A noite mais longa do ano

A noite mais longa do ano



Gina Weasley estava paralisada pelo medo. Nunca vira nada tão monstruoso quanto àquela criatura flamejante. Não sabia do que se tratava. Não conseguia mais ouvir os quatro professores de Hogwarts. De qualquer modo, era o momento de agir. Respirou profundamente buscando coragem. “Não vou me acovardar. Eu sou uma Weasley”, cobrou-se. Olhou para a campina e divisou Voldemort comandando as hordas de orcs que corriam para o lado oposto de onde se encontrava. Seu coração quase parou devido ao terror inspirado pela figura sinistra. “Ele é assustador! Por Merlin, preciso de ajuda. Onde você está, Harry?”. E estremeceu. Era atrás dele que Você-Sabe-Quem viera. Procurou algum sinal do trio. Nada. Não podiam capturar Harry. Tinha de fazer algo. “Preciso ajudar. Não vou permitir que peguem o Harry”, refletiu. Achara o motivo pelo qual lutaria. E avançou com passos ligeiros e a varinha em riste. Ganhou a arena e viu que Snape estava acuado por dois Comensais. Hagrid defendia-se de quatro. Decidiu sair em socorro do guarda-caças. Apontou a varinha para um deles e gritou Impedimenta a tempo de interromper a conjuração da maldição Cruciatus. Outro Comensal se virou surpreso para ela, mas Gina não perdeu tempo e invocou um feitiço que o arremessou violentamente contra uma árvore. Ele caiu desacordado. Nesse instante, alguém a puxou com força pelo braço.

- O que está fazendo aqui, criança tola?

Era Snape, que tinha acabado de se livrar de seus dois algozes. Gina, então, se atirou contra ele, derrubando-o. Exatamente como fizera contra Goyle na partida de quadribol. O gesto pegou o professor de surpresa, mas ele pode perceber que o chicote do balrog por pouco não o atingira.

- Estou salvando o senhor – respondeu finalmente a garota, refeita do susto.

Ao se erguer, Snape se posicionou à frente de Gina. O professor explicou rapidamente a situação para a garota. “Já que está aqui, é justo que saiba o que está enfrentando. Aquilo é um balrog, um demônio do mundo antigo. Temos de fugir do chicote, do fogo, das garras dele. Não se esqueça que ele é muito forte. Não sucumbirá a qualquer magia. Por isso, se ele estiver por perto, fuja!”, disparou. E a protegeu de um feitiço arremessado por outro Comensal. Gina disparou uma azaração, que mandou para longe o inimigo. Snape admirou-se do poder da garota, porém não deixou barato. “Muito bem, menina. Você pode se defender desses idiotas. Mas não se atreva a se aproximar do balrog. E nem daquelas criaturas que estão avançado pela floresta. Orcs não têm poderes mágicos, porém são muito violentos. Venha!”. E a arrastou para uma das laterais do campo.





*****





Rony tinha andado apenas alguns metros quando viu a coluna de orcs se aproximando. Eles faziam muito barulho, pouco se importando com o fato de serem facilmente descobertos. “Eu podia conjurar uma espada, mas isso não vai funcionar já que nunca empunhei uma antes. Posso produzir fogo. Só não tenho certeza se vai ser em quantidade suficiente para afastá-los. Talvez consiga fazê-los levitar. Por quanto tempo será que vou poder mantê-los no ar?” Estava nesses pensamentos quando sentiu a mão trêmula de Hermione tocando seu ombro.

- Nããão acha me-melhor a gente correr pa-para Hogwarts e avisar o que está acontecendo? – gaguejou.

- A gente precisa conter o avanço desses feiosos. E você ouviu Dumbledore dizendo que a professora McGonagall estava se preparando.

- Ninguém está pe-pre-preparado para isso. Quem poderia imaginar que eles, que eles... Sabe o que eles são, Rony? São orcs. Foram elfos que se corromperam pelas trevas. Eles são maus. Bárbaros. Selvagens. E gostam de carne. De todos os tipos – sussurrou, estremecendo.

- Fantástico. Incrível como agora fiquei relaxado – disse.

Mas não parecia sarcástico. Ao contrário, havia um toque de ternura em sua voz. Notando o quanto a amiga estava pálida, Rony estendeu a mão para tocar o rosto da garota e fazer uma carícia leve.

- Vamos fazer o seguinte. Eu contenho o máximo que puder esses comedores de carne e você vai até Hogwarts. O mais rápido que conseguir e sempre se escondendo. Lembre-se: você é o cérebro do trio e precisa sobreviver para ajudar a pensar numa saída. Vai nessa e deixa o resto comigo.

Os lábios de Hermione começaram a tremer. Estava realmente assustada. Não queria que nada acontecesse com Rony. Nem com Harry. Nem com ninguém. Mas ela não conseguia sair dali e se afastar da mão do amigo, que continuava afagando seu rosto.

- Não posso ir se você não for comigo – choramingou.

- Você tem de ir. E eu tenho de ficar. Essa é a hora da gente partir para a briga. E você é o cérebro, certo? Do lado da McGonagall, você vai ajudar mais aos que não têm tanto cérebro. Como eu. E como o Harry. Agora vai. Eles já estão muito perto.

- Não é verdade. Você e o Harry são muito bons, corajosos, espertos... – disse, com as lágrimas escorrendo pelo rosto.

- Ok. Não é hora para discutir – e a empurrou com delicadeza, impelindo-a a andar.

Hermione caminhou atordoada e angustiada. Disse em voz alta que não iria conseguir chegar a Hogwarts. O coração pesava. Não podia deixar Rony para trás. Sentiu, de repente, que alguém a segurava.

- Você vai conseguir. Você é da Grifinória. Tem fibra, coragem. Tem tantas qualidades que eu sei que você vai conseguir chegar até Hogwarts e contar o que viu aqui. Você é demais, Mione. É a garota mais incrível que conheço.

Os olhos de Hermione brilharam com as palavras de Rony. E o rapaz se sentiu envolvido. Segurou o rosto da garota e a beijou. E ela estremeceu mais uma vez. Por causa de uma emoção nova. Rony a puxou com força para si, como se não quisesse se separar dela. Mione não suspeitava de como ele beijava bem. Quando o ruivo se afastou, ela ainda manteve os lábios entreabertos, esperando por mais.

- Ahn, isso foi para o caso de a gente não se reencontrar. Brincadeira. É para me dar mais confiança – e sorriu timidamente. - Vai. Anda. Ou melhor, corre. Faça isso por mim – e se despediu, com o coração pulando no peito.





*****




Minerva McGonagall acabara de escrever um recado para Dumbledore. Prendeu a mensagem numa perna de Fawkes e abriu a janela da sala do diretor.

- Fawkes, tente entregar este bilhete a Alvo. Ele precisa saber dos garotos. Não sei como Alvo está, mas você saberá como fazer chegar essa mensagem até ele, não é?

A fênix agitou as asas e moveu a cabeça. Saltou de onde estava e ganhou o ar, rumo à Floresta Proibida. A professora juntou as mãos ao peito. “Ah, que dê tempo a Alvo para ler o recado. Ele precisa saber que Harry está do lado de fora”.

- Algo de errado, senhorita McGonagall? Não se costuma entrar assim na sala do diretor. Ainda mais em sua ausência – bronqueou um dos quadros, o de Fineus Nigellus.

- Oh, este é um momento crucial para nossas vidas. E Alvo me deu a liberdade de entrar aqui se fosse necessário.

- Ainda não me respondeu se há algo de errado. Eu quero dizer, além da marca de Voldemort brilhando no braço de Snape, como fiz questão de avisar aos membros da Ordem.

- O senhor encontrou Tonks?

- Sim. E ela desaparatou em seguida para alertar os aurores e também aos... interessados. Logo Hogwarts deve se encher de bruxos.

- É o que espero.

- E agora vai me dizer o que mais a atormenta?

A professora não teve opção. E contou do sumiço dos quatro jovens.

- Esse rapaz, Potter, gosta de desafiar o perigo. É exatamente como o último dos Black, Sirius. A imprudência não o levará a nada! – reclamou.

McGonagall não respondeu e se retirou da sala. Estava se dirigindo à sala dos professores quando ouviu seu nome no corredor. Era Pansy Parkinson.

- O que faz aqui, senhorita Parkinson? Não deveria estar com seus colegas?

- Professora, eu cometi um erro... Bom, eu não imaginava – começou, torcendo as mãos de nervosismo. – Mas quando Filch nos procurou para saber se todos os alunos estavam na sala comunal ou nos dormitórios, eu respondi que sim. Estavam todos. Só que depois quando o Barão Sangrento entrou e nos recomendou olhos e ouvidos muito atentos, eu estranhei. E quando o professor Flitwick procurou o nosso fantasma para uma conversa reservada, eu disfarcei e consegui me esconder perto deles. E ouvi a conversa. É verdade que estamos correndo perigo?

- Se veio aqui para me contar suas tramóias para ouvir a conversa dos outros, senhorita Parkinson...

- Não é isso! É que eu menti para o Filch. Draco está lá fora, professora. Ele saiu pouco antes do Filch aparecer. Eu até achei que tinha sido esse o motivo da visita dele.

A mestre de Transfigurações arregalou os olhos, pálida.

- E para onde foi Draco Malfoy? E por que saiu a essa hora?

- Não sei se posso dizer – passou a fungar.

- Ah, a senhorita vai dizer. Disso pode depender a vida do seu amigo.

Pansy estava indecisa. Se revelasse, a situação poderia se complicar para Draco. E se não revelasse, poderia ser tão ruim quanto. A professora ficou exasperada. “Diga logo”.

- Tá bem. Eu digo. O Draco foi atender a um chamado do pai, o senhor Malfoy.

- Não pode ser – empalideceu mais ainda.

- Sim, pode. Draco nunca deixou de manter contato com o pai. Eles têm um jeito de se comunicar – despejou, e prosseguiu depois de olhar para os lados. – Professora, com essas trancas todas sendo fechadas, a gente fica imaginando que está correndo muito perigo. Mas se nós estamos correndo todo esse perigo, é pior para quem está lá fora. Não é?!





*****




Caminhando em silêncio e curvado, Snape conduziu Gina de volta à mata para afastá-la do perigo. A noite estava escura e se viam os flashes dos feitiços cruzando o ar e também as chamas desprendidas pelo balrog, que tentava em vão escapar das raízes brancas conjuradas por Dumbledore. Os orcs já tinham se afastando, iluminando à distância trechos da floresta com as tochas que carregavam. O diretor de Hogwarts havia acabado de desaparatar quando professor e aluna chegaram até a proteção das árvores.

- A situação está muito complicada, menina, para você se aventurar na campina. Fique aqui, na mata, escondida em algum lugar, e... Raios! – berrou ao perceber que Voldemort também desaparatara, fugindo da ação de McKinley.

- Quero ajudar! A gente tem de impedir que peguem o Harry!

- Não seja boba. Harry está no castelo, onde você deveria estar! – enfezou-se, girando a cabeça para todos os lados, buscando sinais de Dumbledore ou do Lorde das Trevas.

- Não, senhor. Ele está aqui, na floresta. Junto com a Hermione e o Rony. Eles estão com a ... err, eu os perdi de vista – respondeu, evitando falar da capa de invisibilidade.

- Maldição! Potter vai provar que é um rapaz muito estúpido caso decida dar as caras, no meio dessa confusão - sibilou. - Está certo. Não vou conseguir me livrar de você. Então, assuma a proteção da retaguarda. Do jeito que a coisa está, é possível que nos descuidemos das costas. Tenho de voltar – e saiu em disparada ao ouvir um grito de Hagrid.

Gina ajeitou-se atrás de um grande pinheiro e forçou a vista para enxergar algo. Snape se aproximara do guarda-caças e lançara uma série de feitiços sobre um grupo de Comensais que cercava o gigante. Estavam sob um ataque tão intenso que não conseguiam se concentrar para desaparatar. A garota sabia que era necessário um mínimo de concentração para executar o feitiço. Decidiu esgueirar-se nas sombras e se colocou a poucos metros do grupo. Com dois rápidos movimentos da varinha, lançou suas azarações mais potentes, dando chance para que os dois professores desaparatassem em seguida. Os Comensais, pegos de surpresa, não atinaram de onde viera o contra-ataque. Por ser pequena e ágil, a garota logo se afastou e retornou ao ponto de onde partira. Voltou a se apoiar no pinheiro, observando a arena e os aliados das trevas vasculhando a área onde estivera minutos antes. Esboçou o primeiro sorriso da noite. “Peguei vocês, seus cretinos”, comentou em voz alta. Não teve muito tempo para comemorar, porém. Escutou algo às suas costas e sentiu uma dor aguda, violenta, como se fosse arrebentar em mil pedaços.

-Crucio!

O efeito durou breves segundos. A ruiva caiu sobre a relva assim que a magia foi encerrada. A sensação é que tinha sido atropelada por um caminhão.

- Que garota atrevida! Espero que a maldição Cruciatus tenha te servido de lição.

A voz soou familiar. Gina abriu os olhos e com a vista ainda turva conseguiu identificar Lúcio Malfoy. Havia mais alguém junto com o Comensal. A garota começou a se erguer com as pernas hesitantes e os braços entorpecidos. Assim que se colocou de pé, encarou o autor do ataque com desprezo. E olhou para a pessoa que estava ao lado dele. Tomou um susto grande.

- Draco! – exclamou espantada.

- Não se atreva a falar com meu filho com essa intimidade, senhorita Weasley – e conjurou cordas para prender a garota. – Venha, Draco, vamos levá-la até o Lorde das Trevas. Ele vai gostar de ter uma refém dessas. Uma amiguinha de Harry Potter nas mãos! Mas que presente nós conseguimos arranjar, hein?!

Lúcio Malfoy sorria triunfante. Seu filho, porém, exibia um rosto muito pálido. Não conseguia abrir a boca. Ao contrário de Gina, que estava decidida a não se calar e nem se entregar facilmente.

- O que você está usando, Draco? Uma capa com o símbolo dos Comensais? E uma corrente com o mesmo emblema? Então, você é um Comensal, não é. Tal pai, tal filho – disparou, irritada.

- Ele é um Malfoy, mocinha. Tem o talento natural dos bruxos puro sangue. E, ao lado das pessoas certas, desenvolverá todo seu poder. Coisa que você não poderá. Seus pais não são grandes bruxos. Não executam bem os feitiços. Não dominam outras magias. Não se destacam em nada. Em suma, são medíocres e é esse o seu destino. Ser medíocre. O de Draco é ser grande, como todo Malfoy.

- Se o senhor é tão bom assim por que não toma o lugar de Voldemort? – debochou.

A resposta foi um tapa ruidoso. Gina ficou escarlate.

- NÃO DIGA O NOME DO LORDE DAS TREVAS! – gritou com os olhos injetados. – Seu atrevimento vai te custar caro, mocinha – e a pegou pelo braço com rudeza. Mal começara a arrastá-la quando foi atingido por um feitiço que o jogou ao solo, desmaiado.

Gina acabou caindo junto com Malfoy. Tentou ficar de pé, mas as cordas a aprendiam fortemente. Draco, então, apareceu ao seu lado e fez as amarras se soltarem, libertando a garota.

- Desculpe se te machuquei. Eu... eu... não sabia o que fazer.

- Qual é a sua, Malfoy? Não fique perto de mim. Você é um Comensal!

- Não! Eu juro que não sou.

- Você está vestido como um. E está aqui, junto do seu pai.

- Junto do meu pai que eu acabei de estuporar – disse com a voz vacilante. – Acredite em mim, Gina. Eu não sou um Comensal. Eu estou com estas coisas porque meu pai me obrigou a vesti-las. É para garantir minha segurança. Para que os orcs não me ataquem.

A explicação do rapaz não a convenceu plenamente, mas a ruiva olhou para o senhor Malfoy caído a seus pés. Estava de fato estuporado. Draco se aproximou com uma varinha nas mãos.

- É sua. Você a deixou cair quando meu pai te atingiu – comentou com ar constrangido.

Com o feitiço Incarcerous, Gina conjurou cordas para amarrar os braços e pernas do Comensal e lançou um olhar de desafio para Draco.

- Se você tem algo contra, é bom se manifestar agora. Vou deixar o seu pai amarrado aqui para que alguém o capture depois. Aurores devem aparecer a qualquer minuto.

O rapaz empertigou-se. Sua palidez aumentou e uma sensação dolorosa tomou conta de seu estômago.

- Ele é meu pai...

- E também é um Comensal. E me atacou e vai atacar Hogwarts. Eles estão atrás de Harry.

- Harry! Onde está o senhor maravilha agora? Protegido no quarto? – perguntou irritado.

A garota resmungou que não responderia nada. O rapaz deu de ombros. E então se deu conta que ela, Gina, não deveria estar ali. A atacante da grifinória nem mesmo pestanejou.

- Eu vi os professores saindo e resolvi segui-los. E você? O que faz aqui se não é um Comensal?

- Meu pai me chamou e eu já disse que não sou Comensal. Será que o que eu fiz não foi suficiente para você? Eu nem sei o que vai acontecer comigo depois disso. Posso até ser deserdado. Tá percebendo o que eu quero dizer? Por acaso, você acertaria o seu pai no meu lugar?

- Não há Comensais na minha família. Por isso, nunca vou precisar fazer o que você fez.

- Tudo bem. Pode se gabar. Agora vamos voltar para o Castelo. Enquanto você estiver comigo, nenhum orc vai te atacar.

Por um minuto, ela ficou tentada a seguir Draco, mas lembrou-se que Harry ainda poderia estar por perto, necessitando de ajuda. Por outro lado, pensou em Hogwarts. A escola precisava ser alertada dos orcs. E do balrog. A lembrança a trouxe de volta para a batalha. Tinha perdido muito tempo naquela discussão com o rapaz de cabelos platinados. Ficou aflita.

- Draco, você pode fazer um favor para mim?

O sonserino se surpreendeu com o pedido e com a mudança na voz de Gina. Estava mais suave, menos nervosa. Em tom quase de súplica. Ele avançou um passo e fixou as pupilas no rosto dela. Respondeu afogueado.

- Faço qualquer coisa por você.

- Vá até Hogwarts antes que os orcs cheguem lá – disse com o rosto ruborizado. - Você vai poder passar por eles, não é?! Se você chegar primeiro pode ajudar a professora McGonagall a preparar uma defesa boa. Ela precisa saber o que está acontecendo aqui.

- Eu não vou sem você! Aqui é perigoso! E eu vou me odiar se te deixar assim tão vulnerável – retrucou, pegando Gina pelo braço no exato minuto em que se ouviu um urro violento do balrog vindo da campina.

Passado o susto, a garota se soltou, aborrecida. Respondeu que pretendia ficar ali. “E eu vou te odiar se você não ajudar a salvar Hogwarts”. Em seguida, acrescentou que tinha um trato com o professor Snape. Ficaria na retaguarda dos bruxos. Draco replicou que, nesse caso, não iria, preferindo ficar ao lado dela. “Não quero que você se arrisque sozinha”, justificou-se.

- Não é você que decide o que eu faço da minha vida. Agora, se você não é capaz de atender um simples pedido, então me esqueça – e já se preparava para sair, quando o garoto a puxou de novo pelo braço.

Com o movimento, Draco colocou Gina entre seus braços. As mãos pousaram em sua cintura e ele mergulhou os olhos nos olhos dela.

- Vou atender seu pedido, sua gata brava. Só não tenho certeza se a McGonagall vai acreditar em mim. Tem alguma sugestão para que ela não pense que eu estou a serviço dos Comensais?

Contra sua vontade, Gina gostou do contato. Apesar de ter consciência de que o rubor de seu rosto aumentava, ela se esforçou para falar com naturalidade.

- Diga que você está atendendo um pedido daquela que ficou no grupo graças à intervenção do professor Snape.

- O que? – estranhou Draco, ainda agarrado à cintura de Gina.

- Ela vai entender – completou, tentando afastar as mãos do rapaz, que teimou em envolvê-la outra vez.

- Eu ganho algo em troca? – perguntou insinuante.

Gina ficou escarlate. “A gratidão das pessoas e a consciência tranqüila”, respondeu, fugindo dos braços de Draco. “E acho bom parar com isso senão depois acerto as contas com você. E vê se não perde mais tempo”, reclamou deixando o rapaz para trás e correndo em direção à campina. Sentia o corpo quente, mas não podia se ocupar desses pensamentos. Não tinha idéia da situação da batalha. Estariam vencendo? Ou perdendo? O coração estava pesado com a incerteza. Então, seus olhos divisaram a guerra. E Gina soltou um grito de surpresa e horror.





*****




Desde o minuto em que Alvo Dumbledore lançara um feitiço que prendia o balrog à terra, a criatura urrava procurando se libertar. Atiçara as chamas em seu corpo, mas as raízes brancas que o prendiam permaneciam intactas. Comensais disparavam feitiços contra elas, mas isso só fazia com que engrossassem e tomassem de vez as pernas do monstro, cada vez mais enredado na armadilha montada pelo diretor de Hogwarts. Voldemort aparatou ao lado de seus aliados e quando se deu conta do que acontecia, vociferou.

- Seus idiotas, não percebem que Dumbledore usou um truque em seu feitiço? Quanto mais tentarem soltar o balrog, mais ele ficará preso.

Em seguida, o lorde das trevas apontou a varinha para as raízes e as transformou em anéis de fumaça. O balrog grunhiu e ergueu os olhos em direção ao castelo, cujas torres visualizava na altura em que se encontrava. Estava realmente furioso e de seu corpo vinha um calor quase insuportável. Nesse instante, Dumbledore ressurgiu. Aparatou diante da criatura e, como se golpeasse o ar com uma espada, agitou a varinha e fez surgir uma enorme fenda sob os pés do demônio. Imediatamente, três Comensais começaram a disparar azarações e o velho professor teve de se defender. O balrog afundou no buraco, mas conseguiu se prender à superfície com as garras. E passou a subir lentamente. As chamas tinham se apagado.

- Agüente firme, professor, que eu cuido desse bicho mau! – gritou Hagrid, que escapara de dois Comensais.

O guarda-caças pegou a besta que usava durante suas inspeções pela floresta e arremessou diversas flechas contra o monstro. Ele explodiu em chamas, uivando. Da boca, escorria sangue. Os olhos vermelhos se incendiaram de ira e ele alçou um vôo curto para escapar da fenda e capturar Hagrid, pego de surpresa com a reação rápida. “Ah, você consegue ser mais ágil, monstrengo”, tripudiou, usando o máximo de suas forças para se desvencilhar. O balrog apertou o guarda-caças numa das mãos. Hagrid berrou de dor, sentindo seus ossos se quebrarem em várias partes do corpo. Em segundos, seria esmagado.

De onde estava, Harry gritou. Até aquele momento, assistira à batalha indeciso. Queria lutar, mas cedera ao apelo de Hermione. Afinal, nos últimos tempos os conselhos dela tinham se revelado os mais corretos. Só que naquela hora, não duvidou mais de que seu papel era entrar na batalha. Inspirado em Dumbledore, o rapaz decidiu aparatar sobre o balrog e distraí-lo a ponto de libertar Hagrid. Era uma medida arriscada. Ele poderia se inflamar a qualquer momento, mas Harry não tinha tempo a perder. Ainda protegido com a Capa de Invisibilidade, surgiu no pescoço da criatura e, apontando para o monstro, disse Accio flechas. As setas disparadas antes por Hagrid saíram violentamente dos ferimentos, indo parar nas mãos do bruxo e fazendo o balrog urrar de dor e soltar o guarda-caças com um movimento brusco. Harry foi arremessado para o chão, ao lado de Hagrid. O garoto não se machucou, mas ficou sem a capa e deixou a varinha escapar de sua mão. “Que azar”, lamentou-se. Entre recuperar a varinha e ajudar o amigo, Harry ficou com a segunda opção. Gemendo de dor, Hagrid abriu os olhos e o reconheceu.

- Harry! Como você veio parar aqui?

“Pense rápido. Pense rápido”, esforçava-se Harry. Ele procurava arrastar Hagrid para longe do balrog enquanto buscava uma saída para os dois. Num lance rápido com os olhos, percorreu a campina para tentar localizar Dumbledore, McKinley ou Snape. E onde estariam Rony e Hermione? A escuridão, no entanto, não o ajudava. Foi quando o monstro voltou a inflamar o corpo. Voldemort ainda não percebera Harry ali porque estava caçando Dumbledore. Ninguém parecia ter se dado conta de sua aparição, exceto o balrog que fixou o olhar sobre Harry. Ele passou a mão sobre o rosto de onde escorria mais sangue. Os ferimentos estavam mais abertos, provocando mais dor e ira no demônio. Numa língua estranha, ele pronunciou algo que soou bastante ameaçador para o rapaz. “Estou frito. Preciso da minha varinha”, lastimou-se. “Fuja, Harry”, berrou Hagrid. Mas o bruxo não desistiu. Concentrou-se e bradou Accio varinha no minuto em que o balrog abriu a boca para soltar um jato de fogo. A varinha veio voando acelerada e pousou na mão de Harry. “Deu certo”, murmurou. Naquele exato segundo, McKinley aparatou ao lado dos dois. O monstro despejou sobre o grupo chamas vermelhas com um ímpeto que teria incendiado imediatamente uma cabana. O professor executou um feitiço que Harry nunca ouvira antes.

- Globus!

Uma imensa bolha azul cobriu McKinley, Harry e Hagrid. Embora tivesse uma textura lisa e fina, fornecia uma boa proteção contra o fogo. O calor, entretanto, aumentava sem parar. O professor usava muita energia para manter aquele estranho escudo intacto. E, com o suor escorrendo do rosto, comandou a resistência. Os jatos do balrog continuavam incidindo sobre eles com violência. Ele girava o corpo para mudar a direção das chamas e encontrar uma brecha que arrebentasse a proteção.

- Reforcem a barreira do globo usando Protego se não quiserem morrer cozidos. Esse demônio é a criatura mais forte que já enfrentei em toda minha vida!

- Eu não posso mexer meus braços nem pernas, professor – arfou Hagrid.

- Podemos desaparatar e levar Hagrid conosco? – perguntou Harry antes de gritar Protego.

O feitiço fez com que as chamas se afastassem um pouco da bolha azul. O demônio se irritou e intensificou o ataque. As labaredas que cobriam seu corpo ganharam altura e calor. E o fogo foi cobrindo o globo. Faltava pouco para envolvê-lo por completo. McKinley soltou uma imprecação. Tinha de se concentrar mais, porém respondeu à dúvida de Harry.

- Quando se está no globo, não se pode aparatar. Estamos fechados aqui. Temos de resistir o quanto pudermos. A noite inteira se for preciso. Por isso, se concentre mais em seu feitiço, Harry. Precisamos de energia para três! E Hagrid não é pequeno!!!

- Se for assim, professor, que esta não seja a noite mais longa do ano! – disse Harry, fixando a mente no feitiço, enquanto o suor começava a escorrer em sua nuca.

As chamas estavam se fechando sobre o globo quando Gina surgiu na campina. A cena a desesperou. No meio da balbúrdia da batalha entre os bruxos das trevas e Snape e Dumbledore, seu grito de horror se perdeu. Ninguém a ouvira. A garota acabava de reconhecer Hagrid caído, McKinley movimentando-se seguindo a direção do jato de fogo e Harry logo atrás dele, unindo o feitiço de sua varinha ao do professor. “É agora ou nunca.” Abaixando-se e escapando da luz emanada pelas chamas, Gina correu em direção ao balrog. Perto dele estava a besta e a aljava de Hagrid. Ela se recordou que no ano anterior tinha praticado um pouco com Hagrid. A ruiva botou a varinha na boca, pegou a arma e uma flecha. Mirou num dos olhos vermelhos da criatura. “É como mandar a goles para o gol. Só isso”, pensou, focando a vista. Respirou fundo. Tinha pouco tempo. A bola azul dava sinais de enfraquecimento. Começava a clarear, lambida quase totalmente pelo fogo. Gina disparou com precisão. A flecha se fincou no olho esquerdo do balrog. “Contchegui”, balbuciou ainda com a varinha na boca. Mal acreditava no feito.

O monstro urrou enquanto uma torrente de sangue escuro e espesso escorria do globo ocular. Contraído pela dor violenta, cessou as chamas e os três bruxos puderam sair do escudo. Estavam praticamente sem fôlego e com os rostos afogueados. McKinley ainda não tinha entendido o que acontecera, mas não procurou a resposta de imediato. Dirigiu novo feitiço para Hagrid, para remendar os ossos quebrados. Harry voltou sua atenção para o balrog. O demônio, porém, não estava mais interessado nele. Com seu chicote, desferiu um golpe flamejante contra Gina. A garota soltou mais um grito, embora tivesse conseguido se abaixar e escapar do ataque. Foi como se despejassem água gelada sobre a espinha de Harry.

- Gina! – gritou, fazendo com que McKinley e Hagrid a descobrissem a poucos metros deles.

A ruiva pulou para outro lado porque o balrog agitou o chicote no ar mais uma vez. Uma das pontas atingiu a barra da calça da garota e um fogaréu surgiu rapidamente. Sem perder um segundo, Gina gritou Acqua e extinguiu as chamas. Estava aterrorizada. Harry começou a correr, porém McKinley o conteve. “Tire Hagrid daqui e eu cuido dela”, disparou. O balrog abriu as asas de novo e incendiou o corpo para lançar outro jato, desta vez sobre a garota. McKinley aparatou ao lado de Gina e evocou o feitiço escudo no instante em que as chamas se abateram sobre eles. “Foco, Gina. Use Protego”, ensinou, mantendo o globo azul em torno deles. A garota fez o que o professor mandou. A bola estava toda envolvida pelo fogo e Gina imaginou que aquilo era comparável à boca do inferno. Resistiu, porém, e colocou todas suas energias no feitiço, ajudando a aumentar a barreira protetora.

Era emoção demais para Harry. Depois do feitiço de McKinley, ele executou outro sobre Hagrid. “Enervate!”. O guarda-caças finalmente se levantou, sentindo o corpo todo dolorido.

- Você está bem? Pode se cuidar sozinho? Tenho de ajudar a Gina.

- Vamos juntos, Harry.

Os dois correram até o balrog. “Vamos estuporar esse monstro ao mesmo tempo. Na cabeça”, ordenou o bruxo. O guarda-caças apontou o velho cabo do guarda-chuva e disparou o feitiço, seguindo o gesto do rapaz. A magia exerceu pouco efeito. O balrog sacudiu ligeiramente o corpo, mas manteve as chamas sobre McKinley e Gina. “De novo”, gritou Harry e concentrou suas forças para que o feitiço fosse mais potente. Para alívio de ambos, o esforço funcionou. O balrog ergueu a cabeça com dor e deu um urro que preencheu o ar. O monstro não queria ceder, entretanto. Voltou a inflamar o corpo, dividido entre atacar McKinley e Gina ou Harry e Hagrid. Querendo proteger a garota a todo custo, Harry, então, gritou o mais alto que pode para a criatura.

- Eu estou aqui!

O demônio o mirou com os olhos flamejantes. Mas ele não foi o único a ouvir Harry. Do outro lado da campina, Voldemort e Dumbledore que duelavam violentamente, também escutaram. O lorde das trevas sorriu para o diretor e, sarcástico, deu um aceno de despedida. Desaparatou em seguida e surgiu ao lado do balrog.

- Harry, esperei tanto por você. É muita gentileza ter vindo aqui. Poupa-nos o trabalho de ir buscá-lo.

O vento ondulou a capa negra de Voldemort. Harry teve a impressão de que a noite gelara subitamente.









Desculpem a demora. A batalha continua...

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