Silêncios, deduções e aproxima

Silêncios, deduções e aproxima



Capítulo 10

SILÊNCIOS, DEDUÇÕES E APROXIMAÇÕES

I am the son and the heir


Of a shiness that is crimmaly vulgar


I am the son and the heir


Of nothing in particular


You shut your mouth how can you say I go about things the wrong way


I am human and I need to be loved, just like everybody else does.


When you say that will happen now,


When exactly do you mean?


See, I already waited too long and all my hope is gone.


Charmed – Theme Song



- Não há padrão nos ataques dela. Dois trouxas, três bruxos. O primeiro foi um bruxo em Yorkshire, encontrado em sua própria casa. Os dois trouxas foram na mesma região de Wales, mas em cidades diferentes. Uma mulher por volta dos trinta e um garoto de quinze ou dezesseis anos. Quando um auror foi morto em Devon achamos que finalmente tínhamos descoberto onde ela se escondia mas então matou uma bruxa do outro lado da Inglaterra.


- E o que faz vocês pensarem que essas pessoas foram mortas por ela? Qualquer um podia ter feito.


- Não, todos os outros Comensais estavam sendo vigiados. Sabíamos onde eles estavam e, tirando Rodolphus, nos primeiros meses, nenhum outro estava na Grã-Bretanha.


Um sorriso se formou nos lábios de Draco.


- Até eu? Demoraram bastante para me encontrar.


- Todos sabiam onde você estava, era só uma questão de ir atrás. Você não era nossa prioridade. Estávamos preocupados em capturar Comensais mais perigosos antes.


- Sei – ia responder mas Malfoy continuou a falar antes que pudesse. – Você disse que Rodolphus estava aqui?


- Sim. Bellatrix e ele se separaram logo que escaparam das autoridades mas continuaram a se encontrar, por um tempo. Começamos a vigiar Lestrange mas não o pegamos. Queríamos matar dois coelhos com uma cajadada só. Mas ela foi mais esperta e parou de falar com ele.


Malfoy passou a mão no queixo, movimento que costumava fazer enquanto pensava. Gina reparou na barba que começava a crescer e a imagem de um Draco barbudo se mostrou estranha. Não combinava com ele. O roso era jovem e imaturo demais.


Aquela era sua sexta “visita” à cela de Malfoy em três semanas e já pensava no que combinava ou não com ele?


Depois que o acordo entre os dois tinha sido feito pouco mudou. Na primeira vez que ela tentou conversar sobre Bellatrix não conseguiu nada a não ser os típicos comentários sarcásticos que não levaram a nada. Irritada, bateu a porta da cela atrás de si e o mandou comer bosta de dragão.


Não foi o melhor início para aquela aliança precária. Era claro que ambos preferiam comer torta de abóbora do mês passado e vomitar do que agüentar a presença um do outro. Mas não era o momento para aquilo e sabiam disso, mesmo que não quisessem admitir em voz alta.


A segunda visita se mostrou menos violenta. Como uma “oferenda” de paz, Gina trouxe um sanduíche. Na verdade o lanche era seu mas ao retirá-lo da sacola que trazia Malfoy olhou o pedaço de pão com presunto de forma tão desesperada que não pôde fazer outra coisa além de oferecer a ele. Apesar da resistência, fruto de orgulho, Malfoy acabou cedendo e aceitando.


De certa maneira era patético, de outra... Incomodativo. Como um animalzinho faminto que faz qualquer coisa desde que ganhe um doce.




Depois de engolir o sanduíche ferozmente, ele a encarou.


- Sabe, Weasel... Você não precisa se fingir de boazinha para me fazer falar.


Ficou irritada com a mera sugestão que oferecera a comida para conseguir o que queria. Não era verdade. Talvez esperasse que isso fosse uma conseqüência de sua ação mas a razão porque tinha feito era simplesmente... Pena.


- O que você quer dizer com isso? Eu sou boazinha.


- Comigo não. Os dementadores acabaram com a sua cabeça ou você bebeu demais ontem à noite?


O sarcasmo não desapareceu mas... Havia algo de diferente em seu tom a partir daquele momento. Provavelmente apenas impressão ou então era o resultado dos efeitos de Azkaban.


- Nenhum dos dois. A questão é, Malfoy, que quando você age como um ser humano decente eu trato você como um.


Provavelmente não via a graça mas por força de hábito se viu na obrigação de rir devagar, no entanto era uma risada muito mais amarga do que o normal.


- Quero saber o que fizeram com minha mãe.


Gina tomou um susto com a mudança repentina de assunto. Depois viu como algo natural, já que ele mostrou sinais de preocupação pela mãe no dia anterior.


- Ela está no hospital.


- Não isso. Quero saber por que ela está no hospital, Weasel. Ela... Odeia o St.Mungus... Provavelmente vai reclamar comigo por ter deixado que a levassem para um quarto meia-boca... É... Sem travesseiros de penas... Elfos incompetentes...


A voz do loiro sumiu até que somente ele próprio fosse capaz de ouvir. Depois de um tempo Gina percebeu que isso estava acontecendo com mais freqüência. O que era atuação no começo se tornava verdade.


- Malfoy, você está murmurando sozinho. De novo.


Ao ouvir seu nome, voltou a realidade, encarando-a.


- Comece a falar, Weasel.


- Não acho que uma cela de Azkaban seja o melhor lugar para contar essas coisas.


- É, bem, a não ser que a humanidade resolva perdoar meus crimes e me eleger seu líder, eu não tenho muita opção. Eu não sou o Santo Potter que pode quebrar mil regras e todo mundo acha a coisa mais lindérrima do mundo.


Gina soltou um longo suspiro.


- Está bem. Pare de reclamar, eu vou contar. Não devia mas para fazer você ficar quieto vale a pena. Foi logo depois que você fugiu do país. A Ordem ainda estava legalmente na ativa, nós e alguns aurores começamos a procurar Comensais em fuga. Claro que a mansão Malfoy foi um dos primeiros pontos de partida. Sua mãe resistiu a prisão... De forma bastante violenta – contou, fazendo uma careta ao lembrar da situação. – Não foi bonito. Ela lançou vários feitiços, estava muito perturbada, acho que por isso calculou mal e...


- E?


- A varinha dela quebrou... Mas ela continuou tentando lançar maldições... Até que uma delas ricocheteou e a atingiu... Agora está em coma desde então.


Houve um longo silêncio em que Gina, sem perceber, se aproximou de Draco. As imagens de ele caído sozinho sendo torturado ainda estavam vivas em sua mente. Como ele conseguia manter aquela fachada fria?


- Eu sonho com ela. Quando consigo dormir, óbvio. Algumas vezes ela só me encara, não diz nada. Mas eu sei que ela está me chamando de covarde, por ter fugido. Nas outras vezes ela realmente fala isso.


Não havia dúvidas que ambos ficaram surpresos com aquele pedaço de informação que Malfoy tinha acabado de revelar. Era pessoal demais. Mesmo assim se esforçou para responder da forma mais amigável que podia, sentiu que devia isso à ele, já que, por alguma razão misteriosa, confiara nela o bastante para contar aquilo.


- É Azkaban, Malfoy. São os dementadores... Eles estão fazendo você sonhar com essas coisas... Não é o que ela pensa de você.


Outra risada seca.


- Você não conhece minha mãe, Weasel. Se ela não me chamasse de covarde não seria minha mãe. E eu não a respeitaria.


- Que família mais amorosa a sua – murmurou Gina. – Da onde eu venho família apóia, não importa o que aconteça.


- Você vem de uma casa chamada “A Toca”, isso já basta para mostrar que modelo familiar é melhor – ironizou o loiro em retorno.


Lembrou de Lúcio Malfoy, sem se mover para socorrer o filho. Que família era aquela e por que Draco ainda tentava protegê-la? Uma mãe cruel e um pai frio. Nada além de um sobrenome os mantendo juntos.


Se viu querendo perguntar sobre tudo que tinha visto na penseira. Desejando saber o que realmente pensava de sua vida. Será que havia mudado? Será que não passava de um covarde?


Mas não teve coragem e portanto ficou em silêncio. Ele também mostrou que não estava gostando do rumo que a conversa estava tomando.


- Nott me contou uma história diferente. Sobre minha mãe.


- É mesmo? Que interessante... E extremamente previsível – ironizou, não deixando de notar a mudança de assunto.


- Falou que a Ordem a tratou como uma Comensal.


- Nada mais normal, considerando que ela era uma.


- Ela nunca foi.


- Talvez não em nome. Mas sempre apoiou Voldemort.


- Não fizeram perguntas... Simplesmente invadiram a casa...


- O que queria que fizéssemos? Tocar a campainha?


- Atacaram ela primeiro.


Gina engoliu seco. Não podia desmentir aquilo.


- Ela resistiu a prisão. Podia ter ido pacificamente.


Outra risada seca.


- Você fala como se ela tivesse tido escolha. Invadem casas, atacam quem encontram pela frente... E eu sou o malvado.




A conversa não foi muito além daquilo e Gina saiu da cela mais uma vez insatisfeita. Seu único conforto era a noção que pelo menos houvera algum tipo de evolução, mesmo que pequena.


Esperou uma semana até reunir paciência suficiente para voltar à Azkaban. Além de ter que enfrentar Malfoy tinha aturar as perguntas incansáveis de Perks sobre sua suposta vida amorosa.


A cada vez que se falavam a mentira aumentava. Algum detalhe inescrupuloso aparecia para saciar a necessidade de fofoca e romantismo de Sally-Ann. De repente Gina se “lembrava” de algum encontro às escondidas na Torre de Astronomia... Um briga fervorosa com uma reconciliação não recomendada para menores de 17 anos... Estava começando a considerar de verdade a idéia de escrever um livro com todas as histórias fictícias que criara. Quem sabe não ganhava uma fortuna e comprava a Ordem da Fênix? Melhor, criava a sua própria Ordem e não deixava Harry entrar no grupo.


Sorria toda vez que imaginava a cena dele suplicando aos pés dela.


- Qual a graça?


A voz áspera de Malfoy a vez voltar para a realidade. O sorriso imediatamente sumiu.


- Nada. Falou alguma coisa?


- Perguntei se alguém viu Bellatrix recentemente... E sobreviveu para contar.


- Não. Todas as vítimas estavam sozinhas na hora e ninguém mais pareceu ter visto ela.


Malfoy folheava os papéis que ela tinha trazido sobre o caso. Todas as informações que o Ministério e a Ordem tinham recolhido para o assunto. O primeiro parara de procurar por ela assim que o novo Ministro fora eleito. Não que a população mágica soubesse disso, para todos os efeitos os Comensais ainda eram procurados... Apenas não com intenção de achá-los. Se não fosse os membros da Ordem, como Quim, era provável que Azkaban estivesse vazia.


Não demorou para Malfoy perceber que algo estava acontecendo no Ministério da Magia. Até ele sentiu que as coisas estavam estranhas.


Além de sua mãe, começou também a perguntar o que tinha acontecido na Inglaterra enquanto fugia.


Sua terceira “visita” foi gasta o informado de cada captura, cada mudança e novidade. A eleição do Ministro, e sua identidade, incluídos.




- Está de brincadeira comigo, Weasel!


- Não. Infelizmente não.


- Terence Higgs!


- O próprio.


- Desde quando aquele pamonha tem habilidades políticas? – o choque da notícia era evidente na voz de Malfoy.


- Você o conheceu então?


- Claro... Todas as famílias puro-sangue se conhecem. Temos ficar unidos para preservar a superio... – parou rapidamente de falar. – Quer dizer... Exceções existem. Como a sua família.


- E graças a Merlin.


Malfoy pigarreou, estranhamente preferindo não comentar mais o assunto.


- De qualquer forma, Terence saiu de Hogwarts no meu segundo ano. Era o apanhador do time antes de mim e sem talento algum. Mas, comparado a minha pessoa, ninguém tem chances. Os Higgs não tem muito prestigio e acho que o pai dele não passava de um mero membro do Comitê de Feitiços Experimentais. E ele estava fazendo estágio debaixo das asas do pai última vez que ouvi. Como ele conseguiu apoio e influência suficiente para chegar ao cargo de Ministro?


A pergunta era retórica mas Gina escolheu responder mesmo assim, o assunto a incomodava desde que Higgs fora eleito, dois anos atrás.


- Estava tudo indo muito bem para Ordem no primeiro ano depois da queda de Voldemort. O Ministério mais que agradecia nossos esforços e o resto das pessoas nos viam como heróis. E com razão, se não fosse a Ordem ainda estaríamos em guerra e mesmo quando Fudge se fingiu de cego continuamos lutando contra...


- Sim, sim, vocês ganharam. Vocês são ótimos e estupendos... Anda logo com a história, Weasel – interrompeu, revirando os olhos, irritado.


- Continuando... Parecia que finalmente teríamos paz mas as coisas mudaram. Não foi repentino, mais uma bola de neve que finalmente atingiu tamanho suficiente para ser notada. Rufus Scrimgeour não podia ficar mais no cargo, ele entrou no lugar de Fudge de modo meio apressado por causa da guerra e começaram a questionar se foi uma decisão “democrática” o suficiente. A eleição foi marcada e os candidatos que apareceram prometeram tudo que políticos prometem. Infelizmente, Scrimgeour não teve carisma suficiente para se reeleger, os eleitores queriam alguém que parecesse menos corrupto.


- E como Higgs conseguiu dar o que eles queriam?


- Não sei. Ele apareceu do nada, o azarão na corrida para o cargo. Mas tinha dinheiro e várias famílias tradicionais o apoiando.


- Claro. Ele é puro-sangue.


- Não sei se você notou mas essa besteira de puro-sangue saiu de moda assim que Voldemort apareceu de novo – informou, irritada com o assunto.


- Moda ou não, isso não vai desaparecer. Sempre vão existir pessoas mais ricas e mais poderosas que escondem suas opiniões até o momento oportuno.


Não querendo concordar mas sem argumentos para discutir, preferiu continuar a contar a história.


- O discurso dele era... Inspirador. Falava exatamente o que todos queriam ouvir. Construiria um mundo mágico mais forte... Uniria a Europa para evitar que algo como Voldemort voltasse. Garantiria segurança e paz.


- Falou como?


- Alguma vez um político explicou como vai fazer milagres? – retrucou Gina, seu desgosto claro. – Foi eleito e aí então mostrou suas garras. Não para os eleitores, claro. Não. Fez isso de forma silenciosa. Colocando idiotas como Nott, por exemplo, em cargos importantes do Ministério. Diminuindo a liberdade dos aurores, dificultando a aprovação de leis mais liberais... E, óbvio, com a ajuda de amiguinhos da imprensa.


De repente a expressão de Malfoy ficou mais séria, como se finalmente entendesse algum segredo importante. Gina continuou quando ele não mostrou sinais que pretendia dividir o pensamento com ela.


- Até hoje ele persegue a Ordem. Fazendo discursos inflamados sobre como somos “irresponsáveis”, “perigo para a ordem civil”, “imprevisíveis”... E eu ainda não sei o que pretende com essa atitude.


- Todos os sonserinos odeiam Potter.


- Está dizendo que ele só faz isso por ódio do Harry? – perguntou, incrédula. – Só por isso?


- Só? É o suficiente. Ele tem poder para atrapalhar a vida daquele idiota, só faz sentido usar esse poder.




O Ministro era o menor de seus problemas agora. Felizmente o político não estava atrapalhando sua busca por Bellatrix e depois que essa fosse capturada finalmente não haveria mais Comensais para se preocupar.


Uma pitada de tristeza a atingiu. Sem Comensais não havia sentido para a Ordem continuar e ela ficaria sem a parte tão importante de sua vida. Ainda sim, precisava se dedicar totalmente àquela busca, mesmo que se apenas para provar a Harry que era capaz e merecia seu lugar no grupo.


Ao lembrar da Comensal, voltou-se a Malfoy. Teve uma idéia e quem sabe ele poderia ajudar.


- Quando estava com Voldemort, Bellatrix não voltou para a mansão Black ou qualquer outro lugar que chamasse de casa antes de Azkaban. Então para onde ela foi?


- Quê?


- Ela era fugitiva durante todo o meu quarto ano. Onde se escondeu naquela época?


- Com ele, claro.


- Voldemort?


- Óbvio que sim. Onde mais? No porão da minha casa?


- Do modo como vocês eram espertos, por que não? – ironizou, não perdendo a chance de irritá-lo.


- Não se vanglorie, ruiva. Não se esqueça que o seu lado dependeu de um moleque para ganhar. E ainda por cima se escondeu justamente na casa dos Black! Onde, ah, não sei... Havia um elfo-doméstico espionando para a minha mãe o ano inteiro!


- O seu lado perdeu para esse moleque, o que é infinitamente pior. E um bando de Comensais adultos foram derrotados por um grupo de adolescentes! O seu pai teve o traseiro chutado por alunos do quinto ano... E jogado aqui.


- Cale a boca.


- O que foi? Não consegue encarar a realidade? – continuou, achando que aquilo não passava da troca de insultos rotineira entre os dois.


No entanto era mais do que isso.


- Você não sabe do que está falando, Weasel. Então cale a boca.


- Eu falo o que bem entender – ameaçou mas sentindo o clima mais pesado que o normal preferiu mudar de assunto. – Onde era o esconderijo de Voldemort na época? O mesmo do último ano da guerra?


- Ela não vai estar lá. Não é burra. Louca mas não burra. E mesmo que estivesse, eu não contaria onde é.


- Ele morreu. Não faz diferença mais. Além do mais... Quer ver sua mãe ou não?


Bufou, irritado porque tinha que cooperar.


- Mansão Riddle foi o primeiro – contou entre dentes. – Mas ela não vai estar lá.


- E por que não?


- Porque não é burra, já falei. E, além do mais, você pensa como se ela estivesse fugindo.


- Como assim? É exatamente o que está fazendo.


- Abra os olhos, Weasel. Pare de pensar no óbvio. Só porque você e a Ordem imbecil acha que é “lógico” ela fugir, não quer dizer que é o que está acontecendo. Bellatrix não está fugindo. E nem se escondendo. Se estivesse, não teria matado.


- Claro que teria. Provavelmente os matou porque a viram ou porque atrapalharam de alguma forma.


- Weasel, deixe de ser idiota. Como você explica o fato que ela ainda está na Inglaterra? Ainda se encontrava com o marido? Matou esporadicamente sangue-ruins? Isso não é comportamento de fugitivo. Eu sou... Fui um. Sei que quando se quer fugir, se esconder não se faz nada disso. Se minha tia não quisesse ser encontrada, confie em mim, vocês não teriam nem noção de onde ela poderia estar.


- Está dizendo que ela quer que a capturemos? Isso não faz sentindo algum!


- Não. Estou dizendo que ela não se importa com vocês. Claro que ela não quer vir para cá. Mas você não sabe como Bellatrix é. Duvido que ache que a guerra acabou. Se lembra o que ela fez com os Longbottoms? Pense nisso como um pequeno exemplo de até onde vai a lealdade dela.


- Mas Voldemort morreu!


- Como na primeira guerra? – sorriu, triunfo nos lábios.


- É diferente.


- Por quê?


- A profecia...


- Bellatrix não está nem ligando para profecias. Para ela, ele pode muito bem voltar a qualquer momento. Marque minhas palavras, Weasel... Minha tia está apenas esperando.


As palavras dele lhe deram calafrios. Esperando o quê?


- Mas por que matar tanta gente?


- Por que não?


Ah, haviam várias razões porque não se deveria matar pessoas. Era errado? Insano? Cruel? Mas Gina duvidava que fazia diferença para Bellatrix.


- Isso ainda não me ajuda em descobrir onde ela está. Apenas complica – concluiu, frustrada.


Malfoy não respondeu e continuou folheando a pasta. Cansada da conversa, Gina apoiou os cotovelos em seus joelhos, mãos no queixo. Resolveu por um momento observar a cela, não que houvesse muito a ser visto.


Estava sentada no chão, encostada à parede fria. Não havia nada além de um pedaço de madeira apodrecida e úmida jogado no chão, supostamente servindo como uma cama, e paredes de pedra. Sentando oposto à ela estava Malfoy, também encostado. E nada mais.


O barulho de papel sendo remexido e nada mais além disso começou a incomodá-la. Sentia-se fria ali e não só devido a umidade. Azkaban não era o melhor local para ficar em silêncio. Às vezes acreditava que o pior inimigo de alguém era sua própria mente.


Se o lugar já era desconfortável para ela, que usara feitiços de animação antes de entrar lá, mal podia imaginar como o sonserino agüentava. Pela centésima vez a imagem de Malfoy jogado no chão suplicando pelo pai insistiu em surgir. Assim como a dúvida que não queria se calar: por quê? Qual era a razão para aquilo que havia visto na penseira?


- Encarar é feio, Weasel. Eu sei que eu sou lindo mas controle-se.


Tomou um susto com a voz. Malfoy não a estava olhando, ainda lendo as folhas. E ela mal percebera que estava o encarando. Desviou o rosto rapidamente.


- Se você é lindo, Malfoy, eu sou a rainha de Sabá.


- Você, realeza? – soltou uma risada. – Nem em um milhão de anos.


- Acabou de admitir que é feio.


- E você que é infantil.


- O que é pior? Feiúra ou imaturidade?


Para sua frustração, ele não respondeu, apenas continuou lendo. E o silêncio continuou por vários longos minutos.


E por todo esse tempo, Gina se segurava para não perguntar sobre a penseira. Talvez fosse curiosidade, talvez necessidade de entender melhor o que acontecera durante a guerra... Talvez fosse algo mais. Mas de qualquer forma precisava saber. Odiava ficar no escuro, odiava ser excluída de qualquer coisa.


Desde pequena seus irmãos a protegiam, não querendo que ela soubesse como era o mundo real. Ser a caçula e única filha da família era um fardo grande demais e não agüentou por muito tempo a preocupação excessiva e a idéia de que era uma boneca de porcelana. Conforme cresceu mostrou aos irmãos (ou pelo menos tentou) que não era tão inocente e frágil como pensavam.


Rony e ela formaram um dupla inseparável mas mais do que isso os dois se tratavam como iguais. Os gêmeos também aprenderam a respeitá-la conforme o tempo passou e ela cresceu. Muitas vezes os ajudou em suas peças e com gosto.


Percy... O que lhe importava o que Percy achava? Pertenciam a mundos diferentes.


Gui aprendeu a não subestimá-la quando viu o que era capaz durante a Segunda Guerra.


E mesmo assim... Ainda se sentia excluída de alguma forma. Nunca cessaria de ser a irmãzinha, a caçula. Estava agora em sua personalidade sempre querer se provar e jamais aceitar atitudes como a de Harry.


Provaria a ele que era capaz. E não descobriria de alguma forma o que Malfoy realmente fez na guerra.


O problema era que não tinha exatamente coragem. A pergunta estava presa em sua garganta mas por alguma razão misteriosa e incompreensível não conseguia sair. Havia algo que a impedia.


Medo? Medo de descobrir que as coisas não eram exatamente branco e preto? Bem e Mal? Que havia algo além nele e que isso a forçaria a admitir que estava errada todos aqueles anos?


Não sabia.


Só tinha certeza que aquele silêncio não podia continuar ou começaria a ficar louca. Com ou sem dementadores ajudando.



Era estúpido. Incrivelmente ridículo. Não estava lendo aquelas besteiras, então por que fingia o contrário?


Já havia terminado e entendido tudo que estava escrito nos papéis de Weasel e ainda sim continuava a encarar as folhas, sem lê-las.


Não podia continuar mentido para si mesmo, era algo burro a fazer. Não lhe restava mais nada a não ser Azkaban, não precisava mais se enganar inventando besteiras.


A verdade era que estava em um impasse. E odiava isso.


Aquela cela... Sua casa. O lugar onde passaria o resto da sua vida era o próprio inferno. Cada dia, cada hora que continuava ali, piorava sua situação. Ao contrário do que a princípio acreditou, não ficaria mais fácil. Não havia como se acostumar àquela solidão.


Seus únicos companheiros eram memórias dolorosas e desespero.


No silêncio... As vozes e fantasmas do passado apareciam. Eles não o deixavam em paz. Quando havia silêncio... Quando estava sozinho, eles não o deixavam esquecer.


Precisava sair dali. De qualquer jeito.


Não podia deixar o silêncio continuar ou então as vozes voltariam. E Draco não queria ficar louco. Ele gostava muito sua mente para perdê-la.


Weasel... Falava. E não havia mais silêncio.


A infeliz se tornara a única coisa que fazia as vozes irem embora. Como uma mania irritante que não se consegue viver sem. Dos males o menor, como dizem.


Quando ela aparecia pela aquela porta... De repente, sentia-se como Draco Malfoy mais uma vez. O sonserino loiro e influente. Era tão fácil voltar à ilusão que nada mudara. Que ele ainda era a mesma pessoa com uma resposta venenosa na ponta da língua, pronto para irritar qualquer criatura.


A troca de insultos... As ameaças vazias... E mesmo as conversas quase civilizadas... Gostava de tudo. Era normal e simplesmente certo.


Mas não passava de uma ilusão. E toda vez que a ruiva ia embora sentia na pele a verdade. Assim que Weasley fechou a porta pela terceira vez foi como o ar tivesse ido junto com ela. Não conseguia respirar, se mexer ou piscar os olhos. O silêncio era apavorante porque sabia o que viria a seguir.


E veio.


Não conseguia dormir mais. Nem fechar os olhos. Por medo de sonhos, por medo do que poderia aparecer. Não adiantava colocar as mãos nos ouvidos, as vozes vinham de dentro.


O tempo não passava. Mas Weasel voltou.


Na quarta “visita” à sua cela (interrogatório era termo que se encaixava melhor), assim que ela abriu a porta, Draco era Draco novamente.


Falava sozinho, murmurava em voz baixa, esquecia que ela estava lá mas quando se lembrava e via as sardas, as roupas de segunda mão, o cabelo ruivo mal cuidado e sentia o cheiro de perfume barato... Voltava a ser quem nunca deveria ter parado de ser.


Não sabia como conseguia... E duvidava que isso duraria quanto mais ficasse naquela maldita cela. Mesmo assim era um conforto.


De repente se viu realmente interessado em saber como o mundo mágico andava. Coisa que não se interessava nem quando era mais jovem ou livre. Depois que soube de Terence Higgs sentiu a excitação das artimanhas políticas. Sua mente adorou voltar a analisar o que acontecia ao invés de pensar em... Outras coisas.


Quando era menor o que seu... Seus pais falavam era imediatamente registrado como verdade incontestável. O que tornou sua visão política um tanto limitada, no entanto não demorou até perceber as sutilezas mais necessárias. O que motivava as pessoas e como elas poderiam atingir seus objetivos. Poder, obviamente.


Gostaria de ter prestado mais atenção nas eleições para Ministro na Inglaterra. Algo lhe dizia que o seu lado... Ou o lado mais próximo de suas antigas alianças... Estava dando a volta por cima.


Assim que Weasley lhe contara sobre Higgs lembrou do que o panaca do Nott lhe tinha tido.


“Eu não traí ninguém, Draco. Simplesmente sabia que existe hora certa para tudo. E nosso momento ainda não chegou. Mas vai, em breve.”


Agora que pensava melhor, Nott estava confiante demais para seu gosto. Confortável demais em um cargo desfavorável. A única razão para agüentar Azkaban só podia ser a promessa de algo muito maior e melhor em breve.


“Bruxos que apoiavam as criaturas subiram no poder devagar. Não foi algo imposto por força bruta e sim com inteligência. Conquiste a confiança do bruxo comum e ele vai pular da ponte por você.”


Sim, Higgs, Nott e aqueles que não se uniram a Voldemort e nem a Potter estavam planejando algo.


Não que fizesse diferença para Draco, no momento. Mas pensar naquilo o distraía de memórias ruins e por isso estava agradecido.


Continuou perguntando à Weasley notícias do mundo exterior. Pela distração e para atrasar as “investigações” dela. Não queria que achasse Bellatrix tão cedo.




- ... E os Canhões finalmente ganharam a Taça de Quadribol ano passado.


- Está brincado! O mundo realmente está perdido se aqueles perdedores burros conseguiram ganhar alguma coisa!


- Esses “perdedores” são realmente muito bons. Estão jogando como nunca. Sabe quem é o treinador? Olívio Wood. Lembra dele?


- O lunático paranóico que cheirava pó de doxy? O capitão do time de bosta da Grifinória?


- Time que ganhou dezenas de vezes do seu time de bosta.


- Sorte. E Potter sempre foi o queridinho da Hooch.


- Está insinuando que roubamos?


- Não, estou dizendo na sua cara, Weasel.


- Fique sabendo, Malfoy, que não precisamos nos rebaixar ao seu nível para ganharmos. Apesar de Snape fazer vista grossa para as suas tentativas de roubar, todos sabem que a Sonserina não ganha de modo limpo.


O nome Snape fez seu estômago vazio revirar.


- E... Hogwarts? Ainda nas mãos de incompetentes ou finalmente houve um milagre?


- Você quer dizer como vai Snape, não é?


- Não – retrucou, defensivamente.


A ruiva levantou sua sobrancelha.


- Como você conseguiu sobreviver todo esse tempo? É um péssimo mentiroso.


- E você é uma idiota.


- Ah, vai... Você consegue fazer melhor que isso.


- Responda a merda da pergunta, Weasel.


- Olha a boca, Malfoy – sorriu irritantemente. – Ele vai bem. Se viver recluso e sem lavar o cabelo é pode ser considerado “bem”. Continua a criatura maravilhosa de sempre. Mas... Por que você se preocupa com ele? Afinal...


- Afinal ele era um espião – completou.


- Exatamente.


- Quem disse que eu ligo? Não perguntei sobre ele em primeiro lugar. Você que teve essa idéia idiota. Não me culpe por seus delírios.


- Está bem. Faça como quiser, não responda a pergunta. Não me importo mesmo.


- Então pare de fazer perguntas idiotas.


- Pare de enrolar e me fale sobre Bellatrix.


- Pare de enrolar e me fale quando eu vou ver minha mãe.


- Quando eu tiver minhas respostas. Ou seja, comece a falar.


- E se eu não quiser?



A conversa não foi muito longe e Weasel saiu gritando que nem uma louca, o que o fez dar risada. Uma genuína, algo raro.


Não durou muito porque o silêncio tinha voltado. E duas vezes mais doloroso e penoso.


Foi assim que percebeu que a cada visita de Weasley o silêncio depois aumentava. A cada conversa fazia com que o vazio que se seguia crescesse porque cada vez gostava mais delas.


E ali estava seu impasse.


Não queria se aproximar de Weasel. Não queria depender dela. Principalmente, não queria alimentar algo que teria fim assim que sua utilidade à ruiva terminasse.


Se dependesse daqueles interrogatórios para não ficar louco perderia a cabeça mais rápido ainda quando terminassem.


Tinha que vencer Azkaban sozinho.


Mas não tinha coragem.


Tentar desvendar a mente de sua tia demente era outra distração. E por isso não queria ajudar muito Weasel, apenas o suficiente para que ela voltasse outro dia. Não queria silêncio. No entanto, não gostava de sentir que precisava daquelas conversas.


Era frustrante e degradante.


Decidiu que diria tudo que precisava ser dito sobre Bellatrix e prometeu a si mesmo que encerraria o assunto na próxima vez que Weasley aparecesse. Sem mais enrolar.


Em retorno, a ruiva chegou dias mais tarde com a mesma decisão.




- É a quinta vez que eu venho aqui e você ainda não me contou nada sobre Bellatrix. Até agora só eu falei. E não estou nem um pouco contente com isso. Se você quer ver sua mãe e quer respirar ar puro mais uma vez, mesmo que só por um momento e com cheiro de hospital, vai começar a falar agora. Não estou com brincadeira.


- Concordo com você.


Ela piscou duas vezes, abrindo e fechando a boca como um peixe débil mental.


- O quê?


- Você está certa, Weasel. Chega de besteiras. Esse acordo termina aqui e agora. O que você quer saber?


A infeliz ficou sem ação. Pega de surpresa pela reação dele. Não pôde deixar de sorrir ao ver a cara de pata sonsa. Talvez insultá-la não era mais tão divertido, surpreendê-la começava a parecer mais apetitoso.


- Erm... Certo – após uma pausa tirou de sua sacola um envelope laranja e lhe deu. – Aí estão todas as informações sobre o caso.


- Achei que minha parte era só contar o que sabia sobre minha tia, não dar uma de detetive.


- Sim... Mas achei... Achei que seria interessante você saber o que está acontecendo. Achei que gostaria de saber. Afinal, me fez contar tudo que se passou em 3 anos inteiros.


Ah, que consideração a dela, pensou nele. Seria muito tocante se não fosse Weasel falando aquelas besteiras.


- Estou emocionado, Weasley. Você pensou em mim.


- Que posso fazer? Eu sou boazinha – retrucou, mencionando a conversa anterior que tiveram. – E uma alma caridosa, acrescento. Não consigo não sentir pena dos menos afortunados.


- Eu não preciso da sua pena, infeliz – gritou subitamente.


Weasley tomou um susto a mudança brusca de tom. Para todos os efeitos estavam apenas fazendo a troca, relativamente inofensiva, de insultos de sempre. Ah, mas era mais do que isso.


Estavam em Azkaban. E Draco Malfoy ainda era Draco Malfoy. Ex-Comensal, prisioneiro, com um passado nada seguro e uma mente recentemente perturbada. Aquelas conversas traziam a ilusão que esses coisas não existiam mas elas estavam lá à espreita. Prontas para voltar à superfície a qualquer menção da realidade.


Pena o lembrava que ele era inferior a ela. Estava à mercê dela. Preso em Azkaban.


Respirou fundo e tentou esquecer isso. Precisava ver sua mãe e acabar com aquela história de uma vez. Desistir finalmente de qualquer chance de melhoria de sua situação.


Era o que aquelas visitas traziam: esperança. Ilusão. E de nada servia essas coisas a não ser para aumentar seu sofrimento.


Bosta de dragão.


- De novo, Weasel. O que você quer saber? Eu vou ler essas coisas que você trouxe, caso precisar. Mas não vejo necessidade. Você faz suas perguntinhas, eu respondo, você me leva para ver minha mãe e fim.


- Acho que é melhor começar me contando como Bellatrix era mais nova. Sua mãe provavelmente falou alguma coisa sobre isso, não?


- Uma vez ou outra.


Contou tudo. E sentiu que traía sua família.


Era idiota pensar assim por inúmeras razões. A primeira é que não contava nada além do que poderia ser descoberto entrevistando pessoas próximas (exceto que não havia mais pessoas próximas vivas ou lúcidas), não eram exatamente segredos. A vida Bellatrix em Hogwarts, seu casamento rápido com Rodolphus e sua aliança à Voldemort não eram mistérios.


A segunda razão era que não havia mais família para trair. E estava na hora de aceitar isso. Os Black e os Malfoy não mais existiam.


Que diferença fazia agora falar sobre as histórias glorificadas sobre os Comensais que sua mãe lhe contava antes dele dormir? Cada ancestral Black e Malfoy se tornou um herói para ele e Voldemort o caminho para a justiça, dormia toda noite sonhando com todos eles. Seriam os heróis que garantiriam que o poder voltasse a estar nas mãos de quem mereciam.


Tudo bosta de dragão, claro. Falsos heróis e falso salvador. Mas Weasley não precisava saber que ele pensava assim agora.


Contou tudo que lembrava sobre Bellatrix. A obsessão por Voldemort, o fanatismo e a fome por trazer dor a todos. Nunca foi objeto de atenção dela e nunca se falaram, tirando gritos de ordem da parte dela. Bella não era sutil, nunca precisou ser. E por isso Draco acreditava fielmente que não estava se escondendo e sim esperando até o momento oportuno.


Falou sobre como ela tratava suas vítimas. Como sentia prazer em torturar e poderia manter qualquer um preso por dias ou semanas, mantendo-o vivo o suficiente para gritar de dor e prolongar a tortura.


Quando finalmente não tinha mais o que contar o silêncio voltou.


Weasel não se mexeu e por momento Draco achou que ela tinha dormido. Mas seus olhos estavam abertos.


Vendo que ela não falaria nada começou a ficar preocupado. Se não se manifestasse logo... Se nada ocorresse para evitar o silêncio... Precisava ouvir algo.


- Suficiente para você, Weasel?


- Eu sinto muito.


- O quê? Sente pelo quê? Não me diga que dormiu e quer que eu repita!


Ela balançou a cabeça de leve, expressão triste no rosto cheio de sardas.


- Não é isso. Esquece. É suficiente sim... Tudo que você contou me deu uma noção melhor de quem é Bellatrix Lestrange.


- Estou pulando de alegria – respondeu, sarcástico, indicando a saída com um das mãos. – Agora só volte quando for para me levar até minha mãe.


Weasley se levantou devagar e foi até a porta da cela. Draco fechou os olhos, se preparando mais uma vez para agüentar mais memórias ruins e ao perceber que se tratava da última vez que conversaria com Weasel seu desespero aumento consideravelmente. Tentou se concentrar no fato que veria sua mãe em breve.


Esperou que Weasley batesse na madeira avisando a auror que esperava do outro lado que queria sair mas ela não o fez, ao invés se virou para ele:


- Sabe... Pensando melhor, não é suficiente. Preciso ainda saber mais coisas. Quando você ler a pasta que te dei com certeza vai se lembrar de outras coisas. Quem sabe até você não se prova menos burro e acha alguma pista que me escapou.


Draco a fitou, confuso.


- Acho que você vai ter que me agüentar mais algumas vezes, Malfoy – continuou. – Se ainda quiser ver sua mãe, claro.


Não argumentou contra porque enquanto um lado seu estava furioso com a criatura... O outro estava aliviado.




E fora assim que chegaram à sexta e atual visita.


Encarou o pedaço de papel à sua frente como se fosse encontrar a cura para a sua miséria explicada ali.


O silêncio era sufocante, uma mão invisível apertando sua garganta. Algum som além de respiração precisava preencher o vazio e rápido.


Ansioso por barulho bateu o olho em uma frase aleatória no relatório para começar a conversa abandonada minutos atrás novamente.


“...O auror foi encontrado sem vida próximo ao um bar trouxa. Dawlish estava de licença e hospedado na casa de seus parentes trouxas. Foram achados sinais de luta no local.”


Mestiço. Walter Dawlish, se Draco lembrava bem, era um auror fiel apoiador de Fudge, denegrido com o passar do tempo e a perda de influência do ex-ministro.


“...Laurence Madley, 37 anos, trabalhava no Departamento de Feitiços, foi encontrado em sua própria casa... A porta da frente estava aberta, o corpo caído na cozinha e...”


Virou a página, desinteressado.


“... Bellatrix mostrou sinais de fanatismo e obsessão... Buscou várias vezes se vingar...”


- Weasley...


Ela o encarou, misto de curiosidade e desconfiança no rosto provavelmente esperando algum tipo de insulto.


- Esses bruxos... O que eles têm em comum?


- Não têm nada em comum. Pessoas totalmente diferentes... Não há padrão, já disse.


- Tem que ter algo. Sempre tem.


- Foram todos torturados, serve?


- Não. Bellatrix provavelmente fez para se divertir. Se fosse qualquer outro, poderia ser para retirar informação... Mas... Ela não precisa ter motivo.


- Isso não está levando a nada – suspirou Gina e Draco concordou silenciosamente.


- A sangue-ruim favorita de vocês não conjurou nenhuma idéia brilhante ultimamente?


- Hermione está quebrando a cabeça também. Desde a última vez que eu vim aqui contei tudo o que você falou para mim. Isso me lembra... – tirou um pedaço de papel do bolso – Ela fez uma lista de perguntas para você.


- Que consideração da parte dela. Estou tocado.


- “Bellatrix tem conhecimento de algum feitiço ou maldição incomum?” – Weasel leu em voz alta a lista. – “Quais são suas fraquezas e suas forças?”


Draco revirou os olhos. Que bando de perguntas mais idiotas, só faltava perguntar a cor preferida e o signo.


- Sabia que criatividade não era o ponto forte da sangue-ruim mas isso já é ridículo.


- Seria tudo tão mais simples se você só respondesse as perguntas e parasse de reclamar pelo menos uma vez.


- Simples mas menos divertido – sorriu, provocativo. – Minha tia conhece todos os feitiços que qualquer Comensal que se preze mais provavelmente vários outros de magia das trevas que eu não tenho idéia. Óbvio. O problema dela é que é leal e obsessiva demais, acaba esquecendo o plano maior, incapaz de ver além da ordem seguinte. Essa é a sua fraqueza e maior força porque não se distrai facilmente e não desiste. Aí estão suas respostas.


- E você descobriu isso sozinho? Analisou por conta próprio?


- Não. São coisas que concluí... – desviou o olhar, encarando o chão. – Observando e ouvindo meu pai.


A última palavra foi dita tão baixo que por um momento duvidou que tivera saído o som de sua boca. Era primeira vez que citava seu pai em uma conversa por vontade própria.


Weasel notou o tom e para sua irritação não deixou passar.


- Seu pai ensinou muita coisa para você, não é mesmo?


Não respondeu, dando os ombros, deixando que ela continuasse.


- Acho que você não teve muita escolha a não ser seguir ele como um Comensal. Filho único, herdeiro...


- Onde você quer chegar, Weasel? – encarou-a com uma expressão perigosa. – Que eu fui vítima do sistema? Que na verdade não queria ser malvado mas meu papai me obrigou?


Riu sozinho com a idéia.


- Não. Se você me deixasse terminar... O que eu ia perguntar era qual a razão de Bellatrix se tornar uma Comensal.


- Toda a família acreditava que era necessário acabar sangue-ruins, Voldemort veio e mostrou que tinha poder suficiente para conseguir isso... Sem contar que ele era o herdeiro de Slytherin. Foi suficiente para ela e todos o seguirem.


- Foi suficiente para você?


- Que interessa?


- Se eu estou perguntando é porque interessa.


- Nem todos os puro-sangue seguiram Voldemort, Nott, é um exemplo. Principalmente na Segunda Guerra, acharam que não era o líder verdadeiro, não o viram trazendo vitória, mas isso não significa que eles apóiam Potty, entende?


- É o seu caso?


- Você bateu com a cabeça na parede, Weasel? Onde esteve esses anos? Eu virei um Comensal. Isso responde sua pergunta?


Ela não respondeu, encarando-o, séria. Por que ele estava com a sensação que aquilo virara um interrogatório sobre ele e não sobre Bellatrix? Felizmente, o assunto pareceu morrer.


- Quando é seu julgamento, Malfoy? Não era para ter sido há algumas semanas atrás?


- Pergunte aos meus anfitriões. Parece que o Ministério resolveu ignorar totalmente meus direitos. Se é que eu tenho algum. O que aconteceu com o bom e velho inocente até provado o contrário?


- No seu caso isso não se aplica. Já foi provado o contrário. Mesmo assim, estão demorando demais.


- Qual a diferença? Com ou sem julgamento, eu vou continuar aqui de qualquer jeito.


- Quem disse? Se você conseguir se defender de forma coerente... – balançou a cabeça. – O que eu estou falando? É claro que não tem chance. Muitas provas contra, muitas testemunhas.


- Obrigado pelo incentivo.


- A única maneira de você conseguir algo é comigo, Malfoy. Não se esqueça.


- Ou não – sorriu. – Acho que vou oferecer meus serviços de consultoria para o Ministro... Tenho certeza que a minha liberdade não vai ser problema quando eu cooperar na ajuda para capturar Bellatrix.


- Nem pense. O Ministério não está interessado em capturar Bellatrix nem em nada que tenha relação com Voldemort. Talvez por isso não estão com pressa para julgar você. Querem esquecer o passado, enterrar. Ou deixar você louco demais para tentar alegar inocência. Quem sabe? – deu os ombros.


O assunto não lhe interessava realmente, perdera as esperanças de sair de Azkaban há muito tempo. Voltou a ler pela décima vez os textos sobre o caso.


“A última vítima: Honoria Marchbanks, neta de Griselda Marchbacks, chefe da Autoridade de Exames Mágicos. Recentemente ganhou uma medalha por coragem e bravura na Segunda Guerra, junto com a Ordem de Merlin, Segunda Classe... Encontrada perto de sua casa...”


Sua leitura foi interrompida por um pedaço de pão caindo no papel. Virou o rosto e encontrou Weasel mastigando calmamente ao seu lado, enquanto também lia o texto.


- Merlin, Weasel! Quer me matar de susto com essa cara feia?


- Hmm... Mmmumrm...


- Não fale com a boca cheia.


- Eu disse que gostava da Honoria. Uma pena que ela morreu bem quando estava ficando famosa. Deu uma entrevista para O Profeta alguns dias antes.


- Ah é? E nessa entrevista ela disse onde morava?


- Não me lembro mas provavelmente deve ter sido citado em algum lugar da matéria, por quê?


- Porque se foi, Bellatrix está lendo o Profeta – respondeu com um sorriso triunfante. – O que pode ser uma arma contra ela. Se vocês saberem como usar.


Gina riu, deixando pedaços de mortadela caírem em cima de Draco, que deixou bem claro seu nojo.


- Essa é a melhor notícia que tenho em meses! – riu, oferecendo um pedaço de seu sanduíche. – Tome! Para comemorar!


Relutantemente Draco aceitou o pedaço, mastigou com cuidado e o engoliu rapidamente. Não fora por pena ou para humilhá-lo que lhe dera... Era outra coisa... Companheirismo?


De repente o fato que ela estava tão próxima dele o incomodou. Mesmo em uma cela tão pequena houve sempre um espaço relativamente seguro entre os dois que agora parecia ter sido perdido.


- Estou felicíssimo por você, Weasel – disse, sarcástico, de volta ao um tom que lhe era familiar. – E não pude deixar de notar que enquanto você consegue progressos, eu fico a ver navios. Não está na hora de minha visita ser marcada?


Impressão dele ou ela desviou o olhar por um segundo?


- Em... Em breve. Preciso cuidar de... Algumas coisas antes.


- Em breve o caramba! Você está me enrolando, Weasley!


- Não estou não!


- Eu já ajudei o bastante. É a sua vez agora.


- Você tem que estragar meu humor, não? – suspirou. – Agora que as coisas pareciam estar melhorando...


- É o que eu faço, Weasel. Estrago o prazer dos outros.



N/A: Um capítulo basicamente para explicar alguns pontos soltos e estabelecer conexões. Prometo que o próximo vai ter mais ação. Bom Half-Blood Prince! (Cruzem os dedos para o Draco!)

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