A pior lembrança de Draco Malf

A pior lembrança de Draco Malf



Capítulo 9

A PIOR LEMBRANÇA DE DRACO MALFOY

Não era uma tarefa fácil. O que pretendia fazer era ilegal, isso era certo. Além de arriscar mais uma vez expor a Ordem também arriscava o pescoço de seu chefe, Quim.


Mas tinha que ser feito e ela nunca desistiu de algo só porque era difícil.


Três dias depois de sua conversa com Malfoy, Gina voltou à Azkaban mais uma vez. E com sorte, pela última. Sua desculpa para entrar nos domínios de Theodore Nott era simples, marcou uma hora para conversar com o tal. O assunto, ela disse, era ele próprio.


Nada agradava mais o ego de alguém do que falar sobre si mesmo. E Nott era um dos homens mais narcisistas que já vira, incluindo Draco Malfoy.


Com a falsa intenção de discutir sobre a organização e manutenção da prisão, Gina pretendia entrar na sala dele e pegar emprestado, apenas por algum tempo, a chave para a famosa sala das penseiras.


Após agüentar uma longa hora de discursos pomposos sobre as melhorias que Nott dizia ter feito a prisão finalmente ela conseguiu uma brecha.


Um sorriso suave se abriu em seu rosto ao lembrar de seu plano perfeito. Escolhera aquela data para a “entrevista” sabendo muito bem que Nott tinha um compromisso importante no Ministério no mesmo dia e, prevendo que ele se elogiaria por horas, seria obrigado a sair correndo para não chegar atrasado.


E foi o que aconteceu. Ah, como Gina adorava estar certa.


– ...Tenha certeza que se não fosse minha visão e talento, Azkaban cairia ao chão. Entre dominar os dementadores e lidar com empregados incompetentes...


Duas batidas na porta finalmente calaram o discurso pomposo. A mesma mulher que acompanhara Gina em suas idas às celas entrou relutante na sala.


– Sr. Nott, sinto interromper... – começou Perks.


– Não vê que estou ocupado?


– O senhor está atrasado para a reunião com o Ministro. Ele o espera no prédio do Ministério em quinze minutos – continuou a moça, não se deixando afetar pela grosseria de seu chefe.


Ao ouvir a notícia, Gina pôde reparar que a face de Nott ficou mais branca. Abriu ainda mais seu sorriso, desistindo de escondê–lo.


– Por que não me avisou antes, sua incompetente? – gritou, levantando–se de sua cadeira. Quando Perks abriu a boca para responder ele continuou. – Sem desculpas, não há tempo. Tenho que sair dessa ilha maldita imediatamente.


Ambos já saíam da sala quando Nott lembrou da presença, agora inconveniente, de Gina.


– Acredito que seja capaz de sair de Azkaban sozinha, Srta. Weasley. Como vê não tenho mais tempo a perder com você.


– Não se preocupe, sei bem onde é a saída – sorriu inocentemente.


Quando os sons dos passos deles sumiram por completo Gina não resistiu e soltou uma risada satisfeita.


Levantou e começou a procurar nas gavetas da escrivaninha a chave que buscava. Encontrou rapidamente e a colocou no bolso do casaco.


Memorizou o caminho até a sala e saiu, fechando a porta atrás de si. Tinha no mínimo duas horas até que Nott enfiasse o nariz de novo em Azkaban.


Com cuidado, atravessou os corredores escuros da prisão, evitando aurores e dementadores, o que se provou menos difícil que o previsto. Provavelmente porque ninguém possuía interesse na sala das penseiras, preocupados mais em vigiar as celas.


Chegou ao seu destino com confiança que finalmente acharia a resposta para a captura de Bellatrix. E também para manter–se na Ordem.



Pansy olhou o relógio de pulso pela décima vez, sua paciência se esgotando. Quando alguém marcava um encontro deveria chegar no horário. Fazê–la esperar era abominável.


Tinha um compromisso importantíssimo em poucas horas, nada era mais vital que ir ao salão de beleza. Não havia tempo para esperar seu marido inútil resolver aparecer.


Bufando, fixou seu olhar em suas unhas, decidindo a cor que ia pintá–las dessa vez. Estava indecisa entre vermelho ou rosa, contando quantas bolsas e sapatos tinha de cada cor, quando Nott sentou na cadeira oposta à ela, a expressão de nojo costumeira.


– Estou esperando há horas.


Mesmo ainda encarando suas mãos, Pansy sabia que ele acabara de revirar os olhos.


– Impossível, Pansy, chamei você faz trinta minutos.


Pareceram horas, então. Mesmo assim você demorou. E eu odeio ficar esperando.


– Entre você e o Ministro quem acha que é mais interessante eu dar atenção?


– O Ministro? – o interesse dela havia sido conquistado, o encarou.


– Sim. O próprio.


– E o que ele queria? Despedir você?


– Você quer saber ou não? – respondeu irritado. Pansy apenas fez sinal para que continuassem. – Temos nossa oportunidade. Finalmente. O Ministro está muito interessado em destruir a Ordem da Fênix e eu sei exatamente como vamos fazer isso.


– Eu ainda não entendo essa necessidade idiota de perseguir esse grupo de lunáticos.


– Desde quando você entende alguma coisa? – murmurou irritado. – Há várias razões para destruirmos a Ordem. Mas vou lhe dar só três, para facilitar seu entendimento. Primeiro: as eleições estão chegando, e se Potter resolver se candidatar? Ele tem apoio popular o que faz muito capaz vencer. E isso é ruim, Pansy. Extremamente ruim. Precisamos desmoralizá–lo antes que seja tarde. Segundo: a Ordem precisa ser neutralizada antes que se fortaleça o bastante para torna–se uma ameaça a planos futuros. E por último, nós odiamos Potter. É o bastante para você, minha querida e ignorante esposa?


– Não, querido marido inútil – respondeu irritada, cruzando os braços. – Por que você não simplesmente esquece tudo isso, ganha dinheiro e morre gordo e rico? É o que todos fazem.


– Me recuso a responder tal idiotice. Se nada lhe interessa, não é meu problema. O que eu quero que você faça é simples e não há necessidade de você concordar ou não comigo. É capaz de fazer–me um pequeno favor, pelo menos?


– E o que eu ganho em troca?


O sorriso perigoso que Pansy aprendeu à associar com problemas apareceu no rosto de Nott. Sabia que a oferta seria irrecusável.


– Draco Malfoy.


Piscou duas vezes, encarando o homem como se estivesse completamente doido. Ao vê–la perdida, continuou sua explicação e a cada palavra, Pansy se convencia que valeria a pena fazer o favor que ele lhe pedia.



– Eu não vou lhe dar nada! Me deixe em paz!


Gina observava a cena com uma mistura de apreensão e incomodo terrível. Não gostava da idéia de estar em um pedaço, teoricamente, da mente de um Comensal e que se passava na de Rabastan... Era terrível.


A memória do irmão de Rodolphus começara com ele se encontrando com uma moça com não mais que vinte anos e rosto delicado. Pareciam se conhecer e parecia que era uma reunião relativamente feliz até Rabastan começou a pressioná–la contra a parede, gritando por algo.


– Me deixe em paz, seu idiota! Não quero mais saber de você! – a garota repetia freneticamente.


O Comensal só parou quando ela cuspiu em seu rosto.


– Eu não gosto de você, seu idiota. Eu te odeio! Só agüentei sua presença porque era necessário. Você não é digno de mim!


A briga parou. E por um segundo, apenas isso, Gina soltou a respiração que segurava de preocupação.


Então a garota soltou uma risada gélida e começou se afastar. Não foi longe.


Avada Kedavra!


O corpo dela caiu como se não pesasse nada. A varinha na mão de Rabastan tremia mas seu rosto estava inexpressivo.


– Você me chamou de indigno pela última vez.


A mão de Gina estava em sua boca, tão grande era seu choque. Quem eram essas pessoas? Como um garoto tão jovem podia assassinar tão facilmente? E não mostrar nada além de frieza?


Percebeu então que não podia ser o caso. Aquela era a pior memória de Rabastan. Por trás da máscara gélida, ele sentiu algo tão forte que o marcou. Ainda sim, não era remorso de matar a garota mas a humilhação que ela o fez passar.


Tudo se escureceu e Gina sentiu–se sair da penúltima penseira que estavam guardadas naquela sala.


Soltou um longo suspiro, colocando a mão na testa. Sentia como se uma força pesada e negra tivesse tomado conta de seu ânimo. Todas aquelas lembranças cheias de ódio e às vezes simplesmente egocêntricas e ridículas (a de Rodolphus fora a pior de todas... Mesmo passando por tantos fatos perturbadores o que estava em sua penseira era o dia em que fora recusado para a posição de apanhador). Nada daquilo servia para lhe ajudar, todos os Comensais ou eram completamente insanos, como o caso de Rabastan, ou simplesmente mimados com uma vida fácil.


Ela não conseguia compreender como não conseguir entrar no time da Sonserina era mais triste que estar preso em Azkaban. Não fazia sentido algum.


Olhou para o caderno de anotações que trouxera e sentiu–se patética. Havia apenas uma linha escrita.


“Procurar Bellatrix nas penseiras dos Comensais.”


Suspirou mais uma vez, pegando a última da prateleira, justamente por ser aquela que menos queria ver. Se houvesse alguma coisa de Bellatrix ali seria mais que irônico, seria cruel.


Respirando fundo deixou–se mergulhar nas memórias de Draco Malfoy.



Primeiro não viu nada, escuridão tomando conta de onde quer que estava. Lentamente tochas verdes começaram a revelar um círculo de pessoas, todas mascaradas. Gina logo entendeu quem eram.


Os Comensais estavam em silêncio, esperando algo acontecer. Uma voz gelada e assustadoramente familiar chamou atenção de todos os presentes. Nunca imaginara que ouviria Voldemort falando de novo. Todos abriram o círculo deixando que a figura negra encapuzada ficasse no centro.


– Draco Malfoy, um passo à frente.


Pela primeira vez Gina notou que estava do lado do Comensal mais baixo e mais loiro. Relutantemente Malfoy tirou a máscara, dando um olhar suplicante para o mascarado ao seu lado, quando não houve resposta se aproximou do centro do círculo e abaixou humildemente perante Voldemort.


Gina não estava prestando muita atenção àquilo, mais preocupada em achar Bellatrix entre as figuras que estavam ali. No entanto era impossível não prestar atenção depois do que ouviu em seguida.


– Você é um incapaz, Draco Malfoy. E nunca se provou digno desse círculo. Mesmo assim está aqui, entre grandes. Como agradece isso? Me traindo. O Lorde das Trevas lhe deu uma oportunidade única de estar entre os poderosos e você me trai. O que tem a dizer sobre isso? Se atreve a defender sua vida?


Draco permaneceu ajoelhado, sem mover um único músculo. Voldemort gargalhou ao não ver reação.


– Acha mesmo que poderia escapar? Que meus Comensais não são leais a mim até o fim de suas vidas? Não existem ex–Comensais, Draco Malfoy. Ninguém sai do meu círculo – Voldemort segurou o queixo de Malfoy com sua mão pálida, obrigando–lhe a encará–lo. – Ninguém. Você é covarde demais para continuar me servindo? Responda agora e quem sabe o pouparei.


Para a incrível surpresa de Gina havia no rosto de Malfoy uma expressão de desafio. Porém se em pensamento ele desafiava Voldemort em ação não tinha coragem suficiente.


– Eu... Perdoe–me, meu lorde – respondeu fracamente, tentando desesperadamente desviar o olhar. – Sempre o servirei.


– Você está mentindo – sorriu maliciosamente o Lorde das Trevas. – E muito mal. Posso ler sua mente, idiota. Talvez um castigo seja necessário para melhor ilustrar o que tenho a dizer.


– Não... Espere! Não! – suplicou Malfoy.


Voldemort continuou sorrindo, divertindo–se com o desespero do garoto.


– O que você pensa, Draco Malfoy, precisa ser mudado. A dor vai lhe ensinar a não me insultar. E seu castigo será longo e doloroso... – então se voltou para o restante dos Comensais. – A menos que haja alguém que possa lhe defender.


Imediatamente os olhos de Draco se voltaram para a figura que estava ao seu lado há pouco tempo. Apesar das máscaras Gina sabia que ele olhava para seu pai.


Quando ninguém se manifestou não havia nada além de desespero no rosto do sonserino. Gina nunca o vira assim e, contra sua vontade e bom senso, teve pena. Lúcio Malfoy não fizera nada para tentar ajudar seu filho e perceber que seu pai não levantaria um dedo foi como se algo por dentro de Malfoy tivesse sido destruído. Ela podia ver claramente em seus olhos cinzas, assim como Voldemort.


– Sim. Como vê, ninguém vai o salvar agora. Nem seu pai – riu. – Afinal, ele próprio quem me contou o que você planejava.


Os olhos de Draco se arregalaram, mas não houve tempo para mais nada. Voldemort cansara de esperar.


Crucio!


Malfoy caiu de dor no chão, gemendo. Ninguém fez qualquer movimento.


Crucio!


Aqueles foram os primeiros de muitos e a cada feitiço lançado os gritos se intensificaram. Voldemort abriu um sorriso, satisfeito com a dor que causava. Draco não resistiu e entre maldições caiu no chão, fraco demais para se sustentar.


Cada vez mais seus gritos aumentavam e seus movimentos enfraqueciam. Voldemort não parou até que sentiu que Malfoy começava a perder a consciência.


– Levante–se infeliz – ordenou, ainda com sua varinha apontada ameaçadoramente, a tortura estava longe de terminar.


Seus braços tremendo ao tentar o levantar, ele se ergueu devagar, ainda ajoelhado perante seu torturador.


– Olhe nos meus olhos, inútil – gritou Voldemort. – Ainda deseja sair? Acredita que pode fugir de mim?


A resposta veio em murmúrio quase inaudível.


– Não meu lorde.


Voldemort analisou por uns instantes o rosto pálido de Malfoy.


Crucio! – gritou, fazendo com que Draco caísse novamente no chão. – Mentiroso. Seu inútil incapaz! Pirralho ingrato! Crucio! Como ousa me trair! Criatura estúpida.


Voldemort continuou a torturá–lo e humilhá–lo. Os gritos de dor de Malfoy eram tão desesperados que Gina começou a se sentir terrivelmente aflita, desviando o olhar a cada maldição lançada. Queria sair dali mas principalmente queria parar Voldemort.


Não bastava a tortura, o monstro humilhava Malfoy com insultos e acusações de fraqueza. Ninguém merecia aquilo... Nem mesmo Draco Malfoy.


Finalmente Voldemort pareceu conseguir o que queria. O garoto jogado ao seus pés começou a suplicar para que parasse. Implorar para o matasse.


Jamais Gina vira Malfoy tão vulnerável e desesperado.


– Eu... Eu faço qualquer coisa que você quiser... Por favor... Pare... Me mate... Deixe acabar... Por favor...


A resposta de Voldemort foi uma risada fria e maligna. Mas finalmente abaixou sua varinha.


– Jamais esqueça isso, Draco Malfoy. Ninguém abandona meu círculo. E se você sequer pensar novamente em me trair seu pai garantirá que você morra antes que eu descubra, ou a morte será o menor de seus problemas.


O círculo se desfez lentamente, como se não passassem de sombras, e Voldemort foi embora. Draco continuou estirado no chão, fraco demais para reagir. Estava mais pálido que o normal e seu nariz sangrava.


Apenas um Comensal mascarado permaneceu parado onde estava. Lúcio Malfoy.


– Pai... – chamou fracamente Draco, cuspindo sangue.


Lúcio não se moveu.


– Pai... Por quê? – continuou melancolicamente. – Me ajude, por favor.


O homem apenas se afastou, seguindo os outros Comensais para longe, deixando Draco sozinho na sala escura.


– Papai...



Ainda confusa, Gina sentiu–se um pouco tonta quando saiu da penseira, voltando à realidade segura da sala de Azkaban.


Estava desnorteada com tudo que vira. Nunca pensaria que Malfoy passara por tudo aquilo. Mas mais chocante era o fato de que ele queria abandonar Voldemort! Nunca imaginaria que não quisesse ser mais um Comensal.


Draco Malfoy quis ir para o lado de Dumbledore. Para o lado de Harry. Para o lado dela!


Balançou a cabeça, irritada de sequer pensar na possibilidade. Só a noção de tal coisa era ridícula. Afinal só porque não queria ser um Comensal não significava que parara de ser o arrogante preconceituoso que sempre fora.


Não havia profundidade em Draco Malfoy. Era impossível. Simplesmente inconcebível.


Havia outra explicação, com certeza. Mas era claro! Ele era um covarde, sempre fora. Provavelmente ficou com medo de correr riscos e quis fugir.


Mas o modo como resistiu a Voldemort...


“Pare Gina!”, pensou irritada. “Eu tenho que parar de pensar assim. Malfoy é apenas um covarde. Não há outra explicação.”


E também o que lhe importava? Não fazia diferença nenhuma e... Não tinha nada a ver com Bellatrix!


Bufou, frustrada. Fixou o olhar nas estantes de penseiras, inutilmente buscando por alguma idéia brilhante que resolveria seus problemas. Nada do que queria estava dando certo ultimamente.


Ao invés de formular um plano genial se viu pensando novamente no que tinha acabado de presenciar na penseira de Malfoy.


Se ele... Realmente não apoiava mais Voldemort por que mantinha a fachada de sempre? Continuava a agir como se nada tivesse acontecido?


E por que fugiu e não contou o que queria para a Ordem ou até para Ministério?


A resposta era óbvia. Bastou perguntar a si mesma se teria acreditado nele. Assim como ela, ninguém o teria feito.


Sentia–se mal por Malfoy. E não gostava disso. Por mais que odiasse admitir estava sentindo uma pitada de remorso por tê–lo tratado tão mal no Egito.


Ele sempre lhe pareceu vazio, como todos os outros Comensais, até mais. Um garoto rico e esnobe que não sabia nada além de preconceito. Era irônico que talvez não fosse o caso, justamente o contrário. Enquanto todas as outras penseiras não continham nada a não ser memórias de mentes fúteis ou desumanamente cruéis, justo a dele se mostrou a mais humana de todas.


Novamente balançou a cabeça, confusa. Não era hora para aquilo, estava ali já há muito tempo e precisava devolver a chave à sala de Nott antes que alguém notasse sua falta.


Colocou a penseira de Malfoy de volta em seu lugar e trancou a porta, voltando pelo caminho que viera. Mais uma vez encontrou apenas corredores vazios.


A sala estava exatamente como havia deixado, para seu alívio. Guardou a chave, tendo o cuidado de deixá–la na mesma posição que achara, horas antes.


Ainda com a cena da penseira em sua mente Gina foi embora de Azkaban. Sem respostas e apenas com mais perguntas.



...111... 112... 113...


Perdera a noção do tempo.


Ou então o tempo havia parado. De qualquer forma, não havia porcaria de diferença nenhuma.


Não dormia mais e o que comia lhe dava ânsia de vômito. Se achava que o cheiro que tinha no Egito era ruim agora via o quanto estava errado. Feder era um termo ameno demais para expressar o quanto se sentia sujo no momento.


Desde que Weasel aparecera da última vez contou dez dias... Provavelmente estava errado. E agora desejava ter aceitado a oferta da criatura e pedido sabonete ou então uma troca de roupas.


Sim, estava desesperado a ponto de se rebaixar a aceitar qualquer coisa que aquela imbecil lhe jogasse.


Olhou para suas mãos, sujas de terra e secas, tentando lembrar a última vez que as lavara. Quando levantou o olhar mais uma vez tomou um susto.


– Sr. Malfoy, acredito que saiba por que lhe chamei.


Piscou duas vezes, encarando o homem na sua frente. E não acreditando ao ver a antiga sala de Poções. Estava em Hogwarts... Mas... Não. Era impossível.


– Professor Snape?


– Não... Você não está detenção. É por outra razão que lhe pedi que ficasse após a aula – continuou o mestre de Poções, sério. – Sei o que você pretende fazer em alguns dias. E...


– Isso... Não é verdade. Não está acontecendo... – sussurrou, incrédulo.


Mas Snape o ignorou, como se nem tivesse ouvido.


– ...Contra o meu próprio julgamento, quero lhe pedir que não faça.


Draco sacudiu a cabeça, afastando a imagem do antigo professor. Era uma ilusão de novo... Estava se tornando cada vez mais difícil distinguir o que era realidade e o que era lembrança.


Fechou os olhos, em uma tentativa de parar as memórias... Mas então começou ouvir sua própria voz, ao longe...


– Por quê? É o que eu sempre quis!


– Não continue nesse caminho, Sr. Malfoy. Você tem um futuro, não o jogue fora seguindo seu pai cegamente. Você não precisa se provar a ninguém. Muito menos à ele.


– Eu não entendo o que você está falando, professor Snape. Mas não estou gostando do que você está sugerindo – alertou em tom perigoso.


– Se você continuar com o que pretende esteja avisando... Não existe retorno. Não coloque sua vida nas mão dele ou nunca mais a receberá de volta.


– Professor... Eu sempre admirei o senhor... Mas se continuar falando essas coisas, o senhor não vai me deixar escolha...


O mestre de Poções, que nunca mostrava emoções, colocou sua mão no ombro de Draco e o encarou firmemente. Em seu olhar havia um traço de decepção, ou seria tristeza?


– Estarei aqui quando você mudar de idéia. Lembre–se disso – afastou–se, dando às costas ao aluno. – Está dispensado, Sr. Malfoy. Não se esqueça da redação sobre as utilidades de ovos de Doxy no preparo de poções. No mínimo cinqüenta linhas.


Abriu os olhos. Estava sozinho na cela, como o esperado.


Quanto mais? Quanto tempo mais até que ficasse louco de vez? Não sabia se preferia que fosse em breve ou nunca. Qualquer uma das opções era péssima.


Algum dementador por perto estava ficando gordo às custas de Draco. Muito gordo. Se havia alguma felicidade nele antes, agora duvidava da existência de tal coisa.


Professor Snape... Há muito tempo não tinha notícias de seu antigo mestre... Mas ainda lembrava bem da decepção que sentiu ao saber que ele era um espião para Dumbledore todo aquele tempo.


Mais um herói que caía. Mais uma pessoa que se mostrava falsa.


Todos falsos. Tudo em que acreditava... Falso.


Colocou as mãos na cabeça, sentindo os fios loiros sujos por entre seus dedos. Arrependia–se de tanta coisa. Desejava ter ouvido Snape, nunca deixado sua mãe para trás e...


De que adiantava pensar no que deveria ter feito diferente?


Esticou as pernas e encostou na parede gelada e voltou a contar cada pedra das paredes à sua volta.


114... 115... 116...



– É a quinta morte. E ainda não estamos nem próximos de pegá–la. Hermione, por favor, diga que temos alguma pista!


Hermione balançou a cabeça negativamente.


– Sinto muito Ron... Mas... Não existe lógica nenhuma nesses ataques! Nem sequer um padrão de comportamento que eu possa utilizar. Só posso afirmar que é totalmente e completamente aleatório. Ela não pára no mesmo lugar, não ataca o mesmo tipo de pessoas... Nada.


– Não é possível! Sério! Tem que ter alguma coisa... Qualquer coisa...


Rony bufou, cruzando os braços e andando de um lado para o outro. Hermione apenas observava sentada à mesa, onde dezenas de anotações e recortes de jornais estavam espalhados. Harry estava com os olhos fechados, sentado no seu sofá predileto, sem dizer uma palavra desde que se reuniram.


Ela? Estava deitada em outro sofá, como de costume, sem prestar atenção à uma única coisa que acontecia ao seu redor.


Por dias a única coisa que passava em sua mente era o que testemunhara na sala de penseiras de Azkaban. No começo era apenas para tentar lembrar de qualquer detalhe que lhe escapara, algo que fosse relacionado a Bellatrix... Agora, quando isso se provou inútil, não sabia mais por que continuava pensando no assunto.


– ...O que você acha Gina? – finalmente abriu a boca Harry.


Encarou–o, um pouco surpresa de ser retirada de seus pensamentos. E mais ainda pelo fato que os dois não estavam se falando, haviam brigado (o que não era incomum) quando ele soube do acordo que fizera com Quim. Disse que estava se arriscando cada vez mais e agora colocava em risco o emprego dele também.


O que ele sabia? Nada. Harry era um idiota.


– Pelo jeito que você fala até parece que quer que eu saia da Ordem, mesmo sem motivo!


– O problema é que você me dá motivos!


Depois da discussão decidiu que não conseguia agüentar a cara dele e ficou dias sem aparecer na sede da Ordem. Nem contou direito o que tinha descoberto lá... Muito menos sobre Malfoy.


– Gina? – chamou, preocupado, seu irmão.


Fingiu não estar afetada pelo olhar inquisitivo de Harry e respondeu, finalmente, a pergunta:


– Acho que nossa única chance de pegar Bellatrix está em Azkaban.


– De novo essa história! – interrompeu Harry, irritado. – Você mesma disse que não achou nada lá! O que mais quer?


– Harry! – repreendeu Hermione. – Deixe–a falar. Sinceramente, estamos sem idéias e qualquer plano para descobrir algo vale a pena ser analisado.


O líder da Ordem desviou o olhar dos três outros membros, encarando a lareira acesa, claramente desaprovando o que acontecia, mas permaneceu em silêncio, deixando que continuassem a conversa.


– Eu achei algo lá – corrigiu–o Gina. – Só não consegui retirar a informação.


– Como assim? – perguntou Rony. – O que você achou?


– Nenhum dos Comensais estava lúcido o bastante para dar qualquer informação... Exceto Malfoy. Ele é quem vai nos ajudar.


– Você está sugerindo... – começou o irmão, incrédulo. – Não... Ele nos ajudar? Impossível... Além do mais Harry já interrogou Malfoy aqui mesmo antes de o enfiarmos lá. Disse que não sabia onde Bellatrix estava.


– Não quero saber onde ela está.


Rony a fitou, confuso. Harry soltou abriu um sorriso zombeteiro.


– Sua irmã pretende entender a mente de Bellatrix com ajuda de Malfoy – explicou para Rony, ainda com o tom de gozação.


– Mas é um ótimo plano! – incentivou Hermione, fazendo ambos, Rony e Harry, se virarem em sua direção, incrédulos. – Não conseguimos a entender, por isso não vemos lógica em suas ações, mas se aprendemos como ela pensa poderemos prever seu próximo passo.


Gina sorriu, contente em ter apoio finalmente.


– Você disse que não conseguiu retirar a informação... – continuou Hermione. – Por que não?


– Malfoy não quis cooperar.


Rony cruzou os braços.


– Tinha alguma dúvida que ele não faria isso? Malfoy é um idiota sem nada por dentro. Provavelmente acha graça em saber que Bellatrix ainda está matando gente.


Gina discordou mas apenas em pensamento. As imagens dele sendo torturado ainda a impediam de criticá–lo tão violentamente, apesar de seu lado racional lhe dizer que o irmão tinha certa razão.


– Como vamos fazê–lo falar? – ponderou Hermione. – Deve haver algo que podemos oferecer em troca de informação.


– Eu já tentei, Hermione. Ele pediu para ser solto.


Rony soltou uma gargalhada enquanto Hermione apenas balançou a cabeça. Gina continuou:


– Achei que seria melhor deixá–lo passar mais alguns dias em Azkaban... Quem sabe assim o orgulho dele baixava.


– Fez bem – elogiou Rony. – Aposto que um mês naquele lugar vai fazer ele suplicar para te ajudar. Vamos deixá–lo lá pensando na oferta por... Três meses. Aí eu quero ver!


– Não! – disse Gina rapidamente.


– Por que não? – retrucou o irmão, surpreso.


– Até lá ele vai estar completamente louco. Não vou poder tirar nenhuma informação se ele estiver fora de si. Precisa ser o mais rápido possível.


De repente Harry se levantou do sofá e os três viraram suas atenções em sua direção.


– Quanto tempo faz desde a última vez que você falou com ele, Gina?


– Quinze dias... Não apareço em Azkaban faz doze dias... Nott estava começando a suspeitar da minha presença e...


– Volte lá e diga ao Malfoy que ele vai ter o que quiser se cooperar.


– O quê? Mas...


– Você me ouviu.


Gina estava confusa e não era a única, Rony e Hermione também pareciam surpresos com o que Harry havia dito.


– Qualquer coisa? E se ele insistir que quer sair de Azkaban?


– Qualquer coisa. Desde que ele fale antes tudo que sabe sobre Bellatrix.


– Mas...


– Não era isso que você queria para achar Bellatrix? E ficar na Ordem?


– Sim, só que... – ele a interrompeu mais uma vez.


– Então vá lá e faça. Vidas estão em jogo.


– Como vou entrar lá de novo?


– Arranje um jeito.


Saiu da sala sem dizer mais nenhuma palavra, deixando três pessoas extremamente confusas para trás.



Gina deixou um suspiro escapar pela trigésima vez. Não acreditava que estava realmente fazendo aquilo. Mas apesar de extremamente doloroso era preciso.


Nem todo seu poder de persuasão conseguiu convencer Quim a lhe ajudar a entrar em Azkaban mais uma vez. O chefe dos aurores havia dito que era arriscado e suspeito demais continuar visitando a prisão sob falsas pretextos. Nott não aceitaria outra desculpa esfarrapada.


Então coube a ela achar outra saída. Uma menos venerável e muito mais embaraçosa. De todos os planos que criara esse havia sido o único que Harry, Quim e Hermione (a mestra em planos da Ordem) viram como plausível. Para seu próprio horror ela concordou com eles.


Assim, lá estava conversando com Sally–Ann Perks, na segurança do Três Vassouras, observando a moça pálida tomar sua cerveja amanteigada.


– Perks... – começou, parando logo em seguida.


Como explicaria? Com certeza a moça perceberia a mentira... Gina não conseguiria enganá–la com uma história tão absurda... E ridícula.


Respirou fundo, tentando se concentrar em manter uma expressão séria. Imaginou todas as vezes que mentiu para sua mãe após fazer uma brincadeira de mau gosto, muitas vezes por influência dos gêmeos. Isso trouxe confiança. Ela era boa em mentir.


Perks continuava a esperar que a ruiva continuasse a falar, segurando seu copo perto da boca.


– Obrigada por ter vindo.


Era um bom começo, ganhar a simpatia primeiro.


– Ah, sem problemas. É tão deprimente Azkaban... Fico feliz com qualquer oportunidade de sair de lá.


– Imagino...


– Principalmente com o Nott cuidando de tudo... Ele é um tanto rígido. Não sei bem como foi parar nesse cargo, falando francamente. Principalmente com o pai preso lá e tudo mais. Acho que tem a ver com fato que ele... Bem, ele pensa como eles. Meio louco. Ou então os dementadores não o afetam. Parece que nem precisa de feitiços animadores para ir trabalhar...


Gina apenas ouviu, surpresa, enquanto a mulher continuava a falar incansavelmente sobre sua rotina em Azkaban e rumores que circulavam entre seus colegas. Parecia que “discrição” não fazia parte de seu vocabulário.


O que, naquele momento, era ótimo para Gina.


Após um bom tempo de conversa viu que estava na hora de entrar na razão daquele encontro. Sua paciência em ouvir fofocas fúteis estava se esgotando rapidamente.


– Acho que você se deve estar se perguntando por quê... Por que ultimamente eu visitei Azkaban tantas vezes...


– Não.


– Não?


– Você estava fazendo uma inspeção, nada mais normal. Apesar de que eu esperava alguém mais... Importante.


– Exato. Nunca você se perguntou por que eu e não o inspetor de sempre? Ou mesmo o chefe do departamento?


– Bem... Um pouco.


– Eu posso explicar isso... – respirou fundo antes de continuar, dando uma pausa para um efeito de suspense. – Você sabe guardar um segredo?


Os olhos normalmente apáticos da mulher brilharam ansiosos por fofoca.


– Claro!


Gina sinceramente duvidava disso, mas não vinha ao caso no momento.


– Eu... Eu estou apaixonada por um dos prisioneiros.


“Pronto. A besteira foi dita.”


– Sério? – arregalou os olhos Perks, curiosa. – Quem?


– Draco Malfoy.


Como falar uma coisa daquelas doía em sua garganta! A simples noção de se apaixonar por aquele fuinha a enjoava.


– Por isso te mandaram?


– Sim. Eu supliquei para meu chefe. Ele tem um bom coração e entendeu. Deixou que eu fizesse a inspeção para que... – respirou fundo, tentando esconder a agonia ao falar tais absurdos, felizmente Perks achou era porque estava emocionada demais, por outros motivos. – Para que eu o pudesse ver... Uma última vez.


Teve que se segurar muito para não revirar os olhos, a história era completamente ridícula. Após uma pausa continuou a contar um conto fantástico que qualquer pessoa com o mínimo de noção perceberia que era mentirosa. Que ela e Malfoy teriam se apaixonado em segredo, em meio a Segunda Guerra, e forçados a esconder o amor de todos... E todo o tipo de besteira encontrada em livros excessivamente melodramáticos. Felizmente Sally–Ann achou tudo maravilhoso e extremamente romântico. Gina queria sair correndo para o banheiro mais próximo e vomitar.


Ao final da história estúpida Perks estava completamente fisgada. A mentira completa. Faltava apenas o último passo.


– Você entende, não? Eu simplesmente preciso vê–lo de novo! Não suporto imaginá–lo sozinho naquele terrível lugar!


– O que posso fazer para ajudar?


– Me ajude a entrar em Azkaban... Mas ninguém pode saber! Se houver qualquer suspeita vou perder o emprego e qualquer chance de revê–lo! Sei que posso confiar em você, pode fazer isso por mim? Por Draco?


A moça hesitou por um instante e Gina temeu que ela fosse negar o pedido mas, tomando o último gole de sua cerveja amanteigada, manifestou–se, firme:


– Claro! Vou arranjar encontros secretos entre vocês dois. Ninguém vai nem suspeitar, te prometo.


– Obrigada! Muito obrigada! Não sabe como me deixou feliz!



Sentia seu queixo mais áspero que o normal. Não ia demorar até o começo de uma barba se revelasse.


O que estava fazendo ali?


Como alguém suportava horas e horas a fio, sem nada para fazer a não ser contemplar a própria miséria?


Enfim estava provado. Havia coisas extremamente piores que a morte. Gostaria de nunca ter aprendido essa lição.


Contar as pedras à sua volta perdera o charme. Principalmente depois de repetir o processo pela décima vez.


Aquilo tudo era ridículo. Completamente estúpido. Idiota e imbecil. Uma vida inteira na prisão era... Não havia xingamento forte o bastante.


Bosta de dragão? Filho de uma hipogrifa rosa? Cabeça de abóbora seca?


Soltou um longo e frustrado suspiro.


Queria alguma coisa para fazer, qualquer coisa. Quem sabe um rato apareceria de novo. Pelos menos era uma distração tentar capturar a criatura, não sabia bem o que faria se tivesse sucesso nas tentativas mas era algo para se distrair.


Um frio correu em sua espinha ao perceber no que tinha se tornado, no quanto se rebaixara. “Quanto maior o ego... Maior a queda”, pensou amargamente.


Sua cama gigantesca e a casa de sua infância pareciam agora pertencer a outra pessoa, alguém distante que não conhecia mais.


Começaria a contar cada rachadura nas paredes quando o som desconhecido da porta de madeira de sua cela o assustou.


Alguém entrava. Mas era impossível.


“Outra memória ruim que veio me assombrar...”.


No entanto ao identificar o intruso viu que não era isso. Afinal, apesar de Weasley não ser sua pessoa mais querida na face da Terra, não era importante o bastante para ter um lugar em suas piores lembranças. Seria dar crédito demais àquela criatura.


A porta se fechou e a garota o encarou seriamente.


Contra sua vontade, Draco estava contente em vê–la. Finalmente tinha algo para se distrair... Além disso sabia o que Weasel queria. Tinha outra chance de conseguir barganhar algo pelo conhecimento que tinha sobre sua tia.


Não perderia a oportunidade como na outra vez.



Verdadeira à sua promessa, Perks arranjara um encontro entre os dois “pombinhos” dois dias depois da conversa no bar Três Vassouras. Gina ainda estava decidindo se isso era bom ou ruim.


Imediatamente a ver Malfoy sentado no chão de sua cela viu o garoto assustado na penseira que suplicara por sua vida. Como duas faces tão diferentes de uma mesma pessoa podiam existir?


Espantando a imagem, voltou a se concentrar em sua missão.


Malfoy a fitava intensamente, parecendo analisar cada centímetro de seu rosto, incomodada, desviou o olhar.


– Achou minha querida tia, Weasel? – sorriu Malfoy. – Pela cara de pata não. Veio pedir ajuda? Suplicar por meus conhecimentos?


Pronto. Qualquer pena que sentira por ele se fora. Malfoy seria sempre Malfoy. Arrogante e mesquinho.


– Vejo que quase um mês em Azkaban não foram suficientes para sua mente idiota perceber a realidade.


– Na verdade minha mente está ocupada ficando completamente louca. Aqui não é exatamente o melhor lugar para melhorar suas perspectivas de realidade, Weasel. E sim para perdê–las, não?


– É impossível você perder algo que nunca teve.


Malfoy abriu outro sorriso, murmurando sozinho algo que achou extremamente engraçado. Depois agiu como se ela não estivesse mais lá e começou a contar em voz alta alguma coisa à sua volta.


Uma parte de Gina ficou preocupada que ele ficasse louco antes que falasse sobre Bellatrix, outra concluiu que era apenas fingimento.


– Malfoy.


– Treze... Catorze...


– Malfoy!


Finalmente ele se virou, olhando–a.


– Ah... Você ainda está ai.


– Estou. Me poupe do show, sei que você não está louco... Ainda – disse, cruzando os braços.


Silêncio.


– O que você quer, afinal, Weasel? É sobre Bellatrix, eu sei. Mas tem algo mais.


Gina levantou uma das sobrancelhas, confusa.


– Não, não tem.


– Quando você entrou aqui... Tinha algo diferente.


– Está louco.


– Você mesma disse que ainda não – abriu um sorriso, aparentemente concluindo algo brilhante. – Já sei... Você brigou com Potter. Ele dormiu com a sangue–ruim enquanto você estava fora... Não! Melhor! Ele dormiu com o Weasel! Sempre achei que ele tinha uma queda pelo pobretão. Devem ter passando a noite inteira naquele chiqueiro que você chama de casa...


– Você está louco.


Era hora de parar com aquela perda de tempo e ir direto no assunto.


– Não vamos continuar com essa ladainha, Malfoy. Eu estou aqui para te oferecer mais uma vez a chance de me contar tudo que sabe sobre Bellatrix.


– E em troca... Você me dá algo.


– Sim.


– Eu... Eu gostaria de muitas coisas, sabonete para começar... Um banho... Minha varinha de volta... Dois travesseiros... Voltar no tempo...


Não mais falava com ela, voltando a murmurar sozinho.


– Malfoy... O trato? – chamou sua atenção de novo. – Se vai querer alguma coisa precisa me contar sobre Bellatrix.


– Da última vez você se recusou a atender a um simples pedido.


– Não se pode chamar aquilo de simples!


– Como sei que não vai ser igual? Eu só falo se tiver garantias que vou ter o que quero.


– O que você quer, infeliz?


– Mas quem disse que vou te ajudar?


– Decida logo, seu idiota! Não tenho tempo! – falou, irritada. – Anda!


– Eu, ao contrário, tenho todo o tempo do mundo. Então comece a se acostumar, Weasel. Você precisa de mim.


– E você de mim!


Houve um longo silêncio onde Malfoy virou seu rosto, evitando o olhar dela. Parecia lutar entre orgulho e necessidade. Enfim, soltou um longo suspiro.


– Potter disse que... Eu poderia ver minha mãe – sussurrou, como se tivesse acabado de confessar um grande segredo vergonhoso.


Isso certamente não foi algo que esperava. Pensava que estaria mais interessado em seu próprio bem estar primeiro, principalmente depois da conversa anterior.


Aumentado ainda mais sua surpresa ele não parou:


– E eu disse que não sabia do paradeiro de Bellatrix. Não sei mesmo.


A mudança de tom e comportamento a assustou. Duas pessoas diferentes. Como era possível? Ali estava um Malfoy distante da arrogância e burrice de sempre. Um com sentimentos.


– Sei disso, Harry contou.


Logo que falou isso o rosto de Malfoy formou uma expressão que não conseguiu ler. Talvez fosse surpresa ou zombaria.


– E você acredita em mim? – revelou, mostrando uma mistura de ambos sentimentos.


– Não em você, não sou louca. Acredito em Harry. E, além disso, estou perguntando como ela pensa. Se você me contar como ela agiu perto de você já seria uma grande ajuda. Com as informações pelo menos terei alguma pista sobre o comportamento dela.


– E minha mãe?


Duvidava que fosse possível conseguir um encontro entre os dois. Era tão difícil quanto Malfoy ser solto. Mas... Harry insistira que não importava qual pedido fosse, teria que concordar. Talvez o líder da Ordem tivesse um plano.


– Você vai ver sua mãe se me ajudar.


Ele a olhou, desconfiado.


– Eu prometo.



N/A: Que cap mais complicado de escrever! Sério... Tive que escrever Voldemort, Snape e ainda por cima Draco e Gina menos sarcásticos! Estamos chegando finalmente a ação... Mais um capítulo e acredito que as coisas vão “esquentar”.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.