Conselhos e intenções




Assim que as três saíram, Snape puxou Louise pelo braço caminhando para o lado oposto.
“Então, Potter, o que a deixou tão nervosa? Pastrix falou mal de seu namoradinho?”
Louise tentava se soltar mas ele a segurava com força e caminhava com rapidez.
“Porque isso te interessa?” – e, após uma pausa, continuou – “E ele não é meu namorado...”
“Isso não me interessa e, bem, as notícias correm rapidamente.”
Louise sentiu uma pontada no peito ao pensar que ele provavelmente ouvira tudo que andavam falando sobre ela e Nigel. Não queria que ele acreditasse tampouco querida dar o braço a torcer mostrando que se importava.
“As notícias falam mais de mentiras do que de verdades.” – Snape não se pronunciou diante da resposta dela, apenas continuou andando – o que Louise considerou um péssimo sinal. Sem conseguir se controlar ela parou bruscamente puxando seu braço.
“Pelo amor de Deus, você não acredita no que estão dizendo, acredita?” – seu tom era uma mistura de desespero, reprovação e súplica.
“Sua vida particular não me diz respeito, Potter.” – ele respondeu rispidamente já voltando a andar. Louise o puxou novamente com um olhar de surpresa e o silêncio tomou o corredor todo por um instante.
“E a sua preparação para a 2° tarefa, como anda?” – ele começou, voltando a andar.
“Bem.” – ela mentiu após uma pausa – “Headstrong me deu alguns bons conselhos.”
“Headstrong?” – Snape falou em um tom de desprezo e desconfiança. Louise assentiu com a cabeça e ele parou bruscamente se colocando à frente dela:
“Sabe, Potter, ilusões não existem apenas em feitiços. É preciso conhecer muito bem todas as caixas para decidir qual abrir.”
Louise não entendeu o que ele quis dizer mas antes que formulasse uma pergunta Snape já recomeçara a falar:
“Tenha cuidado.” – e saiu andando com sua capa esvoaçante e passos rápidos, deixando Louise confusa e irritada.
Assim que chegou ao salão principal encontrou Míthia e Nigel discutindo sobre o novo professor de Defesa contra a arte das trevas.
“Sobre o que estão falando?”
“Headstrong. Nigel não o acha muito confiável.”
“Ah, é? Por quê?”
“Não sei.” – Nigel começou – “Não tenho nenhuma prova concreta mas ele não me inspira confiança.”
“Bem, ele tem sido bastante útil me dando conselhos em relação ao torneio.”
“Exatamente” – sorriu Nigel.
“O que quer dizer com isso?”
“Ele parece atencioso pra mim.” – opinou Míthia.
“Assim como Moody parecia.” – as duas o olharam com espanto – “Não estou o acusando de nada, Louise, apenas acho que ele não tem motivos para querer tanto ajudar você. Nem sempre os conselhos têm boas intenções.”
Louise suspirou, dando de ombros. Não havia muito o que responder afinal ela também não sabia porque Mort Headstrong demonstrava tanto interesse e preocupação por ela. Mas, na maior parte das vezes, seus conselhos haviam surtido bons resultados de certa forma então ela não via motivos para desconfiar.
Assim que acabou o almoço, ela seguiu para mais aulas evitando pensar no assunto. Da mesma forma, evitava pensar em Snape – por mais que isso fosse consideravelmente difícil.
À noite, no entanto, Louise recebeu uma agradável surpresa que curou parte do seu desânimo. Mal tinha chegado ao salão comunal da Grifinória quando ouviu uma voz familiar. O lugar estava vazio devido ao horário e ela logo reconheceu na lareira o rosto de Sirius Black, seu padrinho.
“Sirius!” – exclamou empolgadamente. A visita era tudo que precisava sendo Sirius quase como um pai para ela. Seria bom conversar com alguém compreensivo como ele em um momento que só o que ela tinha eram dúvidas em cima de dúvidas.
“Meu bem, estou com saudades! Mas devo ser breve. Vim para saber como estão as coisas.”
Ela olhou ao redor para verificar que realmente não havia ninguém por perto e se colocou sentada frente à lareira.
“Bem. Quer dizer, na medida do possível.”
“Conte-me as novidades!”
“Bem, você provavelmente já deve ter ouvido a respeito do torneio. Eu, obviamente, fui escolhida.” – ela disse, revirando os olhos, impacientemente – “Também estamos com um novo professor de DCAT. Bastante atencioso e solícito comigo embora Nigel não confie nele.”
“E que motivos ele tem pra isso?”
“Ah... Nigel diz que ele não tem porque me ajudar se nem me conhece e é suspeito me dar conselhos e dicas sobre o torneio. Na verdade, ele veio do ministério para garantir a teórica segurança por aqui.”
“É, não posso tirar a razão de Nigel por completo.” – ele disse pensativo – “E, bem... Ouvir os conselhos dele não significa necessariamente segui-los, lembre-se disso!” – Louise assentiu. – “E quanto aos acessos à mente de Voldemort? Tem tido mais algum?”
“Não. Você soube do Sr. Weasley?”
“Claro. Por isso pergunto.”
“Depois dele não tive mais nenhum. Apenas algumas imagens, sons e vozes em sonhos mas nada muito nítido. Eu tenho tido aulas de Oclumência com Snape.”
Sirius arregalou um pouco os olhos e sorriu. Louise tentou retribuir mas soou um pouco falso pois seu sorriso estava completamente apagado. Ela abaixou a cabeça, dando um suspiro, e viu a expressão de preocupação de Sirius.
“Me corrija se eu estiver errado mas, se bem conheço minha afilhada, ela não está preocupada com nada disso que me contou e sim com outras coisas.”
Louise sorriu. Adorava o jeito preocupado e compreensivo com que Sirius falava com ela. E adorava mais ainda como ele parecia conhecê-la melhor do que ela mesma conhecia.
“É... Você conhece bem sua afilhada.”
“O que é que te preocupa então?”
Louise oscilou. Não sabia o que responder. Sabia bem que Sirius e Snape não eram exatamente bons amigos – pra não dizer o oposto – mas talvez Sirius compreendesse. Talvez ela nem se importasse mais com a reação de Sirius, só precisava realmente tirar de seu corpo aquelas palavras confusas que ela tentava organizar.
“Snape.”
“Hum, ah sim.” – Sirius sorriu como se já soubesse de tudo – “O que ele fez dessa vez?”
“Não é isso.” – ela falou com a cabeça baixa – “Ele... ele tem... Bem... Você sabe que eu e ele nunca nos demos muito bem.”
“Não a culpo por isso.” – resmungou Sirius ironicamente.
“Mas ele sempre me protegeu mesmo aparentando me odiar, o que eu nunca entendi, e esse ano isso está mais claro que nunca, mas... Eu não entendo.”
“Louise, meu bem... Por mais que eu e seu pai tenhamos tido problemas com ele não quer dizer que ele seja uma má pessoa. Quer dizer... Ele é sim grosso, antipático, nojento, mas não é má pessoa, creio eu. Afinal, pare pra pensar, Dumbledore confia nele.”
“Ele me beijou.” – ela despejou a informação de uma vez só pra que fosse menos doloroso.
“O QUE?!? Como assim ele te beijou?! Aquele cafajeste, canalha, eu sabia... Eu não...”
“SIRIUS!” – ela aumentou o tom para se fazer ouvida, se sobrepondo à revolta do padrinho – “Eu beijei ele também!”
O rosto na lareira parecia indecifrável. Por alguns minutos não disse nada mas franzia a testa parecendo pensativo. Louise aguardava ansiosamente alguma reação.
“Você o beijou?!? Mas... Eu pensei que... Louise, ele é um professor! É um professor rude, é um professor! É Severo Snape, pelas calças de Merlin! Como isso foi acontecer?”
“Eu não sei, Sirius, eu não sei! Se eu soubesse não estaria tão preocupada. Eu não sei o que pensar. Ele é odiável, é grosso, é cruel, eu odeio ele com cada força do meu corpo! Mas...”
“Mas...?”
“Mas a voz dele é suficiente pra me tirar do chão e deixar minha boca seca e...” – ela suspirou deixando a frase incompleta.
“Talvez você ame odiá-lo.” – Sirius concluiu em um tom sério após um tempo de silêncio.
“É, eu o odeio. Ele é rude, é o extremo da arrogância, é frio e duro, é claro que eu o odeio!” – ela falava muito rápido, tentando convencer a si mesma do que dizia da boca pra fora.
“Ou talvez você odeie amá-lo.” – e, diante dos olhos de reprovação de Louise, Sirius riu preocupadamente.

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