A Força



CAPÍTULO TRINTA E QUATRO – A Força







Após o jogo de sábado e da vitória gloriosa de Grifinória sobre Sonserina, foi unanimidade a alegria do castelo. Apenas alguns sonserinos ainda não haviam se conformado com sua derrota. Malfoy e Nott estavam dentro dessa minoria, que havia recebido advertências pelo comportamento lamentável e ainda persistiam em andar emburrados pelos corredores como se fosse solução mais óbvia. As duas semanas seguintes do mês de maio passaram desapercebidas aos olhos dos estudantes, apenas Harry tinha pensamentos incômodos dentro de sua mente. Pensamentos que se transformavam em perguntas sem resposta e preocupações incessantes, afinal sua cicatriz havia voltado a formigar com freqüência e embora não tivesse sentido nada, sempre sabia que Voldemort ficava mais contente a cada dia, como se todos os seus planos se concretizassem num real passe de mágica.



Mas não eram apenas os problemas grandes que incomodavam Harry, haviam tópicos para serem atendidos. Conciliar os estudos do sexto ano para os exames de junho próximo e preparar aulas boas para as reuniões quinzenais da AD não estavam sendo tarefa fácil, e agora não havia mais os treinos de quadribol para lhe fazer sentir melhor ou ocupado. As noites desocupadas ele se sentava no salão comunal de Grifinória junto de seus melhores amigos, Rony e Hermione para juntos repassarem a matéria para os exames. Hermione como de costume havia feito um horário de estudo para cada um, assim poderiam revisar todas as matérias em tempo recorde além de conseguir a façanha de não se esquecer de nenhuma matéria ou data de prova, afinal eram muitas.



Os professores de uma maneira geral haviam se concentrado em lhes passarem longos simulados teóricos sobres suas respectivas matérias. As longas sessenta questões sobre transfiguração foram muito trabalhosas, e com exceção de feitiços, até aquele momento aquele havia sido o mais difícil dos simulados, até o curto, porém cansativo, questionário de Snape havia sido menos trabalhoso. Atolado em revisões, ou então escrevendo longas redações pedidas pelos professores, Harry manteve-se ocupado, sem descanso por toda a primeira quinzena de maio que foi marcada pela calmaria no mundo externo e pelo extremo tumulto que ocorria a menos de quinze dias dos exames de fim de ano.



O primeiro dia de exame foi muito calmo, pela manhã iriam ter o exame de feitiços no sétimo andar, próximo ao Corredor do Feitiço. Flitwick estava eufórico pela realização dos exames, ainda sobre a pilha de livrinhos e livrões com diversos títulos, o baixo professor disse com uma voz esganiçada e muito excitada a todos os alunos aquela manhã.



– Mais um ano está terminando! – começou ele. – Precisamos examinar todos vocês, ver o que aprenderam. – Flitwick consultou o relógio na parede à suas costas. – Exatamente daqui a três minutos, suas provas surgiram sobre suas carteiras. Penas, tinteiros e qualquer outro material, inclusive suas varinha, irão ficar guardados aqui comigo, até o término do exame. Junto com o pergaminho da prova, voes irão receber uma pena para o mesmo. O uso de tinteiros será desnecessário. – O ponteiro do relógio atrás de Flitwick atingiu o número doze, indicando que eram exatamente oito horas. Um gongo alto e grave encheu a sala e sobre suas carteiras, pergaminhos com muitas coisas escritas tornavam-se visíveis assim como a pena que poderiam utilizar. Harry olhou para os lados e viu Rony e Hermione ao seu lado. Ele sorriu para os amigos e voltou a concentra-se para sua prova. A primeira questão era a seguinte: “Como seria possível expandir o campo de invisibilidade de um objeto enfeitiçado? Explique a teoria e o processo”.



Harry puxou a pena que havia recebido e começou a responder com rapidez. Embora, a segunda questão sobre os feitiços controlatórios estivesse um pouco difícil, as outras pareciam muito fáceis, mas Harry sempre se lembrava de que havia realmente estudado duro para chegar até ali. Assim que terminou ele entregou o exame a Flitwick e saiu da classe de Feitiços, um tanto feliz por ter feito um bom exame. Ele dobrou ao fim do corredor e passou em frente a Tapeçaria de Barnabás o Amalucado e logo, em frente a porta da Sala Precisa, um sala muito especial que abrigava encontros quinzenais para prática de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ele olhou para a porta e antes que a pudesse admirar, a porta havia desaparecido.



Harry começou a descer as escadarias pela quieta Hogwarts dos exames... Não havia muitos alunos nos corredores, apenas aqueles que assim como Harry havia terminado seus exames da manhã, para sorte ou azar, diga-se de passagem, Harry encontrou Gina no Saguão de Entrada. Ela estava sozinha, e com os punhos fechados ela caminhava em direção as portas duplas de carvalho, na intenção óbvia de ir até os jardins. Embora seu N.O.M.’s fosse apenas em junho, ela não estava em aulas.



Harry correu até as portas do castelo e alcançou a bela garota de cabelos alaranjados e lisos. Belos como cobre liquefeito, eles escorriam pelo negro de suas costas e faziam um movimento quase hipnótico. Ele segurou no braço da garota com força e ela assustada virou-se para trás. Ela inicialmente sorriu e fechou os olhos como se aguardasse alguma reação. E ela recebeu. Harry soltou o braço da garota e disse.



– Por que fechou os olhos? – disse Harry confuso. Gina olhou para o garoto com uma cólera crescente, e embora as longas vestes negras do uniforme impedissem a visão dos pés da menina, ele sabia que eles batiam irritados no chão de pedra fria do castelo.



– Nada, Harry! – Gina respirou e piscou os olhos – Você não consegue entender?



– Entender o quê? – disse Harry naturalmente confuso.



– Ai! Você é o fim! – disse Gina irritada. – Por issoNovamente Harry agarrou o braço da menina. Ela gritou.



– ME SOLTA!



– Que você está fazendo Harry? – disse Rony atrás do amigo descendo as escadarias de mármore à galope. – Que você pensa...



– Rony... – disse Gina segurando o irmão com os braços. – Por favor...



– Eu não fiz nada Rony. – disse Harry sendo muito franco.



– Sei que não! Igual o idiota do Percy! Nunca faz nada. – Rony franzia testa em desaprovação. – Minha irmã grita, mas você não faz nada. Sei, você é um babaca Harry. Igual o outro babaca do Percy.



– Não fala assim comigo! – ameaçou Harry.



– Você não vai me azarar vai? – sentenciou Rony.



– Minha amizade está acima de qualquer coisa tola que você seja incapaz de compreender. Não seja burro Rony. Sou seu amigo. – E dizendo isso saiu dali muito depressa, muito ressentido. Como o seu melhor amigo podia ser tão tolo, como aquilo podia ter ocorrido. Mas mesmo assim, ele não fez o que seu instinto achava que deveria, ele simplesmente deu as costas e voltou para o salão comunal.









A semana de exames continuou, e mesmo Rony tendo parado de falar com Harry pela segunda vez aquele ano, ele agüentou firma. Hermione sempre puxava assuntos que fosse do interesse dos dois, como quadribol, hogsmeade ou a AD, mas o que realmente os uniu novamente foi a carta da Sra. Weasley que foi recebida numa morna tarde de quinta-feira. A velha coruja dos Weasley, Errol, bicava o vidro da janela do salão comunal com muita dificuldade. Sua asa era a única parte do corpo que ainda possuía muitas penas. O restante do corpo da coruja estava quase pelado, algumas penas cor de poeira ainda restavam ali, mas a impressão que realmente passava era o cansaço. Embora os três estivessem sentados estudando silenciosamente. Rony levantou-se e foi até a janela. Abriu o trinco da janela e deixou a coruja entrar. Ela quase caiu de tão cansada, mas conseguiu voar até a mesa onde estavam. Rony olhou para Harry como se quisesse dizer algo, mas rapidamente voltou sua atenção para a coruja em suas mãos. Ele puxou o rolo de pergaminho que o bicho trazia preso à perna. Errol beliscou os nós nos dedos de Rony e saiu em direção ao corujal. A bela caligrafia negra da Sra. Weasley estava manchada em certos pontos, pelo que Harry sabiam serem lágrimas de desespero.





Meus filhos, meus queridos amigos





Vocês não sabem como essas noticias me deixaram chateada e triste. Estou sem palavras, jamais imaginei isso, é como ter perdido algo tão preciso que nem as palavras explicariam. Sei que talvez este seja um caminho sem volta, afinal, ele mesmo dizia que poder era tudo na vida. Foi por sua ambição minucioso e calculista que hoje choro, mesmo por que eu fui um das que mais incentivei e criei essa ambição desonesta e suja. Tenho culpa e me remou com isso desde o dia em que fiquei sabendo. Não tive coragem de escrever, estava sendo muito difícil aceitar tudo isso. O pai de vocês está arrasado e ultimamente, não come direito e dormir é algo incogitável. Afinal uma denúncia precoce é algo que poria em risco sua vida. Ele nos disse para aguardar o tempo certo, muitas das decisões dele podem ter sido tomados sobre pressão ou pelo impulso. Fiquem juntos, não se separem, vocês quatro são únicos para mim...





Beijos carinhosos e abraços bem maiores que esta carta,

Sua mãe.






Uma enorme mancha ao final da carta indicava uma ultima gota antes da carta ser selada. Rony que havia compartilhado as informações com o amigo ficou muito confuso, releu a carta, e os conselhos explícitos de sua mãe pareciam ter feito muito sentido para ele. O amigo lhe retribuiu um sorriso largo e eles pararam de estudar e foram jogar uma partida de xadrez de bruxo, para o desgosto de Hermione que continuou a revisar a matéria de História da Magia.



Sentado em uma mesa diante de uma grande janela oval, Harry e Rony rolaram as peças do antigo xadrez de Rony. Harry ficara como de costume com as pedras rubras, enquanto Rony detinha as brancas. Embora seis anos de prática não tivessem resultado em um avanço significativo, era fato que jogar sem as pedras ficarem dando palpite já era razoável. Enquanto movia seu cavalo pelo tabuleiro andado suas quatro casas necessária ele viu algo estranho pela janela.



Pela janela, era possível ver o interior de um outro aposento, em uma torre próxima um andar abaixo. No cômodo circular malvisto, Harry pode enxergar duas pessoas. Uma era obviamente Dumbledore de costas conversando com um outro homem, presumivelmente bruxo, devido às vestes longas e amarelo-ouro. Harry não o conhecia, apenas sabia que definitivamente aquele não era um professor de Hogwarts.



– Harry! – chamou Rony. – Seu peão. Foi eliminado pela minha rainha.



– Quê? – disse Harry olhando para o tabuleiro com os destroços de suas pedras. – A sim, meu peão. – Sem pensar Harry empurrou seu rei para frente da rainha de Rony. O garoto olhou novamente para fora e pela janela viu apenas o enfunar das capas desaparecendo. Harry se pergunta quem seria aquele bruxo, o segundo depois de Marchbanks à visitar Dumbledore em tão pouco tempo. Antes que as engrenagens, desgastadas pelos exames, de seu cérebro começassem a funcionar, uma bomba sentou-se ao seu lado. Era Gina. Ela parecia ter esquecido aquele aborrecimento infantil.



Num súbito movimento de desespero, Harry pensa em como sua vida está de ponta-cabeça, como tudo era tão difícil, tão complicado, porque tinha de ser ele? Por que não havia sido Neville? A imagem de sua mãe lhe apareceu e ele pensou que talvez se não fossem as proteções de sua mãe, ele jamais tivesse a capacidade que possui e desconhece. Talvez Voldemort tenha feito certo em me escolher. Fui escolhido. Pensou sozinho. A presença de Gina e suas reclamações sobre a exaustiva revisão de Transfiguração não eram tão importante quanto o raciocínio que Harry começava a engrenar. Mesmo o xeque-mate do amigo, não lhe incomodou. Ele era o escolhido e tinha de cumprir seu papel naquele mundo. Ele havia sido escolhido e somente este fato lhe proporcionará tudo o que ele precisa. Não existe força, ou poder letal dentro de mim, pensou; apenas o fato de eu ter sido O Escolhido.



Ele era de fato O Escolhido, seu poder máximo era o amor de sua mãe, nada podia ser mais exaurível que aquilo, nada era tão inextricável, nada superava as barreiras do que é abstrato, do que não tem contorno, fórmula ou manual. Tudo era relativo se comparado ao que ele tinha dentro de si. Nada poderia se superior, nem mesmo o ódio infantil de Voldemort, ou mesmo a raiva por seu pai, um trouxa que o largou, nada era mais forte que o amor, nada. Mesmo a mais furiosa ira de Voldemort ou mesmo Dumbledore. Harry Potter estava de fato a salvo.



– Harry você ainda está ai? – perguntou Gina preocupada.



– Sim. – disse Harry muito sério. Sua vida estava desarrumada, mas só dependia dele organizá-la. Iria começar por Gina. – Tudo bom? – disse Harry abobalhado. Ele aproximou-se do rosto de Gina e surpreendendo até a si mesmo, Harry a beijou em pleno salão comunal de Grifinória. Ainda de olhos fechados ele ouviu os gritinhos de admiração e inveja dos presentes. – Tenho que ir até o escritório do Dumbledore, eu preciso falar com ele, sobre uma coisa que eu descobri. Espere-me aqui tudo bem? – Harry virou-se para Rony – É você ganhou novamente. Eu vou lá em baixo e volto em dois segundos tudo bem?



Harry se levantou de sua cadeira. Deu um sorriso final aos amigos e cortou o salão sob os olhares e conversinhas inóspitas. Ele atravessou o buraco do retrato e caminhou ate as escadarias de mármore, ele se começou a descer rapidamente até que lembrou-se de que Dumbledore possivelmente ainda estaria no sexto andar. Ele girou sobre os calcanhares e mudou o rumo. Começou a caminhar nos corredores, que à cima, levariam até o quadro da Mulher Gorda. Ele dobrou uma última curva à esquerda e viu com satisfação. Dumbledore. Ao ver Harry ele se assustou, mas fingindo uma conformidade complacente, sorriu. Harry correu até o diretor e disse esbaforido.



– Eu descobri. – disse. Dumbledore levou o dedo longo e branco a boca, como se desejasse silêncio. – Ah – conformou-se –, eu realmente preciso falar com você. – cochichou Harry. Assim que disse essas palavras ele viu vestes amarelo-ouro saírem da porta à esquerda. Era o mesmo bruxo que conversava com Dumbledore cinco minutos antes. Ele parecia bastante com um leão velho. Havia partes grisalhas na sua juba castanho-amarelada e em suas sobrancelhas espessas; ele tinha olhos cerrados e amarelados por trás do par de óculos de metal e uma aparência alta, andando com graça mesmo que mancasse ligeiramente.



–... É Alvo, não vejo o porque... – o bruxo assustou-se ao ver Harry. Exatamente como Dumbledore o fizera antes. – Você deve ser Harry Potter. – disse analisando a cicatriz em sua testa com os olhos. – Foi um prazer. Alvo, eu converso com você mais tarde. – E despedindo-se com muita pressa o bruxo desconhecido saiu dali e correu até as escadarias.



– Ele sempre fez isso. – disse Dumbledore para ninguém. E voltando sua atenção unicamente para Harry continuou. – E então você disse que descobriu. O quê precisamente? Descobrimos muitas coisas esse ano Harry...



– Sobre A Força! – exclamou Harry – Sobre a minha Força. Eu descobri.



– Harry você tem certeza? – a luz laranja do sol poente cruzava os longos cabelos prateados de Dumbledore pelo vitral da janela atrás dos dois, bem ao final do corredor. Dumbledore parecia muito sério com seu oclinhos de meia lua.



– Sim. – disse Harry com uma voz grave que ele suspeitava pertencer ao seu eu mais sério.



Dumbledore consentiu baixando os olhos.



Dumbledore ergueu a varinha.



Harry não acreditava. Correu a mão até o bolso e sua varinha não estava ali. Apenas pode ver a imagem dela sobre o tabuleiro de xadrez antes que um raio flamejante e prateado saísse da ponta da varinha de Dumbledore. Como assim Dumbledore lhe atacando? Pensou vendo o raio incidir-lhe sobre o peito.



E num repente único e inesquecível, ele sentiu algo quente invadir suas veias, algo que lhe aqueceu e lhe deixou feliz, e incrivelmente forte. Dumbledore sorria muito satisfeito. Harry fechou os punhos e os olhos. Um estrondo de vidro quebrando foi escutado. Ele abriu os olhos e viu o raio curvar-se na sua frente e estilhaçar na janela ao fundo. Dumbledore sorria para o garoto.



– Excelente, Harry! Excelente! – Dumbledore parecia realmente satisfeito. – Vamos, me acompanhe.

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