O comensal ferido

O comensal ferido





Atraído pelo rumor, o senhor Weasley se aproximou dos filhos para perguntar o que se passava. Havia cochichos por todos os lados. Rony deu uma desculpa qualquer para tranqüilizar o pai. Mas desconfiava que logo ele saberia de tudo. Os convidados comentavam os gestos de Harry, absolutamente eloqüentes. E eles, sem exceção, diziam que só havia uma interpretação a fazer: o coração do bruxo tinha uma dona e essa dona era Gina.

Por se ver no centro das atenções, Gina decidiu continuar a conversa longe dali. Pediu licença aos demais e chamou Draco para acompanhá-la até a Toca. Rony perguntou se queria a presença dele. Gina fez que não. “Eu dou conta do recado, maninho”, respondeu num fio de voz. E tomou o caminho para casa. A boca secara. O estômago se revirava. A cabeça latejava. Draco a seguia em silêncio. Estava tão nervoso que seus dentes estavam fortemente apertados, o maxilar, duro, os lábios, comprimidos. Assim que entraram na sala, ela não agüentou e se virou para o namorado e lhe fez uma pergunta de supetão.

- Estes brincos... por que mesmo eu ganhei de presente?

- Gina, já faz muito tempo. Eu não lembro... – respondeu Draco, assustado. – Basta que eles sejam bonitos. Precisa de mais algum motivo?

- Pensei que fosse porque eu sou uma pessoa “especial”. Não era isso que estava no cartão? Aquele cartão que veio junto com o presente. O presente dado por... você.

- Não sou obrigado a lembrar de tudo. E eu já te dei muitos presentes.

- Eu só quero saber deste, Draco. Eu achava que tinha sido você...

- Você achava. Eu nunca garanti com todas as letras que fui eu – rebateu Draco, pálido.

- Então, é verdade! O Harry disse que ele tinha me mandado estes brincos porque ele sabia que eu gosto de estrelas. E ele lembrou do cartão. Draco, você se apropriou de algo que não era teu!

Desesperado e levado pela paixão, Draco cometeu outro erro.

- Ele te fez sofrer muito! Um presentinho não muda o fato de o senhor maravilha ter te trocado pela Belatrix numa missão maluca!!! Foi ele que resolveu ficar longe e te abandonar. Porque o que ele fez foi te abandonar.

Gina ficou tão chocada que mal conseguiu falar. Sua voz saiu rouca e trêmula de fúria.

- O que você sabe da “missão maluca”?! Nenhum de nós te falou coisa alguma a respeito da “missão” do Harry. Ou da Belatrix! - esbravejou. – Como teve acesso a essas informações? O que você fez, Draco Malfoy?

Não havia escapatória. Pálido, Draco tinha consciência que seria pior continuar mentindo.

- Certo, Gina. Eu... eu vou explicar tudo. Espero contar com seu indulto. Sua compreensão. Porque o que eu fiz foi porque eu te amo. E quando a gente ama tão intensamente como é o meu caso às vezes não pensa muito bem – disse, forçando um sorriso.

Mas Gina não sorriu. Apoiou-se na janela, cruzou os braços e esperou pela explicação. Gaguejando, Draco passou a narrar o que tinha feito. Disse que a amava muito e que ficava desesperado porque via o quanto ela estava ligada em Harry. Na visão dele, o rival não a merecia porque não se sacrificava pela garota como ele faria. Não conseguia tolerar que, apesar disso, Gina continuasse apaixonada. Aquilo o amargurava. Então, no dia em que Errol lhe entregara uma carta, ele se dera conta que havia uma grande expectativa em relação a cartas. “Usei a maldição Imperius para ter acesso a essa correspondência”. A ruiva estremeceu dos pés à cabeça.

- Eu... te olhando agora, não posso me orgulhar do que fiz. Mas eu estava alucinado. Era muito injusto te ver sofrendo por causa daquele idiota. Eu queria saber o que diabos você esperava dele e o que ele faria. Li as cartas trocadas. Não permiti que Errol levasse as suas. E não permiti que sua coruja te entregasse as cartas que o Harry te enviou.

- Onde elas estão? – perguntou à queima-roupa, com os nervos em frangalhos.

- A primeira eu joguei no lixo. A última ainda está comigo. Eu a usei para usar um feitiço que faz uma cópia fiel da letra. Eu escrevi a resposta que você recebeu. Fiz o mesmo com ele. Peguei a sua mensagem e mandei um recado bem parecido – disse. Ao notar que a namorada estava em choque, ajoelhou-se diante dela. – Gina, imagine o que é um homem apaixonado ver que tem outro – inferior, obtuso, egoísta e inconseqüente –, tentando roubar seu bem mais precioso...

- Eu não sou seu bem mais precioso. Eu não sou um objeto – respondeu com lágrimas de raiva descendo pelo rosto. – Quero a minha carta!

- Ela é ridícula. É uma lástima, sem estilo, sem...

- Devolva a minha carta! Agora!

Draco rilhou os dentes. Chutou uma almofada. Mas fez a carta aparecer em sua mão. Gina a tomou no mesmo instante e a leu na frente do rapaz. Draco arfava. Percebia que a estava perdendo. Porém, ainda podia ter alguma chance se mostrasse arrependimento e justificasse seus atos. Gina começou a soluçar. As convulsões assustaram Draco. Ele tentou abraçá-la, no entanto, ela o repeliu.

- O que você fez foi terrível. Um crime! – gemeu entre lágrimas. – Você tinha consciência que eu ainda amava o Harry, que eu estava disposta a esperar a vida inteira por ele. E essa carta me mostra que ele também esperaria por mim...

- Ele te abandonou! Demorou quanto tempo para te escrever? Você lembra disso, não lembra?! Ele te deixou no limbo enquanto você chorava pelos cantos.

- Você não entende! Não sabe em que condições ele estava! E Harry teve de ir. Precisou se esconder! Foi uma decisão tomada com a ajuda do Dumbledore. Mas isso você também deve saber, não é? Você falou de missão, da Belatrix. Draco, o que você descobriu? Para quem serviu como espião? Até onde foi sua traição?

- Não servi para ninguém. Não sou espião. Não sou Comensal. Juro pelo amor que tenho por você! Eu nem sei direito o que é essa missão. Só sei que tem a Belatrix no meio porque li algo numa carta do Rony. Foi isso. Nada mais. E eu comentei que eles estavam na Alemanha com a minha mãe.

Gina desferiu um tapa no rosto dele. Estava vermelha de cólera.

- Eles foram atacados na Alemanha! Um homem morreu. Meu irmão quase foi morto! Se não fosse pelo Harry, ele não estaria aqui!

A marca na face de Draco não era nada perto do que ele estava sentindo. A dor era grande.

- Gina, tenho pesadelos freqüentes e você sabe disso. A morte desse homem me assombra. Eu desconheço como ele é. Mas sempre o vejo em sonhos. Acha que sou tão vil assim que não carregue na consciência a culpa por isso? Também vi como você ficou abalada na época. Eu procurei te dar todo o conforto possível. Desse dia em diante, não fiz mais comentários com minha mãe.

- Claro. Não havia mais cartas – ironizou a jovem, tentando se recompor. Sem sucesso. A dura verdade martelava sua cabeça e seu coração. – Oh, por Merlin, é como se o mundo tivesse caído na minha cabeça.

- Eu sinto sinceramente pelo que fiz. Dói para você e dói para mim. Por favor, acredite no que estou dizendo. Mas eu queria muito ter a chance de mostrar que eu poderia te dar a felicidade que você merece. Repito: fiz por amor. Eu te adoro. Não posso ficar sem você.

Gina respirou fundo antes de responder. Ficou de pé e olhou com firmeza para Draco. As marcas das lágrimas ainda estavam bem visíveis. E notava-se a força que fazia para se manter calma.

- Não diga que foi por amor. Porque não foi. Foi a sua personalidade que determinou isso. Você não quis lutar pelo meu amor como se deve lutar. Não quis a luta justa. Apelou para a vilania, para a torpeza. Foi cruel comigo, a quem você diz tanto amar. Foi egoísta! E com isso você acabou com todas as possibilidades de a gente se entender. Não se iluda. Eu jamais poderia te amar como amo o Harry. Eu esperaria por ele nem que fosse pela eternidade. Mas se você tivesse sido correto pelo menos hoje teria o meu respeito. Eu poderia olhar para a sua cara. Agora, isso é impossível. Não sei o que vai acontecer. Vou contar tudo ao Dumbledore. Talvez ele possa te perdoar, e vou torcer por isso. Porque um dia gostei de você. Achei que você era um amigo, alguém em quem eu poderia confiar, alguém que me fazia bem. Só que isso já era. Passou! Tome o seu anel. Leve de volta os presentes que você me deu. E esqueça o meu nome, a minha existência, esqueça tudo.

Destruído, Draco não conseguiu se mover. Gina colocou o anel no bolso do terno e se dirigiu à escada. O rapaz viu que seus presentes já estavam todos na sala. Chorava. Pousou a mão sobre o bolso, onde estava a aliança do noivado que sonhara. Era a única coisa que lhe importava. Caminhou até a porta e a abriu. Antes de sair, virou-se para a jovem pela última vez.

- Diga que me perdoa. Por favor, eu preciso disso. Diga - implorou.

- Não posso. Não consigo – respondeu Gina, com sinceridade.

A porta se fechou.



*****

Harry subia a montanha ardendo em dúvidas. Assim que o grupo surgiu na trilha que levava ao topo coberto pelas nuvens, ele se afastou ligeiramente para poder refletir. “Será que eu não posso voltar? Eu tenho de voltar! Tenho de esclarecer as coisas com a Gina. Tem algo estranho. Não entendo”, matutava. McKinley fizera um gesto para que o deixassem. “Ele precisa de um tempo, por favor”, pedira. Nina se entristecera. Supunha que o rapaz pensava na moça ruiva. Mas não era apenas isso que ocupava a mente do bruxo. Estava angustiado. O ataque ao curaca abalava sua convicção. “Até quando vou ser caçado? Até quando as pessoas ao meu redor vão correr perigo?”. Imediatamente, pensou em Nina. Olhou para trás e viu a morena andando cabisbaixa, infeliz. “Sem o pai, como ela vai fazer? Eu vou ter de cuidar dela”, calculou. Suspirou. Teria de abandonar o plano de rever a mulher que amava. Ao menos por um tempo. Esperou que o grupo se aproximasse e se colocou ao lado dela. McKinley, que viera perguntando detalhes do que ocorrera, fez um sinal para que Chris se afastasse. O professor seguiu o auror.

- Nina, eu me sinto arrasado com o que aconteceu. Mas logo nós chegaremos. Talvez a gente tenha condições de fazer algo pelo seu pai.

- Os anciões estão cuidando dele. Foram eles que sugeriram que eu acompanhasse o Chris. Acho que eles queriam me ver longe. Eu só estava atrapalhando, tão aflita estava – confessou, com o coração estreito.

- Quem não estaria? Nunca vi meu pai sofrendo. Aliás, nunca vi meu pai em vida. Só que eu sei que também ficaria aflito como você. E acho que atrapalharia ainda mais. Você é quase um lago, Nina. O vento pode te encrespar de vez em quando, como agora. Mas você sempre recupera essa placidez sobrenatural.

- É bonita a comparação. Só não sei se vale para mim. Eu me vejo mais como um poço numa caverna. O vento quase não me atinge. Por isso, pareço serena. Mas quem sabe o que afeta minhas águas?

- Nina, eu...

- Posso te perguntar a respeito da moça ruiva? Conseguiu falar com ela?

- Foi estranho. Essa é a palavra que mais vem à minha cabeça. Falei, disse parte das coisas que desejava, só não ouvi o que eu mais queria. Não sei se existe a chance de... a Gina voltar para mim.

Calou-se, desanimado. Ela também ficou quieta.



*****

Draco aparatou em seu quarto com o coração partido em inúmeros pedaços. Jogou-se na poltrona e apertou a cabeça em suas mãos como se quisesse esmagá-la. Chorou convulsivamente. Sua dor era tão intensa que fez um espelho se partir e se espalhar pelo chão em pedaços tão pequeninos que a senhora Malfoy teve noção instantânea do desespero do filho no minuto em que entrou no aposento.

- Filho, o que foi? – disse, enquanto usava a varinha para fazer o vidro quebrado sumir.

- Nada!

- Espera que eu acredite nisso? Não minta para sua mãe.

- Ok, senhora Narcisa Malfoy! Ok! – respondeu, ficando de pé e exibindo o rosto completamente transtornado. – Para sua imensa alegria, não tenho mais nada com a Gina. Acabou! É finito!

- Já não era sem tempo. Ela não é a mulher para você!

Um sorriso amargo surgiu no rosto dele.

- Você nunca vai mudar, não é, mãe?! Não suportava me ver com a Gina mesmo depois de tudo que eu falei. Mesmo depois de eu ter dito com todas as letras que eu amo essa mulher. E que ela é magnífica! Uma em um milhão! Que é seu preconceito que não te deixa ver isso! Bom, acabou! Ela não está mais comigo. A Gina terminou tudo. Não quer mais me ver. Nunca mais.

Narcisa esticou seu pescoço tal qual uma naja se prepara para dar o bote.

- Ela terminou?! Não foi você?!

- Nunca terminaria. Eu queria me casar com ela. Era o meu sonho. Não era um capricho, como você queria tanto acreditar!

- Quem ela pensa que é para recusar meu filho? – perguntou, escandalizada. – Muitas bruxas melhores do que ela gostariam de se casar com você. Essa mulherzinha que não se atreva!

Draco exasperou-se. Fez uma mala no mesmo segundo. Foi tão rápido que Narcisa Malfoy não teve condições de protestar.

- Você nunca vai entender! Ela não só acabou comigo como ainda disse para que eu a esqueça, para que eu a apague da minha vida. Isso eu não vou fazer. É impraticável. E já que não posso contar com o seu apoio para superar o que estou sentindo, se é que um dia vou superar, melhor ir embora.

- Não, você não vai. Uma Weasley não expulsará um Malfoy do lugar onde nasceu...

- Incrível! Você continua com esse papo. Não se trata disso! Que droga! Não adianta. Não posso ficar aqui. Você só vai piorar as coisas. Tchau! – e desaparatou.

Narcisa estava com os olhos arregalados e as narinas dilatadas. Odiava Gina com todas suas forças.



*****

Na vila inca, a desolação era completa. Mulheres e crianças choravam. Os homens andavam aflitos, atentos a qualquer barulho. Todos estavam assustados. Na casa do curaca, Harry não conseguia aceitar que o homem entrevado na cama fosse Tupai. O brilho inteligente de seu olhar havia desaparecido. E ele parecia ter envelhecido muitos anos depois do ataque. Os habitantes mais velhos tinham feito infusões de folhas desconhecidas para os bruxos estrangeiros. Isso despertara o líder da comunidade. Porém, ele quase não falava.

- Pai, o senhor McKinley está aqui. E o Harry também – disse Nina, acariciando os cabelos do homem e fazendo com que ele ficasse sentado.

Os lábios secos de Tupai permaneceram fechados.

- Já tentamos falar com ele pelas vozes da mente, mas não conseguimos. Tupai está vagando por um lugar desconhecido – comentou um dos incas mais idosos, Imara.

- Talvez possamos levá-lo para algum hospital bruxo – murmurou Chris.

- Tupai não sairá daqui. Está entre pessoas que o amam. E ele gosta deste lugar. Nós cuidaremos dele e vamos deixar que o espírito dele encontre o caminho de volta. Apenas o curaca poderá se salvar.

- Imara, já vimos gente no mesmo estado dele. Foram vítimas da maldição Cruciatus. Por exemplo, os pais de um amigo do Harry estão num hospital até hoje... Não quero destruir as esperanças de ninguém, mas também não podemos alimentar esperanças vãs – arriscou-se McKinley.

O velho inca olhou para o escocês com um ar magistral.

- Vocês que vivem no velho continente esqueceram demais do poder do espírito. A natureza é forte e quem nela acredita também se fortalece – e dizendo isso partiu para sua casa.

McKinley fez uma cara de espanto e olhou para Nina. A moça nada comentou.

- Bom, de qualquer modo, creio que o melhor é nos afastarmos da vila. Eu mudaria hoje de lugar se isso não representasse perigo para vocês. A Confederação precisa tomar alguma providência em relação à segurança. O ideal seria enviar aurores.

- Quer que eu procure a confederação, senhor McKinley? – ofereceu-se Chris.

- Não, rapaz. Eu já pedi para o professor Dumbledore. Mas estou pensando em ir também. Este é um assunto da máxima gravidade.

- O senhor acabou de chegar. Não quer descansar esta noite?

- Talvez seja bom mesmo. Ah, pelas chagas de Cristo crucificado... Páre de me olhar com essa cara, Chris. Eu tenho mania mesmo de repetir expressões trouxas! Não me interrompa. Vamos fazer o seguinte: Chris, você fica na vila, ajudando os incas bruxos a cuidar da segurança desta casa. Não vou tolerar mais nenhum ataque! E, pelo amor de Deus, não deixe ninguém se aproximar de Tupai, ou eu corto seus bagos fora! Perdão, Nina, perdão. Estou nervoso. Eu parto amanhã para a Confederação. E você, Harry... macacos me mordam... você precisa se esconder em algum lugar. Mas onde?

- Não quero me esconder, McKinley. Posso ajudar na segurança. Posso ir à Confederação com você ou...

- Não! Você pode ser muito bom, Harry, mas ainda sou seu orientador. Enquanto você não prestar o concurso de auror, ainda sou responsável...

- Mac, use outra desculpa para tentar me afastar. Não precisa me tratar mais como um moleque. Eu vou entender seus argumentos – respondeu Harry, com calma.

McKinley sorriu, encabulado.

- Claro. É incrível ver como você amadureceu, Harry. Desculpe se às vezes me comporto como um avô atrapalhado.

Nina aproveitou para sugerir um lugar onde Harry poderia ficar seguro enquanto McKinley não retornasse com os aurores da Confederação. “É o retiro do curaca. Só o líder da comunidade e o mais velho dos anciões sabem onde fica esse lugar. Quer dizer, eu também sei porque um dia segui meu pai sem que ele me visse”, contou. O escocês deu os parabéns a Nina pela maravilhosa idéia. E ficou decidido que Harry partiria para lá na mesma hora em que McKinley desceria a montanha.

Depois disso, Harry se dirigiu ao quarto de McKinley, onde passaria a noite. No meio do trajeto, passaram em seu antigo aposento. Ainda estava revirado.

- Mac, atrás do quê o invasor veio? Será que ele pensou que ia me encontrar aqui?

- Não sei, Harry. Para mim, está claro que ele forçou Tupai a revelar a senha para entrar no seu quarto. Esse maldito devastou a mente do nosso amigo. Arrancou a senha à custa da sanidade desse sujeito incrível que tinha tanto a ensinar para a gente. Harry, eu lamento muito. Não consigo me recuperar desse horror. Homens como Tupai nunca fizeram mal a ninguém – murmurou com os olhos rasos de água.

- Você ficou muito mal com a morte do Gutmann. E parece que está pior com o que aconteceu aqui.

- Ah, Harry, este lugar era um segredo. Eu o descobri depois de muito esforço. E foi só porque conquistei a confiança de Tupai. Sinto-me como se fosse culpado direto dessa desgraça.

- Mac, eu sei exatamente o que você quer dizer. Vivi esse inferno durante muito tempo. Até que consegui me livrar dele no Labirinto. Essa dor demora a passar, mas entenda que não foi sua culpa. E lembre-se que Tupai não está morto. Ele pode se salvar.

- Ora, Harry, você acredita mesmo em Imara?

- Sim. Acredito em Imara e no próprio Tupai. Ele também me falou do poder do espírito. Agora vamos dormir. Amanhã será um dia longo.

McKinley abriu a porta do quarto. Os dois trocaram de roupa. Harry providenciou uma cama extra e logo eles se enfiaram debaixo das cobertas. Antes de apagar a luz, o escocês fez mais uma observação.

- Harry, eu falei aquilo de ser seu orientador. Bom, a verdade é que até hoje eu pensava realmente isso. Eu era o mestre e você, o pupilo. Mas depois dessa nossa conversa percebo que não é mais assim. Você estava me orientando – e riu. – Acho que isso quer dizer que não posso ser mais o mestre.

- Foi caminhada demais para um dia, hein, velho Mac?! Está faltando oxigênio para os miolos?

- Isso, divirta-se com minhas maluquices. Só que isso não é uma delas. Está claro que de agora em diante somos absolutamente iguais. Não sou mais seu mestre. Mas espero ser para sempre seu amigo, Harry. E chega de conversa. Bons sonhos, rapaz.

McKinley apagou a luz e fechou os olhos. Harry observava as estrelas pela janela.

*****

Gina saiu do metrô e andou dois quarteirões antes de chegar numa pequena casa de esquina. Conferiu o número no papel que carregava no bolso. Tinha chegado. Tocou a campainha e esperou que a viessem receber. Numa janela do segundo andar, uma voz feminina a saudou. Era Hermione. A cunhada desceu rapidamente as escadas e abriu a porta para ela.

- Que bom que você veio. Eu não agüento mais de curiosidade!

- Antes de qualquer coisa, desculpe-me. Eu não queria ter atrapalhado a festa. Lamento que vocês não tenham viajado...

- A lua de mel pode esperar uma semana. A gente não podia sair sem saber se o Harry vai precisar de algo. E o Dumbledore tinha mais uma reunião hoje com o pessoal da Confederação. O Rony até foi lá. Ele ficou tão desesperado para ajudar o Harry. Pronto. Já falei no nome dele e você continuou muda.

Gina sorriu timidamente e começou a contar sua história com Harry. Abriu o coração, falando desde o medo de não ser correspondida até o momento final, quando compreendera que ele resgatara o símbolo do sentimento que compartilhavam. Em seguida, relatou a conversa com Draco e explicou que se sentia destruída por dentro. Não somente por descobrir que sofrera tanto tempo por causa de um ato vil, mas também porque Harry passara pelo mesmo desgaste.

- Mione, a tortura ainda não acabou. Agora, o Harry está longe de novo. Num lugar que foi atacado. Ele pode estar em perigo. E a gente não pode fazer nada. Isso me angustia. Eu quero também esclarecer tudo. O Harry não sabe o que aconteceu. Ele pensa que deixei de gostar dele. Por Merlin, ele precisa voltar...

- Calma. Tudo vai dar certo. O McKinley está lá, com o Harry. E o Dumbledore está ajudando por aqui. O Rony ainda não sabe como, mas o McKinley e o Dumbledore vão se comunicar. E deve ser hoje! Paciência. Alguma resposta a gente vai ter.

Mais confortada, Gina sentiu que podia falar de outro assunto que também era um segredo bem guardado. Pensou se Dumbledore iria desaprovar sua atitude. E concluiu que não. Tomou um gole de água e contou para Hermione a profecia de Cassandra, aquela que associava Harry a Belatrix. À medida que narrava os detalhes, a cunhada se horrorizava. Quando terminou, Hermione estava pálida.

- Se essa profecia tem valor de verdade, nós estivemos muito perto de perder o Harry para as trevas! Nossa, estou passando mal – gemeu a jovem. – Ai, estou me lembrando: o Harry ficou muito bravo com você pouco antes de partir – e cobriu a boca com as mãos, assombrada apenas em imaginar quanto a cunhada sofrera por esse motivo.

- O Dumbledore acredita bastante nas profecias da Cassandra – disse para encerrar o assunto. Gina desejava um conselho da cunhada. – Preciso de uma ajuda sua. Eu recebi nesta manhã uma carta da senhora Malfoy. Aparentemente, ela quer falar do fim do meu namoro com o Draco. A mensagem, que é muito educada, diz que ela gostaria de entender o que se passou. Só que eu imagino que ela vai querer acabar comigo. A senhora Malfoy nunca gostou de mim.

- Aquela bruxa velha – resmungou Hermione. – E que tipo de ajuda você quer?

- Devo falar tudo a respeito do que o Draco fez ou simplesmente deixo que a madame me enxovalhe?

- Eu nem iria lá...

- Não. Eu vou daqui a pouco para lá. Quero ver o que ela sabe. E isso pode ser uma chance de descobrir uma pista da Belatrix.

- Já que é assim, vá. Só tome cuidado com o que diz. Essa Narcisa sempre se fez de tonta, mas aposto que é mais esperta do que aparenta.

Gina concordou. E suspirou. “Harry, quando você vai voltar?” O relógio parecia andar devagar.



*****

O caminho até o retiro do curaca era íngreme até para Nina, habituada com as montanhas. A jovem e o bruxo andaram com cuidado, fazendo pausas para que Harry recuperasse o fôlego. Embora estivesse há mais de um ano nos Andes, o ar rarefeito ainda era um obstáculo para o rapaz. Pararam num trecho onde havia um mirante. Harry aproximou-se da beirada e olhou para baixo.

- Uau, é uma queda e tanto.

- Mas as nuvens estão cobrindo a montanha. Não dá para ver o chão.

- É por isso que eu digo. Uma queda e tanto. Essas são as nuvens da barreira mágica que protege a vila, não é? Eu sei que depois da neblina tem um longo caminho até a base.

- Estamos mesmo bem acima da vila. Você vai ficar isolado de verdade, Harry. Não vai se incomodar com isso? Posso ficar aqui com você, se você quiser.

Harry ajeitou seu cachecol para disfarçar. Não queria magoar Nina, porém tinha de ser claro.

- A gente não conversou direito a respeito do que aconteceu ontem.

- Não precisa entrar em detalhes, Harry. É melhor para mim. Só queria que você me dissesse se os seus sentimentos por ela são fortes como no passado.

- Talvez até mais fortes.

- E se ela não quiser voltar para você?

- Aí, terei de me conformar com a solidão. Eu não conseguirei viver com outra mulher. Seria desonesto com qualquer pessoa que se aproximasse de mim.

- Entendo – respondeu a jovem com a voz tremida.

A filha do curaca se afastou de Harry com o rosto afogueado. O bruxo permaneceu parado no mirante, à beira do abismo. O vento que corria entre as montanhas fazia um ruído agudo, constante e... triste. Sentiu-se péssimo naquela hora. Sem coragem de olhar para trás e encarar Nina, ele procurou se justificar. “Você é uma garota incrível. E me ajudou muito. De certo modo, você resgatou parte da minha vontade de viver. Jamais vou me esquecer disso. Mas eu não posso prometer algo que não posso dar. Algo que não me pertence. Meu coração e minha alma estão marcados com o nome da Gina e não há meios de apagar isso. Perdão. Não sei mais o que dizer”, afirmou, ainda de costas para a morena. Ficou quieto por segundos, esperando por alguma resposta. Então, ouviu um gemido sufocado e virou-se para ver como a jovem estava. Tomou um susto ao descobrir que eles não estavam sozinhos.

- Experimente dizer “pisei na bola” – tripudiou Chris, que espetava sua varinha no pescoço de Nina. Com um sorriso sarcástico, prosseguiu. – Estou vendo que te surpreendi. Eu realmente estou ficando bom nisso. Ó, deuses dos Andes, testemunhem este triunfo: é a segunda vez nesta semana que chego perto do grande Harry Potter sem que ele perceba.

Harry cerrou os punhos. Seus olhos chisparam.

- Solte-a, Chris. Agora!

- E você acha que eu sou idiota? Nada disso. Ela fica aqui, comigo. Esta mocinha é a garantia de que você fará exatamente o que eu mando. Está claro? Muito bem, vamos começar pelo básico, Harry. Pegue sua varinha com cuidado e jogue-a no chão. Eu disse “cuidado”. Estou de olho em você.

Vagarosamente, Harry puxou a varinha das vestes. E a atirou no solo. Na seqüência, Chris jogou um feitiço que prendeu o objeto na terra com as longas raízes de um arbusto do local. O auror deu uma risada de escárnio.

- É um truque simples. Mais para guardar sua varinha, que é um belo troféu, do que para evitar que você me ataque. É que já tive a oportunidade de te ver em ação e sei que você é capaz de executar encantamentos difíceis com as mãos nuas.

- Estou em desvantagem. Você sabe mais ao meu respeito do que eu a seu respeito. Achei que você era um auror, mas pelo visto me enganei – murmurou entre dentes.

Ele riu.

- Eu sou um auror. De verdade! Aprovado com louvor pelo Ministério da Magia americano. O detalhe é que eu não sou Christopher Taylor. Tadinho do Chris. Nunca se recuperou da maldição Cruciatus que lancei sobre ele. Aliás, a mesma que usei contra o Tupai. Eu não imaginava que um inca pudesse ser tão teimoso!

O horror fez Nina se contorcer. Harry rangeu os dentes e avançou um passo.

- Quieto. Você não quer que a doce Nina confira como sou bom com as maldições imperdoáveis, quer?

- Então foi você quem invadiu a vila...

- Correção: eu não invadi lugar nenhum. Eu já estava aqui, estúpido! Você e o McKinley são tão tapados... Os velhos diziam que não havia invasor na comunidade e o idiota do seu mentor me mandando “vasculhar cada pedra”. Isso era de dar nos nervos. Mas a história de invasor, no final, caiu bem. Eu ataquei o puma porque aquele ninho de pulgas tentou me impedir de entrar na vila. Eu tinha saído para enviar uma mensagem importante e o animal avançou contra mim. Acabei com ele e resolvi simular uma invasão para que jogassem a culpa da morte dele num misterioso assassino.

- Pode me fazer a gentileza de contar para quem você enviou a tal mensagem? – perguntou com ironia.

- Para quem mais? Belatrix Lestrange. Ela ficou tão feliz de descobrir onde você estava. Nas outras vezes, eu não consegui localizá-la. Só agora que deu certo. Pena que ela seja uma covarde. Por mim, você teria sido eliminado na primeira noite. Mas a mulher cismou de te atrair para fora daqui. Ela tem medo que este campo seja mais “favorável” para você. Bobagem. Eu disse isso para ela. Só que ela não quis acreditar. Hmpf! O Lorde das Trevas não teria hesitado.

- Afinal, quem é você? – exasperou-se.

- Meu nome é Les Lovett. Rááá, estou vendo pela sua cara que conhece meu sobrenome. Lovett, o dono do refúgio perto do qual estava a passagem para Nephasta.

- Mas a família Lovett morreu! – exclamou Harry.

- Não está entendendo, não é?! Os registros bruxos não falam da minha existência. Esse foi um lance fantástico da minha avó materna, Mildred. Ela decidiu me esconder! Você soube que meu pai, Louis, não era um Comensal? Pois é. Meu pai, que foi amigo de Lúcio Malfoy, nunca quis se tornar um bruxo das trevas. Ele resistiu o quanto pode. Amedrontado com a pressão do nojento – ops, quero dizer do Malfoy –, resolveu mandar minha mãe de volta para sua terra natal, Salem. Ela já estava grávida e ficou com minha avó até que eu nascesse. Eu tinha apenas alguns meses quando minha mãe retornou para o meu pai. Justamente na época em que o Lorde das Trevas ofereceu aos Lovett um lugar entre os Comensais. Meu pai, que conhecia parte do segredo da passagem para Nephasta, foi tolo em recusar o convite. E mais tolo ainda em não contar o que sabia. Minha família foi fulminada no mesmo instante. Que triste essa história – disse, simulando um lamento. – Felizmente, eu ainda tinha minha avó Mildred. Uma bruxa puro sangue que seguia os ideais do Milorde. Minha mãe era ignorante demais! Ela escreveu em seu diário tudo o que meu pai tinha lhe contado a respeito de Nephasta fazendo comentários infantis a respeito dos perigos da magia negra, dos seres do submundo. Arre, eu tinha vontade de vomitar lendo aquilo! A sorte é que o diário estava cheio de informações. Graças a isso, fui aceito pelo milorde!

Harry subitamente se recordou de um Comensal completamente vestido de negro. Tinha o mesmo porte físico do falso Chris.

- Foi você que escapou de Nephasta junto com a Belatrix!

- Bravos! Finalmente, uma dentro. Sim, senhor. Eu. Assim como fui eu quem ajudou a desvendar o segredo da passagem. Pena que o principal crédito tenha sido dado ao nojento. E eu também fiz o contato com os seres do submundo. Eu, eu, eu! Mas o maldito do Malfoy tentou ficar com todas as glórias para si. E a Belatrix imbecil dava apoio para ele! Até hoje ela não reconhece o meu valor! Aquela vaca! Desta vez, vai reconhecer. E vai ser tarde. Depois que acabar com você, eu serei o novo líder dos Comensais. Vou mostrar a Belatrix do que sou capaz. Cansei das reprimendas dela. Cansei. Ela repete as palavras do Malfoy. Quem diabos ela pensa que é? – disparou. – Se não fosse por mim, você não seria localizado. Eu, que estudei para ser auror e atuar como agente-duplo, te descobri em Salem. Eu utilizei a maldição Imperius para o amigo do McKinley me recomendar como assistente. Eu utilizei as referências do babaca do Chris Taylor, um colega do curso que todos confundiam comigo pela semelhança física. Esta é a minha hora. A da Belatrix, passou – afirmou, espumando de raiva.

- Ah, sei. Quais foram mesmo as ordens da Belatrix? – questionou.

- Ordens... Bah! Ela não acredita que eu posso dar conta de você. Acha que eu colocaria tudo a perder – bufou. – Ela bolou um plano e eu tive de ficar quieto. Belatrix pediu que eu descobrisse um refém para te obrigar a sair da proteção de McKinley. E eu descobri. No dia do casamento do seu amigo. Eu vi o jeito como você olhou para a garota de um certo retrato. Ali estava a isca que tanto Belatrix desejava. O problema é que não tinha visto direito. Ainda não sabia quem era a mocinha. Resolvi atacar Tupai. Ele tinha a senha do seu quarto. E vocês tinham saído pela primeira vez desde que me tornei assistente do McKinley. Então, criei um boneco animado que era a minha cópia para ficar na entrada da vila e assim enganar os babacas daqui. Mas quando entrei no seu quarto, foi uma tremenda decepção. Você tinha levado a fotografia. A sorte foi que encontrei depois a ruivinha na festa do seu amigo. Gina Weasley é a garota, não é? – riu. – Bem, isso tudo eu contei para Bela ontem à noite, quando saí para um passeio na hora em que vocês dormiam.

- O QUÊ? – gritou, partindo para cima de Lovett.

- CRUCIO! – urrou, atingindo Nina.

A jovem não gritou, porém seus olhos arregalados expressavam a dor horrível que sentia. Pálido, Harry teve de recuar.

- Basta, Lovett. Você me capturou. Toda a glória será sua. Liberte a Nina. Prometo que não vou reagir. Pode me levar até a Belatrix.

- Vou levar, sim, mas será o seu corpo sem vida. Os Comensais verão que eu sozinho derrotei o bruxo que destruiu Lorde Voldemort. Eu vingarei o milorde e serei nomeado o líder das trevas. E mostrarei para aquela mulherzinha que não se fere o orgulho de alguém como eu – e apontou a varinha para Harry. – Imobilus!

Preso pela magia, Harry sentiu o estômago se contrair. “Tenho de me soltar! A Gina precisa ser avisada”, pensou, com o coração na boca.

- Foi um prazer, Harry Potter. Eu te vejo lá embaixo. Estupefaça!

O feitiço atingiu o bruxo no peito e o lançou para trás. Harry caiu no abismo. O golpe fora tão violento que teria apagado qualquer um. Mas o rapaz resistira de modo surpreendente. Seu desejo de viver para salvar Gina o fortalecera. Concentrou-se para quebrar o encantamento imobilizador. Falhou na primeira vez. Mas na segunda se libertou com um urro. Ouviu um barulho que parecia com o silvo do vento. Porém não teve meios de identificar o que era. Acabava de atravessar a barreira de nuvens mágicas e esbarrou numa saliência do paredão. Soltou um grito de dor e viu o sangue escorrer da ferida que se abriu. Conseguiu materializar uma corda e a jogou para o alto, ordenando que se amarrasse em alguma pedra.

- Puxe-me! – berrou para a corda.

Subitamente, ouviu gritos. Estava no meio do nevoeiro quando viu dois vultos caindo. Teve a sensação de que um deles era Nina. Soltou uma das mãos e a apontou para baixo.

- Accio Nina!

Sua mão vibrou. Algo parecia reter a garota, resistindo ao feitiço convocatório. Gritou o comando de novo. E percebeu o que tinha ocorrido. Quilla, o condor, surgiu batendo suas asas imensas. Soltou um silvo parecido com o som do vento que percorria as montanhas. Em suas patas, estava Nina, branca como a neve dos Andes. Quilla aproximou a jovem do rapaz e ela o segurou com força em seus braços. Por um segundo, a ave a soltou para em seguida prender o casal em suas garras e voar para o alto. Quando estavam no topo, Harry convocou sua varinha e assim que a teve nas mãos, virou-se para Nina, que recuperava um pouco de sua cor.

- Por favor, peça para Quilla nos levar para o centro da vila. Eu tenho de voltar para casa! Você ouviu o que o Lovett disse: eles estão atrás da Gina.

Nina não precisou falar nada. Quilla soltou outro silvo.

- Ela te compreendeu, Harry. E vai te obedecer. Você conquistou o respeito dela.

- Obrigado, Quilla. Agora, Nina, me conte o que aconteceu.

- O Lovett tirou a varinha do meu pescoço para me fazer andar e, de repente, Quilla apareceu. Voou direto sobre ele, arrancou a varinha com uma das garras e o derrubou no chão. Eu devia ter corrido, mas não consegui – balbuciou, tremendo. – Estava tão assustada que fiquei paralisada. Aí, ele me segurou de novo. E Quilla o atacou mais uma vez, jogando-o pelo abismo. Eu fui junto. Mas o condor me pegou no ar.

Do alto, Harry avistou o centro da vila e notou um grupo de pessoas entre os incas. Reconheceu McKinley e começou a contar, aos berros, o que ocorrera. Quilla o soltou no meio dos bruxos. Eram aurores da Confederação.

McKinley estava estupefato.

- Meu assistente era um Comensal? Como um Comensal se infiltra entre aurores? – e fincou suas pupilas desconfiadas nos bruxos que tinha acabado de trazer consigo.

- Fique aqui, Mac. Mantenha os incas vigiando Tupai e cuidando de Nina. E vá com os aurores procurar o corpo de Lovett. Ele caiu, mas, por Merlin, é possível que tenha escapado. Eu vou atrás da Gina – e largou o professor, disparando rumo à entrada da cidade escondida.

- Harry! – gritou Nina.

O bruxo estremeceu. Não podia fazer companhia para Nina. Não naquele momento. Temia que a jovem dissesse para ficar ao lado dela.

- Quilla vai te levar até o ponto onde você pode aparatar. É bem mais rápido.

Ele concordou. Subiu nas costas da ave e acenou para se despedir. O condor ganhou altura e partiu montanha abaixo. McKinley pegou a jovem pelo braço e a conduziu à casa do curaca. Estavam entrando no quarto de Tupai quando o escocês se pronunciou a respeito da cena.

- Parabéns, garota. Foi uma ajuda providencial.

- Eu tinha de fazer algo pelo Harry. E também pela mulher que ele ama! E agora farei por mim – respondeu, tocando com carinho a mão do pai, que estava deitado.

No quarto, encontraram Imara, que os cumprimentou com um movimento da cabeça. De súbito, o filhote de puma apareceu na porta. O animal caminhou até a jovem e lambeu a mão que segurava a de Tupai. Para surpresa de McKinley, o curaca moveu a cabeça lentamente para observar o puma. Seus lábios ressequidos se abriram.

- Inti!

McKinley deixou o queixo cair. Imara sorriu.

- Eu disse, senhor McKinley. Confie no poder do espírito. Ele é forte em Tupai. Nosso líder estava perdido e se encontrou. Voltará aos poucos. Só necessita de tempo.

Nina afagou a cabeça do puma enquanto observava o curaca. E imaginou que o tempo seria essencial para curar as dores de pai e filha.



*****



O som de alguém aparatando chamou a atenção de Narcisa Malfoy, que lia um velho romance bruxo na sala de estar de sua mansão. A mulher deixou o confortável sofá onde passara a tarde e se encaminhou até a porta principal da casa. Antes de abri-la, conferiu as horas no relógio de parede que se destacava no hall de entrada. Sorriu. Bateu levemente as palmas das mãos e a porta deslizou mansamente, revelando uma jovem de cabelos vermelhos parada sobre o tapete de boas-vindas.

- Senhora Malfoy, como vai?

- Bem, senhorita Weasley. Obrigada por ser pontual! Você não sabe como estava ansiosa pela sua chegada. Por favor, entre.

Gina entrou. Era a primeira vez que se via na mansão Malfoy sem que Draco a acompanhasse. Não passou por sua cabeça que seria a última.

















Como vcs podem ver, não é o último capítulo. Tentei terminar tudo para postar agora. Infelizmente, não consegui. Para completar, tenho dois compromissos inadiáveis hj. Por isso, corri o máximo que pude para dar conta desse mega capítulo (mega porque imenso). Não foi possível. Então, deixo pelo menos parte dele, reduzindo pra vcs o trabalho de ler um texto do tamanho do Hagrid. Lamento muito porque queria ler o sexto livro logo de cara. Vou ter de esperar. Enfim, a fic se encerrará em meio à polvorosa do Half Blood Prince. Não antes. *suspiro*

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