Sensíveis sentidos




Nos dias que se seguiram, Louise tentava inutilmente lembrar a si mesma que a tarefa estava cada vez mais próxima e que ter decorado cada linha de expressão do rosto de Snape ou ter feito uma análise completa da mistura de sentimentos que ele a fazia sentir não a ajudaria a sobreviver. No entanto, constantemente, sua mente fugia para as masmorras durante aulas, almoços, entre outros, sem controle algum.
Míthia achava muita graça de tudo e implicava insistentemente com o fato de Louise não admitir nada do que sentia.
“Lou, deixa de ser orgulhosa, você sabe que gosta dele.”
“Eu gostar dele, Míthia, tá louca?” – e rolava os olhos com impaciência enquanto sua mente fugia novamente para os olhos negros que a enlouqueciam.
Não havia visto Snape muitas vezes desde a última aula de Oclumência e os dois não tiveram oportunidade de trocar palavra alguma – embora os olhares que trocassem nas raras vezes que se viam fossem suficientes para sugar todo o fôlego do ambiente e acender uma fogueira.
Nigel, por outro lado, parecia desconfiado de tudo e andava excepcionalmente irritado, sempre cobrando à Louise o porquê dela não estar pensando no torneio ou a acusando de estar distraída. Preocupava-se visivelmente com ela mas só o que conseguia era irritá-la ainda mais.
Embora ela não admitisse que ele estava obviamente certo, só o que Louise tinha como pista era o que Dumbledore e Headstrong haviam dito. Ela até havia pesquisado sobre feitiços de ilusão e como combatê-los mas a tarefa seria composta por três situações e ela certamente acreditava que saber o pouco que sabia seria incipiente.
Mas, inevitavelmente, como Nigel havia previsto, o dia do torneio chegou sem demora – e sem preparação alguma por parte de Louise. Apesar de tudo, ela não se sentia mal mas sim inexplicavelmente confiante. E, embora não soubesse o porquê de não estar com medo, sentia inconscientemente que era algo relacionado à presença de Snape. Ainda que, obviamente, não admitisse nem para a própria sombra.
“Lou, rápido, vem cá! Eu ouvi o Lyon comentando com uma menina que na tarefa tem algo relacionado a um Cloasse!” – Míthia vinha correndo alcançar Louise antes que essa entrasse na tenda dos participantes.
“Cloasse? Que diabos é um cloasse?”
“Cloasse, Louise! Onde você passa as aulas de DCAT?” – e Louise riu lembrando que as últimas aulas de todas as matérias tinham sido insignificantes perto de seus pensamentos teimosos – “Cloasse é uma espécie de dragão. Mas é uma espécie onde as fêmeas comandam. Elas são mais desenvolvidas do que os dragões e são bem perigosas. Mas se tornam extremamente dóceis quando tem contato com a água devido ao sistema sensorial do corpo! Só não esqueça de NÃO encostar no rabo dela. Dizem que é devastador.”
Louise assentiu, tentando assimilar as informações, e logo foi levada por Mcgonagall à tenda em que todos se reuniam. Dumbledore explicou então que nessa tarefa eles teriam que passar cada um por um túnel e chegar a um espaço com três caixas. Ao abri-las, iriam encontrar um obstáculo e, ao vencê-lo, poderiam pegar o que houvesse dentro da caixa, concluindo a tarefa.
Assim que os participantes chegaram à arena, Louise viu – meio a gritaria e multidão – Snape sentado ao lado de Dumbledore e Mcgonagall. Ele também a olhava sem desviar os olhos um segundo e, embora estivesse sério como sempre, Louise sentiu um fôlego novo para seguir em frente.
Logo um apito foi ouvido e cada um dos três participantes entrou em um dos túneis. O espaço para se locomover não era muito grande, era como entrar em um tronco de uma árvore um pouco antiga. Mesmo a textura do chão e das paredes era como a de terra molhada. No entanto, antes que Louise sequer pudesse começar a se sentir claustrofóbica as paredes começaram a mudar.
Com uma precisão e velocidade absurdas, elas logo se transformaram em chamas criando a nítida sensação de fumaça e calor pelo túnel inteiro. Era estranho – ela pensava – o túnel não pegaria fogo dessa forma mas a sensação era perfeita e, por um momento, ela chegou a ter certeza que morreria queimada de tão perto que o fogo estava. Ainda assim, tentou continuar andando e logo as paredes e o chão se transformaram novamente.
Agora não havia chão, era tudo negro e uma espiral enorme a envolvia. Parecia estar solta no ar e, de tão tonta, Louise não conseguia sequer olhar pra frente. Mas em poucos segundos tudo mudou novamente e ela estava cercada de vidros que se quebravam em cima dela. Se arrastando o mais rápido que podia, Louise concluiu então que aquilo só podia ser um feitiço ilusório.
Antes que pudesse lembrar um contra-feitiço as paredes mudaram novamente mostrando em detalhes a sala de Snape. Ele sorria e permanecia distante como uma luz no fim do túnel. Louise seguiu a imagem enquanto tentava lembrar como acabar com as miragens e, assim que as paredes mudaram novamente, ela pegou a varinha e a apontou para o chão, dando origem a um enorme clarão amarelo.
Ela voltou então a enxergar o túnel como realmente era e, sem dificuldades, o atravessou chegando à outra ponta. No espaço destinado às três caixas não havia ninguém e Louise concluiu que nem Lyon nem Heath haviam saído dos túneis ainda. Confirmou sua hipótese também quando a platéia deu gritos e aplausos ao vê-la.
Meio a chuva que agora caía ela reparou que as três caixas eram extremamente iguais exceto pelas cores. A da esquerda era azul, a do meio vermelha e a da direita verde. Tentou, então, achar algo nelas que ajudasse na escolha mas, com a chuva ficando forte, apressou-se e escolheu a vermelha.
Assim que Louise abriu a caixa um sinal estridente foi ouvido e desceu dos céus o que ela concluiu ser um cloasse. De fato, era visivelmente uma fêmea e parecia muito com um dragão. A única diferença é que era consideravelmente mais magro, com um rabo e dedos extremamente longos e feições finas. Parecia uma mistura de dragão com pernas de lobisomem e era muito ágil. Não era um bicho feio mas visivelmente perigoso.
Louise instintivamente deu passos pra trás com a varinha nas mãos assim que o cloasse desceu ao chão e foi rapidamente em direção a ela. Mas antes que pudesse sequer pensar em uma solução, as enormes patas do bicho já sapateavam ao redor dela fazendo Louise se jogar para o lado cobrindo os olhos. O rabo do animal tentava insistentemente lhe derrubar enquanto as palavras de Míthia ecoavam em sua cabeça: NÃO encostar no rabo, não encostar no rabo... De repente, sentiu nas costas um enorme empurrão sendo jogada ao ar. Agarrou-se então no tronco do animal que, no mesmo instante, saiu voando, deixando caída no chão a varinha de Louise. Antes de ganhar altura, ela ainda pôde ver nitidamente Dumbledore e Snape levantando de seus lugares e ficando em pé. Snape com uma visível expressão de preocupação.
O cloasse voava muito rápido, fazendo voltas e acrobacias no ar mas permanecia incomodado com Louise às suas costas. Por mais que ela tentasse se segurar, o bicho batia nela com o rabo e fazia piruetas no ar pra que ela caísse. Em uma dessas tentativas, Louise se soltou de seu tronco e, quando já estava caindo no ar, conseguiu agarrar com uma das mãos o rabo do bicho. O grito que ele deu de irritação e, possivelmente, dor se misturou aos gritos da platéia que agora se levantava pra ver o que estava acontecendo.
O animal se mexia ainda mais bruscamente e voava para todos os lados balançando Louise como um pingente em um cordão. Em um dos vôos rasantes que ele deu, Louise aproveitou a pouca distância do chão e se soltou. A queda machucou um pouco um de seus braços mas, assim que conseguiu, ela pegou a varinha caída. Reparou então que Lyon já estava lá e também brigava com um cloasse igualmente grande e aparentemente mais dócil. Ainda distraída por tal fato, Louise sentiu um baque no ombro e viu que o bicho havia voltado. Foi quando lembrou do que Míthia havia dito e apontou a varinha para o animal que agora vinha em sua direção.
“Aguamentis!” – e um jato de água saiu de sua varinha molhando o cloasse por completo. Quase instantaneamente, ele sentou-se no chão com uma expressão calma e, no momento seguinte, deitou-se parecendo um cachorrinho dócil e indefeso.
Louise seguiu com pressa até a caixa vendo que a de Lyon já estava vazia. Assim que a abriu se deparou com um enorme caldeirão de vidro onde fumegava uma poção densa e rosada. Ao fundo encontrava-se uma pequena caixinha que ela deduziu ser o objeto que deveria pegar.
Tentou então enfiar a mão mas sentiu uma enorme tampa invisível a bloqueando. Da mesma forma, fez outras muitas tentativas frustradas incluindo “Accio caixa” e alguns feitiços convocatórios. Viu então que ao lado havia uma taça e ao enfiá-la no caldeirão conseguiu pegar uma boa quantidade do líquido. Tentou jogá-lo no chão mas outra tampa invisível parecia bloquear a passagem. Após muitos feitiços e possibilidades, ela concluiu que teria que beber.
A poção era, de fato, muito atraente. Tinha uma aparência doce e uma cor de chiclete, aparentando ser completamente inofensiva – embora Louise soubesse que seria uma inocência absurda achar tal coisa.
Sem mais idéias, ela pegou a taça cheia e levou à boca sentindo um sabor suave e açucarado lhe descer pela goela. Assim que engoliu tudo ainda não sentia nada e concluiu que não seria realmente perigoso bebê-la por completo. Na segunda vez que mergulhou a taça, no entanto, ela reparou que a poção estava consideravelmente mais escura e, assim que a colocou na boca, sentiu que também estava mais amarga.
Começou a sentir-se um pouco fraca mas obrigou a si mesma a beber a 3° e última parte que esvaziaria o caldeirão. Já com a taça em uma mão ela pegou a caixa com a outra e levou o líquido à boca novamente. Já não sentia nada. A poção descia pela sua garganta mas seu corpo parecia estar dormente. Não sentia o sabor, a consistência, nada, embora pudesse ver que a poção estava mais escura. Sua língua parecia estar morta assim como sua garganta.
Enquanto acabava de engolir, Louise pôde ver na platéia um sobressalto de Dumbledore e Snape falando de forma acelerada coisas que ela não conseguia entender. Ambos vinham com um ar tenso ao encontro dela enquanto, do outro lado, também vinham apressados Mcgonagall e Hagrid. Antes que conseguisse sequer concluir qualquer coisa, ela caiu ao chão. Qualquer voz ou barulho que chegava aos seus ouvidos parecia intenso demais e, ao mesmo tempo, distante. Já não conseguia enxergar claramente, os rostos pareciam estar derretendo enquanto cores se misturavam. As cenas se desenvolviam em câmera lenta à medida que Louise caía no chão, sentindo estar desmanchando em fraqueza e dormência.
Parecia estar a um passo de desmaiar quando Dumbledore e Snape chegaram ao seu encontro e, do que eles falavam com expressões preocupadas, Louise só conseguia ouvir com clareza e compreensão uma pequena parte.
“Severo... isso é extremamente sério... essa poção não deveria estar... inadmissível...”
Snape respondeu com um tom que não parecia o normal dele.
“Diretor, ela precisa... é fatal...” – por mais que se esforçasse, Louise perdia as palavras e frases meio a barulhos e roídos que tomavam enormes proporções e a cada segundo parecia se distanciar mais das vozes ao seu lado. Com os olhos pesados próximos de se fechar ela viu Hagrid e Mcgonagall se aproximando também preocupados e sentiu braços lhe envolvendo o corpo e o levantando.
“Hagrid, pode levá-la...”
“Não, eu mesmo a levarei.” – e ao ouvir a voz familiar sentiu os braços também familiares que a envolveram. Não precisou abrir os olhos para saber que estava sendo carregada no colo por Snape. O resto de olfato que tinha lhe trazia o perfume inebriante do homem que agora andava com ela nos braços.
“Frio...” – sussurrou com fraqueza enquanto se encolhia colada ao peito dele.
“Vai ficar tudo bem.” – ele disse em um tom baixo quase que só pra ela ouvir e sua voz aveludada parecia tremer preocupadamente.
Apesar disso, a afirmação parecia trazer uma calma inigualável dando à Louise uma tranqüilidade que ela provavelmente só havia sentido quando ainda era um bebê protegido pelos pais. E era como se sentia agora: protegida. Como se o corpo dele a abraçando a defendesse do mundo e, ali, ela fosse inatingível.
Com a pouca força que ainda tinha deu uma tentativa de sorriso e, com o rosto deitado no pescoço de Snape, adormeceu.


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N/A: Esse é o maior de todos os capítulos. :x e, bem, como devem ter percebido, a idéia do caldeirão com a poção que só dá pra ser tirada se for bebida e blablabla veio do 7° livro, não reparem. assim como tantas outras vieram inspiradas dos outros livros já que eu não tenho tanta imaginação assim pra criar essas tarefas. x.x

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