Eternas provocações




Assim que chegou às masmorras Louise bateu na porta educadamente, se perguntando se Snape a atenderia. Como não recebeu resposta, ela abriu a porta devagar e entrou. O lugar era tomado por mil prateleiras infestadas de poções. A luz da lareira dava um ar aconchegante cortado apenas pelas pedras frias das paredes.
Louise foi entrando impulsivamente e, quando pôde perceber, já estava em frente a enormes estantes tentando ler as garrafas rotuladas. Ouviu, então, uma voz grossa e arrastada atrás dela:
“Não te ensinaram que é falta de educação entrar sem bater, Potter?”
Ela, ainda tentando disfarçar o susto que havia levado, virou-se:
“Não te ensinaram que é falta de educação não atender quando batem?”
Snape a olhou com um misto de surpresa e reprovação:
“Para alguém que acabou de ser envenenada você continua bastante abusada. Precisa mais do que um dentauço para matar sua prepotência, não?”
Louise podia ter respondido milhões de coisas que arranhavam sua garganta mas, inexplicavelmente, ela decidiu apenas sorrir. Meio desconcertado pelo sorriso, Snape desviou o olhar e começou a andar pela masmorra. A atenção de Louise foi imediatamente atraída até a perna dele. Embora não fosse possível ver devido a suas vestes e longa capa, era nítido que ele mancava dolorosamente.
“Então, a que devo o prazer da sua presença recém hospitalizada?”
Louise se desconcertou diante da pergunta, tentando descobrir exatamente o que deveria responder. A verdade é que nem ela sabia por que tinha ido lá. Talvez quisesse só estar diante dele depois de tudo que soube. Tudo o que ela, até então, não sabia se era verdade e agora confirmava.
“Bem, eu... Eu soube que você preparou a poção e...”
“Pois é, Dumbledore me pediu.” – ele interrompeu rispidamente.
“Sim, eu imaginava. Mas quis agradecer mesmo assim.”
“Nossa, retiro o que disse. Talvez o veneno do dentauço tenha, de fato, te deixado mais bem educada.” – ele deu um meio sorriso sarcástico.
“Então talvez eu devesse trazer um aqui para envenená-lo.”
Snape se levantou, aproximando-se de Louise:
“Talvez eu devesse ter deixado o veneno em você, Potter.”
Louise riu e, chegando mais perto dele, disse cinicamente:
“Quem manda ter um ótimo coração.”
Ele analisou cada pedaço do rosto dela com um olhar severo e continuou com a ironia de sempre:
“Então... Já acabou de me agradecer ou ainda quer me mandar flores?”
Louise ergueu as sobrancelhas maliciosamente:
“Nunca.” – e virou-se para sair.
No entanto, no mesmo instante, ela sentiu a mão rígida dele a pegando pelo braço e a puxando para si.
“Talvez eu deva te lembrar, Potter, com quem você está lidando.” – Ele a havia puxado pra tão perto de si que Louise não conseguia evitar de sentir seu perfume forte e hipnotizante.
Fosse pela força com que ele a segurava, a rigidez de suas mãos ou até o jeito com que ele a olhava parecendo ler sua mente, naquele momento só o que ela queria era perder-se na escuridão de seus olhos intensos.
Por alguns minutos o silêncio tomou a sala e Louise o odiou mais do que havia odiado durante toda a sua vida, o odiou profundamente por ele ser tão misteriosamente instigante, por não conseguir tirar os olhos de seus lábios finos, por deixá-la sem respostas e vulnerável enquanto só o que ela queria era conseguir odiá-lo.
Ouviu-se então uma batida na porta quebrando o silêncio e Snape largou seu braço ainda encarando-a fixamente.
“Severo, me perdoe vir tão cedo mas essas provas precisam...” – Minerva Mcgonagall parou bruscamente e reparou, então, que Louise estava ali. – “Ahm... Bom dia, Srta. Potter. Creio que tenha que ir para a aula, não?”
“Claro, professora, eu já estava de saída.” – aproveitando a deixa, Louise seguiu até a porta, olhando para Snape, e saiu para tomar seu café.
Não conseguia pensar em nada que não fosse o perfume dele ou a textura de suas mãos e foi com a respiração ainda ofegante que ela chegou até Míthia e Nigel no salão principal.
“Nossa, o que houve?” – perguntou Míthia.
“Snape.”
“O que ele fez dessa vez?” – ela ria diante da cara feia de Louise.
“Ah, o de sempre... Arrogância, sarcasmos, grosserias...”
“Porque você não esquece ele, hein?” – começou Nigel sério – “Tá sempre reclamando do quanto ele é grosso mas é a primeira a provocar.”
Louise, indignada, ainda tentava formular uma resposta e achar argumentos pra se defender quando Míthia, ainda rindo, concluiu:
“Ah, esses dois se amam, impressionante.”
Já irritada ao som dessa afirmação (que também irritara Nigel), Louise seguiu de mau-humor até o final do dia, fazendo grande esforço para se concentrar em coisas importantes e deixar de lado seu ódio por Snape.
Naquela noite, no entanto, meio a seus sonhos, Louise teve uma das primeiras visões concretas da mente de Voldemort. Já fazia algum tempo desde que ela sofria de repentinas sensações e desfrutava de sentidos que não eram os seus mas em momento algum a cena havia sido tão nítida.
Ela podia ver claramente, era um homem ruivo e sardento sendo torturado. Tinha o rosto ensangüentado e cada ferimento feito nele parecia atingi-la e fazer arder sua cicatriz. Era quase como uma tortura mental.
Louise foi acordada às pressas e levada a Dumbledore ainda de camisola e encharcada de suor. Ela havia gritado na cama, se contorcido e Míthia, assustada, chamara Mcgonagall.
Após contar tudo ao diretor, a família de Rony Weasley – um simpático ruivinho Grifinório – foi chamada e avisada que o pai deles, Sr. Weasley, corria perigo. Dumbledore tomou todas as possíveis providências enquanto, em frente a ele, Louise parecia estar desfalecendo.
Quando, então, ia abrir a boca pela primeira vez e perguntar ao diretor porque tudo aquilo estava acontecendo, ouviu atrás de si uma voz conhecidamente profunda:
“Mandou me chamar, diretor?” – Era Snape. Assim que entrou, olhou para Louise dos pés a cabeça, a analisando maliciosamente. Louise estava suada, com os cabelos desgrenhados e vestia uma camisola que chegava até alguns dedos antes de seu joelho, deixando seus pernas e braços nus. Ao sentir o olhar de Snape, ela involuntariamente tentou se cobrir um pouco com os próprios braços, sentindo o rosto enrubescer e cada pequena parte de seu corpo esquentar. Nunca havia se sentido tão nua em toda a sua vida.
“Creio que não podemos mais esperar, Severo, nem mesmo até amanhã de manhã. Minha querida” – disse Dumbledore, voltando-se para Louise – “Severo irá lhe explicar tudo, vá com ele.”
E, embora Dumbledore tenha dito a ela mais algumas palavras, Louise já não ouvia nada, exceto seu coração pulsando violentamente dentro da camisola.

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