Mentiras, trapaças e meias-ver

Mentiras, trapaças e meias-ver



Capítulo 14

MENTIRAS, TRAPAÇAS E MEIAS-VERDADES


Seus olhos abriram dolorosamente ao som de passos apressados e gavetas sendo abertas e fechadas bruscamente. Não viu nada além do chão e o pé de uma das cadeiras que reconheceu como sendo as que ficavam na cozinha de sua casa. Lembrou imediatamente dos últimos momentos antes de ser estuporado.


Sua cabeça estava para explodir e suas mãos doíam, raspando nas cordas prateadas que as prendiam. Fazia meses desde que Weasel o tinha feito passar pela mesma coisa no Egito e continuava tão ruim quanto lembrava.


Pelo menos, concluiu, só fora estuporado, e não morto. Logo em seguida percebeu seu erro, estar vivo significava que sentiria toda a tortura que sua tia provavelmente pretendia fazê-lo sofrer.


Começava a considerar a idéia de pintar o cabelo de marrom e transfigurar seu rosto, fugindo do país pelo nome de “Neville Longbottom”. Ser um Malfoy começava estava tornando sua vida incrivelmente difícil.


Tossiu com dificuldade, sofrendo com a poeira acumulada debaixo do tapete em que estava jogado em cima. Isso chamou a atenção de Bellatrix, que parou de procurar pelas gavetas dos armários da cozinha e se abaixou, ficando a alguns centímetros do rosto do sobrinho.


- Vejo que acordou, Draco.


- Tia... – tentou se controlar para não xingar ou insultá-la, era complicado pois estava com muita raiva no momento. – Se não fosse pelo fato que estou preso e jogado no chão, eu a cumprimentaria.


- Não se faça de bobo, menino – exclamou, raiva transbordando em seu tom. – Seu traidorzinho de uma figa!


Como ela pediu, não se faria de bobo. Sabia o que sua tia pretendia e por que estava com seu único parente vivo e saudável preso no chão empoeirado da cozinha Malfoy. Estava ainda se xingando internamente por ter esquecido do “pequeno” detalhe que sair de Azkaban afirmando que nunca apoiou Voldemort com certeza faria sua tia ficar louca de raiva. Mas estava com raiva demais de Weasel para lembrar as conversas que tiveram na cela.


- Se você está brava por causa da matéria no Profeta...


- BRAVA? Você não ainda não me viu brava, Draco! Não, não viu! – rugiu, apontando sua varinha para a cadeira mais próxima e a jogando contra a parede oposta, o móvel se quebrando.


Tentou não imaginar seu próprio corpo na situação da cadeira, tinha que manter absoluta calma se fosse convencê-la que não tinha traído Voldemort...


- E espero não ver! Agora se você, por favor, me desamarrar poderei explicar tudo!


Bellatrix gargalhou, levantando-se e voltando à busca que estava fazendo antes de Draco acordar. Murmurava sozinha e ele conseguiu distinguir uma ou duas frases que pareceram muito com “traidor”, “Cissy” e “o pai dele teria um enfarte.”


Mas Draco não desistiria tão fácil.


- Me escute! Eu precisava sair de Azkaban! Só mentindo que eu consegui! Tive que falar todas aquelas coisas ou então morreria lá! Como todos os outros!


- Devia ter morrido! – gritou, dessa vez tão raivosa que o puxou para cima com sua varinha, fazendo-o encarar seus olhos furiosos. – Ficar em Azkaban pelo Lorde das Trevas! Suportar não importa o que for em lealdade a ele!


Queria gritar para aquela louca que Voldemort tinha morrido! Que ele e seus planos estúpidos tinham arruinado a vida de Draco e de toda sua família, que não merecia lealdade alguma! Mas não podia se quisesse ficar vivo nos próximos minutos.


- Você não acredita nisso – respondeu Draco, com cuidado para não ofendê-la. – Sei que não, porque é esperta. Você está livre e conseguiu escapar de Azkaban! Não pode me culpar por escapar de lá também! Alguém precisa estar vivo para... Para recebê-lo quando ele voltar!


Com isso os olhos da tia amenizaram por um momento, antes que formulasse outra acusação rapidamente.


- Eu não escapei de Azkaban traindo o Lorde das Trevas! – gritou. – Fui leal até o fim! Agora você vai sofrer pelo que fez!


Parou de levitá-lo, seu corpo caindo dolorosamente no chão.


- Mas antes preciso achar algo... Agora fique quieto e me deixe procurar!


Draco não ficaria mesmo arriscando a deixá-la mais furiosa ainda, precisava tentar de qualquer jeito convencê-la, sua vida dependia disso.


- O que fiz não foi diferente do que... Do que meu pai fez. Ou minha mãe, Avery, Greyback, Nott, Goyle, Crabbe... Fiz o que precisava ser feito para escapar e não deixar a família Black e Malfoy morrer! Sabia que nossa herança estava para ficar com o Ministério? A mansão seria leiloada junto com todos nossos pertences! Não podia deixar isso acontecer!


Mais uma vez Bellatrix virou, furiosa, jogando o conteúdo de uma gaveta próxima no chão, colheres, garfos e facas se espalhando pela cozinha.


- Não, não, não! Essa desculpa não funciona mais comigo, Draco! Oh, não! Você acha que eu não sei? Acha que sua tia não está sabendo de tudo que acontece?


Draco não entendeu o que ela queria dizer, então ficou quieto, deixando que continuasse a gritar.


- Rodolphus não saiu, não é mesmo? Nott também está lá ainda. Dolohov, Goyle, Crabbe, Macnair, Rookwood, Rebastan... Preciso continuar, sobrinho? Interessante que eles não usaram a mesma desculpa! Eu sei como foram capturados e jogados em Azkaban sem julgamento! Estão esperando faz muito tempo que fosse marcado uma data mas até agora nada! Me explique então, Draco, por que você não ficou nem três meses lá e teve todo o Ministério o ajudando! Estranho, no mínimo, eu diria!


Abriu a boca para protestar porém sua tia não deixou que falasse, levitou-o outra vez.


- Não, não! Nada de desculpas, nada de mentiras! Você traiu o Lorde das Trevas! Deu o que eles queriam, não é? Contou todos os nossos segredos!


Arregalou os olhos, entendo finalmente o que ela queria dizer.


- Não! Você não vê que o que eu contei não teve nada com Vol... O Lorde das Trevas! – insistiu, deixando escapar o medo que começava a surgir. – Potter! Eu acabei com Potter! Eles queriam que eu mentisse sobre a Ordem da Fênix!


Mas Bellatrix não estava mais ouvindo, seu olhar estava fixando no rosto de Draco, buscando invadir sua mente.


- O que você contou para eles? – repetiu a mesma pergunta várias vezes, forçando a verdade com Legimência.


Draco guardou sua mente como ela própria havia lhe ensinado anos atrás... E isso apenas serviu para enfurecê-la ainda mais.


- Se está dizendo a verdade então por que está usando Oclumência? Por que está me bloqueando, traidor! – gritou, apontando sua varinha para o nariz pontudo de Draco.


Por uma razão ruiva e sardenta. Se Bellatrix soubesse tudo que contou sobre ela e os Comensais para Weasley... O resultado seria muito ruim. Não falou mais nada, percebendo que não havia mais o que fazer para escapar do inevitável. Teria que pensar em outro jeito de não morrer aquela noite.


- Muito bem... Muito bem... Se não vai me contar eu mesmo tiro de você, à força. Não ia fazer isso por Cissy... Mas você não me deu escolha! – gritou, andando de um lado para o outro.


- Não! Espere! Por minha mãe... Espere!


- Cissy está em St. Mungos por sua causa, traidor! – disse, apontando a varinha para ele.


- Eu faço qualquer coisa que você pedir! – gritou, fechando os olhos em uma tentativa inútil de bloquear a dor que viria a seguir. – O que você está procurando? Posso ajudar!


Quando a dor da Maldição Cruciatus não foi sentida, abriu os olhos relutantemente. Bellatrix o encarava, desconfiada, mas tinha abaixado sua varinha. Percebendo a oportunidade, continuou a oferecer sua ajuda.


- Me deixe... Me deixe provar que ainda estou do seu lado. Você pode se esconder aqui até quando quiser, eu lhe dou o que quer que seja que está procurando... Amanhã eu trago Pansy Parkinson... Você lembra dela, não lembra? – Bellatrix não fez sinal algum em resposta. – Ela e Theodore Nott podem explicar tudo para você... Eu tenho uma edição d’O Profeta que mostra como meu testemunho acabou com a Ordem da Fênix... Foram eles que prenderam todos os outros Comensais...


Draco foi interrompido por batidas fortes na porta da frente da mansão. Bellatrix rapidamente estava saindo da cozinha, fazendo sinal para que ele calasse a boca. Quem, em nome de Merlin, estaria visitando a mansão Malfoy? Mas Draco não parou para ponderar a perguntar por muito tempo, preferindo tentar se soltar. As cordas eram muito fortes mas havia um número considerável de facas caídas no chão. O problema é que ainda estava levitando alguns centímetros no ar, sendo impossível alcançar qualquer uma delas.


Não sabia também se era uma boa idéia tentar fugir de Bellatrix, as chances de ser recapturado eram grandes demais e a vingança da tia seria ainda mais dolorosa. Sua única esperança estava em convencê-la de sua lealdade.


Bellatrix não lhe deu mais tempo para formular outros planos, aparecendo de novo na cozinha, seu rosto irritado. As batidas na porta não tinham parado.


- Quer uma chance de provar que ainda é fiel ao Lorde das Trevas? – gritou, apontando para a direção do hall de entrada, de onde acabara de chegar. – Então se livre da garota na porta da frente!


Draco piscou duas vezes, confuso. Garota?


- Pansy? – perguntou, o nome da única mulher que passou em sua mente que poderia estar lá.


- Não, não é a sua namoradinha com cara de buldogue! – respondeu ríspida, o fazendo cair no chão outra vez e não elaborando mais a resposta. – Eu vou te soltar mas se você tentar qualquer coisa não vou me segurar, irmã ou não!


Draco assentiu com ferocidade e as cordas que o prendiam desapareceram.


- Agora vá lá e se livre dela! – gritou, depois murmurou sozinha. – Muito perto... Perto demais... Não posso ser pega agora... Não posso chamar atenção...


Draco devagar se levantou e seguiu para o hall, sua tia logo atrás, varinha apontada para suas costas. Conforme se aproximava mais da porta podia ouvir claramente alguém gritando seu nome lá fora.


- Malfoy, abra essa porta, seu fuinha! Preciso falar com você! Anda!


Engoliu seco, reconhecendo a dona da voz. O que Weasel queria com ele agora? Estragaria tudo se visse Bellatrix ou sua tia soubesse de quem se tratava!


- Nem tente avisá-la, Draco! – sibilou sua tia, a ponta de sua varinha tocado sua costas perigosamente.


Assentiu levemente, abrindo uma das portas apenas o suficiente para sua cabeça saísse para fora e Weasel não conseguisse ver o que a esperava dentro da mansão.


- O que você quer? Está me dando dor de cabeça com toda essa gritaria, sua gralha!


As orelhas da ruiva ficaram vermelhas de raivas mas, para a surpresa de Draco, abaixou sua voz quando o respondeu.


- Escute aqui, Malfoy... E escute bem. Eu vim aqui porque é meu trabalho e...


- Anda logo! – gritou Draco, não querendo que revelasse que era da Ordem ou uma auror. – Eu não tenho o dia todo!


Mesmo com o rosto ficando vermelho, Weasel se controlou, surpreendendo-o ainda mais.


- Eu sei que você não tem motivo nenhum em me ouvir... Mas eu tenho que fazer o que acho certo. Se você não acreditar no que tenho a dizer, bem... Aí não é mais meu problema!


Draco estava começando a ficar genuinamente curioso, apesar da tia louca atrás dele. Quase que lendo seus pensamentos, Bellatrix forçou a ponta de sua varinha contra as costas dele outra vez, para relembrá-lo que tinha pressa.


- Pára de resmungar e diz logo o que quer!


Weasley agora começara a ficar desconfiada com sua atitude.


- O que você está escondendo aí dentro, Malfoy? – perguntou, notando finalmente que ele estava fazendo um esforço grande para que não pudesse ver o hall da casa.


- Nada! É minha casa e não quero nenhuma... – estava prestes a falar “Weasel” mas lembrou de Bellatrix. - ...Nenhuma anta fedida aqui dentro!


Infelizmente, Weasley não pareceu convencida. Bellatrix tampouco.


- Acabe com isso logo, sobrinho – sussurrou perigosamente.


- Você sabe o que eu tive que agüentar para encontrar você, seu fuinha? – continuou a ruiva. – Pansy Parkinson!


Draco não conseguiu se segurar e abriu um sorriso ao imaginar Weasley sofrendo com a voz esganiçada de Pansy.


- Você tem um péssimo gosto, Malfoy... Terrível!


- Com ciúmes, Weasel? – provocou.


- Não! – respondeu rápido demais, suas orelhas ainda mais vermelhas de raiva. – Nem em um milhão de anos!


- Weasley! – murmurou Bellatrix, triunfo nos lábios.


“Merda”, pensou Draco, percebendo a besteira que tinha acabado de fazer.


- Bem, eu não posso mais tolerar mais sua presença, sua anta... Então tchau! – falou bruscamente, batendo a porta na cara de Weasley.


Virou rapidamente para sua tia, que tinha uma expressão nada contente no rosto.


- Uma Weasley, sobrinho? O que essa traidora quer com você?! – começou, jamais abaixando sua varinha.


- Não sei, ela é louca, tia... E eu não entendo a cabeça de Weasels! – respondeu rapidamente.


Enquanto isso a dita cuja continuava a bater na porta, agora mais violentamente que antes. Bellatrix olhou para a porta, séria, sua mente com certeza formulando algum tipo de plano.


- Que tal se nós descobrirmos? – sorriu perigosamente. – Estou há muito tempo querendo me vingar dessa família infeliz! E ele sempre tem que vir atrás de seus amiguinhos, para bancar o herói! É perfeito!


Draco a encarou como se fosse louca, o que não estava longe da verdade. Sua tia não estava realmente considerando a idéia de fazer uma armadilha para Potter usando Weasel?


- Abra a porta e a deixe entrar!


- Mas...


- Quer provar sua lealdade ou não, sobrinho? Minha paciência está se esgotando! – gritou.


Draco encarou a porta, odiando a idéia e amaldiçoando sua vida... Como podia ser tão azarado?


- Malfoy! Seu idiota infeliz abra a droga dessa porta agora!


- Abra a porta, Draco!


Obedeceu, ainda garantindo que Weasley não pudesse enxergar dentro da casa.


- Última chance para você não se ver comigo, Weasley! – falou, dando ênfase no “não” tentando avisar de alguma forma a garota. – Não quer me forçar a azarar você, não?


- Me deixe entrar! Você está aprontando alguma coisa!


- Você não vai querer entrar aqui, Weasel! – continuou tentando, apesar da varinha sendo pressionada contra suas costas cada vez com mais força.


- Não me diz o que eu quero ou não, fuinha!


Aquela infeliz era capaz de ser mais anta que isso?! Em uma última tentativa desesperada, começou a indicar com os olhos a janela mais próxima, Weasley seguiu seu olhar mas anta que era, não entendeu o que queria dizer. Se ao menos a criatura olhasse pela janela veria sua tia!


- Olhe, eu não tenho tempo para mímicas estranhas, Malfoy! A qualquer momento Bellatrix pode aparecer do nada e te atacar! Não posso deixar... Não posso perder essa oportunidade de capturá-la!


Draco queria esganá-la por ser tão burra!


- Obrigado pelo aviso, Weasel! Mas é um pouco tarde para vir bancar a mensageira, muito tarde! – gritou, dessa vez tendo certeza que a mensagem seria entendida – Vá dormir!


Os segundos preciosos de liberdade de Weasley foram gastados compreendendo a mensagem, assim, quando estava prestes a pegar sua varinha no bolso de sua calça, Bellatrix empurrou Draco para longe e abriu as portas, petrificando a ruiva logo em seguida.



Harry Potter estava colocando o último porta-retrato dentro de seu malão, tentando não pensar muito na razão de estar empacotando suas coisas e partindo de sua casa. Por ironia, na foto em sua mão estavam Rony, Hermione e ele jogando Quadribol no quintal d’A Toca... Gina também estava lá.


Não conseguia lembrar de que ano era... Quarto ou sexto ano em Hogwarts? Quinto não poderia ser... Passou suas férias em Grimmauld Place. Fechou o malão, colocando o retrato debaixo de suas meias.


Ficara o dia todo em seu quarto, arrumando malas e evitando as tentativas de Rony e Hermione de falarem com ele. Estava sendo infantil mas era difícil encarar seus rostos preocupados.


Fazia algumas horas desde a última batida de Hermione na porta e Harry começava a acreditar que os dois tinham desistido finalmente. Fechou a gaiola de Edwiges, mais branca do que nunca, e devagar abriu a porta do quarto, quase voltando e pegando sua Capa de Invisibilidade.


Quando não encontrou ninguém no corredor nem no andar de cima da casa ficou preocupado e um pouco sentido, supondo que seus dois amigos tivessem ido embora sem se despedir.


Sabia que ambos não concordavam com suas brigas com Gina e desde que ela partiu, no dia anterior, davam indiretas que deveria lhe mandar uma mensagem, pedindo desculpas. O que jamais faria, já que a culpa era inteiramente dela.


Gina nunca entendeu o fardo que era ser o líder de um grupo prestes a acabar, tentando desesperadamente continuar a lutar contra Comensais. Não percebia que a Ordem era tão importante para ele quanto era para ela. Era tudo o que tinha!


Era impossível não achar que rebeldia de Gina e sua insistência em não o ouvir era fruto de algum ressentimento que tinha desde que os dois tinham se separado. Por algum motivo parara de sequer gostar dele. A única coisa que lhe trazia felicidade além da Ordem terminou tão bruscamente que às vezes parecia que nunca havia existido.


E o que mais doía era o quão rápido ela parecia ter superado tudo. Enquanto Harry ainda nutria sentimentos por ela. Sentimentos que duvidava que fossem embora.


Com o tempo Gina passou a desafiá-lo, querendo prová-lo errado sempre que podia. E ele não deixou uma única oportunidade de criticá-la passar, incapaz de controlar seu próprio ressentimento. Tentava desesperadamente não mostrar que ainda gostava dela e ao mesmo tempo protegê-la.


Nem Rony nem Hermione, por mais brigas que tiveram no passado, eram capazes de entender o que estava acontecendo entre Gina e ele.


Ou o que não estava acontecendo. Apenas Harry mostrava que... Não sabia exatamente o que mostrava, na verdade. Mas tinha certeza que, Gina percebendo ou não, ainda faria tudo por ela.


Desceu para o primeiro andar, procurando seus dois melhores amigos na cozinha, sem sucesso. Mas encontrou pratos se lavando magicamente, o que significava que haviam jantado e ainda estavam na casa.


Entrou na sala onde tantas vezes se reuniram para discutirem planos e viu finalmente Rony e Hermione. Ele estava sentado no colo de Hermione, que lia um livro calmamente, Bichento dormindo ao lado de seus pés.


Pigarreou de leve, anunciando sua presença. Rony se levantou e Hermione virou o rosto para a direção de Harry.


- Eu já estou pronto para ir – anunciou sem rodeios.


- Vai viajar durante a noite? – perguntou Hermione, preocupada.


- É um vôo rápido – garantiu Harry. – Vou passar alguns dias na casa de Lupin antes de sair da Inglaterra.


Os dois assentiram.


- Eu deixei uma bandeja com o jantar no corredor... Você comeu alguma coisa? – perguntou, mais uma vez preocupação em seu tom.


- Sim – mentiu, desviando o olhar.


Em muitos aspectos Hermione o lembrava da Sra. Weasley, bancando sempre sua mãe e fazendo-o se sentir mal por desobedecer.


Não houve tempo para mais nada, os pêlos de Bichento se arrepiaram e miou ferozmente, assustando sua dona. Os três se viraram para a direção em que o gato olhava e viram outro gato, prateado e quase não mais que uma nuvem de fumaça, pulando pela janela da sala.


- Gina! – exclamou Rony, reconhecendo a forma do patrono da irmã. – O que será que aconteceu?


Harry engoliu seco, preocupação e culpa logo vindo à tona. O gato entregou sua mensagem e desapareceu logo em seguida, fraco demais para manter sua existência por mais tempo.



- Muito bem, mocinha... Você fez a escolha certa – a voz fria de Bellatrix elogiou. – Apesar de que queria me divertir um pouco mais...


Gina não respondeu, sua cabeça caída e olhos fechados de cansaço. Ouviu a porta pesada do porão se fechar e o click da fechadura sendo trancada.


Depois de todos os gritos sua garganta estava doendo e seca. Seu corpo não tinha força para mais nada e se não fossem as correntes prendendo seus braços para cima eles estariam caídos ao chão, fracos demais para se manterem.


Fora tudo tão rápido... Em um piscar de olhos Bellatrix havia lhe paralisado e a carregado para dentro da casa. Não teve tempo de reagir, nem mesmo gritar de surpresa.


Agora jazia no porão da mansão Malfoy, sem saber quanto tempo havia passado.


Resistiu o quanto pôde... Mas depois do que pareceram séculos de dor e tortura, cedeu finalmente à Bellatrix e mandou uma mensagem para a Ordem. Quando Harry, Rony e Hermione chegassem cairiam em uma armadilha preparada por Lestrange.


A porta rangeu e Gina ouviu passos relutantes se aproximarem. Sentiu sua cabeça ser levantada e se obrigou a abrir os olhos. Se tivesse forças teria cuspido no rosto de Draco Malfoy.


- Trouxe água para você, Weasel – disse seco, um copo na mão.


Gina não respondeu mas garantiu que visse a raiva em seus olhos. Draco sorriu ao reconhecer o sentimento.


- Agora você sabe como é ser humilhado e preso. Aposto que sei o que está passando na sua cabeça oca.


- Você não sabe de nada, Malfoy – respondeu fracamente. – É só um covarde.


- Sobrevivente, na verdade – corrigiu, sério. – Eu avisei. Não tenho culpa que você é uma anta e não reconheceria perigo nem se estivesse debaixo do seu narizinho arrebitado e cheio de sardas.


- Você não mudou! Era tudo mentira... Era... – não conseguiu terminar.


- Quem mentiu aqui foi você, Weasel. Eu sempre deixei bem claro quem eu era. O que vou sempre ser.


Estava fraca demais para perceber o tom amargo na voz de Malfoy. Fechou os olhos, começando a respirar com dificuldade. Não viu o rosto de Draco deixando escapar uma expressão de preocupação.


- Não vou cometer o seu erro e chegar muito perto, então não precisa fazer drama, Weasley.


Não houve resposta, Gina estava inconsciente, exaustão finalmente terminando com suas últimas tentativas de permanecer acordada. As últimas palavras que ouviu foram fracas e distantes...


- Weasel, por que você não foi embora? – murmurou Malfoy.

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