Sonho ou Realidade?



Sonho ou Realidade? Parte 2 de Sonhos ou Pesadelos?
Não conseguiu continuar seu caminho até o salão, não se deixaria ser vista naquela condição chorosa. Vagou pelos andares da escola, enquanto se permitia derramar lágrimas pelas grosserias que ouvira. Era possível que alguém fosse, realmente, tão insensível? Tiago não percebera que a estava magoando? Orgulhosa... Não o era! Ou será que sim? Recordou-se com amargura de ofensas piores que proferira para ele.


“- Expelliarmus! – Foi o primeiro feitiço disparado.


Vira a varinha de Severo voar longe a quase quatro metros de altura e cair com um pequeno baque no gramado às suas costas. Estreitara os olhos. Só podia ser coisa de Potter ou de Black. Ou pior, dos dois. O mais alto gargalhou.


- Impedimenta! – viu ele murmurar, apontando a varinha para Severo que fora atirado no chão ao mergulhar para pegar a varinha.


A balburdia de estudantes intrometidos começava a se formar, criando uma rodinha ao redor da confusão. Alguns levantaram e foram se aproximando, outros pareciam apreensivos, ainda outros, divertidos. Severo estava no chão, ofegante. Os passos dela própria pareciam não sair do lugar. Queria chegar logo lá e ajudá-lo, mas, não sabia como, parecia que não sabia mais como andar.


Potter e Black avançaram empunhando as varinhas, Potter, ao mesmo tempo espiando por sobre o ombro as garotas à beira do lago.


- Como foi o exame, Ranhoso? – Ouviu Potter zombar. Não suportava que ele chamasse Severo assim. Talvez só não suportasse Potter de um modo geral.


- Eu vi, o nariz dele estava quase encostando no pergaminho. – Black continuava, maldosamente. – Vai ter manchas enormes do gordura no exame todo, não vão poder ler nenhuma palavra.


Os que assistiam a cena riram. Severo ainda estava no chão, tentando se reerguer, mas a azaração ainda o imobilizava.


- Espere... Para ver – Ouvia Severo arquejar. Era bom saber que ele reagia e não dava a cara para lhe baterem. - , espere para ver!


- Espere para ver o quê? – Black retrucara, calmo. - Que é que você vai fazer, Ranhoso, limpar seu nariz em nós?


A raiva subia a cabeça de Lily que agora já estava bem mais perto da cena. Descia o gramado o mais rápido que podia. Ouviu Severo retrucar com palavrões e azarações. Não imaginava que o amigo soubesse tantas. Era uma pena a varinha estar a três metros de distância.


- Lave a boca! – Ouviu Potter dizer, com frieza. – Limpar!


As tão odiadas bolhas de sabão cor-de-rosa escorreram da boca de Severo; a espuma cobriu seus lábios, fazendo engasgar, sufocar. Lily estava perto. Muito perto. Perto o suficiente para fazer alguma coisa.


- Deixem ele em PAZ! – Pediu


Potter e Black perceberam a presença dela. Potter levou a mão livre aos cabelos. Lily bufou.


- Tudo bem, Evans? – disse Tiago para ela. O tom de voz alterado para parecer maduro e afável. Agradável para um galanteio.


- Deixem ele em paz! – repetiu. Olhava para Potter com sua mais profunda expressão de desagrado. – Que foi que ele lhe fez?


- Bom, - Potter começara, com o tom de quem pesa a pergunta antes de responder. – é mais pelo fato de que ele existe, se é que me entende...


A plateia riu. Lupin estava absorto em seu livro e nem dava sinais de perceber a confusão.


- Você se acha muito engraçado. – começou com frieza. – Mas você não passa de um cafajeste, tirano e arrogante, Potter.”


“Você é uma orgulhosa, Lily Evans!” Isso ressoava em sua cabeça, latejante como a dor de uma ferida. Só ouvia essas palavras zumbindo em seu ouvido, causando-lhe agonia.


- Chega, chega, chega!!! Pelo amor de Deus! Isso é ridículo! Não agüento mais!! Chega! – Reclamava consigo.


Alcançou o retrato da torre depois de uma longa caminhada, repleta de choros silenciosos. Era quase certo que as amigas estariam jantando e, a essa altura, já deveriam saber da confusão inteira, no mínimo narrada por Potter. Não fazia mal, teria bastante tempo, sozinha. As amigas teriam aula após o jantar, quando retornassem, Lily já teria adormecido e a conversa seria protelada para a manhã seguinte, o que lhe daria tempo de sobra para se preparar emocionalmente.


- Cabeça de Abóbora. – A senha foi murmurada sem empolgação. Subiu a escada do dormitório com rapidez e habilidade. Abriu a porta do quarto de supetão. Lene e Catherine enlaçavam as gravatas e abotoavam o uniforme enquanto conversavam algum assunto interessante.


- E aí está a ruiva do ano!! Diga, Srta. Evans, como se sente após ter ouvido uma esplêndida declaração de amor vinda de Tiago Potter? – Marlene brincou, com tom de locutor de rádio.


- Péssima! Preferia não ter tido de ouvi-la. – Foi só aí que Lene notou os olhos inchados e o nariz avermelhado da amiga, que havia se jogado em uma das camas, com a cara no travesseiro.


Cath e Lene perceberam que a ruiva não brincava. Sentaram-se em torno dela para ouvir a história. Eram boas ouvintes, exclamavam nos momentos certos e deixavam a menina falar, sem dar interrupções. Quando a contagem acabou fez-se um silêncio sepulcral no dormitório. Só respirações eram ouvidas.


- Você está mal... Mas precisa nos contar a verdade, gosta dele ou não? – Catherine foi incisiva.


- Eu não... É claro que não... – Lily tentou.


- Espera, vamos reformular a pergunta. Sabemos que gosta do Tiago, mas quanto? Muito ou pouco? – Lene consertou.


- Quem disse que eu gosto dele?


- Já chega de mentiras, Lily! Caia na real, por que te magoaram tanto as palavras dele? – A ruiva não respondeu, acompanhava o raciocínio de Marlene. – Porque a opinião dele importa para você.


- Ele é um energúmeno insensível!


- Um energúmeno insensível te faria se sentir mal assim?


Não houve resposta para isso. Os fatos já eram evidentes, o véu da mentira estava se dissipando dos olhos de Lily. Mas, ao contrário do que se pensava, receber a verdade não diminuiu os problemas, os fez aumentar. As peças do quebra-cabeça se encaixavam e agora a figura do desenho estava ficando mais nítida e, conseqüentemente, mais fácil de enxergar.


- Aonde quer chegar? – Indagou, querendo confirmar sua teoria.


- Quero dizer que, se realmente não sentisse nada pelo Tiago, não teria se sentido tão ruim de vê-lo beijando a Dion. Isso te causou ciúmes, ainda que involuntariamente.


- Acha que eu estou apaixonada por ele? – Lily fez em um tom baixo.


- Ficou mais evidente depois do seu aniversário... – Catherine respondeu no mesmo tom, com um sorriso triste nos lábios


A ruiva deitou-se outra vez, agora fitando o teto.


- Estou em uma situação bem ruim, não é?


- Ruim, mas remediável. – Cath aconselhou. – A gente precisa ir, Lily. Ainda não jantamos e falta pouco para o horário da aula. Quer alguma coisa para comer?


- Não. Vou à cozinha daqui a pouco e como aqui mesmo. Boa aula... Obrigada.


As três se abraçaram como irmãs e depois cada uma foi para aonde deveria ir, deixando Lily sozinha no dormitório. Alice voltou pouco depois, mas Lily não viu, já estava dormindo profundamente.


***


Aquela terça começou agitada.


Lily acordou cedo, afobada outra vez com seu sonho Potteriano. Sentiu-se desconfortável, virou-se na cama e descobriu por que. Dormira de jeans e camiseta, roupas apertadas e propensas a serem amassadas. Esfregou o rosto para afastar o sono e espreguiçou-se. Levantou e foi logo preparar-se para as aulas do matutino. Tomou um bom banho quente, demorando-se mais que o necessário. Vestiu o uniforme negro, amarrou a gravata e calçou os All Stars cuja cor ela mudara para vermelho. A mochila foi arrumada e logo Lily desceu para a sala comunal, ainda que fosse cedo, seu sono se esvaíra. Viu-se só no silêncio matutino e algo apertou em seu peito, um nó na garganta fez seus olhos arderem e ela nem sabia ao certo por que... Inspirou profundamente, pensando nos abraços acalentadores de sua mãe.


Tiago, Sirius e Pedro cruzaram o retrato pouco depois, todos abatidos, mas com um brilho de contentamento no olhar. Sentiam-se bem em ajudar o amigo, fazia tudo valer à pena. Saber que Aluado estava bem.


- Pelos céus, que bom que chegaram. Estava já angustiada! Como foi? – Lily foi até eles em um salto. Avaliou a condição de cada, como se checando.



  • Pés e mãos inteiros? Confere

  • Braços e pernas no lugar? Confere

  • Cabeça na posição correta? Confere

  • Coração batendo? Confere

  • Respiração em padrões aceitáveis? Confere


- Foi tudo tranquilo, Lily. Aluado estava calminho dessa vez. – Sirius respondeu pelos três. Pedro cambaleava de sono, mal se mantendo de olhos abertos, já Tiago... Tiago a evitava, tanto verbal, como visualmente. Não a olhou no rosto uma só vez. Em verdade só sabia que era Lily ali, pois reconhecia a voz e o perfume adocicado. Não a fitara nenhuma vez e não tinha vontade de fazê-lo.


- Subam para descansar um pouco. Vão para a aula?


- Depende, Lily. – Foi Pedro que se pronunciou. – Qual o primeiro horário?


Lily correu até a mochila e pegou um pedaço de pergaminho, pintado e grifado de várias cores. Avaliou-o por um segundo ou dois e depois respondeu categórica.


- Transfiguração. Seguido de dois tempos de poções, antes do almoço.


- Vou dormir! – Pedro gemeu se lamentando e subindo as escadas.


- Banho gelado e desço logo, ok, Lils? – Sirius confirmou. A menina fez um sinal de positivo com os dedos e Sirius disparou escada  acima. Da porta do dormitório ainda gritou pervertidamente. – E vocês se comportem aí em baixo, ouviu? Nada de indecências no meio de salão, pombinhos apaixonados.


Lily corou e virou a cabeça na direção da janela, muda. Tiago passou a mão pelo rosto, esfregando os olhos cansadamente e bocejou. Jogou-se em um sofá e cerrou os olhos, ainda se quedando desperto.


- Ele não sabe do que realmente rolou, Evans. Desculpe a inconveniência do Almofadinhas. – Pediu sem preocupação.


- Ah, certo. Obrigada, Potter. – Murmurou corada demais para olhá-lo.  – Avise à Marlene que fui tomar café.


Quem não a conhecesse diria que estava fugindo dele. Quem a conhecesse diria o mesmo. Mas Tiago Potter não percebeu como a ruiva estava corada e, muito menos, que estava dando desculpas para sair dali. Estava mentalmente longe demais para ouvir qualquer coisa. Lily aproveitou-se do momento e saiu silenciosamente, com a mochila nas costas. Tomou seu café calada até ver Melhissa vindo em direção à mesa da grifinória, conversando com Marlene e Catherine. Trocaram os cumprimentos matinais e a corvina se despediu, indo para junto das amigas de sua casa. Lily ficou a sós com as grifinórias.


- Então... Vimos TP na sala comunal. Falou com ele? – Lene começou casualmente e terminou ansiosa, desesperada por uma resposta.


- TP? O que vem a ser TP, Lene?


- Você é sonsa ou se faz, Lily? Tiago Potter, alouuu? – Cath zombou a amiga, dando dois tapinhas na cabeça da ruiva e depois servindo chá mate gelado em uma caneca.


- Agora faz mais sentido. Dizer TP faz parecer que estamos conversando sobre uma marca, não uma pessoa. Por acaso eu digo, “E aí, Lene, como vai seu namoro com SB?”? – As três riram.


- Agora eu falo sério... Entenderam-se?


- Lene, na boa... Você não quer que eu o puxe pela gola da camisa, diga “Me desculpe, eu sou uma idiota, agora vamos recuperar o tempo perdido” e depois o agarre, quer? – Lily contestou com ironia. Catherine riu e se engasgou com a torrada.


- Quero! É exatamente o que quero! Pare de complicar as coisas, Lily. Vá até ele, dê sua resposta, beije-o e espere que ele te peça em namoro. – Lene explicou como se disse a uma criança que as folhas das árvores são verdes e o sol é amarelo.


- Você anda lendo muitos romances! – Lily confirmou. – As coisas não são fáceis assim!


- Em verdade, são. Nós, seres humanos, é que gostamos de complicar as coisas um pouquinho porque somos extremamente masoquistas e não estamos felizes com a solução rápida de nossos problemas. Queremos complicar as coisas para termos uma desculpa caso elas dêem errado. Parece que ser feliz é errado e que, se não sofrermos muito no processo de algo, não terá valido a pena, nada pode ser fácil... – Cath falou com simplicidade entre uma garfada e outra da salada de frutas.


- UAU!! Você engoliu um livro de psicanálise ou visitou Freud durante a noite? – Lily surpreendeu-se. – Dra Catherine, a terapeuta de problemas amorosos. Nunca pensou em ser psicóloga?


- Pisi- o quê? – Lene repetiu.


- PSI. CÓ, LO. GA. Médica que trata dos problemas das pessoas. Ela meio que nos ouve e dá conselhos. Já fui a uma quando pequena. Parece besteira, mas realmente ajuda. – Explicou.


A conversa foi fluindo sem um rumo certo de assunto. Vira e mexe, Lene voltava ao “TP” da questão. Saíram juntas para a aula de transfiguração sem esperar Black. Sirius apareceu na sala de aula, 10min atrasado, Minerva o repreendeu, tirando 15 pontos da grifinória. Lily o fitou com uma expressão assassina e chateada. Ao final da hora de classe, os quatro seguiram para poções, nas masmorras, durante o percurso, Lene e Cath disparavam, vez ou outra, indiretas sobre como Lily poderia fazer as pazes com Tiago. Sirius ficava sem entender os comentários, pois pensava que os dois já estavam juntos.


- Espera um pouco. Para que se jogar aos pés do Pontas, já que vocês, tipo, estão namorando? – Ele se atrapalhou um momento. Lily corou e  não respondeu.


- Não estamos namorando, Almofadinhas. Evans e eu não temos nada, não é Evans?


- Não, Potter. Não temos nada, eu ia explicar para o Sirius agora. – Ela respondeu, evitando olhar nos olhos dele. Não deixaria transparecer, mas o modo frio com que ele retrucara Sirius a magoara, fizera parecer que ela e Tiago não tinham nenhuma chance. – Com licença agora, preciso chegar até minha bancada e copiar as anotações de hoje. – Pediu timidamente, abaixando a cabeça, submissa, e abrindo espaço, com os ombros, por entre os amigos.


O resto do dia passou monotonamente tenso. Lily e Tiago não se olhavam; Lene apoiava a amiga e tomava as dores dela para si, Sirius ficava do lado de Tiago, defendendo que ele não poderia agüentar tanta ofensa por tanto tempo assim, calado. Catherine não tomava partido, ao menos não abertamente, e sempre trazia as coisas de volta ao chão quando via que as discussões estavam passando dos limites.


No fim da tarde houve tempo para que todos os cinco fossem ver Remo na enfermaria. Melhissa estava lá com ele, aproveitando os últimos minutos que tinha de visita para ajudá-lo com o jantar e as poções curativas, da noite. Foi uma visita rápida, sem muita conversa


A última aula do dia era TCM para Lily, que geralmente assistia a matéria com os marotos, que estariam na Casa dos Gritos. Todos os amigos se encaminharam para a Torre, para se prepararem para jantar. Lily avisou que antes passaria na biblioteca para buscar um livro de feitiços. Ninguém a acompanhou.


Cruzou a porta de vidro silenciosamente. Cumprimentou a bibliotecária com uma aceno de cabeça e se encaminhou para as passagens entre grossas prateleiras de livros. Depois de quase dez minutos de busca, encontrou o que precisava, um volume antigo, de capa de couro e páginas amareladas, não era grosso demais, nem fino demais. Tinha o tamanho ideal. O cheiro delicioso de papel velho invadiu suas narinas na primeira folheada de páginas que Lily deu. Inalou profundamente, aproveitando. Voltou à realidade, lembrando-se que ainda teria aulas. Encaminhou-se para a saída da sala para anotar seu nome na lista de empréstimos e, finalmente, subir para seu dormitório.


Assinou a lista com seu nome em letra caprichosa e tirou dos ombros a mochila vermelha para guardar o pesado livro antes de sair da biblioteca. Retirou-se dali. Quando estava na metade do caminho do 4º andar, trombou em alguém que caminhava depressa na direção oposta.


- Ai! Perdão, eu não vi você... Evans!! Que bom que te achei! Estava ficando louca atrás de você. – A voz soou animada.


Lily não pode acreditar que, justo aquela garota, estava lhe procurando. Os cabelos castanhos da menina estavam impecavelmente presos em um coque firme, a gravata bem amarrada e a capa negra aberta, esvoaçante.


- Dion. – Reagiu sem emoção. – Me procurava? Algo da monitoria?


- Não. Nada de monitoria dessa vez, Evans. Tem cinco minutos?


- Depende... – Rebateu Lily.


- Preciso te dizer uma coisa sobre ontem... Sobre Tiago Potter.


- Desculpe, estou muito ocupada. – A ruiva murmurou ajustando a alça da mochila, sem, no entanto, se retirar.


- É importante! Preciso esclarecer o que você viu ontem. – A morena avisou


- Dion, por Merlin, eu tenho olhos! Eu sei que vi. Você e Potter se beijando, ficou claro!


- Não! Não ficou, existem detalhes que você desconhece! – Angelina exasperou.


- Por favor, não preciso saber das minúcias do seu amasso com Potter. Conheço bem como são essas coisas! – Reclamou irritada.


- Me escute, Evans! – Lily ficou calada, esperando. – Potter não sente nada por mim.


- Ótimo. Trate de seus problemas de  relacionamento com ele, não comigo! – A fúria começava a se instalar.


- Você ficou com ciúmes, mas Potter nem sequer gosta de mim. Ele gosta de você, Evans!


- Eu não senti ciúmes!! Não GOSTO DO POTTER! – Se exaltou


- Calma! Deixa eu explicar, por favor? – Pediu. Lily cruzou os braços e aguardou. – Tiago veio comigo pedir uma opinião feminina – Lily ia retrucar. - e não, ele não poderia ter pedido às suas amigas, não queria fazê-las pensar que não sabia o que sente por você. Somos bons amigos, caso não saiba, Evans. Ele queria confirmar algo que já acreditava ser verdade. Disse que já não conseguia parar de pensar em você e que, mesmo os poucos encontros que estava tendo esse ano não estavam lhe trazendo alguma satisfação. Eu falei o que pensava, que ele não se sentia satisfeito porque elas não eram você, e que ele tentava ver você nelas.


Lily ainda estava calada processando tudo.


“E, você não sabe, mas não foi ele que me beijou. Ele assumiu a “culpa” de tudo quando vocês começaram a discutir. A verdade é que fui eu quem o beijou. Não gosto dele como pensa, Tiago é apenas um amigo para mim. Mas você precisa entender o meu lado. Há três dias meu  namorado, que agora é ex, Guilderoy, estava ficando com outra no campo de quadribol e eu vi.  Evans, você faz ideia de como eu me senti? Eu estava carente, machucada, foi um erro... Eu já pedi as desculpas mais sinceras ao Tiago, quero dizer, ele me pede uma opinião sobre a garota que ele adora e eu o beijo? Foi muito errado e talvez você nunca me perdoe pelo que eu fiz, mas não puna o Tiago por isso. Ele te adora mesmo e vocês devem ficar juntos.”


- É meio tarde agora, Dion. – Lily murmurou amargurada, com os olhos ardendo.


- Não, não é. Sabe que gosta dele também. Corre atrás de uma vez, mulher! Aproveita a chance! – Sussurrou algo no ouvido da ruiva que arregalou os olhos.


- Acha que funcionaria?


- Vai funcionar. Me orgulho de poder dizer que conheço muito bem aquele maroto. Anda logo, Evans!! – E empurrou Lily para o caminho da torre outra vez, dando um último sorriso malicioso para ela.


- Obrigada, Dion. – Lily voltou e a abraçou com sinceridade. Ia começar a lacrimar.


- Nada, Evans! Agora vai!


Lily sorriu enquanto caminhava até sua sala comunal. O nervoso borbulhando em seu estômago, revirando suas entranhas. Não viu seus amigos na sala da torre. Subiu ao dormitório feminino.


- Oi, meninas. – Cumprimentou alegre.


- Oi, Lily. Que alegria é essa, eim? – Alice provocou.


- Nada! Só que resolvi ser uma pessoa mais alegre e feliz! – Comentou abrindo a capa negra e pendurando-a ao lado do malão.


- Conta outra mentira, Lily, essa não convenceu. – Lene murmurou risonha do seu cantinho.


- É só que Tiago Potter me ama!! – Rodopiou infantilmente pelo quarto e se jogou na cama, gargalhando de felicidade.


As amigas a encararam com uma feição engraçada de quem tenta prender o riso. Foi inútil. Catherine soltou a primeira risadinha e logo depois, Lene explodiu em risadas, junto com Alice.


- Só percebeu agora, ruiva? Ele grita isso aos quatro ventos há quase dois anos.


- Eu sei, Alice, eu sei... – Lily respondeu por entre um sorriso.


- Cath, é pior do que pensamos, Lily está sofrendo de paixonite melosus agudus... – Lene zombou rindo. – Fez as pazes com ele então?


- Não. – O sorriso apaixonado de Lily havia sumido. As feições de dúvida apareceram no rosto das meninas. – É que... Eu descobri que ele não beijou a Dion.


- NÃO?!! – Lene e Cath se exaltaram surpresas e ansiosas pela fofoca.


- Ele tinha beijado a Dion? Aliás, quem é Dion? – Alice fez, perdida. As quatro riram.


Lily contou-lhes um breve resumo de sua conversa com Angelina; as amigas ficaram contentes com as novidades e bateram palminhas de excitação.


- Então quando vai falar com ele? – Alice quis saber.


- Logo...


- Logo quando Lily? Hoje é o ultimo dia da lua cheia, lembra? Amanhã é o passeio. Vai agora!!! – Lene exasperou.


- Agora não! – Lily fugiu. – Agora vou me arrumar para a aula e para o jantar. Falo com ele antes da aula.


Sumiu porta do banheiro adentro.


Menos de meia hora depois, estavam no Grande Salão, devidamente banhados e vestidos, os três marotos, Lily, Lene, Cath, Alice e Frank. Tiago não ousava levantar o olhar para ela. Acabou sua refeição por primeiro, mas ficou esperando Sirius. Lily serviu-se outra vez de empada de rins, mas desistiu de comer quando viu Tiago e Sirius levantando-se e arrastando com eles um Pedro atracado em sanduíches.


- Vamos logo, Rabicho! Vai ficar tarde! – Tiago pedia. Os três saíram dali logo depois.


- É a sua chance! – Lene sussurrou para Lily. A ruiva engoliu em seco. Suspirou profundamente e encarou Cath em busca de apoio. Um olhar de incentivo foi o que recebeu. Estava vencida, falaria agora com Potter.


Saiu do salão correndo e alcançou a porta de saída quando Tiago estava quase fechando-a.


- Potter! – chamou em voz alta. Ele ouviu-a e girou o corpo na direção dela.


- Evans? O que... O que você quer? – questionou sem a encarar. Olhava para um ponto fixo na escuridão.


- Escuta, preciso saber uma coisa – Ele grunhiu em reposta, pedindo que ela continuasse. -, você sabe que amanhã tem passeio a Hogsmeade, não é? – O ruído se repetiu. – Certo... Pretende ir?


Ele a fitou pela primeira vez o dia inteiro. Os olhos arregalados de surpresa, a postura arrogante deixada de lado por míseros segundos, para dar lugar ao completo espanto.


- Ahm sim, eu pretendo ir. – respondeu simplesmente, fitando seus sapatos e depois a encarando com frieza


- Ah... E vai só ou acompanhado?


- É passeio de dia de São Valentin, não é? Devo ir acompanhado. – constatou com deboche na voz.


- Já convidou ou foi convidado por alguém? – Lily interrogou por fim, puxando um sopro de coragem sabe-se lá de onde.


- Não que seja da sua conta, Evans, mas, não. Não tenho companhia. Não convidei nem fui convidado por ninguém. – Frieza e ironia gotejavam de suas palavras. Lily não se abalou, pôs um sorriso no rosto e apenas avisou-o.


- Ótimo! Já que está sozinho e ontem gritou, aos quatro ventos, que me ama, te espero as dez aqui na porta para pegarmos uma carruagem. Boa noite, Tiago! – Não esperou que ele respondesse e sapecou uma beijoca úmida de brilho labial na bochecha magra e corada de Tiago. Saiu saltitante em direção à aula de TCM, crente ter ouvido uma risadinha muito curiosa, semelhante ao latido rouco de um cachorro.


***********


O despertador tocou cedo. Muito cedo. Antes das oito.


- Quem foi o ser que deixou essa buzina acordadora de pessoas ligada? – Catherine fez o escândalo.


- Eu! Bom dia, mundo!!! Acordem pessoas, sejam felizes... Vamos levantar esses traseiros gordos dos colchões e começar o dia! – Lily estimulou a todas espreguiçando-se e saindo na mesma hora de cima de sua cama.


- Cala a boca, Lily! – Lene pediu “amavelmente”, cobrindo a cabeça com o lençol.


- Negativo, fofinhas! Vocês prometeram me ajudar!


- Ajudar com quê, Lily? Ainda mais a essa hora da manhã? – Alice resmungou semi-desperta.


- A me aprontar para sair... – cantarolou. – Caso não se lembrem, hoje é meu encontro com o Tiago!! – Pulou de felicidade.


- Já tô acordada! – Lene avisou jogando as cobertas, longe, e se levantando. – Preciso guardar uma lembrança do dia mais histórico de Hogwarts!


As amigas riram e começaram a bagunça no dormitório. Catherine foi a primeira a tomar banho e se trocar. Não tinha para quem se arrumar, logo, foi rápida. Apenas o bom e velho jeans claro com uma blusa preta de mangas curtas, os cabelos loiros destacados e um All Star nos pés.  A próxima foi Alice. Depois de quase vinte minutos, a morena saiu do banheiro pronta. Os cabelos pretos curtinhos estavam escovados e presos por um laço vermelho no topo da cabeça. Trajava um vestidinho branco de bolinhas vermelhas e sapatilhas pretas de saltinho.


Marlene não se demorou muito. Amarrou seu cabelo escuro num rabo de cavalo alto, vestiu uma camisa azul-marinho de manguinhas e uma legging branca. Botas cano curto (emprestadas de Cath) completaram o visual.


Lily foi a que mais custou a se aprontar. Depois de um banho de cabelo, para realçar o brilho dos fios ruivos, a menina passou pela difícil tarefa de escolher uma roupa para o encontro.


- Que tal meu macacão azul?


- Macacão? Lily, você tem 8 ou 18 anos? Não!! De jeito nenhum! – Catherine repreendeu


- Por que não aquela saia preta da Cath com a blusinha branca de alça? – Alice aconselhou


- Tá louca? Aquela saia é minúscula, Alice! Vai parecer que não tenho tecido para as roupas! – Lily exagerou. – Gente, estou começando a me desesperar!


- Relaxa, gata! Usa esse vestido amarelo, aqui! – Lene ofereceu


- Que coisa linda! Vou parecer um semáforo! Cabelos vermelhos, pare; vestido amarelo, atenção; olhos verdes, siga! – dramatizou com ironia.


- O que é um maséforo? – Catherine questionou


- É semáforo. É um objeto trouxa. Desisto, meninas! Não tenho roupa! – Lily chutou o malão, irritada.


- Calma, Lily... E esse vestido aqui? Estava no fundo do seu malão – Alice tentou estendendo um vestido branco de renda. Uma fitinha verde-esmeralda estava amarrada na cintura do vestido.


- MEU MERLIN! – Catherine berrou.


- É perfeito! Lily, esse é o vestido perfeito! – Lene surtou, agarrando a peça e dando à ruiva. – Veste que depois vamos cuidar desse cabelo e realçar esses olhos!


Dez minutos depois Lily trajava o vestidinho com a fita amarrada, uma sandália, de cor verde, de amarrar nos tornozelos, maquiagem leve e cabelos amarrados em um rabo de cavalo alto com algumas mechas soltas. Perfeitamente pronta.


- Conseguimos! Somos demais! – Lene vibrou, avaliando a linda produção da amiga, enquanto abraçava de lado Lice e Cath.


- Preciso pegar duas coisas... – Lily avisou, enquanto ia até seu malão e pegava um frasquinho pequeno, juntamente com sua varinha e colocava dentro da bolsinha cor de creme, que usava. Chamou as amigas para irem tomar café.


Frank estava a espera de Alice, de modo que a amiga tomou apenas um copo de suco e saiu com ele rumo às carruagens. Tiago e Sirius desceram atrasados, era quase 9h40min quando sentaram-se ao lado das amigas para fazerem o desjejum. Os cumprimentos matinais foram trocados e logo o assunto foi para a noite na Casa dos Gritos.


- Foi boa... Deu para divertir... – Sirius sorriu brincalhão com seu jeito maroto de ser. Lene deu-lhe um tapa no braço e passou a distribuir beijinhos por uma trilha que começava na mão do maroto e se estendia em direção à seu rosto.


- ECA! Não na minha frente! – Lily zombou.


- Pontas não é enfeite, ocupem-se... – Sirius soou malicioso e Lily corou. Não demorou e todos estavam acomodados em suas carruagens, rumo ao povoado.


Desceram na estação e logo foram se dispersando até restarem Tiago e Lily, dessa vez sozinhos. A ruiva começou a ficar tensa.


- Então... Quer ir aonde?


- Sei lá... – ele fugiu da resposta.


O silêncio era constrangedor e palpável. Optaram pela Dedosdemel. Tiago comprou alguns Diabinhos de Pimenta e pagou para Lily uma Varinha de Alcaçuz e uma Pena Comestível. Estavam outra vez sem rumo...


- Quer algo da Zonko’s? – Lily tentou outra vez, ele deu de ombros. – Ok, Tiago. Se você não quer ficar comigo no passeio pode ir embora agora e tudo bem. Agora ficar aí, todo calado não vai rolar!


- Ok, Evans... Vamos à Zonko’s... – soou cansado.


- Lily, por favor... – pediu. Como o mundo era irônico.


O resto do passeio foi calado e sensivelmente tenso. Sentaram-se para almoçar no Três Vassouras, cuja decoração estava totalmente romântica. Comeram uma boa lasanha de frango, acompanhada de Hidromel envelhecido em carvalho. Foi tudo muito calado.


- Posso pagar a conta ou você quer mais alguma coisa? – Lily fez que não com a cabeça e viu Tiago indo até o balcão para acertar a conta.


O encontro estava indo de ruim à péssimo. Não trocaram mais que duas dúzia de palavras o almoço inteiro. Respirou fundo, não poderia chorar, essa era sua chance de provar que gostava dele. De dar sua resposta. Seus pensamentos foram interrompidos.


- Lily?


- Ahm? Oi, Tiago...


- Estava pensando, já é quase uma hora... Quer ir para a estação esperar as carruagens?


- O quê? Já? – ficou triste de ele querer livrar-se dela tão rapidamente.


- Quer ir a mais algum lugar? – ele estava com uma feição melancólica.


- Ahm, sim! Quero! Preciso te mostrar uma coisa, vamos! – Levantou-se num pulo, entrelaçou seus dedos aos dele e saiu puxando-o bar afora.


Andaram de volta até a rua da Dedosdemel, mas viraram na esquina. Uma das pracinhas da vila estava ali. Cheia de banquinhos e árvores, com  um parquinho infantil atrás. Um local muito bonito.


- Eu conheço a praça, Lily.


- A praça era só uma desculpa. Aqui é um bom lugar para se conversar... Senta aí... – ela gesticulou, mostrando um lugar vago ao seu lado no banquinho. Tiago assentou-se.


Houve um momento de silêncio tão profundo que nem as folhas das árvores se moveram. Tudo ficou parado, como que aguardando o tempo dos dois.


- Depois que você me disse aquelas coisas eu estive pensando muito... Desde ontem eu... Eu meio que só penso em uma conclusão a que eu cheguei... – Lily começou, pondo uma mecha de cabelos atrás da orelha. Tiago não reagiu. – Preciso saber de uma coisa... – Abriu a bolsinha e tirou o frasco, destampou-o. – Qual o cheiro dessa poção?


- Simples...- ele inalou o aroma da poção. – Óleo de polir vassouras, cheiro de torta de limão recém assada, que minha mãe fazia quando eu era criança – Uma lágrima brotou no canto de seu olho. – e o seu... O seu perfume, Lily. Isso é amortentia.


Lily fez que sim com a cabeça.


- Eu sinto cheiro de livro novo, de soro de vagem soporífera e... E perfume de alfazema. – Os olhos de Potter se sobressaltaram. – Agora quer ver o mais curioso da minha descoberta? – Puxou a varinha da bolsa e guardou o vidrinho. – Seu patrono é um cervo, certo? – Tiago fez que sim com a cabeça, ainda meio atônito com o cheiro da amortentia de Lily. - Lembra-se que eu não conseguia fazer um patrono corpóreo? Que era só fumaça? Expecto Patronum!


E uma corça prateada pairou graciosa no ar. Correu por entre as árvores e Tiago a seguia com os olhos. A magia se dissipou depois de o animal cruzar um balanço. O olhar do maroto se voltou para Lily, abismado. A menina sorria bobamente apaixonada.


- Lily, o seu patrono é...


- Uma corça! – Houve uma pausa entre as falas. Nesse silêncio Tiago só absorvia a informação. - Eu não sei como nunca tinha notado tudo tão evidente! Eu sou tão boba!! Eu só me dei conta antes de ontem, você e a Dion no corredor... Quis matar um! Agora eu sei que, na verdade, não foi o que aconteceu, mas...


- Lily?


- Oi... – percebeu que Tiago a encarava profundamente.


- Você fala demais! – A distancia foi vencida. Houve um novo choque quando as bocas se encostaram, mas dessa vez foi diferente. Eram só eles ali... O mundo desaparecera, não havia Voldemort nem problemas, não havia medos ou temores, não havia nem sequer chão. Eram apenas dois corpos unidos flutuando no espaço. Nada mais importava, eram os dois ali, juntos, um era tudo o que o outro precisava. E quando as mãos do maroto pousaram suaves na cintura da ruiva e os braços dela se enroscaram na nuca do amado, permitido aos dedinhos finos passearem pelos macios fios de cabelo negro, foi que Lily se deu conta de como seu sonho se tornara a mais real das realidades possíveis.
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N/A: Ai, meu Deus!!!
Missão cumprida! Yees! Eu conseguiii
Capítulo postado no dia! Espero que tenha ficado do agrado de vocês essa esperada reconciliação/acerto de contas...
Cara, essa foi a Jily mais fofa que eu já fiz... eu amei o fim desse cap. E vocês?
Quero respostas nos coments...
Talisman, eu ia fazer mesmo aquele shipper, mas mudei de ideia depois do seu comentário... Mas ainda assim a realação Régulo/Cath é importante para a segunda temporada.
Então tá, é só isso por hoje.
Próximo capítulo provavelmente só no fim da semana que vem, por causa da provas bimestrais...
Obriga por quem lê e please, comentem gente...
Da autora muito feliz,
Morgana Pontas Potter 

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Comentários (2)

  • brunissimaaa

    lindo!! perfeito!! amei!! me emocionei!! quero mais!! <3

    2014-05-29
  • Talisman José da Silva Moraes

    Muito bom esse capítulo! Realmente excelente! Estava mais do que na hora de a Lily sentir na pele o que ela fazia com o James... Quanto ao shipper que você estuda introduzir, creio ter entendido seu propósito. Com Régulo/Catherine, a Cath descobrirá eventualmente que o petigrew é um traidor, e vai acabar gerando uma discórdia entre o grupo... Ou excluindo a Cath, ou provocando o rompimento do Sirius com a Marlene, pois o almofadinhas deixará de falar com a Cath por conta das acusacões, e a Marlene, como amiga da Cath, irá apoiá-la... Sei lá... viajei demais?

    2014-05-28
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