Não me peça o impossível

Não me peça o impossível




Assim que conseguiu abrir os olhos novamente, Louise percebeu que estava na sala de Snape. Havia muito falatório e sua sensibilidade aguçada ouvia as vozes com o dobro de volume do que tinham realmente. Tentou levantar, então, da cama que se encontrava e, para seu desespero, atraiu todos os olhares para si. Continuava com a visão deturpada, seus olhos pareciam estar adormecendo involuntariamente. Mas antes de deitar novamente, pôde ver Dumbledore, Mcgonagall e Madame Pomfrey vindo em sua direção para saber como estava.
Sua cabeça doía tanto que era quase impossível manter os olhos abertos. Da mesma forma, o impacto dos sons em seus ouvidos parecia insuportável. Fosse pelo mal estar horrível que sentia por todo o corpo ou pela constatação de que Snape não estava ali cuidando dela, Louise desejou ter continuado a dormir. Mas, para a sua surpresa, logo no momento seguinte, ele veio passando pelos outros com panos e garrafas nas mãos e se abaixou ao lado dela.
O professor falava com Dumbledore enfaticamente coisas que a dor de cabeça de Louise não a permitia compreender. Com os olhos fechados e sentindo o perfume dele perto de si, ela sentiu uma mão entrar atrás de seus cabelos puxando sua cabeça para uma almofada. Ele colocou então um pano umedecido atrás de sua nuca e passou os dedos pelo rosto dela. Louise abriu os olhos lentamente embora suas pálpebras estivessem extremamente pesadas.
“Beba isso.” – ele tinha um ar calmo no rosto mas mantinha a boca contraída em um nítido sinal de apreensão.
Ela se inclinou tentando se levantar um pouco e ele segurou seu rosto com uma mão enquanto, com a outra, lhe dava o líquido diretamente na boca. Ainda que sequer tivesse acabado de engolir, Louise já sentia sua fraqueza diminuir consideravelmente. Quando se deitou de novo ouviu a voz esganiçada de Madame Pomfrey dizendo que ela deveria ir para a ala hospitalar pois lá seria melhor atendida.
“Minha cara, creio que ninguém entenda melhor de poções do que Severo.” – Dumbledore comentou.
“Embora isso seja uma verdade, Alvo, creio que talvez Madame Pomfrey tenha seu fundo de razão afinal lá há infra-estrutura para quem está machucado ou sofrendo perigo.” – Mcgonagall falava com a voz trêmula.
“Ora, Minerva, aqui há uma cama para que ela se deite e há cuidados por parte de Severo, não creio que ela precise de mais nada.”
Após um silêncio visivelmente constrangedor, Snape começou rispidamente:
“Eu cuidarei dela.” – e, após uma pausa, continuou. – “Fazendo o melhor que posso.”
“Tenho certeza que sim, Severo, tenho certeza.” – Dumbledore respondeu com uma voz sorridente. – “Agora, se me permitem, minhas caras, eu gostaria de dar uma palavrinha a sós com Severo.”
Assim que as duas saíram ele começou:
“Me corrija se eu estiver errado mas creio que a situação é complicada, não?”
“De fato. Já está no final do dia e eu já dei a ela diversas doses de antídotos específicos, misturas meticulosas mas ela não parece reagir.”
Dumbledore deu passos ao redor da sala e parou em frente à Louise.
“A poção que ela tomou é a que estou pensando?”
“Aglaiásia, diretor.”
“Foi o que pensei.” – e, após uma pausa, prosseguiu calmamente – “Bem... Peço que, por favor, não negue a Nigel e Míthia uma visita caso Louise esteja melhor amanhã.”
Snape deu um suspiro de má vontade e Dumbledore, já na porta, respondeu:
“Eu agradeço, Severo. Tenho certeza que ela estará sendo bem cuidada.”


O resto do dia passou com ainda maior rapidez já que Louise não conseguia se manter acordada por muito tempo. Mas com o chegar da noite sua situação também pareceu piorar um pouco. O frio que sentia parecia ter se acentuado e agora, ainda que coberta, ela se encolhia tremendo na cama.
Snape lhe cobria de panos úmidos pra que sua temperatura não subisse mais ainda e, vez ou outra, vinha colocar as mãos no pescoço dela para ver se a febre continuava. Parecia estar sob constante vigilância, se mantendo ao lado dela e dedicando seu dia inteiro à tarefa de cuidá-la - o que fazia Louise se sentir consideravelmente mais aquecida.
Madame Pomfrey e Mcgonagall também haviam passado lá algumas vezes, a última delas para tentar fazer Louise tomar uma sopa de abóbora. Após algum tempo, fizeram um questionário a Snape sobre o estado da menina e Madame Pomfrey questionou também os medicamentos que estavam sendo dados. Em pouco menos de uma hora foram embora.
Depois de seu pseudo-jantar, Louise tentou voltar a dormir mas a febre estava tão forte que lhe causava alucinações. Snape a colocou sentada na cama enquanto, ao seu lado, lhe dava algumas doses de estranhas poções e passava um pano úmido em seu rosto.
Louise se sentia cada vez mais fraca e seu corpo parecia aumentar a temperatura a cada segundo. Estava queimando e imagens aleatórias passavam em sua mente sem controle algum. A dor de cabeça também aumentava progressivamente como se facas fossem fincadas nela a cada minuto. Embora tentasse se manter calma, ela se contorcia de dor enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.
Snape tentava fazê-la ficar parada mas demonstrava uma paciência que Louise não imaginou que ele tivesse. Após um tempo, levantou-se rapidamente e voltou com uma nova poção azulada e quente.
“Beba, isso vai ajudar.”
Louise bebeu sem questionar e imediatamente sentiu uma onda de anestesia lhe percorrer o corpo. Sua cabeça parecia ter esvaziado instantaneamente – embora seus sentidos ainda estivessem comprometidos – e, poucos minutos depois, ela sentiu um forte cansaço, praticamente desfalecendo em cima de Snape. Não se sentia mal, apenas cansada e tudo que queria era repousar. Chegou a pensar que ele seria grosso por ela agora estar praticamente deitada em seu colo mas, surpreendendo suas expectativas, ele levou a mão até o rosto dela e o apertou contra o próprio peito, fazendo Louise sentir sua mão macia de uma forma suave como nunca havia sentido.
A respiração dela estava visivelmente fraca e seus olhos ainda pesados demais pra serem abertos. Só o que sentia – e o que, de fato, fazia questão de sentir – eram os dedos de Snape que se mexiam de forma delicada entre seu rosto e seus cabelos.
“Está se sentindo melhor?” – perguntou em um tom muito baixo quase que inaudível.
Ela sorriu. Não sabia se ele gostaria de ouvi-la dizer que o que a deixava melhor ia muito além das poções e estava, na realidade, no toque e na voz dele. E também – pensou – mesmo que ele quisesse ouvir, ela ainda era orgulhosa demais para falar.
Então, repentinamente, sua consciência pareceu ter apagado. Como um rápido desmaio, sua respiração simplesmente falhou por um segundo e seu corpo pareceu adormecer. Snape a puxou com olhos preocupados e a respiração ofegante enquanto chamava seu nome e lhe dava leves tapas pra que acordasse. Rapidamente, pegou um pano molhado a álcool e levou ao nariz dela.
Louise foi abrindo os olhos lentamente e se encostou em Snape com fraqueza. A respiração dele, ela podia sentir, estava acelerada. Assim como seu coração parecia bater de forma ansiosa... Após dar um suspiro, ela disse, pausadamente, quase sussurrando de tão baixo:
“Não se preocupe... comigo.”
Snape também suspirou e se encostou à parede atrás da cama, com Louise deitada sobre seu peito:
“Não me peça o impossível, Potter.”

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