Por muito pouco



No sábado pela manhã, Tiago foi o primeiro dos marotos a acordar. Em sua mente ressoava a voz clara e determinada de Catherine:


“Eu vi! Eu o vi com os sonserinos! Pedro é um comensal!”


Como podia sua amiga mentir tanto assim? Criar essa discórdia entre todos, inventar uma história tão escabrosamente ridícula sobre Rabicho... Não valia nem a pena tirar a prova real com Pedro, tão na cara estava que não passava de intriga. Tiago confiava em seus amigos e tinha a maior certeza que podia por sua vida nas mãos deles, que seria salvo e protegido. Podia duvidar até do amor de Lily, mas não da irmandade de Remo, do companheirismo e lealdade de Sirius ou da amizade de Pettigrew. Eles eram sua família.


Depois do café da manhã com os marotos, Lily e Marlene, os amigos voltaram para a sala comunal para adiantar os deveres. Lily, que já tinha quase tudo pronto, foi a primeira a acabar. Convidou Tiago para um passeio a beira do lago, para curtir os raios de sol da primavera. O fim de semana foi compartilhado entre os amigos com muita diversão, bagunças no dormitório dos marotos, jogos na sala comunal e algumas revisões pré-N.I.E.M’s.


Os dias foram se estendendo e nenhum dos amigos tinha trocado nenhuma palavra com Catherine. Pedro tampouco ficara sabendo da discussão. Quando perguntou por que ninguém mais andava com Cath, todos lhes responderam que apenas estavam de mal com a loira e que o erro dela não tinha perdão. Catherine limitava-se a acordar antes de Lily, Marlene e até Alice, arrumar-se quieta, tomar um rápido café da manhã, e ir para a sala de aula revisar as matérias do dia, antes das aulas.


Seus tempos vagos eram gastos em cantinhos da biblioteca e, nas raras vezes em que conversava com alguém, era com Dorcas Meadowes, uma setimanista da Lufa-Lufa com quem fizera, há tempos, um trabalho de astronomia. Não buscara pedir desculpas aos marotos, porque sabia que estava certa. Por algum motivo, nem mesmo Régulo falava mais com ela. Talvez estivesse muito irritado com as constantes intromissões de Catherine em sua vida de comensal, talvez só não estivesse tendo tempo, ou talvez, o que era mais provável, Régulo simplesmente seguira sua vida e nenhum outro “acaso” com a loira da grifinória iria acontecer.


 Com o tempo que voava, logo a terceira semana de abril chegou e Sirius, Tiago e Lene se roíam de ansiedade para a final de quadribol. Até a própria Lily, que não se interessava muito por quadribol, vivia aquela apreensão. Na quinta feira que antecedeu o jogo do fim de semana, depois da aula de TCM, Lily liberou Tiago de sua noite romântica para que ele pudesse montar o plano de tática do time.


A manhã do sábado despontou com muito sol e calor. Antes das oito, Lene já estava na sala comunal, com seus jeans confortáveis e uma camisa da banda “As Esquisitonas”. Os cabelos amarrados sem muito cuidado em um coque e a cara amassada de sono. Mas não conseguia dormir. Estava muito inquieta para, simplesmente, deitar na cama e roncar um pouquinho. Logo não estava mais sozinha, Sirius descera de seu dormitório, mas parecia muito sereno.


- Oi querido! – chamou-o carinhosamente. Sirius depositou um beijinho na boca da namorada e sentou-se ao lado dela no sofá.


- Por que a melhor goleira do time já está acordada tão cedo, hum?


- Sou a única goleira, Sirius... – riu aninhando-se no peito dele.


- Ah, mas ainda assim é a melhor! – beijou os cabelos escuros dela e desfez o coque, soltando as mechas macias, as quais ele gostava de enrolar nos dedos.


- Estou com sono, mas nervosa demais para dormir – confessou depois de alguns minutos de silêncio.


- Vai dar tudo certo, pode confiar. Agora relaxe, que precisamos que você esteja OK para o jogo, ok? – pediu, apertando-a mais contra seu corpo.


- Tá... – Marlene relaxou o corpo e fechou os olhos. A mão direita espalmada no tórax de Almofadinhas, o outro braço ao redor dele... Adormeceu.


***


- Andem, andem logo!! Estamos atrasados! Quero todos no vestiário em dez minutos! – foi com esses agradáveis berros de um Tiago estressado que Marlene despertou.


- O quê? Atrasados? E o jogo?


- Bom dia, princesa descabelada! – Sirius provocou com zombaria. Marlene o fitou com irritação. – Brincadeira amor. Vai logo pegar seu uniforme. Falta quase meia hora para o jogo.


- Só? E o café da manhã? – começou a se desesperar, já de pé, indo em direção ao dormitório.


- Te espero no vestiário. – sorriu enigmático e se levantou, seguindo Tiago retrato afora.   


Marlene subiu correndo e agarrou o uniforme o mais rápido que pode. Consultou seu relógio, eram 10h20min, tinha algum tempo para se aprontar, mas não poderia tomar café. Amaldiçoou o conforto que era o colo de Sirius antes de puxar sua Shooting Star, sua vassoura de corrida, de debaixo da cama, e descer as escadas do dormitório quase tropeçando nos próprios pés.


Chegou ao campo de quadribol dez minutos depois, sentindo o calor do sol matutino em suas costas e braços. Os outros jogadores do time já se vestiam ou estavam vestidos. Habituada a ser a única menina do jogo, Lene logo se trancou em um dos boxes do vestiário e trocou os jeans pela calça de malha vermelha, a camisa larga pela blusa colada de malha e mangas compridas, listrada de vermelha e dourada. As tradicionais sapatilhas claras pelas botas negras e polidas, de couro. Voltou para a sala principal do vestiário e, em frente ao espelho, prendeu seus cabelos em um rabo de cavalo alto, passando muito gel, que estava em um potinho no seu armário, nos fios rebeldes. Por fim jogou a capa vermelha, que continha seu sobrenome e número, nas costas e sentou-se ao lado de Sirius, que afivelava a bota de couro.


- Preparado?


- Nasci preparado. – um sorriso galante. – Quando ganharmos hoje, vou ser o homem mais feliz do mundo!


- Só pela taça?


- Não... – outro sorriso, agora enigmático.


Logo Tiago começou a fazer a chamada dos jogadores, ordenando-os lado a lado. Postou-se a frente de todos e fez seu habitual discurso pré-jogo, que envolvia muitos encorajamentos, implorações, desejos e conselhos. Depois de passar, pela quadricentésima trigésima sétima vez, a mão pelos cabelos. Ele agarrou sua vassoura em um cantinho e gritou o já conhecido...


- VAI GRIFINÓRIA!!!!!


A plateia começara a gritar do lado de fora, o jogo estava começando. Os jogadores começaram a se encaminhar, muito nervosos, em direção ao campo. Tiago estava quase saindo pela porta quando ouviu a outra entrada do vestiário ser aberta, virou-se. Lá estava Lily, correndo a seu encontro.


- Ti... Tiago! – ele parou para esperá-la. Lily parou próxima a ele. – Só quero desejar ótima sorte ao meu capitão!!


E tascou-lhe um beijo de tirar o fôlego, que Tiago teve de, com muita relutância, quebrar, quando seu nome soou alto, vindo da plataforma da narração, anunciando a entrada do time Grifinório.


- Eu te adoro! – sussurrou e correu campo adentro.


- Além do artilheiro e capitão Potter, temos em campo os batedores Marcus Creveey e Will Bagman, os artilheiros Louis Atkinson, Peter Wilson e Sirius Black. -  Muitos aplausos, na maioria de garotas, foram ouvidos ao citarem o nome do maroto. – e a goleira Marlene Mckinon...
 
A grifinória já gritava a plenos pulmões


– Do outro lado, o time da Luuuuuufa-Lufa!!! – berrou Finn, do alto de seu púlpito, enérgico. – Temos as batedoras Mary Atkinson (sim, nós teremos uma briga de irmão nesse jogo!) e  Dorcas Meadowes. Os artilheiros Jimmy Cleveland, Robert Crawley e Ninfadora Tonks!


Alguns sonserinos vaiaram a pobre aluna.


- É SÓ TONKS, FINN!! – Um pontinho rosa berrou no gramado. A menina, embora nova (não parecia passar do terceiro ano) tinha uma voz estridente, que o narrador do jogo pode ouvir.


- Ok, saquei, é só Tonks. – alguns riram. – Para fechar com chave de ouro Guilderoy Lockhart é o apanhador e a capitã e goleira, Diane Dawson. Que comece a partida!! A goles é lançada e Black a apanha, ele dribla Mary,  mas Meadowes entra na frente... Esteja pronta para essa goles, Dawson! E parece que o artilheiro da grifinória consegue passar pela defesa Irlandesa de Crawley... E é ponto da grifinória...


(...)


- Grifinória lidera a partida, com 90x20. Potter ainda não terá visto o pomo?


A bolinha dourada parou em frente ao nariz de Tiago, que se assustou e perdeu-a. O pomo desceu em alta velocidade, com Tiago em sua cola.


- Mas parece que ele está caçando o pomo? Sim senhores, Potter está perseguindo o pomo com destreza. Corra logo, Lockhart! Os balaços estão irritados, que cada batedor faça seu melhor, agora!


Um balaço passou zumbindo, rente ao ouvido de Tiago e, por pouco, não o acertou. O pomorim parara a quase dois metros do chão, era arriscado.


- O pomo agora parou, mas muito perto do chão... Cuidado Potter, é uma passagem só de ida para a enfermaria!


- Vai se ferrar, Finn! – berrou enquanto descia com velocidade. Lockhart seguia-o de muito perto. O som do ar sendo cortado atritando em seus ouvidos... Muito perto...


- Estão a dez metros e nenhum está com cara de que vai desistir. Potter está pondo velocidade na vassoura.


Lily não se agüentava de ansiedade. Levantara e assistia  a partida roendo as unhas. Tiago iria colidir com o chão de areia.


- Cinco metros e agora Lockhart desiste, empina a vassoura para cima. Potter não diminui... O que vai acontecer?


Os fatos seguintes se desenrolaram em menos de meio minuto. Sirius, do alto de sua vassoura calculou o tempo, aproveitou a distração dos artilheiros adversários em admirar a desempenho de Tiago e meteu um gol em Lufa-Lufa. No segundo seguinte Tiago sentiu as asas da bolinha se debatendo em seus dedos, sorriu exultante. Ouviu o apito soar. Estava a centímetros do chão. Virou o cabo da vassoura para cima e ela empinou, passando de raspão pelo chão, de modo que os pés do maroto arrastaram-se na areia.


A Comet 180 de Tiago levantava cada vez mais alto e quando alcançou a altura das balizas do gol, ele estendeu o punho para o ar, mostrando o pomo bem preso em seus dedos. A torcida vermelha foi ao delírio! Gritos estridentes.


- GRIFINÓRIA ENCERRA A PARTIDA COM 250x20!! GRIFINÓRIA GANHA A COPA ESCOLAR DE QUADRIBOL!!!!!!!!!!


O time se juntou, já no solo e se abraçou, derramando lágrimas. Para Sirius, Tiago e Lene, essa era a última vez que poderiam ganhar a taça. Tiago recebeu a taça dourada das mãos de Dumblendor, beijou-a e estendeu-a no ar. Foi levantado pelo time. Do alto viu Lily sorrindo exultante para ele, das arquibancadas. Tomou o microfone das mãos de Finn, que descera correndo de seu púlpito e insistia em querer entrevistá-lo.


- Lily, a vitória é para ti, minha ruiva linda!!! EU TE AMO, LILY EVANS!!! – houve gritos e Lily corou furiosamente.


Tiago desceu dos braços dos amigos. Já havia uma multidão de grifinórios reunidos no campo, todos parabenizando o time e desejando as maiores felicitações. Os tapinhas carinhosos nas costas de Tiago vinham de todos, mas agora não era hora para isso. Era hora de ajudar Sirius. Sorriu maroto para o amigo irmão e indicou o campo com a cabeça...


- Acha que devo mesmo? – Almofadinhas perguntou, receoso.


- Não é o que quer e sente? – ele assentiu. – Então vamos nessa, irmão! Tô aqui para te ajudar. – Tiago agarrou sua vassoura do chão e o microfone das mãos de Finn. – GALERA!! ESPEREM AI!! O ALMOFADINHAS TEM UM RECADO PARA DAR!!! – jogou o microfone para o narrador do jogo e decolou com Sirius.


Os dois alcançaram o céu azul com rapidez. O sol brilhava sobre suas cabeças, no centro do céu, em seu ponto máximo. Passava pouco do meio dia. Do alto, os dois começaram a arte.


Com ajuda da varinha, Tiago foi conjurando fios de fumaça colorida e, na medida em que voava, letras iam sendo formadas no ar. A multidão parou tudo o que fazia para ver as palavras que surgiam magicamente. A frase acabou com uma interrogação particularmente difícil de fazer. Potter voltou ao gramado, onde Lily já o esperava. Abraçou e beijou-a com doçura, apaixonado.


- Vamos ler todos juntos? – ele convidou. Houve um coro.


- AINDA QUE EU ENTENDESSE A VIDA BRUXA E TROUXA, SEM O SEU AMOR, NÃO VALERIA A PENA! LENE, VOCÊ MORA NO MEU CORAÇÃO! MINHA PEQUENA, CASA COMIGO??? – Sirius pairava no ar, ao final da frase, segurando um buquê de rosas que ele recém conjurara.


Marlene chorava a choro solto. Já não enxergava nem onde estava sua vassoura. Assim que a achou, decolou com ela. Hogwarts parara para ver o fim dessa história de amor. Depois de muitas voltas no ar, se encontrava, em baixo da declaração de Sirius, um SIM gigante, de fumaça dourada da cor do sol e dezenas de exclamações.


 O maroto voltou ao solo, veloz. Chegou antes da amada, jogou a vassoura no chão e viu Marlene pousar pouco mais distante e correr em sua direção, com lágrimas nos olhos já vermelhos. Mckinon jogou-se nos braços do amado Sirius, que a agarrou pela cintura e rodou-a no ar. A morena apertou-o e não parava de sussurrar no ouvido dele “eu te amo, eu te amo, eu te amo!!!!”. E mesmo com o diretor da escola e os diretores de todas as casas, e todos os alunos ali, Sirius a beijou como nunca a beijara antes, com tanto amor e carinho que tornava os sentimentos quase palpáveis. E Marlene chorava, umedecendo o contato, salgando aquele amor diabeticamente doce.


A chuva de aplausos que se seguiu, não os fez quebrar o beijo; porque, simplesmente, nem Sirius, nem Lene, estavam ali... Ambos flutuavam no espaço do amor infinito... Com muitos segundos de tempo passado, ela largou-se dele, sorrindo exultante. As alianças de compromisso, douradas, foram trocadas. Sirius beijou mão da amada e levantou-a, entrelaçada à sua própria, mostrando a todos os anéis. Pontas começou a série de aplausos que veio. Os marotos sorriam!


***


Com a copa de quadribol acabada, a única preocupação de todos era os N.I.E.M’s. Lily se enclausurava, com Marlene, na biblioteca, em todos os tempos vagos. Durante as aulas, tomava notas rápidas do assunto, que ela passava todas a limpo à noite, antes de deitar, na sala comunal. No primeiro domingo do mês de maio, Tiago arrastou Lily para fora do castelo, querendo distraí-la, ao menos um poucos, de seus estudos.


- Tiago, não! Tenho que terminar a revisão de Runas! Tiago, por favor!


- Não, Lily! Você só sabe ficar com a cara naqueles livros, você e Marlene estão neuróticas! Falta um mês para os exames, relaxa!


- Estou atrasada no meu cronograma de estudos, devia ter começado o conteúdo do segundo mês de aula nessa semana, mas ainda não terminei o do primeiro! – exasperou tentando voltar para a sala comunal.


- Desista, Lily. Eu quero atenção!! – birrou Tiago, fechando a cara. Lily gargalhou.


- Ah, meu amorzinho tá com ciúmes dos livros... Oh meu Merlin, que fofucho!! – e puxou as bochechas do maroto, ao que ele berrou de dor.


Lily gargalhou e correu pelo gramado, com Tiago em seus calcanhares.


- Volte aqui, Lils. Você me paga ruiva!


- Nunca! – mas Lily não viu a pedra em seu caminho. Tropeçou e caiu rolando pela relva.


- LILY! – Tiago correu até ela. A ruiva estava caída no gramado. Os olhos cerrados, as mãos estendidas sobre a grama... – Meu Merlin, não! Lily acorda, Lily... Lily, por favor, acorda!! – ajoelhou-se ao lado dela, com as mãos já tremulas...


Foi tudo extremamente rápido. Em um gesto instantâneo Lily puxou Tiago pela gola da camiseta azul, em direção à grama, e tascou-lhe um beijo carinhoso.


- Malandra! – foi a primeira coisa que ele pode dizer depois de soltar-se dela. Lily riu. – Era tudo fingido!! Sua trapaceira!


Os dois estavam deitados no gramado fresco do jardim, o sol morno esquentava-lhes a pele e a brisa macia lambia os cabelos de Tiago de um modo quase perfeito. O vestido cor de creme, de Lily, estava com o tecido amassado, mas ainda assim, bonito. Tiago virou-se de lado, de modo a encarar Lily nos olhos.


- Eu te amo!


- Wont! Eu também amo você!!! – Lily murmurou, sorrindo abobada para ele.


- Não, eu digo amar mesmo! Tipo, de querer você comigo o tempo todo. Eu ainda não acredito que você me convidou para Hogsmeade, nem que o seu patrono é aquela corça... – esticou o braço e deixou que os dedos acariciassem uma mecha ruiva do cabelo de Lily. – E você é tão linda! Meu Merlin, Lily, você é muito linda, de um jeito único! E eu estou sendo um idiota aqui, mas eu não ligo, eu amo você! Eu amo, amo, amo... Mil vezes amo você!  E eu sei que não sou lá o cara mais romântico nem o mais “fofo” como eu sei que vocês, garotas, gostam tanto, mas eu tento! Eu juro que faço o que posso... Meu Deus, como eu te amo, Lily Evans...


Lily o olhava sem, no entanto, o enxergar. As gotas de água formadas em seus olhos deixavam tudo embaçado. Sabia que Tiago estava ali, podia sentir o calor do corpo dele, o perfume delicioso, o qual aprendera a adorar... Ouvir que era amada naquela medida enchia seu coração de uma felicidade nunca experimentada, seu peito transbordava de alegria...


- Ai Meu Deus, posso chorar agora, Tiago? – ela brincou, com a voz embargada. Ele riu e a puxou para mais perto, Lily pode repousar sua cabeça sobre o tronco dele e sentir o vento geladinho do final de tarde despentear-lhe o cabelo até o sol definitivamente se pôr no horizonte dourado.


***


Tiago, Pedro e Sirius passaram as noites da quarta semana de maio na Casa dos Gritos, com Remo, ajudando-lhe com a transformação. Porém, diferente do que estavam acostumados, não puderam perder os horários da manhã para dormir. Lily e Lene faziam com que eles a acompanhassem nas aulas e não os deixavam dormir.


As revisões finais pré-N.I.E.M’s ocorreram nos três últimos dias do mês de maio até o dia 9 de junho. Remo pode participar de todas elas, embora ainda debilitado do efeito “lua cheia”. O fim de semana que antecedeu os exames foi tenso, muito tenso. A manhã de sábado começou cedo para Lily, Remo e Lene. Os três foram os primeiros a tomar o café da manhã no salão, logo depois, rumaram à biblioteca para revisões escritas dos exames teóricos. Encontraram-se com Tiago e Sirius no almoço.


- E ai... Sumiram a manhã toda?


- É Pontas, passamos a manhã nas revisões na biblioteca... – Aluado explicou entre uma garfada e outra de seu empadão de abóbora e rins.


- E de tarde? Que vão fazer?


- Bom, Six, os outros eu não sei, mas eu vou estudar para os exames práticos... Sabe-se lá o que vão querer no exame de transfiguração dessa vez, preciso tirar um Excede Expectativas no meu, para poder ser medi bruxa... – foi Lily que avisou, servindo-se de mais suco de limão.


- Pois eu vou só dar uma lida no meu material, e amanhã!! – Sirius avisou, devorando outra colherada deliciosa do creme de aspargos.


- É melhor mesmo, também vou fazer assim... – Tiago anunciou aos amigos.


- Vou revisar com Lils, tenho algumas dúvidas sobre transfiguração de homem em animal... E não! Não quero suas ajudas malucas, Sirius! – teimou Lene, lançando um olhar repressor à Sirius quando este abriu a boca.


Os amigos riram gostosamente, ao que Almofadinhas emburrou a cara. Depois de todos se fartarem do almoço saboroso e da deliciosa torta de maçã da sobremesa, cada um foi fazer o que deveria... Sirius e Tiago usaram a tarde livre para prepararem as marotagens de despedida da escola, afinal, estavam se formando em Hogwarts.


- Ei! – Sirius gritou à Tiago quando irrompeu porta do quarto adentro, vindo correndo da cozinha, com bolinhos nos braços.


- O que é, Sirius? – Tiago retrucou sem tirar a atenção de seu livro de quadribol


- Não sabe da maior!! Adivinha quem vai sair da escola? – Sirius fez suspense, empolgadíssimo.


- Nós? – Tiago fez piada


- Não, burróide!


- O Seboso? – constatou o óbvio.


- Não! De funcionário!


- O professor Binns, de História da Magia?! – dessa vez ele levantou os olhos do livro, com uma cara empolgada.


- Cara, você tem certeza que espera passar em Adivinhação? - Sirius zombou do amigo. – Eu tô falando do Lumiére! Aquele zelador velho caduco! Ele vai embora!! Eu o ouvi contando pelos corredores, parece que não aguenta mais esses “pestes da escola”. O diretor vai anunciar hoje no jantar e o Seboso 2º  volta para Londres segunda de manhã!


- Você sabe o que isso significa, Almofadinhas? – um brilho malicioso perpassou os olhos de Pontas.


- E como sei, meu caro amigo, e como sei! - o mesmo fascínio maníaco surgiu na cara de Sirius. Era hora de aprontar!


O resto da tarde se passou entre planos marotos e quando Aluado voltou ao dormitório no final do dia, foi colocado a par da situação.


- Vai ser muito bom aprontar com aquele nojentinho! Ah, se vai!! – o lado maroto de Remo falou mais alto e os amigos riram. Pedro também foi intimado a participar da diversão, mas recusou... Alegou ir estudar com um amigo de outra casa.


Naquela noite, todos se sentaram juntos para jantar. Até Melhissa se reuniu ao grupo, depois de muitos dias sem ser vista por Lily ou Lene, a corvina finalmente aparecera outra vez...


- E ai... Que vamos fazer para relaxar agora? Chega de estudos, né Lily?


- Por mim já deu para hoje... Eu tava pensando em ficar um pouquinho com o Tiago agora de noite... – falou manhosa.


- Ih... Desculpa Lils, hoje não dá... Coisa de maroto! – ele pareceu envergonhado.


- Droga! – Lily resmungou baixinho


- Você também vai aprontar, Sirius? – Marlene interrogou


- Quem disse que vamos aprontar? – o olhar inquisidor dela intimidou-o um pouco. – Ok, nós vamos aprontar... Mas só um pouquinho! – justificou ao ver a cara dela.


- Tá, Sirius, tá! É Lils, parece que só nos resta revisar mais! – Lene pareceu chateada.


- Pode ser... Que tal você me testar? Acho que preciso rever TCM, mas vamos tentar uma vez, né? – Marlene aceitou a proposta de Lily


 Então estamos ok, né? – Remo confirmou com os amigos. Os marotos  lhes deram um positivo com os dedos e trocaram um olhar de quem está prestes a fazer algo muito errado e bagunceiro.


***


- Capa da Invisibilidade? – Remo conferia em uma prancheta, ticando o que estava pronto


- Aqui! – Almofadinhas afirmou


- O pó de arroz da Marlene?


- Confere


- Tintas nanquim permanente?


- Aqui também!


- Mochila com as coisas?


- Ok ! – dessa vez fora Pontas que dera o aval


- Bombas de bosta?


- Embaladas e na mochila! – Tiago estendeu um saquinho branco contendo bolas amarronzadas e molengas.


- Mapa do Maroto?


- Em minhas mãos! – Sirius foi categórico.


- Está iniciado o plano “Despedida do Zelador Caduco – a DZC”! -  Remo sorriu maroto e abotoou sua capa de inverno, ainda que houvesse apenas uma brisa morna de fim de primavera.


Saíram do dormitório em silêncio, com uma mochila nas costas de Sirius. Lembraram de despedirem-se das namoradas/amigas, que estudavam em frente à lareira e, então, cruzaram a porta do retrato. A ideia era aprontar uma última vez com o idoso zelador antes que ele fosse embora. As bombas de bosta seriam jogadas por Sirius, no terceiro andar da escola, atraindo a atenção dos funcionários e alunos e, enquanto o circo estivesse armado, Tiago e Remo invadiriam a sala dos zeladores e encheriam a última bomba de bosta com tinta nanquim permanente e o pó de arroz que Marlene usava para se maquiar, embora um pouco modificado.  Remo, o único dos marotos que tinha algum potencial em poções, havia misturado pús de bobotúbera e outros componentes que, juntos, causavam muita coceira e alergia.


Quando o pobre Sr. Lumiére entrasse em sua sala para buscar fazer as malas, seria atingido pela violenta explosão de uma bomba malcheirosa, com tinta permanente e pó de arroz com pús e outras coisas mais... Uma brincadeira digna de marotos.


Mas nem tudo deu certo...


- Anda!!! Acabaram ai??


- Não, Sirius! Falta amarrar a corda do detonador na porta, e eu ainda não fechei a bomba! – Tiago pediu paciência enquanto operava a bomba, com todo o cuidado, sobre a mesa de madeira da sala.


Houve um minuto de silêncio tenso, ouviam gritos e baderna do lado de fora...


- Ok! É toda sua, Remo. Pode amarrar! – Remo deu um nó desajeitado, amarrando a corda do detonador na porta.


Quando finalmente ia avisar que tinha terminado, os passos rápidos, acompanhados do som de bengaladas, avisaram aos marotos que Jean Lumiére estava vindo.


- Que bosta! Aluado, quanto tempo levaríamos para chegar ao túnel da ala leste? – Sirius questionou frustrado.


- Hum... Uns três minutos, não temos tempo... Se sairmos, seremos pegos!


- Droga! Achei que três bombas segurariam ele no terceiro andar pelo tempo suficiente!


- Pois parece que logo um dia antes de ir embora ele aprendeu a aceitar ajuda do Filch para coordenar as coisas aqui! – Tiago praguejou, chateado.


“Aluninhos sebosos e maliciosos! Cheios de mal caráter, é isso que são! Perfeitos delinqüentes juvenis!” Lumiére chegava mais perto.


- Tá! O que fazemos agora?! – Tiago perguntou, correndo o olho pelos outros marotos


Remo rolou os olhos rapidamente por toda a extensão da sala. Nada demais, uma mesa, três cadeiras de madeira, um quadro de avisos, um armário de canto de parede...


- Eu tenho uma ideia! – pronunciou. – Rápido, para o armário!


O aperto que foi feito para que três adolescentes coubessem em um minúsculo armário de canto não foi pouco. Com sorte, fecharam a porta do esconderijo na hora certa. Lumiére entrou na sala segundos depois. Quando bateu a porta da sala, a cordinha do detonador se rompeu e a bomba explodiu.


Uma nuvem de fumaça escura e fedorenta encobriu a sala. Jean Lumiére gritava de dor, resultante do pús de bobotúbera, e tentava alcançar algo para limpar seus olhos. De dentro do armário, Remo sussurrou orientações.


- Vou abrir a porta no três, fechem os olhos e corram até a porta, são sete passos para frente. Ok? – Sirius e Tiago concordaram. – Um! Dois! Três!


A porta do armário recebeu um chutão e os três saíram correndo, deixando um zelador aturdido. Ao alcançarem a entrada do túnel que levava da ala leste até o quinto andar, abriram o mapa do maroto.


- Quase todas as pessoas da confusão do terceiro andar já voltaram para os dormitórios.  – Sirius avisou. – O Filch está patrulhando o 4º andar e a Tia Minnie está na Torre de Astronomia com a professora Vector...   Ah! Os monitores da lufa-lufa estão rondando no 6º andar... Não vai ser difícil voltar à torre. Só precisamos usar o túnel e no quinto andar subir pela escada principal. Simples assim!


- Para mim tem alguma coisa errada... O Lumiére ainda está na sala dele? – Tiago quis saber


- Não! Ai, caramba!! Cadê o Lumiére? – as espinhas de Tiago, Sirius e Remo gelaram de medo. – Achei! Está vindo pelo corredor da sala de Adivinhação. Não deve demorar para passar por aqui, deve estar indo para a enfermaria... É melhor a gente correr.


Com um toque de varinha e alguns encantamentos murmurados rapidamente, Tiago abriu a passagem. Um túnel estreito e mal iluminado estava escondido por detrás de um quadro de Girassóis cor-de-rosa. Remo pulou o degrau do retrato e subiu os dez primeiros degraus da escadaria de pedra que compunha o atalho. Sirius entrou em segundo e alcançou Remo, que os esperava em uma parte já plana do túnel. Tiago entrou por último e trancou a passagem.


- Lumiére está na enfermaria e Filch nas escadas. Podemos ir numa boa. – Sirius maroto sorriu para os outros dois.


Depois de quase cinco minutos serpenteando por escadas íngremes e corredores planos, os marotos chegaram ao final da passagem. Tiago adiantou-se para abrir a passagem, Sirius garantiu que Filch estava longe, mas não percebeu que, na verdade, ao invés de Argo Filch, lera o nome de Angus Flinch.


- Cara, me lembrei só agora! Precisamos voltar... Lá na sala do Filch!


- Pirou, Pontas? – Aluado fez, desentendido, enquanto descia da passagem. Tiago esperou que Sirius também o fizesse e lacrou a saída do túnel também.


- Não, cara! Sério! Precisamos voltar agora!


- Por quê, Pontas? – Foi a vez de Sirius questionar.


- A minha mochila, Sirius! A minha mochila...


- ficou lá, Sr. Potter?  


A voz roucamente cortante fez Sirius, Remo e Tiago se virarem rapidamente, assustados. O rosto enrugado, tão precocemente marcado pela idade, os olhos esbugalhados de contentamento, os lábios crispados em um sorriso maníaco... Argo Filch encarava os três com uma cara de quem recebeu a maior honraria do mundo, a cara de quem estava satisfeito com uma conquista! Em suas mãos estava uma mochila azul jeans, melada de alguma coisa amarelada e malcheirosa... Era a mochila de Tiago.
********************
N/A: E então...
Como vão vocês? Gostando da Copa do Mundo? (Podem dar opinião nos comentários... rsrs)
Acabei demorando um pouco para postar e peço desculpas. Estamos em vias de acabar a fic. Só faltam dois capítulos que devem ser postados até 14 de julho (quando acabam minhas férias).
Ah, é... Eu não avisei... Eu estou de FÉRIAS!!! UHU! *-*
Isso significa que vou ter mais tempo para escrever e vou postar mais, nao só dessa fic como da
Enfeitiçando (eu não sei se alguém lê, ela é nova).
Então os avisos são esses...
Ah! deixei, nesse capítulo, solta uma informação que vai ser útil para a 2 temporada da fic... Pode ser qualquer coisa... Nome de personagem, lugar, cena... Spoiler implícito!! Duvido que alguém descubra... Deem seus palpites nos comentários tá? 
Agora sim, é só isso, galera!
Beijos e abraços a quem lê... :)
De uma autora de férias,
Morgana Pontas Potter 

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