O segredo de Aluado



Os dois seguiram calados até o dormitório. Ao chegarem lá, Sirius empurrou Tiago na cama e com um feitiço mudo, tomou-lhe a varinha. Apontou-lhe a sua varinha escura e fitando-o sério, falou:


- Muito bem, me escute de uma vez, quero ver se te faço entender e ponho algum juízo na sua cabeça. Você é uma ótima pessoa, Pontas, mas seu problema é o seguinte, embora você seja calmo, tem a mania de explodir suas irritações e frustrações em nós! Só te digo uma coisinha, é melhor aliviar seu estresse ou então vai perder seus amigos! Somos compreensivos com a sua situação com a Lily, mas que fique claro que ninguém é saco de pancada para aturar suas crises de ciúmes!  O Aluado está se recuperando da lua cheia, que nem acabou, e você grita com ele do jeito que fez? Você é bem grandinho para ouvir lição de moral, mas, se for preciso, eu te dou uma das boas! – Disse controladamente, Tiago o encarava assustado.


 - Ok. Desculpe! – Respondeu em um sussurro.


O moreno de óculos foi tomar banho e Sirius jogou-se em sua cama, ficou minutos olhando para o teto branco. Era cerca de 4h30min quando Tiago saiu do banheiro com os cabelos espetados e molhados.


- Vai dormir, mesmo, princesa? – Zoou ele, jogando no amigo uma toalha molhada.


- Não! Vou ver Marlene e depois volto para a lua cheia.


- Acho que ela está em aula. – Disse o outro, parando um frente ao espelho e checando sua imagem, vestira uma camisa vermelha de mangas compridas, um jeans escuro e calçara os All Stars vermelho e preto.


- Sim, eu sei que está, mas combinamos de nos ver em quinze minutos, lá na cozinha. Vou unir o útil ao agradável. Jantar e Marlene!  Falou, Pontas!  - Devolveu Sirius, levantando-se e saindo do dormitório.


Tiago riu e deitou-se com os olhos fechados. Nem notou, adormeceu.


Sirius e Pedro voltaram as 5h50mim da tarde, entraram no quarto fazendo a maior algazarra.


- PONTAS!!! ACORDA VEADO!!! – Berrou Sirius, no ouvido do amigo.


- O QUÊ? CADÊ? COMENSAIS?? ONDE??? – Gritou Tiago, empunhando a varinha.


- Relaxa, cara! – Tranqüilizou Pedro, enquanto Sirius caía no chão, rindo. – São quase seis, casa dos gritos, lembra?


- Ahn? Ah, sim! Beleza! – Respondeu, ainda sonolento, esfregando os olhos.


- Vamos logo, Frank Longbottom está subindo. Virá estudar e é melhor que não nos veja saindo. – Alertou Pettigrew. Os três saíram do quarto pouco depois, Sirius coberto pela capa e Pedro como animago no bolso do casaco de Pontas.


Quando alcançaram a porta do dormitório, Frank vinha subindo as escadas, Sirius desceu-as com cuidado e Pontas esperou para não haver congestionamento nos degraus, embora, visivelmente, só houvesse Longbottom por ali.


- Olá, Tiago! – Cumprimentou alegre.


- Ah, oi Frank! Como vai?


- Bem, bem!


- Soube que está namorando com Alice... – Disse Tiago, vagamente.


- Sim, faz três meses. E você? Soube que brigou com a Evans na última semana. – Respondeu Frank dando um sorriso penoso para o maroto.


- É, mas... Já até esqueci! – Mentiu o moreno. – Assim... Eu posso ter qualquer garota do castelo, por que me importar se a ruiva da Evans não me nota? Vou é curtir que eu sou muito novo para ficar preso a uma só menina, né? – Frank deu de ombros, mas sorriu. – Deixe-me ir que vou me encontrar uma corvina gatinha. Falou!


Deu um tapinha no ombro do amigo e desceu rapidamente a escada. Quando alcançou o chão, correu até a porta, mas acidentalmente trombou em alguém. A pessoa foi ao chão e ele perdeu os óculos. Pelo que percebeu, era uma menina, por conta do grito agudo que deu, e carregava muitos livros que se esparramaram pelo piso. Tateou o chão de pedra atrás de seus óculos. A menina resmungava de dor, mas, devagar, começava a catar seus livros. Quando um deles saiu do contato com o piso, ouviu-se um ruído de vidro.


- Oh, Merlin! Quebrei seus óculos... Tiago? – Disse a garota, recolhendo do chão a armação amassada e as lentes quebradas, quando olhou pela primeira vez para a pessoa com quem ela colidira.


- Lily? – Disse o menino, tentando descobrir, pela voz, com quem falava, uma vez que seus olhos míopes nada enxergavam.


- Sim, Potter. Sou eu! Devia prestar mais atenção por onde anda. Como conserto isso? – Inquiriu, tentando parecer zangada.


- Feitiço do Reparo. Deixe que eu faça. Ponha aqui na minha mão o que restou dos óculos. – Ela obedeceu, tentando evitar perder qualquer parte do “enxergante” do colega, colocou delicadamente os pedacinhos quebrados, seus dedos gelados roçaram na mão quente do maroto e ela sentiu-se desnorteada por segundos. – Óculus Reparo! – Falou, apontando a varinha para o objeto e, magicamente, as lentes se recomporam e encaixaram na armação de metal. – Bem melhor. Quer ajuda?


Ele já estava de pé ao questioná-la. Observava-a re-empilhando os volumes, estendeu a mão em um ato de cavalheirismo. Ela olhou para os dedos dele e aceitou a mão amiga. Ele a puxou para cima e ela aproximou-se consideravelmente dele. Corou, mas não se afastou de imediato, olhava para os olhos dele, deu-se conta de que ainda segurava a mão dele e corou violentamente, puxando seus dedos para junto de si e usando-os para segurar os livros, uma tentativa desesperada de não acariciá-lo os cabelos negros como costumava fazer.


Ele afastou-se dela com um sorriso e andou até o retrato.


- Ei! – Ela chamou. Ele virou-se. – Vai à aula hoje? – Ele negou com um sorriso maroto. – Ah! Claro, vai se agarrar com alguma! – Ele nada respondeu, deu as costas e saiu. Ela chateou-se e mudou de ideia, não foi para a aula também.


Tiago correu desabalado pelo castelo até alcançar a porta principal, Sirius o esperava atrás de uma pilastra, conversando com Marlene. Despediu-se da garota com um beijo e seguiu Pontas, rumo a fora do castelo. O zelador controlava a saída de estudantes, para garantir que ninguém iria para a Floresta Negra nas noites de lua cheia. Barrou os rapazes antes que esses sequer pusessem o pé porta afora.


- Nomes?


- Tiago Potter e Sirius Black. – Tiago respondeu monotonamente.


- Deixe de ser insolente, seu pivete mal educado! – Disse o zelador, referindo-se ao tom de voz usado por Pontas.


- Ah, desculpe, Sr. Realeza!! Eu não quis ofender vossa Majestade! – Sirius zombou e riu gostosamente, junto a Tiago.


- Hum! No meu tempo, penduraríamos os alunos de cabeça para baixo no meio do corredor, quem me dera pudesse fazer isso com vocês dois! O que pode acabar acontecendo se não melhorarem os modos! – Disse maldosamente o zelador.


- Isso é uma ameaça? Ah, não Sr. Lumiére. Melhor que não seja! O que será que Dumblendor vai achar quando um dos alunos aparecer acusando o senhor de maus tratos?


- E em quem você acha, Potter, que ele vai acreditar? No zelador ou...


- No afilhado querido dele? Desculpe, eu realmente não gosto de apelar para esse lado da coisa, mas preciso garantir minha segurança! Até outro dia então! – Tiago e Sirius correram castelo afora, até a passagem do Salgueiro Lutador. Outra noite!


No dormitório feminino...


Lene estava outra vez admirando sua janela, os cotovelos dobrados sobre os joelhos, o rosto deitado nas mãos, o olhar distante e triste... As amigas notavam que Lene não estava bem, mas tinham receios de perguntar. Lily entrara no quarto bufando dessa vez. Outra vez culpa do “Potter idiota”. Cath e Marlene gastaram 40min falando com a menina, que não parava de reclamar a Merlin, que Tiago Potter era um galinha, sem juízo e sem noção, que pegava todas!


- E se ele for assim, o que, por Merlin, você tem haver, Pepper? Deixe-o viver a vida dele e viva a sua! Se não gosta dele, não é problema seu com quem ele se agarra por aí! – Insistiu Cath.


- Você não entende! Ele mentiu! Disse que depois que se apaixonou por mim, deixara de olhar para outras... Ele nem se deu ao trabalho de negar o que estava indo fazer quando eu o desmascarei!


- Já pensou que poderia ser uma desculpa para algo muito importante que ele tinha que fazer e que você não podia saber? – Tentou Lene.


- Sabe de algo, Lene? – Quis saber a ruiva.


- Esquece Lily! Eu não disse nada! Boa noite! – Disse para as amigas, enrolando-se em cobertas grossas de lã e fechando os olhos, tentando não pensar nas íris azuis que brilhavam na casa dos gritos há essa hora.


Na sexta feira, Marlene foi a primeira a despertar. Bocejou alto, parecia ter permanecido horas a fio acordada, fazendo algo realmente laborioso, espreguiçou-se e levantou. Foi até o banheiro e tomou um banho quente, vestiu-se. Antes de sair do dormitório, acordou as amigas, que já estavam um tanto atrasadas. Desceu para o salão comunal, visualizou os marotos entrando pelo retrato. Correu até Sirius.


- Six! – Pulou em seus braços, ele a segurou forte pela cintura e deu um beijo suave na bochecha da menina. – Bom dia! Como foi? Descansou um pouco?


- Lene, eu fui para a Casa dos Gritos! Acha mesmo que eu tive tempo de dormir?


- Ah, sei lá! Não dormiu, não? – Ele negou com a cabeça. – Pois deveria ter dormido. Creio que o Tiago se virava bem sozinho! Quer dizer, só com o Pedro. – Repreendeu Lene, soltando-se dos braços dele, alisando as próprias vestes negras e ajustando a gravata vermelha no pescoço.


- O Pontas? Sem mim? – Riu gostosamente. – Nunca! Aquele veado jamais se viraria sem mim!


- Não acha que está convencido um pouquinho demais não, Six? – Brincou a menina, puxando ele para sentar-se com ela em um sofá.


- Eu? Eu naaaao! – A negação saiu por meio de um bocejo, enquanto Sirius coçava os olhos para tentar mantê-los abertos.


- Você está cansado demais. Vai dormir e pega só as aulas da tarde! – Sugeriu a morena.


- Não posso! Temos transfiguração com a Tia Mimi. Sem faltas!


- Ela vai entender, durma um pouco.


- Não! Prefiro tirar um cochilo pela tarde. Vou subir e tomar um banho quente para acordar!


- Vai, então! Eu vou descer, tomar café com as meninas e quando você chegar, vai ter prontinha uma torrada com geléia. – Ela disse sorrindo. Ele deu um beijo nos cabelos de Lene e subiu para o dormitório.


Sirius entrou em seu quarto e viu Tiago e Pedro jogados em suas camas, com a roupa do corpo mesmo. Nem banho tomaram. Apenas se deitaram , pois o cansaço era extremo. Ele bem sabia que suas energias estavam em um nível perigosamente baixo. Havia sérios riscos de desmaiar, mas valia correr o risco. Só havia mais uma noite de lua cheia.


Dirigiu-se ao banheiro, mas Frank devia estar lá, pois a porta estava trancada. Voltou à sua cama e considerou fortemente a ideia de deitar por cinco minutinhos. Mas ouviu a porta se abrir logo em seguida e desistiu. Puxou sua toalha e dirigiu-se para lá.


- Bom dia, Sirius!


- Bom dia, Frank.


- Nossa! Está com uma cara terrível!  - Comentou Frank chocado.


- Ah! Obrigado! Estou em uma competição com o Pontas sobre “Quem passa mais noites em claro.”. Estou ganhando por enquanto. – Mentiu Sirius risonho.


- Percebe-se. Bem, deixe-me ir. Até a aula, Sirius. – Saiu do quarto com alguns livros nos braços.


O moreno não respondeu. Entrou no banheiro e curtiu a água morna em sua pele. Perdeu-se na hora. Provavelmente não chegaria a tempo para TCM, mas não importava. O que fazia a diferença era Transfiguração. Saiu do chuveiro e vestiu-se, retornou ao quarto e viu os amigos ainda jogados. Acordou Tiago.


- Ei! Pontas!


- Que é que você quer?


- Nossa, que carinho! – Ironizou – Queria perguntar se vai à aula agora.


- Não! – Foi a reposta do outro.


- Mas e a Minerva?


- Acho que ela está bem! Me deixa dormir, cachorro! – Disse um irritado e sonolento Tiago.


- Quero saber o que digo a ela. Qual é a desculpa de você ter faltado a aula de hoje?


- Diga que... Que fiquei até tarde pensando em táticas do quadribol, não dormi bem e... Que amanheci com muita dor de cabeça.


- Puxa! Para quem está moribundo feito você, até que achou uma mentira convincente em segundos. – Falou Sirius, surpreso. – Agora posso dizer que tenho orgulho do meu aluno!


- Cala a boca e some, Almofadas!


- Tá, tá! Já vou! Só quero lembrar...


- SOME! – Disse Pontas, já deitado e com os olhos fechados.


O resto do dia foi normal. Pela noite, os marotos foram outra vez para a Casa dos Gritos, mas dessa vez, Lily os viu saindo. Viu Sirius dando um beijo em Marlene e sumindo pelo retrato com Tiago. Ficou intrigada, mas foi Cath quem perguntou.


- Lene? Está tudo bem com você e o Six?


- Tudo ótimo! Por quê?


- Nada! É só que... É estranho que você o deixe sair, em plena sexta à noite, com o amigo solteiro dele. Sabe-se lá o que vão aprontar! – Disse a loira com uma pilha de deveres nas pernas. – Ainda mais, que ainda temos aula hoje. Você e eu!


- Ah... Bem... Eu confio nele e... – Enrolou-se com as palavras.


- Lene, tem algo que queira nos contar? – Perguntou Lily, sentando-se junto a amiga.


- Tem muitas coisas que quero contar. Mas eu não posso, eu... – Falou a morena, passando a mão nervosamente pelos cabelos.


- Você? – Insistiu Cath.


- Ela prometeu ao Six, pelo namoro deles, que não ia contar para nós. – Disse Lily, frustrada.


- O QUÊ? Marlene! Prometemos que nunca esconderíamos nada umas das outras! – Brigou Cath.


- Eu sinto muito! O segredo não é só do Six! É de mais pessoas. É dos marotos! Não posso falar! – Respondeu, quase chorando.


- Mudando de assunto totalmente... – Disse a loira, evitando que Lene chorasse. – O Remo não ia voltar hoje?


- Ia, mas se enganou e, na verdade, só volta no domingo. – Respondeu Lene de prontidão.


- Como sabe? – Questionou Lily, desconfiada.


- É... É que... Ele escreveu para o Six, que me disse.


- Lene... Conte logo! Que segredo é esse?


- Não vou dizer, Cath! Sinto muito!


- Se adivinharmos? Não é como se tivesse contado. Nós descobrimos e você quis contar a história toda!! – Sugeriu a ruiva. A outra nada disse. Não falou que sim, nem que não. Sentia-se dividida, queria dizer, mas não podia! – Certo. Vamos aos fatos. Sirius e Potter estão saindo toda noite, durante uma semana. Voltam de manhã, cansados. Faltaram muitas aulas durante essa semana. O Poter quase não foi visto pelo castelo. Remo viajou. Disse que voltava hoje, mas, na verdade, só volta domingo. Há meses que Remo viaja durante uma semana para ver a... Ah, céus! Eu... Eu já sei!


Lene encolheu-se, fechou os olhos e repetiu para si, “É só uma suposição dela. Não pode estar certo”.


- O Potter é um... Lupus? – Tentou Lily.


- Não é ele. – Lene respondeu antes de se conter.


- É o... Remo? – Disse chocada. Lene assentiu.


- O que? O que tem o Remo? – Perguntou Cath, desentendida.


- Ele é um lobisomem. – Respondeu a Pepper, ainda abismada com a descoberta


A ruiva e a loira ainda assimilavam tudo, quando Lene descuidou-se e olhou pela janela, viu Sirius e suspirou. Lily seguiu-a com o olhar e reconheceu os amigos andando na neve, rumo ao Salgueiro Lutador.


- Eles vão atrás dele, não é? Eles vão até o Remo, não é? – Disse Lily preocupada. - Lene... Não podemos deixar que façam isso! Corre!


Lene tentou protestar, mas Lily não deixou, nem Cath. Pegaram os casacos e correram para o pátio. Desceram as escadas em alta velocidade, chegaram aos portões e, sem nem parar para o zelador, Lily arrastou as amigas para o Salgueiro. Quando chegaram lá, a árvore começou a se agitar, batia os galhos freneticamente, tentando acertar as meninas. Lily recebeu pequenos cortes e Cath foi golpeada no estômago. Lene aproveitou a distração da árvore e alcançou um graveto qualquer, com o qual  bateu nas raízes da planta, que parou de se mover.


- Ela é enfeitiçada. Vamos voltar para o castelo, não tem como passar daqui. – Disse com a respiração ofegante.


- Lene... É o seu namorado que está lá. Já estamos suficientemente encrencadas, diga logo como seguimos e pronto! – Teimou a ruiva, olhando ao seu redor, tentando achar um modo de ultrapassar a planta. – Ah! Não precisa, tem um túnel aqui. Vamos, se agachem que temos uma aventura pela frente!


O túnel era comprido e estreito. Inicialmente era alto e as garotas passaram por ele em pé, com as costas arqueadas, mas, à medida que se distanciava, ia ficando mais baixo. Depois de um tempo, as amigas continuaram o trajeto de joelhos e, quase no fim da passagem, precisaram se deitar no chão de areia. Estavam espremidas e sujas, com sede e o cansaço estava começando a se abater sobre elas, Lene ainda tentara fazê-las desistir, mas depois de precisar ajoelhar para fazer o caminho da passagem, viu que não tinha mais volta. Elas estavam indo de encontro à casa do lobisomem. 


Alcançaram a casa de piso de madeira após 20min de arrastamento pelo chão. Estavam no primeiro andar da moradia, mas era possível ouvir os barulhos do segundo piso. Alguns rosnados, latidos e guinchos agudos de alguém. Lene, bem como as amigas, teve a espinha congelada ao ouvir o uivo do amigo Lupin.


- Estão lá em cima! Precisamos subir! – Sussurrou Lily. Puxou Cath consigo, mas Lene permaneceu nos pés da escada, tremendo de pânico. Ela compreendia, ainda que muito vagamente, que lobisomens não atacavam animais, só seres humanos e, por isso, Sirius e os marotos estavam bem lá em cima, mas Lily e Cath... Elas não teriam a mesma sorte.


A morena seguiu as amigas, calada como a noite. Pararam ao chegarem ao segundo piso, nenhuma delas estava realmente pronta para encarar o lobo. Lene se adiantou e parou ao lado da porta fechada, espiou pela fechadura da maçaneta. Remo parecia tranquilo, um lobo calminho. Sua pelagem era branca com mel e ele estava em pé, sobre as duas patas traseiras. Do lado dele, estava um cão negro, de orbes azuis, era Sirius. Fitava Remo e brincava com ele, dando mordidas em suas patas e correndo pelo quarto. Um cervo de pelo castanho seguia o cachorro na brincadeira e, juntos, derrubavam no chão o lobo, que uivava contente. Lene deu um sorriso tímido e se virou para as amigas.


Lily e Cath pensaram que os amigos estivessem encurralados, ou feridos, algo assim. Descobriram pelo olhar de Lene, que naquele quarto estavam os marotos. Não pensaram duas vezes, pisaram duro até a porta e, mesmo que Lene implorasse para que fossem embora, as duas, ruiva e loira, não mudaram o ponto de vista. Abriram a porta.


A cena paralisou-se. Os olhos do lobisomem, que estavam cor de mel, faiscaram e, repentinamente, brilharam de malícia e terror. Ficaram amarelos. O cachorro olhou para elas e ganiu triste, o cervo deu uma patada no chão e um ratinho que estava ali, fugiu para um buraco no canto da parede. O cérebro de Lily levou cinco segundos para entender. Animagos! Sirius Black, Pedro Pettigrew e Tiago Potter eram animagos!  Os olhos azuis não negavam que Sirius era o cão, o ar ratinheiro que havia no rosto de Pedro, ajudou a decifrar quem fugira, então... O cervo era ele! Os olhos eram daquela cor... O castanho enfeitiçante!


Mas não houve tempo de se admirar nada. O lobo arremessou os outros com força para longe de si e, com um pequeno esforço, pôs-se de pé. Rosnou e uivou. As amigas congelaram na porta. Tiago e Sirius levantaram e sacudiram a cabeça, Pontas correu até o lobo e postou-se em sua frente, as galhadas bloqueando a passagem do animal feroz. As meninas não esperaram nada, correram escada abaixo. O lobisomem surtou com isso e rosnava desesperado para atacá-las.


Sirius passou pela porta, saltando por cima de Tiago e correu até as garotas no andar de baixo da casa. Elas tremiam no chão. Voltou à forma humana e olhou-as.


- LENE? Que fazem aqui? Piraram? Lene, você contou a elas? – Disse furioso e preocupado. A morena cobriu o rosto com as mãos e começou um choro baixo.


- Não, Six! Eu descobri e vi vocês vindo para cá. Não sabia sobre a animagia e... Achei que estariam em perigo se Remo encontrasse vocês, mas...


- Mas agora quem corre perigo são vocês! Não deviam ter vindo! – Respondeu. – Tiago não vai agüentar muito lá em cima. Vão embora agora! Saiam por Hogsmeade, vão até o “Cabeça de Javali”. Lá, falem com Aberforth, peçam  para usar a passagem! É um túnel de pedra que leva vocês até o castelo. Vão logo!


Nem bem falou e um rosnado forte veio da escada. Remo passara por Tiago e chegara até os degraus. Sua expressão era horrível, parecia faminto de carne! Carne humana! As amigas não aguardaram segunda chance correram até a porta e saíram, pela janela ainda viram Sirius se transfigurar e atacar o lobo indócil.


Com os corações acelerados, elas andaram, cada vez mais se afastando da casa. Não demorou a Lene começar a repreender.


- VIRAM! EU DISSE QUE NÃO DEVÍAMOS TER VINDO! EU DISSE!!! VOCÊS NÃO ME OUVEM!!! QUASE MORREMOS POR ISSO! CULPA SUA LILY EVANS!


- EU TENHO CULPA SE VI O POTTER VINDO PARA CÁ??? TENHO?? ME DIGA, MARLENE, O QUE VOCÊ FARIA SE, NÃO SOUBESSE DO REMO NEM DO SEGREDO DOS MAROTOS E VISSE O SIRIUS VINDO PARA A CASA DOS GRITOS??? IRIA QUERER VIM SALVÁ-LO, NÃO? PORQUE O AMA! EU SÓ FIZ O MESMO! – Gritou Lils de volta, estava vermelha. – Eu sei que não foi certo, mas não ia deixar nada acontecer a eles.


- Lily... Está querendo dizer que... – Mas Cath não pode terminar de perguntar, um latido agudo veio da casa, elas se entreolharam. Só ouviram Lene dizer:


- Sirius! – E correr de volta para o casarão de madeira.


Nada parava ela, corria desesperada, sua vida parecia estar em risco. Entrou na casa e viu o cachorro na escada, sentou-se ao lado dele e viu uma mordida na pata. Sirius gania de dor e Lene chorava. As duas amigas chegaram seguidamente e viram a cena. Lene sussurrou algo para o cão, que logo em seguida, deixou de ser animal e voltou a ser Sirius. As garotas ajudaram-no a chegar até um quarto no térreo e deitaram-no em uma cama. Lene queria ficar, mas o moreno não deixou, mandou-as irem. Já passava das 20h30min, logo soaria o toque de recolher. A menina beijou-o na bochecha e seguiu com as outras para fora do quarto. Alcançaram o corredor, mas viram algo potencialmente perigoso fechando o fim dele: Remo Lobisomem Lupin!


Não havia como passar por ele sem ser atacada, as meninas fizeram o prudente, refugiaram-se no quarto de Sirius. Mas nem todas o fizeram.


Lily estava em estado de choque. Paralisou e olhou para o lobo. Queria sair dali, mas não se lembrava de como se fazia para andar. O animal aproximava-se dela... Apenas quando ele estava a não mais que quatro passos de distância, foi que a ruiva se lembrou de como se fugia. Mas não havia mais tempo, tentou dar um passo para trás, mas tropeçou no tapete. A queda foi inevitável. Agora era seu fim, não havia dúvida. Encurralada e caída, não tinha jeito. O lobo parou e a encarou, faminto. Ela fechou os olhos, talvez assim doesse menos. Queria morrer de uma vez. O monstro aproximou o focinho do rosto dela, o hálito podre dele entrava pelas narinas de Lily, que desejou ser incapaz de respirar. Ouviu a mandíbula dele se abrir, apertou as pálpebras e encolheu o corpo. Quando os dentes afiados quase entravam em sua bochecha, veio um barulho de colisão. Sim, colisão! O lobo afastou-se da pobre Lily e virou o focinho, ela abriu os olhos em um fio e pode ver o cervo atacando Remo. A galhada golpeando o abdome do animal. Viu os amigos saírem pela porta do quarto e sentiu algo cair sobre suas pernas. A dor foi insuportável, não agüentou. Fechou os olhos segundos antes de desmaiar.
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N/A: Se você leu este capítulo até o fim, parabéns!!!
Esse foi o maior cap. que já escrevi, depois do 5, é claro.
Eu fico feliz que estejam gostando da estória, os comentários incentivam muito.  
Infelizmente, só poderei postar após quinta-feira, porque tenho prova de química, física e gramática. Quem sabe até lá não venham mais coments... :)
De uma autora atarefada,
Morgana Pontas Potter 

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Comentários (1)

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