O veneno de um dentauço

O veneno de um dentauço



“Espera aí, como é que é? Na água clara irá rolar?”
“É, Mi, na água clara. Mas a questão é: que água clara?”
“É... Estranho mesmo, Lou. Não deve ser nada no Lago Negro realmente, não faria sentido.”
As duas discutiam as possibilidades e pistas exaustivamente na mesa do almoço. Não haviam encontrado Nigel em lugar algum e concluíram então que ele deveria estar na biblioteca como geralmente estava.
Embora tentasse, Louise não conseguia se concentrar em nada. Os olhos cortantes de Snape estiveram colados a ela desde que ela havia entrado no salão e a menina concluiu que o professor ainda devia estar com raiva pela noite anterior. “Bem feito”, pensou.
“Louise, você não sabe o que eu achei!” – Nigel entrava quase correndo pelo salão com Dimmy Franzon colado a ele. Dimmy era um menino engraçado e exatamente o oposto de Nigel: era extremamente bonito, sociável, nenhum pouco estudioso e impulsivo. Mas os dois, inexplicavelmente, se davam muito bem.
“Olha, olha aqui essa foto” – Nigel sentou ao dela abrindo um enorme livro em uma página marcada – “é um dentauço! O dono do dente que você pegou!”
Louise se curvou em cima do livro imediatamente para ver o que ela talvez tivesse que enfrentar. Se deparou, então, com uma foto de um peixe estranhíssimo. Era gordo e arredondado e suas escamas pareciam estar em carne viva de tão vermelhas. Além da longa cauda, tinha duas enormes nadadeiras que mais se assemelhavam a braços deformados.
“Wow! Não é a toa que o nome dele é dentauço!”
Diante da afirmação de Míthia, Louise reparou na boca do animal que era incrivelmente grande com uma absurda quantidade de dentes.
“Olha, aqui diz que ele é um animal com os sentidos muito apurados.” – Nigel falava, começando a ler – “O ponto do fraco do dentauço são seus dentes. Arrancar um dente dele ou feri-lo com um é suficiente para matá-lo. Porém, irritar esse animal pode ser perigoso. Seus sentidos são muito apurados e ele é capaz de sentir o perigo de longe. Especialmente se a pessoa estiver portando um dente de sua espécie, fato que – para ele – é sinônimo de alguém tentando matá-lo.”
“Ta, ele não me parece muito simpático...”
“Mas o pior não é isso, olha: A saliva dele é sua arma mais letal. O veneno é tão forte que dentro de alguns minutos, caso não haja antídoto, a pessoa mordida morre.”
“É, não é muito animador.” – Louise concluiu.
Todos ficaram em silêncio encarando a foto do bicho enquanto tentavam ligar as informações que leram à dica que Louise recebera no dia anterior.
Já haviam se passado quase 5 dias desde a divulgação da primeira pista e Louise ainda se sentia no escuro. Não havia chegado a nenhuma grande conclusão e a única coisa que a empolgava naquela semana era a aula de DCAT com o novo professor.
Para a surpresa agradável de todos, Mort Headstrong era atencioso e solícito, diferente do tipo que costumava trabalhar no ministério. Não parecia ser mais um dos mil professor que tentavam matá-la – pensou Louise – mas também... todos os que haviam tentado não aparentavam estar tentando.
Sua aula havia sido interessante embora bastante teórica – o que Nigel classificou como um “péssimo começo”. Porém o que chamou a atenção de Louise foi uma observação feita pelo professor que parecia não ter nada a ver com o assunto e ser diretamente direcionada a ela.
“Ele disse isso?!” – impressionou-se Míthia quando Louise comentou.
“Disse, ué, você não ouviu? Ele disse que o lago negro se divide em 4 partes: a mais profunda, a média, a maior delas que é a chamada de negra e a clara.”
“Nossa! E aí?”
“E aí é isso, ué. Ele não disse muito, só falou que a parte clara é localizada embaixo da média e é chamada assim porque é muito iluminada pelo tipo de pedra que existe lá. Mas é a menor parte das 4.”
“Afinal aonde você passa as aulas de DCAT, Míthia?” – Nigel perguntou rindo.
“Ah, eu tenho coisas mais importantes para observar.” – respondeu apontando discretamente para Dimmy Franzon.
Com a mesma rapidez que os 5 primeiros dias se passaram, os outros 4 também vieram e, já na véspera do torneio, Louise andava ansiosamente pelo castelo. Encontrou, então, quem menos queria encontrar.
“Andando pelos corredores em véspera de tarefa, Srta. Potter?” – disse Snape.
“Estava tentando esfriar a cabeça, senhor.” – ela disse com desprezo.
“Você estará com ela bem fria amanhã, se me permite dizer.”
“Como assim?”
“Ora... Eu sabia que você, provavelmente, demoraria mais que os outros para achar a pista mas não achei que fosse tanto.”
Louise engoliu sua raiva e respondeu, calmamente:
“Eu JÁ tenho a pista e não preciso da sua ajuda!” – ela se virou e continuou andando.
“Que pena. Eu tinha acabado de receber uma notícia sobre a tarefa mas se a srta. não quer...” – ele falava calmamente quase sem mexer os lábios.
“Porque eu aceitaria conselhos de você?”
“Desespero, talvez?”
“Não estou desesperada, obrigada.”
“Talvez você devesse olhar mais para as paredes.”
“Talvez você devesse prestar mais atenção pois isso Dumbledore já disse” – ela concluiu, sorrindo vitoriosa.
“Claro que sim. E você provavelmente olhou, achou a pista e já voltou a sua atenção para coisas, digamos... mais importantes?” – ele tinha um ar calmo no rosto absurdamente irritante. – “Boa noite, Potter.”
Snape virou – olhando-a fixamente – e entrou de volta em sua sala, deixando Louise curiosa e com raiva no meio do corredor frio.
Embora tentasse ignorar as palavras dele e continuar se preparando para o dia seguinte, ela continuava olhando sem parar para as paredes em busca de alguma resposta.
Quando já chegava ao seu dormitório a atenção de Louise se voltou para um quadro enorme que nunca havia notado no salão comunal. Havia nele um pequeno homem remexendo em um baú cheio de quinquilharias. Estava tão entretido que nem parecia notar sua presença e continuava falando sozinho:
“Ah, esses torneios... esses torneios... sempre assim, afinal, mas que falta de respeito. Porque eu quereria entregar meus preciosos tesouros a eles? Ainda pra ficar embaixo da água? Ah não, não, Gryffindor não iria gostar, não mesmo. Gryffindor odiaria ver seus pequenos tesouros sendo catados por alunos tolos. E, afinal, eu sou o guardião deles, eu sou... Não poderiam ter pego meus objetos dessa forma...”
Louise percebeu então que o baú era cheio de objetos marcados por Gogric Gryffindor e – incapacitada de tirar grandes conclusões devido ao cansaço – se deitou imaginando quais seriam as estranhas intenções de Snape ao dar dicas para alguém que não era de sua casa. Para alguém que era uma Grifinória, para alguém que tinha Potter como sobrenome. Para alguém como Louise.

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