Na toca do leão



Capítulo 6 – Na toca do leão

A decoração não podia ser mais brega, ridícula ou repetitiva. Leões, leões e mais leões, com uma ou duas fênix aqui ou acolá.

Obsessão era pouco. Sem falar na criatividade inexistente.

Em toda a tapeçaria do lugar e em todos os móveis havia entalhes que possuíam alguma imagem daquele animal desgraçado. Era nauseante.

Teve tempo para reparar naquela besteira porque Potter e a Weasel o trancaram em uma sala minúscula por horas e horas a fio.

Estava começando a achar que o objetivo deles não era mandá–lo para Azkaban mas enlouquecê–lo ali mesmo até o ponto que os leões do tapete começassem a conversar com ele sobre a filosofia da Sonserina e suas “visíveis” desvantagens.

Escolheu se sentar na cadeira mais próxima e olhar para o teto, o único pedaço daquele maldito quarto que estava intocado pela fixação do Potter por leões.

Sua barriga continuava a reclamar da falta de comida, teimando a nunca se acostumar com a fome tão comum naqueles últimos meses.

Não só isso mas sua impaciência crescia a cada segundo. Por que não o mandavam de vez para Azkaban?

A ansiedade misturada à dúvida destruía o que restava de seus nervos.

De resto, não estava muito impressionado por aquele “quartel general”. Não parecia nada além de uma velha casa de algum bruxo excêntrico com fetiche por leões, com certeza ex–aluno da Grifinória.

– Godric’s Hollow! – murmurou para si.

Era quase óbvio demais mas totalmente possível. Já que a casa dos Black não servia mais esconderijo a Ordem mudou e Voldemort não conseguiu achá–la mais, depois supondo que Hogwarts hospedava os membros na época. Faria mais sentido se eles se escondessem em uma das antigas mansões na vila de Godric’s Hollow, onde os Potter morreram. Hogwarts era o lugar mais fora de alcance para os Comensais mas havia meios de infiltração, ao contrário de uma mansão velha com um apenas um fiel de segredo.

Se isso tivesse sido descoberto quem sabe...

Um momento!

O que estava pensando? Que lhe importava onde a Ordem estúpida das abóboras sem cérebro ficava?

Não estava nem um dia de volta a Inglaterra e já começava a esquecer os meses como fugitivo.

A maçaneta da porta virou, anunciando a entrada amaldiçoada da ruiva. Foi como ter um deja vu, ela novamente segurava uma badeja com alimentos, exceto que agora as mãos de Draco não estavam atadas e não havia plano mirabolante de fuga.

Sem falar uma palavra, Weasel deixou a bandeja com o prato e trancou a porta de novo.

Draco esperou alguns minutos para ter certeza que ela não voltaria, só então pegou a bandeja e olhou sua primeira refeição do dia.

Contra sua vontade, salivou ao ver o pedaço de frango assado e batatas. Ele, que estava acostumado com nada menos que caviar, salmão e doces requintados.

Começou a comer com uma ferocidade animal, ignorante do fato que do outro lado de um dos quadros pendurados na parede do cômodo era observado por uma platéia curiosa.


Em uma fileira estavam parados quase todos os grandes heróis da Segunda Guerra contra Voldemort.

Harry Potter, o maior de todos, estava sério, com os olhos fixados em seu antigo inimigo.

Rony Weasley, um pouco menos apreciado que o primeiro pela população bruxa comum, tinha um sorriso estampado no rosto cheio de sardas e às vezes ria sozinho com o que via.

Hermione Granger, reconhecida como uma das maiores bruxas de seu tempo, possuía uma expressão de surpresa e dó enquanto observava a cena à sua frente.

Gina Weasley, um rodapé apenas na História, estava com um ar de orgulho depois de um bom dia de trabalho.

O resto dos heróis do mundo bruxo ia e vinha, ocupados com seus verdadeiros empregos. Apesar de serem muito dedicados aos seus deveres na Ordem não deixavam de lado o ganha pão legalizado.

A cena observada em questão era Draco Malfoy, herdeiro sem herança, fazendo de uma refeição um ato desesperado.

Ninguém falava nada porque nenhum deles sabia exatamente expressar o que sentiam. Alegria, raiva, tristeza, senso de justiça, pena?

Pena?

Gina balançou a cabeça, afastando o conceito ridículo. Draco merecia passar fome.

– O Ministério está cada vez mais nos pressionando – quebrou o silencio Harry, empurrando seus óculos de tartaruga para trás. – E você faz isso, Gina.

– Isso o quê, Harry?

– Você sabe bem.

Os dois se encararam, em mais uma demonstração de conflito de opiniões que sempre tinham.

Se esse conflito possuísse uma representação física seriam faíscas saindo dos olhos de ambos. Como sempre, Hermione interferiu:

– Gina, o que Harry quer dizer é que o quê você fez foi... – fez uma pausa, buscando a melhor maneira de expressar. – Apesar de ter tido sucesso no resultado, foi muito precipitado.

As tentativas dela de acalmar os ânimos sempre falhavam.

– Você não me avisou! Simplesmente saiu correndo atrás de Malfoy logo que soube que ele estava no Egito! Acha mesmo que o Ministério não perceberia isso? Eles estão nos vigiando todos os nossos movimentos!

– Malfoy ia escapar de novo se alguém não fosse atrás dele!

Foi a vez de Rony tentar intervir:

– Quem se importa? Já aconteceu, já foi. Malfoy está aqui e o Ministério não tem como provar que a Ordem tem alguma coisa a ver com isso. Escapamos mais uma vez.

– Pode ser a última. Os riscos foram grandes demais. E a sua irmã desrespeitou minhas ordens – insistiu Harry.

– Você não deu ordem nenhuma sobre isso!

– Se você tivesse me dito sobre seus planos eu com certeza teria dado!

Era quase uma competição de quem gritava mais alto. Continuaram fazendo acusações e contra–acusações até Hermione despertar suas atenções.

– Não é triste? Sinto pena dele – murmurou, voltando a olhar o desesperado sonserino.

– Pena? Ele merece, Hermione – disse, firme, Rony.

– Ele próprio causou isso – acrescentou Harry, parando de discutir com Gina. – Assim como o pai e a mãe.

– Você não teve que agüentar ele por horas, Hermione. Ele é continua o imbecil de sempre – foi a vez de Gina dizer.

– Eu sei, mas... Ele parece não ter comido há dias. Capaz até de chegar no nível de anorexia.

– E...? – perguntou Rony.

– E isso é terrível, obviamente! – ela respondeu, um pouco irritada com a falta de sensibilidade do ruivo.

– Ele vai receber três refeições diárias em Azkaban – sorriu Harry.

Hermione não pareceu mudar de opinião.

– Ah vamos, Herm! Comemore conosco! Malfoy finalmente recebeu o que merece e ainda por cima com uma peruca pink para coroar! – sorriu Rony. – Além disso capturamos quase todos os Comensais! Hoje é um dia especial!

– Ainda é cedo para isso, Rony – voltou à seriedade Harry. – A principal Comensal ainda está solta.

– Bellatrix – murmurou Gina.

– Quem sabe Malfoy tem algum contato com a tia insana? – chutou Rony.

Bellatrix era uma dos últimos Comensais que ainda o paradeiro não fora descoberto. Ela era um mistério perigoso que o Ministério ignorava e a Ordem buscava desvendar.

Havia uma série de assassinatos e desaparecimentos acontecendo ultimamente e todas as pistas se voltavam para Lestrange.

– Não custa tentar ver – concordou Harry. – Gina, leve–o ele para o meu escritório quando ele terminar o jantar.

– Está bem.

Harry saiu da pequena sala secreta feita para observar prisioneiros, seguido logo em seguida por Rony e Hermione.

– Quim vai passar dentro de algumas horas, para pegar Malfoy. Preciso escrever o relatório falso antes disso – informou Hermione.

– Vou com você – seguiu Rony.

Gina abriu um sorriso ao ver os dois saindo juntos. Ninguém tinha certeza ao certo mas ela suspeitava que Rony e Hermione estavam envolvidos romanticamente por algum tempo. Não sabia qual seria a razão de esconder o namoro mas confiava que contariam quando estivessem prontos.

Em silêncio continuou observando Malfoy se alimentar. O loiro continuava com a roupa de Myron, o que causou risadas entre Harry e Rony, e por isso não estava vestindo uma camisa. Pensando nas palavras de Hermione, Gina notou o corpo magro de Malfoy e viu suas costelas à mostra.

Pela primeira vez imaginou a vida que estava levando desde que Voldemort fora derrotado. Pouca comida, pouco banho e sanidade por um fio.

No entanto não demorou muito para lembrar das inúmeras vitimas de Lúcio Malfoy e da carreira curta mas demoníaca do próprio Draco.

Algumas pessoas mereciam sofrimento, concluiu.

Se houvesse alguma prova que Draco tinha algo de bom além de seu exterior (e interior) esnobe e cruel quem sabe pudesse sentir pena dele. Mas isso era tão improvável como Minerva McGonnagal soltar seu cabelo.


Provavelmente comeu rápido demais tamanha fora sua gula e agora sentia um pouco de enjôo.

Para fechar o dia com chave de ouro, sem dúvida.

Sem comida para o distrair, Draco começou se irritar mais ainda do que já estava. Passou a andar de um lado para o outro no quarto, às vezes gritando para as paredes ameaças de derrubá–las se ninguém aparecesse lá.

O que era aquilo, algum tipo de treino para Azkaban?

A porta se abriu por uma segunda vez.

– Malfoy, me siga.

– Achei que eu tinha me livrado de você, anta ruiva.

– Confie em mim, não gosto disso mais do que você.

Os corredores da casa tinham menos leões e mais papéis de parede ordinários. Para sua infelicidade, era o lugar mais chique estivera desde o inicio de sua fuga.

A ironia não cessava, ao que parece.

Foi empurrado para dentro de um escritório sóbrio e escuro, sentou na cadeira a frente de uma mesa praticamente vazia, a não ser por algumas fotos.

Fotos que queria queimar com o olhar. Fotos ridículas cheias de gente feliz sorrindo e acenando.

Era para ser ele ali! Ele e seus pais.

Fechou seus punhos sem pensar, batendo–os no braço da cadeira. No mesmo momento notou que alguém estava ocupando a cadeira giratória à sua frente, apostava que quem sentava ali naquele momento era Potter. A cadeira estava virada de costas para Draco. Claro, o modo covarde de ser.

– Que foi, Potter? Não consegue me encarar? – provocou. – Quem sabe é meu rosto que lembra o meu pai que você assassinou? Ou é o nariz de Bellatrix? Ou talvez o lado da minha mãe, aquele ar Black tão familiar?

Potter virou a cadeira, tinha um sorriso irritante naquela cara de mamão amassado e cabelo de mendigo continuava sem conhecer um pente.

– Olá Malfoy. Como a vida tem te tratado?

– Excelentemente, Potter, até você mostrar sua cara suja.

– Não é o que me contaram.

– Te contaram errado – grunhiu. – Essa conversa tem um objetivo ou você só está esperando que arrumem a minha cela em Azkaban?

– Os dois, na verdade – respondeu, virando a cadeira um pouco de lado. – Acho que você quer saber como andam as coisas aqui na Inglaterra, não?

– Estou pouco me lixando.

– Não quer como foi o enterro do seu pai?

Draco mudou de posição na cadeira, incomodado. Tinha que se controlar, não podia dar o gostinho a Potter de vê–lo afetado pelas asneiras que falava.

– É um enterro. São todos iguais.

– Nem sobre a sua mãe?

– O que tem ela?

Buscou manter seu tom neutro mas não era fácil. Isso porque suspeitava que não gostaria nada de saber o que havia acontecido com sua mãe.

Potter parecia bem confortável consigo mesmo naquele momento e se divertindo bastante. Maldito desgraçado.

– St. Mungus.

Soltou a respiração, que não percebera que segurava.

– O que vocês fizeram com ela, Potter? – perguntou, seu tom de voz deixando escapar preocupação quando na verdade queria parecer uma ameaça.

– Você quer vê–la?

As sobrancelhas de Draco se levantaram, havia sido uma pergunta inesperada. O que queria que ele respondesse? “Sim, pelo amor de Merlin me deixe ver minha mãe”? Apenas para depois Potter rir da sua cara?

– Eu tenho uma proposta pra você, Malfoy – continuou o infeliz. – Eu deixo você ver sua mãe e você me conta onde está Bellatrix.

Não se conteve, soltou uma gargalhada alta, tamanha era idiotice do que Potter tinha falado.

– E você acha que eu sei, seu imbecil! – continuou rindo amargamente. – Acha que eu fiquei me correspondendo com ex–colegas de oficio? “Querida tia psicopata, ontem comi dois pombos de almoço. Quantos ratos têm no seu esconderijo? Quer trocar mapas de esgoto?”. Vá ser burro assim no inferno, Potter.

Cara de mamão amassado deixou o som da gargalhada morrer, continuando com o mesmo ar de “já ganhei”. Finalmente, levantou e abriu a porta do escritório.

– Então não há mais nada para falarmos.

– Sério? Mas isso é uma pena! Não vamos relembrar os tempos de escola? Ah, puxa, e eu estava tão ansioso para trocar figurinhas de sapos de chocolate! – disse Draco, debochando, e também se levantando, parando logo em seguida.

Segundos depois um homem negro alto, expressão séria e roupas caras, entrou. Demorou alguns segundos até Draco juntar imagem com um nome.

– Esse é Quim Shacklebolt, ele vai ser o seu acompanhante pelo resto da viagem – sorriu Potter.

Shacklebolt. Agora lembrava da criatura, chefe dos Aurors, membro da Ordem.

– Malfoy, admito que você é mais escorregadio do que nós prevíamos – falou pela primeira vez o auror. – Mas o fim é sempre o mesmo: Azkaban. E é para onde eu vou te levar.

Draco revirou os olhos, parecia que aquele idiota declamava do Manual Eu Sou um Panaca, escrito por macacos.

– Cale boca e anda logo com isso.


Gina pegara uma pequena mania desde a queda de Voldemort, não sabia qual era a razão mas agora toda vez que suas mãos estava desocupadas automaticamente pegavam a varinha e passavam o objeto entre os dedos.

Naquele momento era exatamente o que fazia. Com o passar do tempo aquilo ficara mais rápido e ágil, quase hipnótico.

Estava deitada no sofá de sempre, na mesma sala em que o irmão e Hermione conversavam em voz baixa entre si, ainda escrevendo os relatórios falsos sobre a captura de Draco. Fora os sussurros do casal o cômodo era preenchido pelo som do relógio preso à parede.

Era sempre assim depois que voltava de uma “caçada”. Primeiro sentia–se realizada, depois esse sentimento era vencido pela apatia de voltar à rotina de sempre.

Nem chegara perto de Azkaban e os dementadores já faziam seu efeito sob ela. Não que fossem totalmente responsáveis pelo tédio que sentia, a grande razão era simplesmente a falta de algo em sua vida.

E a cada captura a Ordem perdia cada vez mais seu sentido. Sem Comensais não haveria mais objetivo em manter aquele grupo. E quando esse se desfizesse o que restaria para Gina?

– Será que Harry conseguiu tirar alguma coisa de útil do Malfoy? – perguntou Rony, falando finalmente mais alto, com a intenção de incluir a irmã na conversa.

– Sinceramente? Eu duvido. Mesmo que Malfoy soubesse algo ele nunca contaria – comentou Hermione, colocando sua pena no tinteiro.

– O que você acha, Gina?

– Eu...

A porta da sala de estar foi aberta por Harry e todas as atenções se voltaram para ele.

– E aí, Harry... Conseguiu alguma coisa? – perguntou, ansioso, Rony.

– Ele não sabe de nada – respondeu o líder da Ordem, sentando em um sofá próximo. – E Quim já o levou daqui.

– Assim, tão fácil? Não acredito que você deixou ele ir sem descobrir algo! – continuou Rony, incrédulo.

– Ele falou que não sabia de nada – insistiu o líder da Ordem, empurrando os óculos de tartaruga.

– E você acreditou nele? – riu Rony. – Harry! Draco Malfoy mente assim como o sol nasce todo dia!

Harry suspirou, acomodando–se mais confortavelmente no sofá.

– É diferente, Rony. Minha intuição disse que ele estava falando a verdade. Então estava.

Rony jogou os braços para o alto, frustrado. Quando se tratava da intuição de Harry todos sabiam que era um argumento perdido já no inicio. Ao que parece na maioria das vezes Harry acertava suas suposições sempre baseado na tal intuição, ninguém possuía mais ânimo para persuadi–lo do contrário.

De alguma maneira a guerra tinha liberado esse lado esotérico nele. O que, para Gina, não era algo necessariamente bom.

– Temos problemas maiores, infelizmente – disse Hermione, séria. – O apoio popular do ministro está aumentando. Ele só precisa de um deslize nosso e vai passar a lei.

– Lei? – perguntou Gina.

– Você estava no Egito quando aconteceu. Saiu n'O Profeta – informou Rony. – O ministro pretende assinar uma lei contra “organizações não–governamentais potencialmente perigosas”. Ou seja: nós.

– Ele só precisa provar que estamos colocando a nação em perigo e do apoio da população – continuou Harry, sério.

– Nação em perigo? Estamos salvando o traseiro de todo mundo – fulminou Gina. – Porque o Ministério da Magia não faz porcaria nenhuma para isso!

Estava cansada de toda aquela história! Era um absurdo o que diziam da Ordem! E tudo porque o ministro achava que estavam ficando mais poderosos que ele próprio. Está certo que às vezes os métodos da Ordem não eram dos mais politicamente corretos mas faziam tudo por uma boa causa, para o bem maior.

– Gina... – começou Harry.

– O que foi, Harry? Fala logo.

– Quim quer conversar com você, mas antes eu quero – se virou para Rony e Hermione. – Melhor que fosse à sos.

Rony cruzou os braços mas Hermione o encaminhou para fora da sala, apesar dos protestos.

Gina continuava deitada no sofá e não fez qualquer esforço para mudar isso. Previa que Harry faria o sermão de sempre.

Demorou um tempo considerável para que Harry começasse a falar, se por falta de coragem ou fatiga ela não soube descobrir. Quando finalmente o fez ela desejou que o silêncio tivesse permanecido.

– Hermione, Rony e eu fizemos uma escolha quando a guerra terminou. Escolhemos viver pela Ordem. Juramos que nos dedicaríamos totalmente até que o último Comensal fosse trazido à justiça. Não foi, nem é, fácil, mas era necessário. Fizemos concessões e desistimos de carreiras “promissoras”, principalmente Hermione.

– Harry, por que você está falando isso? Eu já sei dessa história.

Mais uma vez ele hesitou, preferindo limpar a garganta antes de continuar e isso era sempre um mau sinal.

– Você tem escolher. Ou a Ordem ou a sua carreira de auror.

Gina sentou, guardando a varinha em um de seus bolsos de suas vestes, tirara a fantasia à la Esquisitonas assim que chegara.

– Eu não posso – respondeu a Harry, irritada. – Sabe disso.

– Seus pais...

– Não tem como se manter.

– Eles vão conseguir arranjar algo. Gui ou Percy podem ajudar.

– Percy tem a própria família para cuidar. Gui mal consegue pagar os duendes para comer.

– Os gêmeos...

– Mamãe não aceita o dinheiro deles. Merlin, Harry, já conversamos sobre isso!

– Não estou falando para você pedir demissão do Ministério.

– O que você está dizendo então?

– Você é um risco para a Ordem. Se expõe demais e sua conexão com o Ministério não ajuda em nada. Eles estão vigiando para onde você vai e com quem vai.

– Eu despistei eles. Sempre consigo!

– Há meses atrás a situação era diferente, ninguém sabia que estávamos ainda em ativa, agora não há mais isso. Até quando acha que vai conseguir escapar?

Não respondeu, apenas bufou e cruzou os braços. Harry continuou, aproveitando–se de seu silêncio:

– Quim vai despedir você, a menos que saia da Ordem. Você tem que escolher.

Ali estava o ultimato. Sem escolha, sem alternativa. Estava entre raiva e esforço para segurar as lágrimas. Ele não tinha idéia do que estava pedindo.

– Você não pode fazer isso! Eu peguei Comensais, eu sou a melhor! Não pode simplesmente me tirar essa parte da minha vida!

– Gina...

– Não, não me venha com “Gina”!

– É melhor você ir para casa para esfriar a cabeça. Amanhã fale com Quim sobre sua resposta.

Gina deu às costas ao líder da Ordem, raiva se revelando através das bochechas e orelhas vermelhas.

Aquele trabalho era sua vida, era tudo que tinha. Só continuava em seu cargo no Ministério por necessidade. Seu pai perdera o emprego e com a morte de Carlinhos... Gina era a responsável pela sobrevivência d'A Toca, de seus pais. Não poderia simplesmente largar tudo mas ao mesmo tempo sua vida seria nula se deixasse a Ordem.

Harry estava pedindo que escolhesse entre sobreviver ou viver.


Talvez a influência de Azkaban já estava fazendo efeito, mas provavelmente era demência que finalmente se manifestara.

Draco sorria.

Durante toda a viagem de Godric’s Hollow até a pequena balsa em que agora se encontrava sorriu. Seu rosto se contorcia, graças a isso, de uma forma quase louca. Um sorriso amargo de quem não tem nada sobrando a não ser a ironia ou o desespero.

Enquanto a balsa fazia seu percurso suave Shackebolt tomou a liberdade de informar ao loiro sua situação legal. Para alegrar o ambiente, sem dúvida.

– O Ministério marcará um julgamento para você dentro de um ou duas semanas. Enquanto isso sua casa é Azkaban. As chances de isso mudar são inexistentes, então é preferível se acostumar.

Quando a névoa começou a diminuir Draco sabia que se aproximavam da costa da ilha da prisão.

Parecia tão... Banal. Tão repentino que era difícil aceitar como realidade.

As ondas batiam contra rochas da costa mas não era um dia feio, chuvoso ou tenebroso. O sol começava a se pôr e o céu estava amarelado, um final de tarde comum. Como se Draco não merecesse nada além de pura ignorância. Se fosse Potter sendo preso com certeza haveria uma chuva dramática, ventanias e trovoadas. Sua chegada na ilha seria anunciada através de trombetas e gongos.

A balsa atracou e foi aí que sentiu um frio correr por sua espinha. O chão desolado, a construção negra, a felicidade sendo prato principal de seus carcereiros. Tudo aquilo lhe parecia extremamente alienígena. Um pesadelo irônico. Um quebra–cabeça com peças perdidas.

Viveria ali pelo resto de sua vida.

Sua existência seria contar as pedras de sua cela e chegar a dar nomes afetivos a cada uma delas.

Aquilo não era vida.

Gostaria de ter coragem, às vezes, para parar seu coração. Ter a escolha entre sobreviver e realmente viver.

Mas entre orgulho e medo da morte Draco não optaria pelo o suicídio tão cedo.

N/A: Pobre Draquinho, o novo morador de Azkaban! Bem, quanto a questão tão "perguntada" de D/G, vou dar uma dica: Onde o Draco est�, existe possibilidade dele arranjar uma namorada? Quem além dos dementadores ofereceria um beijinho para o Draco? Hehehehe. Pensem bem...

Mais uma vez: um grande THANK YOU para a Pichi!

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