Enquanto o sono não vem

Enquanto o sono não vem



Capítulo 12

ENQUANTO O SONO NÃO VEM

- O quê!? Você só pode estar brincando! – rugiu Rony. – Não pode ser!


- Mas é verdade. Leia você mesmo, Rony! – insistiu Hermione passando o jornal para ele. – Está ai.


Rapidamente seu irmão leu a primeira página do Profeta. E quando terminou amassou o pedaço de papel e jogou dentro da lareira acesa.


- Ei, eu ainda não tinha lido! – protestou Gina. – O que diz?


- Bosta! Isso é o que diz! Esse Higgs é pior até que Fudge! Tinha que ser um sonserino!


- O que aconteceu? – virou-se para Hermione, sabendo que teria uma resposta mais clara.


- Draco Malfoy foi libertado hoje de manhã. Inocentado de todos os crimes que foi acusado.


- Mas... Não pode ser! – disse, confusa.


Sentou no sofá mais próximo, tentando se recuperar do choque.


- Infelizmente é verdade – confirmou Hermione.


- Não faz nem uma semana e ninguém queria tirar ele de lá... E agora o inocentam? Não faz sentido!


- Ah, faz muito sentido – continuou, irritação na voz. – Para Higgs faz. No julgamento, marcado às pressas, obviamente, Malfoy inventou todo o tipo de mentira. Alegou estar sobre a Maldição Imperius, a velha desculpa, contou que nunca apoiou Voldemort e fingiu todo o tempo com medo que sua mãe e ele próprio fossem mortos. Mas isso não é tudo... O pior, e o motivo do interesse do Ministro nele, foi que mentiu sobre a Ordem. Disse que foi torturado e obrigado a confessar crimes que não cometeu aqui mesmo na sede. Falou que não foi alimentado por dias no Egito e sofreu maus tratos nas nossas mãos.


- Fuinha desgraçada! Por culpa dele todo o Departamento de Execução das Leis Mágicas está concentrado em nos prender! – gritou Rony, chutando o pé da cadeira mais próxima.


- Não... – murmurou Gina – Não!


- Nossa situação é grave, Gina. Seria melhor nos separarmos, sairmos de vista até que as notícias diminuíssem.


- Mas agora que finalmente tínhamos uma chance de pegar Bellatrix! – virou o rosto para a porta do corredor que dava para os quartos da casa. – E quanto a Harry? O que ele disse?


- Não sabe ainda... Passou a noite toda acordado fazendo sabe-se lá o quê e ainda não acordou... Sendo sincera, não tenho pressa em acordá-lo. Ele vai ficar furioso.


Ficaram em silêncio, cada um pensando no que havia acontecido e no que aconteceria em breve. Gina só conseguia pensar em Malfoy e como ele podia ter feito o que fez. Depois de tudo... Suspirou, era óbvio que não deixaria passar uma oportunidade daquelas e principalmente depois da última visita desastrosa que tiveram mas ainda sim se sentia traída. Esperava que depois de todas as longas conversas pelo menos pensaria duas vezes antes de arruinar sua vida... Isso sem contar que acabara de destruir uma das coisas mais importantes de sua vida, a Ordem era sua vida. O choque logo deu lugar a raiva. Levantou subitamente.


- Hermione, onde aquele imbecil está agora?


- Malfoy? O Profeta diz que a primeira coisa que ele faria depois de sair de Azkaban era visitar sua mãe em St. Mungos... Mas...


Gina não ouviu mais nada, saiu correndo da sala. Mostraria a Malfoy o que acontecia quando alguém irritava uma Weasley.


- ... Ele vai estar rodeado de repórteres... – continuou Hermione, inutilmente.



- Draquinho, como se sente? – sorriu Pansy, ajeitando o cabelo loiro de Draco.


- Livre – sorriu de volta, passando a mão no queixo liso e recentemente barbeado.


Milagres aconteciam. Pela primeira vez em muito tempo havia tomado um banho com shampoo caro, sabonete aromático e em uma banheira gigante. E não parava aí, quando saiu vestiu vestes caras e finas, pôde usar uma capa verde esmeralda cara novamente e passar gel no cabelo loiro lavado e cheiroso.


Mas nada, absolutamente nada podia ser melhor que sentir o ar livre e ver o céu azul novamente. Estava livre. E rico.


Draco Malfoy voltara a viver. Parecia um sonho, bom demais para ser real.


Olhou o reflexo no espelho pela décima vez, um pouco surpreso com o que via, desacostumado. E assustado. Estava diferente, mais velho mas não era apenas isso. Havia ainda muitos sinais de seus dias como fugitivo, não achava que as olheiras sumiriam tão cedo. Demoraria ainda um bom tempo até seu rosto retomar aparência antiga de juventude, pareceria uma caveira ainda até comer o bastante.


A sombra debaixo de seus olhos, fruto de Azkaban, e as marcas do sol egípcio ficariam para sempre. O ar de desespero continuaria dominando seu rosto.


Suas mãos, esqueléticas e ásperas mas limpas, sentiram o tecido macio de sua roupa como se nunca havia tocado algo tão suave. Paraíso.


- Combina com seus olhos, essa roupa – elogiou Pansy. – É como se nada tivesse acontecido! Podemos esquecer essas coisas ruins, deixar tudo para trás e começar de onde paramos!


Draco não respondeu. Não queria começar nada novamente com Pansy. Ela lhe parecia mais vazia e sem sal do que nunca. E ainda não esquecera que ela tinha escolhido Nott para se casar, além de isso provar seu extremo mau gosto, Draco sentia como se tivesse sido traído. E de certo modo, foi o que ocorreu.


Depois de continuar com sua bajulação barata por mais alguns minutos, Pansy desistiu de tentar chamar sua atenção e saiu do quarto. Finalmente lhe dando paz.


Após o julgamento (se era possível chamar aquela piada disso) e o anúncio do veredicto, Draco foi gentilmente convidado, convenientemente na frente de vários repórteres, pelo casal Nott para se hospedar em sua mansão até que a própria casa dele fosse liberada. Agora estava em um dos quartos de hospedes de Nott, arrumando-se para ir a St. Mungos.


Nunca em sua vida tivera tanta atenção da imprensa e estava adorando. Finalmente justiça estava sendo feita e ele era o centro das atenções do mundo mágico. Todos queriam saber sobre sua trágica história de redenção. Incrível como os idiotas engoliam qualquer coisa.


Agora havia pelo menos um grupo de repórteres para onde quer que fosse. Mesmo naquele instante havia alguns no portão da mansão, suplicando por uma entrevista exclusiva. Tudo mão de Terence Higgs, claro. Provavelmente pagou para o Profeta publicar o máximo que pudesse sobre a história.


O que podia ser melhor que sair de Azkaban e acabar com Potter, tudo junto? Era o paraíso!


Todo o desespero anterior havia se dissipado junto com as memórias ruins e as vozes, pelo menos enquanto sua mente estava ocupada aproveitando o momento. Ainda não sabia como seria durante a noite, quando a agitação terminasse. Principalmente depois de lembrar daquele dia... Ao sair de Azkaban, a memória que fora guardada em uma penseira fora devolvida ao seu dono... E ele não estava feliz em recebê-la de volta.


Faltava pouco até que sua vida pudesse voltar à antiga glória. Dentro de algum tempo teria seus pertences e herança de volta. Sua mãe seria tratada melhor e com todo o conforto. Draco arranjaria os melhores medi-bruxos que o dinheiro pudesse comprar, ela melhoraria. Os dois voltariam para a mansão Malfoy e continuariam com suas vidas.


Nada estragaria sua felicidade.


- Está pronto, Draco? – chamou Pansy, aparecendo novamente.


- Mais pronto impossível – sorriu, confiante.


- Vários repórteres vão estar lá, se prepare para responder suas perguntas.


- Não quero ninguém tirando fotos da minha mãe ou atrapalhando minha visita, ouviu? – informou, sério. – Depois, darei entrevistas com prazer. Mas antes quero paz.


- Claro, claro!



Gina atravessou o saguão de entrada como um raio, mal registrando o que havia em sua frente, irritada demais para prestar atenção a meros detalhes. Parou na frente do balcão de atendimento.


- Onde está o quarto de Narcissa Mafoy? – perguntou sem demora para a enfermeira de plantão.


- Você é parente? – perguntou a mulher, sua expressão mostrando que claramente duvidava que Gina pertencia à família.


- Sou... Prima de terceiro grau... – não era exatamente uma mentira, todas as famílias mágicas eram ligadas de uma forma ou outra - ...De um primo distante dela...


- Sinto muito mas apenas parentes próximos podem visitar.


- Olha, eu não tenho tempo para essas coisas. Eu não vou nem entrar no quarto dela... Só me diz em que andar ela está, certo?


- Não posso...


- Ah, qual é! Não há nada de errado nisso! – falou, irritada, batendo a mão contra o balcão.


- Erm... Acho que não... Terceiro andar. Mas há uma comoção por lá... Parece que alguém famoso está visitando um parente.


- Ele vai visitar muito mais que um parente quando eu encontrar aquela fuinha – murmurou perigosamente, indo embora.



- Sr. Malfoy! Sr. Malfoy, como foi passar dois meses em Azkaban? A experiência mudou sua vida?


- Só aumentou minha determinação em curar minha mãe e provar minha inocência – respondeu, falso drama em seu tom. – Azkaban me ensinou a apreciar cada minuto de minha vida e agradecer por estar vivo e livre.


Uma série de cabeças assentiram, aprovando com gosto suas palavras. Penas correram para marcar tudo que falava. Draco apenas continuou sorrindo, muito satisfeito consigo mesmo. Era tão divertido como sempre imaginara. Só precisava dramatizar e florear suas palavras e todos estavam mais do que contentes em acreditar nelas.


Aquela série de perguntas o distraiu dos corredores de St. Mungos, evitando que pensasse seriamente sobre sua mãe. Mas agora finalmente chegara até a ala onde ela estava e os repórteres pararam, impedidos de continuar pela segurança do hospital, e agora apenas Pansy estava ao seu lado, à frente da porta onde Narcissa Malfoy e mais três pacientes estavam alojados.


- Eu tenho visitado ela sempre que posso, Draquinho.


- Obrigado Pansy – agradeceu com sinceridade. – Espere aqui fora.


- Tem certeza? Não quer que eu...


- Preciso fazer isso sozinho.


- Se é o que você prefere... Vou esperar aqui.


Draco assentiu, respirando fundo e abrindo a porta do quarto 101. Encontrou quatro camas simples, cada uma com cortinas rodeando para dar uma sensação de privacidade que não existia. Um dos pacientes gemia em voz baixa mas fora isso não havia outro som. Uma enfermeira anotava algo em uma prancheta ao pé de umas das camas, a única com a cortina recolhida. Na cama havia um homem de quase quarenta anos e aparência normal. Estava olhando para suas mãos e balançando a cabeça para frente e para trás sem parar.


Todos ali eram vítimas da maldição Cruciatus.


Draco engoliu seco. Lembrando das vezes que usara o feitiço... E das vezes que o sentira na pele. Fechou os olhos, respirando fundo.


- Posso ajudar? – uma voz o obrigou a abrir os olhos. – Sr...?


- Malfoy. Vim ver minha mãe – informou à enfermeira.


- Ah, sim. É a cama perto da janela – apontou. – Devo avisar que sua mãe não mostra qualquer reação a estímulos externos. Você pode conversar o quanto quiser mas não espere resposta. Vou deixar vocês à sós, qualquer coisa é só chamar.


A porta do quarto se fechou e Draco ficou parado, sozinho e relutante em se mover. Agora que finalmente chegara o momento não sabia se queria seguir em frente. Não sabia se conseguiria ver sua mãe presa à uma cama de hospital. Olhou na direção da janela, encarando as cortinas brancas que pertenciam à sua mãe.


Devagar, foi em sua direção. Relutantemente puxou a cortina que escondia a cama e viu sua mãe.


Ela estava do mesmo modo como lembrava. Seu rosto permanecia inalterado pelo tempo, mesmo depois de tudo que passaram. Era sua expressão que mudara.


Seus olhos azuis pálidos estavam arregalados e fitavam o nada. Seu rosto estava branco como um fantasma, pálido e inexpressivo.


Draco virou o rosto, incapaz de continuar a encarando. Aproximou-se da janela, que apresentava um dia de sol feito magicamente, olhando o reflexo de sua mãe no vidro.


Como podia ter acontecido? Era sua culpa? Se não tivesse fugido quem sabe poderia ter evitado que sofresse tanto... Provavelmente sua mãe não sabia se ele estava a salvo ou não, quem sabe não acreditava que havia morrido junto com seu pai, deixando-a sozinha e desesperada?


Notou os narcisos no vaso em cima do criado-mudo que ficava ao lado da cama, abriu um sorriso fraco. Pansy sempre teve um gosto péssimo para flores.


Sua mãe gostava de rosas vermelhas, quanto mais escuras melhor. Dizia que eram as únicas flores que retinham poder verdadeiro.


Virou-se, chegando mais perto da cama. Não sabia o que fazer. Devia falar algo? Ou ficar em silêncio? Pegar sua mão e dizer que tudo ia ficar bem? Ou ficar distante e contar sobre seus planos para uma nova vida?


No fim, permaneceu no mesmo lugar, incapaz de fazer outra coisa.


Por um longo tempo permaneceu assim, dezenas de pensamentos passando por sua mente. Pensamentos sobre o que poderia ter sido, o que deveria ter sido e o que realmente aconteceu. Como tinha sido idiota. Nada havia valido a pena.


Agora que não havia mais nada para se preocupar, nenhum sentimento de vingança, nenhuma necessidade de olhar por trás do ombro, sem mais medo de ser capturado, medo de memórias ruins em Azkaban, sem mais desejos de conseguir sua herança de volta, sem mais medo de visitar sua mãe... Agora que não havia mais nada disso em sua vida, finalmente percebeu o quanto estava sozinho.


Perdera seu pai e sua mãe. Há muito perdera a segurança de Hogwarts, a familiar rotina na Sonserina e seus amigos... Estava sozinho.


Rico, livre mas só.


Sentiu um frio em sua espinha. Pegou a mão gelada de sua mãe, sem que qualquer mudança se mostrasse no rosto dela.


- Mãe... Sinto sua falta. Não me deixe sozinho de novo, volte.


Não obteve resposta. Devagar soltou a mão dela e se afastou.



- Me deixe passar! – gritou, empurrando um bruxo.


- Apenas funcionários e parentes podem passar daqui. Vá embora, mocinha.


- Eu quero acabar com a raça daquele infeliz! Sai da minha frente!


- Não me force a te estuporar, menina! Vá embora! – repetiu, empurrando-a para trás com força.


Gina bateu as costas contra um repórter, espalhando suas anotações pelo chão.


- Olha o que você fez! Quem pensa que é? Você não é especial, vai ter ficar esperando por uma entrevista aqui assim como todos nós.


- Eu não quero uma entrevista com aquele imbecil! Quero quebrar o nariz dele! – gritou, apontando para o quarto onde Malfoy havia entrado.


O repórter a ignorou, continuando a recolher seus papéis.


Gina tentaria mais uma vez passar pelos seguranças quando a porta do quarto se abriu e dela o loiro saiu, Pansy Parkinson do seu lado. Todos os repórteres se agitaram, preparando câmeras e penas. Gina colocou a mão no bolso, segurando sua varinha firmemente.


Os seguranças se afastaram, dando espaço para os dois saírem. Em segundos Malfoy estava rodeado de abutres e suas penas.


- Sr.Malfoy, como se sente após ver o estado de sua mãe?


- O que você pretende fazer sobre a condição dela? Vai seguir os passos de seu pai e...


- Meu pai não tem nada a ver com isso! – gritou de repente Malfoy, surpreendendo por um instante o bando, que se recuperou rapidamente formulando novas perguntas.


- O senhor já foi ver o túmulo de seu pai?


- Como se sentiu ao vê-lo servindo Você-Sabe-Quem? Ele ameaçou sua mãe e você?


Gina observava tudo calmamente, esperando a oportunidade de chegar mais perto do imbecil, mas não deixou de reparar na reação feroz que Malfoy teve à menção de seu pai. Ele ia abrir a boca para provavelmente gritar com os repórteres quando Pansy interviu.


- Draco está muito cansado e perturbado com tudo que aconteceu. Não vai responder mais nenhuma pergunta. Vocês vão ficar sabendo tudo amanhã na primeira página do Profeta!


Isso não diminuiu a persistência do bando que continuou a fazer perguntas mesmo depois que Malfoy e Pansy haviam cortado caminho entre o grupo.


Agora nada além da cara de buldogue de Parkinson separavam Gina de Malfoy.


- Não ligue, Draquinho... É a fama... Ei!


Pansy foi empurrada contra a parede.


- Weasel? – perguntou Draco, surpreso.


- Seu verme! Como pôde falar todas aquelas mentiras sobre a Ordem!


- Foi muito fácil. E divertido – riu Malfoy. – Não gostou?


A resposta veio em forma de soco. Seu punho atingiu o lado esquerdo do rosto de Malfoy com uma força extraordinária.


- Isso é por ser um idiota filho de uma hipogrifa!


Sua raiva era tão forte que não percebeu os flashes das câmeras, batendo freneticamente, registrando a cena. Para deixá-la com mais raiva ainda, Malfoy se recuperou e abriu um sorriso.


- Parabéns, Weasel. Você acabou de provar que tudo o que eu falei era verdade, na frente de toda a imprensa do mundo mágico.


Arregalou os olhos, finalmente percebendo que todos os repórteres a olhavam com interesse e ansiedade, esperando o que faria novamente. Tudo que conseguiu foi permanecer estática, em choque.


Malfoy e Pansy passaram por ela, sorrindo largamente. E logo em seguida foi rodeada de malucos querendo conseguir mais notícias chocantes.


- É verdade que você foi quem prendeu e torturou Draco Malfoy?


- Acha que a Ordem sobreviverá a tudo isso? Quanto tempo acha que vai conseguir escapar da prisão?


- Você confirma os rumores de que Harry Potter está louco? É verdade que ele não dorme mais?


Gina tinha a leve sensação que se Harry não estivesse já louco ficaria muito em breve.



- Acabou, Gina. Você conseguiu! Destruiu definitivamente a Ordem!


- Mas...


- Conseguiu piorar ainda mais a situação que já estava péssima! É algum tipo de recorde, tenho certeza!


- Eu...


- Não bastava provar o que Malfoy falou, teve que fazer isso na frente de todos os repórteres da Inglaterra! Saiu atrás dele que nem uma louca! Não esperou que eu formulasse um plano, não pensou nas conseqüências... Como sempre.


- Harry, agora espere um...


- Já chega! Acabou. Você está fora da Ordem. Isso se restou alguma Ordem! Não quero ver você mais aqui. Vá pegar suas coisas.


- Não!


- Ah sim! Agora é sério. Quero você fora daqui até hoje de noite. Para sua própria segurança e da Ordem.


- Minha própria segurança? Se vai me expulsar pelo menos seja honesto uma vez! Isso não tem nada a ver com minha segurança!


- Você não entende, não? Você apareceu demais! Todos sabem, incluindo o Ministério, que você faz parte da Ordem. Não vai demorar muito até que você seja presa. Visitar Malfoy em Azkaban não é nada comparado a ter que passar meses lá, sozinha! Então, por favor, me ouça uma vez e deixe a Ordem para trás definitivamente.


Gina não se moveu, continuou com os braços cruzados, parada na frente de Harry. Ele estava da mesma forma, expressão grave no rosto. Eram incompatíveis, de alguma forma com o passar dos anos se tornaram totalmente diferentes um ao outro. Ou iguais demais. A única certeza que Gina tinha era que não agüentava mais. O dia anterior foi a gota d’água. Não suportaria mais ter que obedecer Harry ou sequer ouvir mais um de seus sermões.


- Quer saber? Você está certo. A Ordem acabou mas a muito tempo atrás. Quando você deixou de ser humano. E nada vale a pena agüentar a sua cara mais um dia.


Harry arregalou os olhos, sentido com as palavras dela.


- Se é isso o que você acha então realmente não temos mais o que conversar – respondeu, um pouco amargo.


- Não temos mesmo.


Ele descruzou os braços e a encarou, buscando algo perdido em seu rosto. Quando não achou nada passou por ela, mas antes de sair da sala falou:


- Aconselharia você a desaparecer por um tempo. Viajar seria uma boa idéia. Hermione e Rony não farão isso, seria suspeito demais. Apesar de o Ministério acreditar que fazem parte do grupo não têm provas. Ao contrário de nós dois.


Gina não respondeu mas teve que segurar para não virar e perguntar sobre Bellatrix. Quando o fez, Harry já tinha desaparecido.


Passou o resto do dia procurando suas coisas pela casa e se perguntando se tinha feito a coisa certa. Se realmente poderia deixar a Ordem tão facilmente depois de tudo que fizera para tentar ficar. Acabava sempre se convencendo que era o melhor a fazer. Enquanto Harry Potter estivesse na Ordem ela não queria estar junto.


Hermione a ajudou a empacotar suas coisas, fazendo máximo para animá-la, sem sucesso. Rony também resolveu se unir às duas, depois de Hermione fazer uma quantidade gigantesca de indiretas.


Gina não tinha muita coisa, a maioria de seus pertences estavam ainda seguros n’A Toca, ainda sim havia muito o que fazer.


- Não vai fazer diferença no fim, Gina – começou Rony, levitando alguns retratos para dentro de uma caixa. – A Ordem terminou de qualquer jeito. Culpa daquela fuinha desgraçada.


Hermione lhe deu um olhar de “você-não-está-ajudando”, que Rony ignorou.


- Não vai demorar até tudo voltar ao normal – tentou Hermione, com certa dificuldade, pois toda sua lógica indicava o contrário. – Quando os jornais deixarem o assunto em paz o Ministério vai esquecer também. E justo quando estiverem convencidos que nós desistimos voltamos à ativa.


- Parece um plano perfeito, Hermione – respondeu Gina, colocando algumas roupas em seu malão. – Mas eu não vou mais voltar à ativa.


- Harry vai reconsiderar...


- Eu não quero que reconsidere nada. Não quero nada mais dele.


Rony e Hermione se entreolharam, preocupados. Gina tentou ignorá-los ao máximo, sabia o que estavam pensando. Os dois haviam desenvolvido a habilidade, muitas vezes irritante, de discutirem a vida alheia à sós e chegar a uma conclusão juntos. Para pessoas que viviam brigando os dois tinham a capacidade de concordar muito facilmente quando o assunto não era eles mesmos. Gina acreditava que a razão disso era todos os momentos sozinhos que começaram a passar com o distanciamento, mesmo que pequeno, de Harry a partir do quinto ano. E, claro, a aproximação dos dois devido a seus sentimentos.


Ambos provavelmente haviam conversado sobre a situação entre Harry e ela, tirando conclusões que com certeza não a agradariam e que preferia não ouvir.


- Onde está Harry, afinal? – perguntou Rony, olhando para o corredor que dava aos quartos. – Sumiu o dia todo.


Hermione quase deu uma cotovelada em seu irmão.


Gina tentou continuar ignorando. Claro que percebeu que Harry a havia evitado o dia inteiro, se fechando em seu quarto e não saindo nem para as refeições. Ele costumava a fazer isso há um bom tempo, evitando todos durante o dia e andando pela casa sozinho durante à noite.


No começo Gina ficou preocupada com a atitude, lembrando de Sirius e Grimmauld Place. Mas com o tempo começou a encarar como algo normal, mesmo que um pouco sinistro. Harry sempre estava disposto a conversar com todos, sair em missões e conviver com os membros da Ordem normalmente. Era como se existissem duas pessoas separadas: o Harry normal de sempre, aquele que era gentil e educado, e o Harry sombrio que se trancava no quarto quando enfrentava alguma ameaça que só ele era capaz de ver.


O que estava enfrentando agora, naquele momento?


Preferindo parar de pensar nele, procurou mudar de assunto.


- E quanto a Bellatrix? O que vocês vão fazer?


- Nada – deu os ombros Rony. – Estamos meio ocupados no momento, não é? Você tem seu emprego fixo mas nós três temos que começar a procurar um urgente... E Harry pretende sair do país por um tempo. Temos muito o que fazer. Antes que aqueles idiotas do Ministério consigam nos pegar...


- Eu ainda acho que o que estamos fazendo não é a melhor alternativa – interrompeu Hermione. – Será mesmo que fugir é a melhor solução?


- Como assim? – perguntou, genuinamente curiosa, Gina.


- Antes de nos colocar em Azkaban o Ministério precisa fazer uma investigação e nos colocar em julgamento. Somos inocentes, tenho certeza que vamos ser capazes de provar isso.


- Você esquece, Hermione, que se podem inocentar Malfoy na cara de pau podem também nos provar culpados. Isso sendo verdade ou não – lembrou Rony, flutuando livros até a caixa mais próxima.


- Tem razão – suspirou Hermione. – Mas ainda não gosto da idéia de nos escondermos como criminosos.


- Ah, mas vocês dois não vão, não é mesmo? Eles só têm provas contra Harry e eu. Malfoy não viu vocês dois na sede e vocês nunca foram rastreados pelo Ministério. Só o que tem que fazer é sair daqui e arranjar emprego.


- Por enquanto. Mas não vai demorar até que inventem alguma evidência contra nós – concluiu Hermione, suspirando.


- E você, Gina? O que vai fazer?


- Não sei – respondeu sinceramente, ainda não tinha pensando nisso. – Tirar alguns dias de folga, falar que estou doente e ficar n'A Toca, acho. Não tenho dinheiro para fugir para lugares exóticos que nem Harry.


- Tenho certeza que ele pode levar você junto... Ou emprestar algum...


- Hermione, não já não falei que não quero nada com ele? – rugiu. – Não preciso de caridade, muito menos vinda dele.


Em resposta Rony balançou a cabeça e Hermione soltou um suspiro. Não agüentando os dois, Gina se levantou, jogando sem cuidado uma pilha de meias dentro de seu malão, e saiu do quarto bruscamente.


Quando estava no corredor parou para olhar a porta do quarto de Harry por um instante, se perguntando o que faria tanto enfiado naquele maldito lugar.


- Rony, estou preocupada com Harry... – a voz abafada de Hermione disse, chamando sua atenção.


- Eu também... Mas o que podemos fazer? Está tudo errado!


- Se ao menos os dois se entendessem... Ou tentassem! - murmurou, desanimada. – Mas não! Ele se fecha no quarto e ela fica cada vez mais com raiva dele!


- Nunca vi Harry assim... Ele está dormindo?


- Não. Ouço ele toda noite, vagueando pelos corredores. Está piorando. Agora é todo dia assim...


- Será que... Será que tem a ver com...?


- Não. Ele teria falado se fosse isso. É outra coisa.


A curiosidade de Gina foi grande e ela voltou para perto da porta do quarto de onde acabara de sair, observando os dois furtivamente. Estavam sentados juntos de mãos dadas.


- O que quer que seja... É grande.


- Não queria que ele fosse embora sozinho. Não acha que devíamos ir junto?


- Seria suspeito demais...


Hermione suspirou, colocando a cabeça no ombro de Rony.


- Teremos que nos separar também, não é? – perguntou em voz baixa.


Rony não respondeu.


- Não sei se vou agüentar ficar longe de você por muito tempo – sorriu fracamente Hermione.


- Nem eu, Mione – sorriu de volta Rony. – Que tal irmos para o Egito juntos? Ninguém nos acharia...


Hermione riu, beijando a bochecha, agora vermelha, do irmão de Gina.


- Eu adoraria visitar lá... Todos aqueles feitiços antigos e as histórias das maldições das pirâmides são tão fascinantes...


- Hermione, eu estava sugerindo uma viagem divertida, com muitos dias na cama...


- Ron! – protestou Hermione vermelha. – História é divertido!


Os dois riram, aproximando-se mais.


- Gostaria que Harry e Gina tivessem o que nós temos – murmurou Hermione, apertando mais a mão de Rony. – Eles parecem tão sozinhos.


- Isso é porque eles estão muito sozinhos. Aqueles dois deviam tomar jeito e...


- Não devemos intrometer. A vida é deles... Só podemos ajudar.


- É, eu sei – foi a vez de Rony suspirar.


Ficaram em silêncio e Gina começou a se afastar, achando que não falariam mais nada de interessante mas não antes de vê-los trocarem um beijo intenso.


- Vou sentir sua falta. Muito.


- Eu também. Eu te amo, Hermione Granger – confessou sorrindo.


- Eu também te amo, Rony Weasley – também sorriu.


Gina se distanciou, sentindo-se mal por ter presenciado uma cena tão pessoal. Não era seu lugar ficar ouvindo a conversa particular dos dois.


Não era apenas isso, porém. O que tinha ouvido a incomodou, mesmo não querendo admitir. Hermione estava certa, Gina se sentia sozinha e desejava ter o que os dois tinham. Não era algo que pensava freqüentemente mas estava lá sempre pronto para voltar à tona durante à noite, enquanto o sono não vinha.


E agora sem a Ordem... Cada vez mais a falta de alguém com que pudesse passar o tempo, dividir tristezas e lhe alegrar estava óbvia. Não um namorado qualquer mas sim alguém especial que a amasse verdadeiramente e com quem pudesse passar o resto de sua vida.


Foi até a cozinha para beber um copo d’água e afastar aqueles pensamentos ridículos, havia outras coisas com que se preocupar.


Como por exemplo: o que faria de sua vida agora?



Draco encarou o teto, notando o quanto era diferente de tudo o que vira nos últimos anos. Era um teto, para início de conversa. Não tinha teia de aranhas, bolor ou furos. E era de uma mansão tradicional mágica.


Sorriu.


Estava deitado na cama mais confortável que dormira. Depois de anos, sentir um travesseiro macio debaixo de sua cabeça era uma experiência única e fantástica. Jamais sentira tanta felicidade no simples ato de encostar a cabeça e sentir-se confortável.


Tinha acabado de deitar, depois de agüentar todas as indiretas de Pansy por horas. Como se estivesse interessado em saber que Nott não estava em casa aquela noite ou que o elfo-doméstico mostraria o caminho para o quarto dela.


Estava desesperado, claro. Mas logo que saiu de Azkaban recuperou boa parte de seu orgulho e não cairia na sedução barata de Pansy tão facilmente. Mulheres mais interessantes apareceriam conforme retomasse seu lugar de direito como herdeiro da fortuna Malfoy.


Agora só lhe restava dormir e descansar. Em poucos minutos com certeza estaria sonhando com sua fortuna e sua própria mansão...


A qualquer minuto agora...


Muito em breve...


Se virou para o lado, buscando uma posição mais confortável. Mal podia esperar para fechar os olhos e dormir bem pela primeira vez em muito tempo...


Logo estaria dormindo... Não demoraria... Um ou dois minutos...


Revirou para o outro lado, batendo levemente no travesseiro, ajeitando-o para melhor alojar sua cabeça.


Após o que pareceram horas Draco percebeu que não dormiria, muito menos sonharia. Encarou a escuridão, frustrado. Sua primeira noite livre e ainda sim não conseguia relaxar.


Fechou os olhos, tentando se forçar a dormir... Mas o que viu foi o rosto inexpressivo e pálido de sua mãe. Abriu rapidamente, como se levasse um choque.


Respirou fundo, virando para o outro lado e olhando pela janela do quarto mas o céu estrelado não lhe ofereceu conforto.


Estava entre a sensação de perigo e a de medo do que poderia vir a seguir. Passar a noite acordado foi algo que praticou muitas vezes na cela para evitar os pesadelos, porém de pouco adiantou já que as vozes e memórias começaram a surgir mesmo quando estava acordado. Mas não estava mais em Azkaban, não havia perigo ali ou razão para temer os dementadores.


Aquilo era ridículo. Merecia uma noite de sono decente depois de tudo que passara! Irritado, fechou os olhos novamente apenas para que a imagem de sua mãe estática na cama de hospital voltasse a assombrá-lo. Abriu os rapidamente.


Encarou o teto mais uma vez. Agora já não lhe parecia tão interessante e havia alguns pedaços da tinta descascando aqui e ali. Era sua impressão ou estava frio naquele maldito quarto?


Mas se estava frio por que estava suando?


Jogou longe uma das cobertas, batendo agora com mais força no travesseiro. Não adiantou, em poucos minutos a frustração foi tão grande que se levantou da cama, sentando na beirada. Colocou uma das mãos na testa, limpando o suor.


Precisava de uma bebida.


Tateou a escuridão em busca de sua varinha, encontrou-a em uma das gavetas no criado-mudo ao lado da cama. Sentiu-se um pouco mais calmo ao tocar o cabo personalizado, ao sentir as letras entalhadas que formavam “Draco Malfoy”. Com sua varinha acendeu as luzes do quarto.


O relógio da parede marcava três horas da madrugada. Pelo menos faltavam apenas outras três até que amanhecesse.


E o que faria quando o sol aparecesse? Estava cansado de ler suas entrevistas, de agüentar os avanços de Pansy e olhar o nada, vendo o rosto pálido de sua mãe.


Estava feliz por ter sua vida de volta. Mas a questão é que não havia muito o que ter de volta. Teria sua mansão e dinheiro outra vez, claro... Mansão que ficaria vazia a não ser por ele. Estava sozinho. Dinheiro que não teria onde ser gasto, pois nada do que realmente queria podia ser comprado.


Quando percebeu o que acabara de pensar, riu alto.


Estava ficando louco. Ou já ficara. Dinheiro era tudo o que sempre quis e em breve teria quantidades enormes de galões. Não precisava beber, estava apenas um pouco desacostumado com a cama confortável e as boas notícias.


Apagou as luzes e voltou a se deitar. Mas não tentou dormir, preferindo continuar a encarar o teto do que ver o rosto de sua mãe. Só finalmente fechou os olhos sem perceber depois que colocou sua varinha debaixo do travesseiro.



Bellatrix Lestrange aguçou sua visão, observando de longe um grupo de adolescentes saindo do Três Vassouras. Na mão de um deles havia uma cópia do que lembrava ser O Profeta Diário.


Esperando até que as tolas crianças se distanciassem da multidão, Bellatrix as seguiu em direção a Casa dos Gritos. Conversavam alegremente, ignorantes a bruxa que espreitava.


Há dias esperava uma oportunidade como aquela.


Precisava ler os jornais, seria a única maneira de saber quando o Lorde das Trevas voltaria. E onde estavam seus inimigos, para que se vingasse.


Um dos garotos jogou uma bola de neve contra um dos maiores, que respondeu com o punho. A menina que segurava o jornal se assuntou, gritando para que os dois parassem, quando os gritos histéricos não surtiram efeito ela saiu correndo para chamar ajuda.


Correu bem na direção de onde Bellatrix observava a cena. Sorrindo, Bella apontou sua varinha, esperando até a menina estivesse fora da vista dos outros dois, não foi difícil já que estavam ocupados quebrando os dentes um do outro.


Bellatrix saiu de seu esconderijo, colocando-se no caminho da menina loira.


- Você precisa me ajudar! Meus amigos estão brigando! Preciso chamar um professor e...


- Crucio!


Instantaneamente a menina caiu no chão, gritando de dor e deixando cair o Profeta. Enquanto se contorcia Bellatrix se abaixou, sorrindo, e pegou o papel.


- Obrigado – agradeceu sarcasticamente. – Cru...


Os xingamentos e ameaças dos dois garotos pararam, sinal que haviam ouvido os gritos daquela menina estúpida.


- Não podemos deixar que você conte para eles quem viu, não é mesmo? – sorriu. – Pena, queria ter me divertido mais um pouco. Avada Kedrava!


Os gritos de dor pararam no mesmo momento, o corpo da menina ficou estirando no chão, como se fosse feito de pano.


Sorrindo, Bellatrix desapareceu nas sombras, voltando para seu esconderijo temporário, uma caverna perto de Hogsmeade. Quando chegou em segurança a primeira coisa que fez foi ler o Profeta, ansiosa por notícias de seu mestre.


Ao invés encontrou outra coisa muito diferente.


“Draco Malfoy inocentado. Filho do Comensal Lúcio Malfoy afirma nunca ter apoiado Você-Sabe-Quem e conta como escapou da morte fingindo durante a Segunda Guerra...”


Foi dominada por um ódio tão grande que depois de ler a notícia inteira rasgou o jornal em vários pedaços, incendiando-os com sua varinha.


Seu sobrinho pagaria por aquela traição.



N/A: Ok minha gente, é o seguinte: quero reviews. Se vocês querem outro capítulo da fic, REVIEWS. Isso mesmo! Preciso desesperadamente de incentivo. Sexto livro minou minha confiança (mas não a inspiração, felizmente). Agradeço todas as reviews que recebi até agora, principalmente daquelas pessoas que sempre deixam uma a cada capítulo! Muito obrigada! A fic está chegando ao fim (5 capítulos mais ou menos) e preciso de reviews! Ok? Thanks :) Eu sempre perco a confiança quando chega os momentos críticos da trama, hahaha. Então: nada de capítulo até eu ter bastante reviews!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.