O mestre das poções




Com uma força descomunal Louise abriu os olhos que pareciam estar grudados há anos. Embora sentisse o braço menos dolorido, ela continuava imensamente cansada e vulnerável.
“Você acordou! Ah meu Deus, graças a Deus, graças a Merlim, graças a Madame Pomfrey, seja quem for, que bom!” – Míthia falava alto e rápido enquanto analisava Louise verificando se ela estava inteira.
“O que houve?”
“Você estava a dois dias desacordada! Todos já estiveram aqui e, bem, nada parecia fazer efeito...”
“Dois dias?! Mas... e...” – Estava incrivelmente tonta e mal conseguia organizar suas perguntas. – “Todos quem?”
“Ah, todos. Digo... Assim que você foi mordida um antídoto específico foi preparado pela Madame Pomfrey. Mas o quadro era complicado segundo eles porque o veneno foi para várias partes do seu corpo. Então Dumbledore colocou mil feitiços em você, Mcgonagall também e Snape passou noites preparando a poção que...”
“Snape o que?”
Míthia riu, parecia saber que era uma informação estranha e rara.
“Pois é. Parece estranho dizer isso, mas...”
“Mas...?”
“Bem, a começar pelo dia do torneio, Snape aparentava estar muito preocupado. Quer dizer... nós vimos ele falar com Dumbledore diversas vezes enquanto você estava dentro do lado. Dizia que era melhor finalizar a tarefa pois algo estava errado e, assim que você retornou machucada, ele não parou um instante.”
“Que poção foi essa que ele preparou?”
“Eu não sei, nós não soubemos detalhes. Mas ontem nossa aula com ele foi cancelada por causa disso. Dizem que essa poção que limpa os resquícios do veneno do Dentauço é complicadíssima de fazer e exige ingredientes muito raros. E ontem o Dimmy comentou que viu ele voltando de madrugada ao castelo cheio de coisas na mão e a perna machucada. E, bem... Hoje de manhã a poção estava pronta.”
Louise queria dizer algo, queria perguntar detalhes ou chegar a alguma conclusão mas se sentia mais perdida do que nunca. Então Snape a salvara mais uma vez? Então havia machucado a perna, cancelado aulas e passado noites em claro por ela? Não fazia sentido e, embora sem compreender, Louise sentia uma ternura irreparável.
“E o torneio?” – perguntou, tentando mudar de assunto.
“Bom... Lyon tirou em 1° lugar e houve uma confusão em relação à Pandora. Dumbledore disse que o objeto de cada casa é enfeitiçado de forma que só possa ser tocado por alguém da própria casa. E pelo feitiço é fácil saber quem tocou. Se alguém da Corvinal encostasse ele ficaria amarelo, Lufa-lufa azul e Sonserina preto. E, bom, Pandora não voltou com nenhum tesouro.”
“O que houve com ela então?”
“Foi desclassificada. Ficou mais do que nítido que ela realmente pegou a taça pra atrasar você e conseguir o 2° lugar.”
“Hum... Porque será que isso não me surpreende?”
As duas riram enquanto Madame Pomfrey vinha com interjeições e recomendações e dava a Louise alguns remédios e poções.
“E Nigel? Não veio me visitar?”
“Ah, eu mandei ele ir almoçar... Nesses últimos dois dias o coitado não saiu daqui um minuto, Lou, já tava parecendo o rei dos inferi de tanta olheira. Fora que... Bom...”
“O que foi?”
“Ah, as pessoas tem falado muito, sabe?”
“Falado?” – Louise já estava acostumada a ouvir frases começadas dessa forma e ainda assim não conseguia evitar sua indignação.
“Todo mundo sempre falou de vocês, né? Digo... Essas brincadeirinhas e tudo mais, você sabe. Mas agora depois do torneio ficou pior ainda. Porque ele ficou muito abalado e...”
“E?” – Louise ergueu as sobrancelhas. – “Você também não ficou?”
“Ah, Lou, fiquei, todos nós ficamos, mas é diferente. Você sabe que ele te olha de forma diferente.”
Vendo a expressão de impaciência de Louise, Míthia prosseguiu com delicadeza:
“Quer dizer... a gente nunca ouviu ele falando de outras meninas ou sequer olhando pra ninguém e, bem, você é a única com quem ele realmente se preocupa, sabe, a única em quem ele confia.”
“Essa é a coisa mais absurda que eu já ouvi na vida. Ele gosta de mim tanto quanto gosta de você e...”
“Claro que não. Ele pode me achar divertida mas confiar realmente, gostar de verdade, ele só gosta de você.”
“Como amigo!”
“Claro.” – Míthia concluiu sarcasticamente, revirando os olhos.
No mesmo instante, Nigel entrou correndo pela porta da ala hospitalar:
“Eu soube que você acordou! Como você ta?” – ele carregava um sorriso inocentemente bobo no rosto pálido.
“Bem.” – ela sorriu – “Sentiu minha falta?” – perguntou brincando.
Na mesma hora, o rosto branco do menino ganhou um tom rosado e ele desconversou olhando para Míthia:
“Claro, todos nós...”
Míthia encarou Louise com um olhar de reprovação mas era nítido que ela tentava prender o riso.
Os três continuaram conversando até praticamente a noite, sendo interrompidos, vez ou outra, por circunstâncias e até mesmo por outras visitas. Dumbledore, Mcgonagall, Hagrid, Dimmy Franzon e até Heath Bennet haviam estado lá. Fosse pelos remédios e poções ou até mesmo pelas doces visitas que recebera, Louise já sentia-se bem melhor e deu graças a Deus quando Madame Pomfrey a liberou para voltar ao dormitório a noite.
No dia seguinte seu braço já estava menos feio e a mordida, ainda avermelhada, ia virando uma singela cicatriz - outra singela cicatriz. Embora estivesse muito ansiosa para ir para a aula a retomar suas atividades normais, Louise só conseguia pensar no que Míthia havia falado sobre Snape.
Resolveu, então, seguir até as masmorras e falar com ele antes do café-da-manhã. Na realidade não sabia sequer o que iria falar nem qual o real objetivo de sua visita mas resolveu que precisava ir nem que fosse para comprovar com os próprios olhos que era verdade o que haviam dito.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.