Certas máscaras não caem

Certas máscaras não caem





Assim que acordou no dia seguinte, Louise se deparou com a cena mais inusitadamente doce possível. Snape estava deitado de bruços, com o braço envolvendo a sua cintura e a cabeça praticamente deitada sobre ela, respirando sobre seu peito e com o tronco colado ao seu corpo. Devido ao silêncio e calmaria do ambiente, era possível sentir as batidas leves do coração dele. Seu rosto calmo e suave, as mãos relaxadas, respiração profunda de sono. Parecia uma criança inofensiva e insegura. De certa forma, assustada, buscando alguma forma de proteção e calor no corpo dela.
Louise sorriu e, embora sua vontade fosse ficar ali pra sempre, se viu obrigada a ir embora quando viu a hora e lembrou-se de suas aulas. Tentou então se desvencilhar dele com cuidado para não acordá-lo mas foi impossível. Snape abriu um pouco os olhos com a movimentação e se ajeitou novamente na cama, parecendo estar apenas semi-consciente. Louise pegou, então, seu vestido e o colocou, procurou as sandálias no chão – embora só tenha achado um pé – e saiu, ajeitando os cabelos desorganizados.
Pelo corredor, para a sua sorte, não havia ninguém e ela continuou seguindo, tentando não fazer barulho, até o dormitório. A julgar pela hora, todos já deviam ter tomado café e ido para as suas aulas, o que tornava mais difícil dela não ser vista. Pouco antes de chegar, então, ouviu alguns barulhos e, logo da sala ao seu lado, saíram dois meninos e três meninas, todos sonserinos. Foi quando ela se deparou com Pandora Pastrix vestindo seu sorriso mais insuportável.
“Nossa, Potter, a noite foi realmente boa pelo que podemos ver! Bucket realmente parecia animado ontem mas não achei que fosse tanto...”
“Cala a boca, Pastrix, ele não tem nada a ver com isso! E nem você!”
“Ah, desculpa” – seu tom era insuportavelmente irônico – “Deve ter sido seu namoradinho estranho então, certo? Ou quem sabe um de seus fãs. É uma boa forma de mostrar pra eles em que mais você sabe ser boa além de desmaiar em torneios e se esfregar em professores, não?”
“Cala a boca, sua...” – Louise se atirou em cima dela com toda a raiva que sentia até que da mesma sala saiu Mort Headstrong apartando a briga.
“Ei, o que é isso? Duas moças tão bonitas brigando dessa forma, que isso? Resolvam suas diferenças com palavras como duas pessoas civili...” – ele olhou para Louise, então, percebendo que ela ainda usava o vestido da noite anterior – “Nossa, vejo que a Srta. aproveitou bastante o baile, não?”
Pandora deu um risinho abafado enquanto Louise se controlava pra não responder de forma rude. O tom do homem não era grosso, irônico ou antipático, muito pelo contrário, ele até sorria, mas a idéia de ter que dar satisfações da sua vida e passar por tal situação constrangedora não a agradava nenhum pouco.
“É, eu não... eu... Bem, eu dormi demais, não estava passando bem ontem e...” – não conseguia pensar em nenhuma desculpa decente – “Eu... Eu tive que passar a noite na enfermaria, Madame Pomfrey me deu algo pra melhorar meu mal estar...”
“Provavelmente também foi ela que te deu essa marca no pescoço, não? Algum método novo de cura, é claro.” – riu Pandora.
“Shhhhh! Nem mais uma palavra. As senhoritas, por favor, sigam para as suas aulas e cuidem das suas vidas! E quanto a você...” – Headstrong virou-se para Louise – “Aconselho a ir para seu dormitório. Sabe, em tempos como esses, a Srta. não faz bem se expondo de tal forma.”
Louise assentiu, abrindo uma tentativa de sorriso, e continuou andando enquanto, por dentro, se remoia em seu ódio por Pandora. Pelo resto do caminho ela não encontrou mais ninguém e, em pouco tempo, já estava se despindo frente à própria cama. Logo depois, deitou um pouco, levantando-se apenas quando a hora do almoço se aproximava.
Assim que chegou ao salão comunal, ela sentiu os olhares curiosos pousarem sobre si. Não sabia exatamente o porquê de tal curiosidade ou espanto mas considerando que Pandora achava que ela tinha passado a noite com Lyon Bucket e que agora ela estava, em pleno verão, adentrando o salão comunal com um cachecol, não foi difícil compreender. Logo que se sentou à mesa os olhares, ainda mais espantados, de Míthia e Nigel caíram sobre ela. Havia um silêncio estranho por parte dos dois como se estivessem esperando que Louise assumisse alguma coisa. Míthia, então, se pronunciou:
“Ok, primeiramente... Que diabos você tá fazendo com esse cachecol se nós estamos em pleno verão e em um dia particularmente quente e ensolarado?”
“Eu não estou com calor.”
“Ok, não pense que você vai se safar dessa com essa resposta medíocre mas, por agora, algo mais importante ainda: Aonde é que você esteve?” – os dois a olhavam atentamente.
“Você está consciente que a escola inteira acha que você passou a noite com a Lyon Bucket, não?” – disse Nigel calmamente.
“É... Eu esperava por isso.”
“Mas você não passou, passou?” – perguntou Míthia.
“É claro que não, como vocês podem pensar isso? Quem inventou essa história foi a Pandora quando me viu ainda de vestido de manhã. Mas ela inventaria qualquer boato constrangedor pra me atingir.”
“Eu não acho constrangedor dormir com Lyon Bucket.” – falou Míthia, pensativa, diante da afirmação.
“Não é constrangedor se você desconsiderar que o cérebro dele tem o mesmo tamanho, utilidade e competência de uma ervilha!”
“Então, afinal, onde você esteve?” – pronunciou-se Nigel antes que o assunto tomasse outro caminho.
Louise olhou pros dois e percebeu que realmente a atenção do menino estava totalmente voltada pra conversa, sem chance de distração ou enrolação. Não queria mentir pra eles, obviamente, mas – fosse por qual motivo fosse – não poderia dizer que passou a noite com Snape pra Nigel. Não queria dizer.
“Ah, eu fui na enfermaria porque não estava me sentindo bem ontem e acabei ficando lá sob os cuidados de Madame Pomfrey pra que... Que foi?!” – ela se deparou com o olhar desapontado de Míthia e interrompeu a frase.
“Madame Pomfrey? Você passou a noite com a Madame Pomfrey?”
“Eu não passei a noite com a Madame Pomfrey, eu passei na enfermaria porque não estava me... Míthia! Que cara é essa?”
“Nada, ué, é que eu esperava uma história mais emocionante. Vou fingir que você não me contou isso e voltar à possibilidade do Lyon.”
“Pelas calças de Merlin, esquece o Lyon, eu...”
“Engraçado isso” – interrompeu Nigel – “Já que eu fui lá ontem por causa de uma dor de cabeça e você não estava lá.” – Louise congelou por um segundo.
“Ok, agora sim a história está ficando interessante de novo.” – falou Míthia se endireitando na cadeira para ouvir melhor.
“Então, afinal, aonde você passou a noite, Lou?”
“Olha aqui, vocês dois estão parecendo dois detetives! Por Merlin, eu estou me sentindo sob tortura com tantas perguntas. Porque não usam uma Crucio logo de uma vez?!”
“Louise Potter, admite de uma vez, a gente sabe que o Lyon é realmente muito bonito e interessante, ninguém vai te culpar por isso e...”
“Eu passei a noite com Snape.” – ela falou de uma vez – “Satisfeitos?”
“O QUÊ?!” – os dois exclamaram ao mesmo tempo enquanto Nigel ainda engasgava com o suco que bebia.
“VOCÊ PASSOU A NOITE COM O SNAPE?” – Míthia perguntou totalmente incrédula.
“Bem, porque você não fala mais alto, Mi? Eu acho que algum centauro na floresta proibida não deve ter ouvido direito.” – falou sarcasticamente.
“D-desculpa, mas eu... Meu Merlin amado, você passou a noite com Snape???” – ela falava rindo com expressão de surpresa.
Nigel continuava sério ainda que com a boca meio aberta e os olhos surpresos. Míthia falava sem parar e fazia perguntas indiscretas enquanto Louise tentava se esquivar da situação e mudar de assunto. Até que a surpresa inicial foi se acalmando e Louise perguntou olhando pro menino:
“Então... Você não vai dizer nada?”
“Não sei, você quer que eu diga algo especificamente?”
“Talvez a sua opinião, se possível. Ou qualquer coisa, você não abriu a boca desde que eu contei.”
“Bem, eu obviamente não posso evitar de estar surpreso. Não sabia que você andava por aí tendo casos com professores... Muito menos com Snape. Mas não tenho que dar opinião nenhuma, a vida é sua, você faz o que você quiser.”
Louise sentiu imediatamente o ressentimento que exalava do tom de voz dele e de sua expressão. Talvez por ela nunca ter mencionado nada a respeito de Snape, talvez porque não concordasse com tal história. Ou talvez porque Míthia estivesse certa em suas suposições e ele realmente gostasse de Louise mais do que como um amigo. Fosse por qual motivo fosse, ela agora sentia-se terrivelmente arrependida por ter aberto a boca.
“Bom, eu não ando “por aí tendo casos com professores”. Primeiro que não é por aí, é nas masmorras. Segundo que é um professor só e terceiro que isso não é um caso.”
“Ah, não? Ele já te pediu em casamento?”
“Não, Nigel, se pedisse você já teria recebido o convite.” – falou com ironia – “E eu não vejo porque tanta grosseria se isso não muda as coisas em nada.” – ela sabia que, pra ele, provavelmente mudaria tudo mas não podia deixar isso claro.
“Bem, me desculpe, Louise, se eu sou a única pessoa com bom senso o suficiente pra te mostrar que isso é loucura e que ele obviamente está usando você...”
“Me usando??? Porque ele estaria me usando, Nigel? Por Merlin, não fale do que você não sabe e não me venha com essa de bom senso! Eu não vejo sinceramente onde está a loucura que você enxerga!”
“Por Merlin digo eu! Será que eu preciso te lembrar que existe alguém chamado Voldemort que daria os dois braços pra ver você morta?! Ou de toda a gravidade das coisas que vem acontecendo?! Porque, eu não sei se você sabe, mas tem gente morrendo! Tem gente morrendo enquanto você se preocupa com as suas noites com Snape!”
“Olha aqui, não é você que vai me lembrar disso nem de Voldemort! É fácil demais falar mas, eu não sei se você sabe, existe uma porcaria de cicatriz na minha testa e um histórico de tentativas de assassinato que não me deixam esquecer nada disso nem quando eu quero! Porque enquanto você tá dormindo eu estou tendo visões da mente dele e vendo pessoas morrerem diante dos meus olhos! E se você acha que eu seria capaz de esquecer disso tudo por 1 segundo sequer então você não me conhece!”
Louise levantou-se da mesa já bufando de irritação e, antes de sair, concluiu:
“Só não venha me dizer com o que eu deveria me preocupar porque não é você que tá no meu lugar, Nigel! Se quiser, eu faço questão de desenhar uma cicatriz no meio da sua testa e aí você brinca de ser Louise Potter e toma suas maravilhosas decisões, fique à vontade! Mas, por enquanto, caso você tenha esquecido, A VIDA NÃO É SUA!”
Ela saiu com pressa, tentando acalmar a raiva que nascia em seu peito e sem querer ouvir as palavras incompreensíveis que os dois ainda diziam. Quando já chegava perto da porta do salão, sentiu bater em um vulto alto e escuro, quase caindo no chão. Levantou o rosto, então, e deparou-se com Snape. Louise corou violentamente enquanto pedia desculpas e tentava parecer natural diante dos muitos alunos que assistiam à cena. Em poucos instantes ela já voltava a andar, rezando pra que ninguém tivesse percebido a eterna tensão que havia entre os dois. Mas assim que olhou pra trás novamente percebeu a expressão no rosto de Míthia e Nigel. Míthia maliciosa e Nigel com sua nítida desaprovação (e provavelmente uma ponta de ciúmes).
O resto do dia se passou, então, com aulas e aulas intermináveis. Louise não conseguia digerir a raiva que tinha engolido e não parava de pensar nas palavras de Nigel. Ela não podia deixar de admitir, ainda que só pra si mesma, que ele tinha um fundo de razão. Afinal, nos últimos tempos, Snape havia ocupado sua cabeça muito mais do que qualquer outra coisa. Sua dedicação aos estudos já não era a mesma, ainda que soubesse que o fim do ano se aproximava. A 3ª tarefa do torneio também se tornava cada vez mais próxima e ela nem sequer havia se preocupado em saber a pista. E as aulas de Oclumência, tão importantes pra garantir que Voldemort não controlasse sua mente, há muito haviam se tornado meras desculpas pra estar perto de Snape.
Mas isso não significada nada – pensou, tentando se defender dos próprios pensamentos – era realmente nítido que ela estava se desconcentrando de certas coisas importantes mas não significava que ela havia esquecido de tudo. Como esquecer de tudo, afinal? Ainda que quisesse ser capaz de fazê-lo às vezes, era impossível não lembrar que uma guerra estava próxima, que Voldemort estava cada vez mais próximo. Que tudo apontava para o fato de que, cedo ou tarde, ela teria que ser mais forte do que nunca. E que, ainda que não estivesse pronta, quando o momento chegasse, não haveria Dumbledore, Mcgonagall, Nigel ou Míthia pra lhe protegerem. Não haveria Snape. Seria só ela e teria que ser forte. Cedo ou tarde, fatalmente.
Quando saiu de sua última aula, ainda pensando nisso, Louise começou a sentir um certo mal estar. De repente, ainda no corredor, sua visão começou a embaçar e suas pernas fraquejaram. Suava frio e sentia flashes de imagens percorrerem sua visão subitamente. Antes que caísse, ela foi amparada por alguns alunos e um professor. Viu, então, com clareza, a imagem que se formava diante de seus olhos. Um lugar escuro, exatamente igual ao que ela havia visto quando teve a visão do Sr. Weasley sendo torturado. A cena era praticamente igual, talvez menos bruta, mas igual. Ela pôde ver com precisão Voldemort se arrastando com sua varinha nas mãos enquanto rodeava sua provável vítima.
E era Sirius! Era Sirius a vítima que se contorcia cada vez que a varinha de Voldemort apontava para ele com suas torturas e maldições... Mas se negava a dizer o que quer que ele quisesse, se negava a ajudar, preferia ser machucado e torturado. Em breve, provavelmente morto.
Louise acordou do devaneio com um sobressalto e logo viu que Míthia e Nigel acabavam de se juntar ao grupo de pessoas que a rodeavam preocupadas. Ela se levantou com um ar de terror no rosto e agradeceu ao professor que tentava ajudá-la, mentindo que já estava melhor e que havia sido só uma tontura. Saiu correndo, então, com Míthia e Nigel ao seu lado e, assim que se afastaram da multidão, disse com a voz preocupada e assustada:
“Sirius! Ele está com Sirius!”
“Como assim, você... você viu?” – perguntou Míthia ansiosa.
“Eu vi! Foi exatamente como foi com o Sr. Weasley! Voldemort está torturando ele, eles estão no ministério, eu preciso impedir, eu...” – Louise corria pelos corredores sem saber direito pra onde ir.
“Louise, pára, calma.” – Nigel puxou seu braço, a impedindo de continuar a andar desgovernadamente – “Calma, não adianta ficar assim. O que você pretende fazer?”
“Eu não sei, qualquer coisa, eu preciso ir pra lá, eu preciso impedir, Sirius está correndo perigo!” – ela estava extremamente agitada, falando com pressa e afobamento. Se havia alguém que tomava a sua preocupação por completo e por quem ela faria tudo, esse alguém era Sirius.
“Lou, não é melhor falar com alguém? Eu não sei... Dumbledore, Snape...” – perguntou Míthia.
“Snape?!” – interrompeu Nigel – “Por Merlin, Snape era o professor mais odiado até anteontem e agora virou confidente fiel?!”
“Fiquem quietos vocês dois, eu não quero falar com ninguém! Chega de gente me protegendo e se sacrificando por mim. Sirius precisa de mim agora e eu vou até lá nem que seja sozinha!”
“Louise, pelo amor de Deus, deixa de falar besteira, vamos falar com alguém, isso pode ser uma armadilha.”
“Não, Míthia, eu tenho que ir!”
“E se Voldemort estiver fazendo você ter essas visões pra te atrair até lá?”
“E se for verdade?! Eu deveria deixar Sirius morrer pra ver afinal o que Voldemort queria?! Eu não posso ficar parada, Míthia, eu vou até lá! Se vocês quiserem ir comigo, ótimo. Se não, eu vou sozinha.”
Os dois se olharam em silêncio, percebendo que Louise estava decidida demais pra ser persuadida. Eles a conheciam desde os 11 anos e sabiam bem que quando ela colocava algo na cabeça não haveria quem pudesse tirar.
“Eu vou com você.” – disse Nigel de repente.
“Eu também.”
Louise os olhou, assentindo, enquanto entravam no salão comunal. Encontraram Dimmy Franzon que – diante da agitação – veio logo perguntar o que estava acontecendo. Era um menino confiável e bastante corajoso e, após ficar sabendo de tudo, se prontificou a ir junto dos três. A idéia de uma excursão ao Ministério com várias pessoas lhe acompanhando soou meio estranha pra Louise, que não esperava por isso, mas, ao mesmo tempo, lhe agradou.
Assim que organizaram exatamente o que iriam fazer e decidiram que – diante da falta de outros meios de transporte – iriam de vassoura, Louise decidiu escrever algo para que Snape soubesse que ela havia partido. Pegou um pergaminho e escreveu com sua caligrafia arredondada:
“Não posso deixar que se sacrifique por mim novamente. Mas tive que partir pois Sirius está em perigo. Não se preocupe comigo. Tudo vai ficar bem, agora eu tenho certeza. Assinado: Louise.”
Quando já se encaminhavam para fora do castelo, ela achou um grupo de primeiranistas e puxou a que lhe parecia mais simpática.
“Você sabe quem é o professor Snape?” – a criança assentiu com os olhos assustados como se Louise tivesse acabado de falar no demônio – “Então leve isso aqui e entregue a ele com urgência!”
A menina pegou o envelope com olhos arregalados enquanto gaguejava:
“M-mas e-eu... eu... eu vou ter que... f-falar c-com... com ele?” – Louise riu internamente diante do desespero que ele causava. Sabia o quanto ele podia ser assustador mas não conseguia entender como pois ela, estranhamente, nunca conseguiu ter medo realmente.
“Meu bem, ele não morde. Parece que sim mas eu juro que não. E, acredite, eu sei bem. Agora faça o que eu pedi com urgência, ok?”
“M-mas e-ele não... não g-gosta de mim...”
“Dê a ele um grande abraço que ele será um doce! Mas faça o que mandei!” – e, ao dizer isso, voltou a andar com os outros para a parte exterior do castelo enquanto a menina continuou parada com os olhos arregalados e o envelope na mão. Louise não sabia se queria rir ou sentia-se culpada por ter dito a ela para abraçar Snape. De fato, nunca tinha presenciado uma cena assim e não sabia como seria a reação dele diante de algo tão inusitado. Fosse como fosse, ela continuava com a sensação de ter mandado a primeiranista direto pra forca.
Quando chegaram aos jardins, começaram a posicionar-se, então, para o vôo. Louise e Míthia eram razoavelmente boas em seus vôos, tendo Louise sido até da equipe de Quadribol. Dimmy era parte do atual time como batedor e Nigel, embora não gostasse muito de voar, conseguia fazê-lo quando necessário. Pouco depois do anoitecer, os quatro já chegavam ao Ministério, indo diretamente para o departamento de mistérios. Para a surpresa deles, no entanto, não havia Sirius algum. Sirius, Voldemort ou qualquer indício de algum acontecimento.
“Ué, eu não entendo, ele... ele deveria estar aqui.” – falou com surpresa quando eles entraram na sala das profecias.
“É a sua profecia!”
“Oi?” – ela virou-se pra trás e se deparou com Nigel encarando uma bola branca.
“É a sua profecia, é isso o que ele quer!”
“Como assim é isso o que ele quer, Nigel?”
“Louise, você não está vendo nenhum Sirius aqui, está? Isso é uma armadilha, nós precisamos sair daqui!”
“Porque ele precisaria que eu viesse até aqui?” – ela ia se assustando com a idéia daquilo ser uma armadilha. Não havia realmente considerado essa hipótese antes.
“A profecia só pode ser retirada pela pessoa a quem ela se refere! Foi por isso que ele te atraiu até aqui! A gente precisa ir embora, eles devem estar aqui a qualquer momento!” – Nigel a puxou pela roupa enquanto Míthia e Dimmy os seguiam com expressões assustadas.
Louise sentiu uma enorme curiosidade ao pensar no que dizia a profecia mas Nigel estava certo. Todas as evidências apontavam para aquilo e, uma vez que ela encostasse na bola, seria difícil sair de lá viva e com ela inteira ao mesmo tempo. Então, quando já chegavam à porta, se depararam com três vultos mascarados caminhando ao encontro deles. Lentamente, o primeiro puxou sua varinha e começou:
“Ora, ora, Potter, vejo que não mudou em nada. Continua bancando a heroína pelo que pude ver. Mas, para a minha surpresa, seu amiguinho é até bastante esperto.” – Com um gesto de varinha, o homem retirou a máscara revelando seus cabelos loiros. Era Lúcio Malfoy, pai de Draco e conhecido Comensal da morte – “Sabe, você precisa aprender a diferença entre sonhos... e realidade.” – disse sorrindo.
Por trás da outra máscara uma risada desequilibrada se fez ouvir e logo se revelou o rosto de Belatriz Lestrange, também famosa por sua lealdade a Voldemort.
“Que menininha mais tola, não? Acreditando em qualquer coisa.” – disse, com desdém – “Vamos, eu não tenho o dia todo. Pegue logo a profecia, Potter!”
Louise apontava sua varinha para os dois mas não desgrudava os olhos do terceiro vulto ainda mascarado e calado. Atrás dela, os outros três se mantinham próximos e com as varinhas também em mãos. Então uma voz grossa se fez ouvir e o último vulto veio caminhando.
“Creio que Belatriz esteja certa, não pensei que pudesse ser tão boba, Potter.” – a voz era familiar mas o homem ainda não retirara a máscara quando recomeçou a falar – “Perdendo tempo com tolices enquanto as coisas acontecem embaixo de seu nariz. Tsc, tsc, tsc... Pelo visto, ainda não aprendeu em quem realmente confiar, estou certo?”
Com um gesto rápido ele ergueu a varinha e revelou o rosto fino e enrugado. Era Mort Headstrong mas, diferente de todas as outras vezes, não tinha uma expressão simpática no rosto, muito pelo contrário. Louise arregalou os olhos diante da revelação e arrancou mais risadas de Belatriz.
“Oh céus, como pode ser tão ingenuamente burra? Eu esperava mais de sua capacidade, Potter, com essa fama toda... Em quem mais você fez a burrice de confiar? Severo Snape, talvez?” – e, ao dizer isso, abriu uma gargalhada ainda mais estridente.
Louise sentiu a veia saltar com a raiva que nascia mas, pior do que a raiva, o que a consumia era um enorme nó na garganta. Porque Belatriz havia citado Snape? Porque havia questionado a confiança dela nele como se fosse um erro que ela havia cometido? Queria entender, perguntar, mas não agüentava mais o tom sarcástico e superior da comensal, não agüentava as risadas, não agüentava se sentir uma idiota por dentro ainda que não soubesse sequer os motivos que poderia ter pra isso.
“Não ouse falar de Snape! Ele, diferente de você” – ela virou-se para Headstrong – “não é um traidor!” – Queria acreditar nas palavras que dizia mas agora uma dúvida extremamente dolorosa nascia em seu peito. Não, não, não podia ser, ele não faria isso.
Mais uma risada foi ouvida. Dessa vez, não só a de Belatriz mas dos três comensais que a olhavam com um misto de pena e desprezo.
“Excelente! Pelo visto, Snape fez seu trabalho muito bem.”
“O que quer dizer com isso?!”
“Oh, minha querida, você realmente acreditou que Severo Snape amasse você?” – Lucio disse com desdém.
“Pobrezinha...” – disse Belatriz ao ver o olhar de Louise – “O amor dói, não?” – e deu uma risada ainda mais alta que as outras.
“Estupefaça!” – disse em um impulso de raiva. Os outros três atrás dela seguiram o exemplo e fizeram o mesmo. Louise não podia mais ouvir uma palavra sequer, não queria ouvir, seu peito doía, não queria acreditar. Eles corriam tentando aproveitar que os comensais tinham sido atingidos mas a cada momento aparecia mais um pelo caminho. Os feitiços gritados já não eram suficientes, um deles havia tacado Nigel no chão, Míthia machucara a boca e Dimmy tentava inutilmente se safar de dois ao mesmo tempo.
“Reducto!” – Míthia gritou ainda com a mão na boca ensangüentada, fazendo todas as milhares de profecias caírem das altíssimas prateleiras e partirem-se no chão. Os quatro correram o máximo que puderam enquanto se livravam dos dois comensais que ainda os perseguiam. Rapidamente, entraram, então, por uma porta escura, caindo em um espaço mais escuro ainda. Pouco tempo depois os comensais vinham com sua agilidade, os derrubando no chão. Louise levantou ainda zonza e viu Belatriz à sua frente. Nigel estava sendo imobilizado por Dolohov, um comensal, Dimmy por Mort Headstrong e Míthia estava caída no chão ao lado de Lúcio Malfoy e outros dois comensais. Com a boca ainda sangrando, totalmente desacordada e, aparentemente, morta.

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