O poder invisível

O poder invisível



A senhora Weasley estava distraída na cozinha quando viu de relance alguém surgir na sala de sua casa e correr em direção aos quartos do andar superior. Assustada, estava para seguir o invasor e jogar um feitiço contra ele até que o ouviu gritar o nome de sua filha. Surpreendeu-se. Reconheceu a voz antes de identificar a figura.

- Harry?!

A mulher escutou uma porta ser aberta e fechada quase que no mesmo minuto. Em seguida, o bruxo desceu as escadas apressadamente.

- Onde ela está, senhora Weasley? Preciso ver a Gina agora.

- Ora, basta ver no relógio. Vê está escrito: viajando! Minha nossa, eu pensei que ela estivesse na Mione. Faz algumas horas que a Gina saiu daqui. Vamos esperar um pouco para ver o destino – disse Molly. – Enquanto isso, não quer um chá. Você parece nervoso...

- Lamento, mas não tenho tempo para isso – respondeu, esforçando-se para disfarçar a apreensão. Olhou para seu relógio de pulso, agoniado. Em seguida, focou-se no da parede da casa dos Wesley. – O que é aquilo?

O ponteiro apontou “desconhecido”. Sinal de que Gina estava em algum lugar protegido da curiosidade alheia. Um lugar inacessível para o encantamento do relógio. Uma ruga de preocupação se formou na testa da senhora Weasley.

- Onde se meteu essa menina? – espantou-se.

- Eu descubro – apressou-se. – Como faço para chegar à casa da Mione? Tem o endereço?

- Claro – replicou Molly, fazendo surgir em seus dedos um papel onde se via a letra de Hermione. Com um timbre perturbado na voz, a mulher prosseguiu. – É algo grave que te trouxe aqui, Harry? Posso ajudar?

- Não! – exclamou, sem dar tempo para que ela pensasse a qual das questões respondia. – Obrigado – e desaparatou.

Harry surgiu numa rua de Londres bastante discreta. Apesar disso, havia um trouxa voltando das compras. O sujeito o viu aparecer do nada e ficou tão espantado que deixou cair seu pacote enquanto arregalava os olhos e permanecia estático, quase sem respirar. Harry sacou a varinha e, ao passar por ele, tocou-o enquanto murmurava “Obliviate”. O rapaz seguiu adiante, abrindo rapidamente o portão de uma casa de esquina e o homem se abaixou para pegar as compras, completamente alheio ao fato que tinha testemunhado um bruxo aparatar.



*****

Narcisa Malfoy indicou uma poltrona para que Gina se sentasse. Havia um brilho em seu olhar enquanto examinava a jovem se ajeitando. Gina não se perturbou. Porém não gostou de ser analisada pela desdenhosa anfitriã como se ela fosse um objeto onde se buscam defeitos.

- O que a senhora tem para me dizer? Por que me chamou? – perguntou para iniciar logo a conversa e se livrar da mãe de Draco o mais breve possível.

- Eu estava pensando aqui o que o Draco viu em você. Mas já que você é direta, também vou ser. Ninguém nunca recusaria meu filho em sã consciência.

- Foi o Draco que pediu para a senhora me procurar?

- De jeito nenhum. Ele pode ter perdido o juízo ao escolher você, só que ainda se porta como um Malfoy! Nós não nos rastejamos.

- Rastejar me lembra cobra, que remete a Voldemort e que, por sua vez, me faz pensar em Comensais.

- E o que você pretende me dizendo essa bobagem? – inquiriu Narcisa Malfoy, com uma voz gelada.

- Eu queria conferir se o tema Comensais ainda é pertinente – respondeu com ironia.

- Não tente me provocar, senhorita Weasley. Você não me verá perder o controle em minha casa – replicou glacialmente. – Voltemos ao assunto principal, o que te fez terminar o relacionamento com meu filho?

- Imaginei que fosse seu desejo...

- E era. Mas quero entender. Deve haver algum bom motivo – semicerrou os olhos.

- O Draco, então, não contou para a senhora. Que pena! Ele não confia na própria mãe! Ou será que teve vergonha de falar?

- A senhorita não tem mesmo classe. Insiste em me provocar – retrucou Narcisa, com um tom irritado. – Ele não me contou. Pode se deleitar. Agora, explique-me as razões.

Narcisa fez surgir uma bandeja com xícaras, chá, copos de água, petiscos e um pequenino frasco fechado. Gina soltou um risinho.

- Grande dama é a senhora. É tão requintada em suas maneiras, mas tenta extrair de mim algo que seu filho não teve coragem de contar. É quase como me pedir para fazer fofoca. Onde está a sua classe?

- Sirva-se de chá, senhorita Weasley. Muito bem. Interprete as coisas da sua maneira. Só estou interessada no bem do meu filho – disse Narcisa, pegando uma xícara.

Fez-se um silêncio. Gina não se serviu de chá. Narcisa ergueu as sobrancelhas.

- Pode beber. Não mexi nas bebidas. Não coloquei Veritaserum.

- Não quero, obrigada – rebateu a garota secamente. Estava irritada. – Acho que não temos mais nada para conversar...

- Você não gostava do meu filho – disparou. – Tenho certeza disso! Há boatos circulando por aí. Seja sincera. Você traiu o Draco com outro homem!

- Basta! Não te devo satisfações – replicou Gina, com um ar indignado.

A jovem bruxa se levantou para ir embora, porém subitamente Narcisa deixou a xícara escapar de suas mãos, que se espatifou com estrondo no chão. Suas narinas se dilataram, a boca se curvou para baixo e duas lágrimas brilharam em seus olhos.

- Ele se foi. Partiu! Preciso ajudar meu filho – lamentou-se, com o corpo tremendo e o rosto contraído. Narcisa curvou-se para chorar amargamente.

Gina não sabia se aquilo era encenação. Tinha certeza que Narcisa idolatrava o filho. Porém desconfiava dela. “Ela quer me ridicularizar. Não duvido disso. Mas o que mais ela quer com esse choro?”, perguntava-se. A bruxa soluçou alto, escondendo o rosto entre as mãos. Os cabelos louros cobrindo sua cabeça, como se ela quisesse fugir ao olhar da garota. Gina suspirou e se aproximou.

- Perdi a confiança no Draco. Foi isso. Ele não foi correto comigo. Não havia a menor possibilidade de nós continuarmos juntos.

- Ele está sofrendo muito. Não sei o que vai acontecer com meu Draco – gemeu, com a respiração acelerada.

As mãos da bruxa estavam vermelhas pela intensidade das emoções. Narcisa parecia em choque. Ela ergueu a cabeça ligeiramente. Com a voz fraca e os dedos trêmulos, apontou o frasco na bandeja.

- Minha poção... por favor... eu preciso... não consigo respirar direito – arfou. – A-a-bra minha... Não con-consigo...

Imediatamente Gina pegou o frasco para socorrer a senhora Malfoy. Puxou a tampa e no mesmo instante um vapor amarelo subiu para seu rosto, tal uma explosão. A garota jogou o vidro no chão. Tossiu. A fumaça ardia e a garganta começava a se fechar. A vista escurecia.

- Maldita – murmurou, rouca, vendo Narcisa se erguer, triunfante.

A mulher sorriu e Gina tombou pesadamente.



*****

Rony contava para Hermione o que se passara na Confederação até que ouviu a campainha soar. “Talvez seja sua irmã”, afirmou a mulher, estranhando. O auror abriu a porta e Harry entrou como um foguete.

- A Gina está aqui? Ela voltou? – inquiriu um pouco pálido.

- Não. Ela saiu faz um tempinho – respondeu Hermione. – O que aconteceu, Harry?

- Para onde ela foi?

- Foi ver uns livros do curso de auror. E depois ia para a mansão Malfoy.

- Malfoy?! – perguntou, sentindo o sangue gelar. – Onde fica? Tenho de ir para lá agora...

- Não sei. Mas dá para consultar o guia bruxo – prontificou-se Hermione.

- Ei, o que isso significa, cara? – interrompeu Rony, observando a mulher abrir um livro que tinha conjurado no ato. – Por que essa pressa?

- Sua irmã está correndo perigo – confessou. Harry resumiu o que se passara na Cordilheira e o que Lovett lhe revelara. – Por isso, tenho de achar logo essa mansão dos diabos.

Hermione mordeu os lábios. Fechou o guia com um estrondo.

- E-e-eu já procurei três vezes. A casa deles não está no guia. Não dá para a gente aparatar direto. Ela deve ser protegida.

- Rony, a Gina recebe cartas do Malfoy?

- Ela destruiu todas. Logo depois da briga que eles tiveram – cortou Hermione, cada vez mais assustada.

- Eles brigaram? – surpreendeu-se Harry.

- É... Depois do que você fez, o Draco teve um ataque de ciúmes, mas esquece isso agora. Vamos pensar onde vamos arrumar esse endereço – apressou-se a jovem, andando de um lado para o outro.

- Dobby! – lembrou-se Harry. – Ele foi elfo doméstico dos Malfoy. Tenho de correr até Hogwarts!

- Você teria de aparatar em Hogsmeade e seguir todo o caminho a pé. Não se aparata em Hogwarts!

- Inferno! Eu sei! – berrou. – Só tinha me esquecido. Por Merlin, vou ficar maluco! – disparou, quebrando com a energia liberada as molduras dos quadros que decoravam a sala.

- Ei! Há um jeito de chegar lá. Mas antes é preciso passar em outro lugar – começou Rony. – Harry, você se lembra do convite para visitar Scottville, o condomínio dos bruxos ricos? Não é lá que mora uma prima dos Malfoy?

- Ingrid Fulton! – gritaram juntos Harry e Hermione.

Há muito tempo Harry tinha guardado o convite em seu baú. Concentrou-se, bateu com a varinha na palma da mão e fez surgir o papel dourado que liberava a entrada para Scottville. Os três viram o endereço e desaparataram ao mesmo tempo.



*****

Havia algo que tornava pesado o corpo de Gina Weasley. A garota abriu os olhos lentamente, procurando afastar a sensação de que algo a puxava para baixo. Zonza, ergueu a cabeça. Um repuxo no pescoço, porém, a alertou que havia alguma coisa estranha. O desconforto a despertou de vez. Ela levou as mãos à garganta e descobriu uma grossa chapa de ferro que a prendia como se estivesse usando uma coleira. Horrorizada com a situação, tentou arrancá-la. E novamente sentiu o repuxo. Virou o corpo para o outro lado e finalmente entendeu o que estava acontecendo. Estava presa. Uma corrente de brilho frio a prendia a uma coluna com um largo diâmetro. Arrastou-se para trás para ter mais liberdade de movimentos e conseguiu ficar de pé, segurando com as mãos a correia para ter alívio do peso. Um risinho fez com que percebesse que havia mais gente naquele ambiente totalmente desconhecido para ela.

- Ora, ora, a mocinha acordou. Gostou do enfeite que eu arrumei para você? – perguntou uma voz que não ouvia fazia tempos.

O coração de Gina disparou ao reconhecer Belatrix. A garota, porém, lutou para superar o choque. Sabia que não podia entregar os pontos diante da principal força das trevas. Tinha de encontrar um meio de escapar da Comensal. Como? Não imaginava. A garota lançou um olhar pelo lugar onde estava. Era escuro, sem janelas ou portas. Poderia ser um porão. “Mas sem entrada?”, perguntou-se, intrigada. Duas colunas grossas se destacavam naquele lugar. Em uma delas, um elo gigante estava afixado e nele se prendia a corrente que a mantinha cativa. A segunda coluna também tinha outro elo semelhante. “É uma espécie de calabouço”, desconfiou. Numa parede, havia uma lareira imensa. Nas demais, estantes largas com livros, caixas, objetos estranhos. Poucos móveis ocupavam espaço por ali. Entre eles, poltronas e uma mesa tão comprida que poderia receber pratos para um banquete. Num canto, via-se uma adega repleta de garrafas. Algumas tochas iluminavam o estranho recinto. E no alto das paredes, pequenos respiradouros, formando passagens de ar tão discretas que mal eram notadas. Definitivamente, não compreendia que lugar era aquele.

- Ah, pode olhar à vontade, queridinha. Sei o que está pensando e já vou me antecipando: não há como escapar. Se depender da vontade da Narcisa, você vai mofar aqui.

- Obrigada por me informar – agradeceu com sarcasmo, recuperando sua presença de espírito.

Gina experimentou desaparatar. Não deu certo. Convocou mentalmente a varinha. Ela não surgiu. Belatrix desatou a rir, percebendo que a jovem abrira a mão na espera de receber seu objeto mágico. Narcisa, que estava sentada numa poltrona ao lado da irmã, torceu os lábios, num sinal de desdém.

- Você é muito tola. Pensou que deixaríamos sua varinha à mão? Ela está bem guardada, lá em cima.

- O que é lá em cima?

Narcisa não se dignou a responder. Belatrix tomou a palavra.

- Estamos sob a mansão da minha querida irmã, mocinha. Mais precisamente num velho porão. Um lugar que apenas os Malfoy conhecem.

- Acredito – murmurou, sentindo que a situação era a mais difícil que já enfrentara.

- Claro que acredita! Aposto que já tentou encontrar coisas nesta casa no tempo em que se envolveu com meu sobrinho. Mas se o Ministério da Magia, que percorreu a casa inteira várias vezes, nunca conseguiu localizar este cantinho aqui não seria VOCÊ, ralé bruxa, que descobriria este... segredinho.

- Bem que eu imaginei que tinha sido convidada para vir até aqui para ser achincalhada – disse, com o rosto ruborizado pela raiva. – Como conseguiram esconder este lugar do Ministério?

- Você acha que vou te contar?! – ergueu-se Narcisa, visivelmente irritada.

- Por que não? Draco me contaria... – rebateu, devolvendo a irritação.

- Não se atreva a pronunciar de novo o nome do meu filho! Você fez com que Draco saísse de casa – espumou a senhora Malfoy.

- Você está muito sentida. Que exagero! – replicou com deboche.

Uma luz azulada saiu da varinha de Narcisa e arremessou a ruiva contra a coluna onde estava presa. O golpe duro a fez soltar um gemido. Suas pernas tremeram na tentativa de se erguer. Engoliu a dor, ficou de pé e ouviu Belatrix reclamar com a irmã que ela precisava da refém com um bom aspecto.

- Refém? É por isso que estou aqui? – perguntou entre dentes, ainda se recuperando da pancada.

- Por que mais nós iríamos te capturar? – retorquiu Belatrix. – Você só nos serve como refém. De outro modo, você não é nada! Seu irmão pelo menos é um auror, o que certamente vai me obrigar a enfrentá-lo um dia...

- Ele já te enfrentou! Está vivo e com um aspecto bem melhor do que o seu. Está para nascer o dia em que você vai superar um Weasley – desafiou temerariamente.

Um raio saiu da varinha de Narcisa. Gina abaixou-se a tempo de evitar o golpe. O feitiço acertou a coluna onde estava presa, fazendo uma parte se despedaçar com estrondo. Distraída pelos pedaços que voaram pelos ares, a garota mal conseguiu se desviar da segunda azaração disparada pela mãe de Draco. Atingida de raspão no ombro, foi arremessada para o lado e sentiu a corrente em seu pescoço puxá-la com violência, impedindo-a que fosse parar na outra ponta. Apesar de sentir muita dor, ergueu-se nos cotovelos para poder ver o que havia se passado. Calculou que a senhora Malfoy estava usando energia dobrada nos feitiços porque o jato do qual por pouco escapara destruíra mais uma parte da grossa coluna. “Ela está fervendo de ódio”, pensou, enquanto passava os dedos pela garganta magoada. Não conseguia atinar com o motivo de estar aprisionada. Seria por causa de Draco? O que ele teria falado para Narcisa? Esqueceu-se disso na seqüência porque o cenário de destruição provocado pela senhora Malfoy conseguiu enfurecer a Comensal.

- Cissy! – bronqueou. – Você pode acabar com tudo depois. Mas por enquanto a refém tem de ficar bem viva!

- Ela está sendo atrevida demais – rebateu Narcisa, com os olhos fuzilando a ruiva.

- Esqueça sua vingança por ora – ordenou Belatrix, tomando a varinha de irmã. – Mesmo que depois a gente dê um jeito para disfarçar os machucados, a princesa aqui precisa estar apresentável!

Gina voltou a ficar de pé, evitando gemer. “Tenho de ficar atenta. Não posso me machucar de novo”, refletiu. Suas costelas doíam horrivelmente. Desconfiava que estava com algum osso quebrado, mas não podia fazer nada contra isso. Disfarçou o desconforto. Queria saber qual era o real interesse nela.

- Grata pela consideração – disse com um leve tom irônico. – A quem vou me apresentar? Devo usar um vestido de gala?

- Não se preocupe com isso, queridinha. Nós cuidaremos disso. Não queremos que seu admirador te veja mal arrumada. Kreacher! – urrou.

No mesmo segundo, o elfo doméstico que um dia trabalhara para Sirius aparatou sob a lareira e se apresentou, solícito, para Belatrix. “Essa deve ser a entrada deste lugar. Só ali que deve ser possível aparatar”, imaginou, atenta à lareira.

- Milady! – murmurou o elfo.

- Guarde a varinha da senhora Malfoy. Não quero que o descontrole dela destrua minha chance de ter o Potter nas mãos. Depois, volte aqui. Posso precisar de você.

Enquanto Narcisa protestava aos brados e Kreacher desaparecia, Gina compreendeu de vez o que se passava. Belatrix tentaria atrair Harry e usá-la como isca. Empalideceu. “A profecia!”, assustou-se. Não tinha idéia de como Harry reagiria diante da armação da bruxa. Afinal, não sabia se o rapaz superara a mortal aversão pela Comensal. Até que ponto ele estaria livre do ódio e da ameaça da magia negra? A imagem da professora Trelawney falando com a voz de Cassandra veio a sua mente imediatamente. “Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas será dominado pelas sombras se outras marcas negras forem feitas em sua alma”. Gina estremeceu. Sua memória evocou outras palavras. “A maldição máxima o fará se perder. Uma vez mais e será o fim. Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas está condenado. Enquanto estiver mergulhado nas sombras, não haverá escapatória. Ele sucumbirá ao objeto do ódio”. Seu coração se estreitou. Gina tinha consciência que estava nas mãos do objeto do ódio de Harry.

A expressão mista de espanto e agonia não passou despercebida por Belatrix, que sorriu ironicamente.

- Sim, é atrás do Potter que eu estou. De que admirador achava que eu estava falando? – tripudiou.

- Draco – respondeu roucamente, esforçando-se para conter o turbilhão de emoções dentro dela. Não queria dar pistas de quanto Harry significava para ela. Nem quanto ela significava para o bruxo.

Narcisa se agitou ao ouvir a ruiva pronunciar de novo o nome de seu filho. A fúria dela estava mais evidente do que nunca. Com um gesto da mão, fez com que um copo que estava sobre a mesa voasse contra a garota. Gina saltou para o lado, fugindo da mira, porém Belatrix fez o copo desaparecer por magia no meio do caminho. A Comensal bufou, aborrecida mais uma vez com o descontrole de Narcisa que, por sua vez, gritava.

- Sua cínica! Não adianta fingir! Nós sabemos de tudo! O seu queridinho Potter... Foi por causa dele que você desprezou meu filho?!

- Não sei o que o Draco disse para vocês...

- Draco não tem nada a ver com isso!!! Chega de bancar a ingênua! Eu também estou perdendo a paciência, sua escória bruxa – interrompeu Belatrix. – Nós sabemos que o Potter fará qualquer coisa para te resgatar. Temos informações que nos garantem isso! Ah, pobrezinho, quantas noites ele vai perder olhando para o seu retrato, aquele que foi tirado em Hogwarts, se ele não vir em seu socorro?! Vai sofrer tanto que vai partir meu coração – ironizou.

- De onde você tirou isso? – perguntou, com a sensação que seu corpo inteiro gelava. Lembrava-se perfeitamente da fotografia. Era aquela que tinha dado no aniversário de Harry. “Como ela sabe do retrato? Nunca falei disso nem para o Draco”, alarmou-se.

Belatrix gargalhou tanto que nem mesmo a aparição de Kreacher a fez parar. O elfo doméstico deixou o vão da lareira e se colocou de prontidão ao lado de sua senhora. Narcisa também sorriu, cruelmente.

- Ah, essa história vale a pena contar – disse a Comensal, jogando-se na poltrona e fazendo surgir diante dela uma taça de vinho com um toque da varinha. Bebeu um gole e fez uma cara de satisfação. Estava tão segura de si que soltou a varinha no encosto de braço da poltrona. – Há anos estou atrás do seu queridinho. Mas aquele velho maldito, o amigo de Dumbledore, o esconde muito bem. E o seu Potter é um idiota tão completo que nunca percebeu o encantamento que ele fazia para blindar o pupilo. Mas depois de muito tempo um Comensal encontrou o fujão. Lovett, cuja identidade sempre protegemos porque era um auror, estava nos Estados Unidos quando eles apareceram. E para nossa infinita sorte o velho babão precisava de um assistente! Então, Lovett foi indicado e bingo!

- Lovett? Ele é o amigo...

- É o filho do colega de Lúcio. Graças à avó dele, uma autêntica bruxa pura-sangue, ele foi protegido esse tempo todo e só reapareceu na hora certa. A hora em que o Lorde das Trevas mais precisava. Naquela batalha em Nephasta, quando o maldito Potter se safou...

- Quando o Harry derrotou Voldemort, você quer dizer... ahhhhhhhhhhhhh!

Belatrix tinha voltado a pegar a varinha para lançar uma azaração contra Gina pela ousadia das palavras. A garota se chocou mais uma vez contra a coluna e sentiu que o reboco se soltava, expondo os tijolos. A dor nas costelas aumentou fortemente, mas ela conteve novos lamentos.

- Não me interrompa novamente ou vai ser a última coisa que você vai fazer! – vociferou. – Para resumir a história, sua garota estúpida, Lovett ficou à espreita o tempo todo, torcendo para encontrar uma pista do Potter e quando se juntou a ele tentou me avisar o que tinha conseguido. Assim que soube, determinei que meu espião descobrisse alguém que fosse realmente importante para o Potter, alguém que o fizesse agir cegamente, sem tempo de pensar, se estivesse em perigo. Alguém que ele amasse. E não podia ser um alvo óbvio, como o seu irmão ou aquela sangue-ruim porque Dumbledore estava atento. Teria de ser uma pessoa inesperada. Por um bom tempo, achamos que fosse a garota inca. Ah, você sabia que tem uma rival? – ironizou.

Gina não respondeu, entretanto, recordou-se da jovem morena que surgira na festa do casamento de Rony e Hermione. Por um segundo, seu coração ficou pesado.

- O interessante é que no dia em que Lovett deveria raptar a mocinha, ele descobriu o fujão olhando para um retrato. Ele desconfiou imediatamente do que seria. Depois, tentou entrar no quarto do Potter para pegar mais pistas e para isso teve de usar o velho inca. O homem resistiu o quanto pude, mas um bruxo das trevas sabe como convencer alguém – e riu baixinho. – Lovett perdeu a chance de capturar a mocinha, mas quando apareceu na festinha do seu irmão, ele descobriu a garota da foto, você! E assistiu toda aquela cena romântica do final! É por isso, Gina Weasley, que você está agora conosco. Em nossas mãos. Vamos te usar para atrair o Potter e desta vez eu tenho certeza que ele vai perder! Já tenho tudo preparado! Mas fique feliz – emendou com sarcasmo. – Podemos providenciar um enterro conjunto de vocês. Eu imagino que você queira partir desta vida ao lado do seu apaixonado herói...

A jovem bruxa estremeceu. Inspirou fundo, aterrada. De novo, as palavras de Cassandra a respeito de Harry ecoaram em sua mente. “O objeto do ódio não pode perecer por suas mãos. Mas se o objeto do ódio for afastado de seu caminho, haverá uma chance. Para isso, um grande sacrifício será cobrado” . Por um instante, rememorou o momento em que perguntara, desesperada, para a profetisa que sacrifício era aquele. “Só uma pessoa poderá responder. Aquela que é a sétima criança e a primeira mulher de muitas gerações de bruxos puro sangue”. Gina não tinha mais dúvidas. Seria dela o sacrifício. E subitamente o tremor passou. Lembrou-se de uma conversa que tivera com McKinley no passado. “Quem sabe que poderes você tem, minha querida? Ser a sétima criança e a primeira mulher em gerações são situações combinadas que podem formar uma mística incrível. Um dia você descobrirá do que é capaz”, dissera. Então, Gina sentiu que estava convicta do que faria. Olhou para a coluna onde estava presa e para a outra que estava próxima. Elas sustentavam o teto. E sem essas estruturas, o mundo viria abaixo. Dentro dela, algo vibrou. Arrancaria forças nem que fosse do inferno, mas daria um jeito! Não permitiria que Belatrix ameaçasse o homem que amava. O homem pelo qual estava disposta a dar sua vida.

- Você foi tão gentil, Belatrix, que só posso te pagar na mesma moeda – e sorriu com ironia.

A Comensal não captou a intenção de Gina. E quem poderia?



*****

Harry olhou para o relógio mais uma vez naquela tarde. O dia estava acabando e até aquele momento não conseguira se encontrar com Gina. Apresentou o cartão de ingresso em Scottville para um bruxo desconfiado. O homem liberou sua entrada, porém, depois de fazer uma careta para Rony e Hermione, não permitiu que o casal passasse pelo portão.

- Qual o problema? – perguntou Harry.

- Este cartão é velho. E não diz para quantas pessoas serve.

- E é exatamente por não limitar visitantes que meus amigos podem me acompanhar.

- Os cartões de hoje trazem limites. Como o seu é velho, ele não está dentro dos critérios atuais...

- Desculpe, senhor. Mas isso não é problema meu. Eu e meus amigos vamos entrar porque este cartão permite isso. E não há data de validade aqui. Então, não vou aceitar o seu veto. Vamos, Rony. Vamos, Mione. Estamos perdendo tempo...

- Não creio que a senhora Scott tenha chegado – resmungou o homem.

- Aqui diz que eu tenho livre acesso e eu vou fazer uso disso. Se ela não está, vou esperá-la nem que seja na calçada da casa dela – rebateu o rapaz, arrastando consigo os companheiros. – Arre, nunca moraria neste lugar! Até o porteiro é esnobe. Rápido, vocês dois. Temos de achar a casa de Ingrid Fulton.

- Harry, bata no convite com a varinha. Ele vai mostrar qual é a casa da senhora Scott. Ingrid não era vizinha dela?

- Às vezes eu me esqueço que você continua sendo a mesma Hermione Granger de sempre... – murmurou Harry, fazendo a indicação aparecer em letras douradas.

- Hermione Weasley, por favor – comentou Rony, pegando a mulher pela mão e seguindo as instruções do convite.

Num minuto descobriram a casa de Candice Scott num quarteirão arborizado. Olharam nos arredores e notaram que havia somente mais uma residência naquele quadrado. Os três correram até a porta e tocaram um pequeno sino que havia na entrada. Harry ergueu o pulso mais uma vez. Os minutos passavam.

- E se a velhota não estiver? – perguntou Rony, com um ar apreensivo.

Mas a porta se abriu e uma mulher magra, mirrada, com as faces encovadas e sem cor surgiu.

- A velhota está! – respondeu sem sorrir. Ingrid Fulton olhou atentamente para os jovens. Subitamente, enxergou a cicatriz em forma de raio na testa de Harry. Seus olhos se acenderam. – Ora, quem diria?! O famoso Harry Potter na minha casa. Como esperei por isso?

- O que a senhora quer dizer com isso? – estranhou o bruxo.

- Entre que te conto tudo.

- Não temos tempo, senhora. Preciso ir o mais rápido possível à mansão Malfoy.

- Eu também quero que você vá à casa dos Malfoy. Foi por isso que fiz chegar até você um recadinho por minha vizinha. Candie é tão imbecil que não consegue ver como eu a uso para resolver meus probleminhas – riu a mulher.

- A senhora sabia que ela mostraria a carta para o Harry? – espantou-se Hermione.

- Eu conheço Candie desde que ela era uma menina. Não consegue segurar a língua. Quer sempre se mostrar sabedora de tudo. Por isso, quando vi a nota que ela colocou na coluna social que tratava obviamente deste moço aqui, resolvi escrever logo um bilhete porque imaginei que a tonta daria um jeito de fazer chegar até ele. E eu não me enganei.

- Por que a senhora queria me passar aquele bilhete? Qual era seu interesse? – questionou Harry, começando a se sentir incomodado com Ingrid.

- Está na carta! Eu quero o meu camafeu! Já tentei de tudo para resgatá-lo. Eu imaginei que se você desse um jeito de prender meu primo, seria fácil conseguir de volta a minha herança. Mas Lúcio morreu e eu não consegui nada. Narcisa é pior do que ele.

- Posso ajudar a recuperar o camafeu. Para isso, terá de nos levar imediatamente para a mansão Malfoy. Agora!

Hermione puxou o braço de Harry, sobressaltada.

- Espere! Como pode ter certeza de que ela vai nos ajudar mesmo? E se isso for uma armadilha para te capturar?

- Eu não me importo! Temos de encontrar a Gina! – respondeu, resoluto. – E o tempo está passando.

- Ah, o tempo, sempre o tempo – murmurou a mulher, com uma voz bovina. A bruxa sacou a varinha das vestes, arrancou a folha de uma planta do jardim e a estendeu para os jovens. – Bem, senhorita, eu não ligo nem um pouco para o que vai acontecer com a Narcisa. Eu não a suporto. E agora vamos fazer uma pequena viagem com este portal. Eu detesto desaparatar...

Antes de segurar a folha entre seus dedos, Harry observou o relógio. A agonia aumentava. “Gina, por favor, esteja bem! Não se arrisque por nada. Por nada”, pensou, aflito. Tocou a chave do portal e sumiu com os demais.



*****

Belatrix ergueu as sobrancelhas. Não gostou do ar confiante da prisioneira. Gina ainda exibia um leve sorriso quando se virou para Narcisa.

- Estou vendo que não adianta mais esconder a verdade de vocês. Já sabem de tudo. A minha história com o Harry é antiga. E nunca deixou de existir. O Draco realmente teve de suportar uma carga bem pesada...

As narinas de Narcisa se dilataram. Uma ruga funda se formou na testa da senhora Malfoy. Belatrix semicerrou os olhos, procurando descobrir a razão daquela conversa.

- Eu não pude evitar. Quando traí Draco com o Harry foi quase...

- O QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO? – gritou Narcisa, com o rosto vermelho e os olhos injetados de sangue.

- Não pode ser! Eles não se viram nesse tempo todo em que Lovett esteve com McKinley – argumentou Belatrix, puxando a manga das vestes da irmã para fazê-la se sentar.

- Fisicamente, não estivemos juntos. Mas durante todo esse tempo foi sempre com Harry que eu estive – continuou Gina, com as pupilas fixas em Narcisa. – E Draco sabia disso. Ele sabia que jamais iria superar o Harry.

- NÃO OUSE COMPARAR MEU FILHO...

- Draco nunca será melhor do que o Harry!

Narcisa voou em direção à varinha que Belatrix deixara sobre o braço da poltrona. Pegou o objeto antes que sua irmã pudesse fazer alguma coisa e o apontou contra Gina.

- VOCÊ VAI MORRER! AVADA KEDAVRA!

Como Gina calculara, Narcisa estava tão furiosa que, antes de pronunciar a maldição, traiu seu desejo secreto ao arregalar os olhos, demonstrando uma expressão ensandecida. A garota estava preparada para o movimento e se desviou a tempo, saindo de frente da coluna onde estava presa. A energia da maldição imperdoável arrebentou metade da estrutura e quebrou a corrente que prendia a ruiva. Gina correu para a outra coluna, desejando que Narcisa arremessasse logo um novo feitiço contra ela. Mas Belatrix saltou sobre a irmã, lutando para recuperar sua varinha.

- Cissy, você perdeu o juízo! Eu preciso dela viva!

Narcisa desvencilhou-se de Belatrix, com uma azaração que lançou a Comensal para trás. Kreacher segurou sua senhora para que ela não se ferisse. E a senhora Malfoy voltou a jogar a maldição sobre Gina. Ágil como nos bons tempos de quadribol, a jovem bruxa escapou mais uma vez. Narcisa atingiu a coluna que antes estava intacta e que agora estava parcialmente destruída. “Ainda falta um pouco”, raciocinou Gina, escondendo-se atrás da estrutura.

- Narcisa Malfoy, se ousar me desobedecer mais uma vez é o seu fim – decretou Belatrix, que se recuperara e se agarrara ao braço da irmã, retomando sua varinha.

Gina percebeu que não havia mais tempo para tentar usar o descontrole de Narcisa em seu favor. Olhou para suas mãos feridas nos destroços das duas colunas. Um corte profundo fazia com que seu sangue escorresse pelo braço. “Chegou o momento”, pensou. Fechou os olhos. Concentrou-se. Precisava de todas suas energias. Sem a varinha, nunca fizera nada parecido, porém tinha de confiar em seus poderes. Tinha de confiar em sua força interior. Uma vez uma mulher se sacrificara por Harry e o salvara de Voldemort. Era a sua vez. Uma energia brotou em seu peito.

- Por Merlin, não vou te abandonar a essa sina maldita, Harry! – gemeu, sentindo as lágrimas brotarem.

Num impulso, ficou de pé. Apontou sua mão para o que restava da primeira coluna. E a plenos pulmões bradou o que tinha de ser feito.

- REDUCTO!

Um jorro de luz branca se abateu sobre a coluna, eliminando o que restava dela. Belatrix lançou um feitiço contra a garota. No entanto, ela se defendeu conjurando um escudo com as mãos nuas. Sem o apoio da coluna, o teto começou a ruir. Narcisa soltou um grito ao ser atingida pelos primeiros destroços. Belatrix correu em direção à lareira. Gina aproveitou o momento para roubar a varinha. Convocou-a, usando o resto de energia que havia em seu corpo. Imediatamente, arremessou uma azaração tão violenta contra a passagem encantada que ela explodiu em inúmeros pedaços. Kreacher pulou sobre a jovem e com as unhas feriu sua mão para recuperar a varinha de sua senhora. “Consegui, milady”, disse, num esgar de triunfo. O elfo não conseguiu, entretanto, dar mais que um passo. Gina o golpeou com o que restara da corrente. Então, ouviu-se o som da segunda coluna trincando.

- Olhe o que você fez! Nós seremos enterradas – urrou Belatrix.

- Seremos! – respondeu Gina, atirando-se debaixo da mesa numa fração de segundo antes que a estrutura cedesse.

O teto desmoronou tão rapidamente que só houve tempo para que Belatrix soltasse um último grito e para que Gina segurasse a medalhinha entre os dedos. Pensou em Harry quando pressentiu que aquilo era o fim. O fim da profecia. E tudo escureceu.



*****

- Chegamos. Esta é a entrada da mansão dos Malfoy – disse Ingrid, mostrando com o indicador uma alameda de pinheiros gigantescos que enfeitavam uma estradinha sinuosa. – Nunca apreciei o desenho deste caminho. Isso me lembra uma serpente rastejando. Brrr, serpentes me arrepiam. E esta estrada nunca nos dá uma visão da casa, exceto quando estamos bem pertinho dela.

- Gina nunca me falou de estrada nenhuma! – despachou Hermione, zangada e sacando a varinha. – Você está nos enganando.

- Não estou, não. A sua amiga devia aparatar em frente à porta. Mas a gente tem de aparecer de surpresa, senão Narcisa pode esconder o camafeu. Por isso, optei por abrir o portal a 500 metros da casa...

- Maldição! – urrou Harry e disparou adiante. – Eu disse que não temos tempo.

De repente, a terra estremeceu sob seus pés e um som assustador fez com que todos parassem por um segundo. Aves voaram para diferentes direções, como se fugissem. Uma nuvem de pó surgiu no alto das árvores.

- Algo aconteceu na mansão. Essa nuvem está exatamente na direção da casa do meu primo!

Os três correram, deixando a velha bruxa para trás. Harry foi o primeiro a chegar. No que, ele não podia supor. O pó atrapalhava a visão. Com a varinha, fez com que a nuvem se dissipasse e seu coração bateu acelerado. Havia uma cratera no chão, que engolira metade do que deveria ter sido a mansão Malfoy. Hermione gritou, aterrorizada.

- Gina! – urrou Rony, circundando a cratera, sem ter idéia do que fazer.

Pálido, Harry ergueu a varinha e apontou para uma região, removendo parte dos escombros. No entanto, a terra se deslocou.

- Não, Harry! Você não pode deslocar a terra desse jeito. Isso pode fazer outra parte desmoronar – gemeu Hermione. – Ou removemos os destroços com cuidado ou podemos acabar com o que resta da vida de alguém. E nem pensa em fazer tudo sumir. Não sabemos onde Gina está!

Harry e Hermione passaram a retirar as camadas aos poucos, com medo de piorar a situação.

- Vocês! – gritou Rony, apontando o dedo para dois elfos domésticos que saíram dos restos da mansão que ainda estavam de pé. – Sabem onde está uma moça de cabelos vermelhos? O que diabos aconteceu aqui?

- A ruiva foi levada para a sala escondida. Ela ficava debaixo do hall de entrada da mansão. O hall das duas colunas. Mas nós não sabemos o que aconteceu. Do nada, a casa caiu... – sussurrou um dos elfos. – As senhoras estavam lá, junto com a ruiva. As senhoras e Kreacher.

- Ajudem-nos aqui! – ordenou Mione.

Mas Harry estacou.

- Que senhoras?

- As senhoras Lestrange e Malfoy. Elas levaram a moça para a sala escondida.

- Sala escondida? Eu sabia, eu sabia – cortou Ingrid, que finalmente tinha chegado ao local. – Muito bem, senhor Potter. Use algum feitiço localizador para encontrar meu camafeu. Sei que o senhor é muito poderoso e terá capacidade de achar minha herança, não é?!

O sangue voltou a circular nas veias de Harry.

- É isso. Eu posso localizar a Gina! – e puxou a medalhinha para fora da camisa. Abriu o compartimento secreto e jogou em sua mão a mecha de fios vermelhos que a jovem lhe dera no passado. Agitou a varinha no ar e bradou – Oriundi!

Uma bola de cristal surgiu, envolvendo a mecha. Em seguida, elevou-se nas alturas e voou em direção ao centro da cratera. Adentrou a terra, abrindo caminho no meio dos destroços e fazendo surgir um rastro de luz branca. Harry pulou na cratera e perto da pequenina fenda aberta pela bola, lançou um feitiço para remover o entulho.

- Criem uma barreira para impedir que a terra desbarranque onde eu estiver retirando os destroços – ordenou.

Rony e Hermione balançaram a cabeça e dispararam jatos de contenção com suas varinhas. Harry retirou uma, duas, três camadas até que encontrou uma estrutura lisa, de madeira. A bola de cristal batia sobre ela, sem conseguir atravessá-la. Era uma mesa. Harry a fez desaparecer e sua alma sofreu um solavanco. Lá estava Gina. Mordeu os lábios e segurou a vontade de pular no buraco aberto para abraçá-la. Com cuidado, ergueu a jovem no ar e a transportou até o lugar onde estava Hermione.

- Faça alguma coisa, Mione – pediu, desesperado, correndo de volta para a beira da cratera.

Hermione abaixou-se sobre a cunhada, mediu a pulsação e arregalou os olhos.

- Ela está gelada... – soluçou.

- Eu não perguntei isso! Faça alguma coisa já! – urrou Harry, escalando a parede da cratera e fazendo força para retornar à superfície.

Rony pousou uma mão sobre o ombro de Hermione para transmitir segurança à mulher. A garota puxou das vestes uma caixinha com poções. Com a ajuda do marido, despejou o conteúdo de uma garrafinha na boca de Gina, inerte e branca como um fantasma. Ingrid se aproximou antes que Harry pudesse chegar perto.

- Ih, isso não tem mais jeito. Está morta!

- NÃO ESTÁ – rebateu Harry, afastando a mulher com um empurrão. Ele tocou o rosto de Gina. Estava frio. – Mione...

- Posso dar outra poção, mas Harry eu não sei... Os sinais vitais estão fracos demais. Podemos removê-la agora para St. Mungus, só que não dá para garantir que ela vai resistir à viagem. Desconfio que não... – disse Hermione, com as lágrimas escorrendo pelo rosto.

- Tem de existir um jeito – desesperou-se Rony. – Continue dando a poção, Mione. E, por mil dragões, Gininha, você tem de resistir! Prometo que faço tudo o que me pedir...

Harry segurou a mão de Gina, tremendo por inteiro. Rony segurou a cabeça da irmã enquanto Hermione administrava outra garrafa com uma poção diferente. Subitamente, Harry se recordou de Tupai diante do puma. Sim, havia uma chance. Remota, mas havia. Usou toda sua energia para invocar mentalmente os espíritos da natureza. No primeiro momento, nada notou. Insistiu. Faria qualquer coisa por Gina. Seu coração se inundou de emoção.

- “Por favor, espíritos da natureza, eu os convoco. Atendam meu chamado. Em nome de tudo há de mais sagrado neste mundo, eu suplico. Em nome da mulher que amo, eu peço que apareçam”.

A atmosfera se transformou no mesmo instante. Rony e Hermione continuavam batalhando para reanimar Gina com poções. Mas em torno deles brilhavam auras coloridas. Assombrou-se no princípio. Olhou para trás e viu Ingrid com uma aura pequenina e com poucas cores. Baixou a vista para Gina. Uma luz branca contornava o corpo da jovem, mas estava escapando aos poucos, transformando-se em pequeninas fagulhas claras que subiam ao céu.

- “Não!” – assustou-se.

- Você disse algo, Harry? – perguntou Hermione, surpresa.

- Ele parece estar em transe – murmurou Rony. – O Harry está olhando para frente, como se estivesse vendo alguém. Nossa, senti um arrepio!

- Ele deve ter endoidecido – resmungou Ingrid, que não sentiu nada.

De fato, diante de Harry tinham acabado de surgir formas luminosas que ele não conseguia definir o que eram. Tinham mais ou menos a altura dele.

- “Vocês são os espíritos da natureza?” – perguntou mentalmente.

- “Somos alguns deles. Há muitos espalhados pelo planeta. Para que nos chamou? Você sabe que não surgimos para atender simples pedidos” – respondeu um dos seres de luz, que exibia tons de terra na ponta de seus pés e dedos.

- “Meu pedido não é simples. E não é para mim. Por favor, ajudem esta moça. Ela precisa resistir mais tempo para podermos transportá-la com segurança para nosso hospital”.

Um dos seres se aproximou de Gina. Um leve tom esverdeado emanava de suas mãos. Com a ponta dos dedos, tocou algumas das fagulhas claras que se desprendiam do corpo da garota.

- “Não resta muita energia nesta jovem. Ela usou grande parte de suas forças para executar uma magia além do que poderia fazer”.

- “O que isso significa?” – perguntou, cada vez mais agoniado, segurando com ternura a mão da mulher amada.

Um espírito em que se via nuances de cor azul falou com uma voz macia como o murmúrio de um riacho.

- “Sem saber, ela recorreu à magia do que você conhece como sétimo elemento. Assim como sua mãe o fez quando você era um bebê. Ela usou o poder do espírito, o poder invisível”.

- “Vejam. Ela está partindo” – observou o primeiro espírito, apontando para a aura de Gina, tão fraca que lembrava uma névoa matutina. As fagulhas subindo mansamente pelo ar.

Harry chorou em silêncio. Beijou a mão adorada.

- “Por favor, ajudem esta moça. Porque sem ela eu não posso viver. Eu me ofereço para ir no lugar dela”.

Os espíritos não responderam. No entanto, Harry sentiu algo se soltar de seu corpo. Teve a impressão que sua mão esquentava. Uma onda de energia se desprendeu e ele descobriu que parte dela avançava sobre a aura de Gina a partir de suas mãos unidas. Entendeu, por fim, do que se tratava. Sua própria aura, colorida e vibrante como a de seus amigos, tingia o halo que cobria a jovem Weasley.

- Rony, Rony... – chamou Hermione, indicando Harry. – Ele está tremendo.

- Eu sei. Cara, você está bem... – começou.

Instintivamente, Hermione puxou o braço de Rony.

- Não, Rony. Alguma coisa está acontecendo e isso está além do que nós podemos compreender agora. Vamos deixar com o Harry.

- O-ok. Mione, estou tendo visões ou há uma luz escapando da mão do Harry?

- Eu... eu também estou vendo...

- Eu não vejo nada! – indignou-se Ingrid. – O que há com vocês? Aliás, vão demorar muito aí? Não me levem a mal, mas a menina está morta. M, o, r, t, a. Morta! Enquanto isso, meu camafeu deve estar debaixo desse monte de terra e eu vou ter de ficar esperando pela boa vontade de vocês.

- Psiu! – falaram juntos Rony e Hermione, querendo prestar a devida atenção ao que estava ocorrendo.

Harry estava se sentindo fraco. A vista escurecia. Sua respiração falhava. E nem assim quis quebrar o contato com Gina. O espírito de dedos verdes se pronunciou.

- “Basta! Com a energia vital que você transferiu para ela, a moça terá condições de ser tratada por sua gente”.

- “Posso transferir mais. Posso transferir tudo...

- “Não é necessário. Ela sobreviverá. Agora, solte-a”.

Com relutância, Harry libertou a mão de Gina. Tinha a impressão que iria desmaiar a qualquer minuto.

- “Quero agradecer a vocês, espíritos da natureza. Vocês salvaram a minha garota”.

- “Não, Harry. Você a salvou. Quando você ofereceu a sua vida, ofereceu tudo o que tinha. Teu espírito é forte e você soube usá-lo em benefício de outra pessoa. É uma grande dádiva doar-se por amar alguém”.

Antes que Harry pudesse dizer mais uma vez “obrigado”, os espíritos se foram. A atmosfera recuperou o aspecto original e o rapaz viu que Rony e Hermione o olhavam com espanto.

- Cara, você...

- Como está a Gina? – perguntou com a voz fraca.

- Ela reagiu, Harry. Podemos levá-la agora. Mas você não parece bem – salientou Hermione.

- Abra um portal, Mione. Não tenho forças para aparatar em St. Mungus. Vamos juntos com a Gina.

- E o meu camafeu? – grasnou Ingrid.

Rony soltou um longo suspiro. Embora estivesse aflito com o estado da irmã e também com a estranha fraqueza de Harry, prontificou-se a resolver aquele problema.

- Ah, muito bem! Eu fico aqui e resolvo tudo. Senhora Fulton, tenha paciência e vamos encontrar o maldito camafeu.

- Não é maldito. É herança da minha avó Malfoy.

- Já sei, já sei – disse, bufando. E se virou para a mulher e o amigo - Andem logo. Vão embora antes que eu me arrependa.

Hermione pegou uma pedra do chão, colocou em sua palma da mão e fez com que os dedos da cunhada tocassem na superfície. E por cima deles Harry pousou sua mão. Desaparecem rapidamente. Rony olhou para os arredores de onde estava. O sol se punha. Viu que os dois elfos da mansão destroçada permaneciam ali, quietos.

- Ei, a senhora Malfoy ainda pode dar ordens para vocês?

Um dos elfos domésticos parou para pensar e de repente seu rosto se iluminou.

- Oh, ela não pode mais.

- Isso significa que a mulher se foi, não é?! Então, podem usufruir da liberdade a partir deste minuto. Vão viver a vida.

Os elfos não esperaram mais nada. Ploc. Ploc. Tinham sumido. Ingrid resmungou mais uma vez.

- Você ao menos podia ter esperado até acharmos o camafeu. Eles podiam nos ajudar.

Rony voltou a observar o canto onde tinham socorrido sua irmã. Estava tão sensibilizado pelo misterioso momento que presenciara que não teve raiva de Ingrid, e sim compaixão pela bruxa.

- Senhora Fulton, não sejamos mesquinhos. Algo de extraordinário aconteceu hoje e eu não desejo de forma alguma macular meu estado de espírito. Ah, sim, claro, vamos ao seu queridíssimo camafeu!

Arregaçou as mangas e suspirou. Ao menos, seu coração dizia que sua irmã estava salva.



*****

Três dias tinham se passado desde que Gina fora internada em St. Mungus. E até o momento, ela ainda não recuperara a consciência. Os medibruxos diziam que era caso de se ter paciência. “Ela está bem fisicamente, mas suportou uma carga pesada demais. Imaginem só: a mansão dos Malfoy era imensa”, declarara o chefe dos especialistas. Harry se angustiava com a demora, mas não podia fazer mais nada.

Seus amigos tentavam persuadi-lo a continuar tocando a vida enquanto esperava pela recuperação plena da ruiva. Porém era difícil convencê-lo. Primeiro porque ele não queria sair de perto de Gina. Segundo porque não se interessava pela maioria dos assuntos. McKinley conseguira dobrá-lo num ponto: o exame para auror. Harry se apresentara ao Ministério da Magia dois dias depois de ter aparecido em St. Mungus. Fizera um excelente teste. Entretanto, estava tão concentrado em Gina que não superou a marca obtida por Rony. Quando soube disso, sorriu pela primeira vez desde a triste tarde em que quase perdera o amor de sua vida. “Fico realmente feliz pelo Rony. Ele virou referência para todos nós, aurores”.

No dia seguinte, foi “arrancado” de novo do quarto de Gina. Dumbledore o havia convocado para uma reunião no largo Grimmauld. Harry relutara em se dirigir até o lugar, aceitando o convite apenas porque tinha sido feito pelo professor. A casa da família Black estava completamente abandonada. E foi naquele ambiente deteriorado que o diretor de Hogwarts contou a Harry o teor da segunda profecia, explicando detalhe por detalhe porque se tornara tão imperioso afastá-lo de Belatrix. O jovem bruxo quase perdeu o ar ao compreender tudo o que passara nos últimos anos e o que fizera com que os outros passassem, especialmente a pessoa que mais lhe importava. “Sou um miserável. Não mereço viver! Fiz a Gina sofrer tanto”, lamentou-se, com dor sincera. Dumbledore deu um tapa amistoso em suas costas.

- Tudo vai melhorar daqui por diante, Harry. Belatrix não existe mais. Nem Narcisa. E nem o jovem Lovett, que Thelonius encontrou no fundo de um vale nos Andes. As maiores ameaças a nossa paz não vão mais nos prejudicar.

- Mas bruxos das trevas continuam por aí, professor. A ameaça não acabou.

- Quem sabe um dia, Harry, nós possamos nos livrar das sombras. E, falando em sombras, está na hora de você dar um jeito nesta casa.

- Por que eu?

- Porque Sirius te deixou esta casa como herança. Estava em seu testamento. Este lugar somente não foi logo para você porque Belatrix e Narcisa, parentes de Sirius, ainda podiam pleitear esta residência e o domínio sobre Kreacher.

- Eu não quero esta casa. E Kreacher deixou este mundo.

- Harry, uma coisa você não percebeu. Aparentemente, o feitiço permanente que a senhora Black jogou sobre esta casa foi vinculado à existência de alguma mulher ligada à família. Com as mortes de Belatrix e Narcisa, o feitiço se rompeu. A casa está livre.

- Isso não muda o fato que Sirius odiava este lugar.

- Ele odiava por todas as más lembranças contidas nesta casa. Minha sugestão é que você mude a aura deste lugar. Do ódio a algo mais digno, no mínimo. E lembre-se de um detalhe: enquanto vocês partilharam esse espaço, Sirius se sentiu feliz. Dê uma chance para esta casa e a transforme num lar.

As palavras de Dumbledore trouxeram um novo ânimo para Harry. De qualquer modo, precisava conversar com Gina a esse respeito.



*****

A senhora Weasley fez questão de dormir na cama extra do quarto de Gina naquela noite. Harry bem que tentara protestar, mas a mulher tinha sido enfática.

- Há três noites que você não dorme direito, rapaz! Pensa que não sei. As enfermeiras me contam tudo.

- É que eu gostaria de estar ao lado da Gina na hora em que ela acordar.

- Se continuar desse jeito, quem não vai acordar será você. Deixe comigo, Harry. Assim que ela despertar, eu te aviso.

A contragosto, o rapaz desaparatou e foi para a Toca, onde de fato adormeceu assim que se deitou na cama. Estava exausto. A senhora Weasley tricotou um pouco e cochilou depois de algumas horas. A enfermeira do plantão tinha acabado de entrar para verificar como estava a paciente quando viu Gina mover a cabeça repentinamente. Ela tinha murmurado o nome de Harry, porém a mulher não teve capacidade de interpretar o que dissera.

No dia seguinte, ao providenciar o café da manhã de Gina, a mesma enfermeira – que era nova em St. Mungus – escutou a jovem resmungar qualquer coisa. Pela segunda vez, tinha sido “Harry”. A bruxa, no entanto, não conseguira identificar o que era. Por volta da hora do almoço, ela retornou ao quarto. A senhora Weasley conversava com suas noras Penny e Fleur. Cansada por ter virado a noite e ainda não ter sido liberada por conta de uma confusão com a funcionária que iria substituí-la, a enfermeira estava com a atenção diminuída. Examinou Gina e percebeu que a paciente murmurara outra vez. A senhora Weasley deu um salto.

- A Gina disse alguma coisa?

- Ela fez barulho – respondeu a bruxa de St. Mungus. – Sua filha é de resmungar? Porque se não é, virou. A noite inteira ele ficou chamando uma pessoa.

- Quem? – perguntou Penny.

- Um minuto! Tenho de dar esta poção e não posso me distrair – respondeu a enfermeira, ansiosa para escapar daquela situação que criara. Não tinha conseguido ouvir o nome.

As mulheres ficaram quietas, esperando a enfermeira terminar de fazer o serviço. Nesse instante, ouviram batidas à porta. A senhora Weasley a abriu com um estalar de dedos e Harry entrou no quarto com a cara de quem perdera um compromisso importante.

- Perdão! Dormi demais. Acordei agora há pouco. Como a Gina está?

- Não se aflija, filho – emendou a senhora Weasley. – Você estava precisando mesmo de uma boa noite de sono. E até eu dormi que nem uma pedra. A enfermeira disse que a Gina andou falando coisas à noite e eu nem percebi.

- O que ela falou?

- Não sei...

A senhora Weasley ficou vermelha, envergonhada de ter perdido esses momentos. Harry se aproximou da garota para tocar-lhe a mão, como fazia constantemente desde que decidira não sair de perto dela. O rosto dela ainda estava pálido, mas estava sereno.

Penny cochichou junto à sogra que era bonito ver a dedicação de Harry. A senhora Weasley concordou com um sorriso. “Palavra, minha querida! Ele é um homem como poucos”, murmurou. Ambas ficaram entretidas observando o quadro. Alheio à conversa, Harry tocou nos cabelos vermelhos, afastando uma mecha do rosto de Gina, assim que a enfermeira terminou de dar a poção. A mulher fez um sinal com a cabeça, despedindo-se.

- Espere! – disse Harry, subitamente.

Gina se moveu. Seu rosto se contraiu. A senhora Weasley e as noras ficaram de pé, juntando-se a Harry e a enfermeira à beira do leito. Os cinco aguardaram, na expectativa que a paciente despertasse. Porém, ela apenas entreabriu os lábios e balbuciou numa voz fraca um nome que todos captaram.

- Draco...

Foi um choque para Harry.

- Foi esse o nome que ela chamou a noite inteira. Eu ia contar mesmo, mas me distraí – mentiu a enfermeira. – Ahn, não é esse o noivo dela? Alguém me falou isso. Ou será que eu li na coluna social do Profeta Diário?

- Afastem-se. Deixem a Gina descansar – pediu Harry, ainda atônito.

- Não pode ser o Draco. A Gina brigou com ele – rebateu a senhora Weasley, com uma ruga na testa.

- Humm, então, agora está claro – emendou a atrapalhada funcionária de St. Mungus. – Ela deve estar sentindo falta dele. Aposto que se esse rapaz estivesse aqui, a paciente já teria se recuperado. Na minha opinião, esse processo está demorando demais.

Harry empalideceu. Contava tanto que seu amor bastaria pelos dois que jamais imaginara se Gina ainda guardava algum sentimento por Draco. Naqueles dias, tivera de explicar muitas coisas às pessoas e a todas deixava claro o quanto amava Gina. Porém, a nenhuma perguntara a respeito do que Gina sentia.

- Senhora Weasley... ahn...

- Sim, filho.

- Em algum momento a Gina te disse algo a meu respeito. Quer dizer, ela falou se...

- Se ela gosta de você? Ora, ela sempre gostou!

- Não! Quero saber se um dia a Gina disse para a senhora que me ama?

- Ah, desse jeito? – riu a mulher, mas ela parou imediatamente ao notar que Harry não ria. Pelo contrário, estava muito sério. – Com essas palavras exatamente, não. Não se esqueça que até pouco antes dessa tragédia, ela estava noiva...

- Não me esqueço! E depois da festa de casamento? E depois daquele dia? Ela falou algo?

- Não que eu tenha escutado. Mas isso não faz diferença, faz? Harry, você para mim é como um filho. Tenho certeza...

- Obrigado, senhora Weasley – cortou Harry, abaixando a cabeça e se dirigindo até a porta.

- Onde você vai? – espantaram-se as mulheres.

- Vou atrás do Malfoy e trazê-lo aqui – revelou, pálido. – Não posso ficar parado sabendo que a Gina ... – hesitou antes de completar. – necessita dele.

- Como você sabe disso? – estrilou Fleur.

- Ela o chamou, não chamou?! Todos ouvimos – respondeu com a sensação de que a garganta se fechava.

- Chamou, sim. A noite inteira – interveio a enfermeira, assistindo tudo de camarote.

- Isso é o suficiente para mim. Eu sei onde o Malfoy está – engoliu em seco. Abriu a porta e antes de sair, anunciou o que se passava em sua cabeça. – Eu disse inúmeras vezes que faria qualquer coisa pela Gina. E farei. Até outro dia, senhora Weasley.

- O quê?

- Não poderei ficar aqui, dividindo o espaço com o Malfoy.

Harry deixou o quarto e avançou com pressa pelos corredores. Seu coração parecia um cavalo dando coices em seu peito. Não queria acreditar que Gina chamara Draco. Não acreditaria se não tivesse ele próprio escutado. Sentia-se pequeno como uma noz. “Todos os dias fiquei ali e ela não me chamou nenhuma vez”, pensou, ressentido. Com tristeza, chegou ao pátio de St. Mungus. Por um segundo, viu-se perdido entre suas emoções. Estava imóvel. Algumas pessoas pararam para observá-lo, reconhecendo imediatamente de quem se tratava. Uma mulher, que estava sentada num banco ao lado de um menino de aspecto doentio, arregalou os olhos.

- Filhinho, vê que a sorte a nossa! Aqui está o grande Harry Potter! Não quer contar para ele como você é corajoso e vai se recuperar rapidinho do seu machucado.

O menino mostrou um sorriso tímido.

- Oi, Harry. Eu tenho um álbum com fotos suas... Ano que vem vou para Hogwarts e espero entrar para a Grifinória.

- Tomara que entre. É um lugar especial – murmurou, forçando-se a reagir. Ainda estava perdido.

- Quando crescer, quero ser igual a você – brincou o menino.

- Se você soubesse como é a minha vida, não iria querer – disse com uma ponta de amargura.

- Eu ia querer de todo jeito. Você salvou tantas pessoas. É um herói!

- Se todos fizessem o que é correto, ninguém precisaria de heróis – afirmou, com melancolia. Pensou em seguida que ele tinha de cumprir o que se prontificara a fazer: levar Draco até Gina. – Tenho de ir. Boa sorte!

Harry desaparatou sem que pudesse ver o brilho nos olhos do menino. “Mãe, ele é um herói mesmo, não é? Só um herói responderia daquele jeito”. A mulher concordou, abraçando o filho.



*****

Draco tinha acabado de acordar quando ouviu o som de alguém aparatando no jardim de sua casa no balneário de Key West, nos Estados Unidos. Vivia lá desde que Gina terminara com ele. O rapaz de cabelos platinados puxou a varinha e se dirigiu ao jardim com cautela. Naquela semana, já tinha recebido uma visita de um funcionário do Ministério da Magia americano com um comunicado a respeito da morte de sua mãe. Não contava com nova visita. Para sua surpresa deu de cara com seu velho rival.

- Potter! Não me lembro de ter te convidado a vir até minha casa.

- Eu não viria nunca, Malfoy, se não tivesse um motivo. Abaixe a varinha!

- Não confio em você.

Harry deu de ombros. Não tinha o menor medo do antigo capitão da sonserina. Lutou contra o bolo que se formara na garganta. Estava jogando contra sua felicidade, mas já que Gina chamara Malfoy não podia mais titubear.

- Vim te dizer que é para você ir até St. Mungus. A Gina te chamou.

Draco abaixou a varinha instantaneamente. Seu coração saltou.

- O quê? Ela acordou?

- Ainda não. Mas ela te chamou. Eu ouvi – disse, sem distender um músculo do rosto. – Se puder se apressar...

- Eu vou agora! Eu tinha passado em St. Mungus há dois dias, depois de ter providenciado o enterro da minha mãe e da minha tia.

- Não fale nelas se deseja chegar inteiro a St. Mungus. Por causa delas, Gina está no hospital até hoje – rebateu, torturado pelo momento.

- E você acha que eu me sinto como?! – retorquiu Draco, sem se intimidar. – Você é um idiota, Potter. Gina é a mulher que eu amo! Por causa dela, passei o dia na portaria de St. Mungus esperando pela hora em que você sairia do quarto, mas você não saiu! Quem faria isso se não fosse por alguém que ama de verdade?

Harry sentiu que estava corroído por dentro.

- Ok! Vá até ela e faça algum bem pela Gina.

Deu as costas para Draco e sumiu. O rapaz não compreendeu o que ele queria dizer, mas não perdeu mais tempo com isso.



*****

A escuridão começava a tomar conta da sala e o friozinho que fazia passaria a incomodar qualquer um que estivesse vivo. Mas Harry tinha a sensação que não pertencia mais ao mundo. Estava prostrado numa poltrona olhando a lareira vazia, sem ânimo para fazer coisa alguma.

- Senhor Potter, o que está fazendo no escuro? Deixe-me acender a lareira para o senhor.

- Não precisa, Dobby.

- Claro que precisa, senhor. Desse jeito vai ficar doente.

- Já estou – murmurou.

- Oh, senhor. Quer que a Winky prepare um chá? Ela sabe fazer um bom chá revigorante.

- Obrigado, Dobby, mas não. Um chá não ia adiantar. Sinto como se tivesse um dementador nesta sala.

- Não há nenhum dementador aqui. Posso assegurar. Eu e Winky ficamos muito felizes de o senhor ter nos contratado para cuidar desta casa. E nós estamos fazendo um trabalho muito bom. Já tiramos todas as pragas mágicas e esvaziamos a casa de todos os artigos que lembravam a antiga família Black, conforme o senhor pediu.

- Deixaram as coisas de Sirius?

- Sim, senhor. Estão guardadas. Agora, senhor Potter, permita-me acender a lareira. E as luzes também. Não quer dar uma volta pela casa? O senhor vai vê-la com um aspecto muito melhor...

- Não, Dobby. Eu só quero ficar sozinho.

O elfo suspirou. Seus grandes olhos se entristeceram. Retirou-se silenciosamente, deixando Harry entregue a dor. O bruxo passara o resto do dia tentando se achar. Chamara Dobby e Winky, dera instruções e se atirara na poltrona, tão desanimado que poderia passar a vida inteira ali, sem beber, comer ou sequer respirar. Tinha recebido a visita de McKinley que lhe contara alegremente que Tupai estava se recuperando de modo assombroso. “Esses incas têm muito a nos ensinar”, dissera. Harry concordara com um movimento da cabeça. Depois, o velho amigo comentara que Nina estava bem, dedicada a cuidar do pai e do puma. Harry respondera unicamente que ele era um desastre em todos os sentidos. “Eu nem mesmo posso fazer a Nina feliz. Diga-me com franqueza, Mac: por que eu nasci?” O ex-auror pousou a mão em seu ombro. “Não se maltrate, rapaz. Você já fez tanto por tanta gente que está na hora de fazer por você. Não se entregue. Confie em você e faça o seu destino”. Harry não ligou para o discurso. “É fácil falar”. E assim encerrara a conversa com McKinley.

O fogo crepitava suavemente. O frio que fazia era leve e realmente acender a lareira era um excesso de zelo por parte de Dobby. Mas ver como as chamas engoliam a lenha era uma distração. Harry estava mergulhado nessa inusitada ocupação quando seus ouvidos treinados captaram o som de passos na porta de sua casa. Sem se levantar, gritou para o elfo.

- Dobby, por favor, não quero receber ninguém.

Um minuto depois, escutou os passos novamente. Harry suspirou. Cobriu a cabeça com as mãos. Ficou imaginando quem poderia ser para ter entrado tão facilmente na protegida casa do largo Grimmauld. “Dumbledore? Rony? Mione?”, perguntava-se, sem a menor intenção de sair de onde estava. Quem quer que fosse agora estava bem próximo.

- Oi! Sei que você não quer visitas. Mas eu precisava vir.

Harry pulou da poltrona. Sua pele se arrepiou e sentiu um calor bom subindo pelo corpo. Por outro lado, sentiu-se picado pelo ciúme.

- Gina! Você a-a-cordou! Puxa, o Malfoy foi... realmente... eficiente.

- O Draco? Ah, eu fiquei feliz que você tenha procurado por ele.

Antes de ouvir essa frase, Harry quase avançara para abraçar a garota. Sem jeito, abaixou a cabeça.

- Claro que procurei. Seu pedido é uma ordem – respondeu, desconfortável. Com dificuldade, prosseguiu. – Estou vendo que ele te fez bem. Achei que você ainda ficaria um dia ou dois em St. Mungus depois que despertasse.

- Eles queriam mesmo. Mas eu não podia. Eu tinha de te agradecer por tudo que fez. Então, saí do hospital faz um minuto e vim direto para cá. O professor McKinley me contou que você estava aqui.

- É. Vim dar um jeito na casa que o Sirius me deixou...

- Harry, obrigada por ter ido à mansão dos Malfoy em meu socorro. Se não fosse por você, eu estaria mor...

- Não diga isso, por Merlin! Não gosto de ouvir essa palavra! Quase fiquei louco quando te vi naquele buraco.

Gina sorriu levemente. A palidez cedera um pouco. Seus olhos brilhavam. Harry desviou o rosto. Não queria se sentir tentado a segurá-la em seus braços.

- Bom, vou resumir essa parte, então. Quero agradecer por você ter dado parte de sua energia para mim. Foi um gesto mais do que nobre. O professor McKinley disse que ele jamais conheceu alguém em vida que tivesse utilizado o poder do sétimo elemento.

- Não sei se um dia conseguirei usar de novo...

- Espero que nunca mais tenha a necessidade de pensar nele de novo. Ah, Harry, você foi perfeito.

O rapaz se agitou.

- Mas você chamou o Draco – disse, com a voz rouca, quase magoada.

- Chamei, sim. Chamei porque naquele momento eu estava começando a recobrar a consciência. Revi a cena em que provoquei a destruição da casa dele, com a mãe e a tia dele presas comigo. Não me sentiria bem se não falasse com o Draco a respeito disso. Por isso, foi bom que ele tenha aparecido. Pude me explicar e pedir desculpas por ter sido obrigada a me defender da mãe dele daquele jeito. Outra coisa boa é que eu pude perdoá-lo por tudo que fez para mim. Quando nós brigamos, achei que nunca mais poderia olhar para a cara dele de novo. Mas eu superei isso. O Draco já está sofrendo demais para ter de agüentar mais essa carga.

- O Draco sofrendo? Que horror, não é?! – ironizou, sem resistir à picada do ciúme. “E eu? Estou sofrendo o diabo”, pensou, cruzando os braços no peito e virando o rosto para o outro lado.

Gina estendeu a mão e tocou os braços do rapaz para desfazer o movimento. Harry desabafou no mesmo instante, segurando-a pelos ombros.

- Escute, não faça isso comigo. Se você escolheu o Draco, é melhor me deixar de lado. Não quero ser seu amiguinho. Porque eu não vou suportar essa tortura de te ver com ele. E não é por ele. É por qualquer um.

- Harry, como você pode ser bobo desse jeito.

- Incrível. Já me chamaram de idiota hoje. Agora, bobo...

- Eu chamei o seu nome antes! Durante a noite! Você não estava do meu lado. Depois de ter ficado tanto tempo comigo, aquela sua ausência me afetou. Eu podia estar inconsciente para vocês, só que eu sentia a presença de todos. Eu te chamei, mas ninguém me ouviu direito. Aquela enfermeira se atrapalhou. E outra coisa: por que não conversou com a Mione e o Rony? Eles queriam muito falar com você, só que bastava entrar nos assuntos do coração para você se fechar.

- Entrar nesses assuntos só me fazia sentir mais dor por te ver naquele estado.

- Mas eles são seus amigos e teriam te contado tudo o que falei para a Mione horas antes de ter ido para a mansão Malfoy. Os dois teriam te dito com todas as letras que eu amo somente um homem. E é o mesmo que amo desde que eu era uma menininha. Esse homem, Harry, é você...

Harry teve a impressão que o dia tinha clareado. Sem pensar em nada, puxou Gina para seu corpo e a beijou com a emoção que se alastrou por todas suas células. Depois de um minuto, ou dois, ou mais, como saberia?, soltou-a para murmurar em seus ouvidos.

- Perdoe minha tolice! Não sei por que nunca confio em mim – e a beijou no pescoço.

- Não sei se vou te perdoar. Acho que vou procurar alguém que não seja tão bobo.

- Não. Não procure mais ninguém. Apenas me cure – e procurou mais uma vez a boca tão desejada.

Gina e Harry ficaram um bom tempo na sala, abraçados e trocando beijos e carinhos. Então, ele segurou o queixo da garota e, com os olhos verdes mais límpidos do que nunca, falou com o coração aos pulos.

- Dumbledore me disse para eu tentar transformar este ambiente em algo mais digno. Eu sei que só vou conseguir fazer isso se tiver a sua ajuda. Gina Weasley, aceita se casar comigo?

Ela riu.

- Você nunca me pediu em namoro para os meus pais, como você disse que faria, e agora vem com essa. Desse jeito, vão achar que você é precipitado...

- Só se eles forem cruéis. Há muito tempo espero por você, Gina. Não quero esperar mais.

- Eu também, Harry.

A maneira doce como Gina falara fez Harry sorrir. Ele a pegou pela mão e a conduziu pela sala. Ao pé da escada que levava para os quartos no andar de cima, Harry parou.

- Talvez eu tenha de esperar um pouco mais. Você acabou de sair do hospital. Seus pais vão me matar se eu... Como é mesmo o papo de eu ser precipitado? – brincou, notando que a temperatura tinha subido. Ao menos, a dele.

- Ah! Aquilo... – respondeu Gina, no mesmo tom. – Bom, mas o medibruxo que me liberou disse que eu não podia ser contrariada. Aliás, ele disse que eu precisava de duas coisas: repouso e carinho. E agora o que mais quero é carinho. O repouso pode vir depois.

Harry tocou nos cabelos dela com ternura.

- E é carinho que você terá – beijou-a suavemente para depois carregá-la no colo. – Vou cuidar do seu sono, Gina. Somente isso. Hoje quero apenas dormir segurando sua mão. Outras noites virão. Ei, que risinho é esse?

- Você é bobo mesmo. Mas eu adoro esse seu jeito – e o abraçou, feliz por se encontrar nos braços de alguém em quem confiava plenamente.



*****

O relógio da sala grande soou anunciando que era meia-noite.

- Arrá, eu disse que seria no dia 17! – bradou Fred Weasley.

- Mas por pouco não foi no dia 16 – rebateu Jorge.

- Ainda tem chance de ser no dia 18 – emendou Carlinhos.

- Eu não acredito que vocês têm coragem de fazer apostas com uma coisa dessas. Meus próprios irmãos – bronqueou Percy.

- Ah, não esquenta, Percy. Se o Harry não se incomoda, por que você vai fazer barulho? – interrompeu Rony.

- É um absurdo! Não há uma casa de apostas bruxa que não tenha feito um bolão... – continuou Percy, só parando ao ouvir o som de um copo se quebrando em algum canto da casa do largo Grimmauld. – Ah, por Merlin, será que foi um dos meus filhos? Penny, Penny...

Os irmãos Weasley deram risadas assim que Percy se afastou. Rony olhou para Harry, que andava de um lado para o outro da sala, sem prestar atenção à conversa. O auror puxou um garotinho de cabelos vermelhos que estava sentado a seus pés e com um tapa de carinho nas costas dele fez com que o menino se levantasse.

- Ande, Jamie, faça um favor para o papai e puxe a roupa do seu padrinho e com força, hein?!

Os olhinhos do garoto se iluminaram. Sua mãe provavelmente não concordaria com a travessura. Mas se seu pai o estava mandando... E com um sorrisinho peralta correu até Harry e puxou suas vestes com tanta vontade que acabou por ficar pendurado nelas.

- James, garoto danado! – riu, Harry, afagando os cabelos vermelhos do afilhado.

Outras crianças, todas ruivas, se juntaram à risada e James achou mais divertido ainda ficar com elas. Largou o padrinho e correu até os primos. Rony ficou de pé e pousou uma mão no ombro do amigo.

- É, cara, essa espera é de acabar com os nervos.

- Não sei porque a Mione não me deixa ficar lá.

- Ela já te explicou. Desde que vocês dois decidiram ter o filho aqui, a Mione sentiu a necessidade de chamar uma equipe para acompanhar o parto. Se tivesse sido na maternidade...

- Sei, a Mione ficaria mais segura. Só que eu e a Gina queremos fazer com que esta casa tenha uma história completamente diferente. E o nosso filho nascendo aqui vai selar os nossos esforços.

- Concordo, Harry. Quando se trata de magia, nunca poderia te contestar.

- Não é só pelo efeito mágico que isto vai causar a esta casa, Rony. É pelo simbolismo. Quero que o Largo Grimmauld seja o símbolo de que uma nova família está se formando. Uma família que preza os valores que um de seus antigos moradores prezou.

Rony balançou a cabeça. Entendia perfeitamente seu amigo. Desde o início, Harry fizera questão de se instalar no largo Grimmauld com Gina. De alguma forma queria mostrar a seu padrinho – onde quer que ele estivesse – que era possível mudar o mundo em que vivemos. No escritório que montara, deixara alguns objetos de Sirius. E trouxera outras lembranças. De Hagrid, de McKinley, que se fora no ano seguinte ao seu casamento, e de seus amigos. Retratos e quadros se espalhavam pelo local, com imagens de seus pais, Rony, Hermione, os Weasley, Lupin, Tonks, Dumbledore, que celebrara sua união com Gina numa festa que ganhara página inteira do Profeta Diário...

- Harry, pode subir. Está na hora – gritou Hermione do alto da escada.

O rapaz subiu os lances num fôlego só, deixando para trás os sogros e os cunhados. A senhora Weasley puxou seu lencinho para disfarçar as lágrimas. Fred comentava que vencera a aposta, levando um cutucão de Angelina. E Rony decidiu seguir o amigo alguns minutos depois, chegando ao quarto do casal a tempo de ouvir um chorinho se manifestando pela primeira vez. Como na ocasião em que James nascera, o auror ruivo não conteve o choro. Hermione sorriu ao ver o marido emocionado. “Ah, Rony, você nunca foi um monstro insensível de fato”, murmurou, enquanto entregava um pequenino embrulho de panos para Harry. “Vamos, leve seu filho para que a mãe possa dar um beijo nele”.

Harry carregou o bebê nos braços com cuidado, embora tremesse. Seus olhos verdes estavam úmidos. Aproximou-se da mulher e a beijou nos lábios com carinho.

- Ele está aqui, Gina! Com a gente – murmurou. – Vou abaixar a manta para você poder dar um beijo na testa dele...

Com um piscar de olhos, a manta escorregou para um lado, revelando a cabeça do bebê. Rony riu.

- Você é realmente poderoso, Harry. É a primeira criança na família a nascer com cabelos escuros. Espero que ao menos o rosto do meu afilhado tenha puxado à mãe – brincou.

Gina riu também. Beijou a testa do filho e abriu os braços para recebê-lo ao seu lado, na cama. “Está vendo, Harry. Ele não tem nenhuma cicatriz na testa. Viu? Não precisava ter medo. Ele nasceu perfeito. E você continua sendo um bobinho. O bobo que eu amo”, sorriu. Ainda tonto de alegria, Harry virou-se para a porta e viu que outras pessoas tinham entrado no quarto. A senhora Weasley logo se juntou à filha. O senhor Weasley, com os olhos molhados, fazia um sinal de positivo para o genro. Subitamente, ouviu um piado na janela. Harry saiu das nuvens onde se encontrava.

- Certo, Edwiges. Certo.

Harry foi até uma mesa que havia perto da cama. Puxou um pergaminho e escreveu rapidamente algumas linhas. Selou a carta e a prendeu na pata da coruja.

- Pode ir. Err, viu que agora eu tenho um garotinho?

A coruja piscou os olhos e deu uma leve bicadinha em sua mão, como se o parabenizasse. Em seguida, alçou vôo, carregando consigo um bilhete onde se lia: “Caro professor Dumbledore. Sirius James Potter acaba de nascer. Venha logo nos visitar. Eu e Gina estamos ansiosos para que conheça o primeiro filho de uma nova família. A minha. Saudações, Harry Potter. P.S.: Sirius é lindo!







FIM





















Obrigada pela leitura. Obrigada pelo apoio. Vocês foram muito importantes para mim durante toda esta longa trajetória que foi escrever esta fic. Espero que tenham gostado. Beijos, K.

Leiam A arca dos inseparáveis, a continuação desta fic. ;-)










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