Quem você pensa que é?

Quem você pensa que é?




Assim que voltou às suas atividades normais, Louise contou tudo à Míthia que, por sua vez, se animou mais ainda com toda a situação.
“Nossa, hein, quem diria, o temido professor “Detenção, senhorita” caindo aos pés de uma aluna!” – falou rindo.
“Míthia, por Merlin, ele não cai aos meus pés. Não tem nada acontecendo.”
“Louise, vamos ser sinceras, pode parar com esse orgulho.” – Louise tentou interromper mas ela continuou – “Vai dizer que você nunca imaginou o que havia por trás daquele mistério todo? Quer dizer... Uma coisa ninguém pode negar: ele é instigante.”
“Míthia!” – Louise arregalou os olhos, rindo.
“É verdade, ué. Vai dizer que você nunca pensou nisso?”
“Claro que não! Ele é um professor e...” – Míthia a olhou com um sorriso no rosto como quem não acredita em uma palavra sequer e Louise riu, desistindo da frase – “Tudo bem, eu desisto.”
Após passar um longo tempo conversando elas chegaram ao assunto das tarefas. Míthia contou que Heath havia enjoado com as miragens do túnel e desmaiado antes sequer de sair. Lyon havia, novamente, ganho o 1° lugar e a caixa que Louise pegara dentro do caldeirão estava com Dumbledore esperando que ela acordasse e estivesse pronta para recebê-la.
“Dumbledore ficou bastante irritado com a situação” – começou Míthia – “A poção que você bebeu não deveria estar lá, foi colocada simplesmente pra que você bebesse. Resta saber quem a colocou...”
Louise ficou pensativamente em silêncio. Não era mais surpreendente saber que alguém queria matá-la. Míthia continuou:
“Snape também ficou, pelo que pudemos ver. Foi ele quem deu um berro quando viu que a poção que você bebia estava enfeitiçada. E quem te levou no colo também, o que foi surpreendente até para os professores que não esperavam ver tal cena. Ninguém esperava, eu acho.”
Louise deu um suspiro tentando disfarçar o sorriso que ameaçava se abrir em seu rosto. Se sorrisse, Míthia passaria outras duas horas falando em Snape e no quanto Louise devia ter gostado de ser carregada por ele. O que, realmente, era uma verdade mas ela não queria admitir tal fato.
Nigel também havia passado lá mas, como sempre, estava atolado com estudos – o que Louise deu graças a deus pois queria falar de Snape e isso, fosse por qual motivo fosse, ela não queria que ele ouvisse. Após algum tempo de conversa, já quando a tarde chegava, ela se encaminhou, então, até as masmorras para tomar a poção que garantiria seu recente e frágil bem estar.
Snape parecia quieto e cansado e, ao vê-la bem e sorridente, começou suas ironias:
“Vejo que está praticamente curada, Srta. Potter. O que o amor não faz, não é mesmo?”
Louise sentiu o coração subir pela sua garganta e arregalou os olhos, pensando no que ele queria dizer com aquilo.
“O que quer dizer?”
“Ora, pude ver que teve bastante tempo para conversar com seu namorado assim que saiu.”
“Nigel?” – perguntou arqueando as sobrancelhas.
“Tem algum outro?” – ele disse com ironia.
“Nem outro, nem ele. Já disse que Nigel é meu amigo.” – falou ríspida diante do olhar incrédulo dele.
“Que seja. Teve mais febre?”
“Eu não sei, eu não...” – e, antes que terminasse a frase, ele a havia puxado pra perto e colocava as mãos em seu pescoço. O arrepio foi inevitável.
Snape pegou a poção e a entregou nas mãos dela. Louise continuava calada, o olhando sem piscar. Sentia as borboletas que dançavam em seu estômago pelo simples toque dele.
“Obrigada” – sussurrou, levando a poção à boca. Assim que engoliu todo o líquido lhe devolveu a pequena garrafa vazia. Ele também a olhava fixamente e, ao tentar pegar o objeto, envolveu sua mão por completo sobre a dela. Louise se sobressaltou deixando a garrafa cair e se quebrar em mil pedaços de vidro mas nenhum dos dois olhou para baixo ou se moveu.
As mãos continuaram a se tocar fazendo a aproximação ficar cada vez maior. Quando Louise pôde perceber, as bocas já estavam se envolvendo em um beijo quente e lento. Diferente de todos os outros, era um beijo mais doce, mais delicado. Havia preocupação nele, havia cuidado e proteção. Cada movimento parecia ser único e meticuloso e ele agora a abraçava com seus braços fortes de forma delicadamente protetora.
Assim que as bocas se desgrudaram, o corpo de Snape se afastou rapidamente como se ele não quisesse encará-la. Virou as costas, então, mexendo em estantes e disse:
“Volte amanhã para outra dose da poção.”
Louise virou-se para ir embora extremamente irritada e confusa com o comportamento dele. Afinal, se ela era orgulhosa, ele parecia ser o dobro! Sempre fugindo e sempre se escondendo atrás de suas ironias para não ter que admitir o que estava acontecendo, para não ter que admitir o que sentia. E ela não entendia, não conseguia entender, porque ele parecia se distanciar um metro cada vez que se permitia aproximar 10 centímetros.
“Afinal, o que é que você quer, hein?” – ela não conseguia ficar calada diante de tudo.
“Perdão?” – ele forçava no rosto uma expressão de incompreensão, se fazendo de desentendido.
“Cada hora você age de uma forma, cada hora parece ser uma pessoa diferente. Afinal, o que é que você quer?” – ela estava visivelmente incomodada.
“Por hora, quero que volte para as suas aulas e venha amanhã para tomar sua poção.” – ele virou-se de novo para a estante, irritando-a ainda mais.
Louise se descontrolou completamente diante da atitude dele, não podia aceitar que ele agisse cada hora de uma forma, que parecesse brincar com o que ela sentia e provocá-la constantemente.
“Quem você pensa que é?” – ela puxou o braço dele, o obrigando a encará-la. Snape arregalou os olhos com a ousadia.
“Quem VOCÊ pensa que é?”
“Eu sou uma pessoa cansada de não saber o que esperar de você!” – e a sua voz saiu frágil, tão frágil como ela estava no momento. Uma voz apertada de quem segura algum tipo de dor. Assim que despejou a resposta em Snape, saiu apressada. Não queria que ele visse as lágrimas que tentavam lhe roubar os olhos.
“Louise!” – ele segurou o braço dela rapidamente a fazendo parar. Na verdade, mesmo que não a tivesse segurado, o fato dele te-la chamado de Louise e não Potter pela 1ª vez em cinco anos com certeza teria surtido o mesmo efeito.
Os dedos dele escorregaram pelo braço dela, chegando até sua mão e a apertando com alguma espécie de desespero subentendido. Assim que Louise parou, ele a puxou em um beijo. Um beijo com certo gosto de choro devido as lágrimas de Louise mas também que pareceu servir de resposta para tudo que ela havia questionado.
Snape a largou e passou os dedos pelo seu rosto úmido, secando as lágrimas que haviam lhe escapado. Então se virou e seguiu para a outra parte da masmorra.
O resto do dia, apesar de movimentado, pareceu ter passado em branco diante da apatia que Louise demonstrava. Por mais que tentasse, sua cabeça estava trancada a sete chaves dentro daquela masmorra e nenhum assunto lhe atraía realmente. Nenhum exceto o baile de inverno que Míthia citou à noite quando todos estavam no salão comunal.
“Baile? Quando?”
“Semana que vem, ué. Dumbledore comentou ontem no almoç... Ah, esquece, você não estava.”
“E aí, Loulou, já sabe com quem vai dançar a valsa?” – Dimmy Franzon perguntou rindo enquanto a puxava e rodopiava.
“Valsa?” – ela se desvencilhou – “Nós temos que dançar valsa?”
“VOCÊS têm!” – Míthia respondeu sorrindo.
Diante da expressão curiosa de Louise, Nigel – que, até então, se mantinha calado folheando um livro – se pronunciou:
“Os participantes do torneio tem que dançar a valsa, cada um com seu acompanhante. Na verdade, serão duas danças, se eu não me engano.”
“Duas?! Acompanhante?” – Louise se jogou no sofá com impaciência – “Ah, Merlin, maldita hora que a taça foi me escolher! Maldita!”
“Que isso, amiga, o baile é a melhor parte do torneio! Pode ir se animando que você tem que estar linda!” – Míthia a puxou pelo braço.
“Olha... Se eu já não tivesse chamado a Mi, eu até te daria o prazer da minha companhia.” – disse Dimmy abraçando as duas pela cintura. Míthia lhe deu um tapinha rindo e Louise continuou pensativa.
“Ah, porque você não vai com o Nigel?” – perguntou o garoto e, imediatamente, Nigel levantou os olhos do livro com as bochechas coradas.
Louise riu, não havia pensado em tal hipótese. Nigel era, afinal, como um desses amigos quase irmãos. Mas também – pensou – que mal teria ir ao baile com ele? Era só um baile e, de fato, não havia mais ninguém com quem ela realmente quisesse ir – ou, na realidade, ninguém que ela quisesse e pudesse pois o nome de Snape não parava de piscar em sua cabeça embora ela soubesse que era o único realmente impossível.
“Coitado do Nigel, eu não o colocaria sob tamanha tortura.” – ela falou brincando.
“Não seria tortura...” – ele falou com o rosto ainda corado e a cabeça baixa – “Posso ir se você quiser.”
Louise sorriu, assentindo, enquanto ouvia os muitos planejamentos que Míthia fazia para o evento. Vestido, cabelo, sapato, preparação completa. Embora de início não estivesse empolgada, de repente sentiu um certo ânimo e ansiedade diante da idéia de adentrar um salão completamente arrumada e dançar uma valsa em frente a todos. Queria estar perfeita, impecável. A opinião de todos os componentes de Hogwarts não valeria sequer um minuto de seu tempo mas a de Snape a faria gastar horas de preparação sem o menor esforço, se fosse necessário.

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