CAPITULO 17



CAPITULO XVII

O barulho do despertador, marcando 8 da manhã, zuniu no meu ouvido, me provocando uma súbita irritação. Porque diabos eu tinha comprado aquilo mesmo? Nem precisava... sempre acordava as 6 da manhã, todo santo dia. Mesmo que esse dia fosse domingo. Para minha total tristeza!

Me virei de lado, enfiando a cara no travesseiro, morrendo de vontade de voltar a dormir. Deus, não dormia direito há dias. Inferno de insônia!

- Mamy!? Está acordada? – A voz do meu príncipe ecoou pelo quarto.

- Sim. – Murmurei com a voz abafada, ele gargalhou e em seguida senti seu peso em cima do meu corpo, que ainda estava tentando acordar.

- Sabia que você pesa à beça? – Como resposta, apenas obtive mais gargalhadas.

- Vai me levar ao parque hoje? – Me virei para encará-lo, e notei o quanto seus cabelos castanhos estavam bagunçados.

Parecia um anjo. Os cachos cor de mel junto com uma face inocente, olhos negros brilhantes e peraltas, era meu anjinho. Meu pequenino. Meu filhotinho.

- MAMÃE! – Gritou por conta do meu silêncio.

- Tudo bem Thiago, iremos ao parque.

- Iupiiii... – Sorri com sua alegria, enquanto ele corria do meu quarto.

Provavelmente estava indo se arrumar.

Levantei meio molenga, e me dirigi ao banheiro. Quase me assustei com a visão diante do espelho. Estava um caco. Olheiras profundas e olhos vermelhos. A expressão de cansaço que não parecia querer me abandonar, nem tão cedo.

Funguei revoltada e me despi para um banho relaxante. Pensando no porquê, ultimamente, eu vinha ficando tão preocupada.

Aqueles flashes... Aqueles sonhos, o rapaz de cabelos vermelho, o de cabelos arrepiados, o de cabelos negros, a garota ruiva, o bebê...

Desliguei a torneira e me enrolei na toalha. Eu tinha que descobrir o que era aquilo. Falar com o doutor Sebastian, descobrir o porquê daquilo de repente. Sabia que uma parte importante da minha memória tinha sido afetada com o acidente, mas de acordo com o médico, eu jamais voltaria a lembrar do meu passado. E aquilo só podia ser do passado. Não me lembrava de ninguém que tivesse conhecido nos últimos anos, que se parecesse com as pessoas daqueles flashes.

Me arrumei rapidamente e segui para a cozinha. Thiago já me esperava lá, tomando seu cereal, enquanto lia um gibi do homem aranha.

- Não devia ler enquanto come, mocinho. – Ele resmungou algo inteligível, e engoliu mais uma colherada de cereal.

Resolvi deixar pra lá, apanhando um pouco de café na cafeteira. O líquido quente escorreu pela minha garganta e eu quase gemi de satisfação. Nossa, precisava daquilo. Meu corpo praticamente suplicava por cafeína.

- Terminei! – Thiago gritou pulando em euforia, jogando o guardanapo longe.

- Espero sinceramente que toda essa energia fique no parque. – Ele sorriu alegre, e me dirigi pra sala.

- Já vamos mamy?

- Vou pegar a chave do carro e a bolsa, Prince. – Ele concordou e seguiu em direção à porta de saída.

Tentando achar a bolsa, perdida entre os brinquedos de Thiago, escutei quando o próprio começava um diálogo com um estranho. Larguei a tarefa de encontrar a bolsa e corri para a porta de entrada da casa. A primeira coisa que vi, foram as costas de Thiago, e à sua frente, um homem.

Estanquei no mesmo lugar. Eu conhecia aquele homem. Já o tinha visto. Em meus sonhos. Era ele sim, mais velho, mas não tinha dúvidas. Aqueles olhos azuis, os cabelos pretos, o porte másculo, alto, e incrivelmente sexy, como o pecado.

Assustada, e respirando dificilmente, dei dois passos e agarrei Thiago pelo pescoço e o trouxe para perto de mim. O mesmo não parecia assustado, e apenas sorriu e se desvencilhou do meu abraço.

- Mamy, esse moço disse que deseja falar com senhora. – A voz de meu filho parecia estar longe, diante do turbilhão de imagens que aparecia em minha mente.

- Quem é você? – Perguntei, com a voz meio engasgada.

- Me chame de Sirius. - Franzi a sobrancelha. Deus a voz dele era grave. – Sirius Black.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Um mês depois...

Meu sorriso não poderia ser maior. Um mês! Fazia exatamente trinta dias que eu estava com Harry Potter. E eu não podia negar que aqueles trinta dias estavam sendo os melhores de toda minha vida.

- Que sorriso babaca. – Luna murmurou perto do meu ouvido me fazendo voltar à Terra.

Mione, que estava prestando atenção no que a professora dizia, riu de lado, percebendo minha mancada.

- Estranho, pelo o que eu me lembro, você também estava com um sorriso bem babaca, no dia da mudança na casa da Krika. – Respondi marotamente, devolvendo a cutucada.

- É claro que eu estava, tinha meus motivos oras. – Luna desconversou.

- Você devia ter vergonha Luna. – Mione se juntou a gente quando a professora pediu que o grupo começasse com a pesquisa. – Aliás, você e Colin deveriam ter vergonha. Será que vocês dois não podem ir à casa de ninguém sem batizá-la?

- Hermione, não fizemos nada. – As bochechas de Luna denunciavam tudo. Tive que rir.

- Luna, você tem que concordar com a gente. Vocês dois são terríveis, parecem até que andam desesperados. – Ela me olhou espantada, e depois resmungou voltando a atenção ao dever.

- Ainda nem criei coragem de usar o banheiro do corredor, lá de casa. – Mione cochichou e mais uma vez eu gargalhei.

- Banheiro do corredor? Mione você pelo menos ainda tem o do seu quarto, e eu que fiquei sem minha sala de vídeo? Meu sofá preferido. – Terminei, com um drama típico de novela mexicana.

- Ai, vocês duas fazem qualquer um ter vontade de enfiar a cara num buraco. – Luna respondeu revoltada.

- Quem manda ser assanhada, dona periquita.

- Vai me dizer que nunca na sua vida você batizou a casa de alguém? Que foi algo tão forte, que nem se quer deu pra segurar? Conta outra vai Gi. – A loura me encarou desafiadoramente.

- Não estou negando Lu, só estou dizendo que do grupo, você é a mais assanhada. – Ela levantou a sobrancelha, com um sorriso irônico nos lábios.

- E nossa Mione não conta?

- Eu? Me tirem dessa, eu ‘tô quieta aqui fazendo o meu trabalho. – A morena respondeu na defensiva.

- Mas pelo que eu saiba, você e o Roniquito querido, também adoram batizar lugares. – Seus olhos cresceram fora das órbitas.

- De onde tirou isso Luna, ‘tá doida? Eu nunca... – E de repente sua voz foi morrendo, enquanto seus olhos cresciam cada vez mais. – Meu Deus! Eu... eu batizei um lugar! – Falou, levando uma das mãos à boca.

Caímos na gargalhada, vendo o desespero de Hermione.

- Mione, calma ‘tá bom, não é pra tanto – tentei apaziguar as coisas. – Se isso te deixar feliz, Luna continua a campeã.

- Hei!

- Agora conta Lu, qual lugar da casa da Krika devemos evitar? – Ela revirou os olhos não querendo responder.

- Só se a Mione disser qual eu devo evitar. – Olhei para Mione com um sorriso pidão.

- Credo vocês duas são o ó! – E se virando totalmente pra Luna respondeu com a bochecha vermelhas feito sangue. – Foi uma vez, e foi como você disse, não deu pra segurar, era muita emoção...

- Mione quer parar de enrolar?

- Na piscina do Harry. – Respondeu rapidamente.

- Peraí? E aquela vez lá em casa, hein Mione? Aquilo não conta? – E mais uma vez Mione se assustou e levou a mão à boca, abafando um grito.

Outra onda de gargalhada tomou conta de Luna e eu.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Sempre achei que a maluquice da mamãe não pegava, mas infelizmente, estou vendo que estava terrivelmente enganada. Nos últimos dias venho me comportando como uma lunática. E como aquilo me irritava. Por isso que tem gente que diz que a convivência estraga as pessoas. Aquilo com certeza era verdade.

Mamãe sempre se comportou como a adolescente da família, me fazendo assim ter que tomar as rédeas e virado a adulta. Obrigada é claro! Mas mesmo assim, eu tomava aquilo como uma coisa meio que natural pra mim. Não que eu adorasse as doideiras de mamães e seus namorados sem futuro, mas tomar as decisões e me comportar como se tivesse mais idade que o normal, pra mim era fácil, como se tivesse nascido comigo. Uma vez tinham me dito, que minha mãe tinha sorte por me ter, pois quem era a chefe realmente daquela família era eu. No dia, lembro do meu peito inchar de orgulho. Eu estava sendo chamada de responsável, e isso é muito difícil, quando você tem 16 anos. Qual adolescente é tão responsável assim sem pirar ou jogar as verdades na cara da mãe? Quem consegue viver com tal pressão? Bom, pelo o que eu achava, que era essa pessoa, pelo menos no passado.

Como tudo havia mudado. E tudo porque tinha pedido para mamãe para sossegar o facho. Se soubesse que com esse pedido, viria tanta coisa louca pra minha vida, destruindo todo meu mundo responsável, teria pedido pra ela continuar doida! Não que ela esteja sã, e de uma hora pra outra tenha virado aquela mãe dedicada, que cuida da casa e filhos, mas agora, tudo parece de ponta cabeça. Não sei como agir, me comportar, me sinto um bicho fora do ninho.

Tudo é louco, diferente, tenho batalhas internas comigo todo dia, vejo mamãe fazendo o café da manhã – coisa que eu fazia – e sinto tudo estranho. Lanches para levar para escola, dedicação, preocupação. Deus! Nem parece mais minha vida.

Mas não era aquilo que eu queria? Não era tudo que tinha pedido a vida inteira? Droga eu detestava ter que ficar me mudando, sem ter nem ao menos tempo de esquentar a cadeira da escola que sentava! Eu tinha 16 anos e era praticamente uma freira. Uma babaca inocente, que tremia quando um rapaz se aproximava de mim. Que nunca tinha chegado perto de um garoto! Até chegar ali pelo menos! Mas não era o contrário que eu sempre quis? Viver?

Arfh!

Porque eu sempre dificulto as coisas? Quando mamãe vivia mudando feito uma louca desvairada eu pirava, e agora que ela sossegou, simplesmente piro de novo! Eu só posso ser completamente louca! Por isso reafirmo: a maluquice da mamãe pega. Só isso explica os fatos.

- Vocês têm apenas cinco minutos para terminarem os trabalhos. - A voz chata do professor Snape ecoou pela sala.

Revirei os olhos, bufando pela milionésima vez. Meu trabalho já estava pronto, tinha feito em dupla com Harry. A maluquice ainda não me tinha feito tão irresponsável assim, graças aos deuses conseguia fazer os trabalhos escolares!

- Você está bem? – Harry murmurou perto do meu ouvido.

- Por que não estaria? – Perguntei também em voz baixa.

- Bom tem horas que você está aí resmungando feito uma velha. – Olhei para ele chocada. Maldição! Eu ‘tava doida mesmo!

- Não se preocupe, eu estou bem. – Senti que Harry não engoliu nem por um segundo minha desculpa.

- É o Draco? – Desviei meu olhar dele para o louro que estava do outro lado, sério, prestando atenção no seu trabalho. Rony estava ao seu lado fazendo dupla com ele.

- Porque acha que é ele o motivo? – Perguntei meio revoltada. Por que todo mundo ultimamente vinha achando que meu mundo girava em torno do Malfoy?

- Ouvi perfeitamente bem entre seus resmungos o nome dele. – Pronto. Aquilo tinha me quebrado, em todos os sentidos da palavra.

Uma vontade de me autoflagelar me tomou, e eu quase meti a cabeça na mesa.

Nem consegui responder, apenas fiquei encarando Harry, com uma cara pra lá de idiota, abrindo e fechando a boca, como um peixe fora d’água.

Senti vontade de soltar um urro de raiva. Mas que droga! Por que eu tinha aquela mania idiota de expressar mais do que devia? Por que tinha que ser tão transparente? Aquilo era castigo por acaso? Que idiota!

- Acho que vocês dois deveriam se dar uma chance. – Sorri não agüentando o real significado da palavra.

- Só que tem um pequeno probleminha aí Harry. Só se pode dar chances quando há interesses. – Respondi sabiamente, me sentindo. É claro que ignorei completamente o sentindo das minhas palavras.

- Mais interesses do que vocês dois demonstram? Krika pelo amor de Deus! – Me assustei com o súbito estresse de Harry. – Vão ser complicados assim lá na China!

- Hei! Eu não sou complicada. – Revidei em vão. Tadinha, eu sou tão ingênua né?

- Krika põe uma coisa nessa sua cabeça colorida. A oportunidade que você esta tendo com o Draco, nenhuma garota teve. E se eu estivesse tão gamada assim como você, eu não perderia meu tempo. – Fechei a cara diante daquela resposta.

Então era isso? Eu era complicada? Que coisa maravilhosa! Além de maluca, sou complicada também. É ou não é para se explodir de felicidades? Autoflagelo, autoflagelo...

- Tempo acabado. Quero que deixem os trabalhos em cima da minha mesa. – Snape anunciou.

Me levantei, ainda resmungando, com o resto da turma. Sentia que tinha alguém atrás de mim, mas não lhe dei atenção. Ainda estava distraída, no meu autoflagelo mental, para perceber qualquer coisa.

- Sabe, se você continuar desse jeito, terei mesmo que interná-la. – Ouvi aquela voz nojenta, que eu vinha tentando ignorar.

Respirei fundo e comecei a contar até dez, mentalmente.

- Você não tem o que fazer não? Pintar o cabelo quem sabe? – Ele gargalhou às minhas costas e meu corpo arrepiou inteiro.

- Quanta raiva reprimida. – Puxei o ar com mais força que o normal. – Acho que você tem que extravasar princesa.

- Não enche Malfoy.

- Eu não encho Krika querida, eu preencho, é completamente diferente. – Me virei sem conseguir me controlar.

- Com certeza querido, você realmente preenche. PREENCHE O MUNDO COM SUA PRESENÇA INSUPORTÁVEL! – E com um grito completamente descontrolado, joguei o trabalho na mesa de Snape, e sai da sala, fula da vida.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

O Angeles México mesmo sendo novo, com não mais que trinta anos, era um hospital grande e especializado na área de neurologia. Todos os casos bisonhos do mundo médico, estavam sendo pesquisados e tratados ali. E eu ainda não acreditava como fui me deixar levar por Sirius, para visitar um cara que não fazia a mínima idéia de quem era.

Mas eu tinha dado minha palavra, e agora estava ali, esperando por ele na recepção. Thiago havia reclamado bastante, porque queria ter vindo, mas não tinha nada a ver ele estar ali. A tarefa era minha, por esse motivo, ele estava com a babá Lucita.

- Muito atrasado? – Ouvi a voz grave, me puxado de volta ao mundo.

- Vou matá-lo – respondi, sorrindo diabolicamente.

- Bom, pelo menos já estou no hospital. – Senti ganas de gargalhar, mas me segurei.

- Vamos logo com isso Sirius, ainda tenho que levar Thiago ao judô.

- Que lindo, ‘tô comovido. Só ainda não entendo por que o pestinha tem mais prestígio que eu. – O encarei séria e vi quando o moreno engoliu em seco. – Ok, não brinco mais.

- Você me disse, que o tal cara está em coma há 15 anos? – Sirius balançou a cabeça concordando. – Não entendo como posso ajudar.

- Lily...

- Já disse que meu nome é Ellen, e não esse diminutivo, que você cisma em me chamar. – Cortei brava.

- Certo, certo. Nossa tem alguém amarga aqui, ou é impressão minha? – Revirei os olhos, tentando controlar meu gênio.

- Sirius!

- Ele está em coma há 15 anos. Mas o médico me garantiu que ele escuta. – Ele respondeu rapidamente.

- Então você acha que se eu falar com ele, pode ser que alguma coisa aconteça? – Perguntei curiosa.

- Exatamente.

- O que estamos esperando?

- ‘Tá eufórica pra ver o Potter, né? – Perguntou brincando.

- Como poderia, nem o conheço. – Aquilo pareceu afetá-lo, pois vi Sirius murchar, triste.

- Vamos, o médico está a nossa espera.

E respirando profundamente, segui Sirius por um corredor extenso, em direção à ala neurológica.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Estávamos todos comendo numa mesa grande do pátio do colégio. A turma toda. Mesmo que alguns ainda não se bicassem direito. A gente sabia que aquilo ajudava Rony com sua memória, então mesmo sendo desagradável, fazíamos esse esforço.

- Estou morto de fome.

- Nossa ‘tá aí um coisa que você não esqueceu Rony, sua gigantesca fome. – Gina falou fazendo todos rirem na mesa.

- Joguei praticamente a manhã inteira, o técnico arrebentou comigo. – Não desviei minha atenção do meu sanduíche.

- Pensei que você fosse demorar mais para chegar perto de uma quadra, Ron. – Harry comentou, enquanto roubava uma batata do prato de Gina.

- O médico achou melhor Rony fazer uma atividade física. – Gina que respondeu.

- Mas acho que, mesmo assim, foi cedo demais. – Krika respondeu, comendo seu bolo de chocolate.

- Eu gostei, pelo menos deu pra extravasar. – levantei os olhos e encarei Ron que comia seu sanduíche gigante.

- O técnico adorou a volta de Rony, deu pra perceber na cara sádica dele. – Draco comentou, comendo seu sanduíche natural.

- Acho que concordo com a Krika. – Falei sem conseguir me controlar, e me arrependi amargamente por isso, pois todos agora me encaravam.

- Por que acha isso Hermione? – Engoli em seco, e procurei evitar os faróis azuis de Ron, enquanto respondia sua pergunta.

- Bom. – Comecei meio incerta. – Alguém pode machucar você seriamente no treino.

- Não se preocupe Hermione, eu sei me cuidar. – Fiquei me sentindo uma idiota por ter me preocupado à toa.

Voltei a comer meu lanche, calada. Eu não devia ter aberto minha boca mesmo. Todos pareceram perceber meu constrangimento, e a tensão que ficou entre a gente, pois trataram de comer em silêncio agora.

- Ronald Weasley. – O silêncio foi quebrado pela voz melodiosa da loura mais insuportável de todas. – Você foi divino hoje. Merece um prêmio. – Eu juro que tentei, mas meus olhos não obedeciam ao comando de ignorar a loura oferecida.

- Obrigado Débora, mas realmente é desnecessário o prêmio – senti vontade de gargalhar, e o fiz.

Era a primeira vez que em dias, eu tinha felicidade dentro de mim. Satisfação em algo. E ver Rony dispensando aquela loura nojenta, me deixava muito feliz, muito satisfeita.

- ‘Tá rindo do que Granger? – Minha gargalhada triplicou com a pergunta.

Eu ria tanto, que aos poucos fui contagiando a todos, e quando eu dei por mim, Gina, Luna, Krika, Harry, Draco, Colin e até mesmo Rony riam, mais eu jurava que eles desconheciam a causa. Parecia uma bola de neve, descendo morro a baixo, sem controle, e sem nexo.

- Vocês são retardados? – Débora perguntou e só para irritá-la eu gargalhei mais alto. – IMBECIS! – Gritou puta, dando as costas e saindo, marchando pelo pátio do colégio.

Quando a loura estava longe, minha gargalhada foi cessando, e aos poucos ela acabou, enquanto todos ainda riam da cara de bunda de Débora.

Encarei Rony, que como se tivesse combinado comigo, tinha também parado de rir.

- Você adorou a resposta. – Ele falou baixo, apenas para eu escutar.

- Não é todo os dias que presenciamos um fora assim, de camarote. – Respondi séria.

- Sabe qual é sua sorte, Granger? – Levantei a sobrancelha em dúvida. – A sua sorte é que tem pessoas, que não querem de jeito nenhum ter ver mal... Digamos que elas não conseguem essa proeza.

E com essa resposta, que me deixou terrivelmente encucada, Rony levantou, me deixando ali, na mesa com meus amigos ainda rindo, atônita de tudo.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Nunca em toda minha vida, pelo menos na parte que eu me lembrava dela, tinha visto um homem tão bonito, e ao mesmo tempo tão acabado. Era dois extremos eu sabia, mas que fazia todo sentindo, quando olhava para aquele homem deitado ali, aparentemente dormindo, no leito do hospital. Os cabelos grandes, espetados para todos os lados possíveis e negros, como eu nunca antes havia visto. O rosto quadrado, másculo, o nariz afilado, bonito, combinando com a boca pequena. Uma barba rala, mostrando que fazia uns dias que não faziam. Magro.

Thiago.

Esse era o nome dele, assim como meu filho. Era tão estranho aquilo, porque eu sentia lá dentro, que sempre tinha gostado desse nome, e quando meu filhotinho tinha aparecido na porta de casa, embrulhado, dentro daquela cestinha, o nome que tinha vindo à minha mente, tinha sido Thiago. Assim como o homem que eu encarava, dormindo um sono anormal.

- Lembra da história que eu lhe contei, Ellen? Do homem com quem você foi casada? – Sirius perguntou, mas sua voz estava tão distante. Meus olhos estavam presos no homem do leito.

Senhor! Eu lembrava dele. Não da forma que queria, mas dos sonhos. A menina ruiva dos meus sonhos parecia ser muito feliz com ele. Rindo, brincando, abraçando, beijando...

Meus olhos caíram, sem meu consentimento, em seus lábios. Engoli em seco, sem saber. Por que meu coração estava batendo daquele jeito? Maldição, o que era aquilo que estava acontecendo comigo?

Desde o acidente, minha vida tinha virado de ponta cabeça. Eu não era mais a mesma, sabia aquilo do fundo da minha alma. Não conseguia me envolver com ninguém, amigos era uma coisa rara, e o único que tinha conseguido penetrar na minha couraça, tinha sido meu filhote. Mas agora, tudo estava mudado, agora tinha Sirius, agora tinha ele... Thiago Potter.

- Ellen?

Caminhei lentamente em direção à cama. Tinha que chegar mais perto, vê-lo de perto. Céus! Eu queria tocá-lo.

- Lily? – Sirius murmurou, e para o meu espanto, o estranho se mexeu na cama, me dando um susto.

Parei em alerta, mas ele voltou a ficar estático. Tomando uma coragem que eu não sei de onde veio, me aproximei o suficiente da cama, e engolindo novamente em seco, segurei sua mão. Entrelacei as duas.

- Ele está apertando minha mão Sirius. – Minha voz embargou, e eu não sabia identificar se era de tristeza ou felicidade. Meu coração palpitava rápido.

Eu nunca tinha sentindo aquilo... ou já?

- Converse com ele Lily. – Sirius me incentivou.

Molhei meus lábios secos, e encarei o moreno a minha frente.

- Thiago? – Chamei meio tímida. E como resposta ele apertou minha mão, mais forte dessa vez.

- Sirius, acho que ele me escuta. – Murmurei nervosa.

Aquele homem respondia aos meus comandos, eu sentia isso. Uma felicidade, e vontade de querer outra vez, meio que me impulsionou a fazer mais, perguntar, buscar por mais.

- Thiago, se você me escuta, aperte minha mão. – E como resposta, sua mão apertou a minha fortemente.

Lágrimas de felicidade desceram pelos meus olhos, eu não me continha.

- Ele me escuta Sirius, ele me escuta. – Falei feliz, enquanto encarava os olhos brilhosos de Sirius.

- Eu percebi Lily, eu percebi.


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


Dois dias depois...

Festa do pijama na casa de Hermione...

O som estava ligado, tocando George Michael nas alturas. Meus pais tinham viajado para um congresso de odontologia, e isso realmente era maravilhoso, cada uma de nós estava empolgada e ocupada fazendo algo, espalhadas pela sala.

Gina dançava toda contente, com sua camisola gigante de malha, arrancando gargalhadas da gente, fazendo caras e bocas. Luna batia palma, e voltava a escrever no seu caderno. O que escrevia? Só Deus sabia, pois ela não deixava ninguém ver. Vestia um pijama, cheios de luas, cada uma fazendo uma careta, bem a cara dela.

Krika estava no outro lado da sala, sentada no chão, pitando as unhas do pé. Mas a todo momento de desconcentrava e gargalhava com as bobeiras de Gina. Vestia uma blusinha de alça cinza, com uma calcinha que parecia uma cueca, da mesma cor.

Bom eu estava no meu canto, tentando trançar meus cabelos, vestindo uma camisola de malha, assim como Gina, só que a minha era mais colada ao corpo.

- AI, EU AMO ESSA MÚSICA! – Gina gritou, pulando e batendo as mãos.

Todas nós concordamos e levantamos, dançando feitos loucas pela sala. Era uma coisa que concordávamos, todas as quatro adorávamos George Michael. Achávamos a musica dele sexy, boa pra dançar e extravasar.

- Oh, but I gotta think twice, before I give my heart away. – Krika cantou alto, e sorrimos achando graça da letra.

- And I know all the games you play, because I play them, too. – Luna completou.

Continuamos cantando, e dançando pela sala, fazendo movimentos com o corpo, numa dança louca, rindo. Luna correu pra poltrona que eu estava e pegou minha escova fazendo de microfone, não agüentamos e rimos novamente.

Gina que rebolava sem parar, correu pro outro canto da sala, onde tinha deixado o violão e passou a dançar com ele, igual George Michael, em seu clipe.

- 'Coz I gotta have Faith. I gotta have... Faith. – Cantamos o refrão juntas.

- Yes, I've gotta have Faith, Faith, Faith. I gotta have Faith, Faith, Faith. – A ruiva finalizou, dando uma pirueta, e rebolando o bumbum.

Desabamos no chão rindo à beça.

- Adoro George Michael. – Luna murmurou, contendo a respiração.

- Adoramos, você quer dizer, né? – Gina perguntou com a sobrancelha levantada. – Não monopoliza não. Tem que ter George pra todas, piriquita. – Gargalhamos juntas.

- A música dele é envolvente mesmo. – Krika comentou, enquanto cantarolava o refrão da musica seguinte. – Nossa deve ser tudo, fazer amor com essa música. – comentou, e todas nos a encaramos.

- Father Figure? – Perguntei sem me conter.

- O balanço dela me faz pensar em coisas totalmente impróprias. – Terminou rindo e escondendo o rosto vermelho de vergonha, nas mãos.

- Quem diria que você fosse uma assanhada Krika! – Gina falou rindo, enquanto recebia da própria uma almofadada no rosto. – Ai!

- Não sou assanhada, só quero que seja algo marcante. – Respondeu ainda com vergonha.

Eu até entendia a Krika, ela era a única ali que era virgem.

- Bom, a minha primeira vez foi na casa do Colin, e foi lindo, eu estava morrendo de medo, mais ele conseguiu que eu me sentisse uma princesa. Foi embaraçante aquele sangue todo no lençol, mas valeu pena. – Krika arregalou os olhos, mais chocada que nunca.

Luna realmente estava assustando a pobrezinha.

- A minha primeira vez, o Harry estava bêbado e foi no banheiro do quarto dele. – Krika olhou pra Gina horrorizada.

- Bêbado?

- É, mas foi perfeito, na hora eu não achei isso, é claro, pois depois ele me expulsou do quarto e brigamos, mas foi lindo assim mesmo. Quase não doeu, e não sangrou. – Krika coitada, parecia ainda mais confusa.

Resolvi contribuir, contando pra ela, como minha primeira vez tinha sido inesquecível.

- A minha, Krika, foi no quarto do Ron, e ele foi perfeito, carinhoso, paciente, e acima de tudo, me respeitou muito. Foi maravilhoso e inesquecível. Senti um pouco de dor sim, mas algo completamente insignificante, diante de tudo que senti.

Ela olhou pra mim e sorriu, fiquei aliviada por tirar a cara de terror da face dela.

- Fale por você, Mione, porque ainda consigo ouvir seus gemidos e do Ron quando fecho meus olhos, credo! – Arregalei meus olhos não acreditando no que ouvia.

- Virginia! – falei nervosa.

- Estou falando a verdade, Mione. Vocês dois são super escandalosos, sem falar que você parece um narrador de futebol, falava tudo que sentia. – Meu rosto esquentou vergonhosamente.

- Tenho medo da minha primeira vez. – Krika comentou, nos fazendo olhar para ela.

- Por quê? – Gina perguntou.

- Tenho medo de me precipitar, ou fazer algo idiota, algo errado. Ser um zero a esquerda nesse sentindo. – Olhamos pra ela comovidas, pelo medo dela.

- Você não vai ser, e tenho certeza que o cara que tiver essa proeza, também não vai achar. – Luna murmurou sorrindo.

- Tecnicamente como acontece, eu sei, mas não quando se trata de sentimentos. E se eu acabar machucando ele? Ou se... se ele perceber que eu sou horrível nisso e não quiser mais? – Sorrimos umas para outras.

- Krika, você está pensando em dormir com alguém? – Gina perguntou na lata.

Coitada da menina, ficou da cor de sangue, e não sabia o que fazia com o embaraço. A ruiva às vezes era tão direta. Krika ainda não tinha se acostumado com esse lado louco dela.

- Por que está perguntando isso? – Ela torcia a almofada que estava no colo, e não olhava pra nenhuma de nós.

- Se está pensando em dormir com o Draco, tenho certeza que você não terá nenhum problema. – Ela fechou a cara irritada.

- Quem falou no Malfoy, Gina? – Vi que um sorriso ameaçava surgir nos lábios de Gina, mas ela resolveu ocultar.

- Por que esse medo todo? O Draco é perfeito Krika. – A ruiva comentou.

- Se ele é tão perfeito assim por que você não ficou com ele? – Krika parecia irritada, na minha opinião.

- Porque eu não o amo. – Respondeu calmamente. – Não nesse sentindo pelo menos. Amo Draco como irmão.

- Idem. – Falei levantando o dedo indicador. – O amo como irmão também.

- Draco é legal. – Luna respondeu voltando a atenção ao caderno.

- Só que vocês são as únicas que o amam como irmão, queridas. – Olhamos de uma para outra e encaramos Krika. – Todas as garotas do colégio são loucas por ele!

- Bom, podemos apenas dizer uma coisa, ele beija maravilhosamente bem! – Gina falou rindo.

Cai na gargalhada da cara de incrédula de Krika, observando a expressão nostálgica de Gina.

- Acho bom você não comentar isso, perto do Harry.

- Não confunda Krika, Draco beija muito bem, mas ninguém se compara ao Harry. – Gina esclareceu rindo.

- Discordo, ninguém beija como Rony. – falei discordando.

- Ai que saudade do meu Colin. – Luna murmurou, enquanto escrevia compulsivamente.

- Bom, eu estou certa de que cada uma aqui acha que seu par beija melhor que ninguém, né? – E com a afirmativa de Gina, caímos na gargalhada.

Voltamos à atenção por um momento à música que tocava ao fundo, e começamos a cantarolar baixinho, uma olhando pra outra, a música contagiante.

- Freedom, you've gotta give for what you take… – Nossa voz saiu junta, num coral afinado.

- Podíamos montar uma banda, só de meninas. – Gina comentou, enquanto levantava e começava a cantar em cima do sofá

- As Gatinhas! – Luna intitulou.

- Credo que nome mais brega! – Krika falou, fazendo careta, e levando o dedo na boca, como se quisesse vomitar.

- As Rebeldes? – Tentei.

- Isso é quase um plágio. – Luna respondeu.

- As Apimentadas. – Gina gritou eufórica, ainda dançando em cima do sofá.

- Isso tem cara de lideres de torcida. – Todas nós sem exceção fizemos careta para a observação de Krika.

- O que sugere Krika? – Ela sorriu triunfante.

- As Irresistíveis. – Não agüentamos, explodimos em gargalhadas.

Ainda bem que já tínhamos a nossa banda, porque se fosse depender de fazer uma, e o pior, criar um nome, estávamos, todas, fritas.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Naquele mesmo horário, na casa de Harry.

Dia do pôquer.

- O que será que as meninas estão fazendo agora? – Perguntei, tirando a concentração, de todos, de suas cartas.

- Você faz de propósito, né Harry? – Colin perguntou, puto.

- Do que está falando? – Perguntei sonsamente, sabendo que aquilo os irritaria.

- Sempre que está perdendo, você tenta desviar nossa atenção, falando das meninas. É típico. – Draco respondeu, enquanto tragava seu cigarro, sem tirar os olhos de suas cartas.

- Que calúnia. – Me defendi, mas meu sorriso me denunciou.

- Você é um miserável. Aproveitador barato. – Colin exclamou enquanto acrescentava mais fichas na aposta.

- Só estava curioso oras! – Respondi e acrescentei mais uma ficha também.

- Luna deve estar escrevendo naquele caderno idiota, Gina dançando com seu violão a tira colo, Mione trançando o cabelo, e Krika, fazendo algo de garota, que na nossa frente jamais faria. – Encaramos Rony, perplexos com seu comentário.

- Como sabe dessas coisas, Rony? – Perguntei sem agüentar a curiosidade.

- Boa pergunta. – Draco murmurou.

- Eu deduzi. – A resposta dele não colou.

- Você anda deduzindo muito, nesses últimos dias. – Colin falou.

- Vocês acreditam no que quiserem, mas a verdade é que eu pensei na pergunta, e a resposta surgiu na minha mente. – Ele sorriu para suas cartas e jogou duas fichas na pilha de apostas.

Seguimos com as apostas, e ficamos num silêncio considerável, cada um concentrado nas suas cartas.

- Acho que você está lembrando das coisas aos poucos, Rony. – Falei sério.

- É provável. – Draco concordou.

- Pode ser. – Respondeu mudando duas cartas de lugar.

- Não parece muito feliz com isso. – Colin alertou.

- Apenas não faz diferença. – Respondeu colocando as cartas na mesa, emborcadas, escondendo seus valores.

- Mas você não quer se lembrar da gente? – Perguntei.

- Sei quem são. Isso é o importante, não é?

- Isso é tão estranho. – Tivemos que concordar com Colin.

- Não é porque você já sabe quem a gente é, que deve abdicar de suas lembranças Rony. – Draco avisou a Rony, que parecia revoltado com o tema da conversa.

- Sei o suficiente, não se preocupem. O que tiver que ser, será! Se tiver que me lembrar de tudo, vou lembrar. – Balançamos a cabeça concordando. – Só espero não ter nenhuma surpresa desagradável com essas lembranças. – Brincou.

Rimos com a piada dele.

- E a propósito, full house. – Rony falou todo cheio de si, mostrando três damas, e um par de 10.

Indignados, só podemos jogar nossas cartas sobre a mesa, enquanto Rony catava todas as fichas.

- Que horas são? – Colin perguntou, enquanto embaralhava as cartas novamente.

- São quase duas da manhã. – Respondi, enquanto seguia em direção à cozinha para pegar mais bebidas.

- Mamãe vai brigar se chegar tarde é? – Draco brincou, enquanto bagunçava o cabelo do louro mais novo.

- Não é nada disso, estava pensando...

- Iiiii, é por isso que está esse fedor de queimado? – Rony caçoou.

- Muito engraçado. – Colin respondeu ironicamente. – Vamos ligar para as meninas?

- Saudades da piriquita, Colin? – Draco perguntou ao mesmo tempo em que caia na gargalhada.

- E se estiver, qual o problema? Não sinto vergonha de afirmar, ok!

- QUE BONITINHO! – Gritamos, Rony, Draco e eu, deixando Colin vermelho.

- Vai dizer que vocês não sentem falta daquelas pestes? – Olhamos de uns para outros, e concordamos com ele.

- Quem vai ligar? – Perguntei.

- De quem foi a idéia? – Draco rebateu.

- Se eu ligar, a Luna amanhã vai me matar.

- Então liga você Harry. – Olhei para Draco e me encolhi na cadeira.

- Não posso, Gina me proibiu de atrapalhar a noite dela.

- E você Rony?

- Nem por todo dinheiro do mundo. Já tive a prova do quanto Gina é graciosa quando está irada. – Bufamos, inconsolados.

- ‘Tá certo! Eu ligo. – Draco falou, seguindo pra mesinha onde estava o telefone. – Estão me devendo, afinal de contas, sou o único que não tenho motivos pra ligar.

- Claro. – Respondemos em uníssono, em tom debochado.

Ele discou o número, enquanto tragava novamente o seu cigarro e sorria.

- Está chamando.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

- Alô? – Atendi ao telefone que chamava desesperadamente, enquanto as meninas continuavam dançar, sem sequer dar bola pro coitado.

- Krika? – Ouvi a voz, do outro lado, soar meio incrédula, e na hora me liguei quem era.

- Malfoy? – Assim que perguntei escutei sua gargalhada debochada.

- Sabe, não acredito no acaso, mas dessa vez acho que terei que dar meu braço a torcer. – Escutei em meio aos risos.

- O que você quer?

- Algo que certamente, você não poderá me dar através dessa linha de telefone. – Meu rosto esquentou de vergonha.

- Você não tem o que fazer não?

- Não. É por isso que estou ligando, tem coisa melhor do que perturbá-la? – Raiva descontrolada rolava dentro de mim.

- Vai catar coquinho, Malfoy! – Mais uma vez, o desgraçado gargalhou.

- O que estão fazendo?

- Nada que te interesse. – Respondi grosseiramente.

- Ai essa doeu. Você fere meus sentimentos Krika. – Conseguia até imaginar a cara do infeliz, se fazendo de coitado.

- E você lá tem isso? – Perguntei sarcástica.

- Não duvide nunca da capacidade de um Malfoy, querida. – Dessa vez eu que tive que gargalhar.

- E vocês, estão fazendo o que?

- Querida, direitos iguais! Não acha que antes de responder sua pergunta, você deveria responder a minha? – Eu conseguia escutar as risadas de Harry, Rony, e Colin no fundo, o miserável estava conversando comigo no viva voz.

Sorrindo malignamente, comecei com a minha lorota.

- Estamos brincando de guerra de travesseiros, todas nós apenas de baby doll curtíssimos, e suadas, muito... suadas. – “Não acredito!” escutei Colin exclamar. - Rolando umas por cima das outras. Num jogo super infantil. – Terminei cinicamente, engolindo minha risada.

- Isso é sério? – Meu esforço teve que ser tremendo pra não rir, pois quem perguntava dessa vez era Harry.

- E porque eu mentiria?

- Eu te conheço Krika. – Draco respondeu.

- Então você deve saber que o meu pijama, é aquele cinza, que você viu na casa da minha mãe. – O silêncio se alastrou, e eu até achei que eles iriam desligar.

- O que você está fazendo é crime, em vários países.

- Não sei do que está falando.

- Não devia provocar, Chris. – Me estremeci por completo, sua voz estava rouca.

Notei que estava mais silenciosa, a ligação, e então eu percebi que agora sim, estava conversando só com Draco.

- Continuo sem saber do que fala.

- O que você faria se eu fosse pra aí, agora mesmo? – Mordi os lábios, travessa.

- Eu? Eu não sei, mas Gina na certa te mataria.

- Ela me ama, não fará nada, tenho certeza.

- Eu não teria tanta certeza se fosse você, afinal de contas o aviso foi para todos: nada de rapazes. – outro silêncio se prolongou.

- Creio então, que você está quebrando a regra, senhorita.

Dessa vez quem ficou em silêncio fui eu. Ele tinha razão, mas Gina parecia tão ocupada, dançando e cantando com o resto das meninas, que nem fazia idéia da pessoa com quem eu estava no telefone. Ou seja, por hora, estava salva. Mas eu não podia brincar com a sorte, então numa manobra clássica, me apressei em me despedir.

- Você tem razão, tenho mesmo que desligar.

- Poxa, assim, fácil desse jeito? Que isso Krika, entregando os pontos? – Deus! Como ele era persistente.

- Alguém já te disse o quanto você é chato?

- E alguém já te disse o quanto você é resmungona? – Arfh! Que mala!

- Já terminou? Sabe, não quero desligar na sua cara, ferir seus sentimentos.

- Krika querida, você nunca... – Não deixei terminar, desliguei o telefone na cara dele.

Sorri contente, na certa, agora ele estaria soltando fumaça pelo nariz de tanta raiva.

- Quem era no telefone? – Gina perguntou séria, saindo não sei de onde.

- Ninguém. – Respondi rapidamente.

- Nunca vi alguém conversar tanto tempo com ninguém. – Engoli em seco.

- Gina...

- Da próxima vez que Draco ligar, me avisa está bem? – Ela falou me interrompendo.

- Como sabia que era o Draco?

- Eu não sabia.

E sorrindo, a ruiva me deixou ali, super sem graça, por ter caído, igual uma patinha, na armadilha dela.


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


Meu coração batia rápido, descompassado, frenético. Estava quase chegando em casa e sabia que, quando estivesse diante daqueles olhos castanhos esverdeados, teria que contar a novidade.

Como ele iria reagir?

Cheguei em casa, e joguei a bolsa e a chave do carro na mesinha, no hall de entrada.

- Lírio? – Tremi, era agora.

- Thi?

Ele entrou, sorridente, saindo da cozinha com um avental, limpando a mão em um pano de prato. Continuei parada na porta, paralisada.

- Fiz uma lasanha de vegetais deliciosa, pra nós dois. – Ele falou ainda sorrindo, mas seu sorriso morreu quando percebeu o quanto estava nervosa. – Lírio?

- Tenho algo pra te contar, Thi. – Mexi num fiapo da minha saia sem encará-lo.

- O que houve? Lírio o que aconteceu? – Sua aflição já estava me deixando mais nervosa.

- Eu fiz um teste hoje. – Comecei.

- Que tipo de teste?

- Teste de gravidez. – Falei rapidamente, sem conseguir levantar o rosto para ver sua reação.

- E?

- Deu positivo. – Murmurei baixo.

Tomei coragem e levantei o olhar para Thiago, e o que vi fez meu coração desesperado se aquecer.

Thiago sorria. Um sorriso de pura felicidade. Os olhos brilhando, marejados.

- EU SOU O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO! – Gritou correndo em minha direção, com os braços abertos.

Só pude gritar, quando ele me ergueu no ar e me rodou todo feliz.

Acordei molhada de suor e mais afobada que nunca. Deus! Tinha sido um sonho? Ou mais uma lembrança? Estava tudo uma confusão.

Levantei nervosa, e percebi que tremia descontroladamente. Uma coisa martelava na minha cabeça, me deixando zonza, sem rumo. O bebê! Existia um bebê! Sim isso eu tinha certeza, mas onde ele estava? Quantos anos tinha?

Peguei o copo de água que estava na minha cabeceira e tomei todo líquido de uma vez.

Sirius teria que me esclarecer todas aquelas dúvidas, não agüentava mais aqueles sonhos loucos, reveladores, que cada vez mais fazia minha cabeça pirar.

E de uma vez por todas, descobrir onde estava o meu outro filho.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Segunda feira era pra ser considerado fim de semana também... Como é chato ter que acordar depois de dormir quase de manhã, para ir à escola. Definitivamente aquilo era castigo. E o pior de tudo, sim existia um pior... Eu nunca conseguia acordar até que desse no mínimo dez horas. Teoricamente, abro meus olhos, levanto, caminho e como algo. Mas posso apostar com você que acordada cem por cento, ah! Duvido que eu esteja!

- VIRGINIAAA... – Ai... Porque quando a gente está com sono, e nossa querida mãe berra desse jeito delicado no nosso ouvido, sentimos vontade de morrer? – VAI SE ATRASAR!

Que vontade que tenho de gritar de volta o mais escandalosa possível:

“MAMÃE, EU ESTOU COM SONO E NÃO SURDA!”

É, porque eu posso estar dormindo, mas escuto perfeitamente bem, e tenho plena ciência dos meus atos... ou quase!

Como sempre, corri pro banheiro, meio sonâmbula, tropeçando no invisível e quase caindo no boxe. Tomei meu banho, que serviu de choque para o dia. Notei, enfim, que tinha amanhecido, pois ainda lá no fundo, achava que estava num sonho ruim e que teria horas de um prazeroso soninho, e segui para cozinha rumo ao café da manhã.

Chegando a cozinha, notei mamãe brigando com suas panelas, resmungando algo, enquanto mexia algo que fumegava. Nem me atrevi a perguntar o que estava havendo. Era perigoso demais para a saúde.

- Tem ovos, bacon, cereal, pão, bolo, mingau, salada de frutas, leite, suco e café. É só se servir Virginia. – Ela falou rapidamente, sem sequer virar para me olhar.

Opa! Aquilo era muito estranho.

Comecei a me servir e notei que, a todo momento, ela parava e respirava fundo, como se estivesse contendo algo. Choro talvez? Mas porque mamãe estaria chorando àquela hora? E qual seria o motivo?

- Seu irmão está demorando. – Escutei ela murmurar, e concordei, Rony provavelmente estava dormindo.

- Vou buscá-lo.

Ela enfim soltou as panelas e me encarou, olhos vermelhos, mãos tremidas. O que estava havendo com mamãe? Por que estava num estado de nervos, tão aflorado daquele jeito?

Sorri sem jeito pra ela, e segui rumo às escadas para chamar Rony.

- Gina... – parei depois de dois passos. – Como está Harry? – Mesmo com muita vontade de sorrir, fitei seus olhos e respondi serenamente.

- Está bem. Morando na antiga casa dos Potter, mas acho que está se alimentando mal, pois está comprando comida em fast-food. – Aquilo pareceu ferir minha mãe mais que qualquer coisa.

- Isso é um absurdo!

- A comida dele é uma droga mãe! Comer é suicídio. – Ela cruzou os braços gorduchos em frente ao corpo, indignada.

- Mas comer mal também é! – Sorri, sem me conter.

- Harry disse, que morre de saudades da sua comida. Que não existe outra igual, na verdade. – Um sorriso ameaçou nos lábios dela, mas se manteve séria.

- Você pode levar um pouco de bolo e salada de frutas pra ele, se quiser. – Meu sorriso alargou.

- Tenho certeza que ele vai adorar, mamãe. – Ela ficou desconcertada e virou as costas pra mim.

- Só não acho sensato ele ficar comendo comida de lanchonete, quando se tem tanta comida aqui. Sempre o alimentei, e não é agora que vai passar fome... Agora você vê... Comida de lanchonete? Porcaria isso sim! – E mamãe continuou com seus resmungos enquanto eu segui feliz, rumo ao quarto de Rony.

Não via a hora de contar as novidades a Harry.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

O professor se encontrava doente, por conta disso, as suas aulas daquele dia estavam todas canceladas. Alunos de várias séries se espalhavam pelo pátio, conversando e aproveitando as aulas vagas.

Dentre o grupo de alunos estava eu, com minha cara de sono, e meu cabelo lanzudo e colorido. Tinha me negado terminantemente em arrumá-lo aquela manhã, pois o sono que me dominava não me deixava fazer praticamente nada.

E pra completar estava com uma crise enorme de sinusite, que estava consumindo minha paciência, e me deixando com um mau humor gigantesco. O infeliz coçava, irritava, me dava dor de cabeça e me fazia espirrar a cada cinco segundos. Estava inchado e vermelho, me fazendo parecer uma palhaça com aqueles narizes de borracha vermelha.

- Você está horrível. – Escutei a voz dele me tirando dos meus pensamentos.

- Se veio aqui me encher o saco... atchin... Pode dar meia volta. – Respondi malcriada.

- Adoro quando você demonstra esse carinho excessivo por mim. – Como resposta eu apenas espirrei e revirei os olhos.

Percebendo o quanto estava mal, o louro apenas sentou do meu lado e permaneceu quieto. Passaram apenas uns minutos onde Draco e eu ficamos calados, apreciando aquele intervalo. Mas para minha desgraça, minha crise estava aumentando, e meu nariz agora escorria coriza, e coçava com mais afinco. Os espirros eram um atrás do outro agora.

- Não seria melhor você ir ao médico.

- Dão. – Respondi com a voz saindo anasalada, o nariz agora estava entupido. Beleza! O que mais estava faltando para piorar?

- Parece que você vai bater as botas a qualquer momento. – Ele comentou preocupado.

- Tenho sinusite crônica... atchin... não adianta ir ao médico... atchin... quando chegar em casa tomo meus remédios... atchin... e ficarei novinha de novo. – Draco me fitou por um longo tempo e depois desviou a atenção.

- Por que não vai pra casa então? Você está passando mal...

- Tenho aula de história ainda... atchin... e não posso perder... atchin... matéria de prova. – Respondi entre um espirro e outro, limpando o nariz com um lenço.

- Qual foi a parte do “Você está horrível!” que não entendeu? – Ele parecia aborrecido, ou incomodado por eu estar assim.

- Está preocupado comigo, Malfoy?

- Só percebeu isso agora? Definitivamente, você precisa de um médico, sua sinusite está afetando seu raciocínio.

- Vai à merda! Atchin... – Respondi grosseiramente, e me levantei.

- A que ponto você chegou... nem consegue me xingar sem espirrar! – Respondeu me seguindo.

“O praga de muleque chato!”

- Não tem nenhuma fã, querendo a atenção da sua magnânima presença, não? – Ele sorriu afetadamente e passou o braço por cima dos meus ombros.

- Hoje Krika, eu sou só seu! – Espirrei mais uma vez, e nem tentei tirar seu braço de cima de mim.

- E quais são os privilégios de ter você só pra mim, Malfoy? – Seu sorriso alargou.

- Cuidados especiais, e momentos inesquecíveis, querida Krika. – acho que só não gargalhei porque estava ocupada espirrando.

- Devo ter medo?

- Não... prometo ser bastante... gentil. – Engoli em seco.

Por que tudo que ele falava parecia ter duplo sentindo?

Segui o caminho que ele me indicava, e percebi que estávamos indo para o estacionamento do colégio.

- Vamos a algum lugar? – Perguntei quando ficamos em frente ao seu carro.

- Sim. – Respondeu tirando a chave do bolso e destravando o alarme.

- Não quero ir para o hospital.

- Vamos passar na sua casa para pegar seus remédios, e depois ir para a minha casa para que eu possa cuidar de você. – Fiquei encarando ele, enquanto segurava a porta do carro aberto pra mim.

- Não precisa fazer isso. Pode me deixar em casa e eu me viro... atchin...

- Faço questão de cuidar de você Chris.

- Sou uma enferma muito chata.

- E eu um médico muito paciente. – Sorrindo com a insistência dele, concordei com sua ajuda.

Afinal de contas, o que poderia dar de errado, em Draco Malfoy cuidando de mim em sua própria casa?

Continua...

N/A: Bom é isso aí galera... espero que todas me perdoem pela demora exagerada. Tive vários problemas. Pc queimou... Minha filha ficou doente e quase ficou internada. Coisa que me abalou muito. Em seguida fiquei doente também. E ainda estou um pouco.

Pri obrigado por betar miga...

Sei que o cap. deixou algumas duvidas, mais pretendo solucionar algumas pelo menos no próximo!

Espero que tenham gostando...

Bjs pra todas...

Obrigado pelo carinho...

Amo vocês...

Arinha...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (3)

  • Bia Weasley Potter

    Por favor, volta a escrever na fic, ela é a melhor!!!!

    2011-08-22
  • Bia Weasley Potter

    Sua Fic é a melhor de todas, largo pq??Era tão perfeita!!

    2011-08-22
  • Bibi A.S.

    Nossaaaa.... Quase um ano sem atualizar ein...Atualiza! Atualiza! Atualiza! Atualiza!!!Por favoooorrr!!Sua fic "MANINHO" é muitooo boaa!! Adorei!!Mas atualizaaa!! Por favorrr!!!=***

    2011-05-18
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.