ponte estava guardada por um Comensal. Somente um. “O mais forte saiu e deixou o cristal com o outro”, relatou. Em seguida, ouviu-se um longo toque de trombeta. As criaturas trocaram impressões entre grunhidos. O novo capitão orc, com a lança ainda pingando sangue, empurrou os demais.

- O que estamos esperando? Nossos companheiros estão nos chamando. Vamos tomar a ponte!

Ergueu a lança para o alto e soltou um grito de guerra. Muitos orcs o imitaram. Os gobelins também sacudiram suas armas. E foi ordenado que os tambores voltassem a soar, desta vez com mais força. Eles teriam a ponte!




*****




Harry estava cansado de esperar pelo momento em que se veria cara a cara com Voldemort. Desde que havia deixado para trás os soldados de Zarkis, porém, o grupo acelerara o passo. Malfoy também estava irritado. Vira a marca em seu braço se acentuar, um evidente chamado de seu mestre. E dera mais um grito para o líder orc, que exibira uma clara expressão de mau humor. Mas, por conta disso, os bewolfes corriam, ultrapassando outras fileiras de orcs e gobelins e percorrendo ruas repletas de prédios semidestruídos. Ruínas. O jovem bruxo se assombrava de ver a cidade ainda iluminada por tochas e archotes, a luz refletida pelas pedrarias, cristais e brilhantes. Sentia também que a temperatura subia, Mexeu na gola da capa para abri-la um pouco. O suor começava a incomodar.

Então, notou que os bewolfes reduziram a velocidade e se dirigiram em direção a um enorme arco que ladeava uma série de construções agrupadas. Passaram pelo arco e Harry teve de abaixar a cabeça com receio de atingir o teto. Desembocou numa enorme praça, uma perfeita arena. Descobriu outros arcos por onde surgiram orcs e gobelins, parados como se fossem espectadores de alguma encenação medieval. Alguns tocavam tambores que só faziam aumentar as batidas do coração. Havia mais tochas e archotes ali do que vira ao longo do caminho todo. Ainda assim, alguns pontos do lugar estavam mal iluminados. Apertando os olhos, percebeu que as construções faziam um semicírculo. No lado oposto de onde se encontrava parecia haver à distância apenas uma parede rochosa. Assim que atingiram o centro da praça, os bewolfes pararam.

- Milorde, eu o trouxe! – bradou Malfoy, curvando a cabeça em direção à parede rochosa.

Antes mesmo de ver a figura de Voldemort, Harry o pressentiu. De um dos pontos mal iluminados, sombras se moveram e se dirigiram até o centro da praça. Entre elas, o bruxo sabia que estava seu inimigo. Apertou a varinha firmemente na mão direita. O bewolf se abaixou para que ele saltasse. Harry pulou sem tirar os olhos das sombras. E, a 20 metros do rapaz, eles ficaram finalmente visíveis.

- Harry Potter, você chegou atrasado, mas chegou.

Voldemort usava uma capa preta com forro púrpura. Os olhos de serpente brilhavam no rosto branco e esquelético. Ao lado dele, Belatrix Lestrange envergava uma capa vermelha. Sorria maldosamente para Harry. Outros Comensais, encapuzados, encaravam o rapaz.

- Trouxe toda a corja para me enfrentar, Voldemort? – gritou para se fazer ouvir.

- Não. Trouxe meus aliados para ver a sua derrocada, Harry. E não se esqueça que na platéia também tenho convidados especiais – e com um movimento fez acender uma pira próxima à parede. As imensas labaredas iluminaram os prisioneiros, amarrados em três troncos que se elevavam numa reentrância da parede. – Diga olá a seus amigos, rapaz.

Harry sentiu a garganta se fechar. Percorreu a arena com o olhar. Estava completamente só diante de uma multidão de inimigos. Os orcs e os gobelins urravam e batucavam os tambores. Os bewolfes foram enfileirados num canto. Os Comensais o encaravam sem demonstrar preocupação e caminharam tranqüilamente em direção à pira, seguindo Voldemort, que parecia muito à vontade, como se estivesse em casa. O lorde das trevas nem sequer se dignava a proteger suas costas. Seguia em frente acompanhado por seu séqüito. Harry tentou engolir em seco, mas quase não havia saliva em sua boca. Voltou a apertar a varinha na mão. “Um plano. Preciso de um plano”. E se lamentou por não conseguir pensar em nada que não fosse eliminar Voldemort, Belatrix e Malfoy. Mesmo que os derrotasse, o que faria com os orcs, gobelins e bewolfes? Tinha de libertar Moody, porém desconfiava que isso não o ajudaria muito. O companheiro da Ordem devia estar fraco demais para se defender e defender tia Petúnia e Duda. Um fio de suor escorreu da testa e ele tratou de limpá-lo rapidamente.

Voldemort interrompeu sua caminhada já bem perto da parede. Virou-se para Harry e sorriu.

- Note, meu caro, como eles estão felizes de te ver.

Tia Petúnia lançou um olhar aflito para Harry. Estava desesperada para falar, mas nada do que grunhia era compreensível. A mordaça a impedia de se pronunciar. Duda estava tão assustado que não se mexia. Apenas os olhos se moviam de um lado para o outro. Iam do primo para Voldemort, do primo para o ponto mais escuro da arena, do primo para o alto, do primo para baixo. Eram movimentos intrigantes. Moody pendia a cabeça, sem força para sustentá-la.

- Solte-os agora, Voldemort. Eu cumpri minha promessa – disse com raiva.

O lorde das trevas jogou a capa para trás dos ombros. Seus olhos de serpente brilharam mais.

- Não será fácil, Harry. Você terá de me vencer num duelo primeiro – e riu soturnamente. - Alea jacta est! Sabe o que isso significa, Harry?

O rapaz não respondeu, limitando-se a acompanhar atentamente os gestos de seu inimigo. A testa porejava de tanto nervosismo.

- Essa expressão latina significa que a sorte está lançada – e ironizou. – Você vai precisar mesmo dela. Harry Potter, você não está à minha altura e vou mostrar isso a meus Comensais e aliados. Você é tão inferior que te darei o direito de atacar primeiro. Ande. Faça algo. AGORA!

O grito de Voldemort o intimidou. Era a hora tão esperada. “E eu não sei o que fazer”, desesperou-se. O bolo na garganta aumentou. Tenso, lançou uma azaração, que foi facilmente rebatida pelo senhor do mal. Malfoy deixou escapar um risinho de escárnio. Harry berrou “Estupefaça”, lutando para vencer a insegurança. Voldemort acionou um escudo protetor e o feitiço não o fez recuar nem um passo. O lorde das trevas se moveu com altivez para um dos lados, obrigando Harry a se afastar. O rapaz apertou os lábios ao reparar que os soldados de Zarkis gritavam, confiantes. Lançou um jato de fogo que envolveu seu inimigo e, por um segundo, teve a esperança de ter produzido algo realmente forte. Voldemort, porém, irrompeu de uma bolha que espalhou água para todos os cantos. Avançou, fazendo com que o jovem bruxo retrocedesse mais um pouco, em direção à parede.

- Eu esperava mais de você – zombou. – Minha vez!

E disparou um feixe azulado. Harry pulou para o lado e revidou com outro, porém vermelho. O feitiço de Voldemort abriu um buraco no chão. E o de Harry foi absorvido por uma bola de luz conjurada pelo senhor do mal, que a arremessou de volta para o bruxo.

- Protego! – berrou Harry, escapando por pouco da bola, que explodiu violentamente contra a barreira invisível.

Àquela altura o suor escorria de seu rosto. Sua mente estava em branco. Não conseguia pensar em nada muito diferente. Lançou um olhar rápido para Moody. Desperto pelo ruído da batalha, o antigo auror fazia força para erguer a cabeça. Por um breve segundo, fizeram contato visual. Harry, então, lançou um feitiço que fez as cordas que prendiam o amigo desaparecerem. Moody deslizou para o chão. E, livre da mordaça, só conseguiu gritar “Cuidado com o rio”.

Voldemort atacou Harry no mesmo instante e o rapaz usou o escudo protetor mais uma vez. Simultaneamente, Belatrix jogou uma azaração sobre Moody, que foi arremessado contra a parede, perdendo a consciência de vez. Harry urrou ao perceber o que acontecera. A fúria que o tomou foi tão violenta que seu corpo inteiro tremeu. Com um gesto rápido, apontou a varinha para a Comensal.

- Crucio!

A energia liberada fez o ar vibrar e arrepiar os cabelos de Harry. Belatrix voou para o alto num giro espetacular e gritou terrivelmente. Malfoy ergueu a mão para arremessar um feitiço contra o rapaz. Porém Harry, com a mão esquerda nua, lançou um surpreendente jato branco que atingiu o Comensal no peito, jogando-o para longe. A agonia de Belatrix terminou logo, no entanto, porque Voldemort enviou uma torrente de água ácida contra o rapaz. Harry conjurou o escudo de novo, mas a barreira começou a se desfazer sob o impacto do líquido corrosivo.

- Não! – gritou, com os olhos verdes adquirindo um tom negro.

A temperatura baixou assustadoramente, o escudo voltou a se consolidar e Harry o arremessou violentamente contra Voldemort, levando junto a torrente. Voldemort se transformou imediatamente numa nuvem negra e a água ácida passou por ele, mas não sem feri-lo. A dor fez com que ele reassumisse a forma humana e Voldemort soltou uma imprecação enquanto afagava o braço esquerdo queimado.

- Maldito! – urrou, espantado com a cena que vira. “Harry já consegue conjurar magia poderosa sem usar a varinha”.

- Milorde, acabe com ele – uivou Belatrix, trêmula. A dor provocada pela maldição Cruciatus demonstrava claramente para a bruxa que Harry Potter tinha plena condições de executar os feitiços imperdoáveis, ao contrário do que ocorrera tempos atrás.

- Ainda não. Não vou desperdiçar minha chance! – gritou irritado.

- Achou que ia ser fácil, Voldemort? Que tal ser derrotado na frente dos seus aliados?

- Não cante vitória antes do tempo, seu fedelho! Dumbledore não te ensinou isso, não?! Morra, desgraçado! – e lançou um feitiço estuporante que Harry tentou rebater com outro. O choque foi tão forte que os dois bruxos recuaram.

Voldemort, porém, reagiu rapidamente e jogou uma víbora feita de fogo que disparou em perseguição a Harry. O rapaz correu para um lado, tentando fugir dos botes. Eram movimentos tão velozes que ele mal tinha condições de pensar numa saída. Estava acuado junto à parede rochosa quando decidiu amparar o ataque com um feitiço congelante. A cobra se cristalizou, seu corpo trincou e explodiu em inúmeros pedaços, atingindo Harry em várias partes. Ele gritou, sentindo as lascas penetrarem em sua pele, cortando-o.

- Evanesco! – ordenou. E as lascas evaporaram.

Ofegante, Harry endireitou o corpo ferido. Estava com a camisa coberta de suor e manchada do sangue das feridas. Encarou Voldemort que exibia um sorriso de triunfo. Os Comensais se agruparam em torno de seu líder. Malfoy apertava os dentes e mantinha a mão esquerda sobre o local atingido pelo feitiço de Harry. Belatrix, pálida, tinha os olhos arregalados e a respiração suspensa, como se ansiasse por algo.

- Cansou de duelar sozinho, Voldemort? – alfinetou.

- Não. Eu me cansei de brincar, rapaz! – disse, sorrindo e retirando um cristal de uma corrente que trazia no peito. Depois de jogá-la no chão, apontou a varinha para a pedra e gritou. - Reducto!

Harry não entendeu o gesto. Só sabia que tinha de agir. Berrou o início da maldição imperdoável fatal, apontando a varinha contra Voldemort. O chão, porém, sumiu no mesmo segundo. O solo do local onde fora acuado pela víbora estava encantado, da exata maneira que a ponte da entrada de Nephasta. A destruição do cristal fez surgir uma larga fenda. Harry despencou, mas conseguiu se segurar numa rocha saliente. No desespero de agarrar a pedra com firmeza, deixou a varinha cair. Vulnerável, olhou para baixo e viu apenas um líquido viscoso e negro que se movia em círculos. Como um redemoinho.










A batalha continua. Foi difícil terminar este capítulo. O outro também será... Mas espero que valha a pena. Obrigada.

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