O Rapto de Ginevra



CAPÍTULO TRINTA E OITO – O Rapto de Ginevra







As duas últimas semanas de aula foram tristes e melancólicas para Harry. Ele sabia que nesse meio tempo teria de aprender um feitiço acima de qualquer exame N.I.E.M.’s e isso custaria sua vida e a de muitos outros. Sim, Dumbledore, na noite em que exploravam o cemitério de Hogwarts, pedira a McGonnagal e Snape que juntos lhe ajudassem a aprender aquele feitiço. McGonnagal, como de costume, logo conseguira dominar o feitiço e Snape havia se esforçado o máximo para não ficar atrás da Diretora da Grifinória. As aulas eram ministradas pelos dois, e se passavam todas as noites após o último tempo de aula, lecionada ou assistida, dos três. Eles não utilizaram a Sala Precisa, embora Dumbledore tenha recomendado o local. Os três encaminhavam-se todas as noites para uma masmorra que Harry havia visitado apenas uma vez desde que entrara para Hogwarts. A masmorra número cinco, o local onde Nick-Quase-Sem-Cabeça havia comemorado seu qüingentésimo ano de morte.

Na primeira noite de treinamento ele caminhou pesaroso até as masmorras, e virou logo que pode para descer os degraus da escada redonda que descia até o largo aposento de pedra fria. Em sua primeira visita, Harry não pode notar que o chão do aposento retangular, era lustroso e possuía desenhos diversos com os mais coloridos mármores que na Terra existem, o lustre que outrora emanava uma luz azul-meia-noite agora estava tomado por chamas normais, vermelho-alaranjadas, que lambiam as correntes que o pendiam no teto, o teto era abaulado com as abóbadas decoradas e cheio de detalhes finos e pontiagudos. Não haviam janelas, propriamente ditas, apenas vitrais circulares de vidro amarelo que faziam com que a luz da lua adquirisse uma tonalidade que só o poente possuía. McGonnagal estava sentada em uma mesa quadrada bem ao canto da sala. Snape conversava com a profa. de Transfiguração de pé. Parecia impaciente.

– Está atrasado, Potter. – disse Snape ríspido.

– Nada que nos atrapalhe. – corrigiu McGonnagal olhando severa para o colega. Talvez não fossem pela dedicação e diligência de Minerva, Harry não teria alcançado o êxito nas aulas seguintes. Talvez chegasse a desistir, como em Oclumência, caso o professor fosse apenas Snape. Mas por uma intervenção de Dumbledore isso não ocorreu.

Harry não estava acostumado a ver Snape empunhando uma varinha, mas ele a segurava como um cavaleiro segurava sua espada, tornava-se sério e obscuro quando lançava um feitiço e parecia gabar-se, interiormente, quando conseguia um feito esplêndido. McGonnagal tinha a agilidade de uma gata, ela embora fosse mais velha que tia Petúnia, poderia sem sombra de dúvida ganhar-lhe uma aposta de corrida. Ela movimentava-se com graciosidade e sorria irônica ao dizer as palavras de ordem para a varinha. Eram outras pessoas. Diferentes da discreta profa. McGonnagal e do intragável prof. Snape, aqueles eram Minerva e Severo, integrantes da Ordem da Fênix.

O tempo parecia conhecer os temores de Harry e comportava-se de forma estranha. O característico sol quente de junho foi substituído por nuvens cinzas e repolhudas que giravam circularmente como se aguardassem, como se esperassem o dia correto para desaguarem sobre suas cabeças. Pelo fim da semana quando as tensões sobre Harry tornaram-se mais presentes, as nuvens haviam sumido. Haviam ido para outro lugar. O céu estava novamente límpido e azul. Não havia nuvens no céu, nem nada. Apenas o brilho onipotente do sol que iluminava tudo ao seu alcance. Tudo recebia um raio, ao menos, de sol. E desta forma vieram a sexta-feira, o sábado e o domingo. As aulas de Harry não cessaram e todas as noites ele dirigia-se até a masmorra de número cinco, onde o eterno aposento alaranjado o aguardava.

– Esforce-se Potter! – pedia Severo sinceramente. – Se prepare.

Snape ergueu a varinha e a brandiu como se ela fosse um chicote. E foi o que ocorreu, um cordão de luz prateada saiu da ponta da varinha do professor e ameaçou-lhe atingir a face. Era sem dúvida alguma um chicote mágico. Harry sentiu que McGonnagal estava em sua cola, por trás dele. Ele sentiu mais uma vez algo quente invadir-lhe as veias. Ele foi mais rápido. Antes que o chicote prateado de Snape prendesse-lhe a varinha e McGonnagal o liquidasse com uma maldição ele virou-se e berrou.

Blasonum Maximus! – era fato que o feitiço criado por sua mãe não era algo cabível à livros. Ele parecia adequar-se as necessidades de Harry, de muitas formas e maneiras. Neste momento, por exemplo, a cuba refletora feita por Dumbledore não se formou, mas uma outra que encobriu Harry e o protegeu de um raio róseo que Minerva havia lançado. O chicote de Snape apenas deu estalidos no bloco protetor dourado.

Harry sacudiu a varinha e tudo cessou. McGonnagal estava estática, as pernas afastadas umas das outras em sinal evidente de cansaço. Snape parecia, também em fadiga, mas a expressão de professor em seu rosto excluiu a amargura da derrota.

Severo gaguejou. Minerva escutava a tudo atentamente.

– Parabéns, Potter. – disse ele com dificuldade, e terminado virou-se às costas e saiu das masmorras como se tivesse acabado de cometer um crime. Talvez aquela fosse a primeira vez que um Snape havia feito algum elogio a um Potter. O ódio mortal que sentiam um pelo outro parecia ter se dispersado no ar úmido daquelas masmorras, como se na necessidade, todas as diferenças fossem superadas e pudessem ser superpostas.





O início da semana, após a contradição da filosofia de Snape, foi calma e serena. Hagrid terminou suas aulas do ano com uma divertida corrida de obstáculos, que envolvia o uso de caranguejos-de-fogo e tronquilhos muito nervosos. Hagrid alegrava-se vendo todos se divertirem enquanto o um caranguejo relativamente grande lançou um raio flamejante próximo às vestes de Dino Thomas.

– Vamos menino! – incentivou o professor – É apenas um caranguejo! – Não era apenas um caranguejo, era um bicho enorme de quase meio metro de altura que lançava fogo por um lugar muito feio. Todos riram quando Dino começou a literalmente pegar fogo. Hermione prontamente apagou as chamas com um Feitiço Congelante.

As aulas de Flitwick eram de fato as mais divertidas da última semana, o professor estava exausto depois de semanas de exames e agora parecia, mais do que ninguém, desejar o término do ano letivo. Ele apenas escrevia no quadro negro com a varinha. Feitiço da Invisibilidade pratiquem-no. Era extremamente fácil tornar um objeto invisível, afinal aquele fora à primeira matéria do sexto ano e embora seu cérebro já tivesse esquecido de suas cabalas místicas da varinha, ainda sabia pronunciar as palavras corretas.

Inevisive! – e sua carteira tornou-se invisível.

As visitas às estufas do castelo também pareciam ter se tornado mais prazerosas, afinal não havia coisas nojentas ou perigosas à espera de todos, apenas lindas flores mágicas, que serviam apenas de adorno para lares bruxos, como a Margaridae Dancares. Um tipo diferente de margarida cujos galhos não se cansavam em ondular continuamente, mesmo sem vento ou movimento algum, eram as Margaridas Dançantes.

Com Tonks não seria diferente, ela diferente de todos os outros professores não disfarçou a ausência de aula. Ele escreveu no quadro com a varinha. Façam o melhor que puderem: façam nada.

A modorrenta tortura, História da Magia, infelizmente continuava a mesma. Binns parecia achar que fariam um exame no dia seguinte, entulhando-os até a última gota com histórias sobre a ascensão e queda de Grindewald, um bruxo das Trevas que aspirava dominar a Europa, mas que foi impedido por Dumbledore em 1945.

Desde o último domingo de aulas, Snape não voltara para lecionar-lhe o feitiço do escudo máximo. Ele parecia ter sido corrompido pelo que ele sempre temeu: a verdade. Nas últimas aulas de poções do ano ele conseguia ser mais intragável que nunca, principalmente após o elogio tecido ao garoto Potter. As aulas! Estas estavam sendo extremamente relaxadas, e mesmo Minerva não lhes passavam nada, ela apenas dava algumas tarefas simples como conjurar pequenos pombos.

Palumbos! – exclamou Hermione e uma bela pomba branca apareceu onde antes havia apenas ar. – Bem, então é por isso que ele nos trata tão mão nas aulas de poções?

– É o que parece – disse Harry descontente pegando seu pombo cuidadosamente com as mãos e libertando pela janela.

– Mesmo sabendo que ele trabalha para a O...

– Shhh! – advertiu Hermione com pressa.

– Desculpe! – disse o garoto irritado – Bem, mesmo assim eu ainda não gosto dele, diferente de vocês dois.

– Nunca disse que gostava dele. – sentenciou Harry. – Eu apenas o respeito. – disse debruçado na janela. Por um instante fugaz, Harry viu um borrão negro cortar o céu limpo e azul de junho.

– É o que também sempre digo. – Quando Harry levou a mão aos óculos, não havia mais nada. Era apenas o pombo que soltara. A sineta tocara e eles deixaram a sala de Transfiguração.

Aquela havia sido a penúltima aula do ano e o penúltimo dia de aula. Amanhã ocorreria o banquete de Fim de Ano, e a Cerimônia de Pontos das Casas. Internamente Harry pouco se importava com o Campeonato de Pontos entre as Casas, mas ficou satisfeito ao saber que a Grifinória liderava emparelhada com a Corvinal. A sonserina estava em última. Mesmo o esforço de Snape para dar pontos aos pupilos não concertou o estrago feito pelo time de Quadribol Sonserino que após a suspensão de seus jogadores perderam mais de cento e cinqüenta pontos.

Durante o intervalo para o jantar eles puderam aproveitar o pôr-do-sol, sentados ao pé da frondosa faia que se postava altaneira na margem do Grande Lago de Hogwarts. As águas estavam calmas e encontravam-se num profundo verde-azulado ou um azul-esverdeado, não era possível distinguir.

– Parece que este ano foi excelente! – disse Mione entre os braços de Rony.

– Realmente. – confirmou Rony. Harry fixou o olhar no lago. Queria que Gina estivesse ali. Os únicos movimentos no Lago eram algumas bolhas de ar que subiam à superfície, em um momento, um longo tentáculo escuro cheio de ventosas em sua extensão emergiu causando uma revolução na água. A mesma passou de um espelho nítido para um pequeno oceano em ressaca. A água ondulava continuamente e Harry viu na água sua vida.

– Oi! – exclamou uma voz musical para os três. Era Gina.

– Gina! – exclamou Harry contente. – Sente-se aqui. – indicou Harry um cantinho entre ele e a faia.

– Como foi seu penúltimo dia de aula? – perguntou Hermione sempre interessada nos estudos.

– Bem normais. – disse a menina de cabelos acajus acomodando-se nos braços de Harry. – Flitwick pediu que apenas relaxássemos, pois a carga dos exames havia sido muito pesada para todos... – Todos riram, sabiam que Gina referia-se ao cansaço do professor Flitwick.

Os quatro amigos, dois casais predestinados a uma amizade invencível, ficaram sentados juntos, pensando no interior de cada um o que seria dali para frente. Como seria. Com quem seria. Antes que as respostas lhes atinassem no cérebro uma voz os gritou.

– Hei! – era uma voz ofegante.

O sol poente havia atingido o limite do lago, o verde-azulado se extinguira e um laranja onipresente inundou a retina de todos. O céu mesclava-se como na cartela de cores de um pintor. A um canto, um lilás meigo e discreto prenunciava a chegada da noite, um rosa claro e vespertino emendava no lilás noturno e ligava-se de forma sublime ao laranja único do poente. Rajadas de branco compunham a pintura celeste, as nuvens, eram as nuvens brancas fofas e sempre presentes. Harry teve dificuldade de enxergar, as lentes de seus óculos refletiam a luz de forma crítica para o interior de seu olho. Ele não pôde ver quem, deles se aproximava, escutou mais uma vez.

– Hei! – a voz estava mais próxima. Harry pôde escutar o barulho da capa roçando no gramado ressequido. Uma fina brisa perpassou o rosto de Harry e o garoto levou o braço até a altura dos olhos para que pudesse ver quem se aproximava.

Era Neville Longbottom, o menino gorducho que todos consideravam um bobalhão, mas que no último ano havia conseguido se safar de cinco Comensais adultos. Sua expressão não era nada animadora. Ele olhava fixamente para a cicatriz em forma de raio de Harry. O garoto sentiu o estômago descer-lhe até as pernas.

– Vocês viram? – Neville finalmente parara de correr. A capa ainda ondulava e em sua mão trêmula um pedaço de jornal enrolado estava fortemente preso a seus grossos dedos. Ele esticou o braço e entregou o jornal a Harry. – Saiu esta edição extra do Profeta Diário! – disse Neville ainda meio atordoado pela longa corrida. Harry começou a desenrolar o pergaminho. – São eles, Harry. Eles estão nas ruas. Eles roubaram as Runas do Gringotes!

– Eles, quem Neville? – perguntou irrequieta Hermione, Rony parecia perplexo e confuso.

– Mi-... Mione... São eles, os C... – não foi preciso Neville terminar. Harry sabia que eram eles. Ele já esperava, só não esperava que tivessem tomado posse das Runas do Gringotes. Ele esticou o pergaminho e viu uma manchete horrorosa: BARBÁRIE PELAS RUAS DE LONDRES. O restante da página abaixo das letras eram fotos de muitos locais conhecidos de Harry. Atrás do enorme relógio do Parlamento de Londres um enorme crânio verde iluminava o céu ainda claro. A Ponte de Birmingham também tinha a Marca Negra iluminando suas grossas colunas. Os parques da cidade, as ruas e avenidas, tudo estava sendo iluminado pela Marca Negra.

– Comensais? – perguntou Gina atordoada.

– Sim, são Comensais. – completou Harry decepcionado. Ainda observando o pergaminho o jornal.

– Harry! – chamou Rony. – Olha para cima.

Não poderia ser. Outra vez não.

– Ah não! – disse Hermione aborrecida. Novamente, pássaros negros rondavam o castelo. Harry sentia que algo não estava bem, ele vira durante à tarde, mas não se importara. Ele sentiu sua força pela terceira vez aquele ano, mas desta vez ele escutou uma voz dizer: Cuidado. – Vamos correr para dentro do castelo! – gritou Hermione.

As horripilantes aves negras desceram e fizeram rasantes. Eram as mesmas aves de couraça negra e dorso queimado pela Marca Negra. Suas rubras pupilas verticais pareciam ter sido forjadas pela raiva. Elas expandiam as asas largas e esqueléticas, começaram a descer em um espiral negro e triste. Quando finalmente estavam apenas a cinco metros de altura, Harry viu que os Dementadores continuavam a conduzir os répteis voadores. Passaram próximas ao grupo de cinco. O castelo é muito longe. Pensou Harry. Ele sacou a varinha. Um horrível cão draconiano já corria em seu encalço. Harry deixou que seus amigos corressem e ganhassem distância. Ele precisava fazer alguma coisa. Virou-se de costas e se deparou com seu maior pesadelo. Uma criatura cuja pele parecia ter ficado anos dentro da água podre de um rio sujo, era possível enxergar os ossos finos e disformes sob a fina camada de pedra em decomposição. Nas mãos do Dementador rédeas de couro enlaçavam o pescoço da mais horrível ave que Harry havia visto, as pupilas verticais o fitavam por breves momentos. Ele sentiu frio. Ergueu a varinha.

DEPULSO! – uma massa de ar explodiu da varinha de Harry e fez com que o cavaleiro negro e sua montaria dali fossem banidos metros atrás.

– Harry! – era Hermione. Ela gritava desesperada. Estava de pé na escadaria de pedra do castelo. Ela apontava para trás do garoto. Ele virou-se e viu três dementadores com seus répteis voadores.

– Ecliar... – Não havia forças, o frio já havia lhe tomado o corpo. – ECLA... – Ele começou a escutar os gritos de sua mãe. Ele estava fraco, seus olhos viam apenas nuances coloridas. Ele escutou a voz de seus amigos em uníssono antes que seus joelhos se dobrassem devido a dor do frio incessante.

TRUNCAT! – a voz de Rony encheu o peito de Harry de alegria e esperança. Eram seus amigos, podia contar com eles. Seus joelhos pararam de doer.

CONGELITUS! – a voz de Hermione apenas reafirmou o que sentia, uma linha tênue de calor começou a tomar conta de si.

EXPECTO PATRONUM! – a voz de sua maior fortaleza ecoou em sua mente fria e vazia. Lembrou-se dos agradáveis treinos de quadribol.

ROCHIDO! – foi a vez de Neville. A voz do garoto fez lembrar-se da parte final da profecia. “Enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar...”. Sua visão voltou ao normal e foi o tempo exato para ver quatro raios coloridos se unirem em apenas um. O rasgo dourado de Rony fundiu-se com o jorro azul de Hermione. Finalmente o patrono prateado de Gina transformou-se em um raio prateado trêmulo e potente que se mesclou ao raio marrom de Neville. Juntos os raios múltiplos ricochetearam nos três soldados negros do exército sujo de Voldemort, fazendo com que virassem pequenas pedras de gelo marrom dilacerado.

Harry ergueu-se e correu ao encontro dos amigos. A varinha ainda em punho. Quando ele avistou o rosto delicado de Gina, seu coração encheu-se de esperança. As aves negras investiam na direção de Harry. Ele apenas gritava palavras de Ordem para varinha e a apontava por cima do ombro sem, no entanto deixar de correr. Em alguns momentos de sorte ele escutava o barulho do feitiço atingindo o Dementador, mas em sua maioria, as aves negras desviavam com êxito.

Ainda faltavam alguns metros para encontrar com os amigos. Ele olhou para cima, havia cinco aves negras que voavam baixo sobre suas cabeças e pareciam aguardar o momento certo para descerem e atacarem. Ele deu largas passadas, mas antes que alcançasse a escadaria de pedra, uma horrível ave negra desceu vôo e o prendeu pelas garras escuras e metálicas.

– Entrem agora! – gritou Harry para os amigos. Harry sentiu as afiadas garras penetrarem-lhe a pele superficialmente. Ele virou a varinha para o animal e exclamou.

Exumai! – houve um flash único de luz branca e o animal grotesco recuou para trás com um guincho agudo e estridente que fez com que todos os ossos de Harry sentissem-se enregelados. Ele virou o rosto e continuou a correr. Ainda não entendia como Dumbledore, ou quaisquer outros professores ainda não haviam aparecido.

As cinco aves negras que sobrevoavam suas cabeças agora desciam velozes e agarravam cada um dos que ali estavam presentes. Hermione foi suspensa no ar e jogada alguns metros mais longe. Rony e Neville foram enxotados pelo relinchar amaldiçoado das aves putrificadas. Restou apenas Gina, sozinha em um pedestal único e ameaçador. Seus amigos estavam presos e impossibilitados. Ele escutava os feitiços, via os espectros mágicos, mas sabia que os Dementadores eram resistentes à maioria das magias existentes.

Com o ombro lesionado, os joelhos doloridos pelo frio exaustivos dos Dementadores e o desespero no coração, ele correu ao encontro de Gina. Nada lhe impedia. Era uma caminhada simples para uma pessoa saudável, mas para Harry naquele momento, tudo era nada e nada era tudo. Os olhos da menina infantil que conhecera há seis anos na plataforma nove e meia brilhavam com lágrimas escorrendo a fio. Ele olhou mais uma vez e viu como Ginevra Weasley se parecia com sua mãe, Lílian Evans. Ele ainda sentia as dores pelo corpo, mas um calor fez com que recobrasse suas forças. Ele correu esperançoso para os braços de Gina.

Em ímpeto lascivo uma ave negra cortou-lhe a visão fazendo com que sua esperança virasse puro ódio. As horripilantes asas draconianas da Ave de Voldemort taparam-lhe a visão e quando a besta ganhou altura ele viu ninguém nas escadarias de pedra. Ele seguiu a ave com o olhar e viu as madeixas vermelhas contrastarem na pele negra da fera.

– HARRY! – ele ouviu seu nome ecoar nos gramados escuros do castelo. As estrelas no céu iluminavam de forma melancólica a cena. Harry não conseguia pensar. O choque parecia ter instalado em seu cérebro uma paralisia momentânea. Tudo parecia movimentar-se com muita vagarosidade. As asas do raptor subiam e desciam num frenesi único e macabro; seus amigos estavam em choque também. Neville e Rony, agora sem os coices das aves de Voldemort, estavam assombrados com a situação e mantinham os olhos arregalados. Hermione estava de joelhos e chorava visivelmente. Os dementadores ganharam altura e levaram Ginevra Weasley dali.

– GINA! – berrou Harry por sua fortaleza.

Não era possível encontrar ninguém que sentisse a fúria que Harry estava sentindo fluir em suas veias. A horrível ave negra subia nos céus e sumia na escuridão profunda da noite. Aquilo não podia ocorrer, não com ele que já havia perdido os pais e o padrinho. Mas ela não havia visto a luz verde, ela fora apenas levada; estava viva! Havia chances de recuperá-la. Ainda era possível.

Ainda observando o céu ele correu até a orla da Floresta Proibida e assoviou um silvo longo e agudo que encheu os gramados escuros do castelo. Ele aguardou alguns minutos, ainda era possível enxergar as aves negras através de nuances escuras e sobressalentes sobre o azul noturno. Ele voltou sua atenção para a orla da Floresta e viu o que procurava. Um cavalo negro e alado; magricela com olhos inexpressivos e leitosos que lhe conferiam um olhar macabro e arrepiante. Eram testrálios; os testrálios de Hogwarts. Haviam muitos ali, mas apenas dois deles arriscavam-se a sair de entre as árvores. Harry subiu no dorso do testrálio mais próximo e comprimiu os calcanhares na barriga do animal para que ele levantasse vôo. O testrálio abriu suas largas asas draconianas e Harry sentiu que havia deixado a terra firme para trás.

O vento frio invadia seus cabelos despenteados e até sua retina secava com a velocidade com que o vento batia-lhe no rosto. Harry olhou para baixo e viu Hogwarts. Bela e imponente. Seus amigos, agora três pontos pretos no gramado verde escuro, pareciam ter finalmente encontrado alguns professores. Antes que pudessem olhar para cima, Harry comprimiu os calcanhares com mais força, o testrálio parecendo entender o desespero e a necessidade do condutor, aumentou a velocidade. As luzes do castelo de Hogwarts pareciam agora pequenos pontinhos dourados que se assemelhavam às estrelas prateadas que salpicavam o céu noturno. As poucas nuvens que no céu remanesceram, ajudaram Harry a esconder-se dos Dementadores, que ainda não haviam sentido sua presença.

Eles voaram por vários minutos. Quando Hogwarts não podia mais ser vista e povoados já haviam sido sobrevoados e, luzes haviam sido vistas, o testrálio de Harry pareceu cansar-se da perseguição incessante. A floresta que agora cobriam numa velocidade incrível estava ameaçadoramente escura. As asas de seu testrálio pareciam ter dificuldade para balançarem. Mas testrálios voam longas distâncias, lembrou Harry. Aquilo não era natural. Harry sentiu algo lhe martelar a cabeça advertindo-o. Virando a cabeça para trás ele viu. Três vassouras o seguiam; seus condutores não eram seus amigos. Eram três Comensais adultos, sendo que o do meio mantinha a varinha erguida. Seu testrálio estava sendo comandado pela Maldição Impérius. Não era possível. Harry encheu-se de uma fúria seca e poderosa.

O garoto ergueu a varinha.

FRACTUS! – Harry nunca havia aprendido aquele feitiço, muito menos o visto, mas uma voz em sua mente lhe disse as palavras de ordem da varinha e ele as repetiu. E para a surpresa do menino-que-sobreviveu um fino pó branco saiu da ponta de sua varinha e fez com que os Comensais urrassem de dor. Harry não imaginava o que aquele feitiço fazia, apenas havia escutado o barulho de ossos se quebrando. Eles começaram a cair até que a escuridão da floresta abaixo os englobou.

Quando ele se livrou dos Comensais percebeu que seu testrálio estava parado. Mas não era por causa de feitiço algum. As horripilantes aves negras também haviam parado de voar, estavam paradas a trinta metros de altura. Uma em especial seguia vôo, provavelmente levando Gina dali. As aves começaram a abrir suas bocarras negras e nojentas. Sobre a língua dos animais uma pequena bola de luz vermelha se formava. As pequenas bolas vermelhas começaram a ser lançadas na direção de Harry que prontamente exclamou.

ECLAIRE! – um relâmpago prateado iluminou a noite escura e afastou dois dos dementadores remanescentes. O restante das bolas de luz vermelha atingiram o dorso lateral esquerdo de seu testrálio. A ave perdeu velocidade e Harry foi ficando para trás, perdendo a manada das Trevas de vista.

– Vamos! – implorou Harry. Ele precisava fazer alguma coisa, estava pondo tudo a perder. Luz vermelha... Como não! Pensou Harry. – Enevarte! – o testrálio de Harry recobrou as forças e virou sua cabeça cavalar para o dono e relinchou. Harry entendeu aquilo como um obrigado. O testrálio começou a ganhar velocidade mais uma vez. Ele voava veloz por entre nuvens e estrelas. Era apenas um borrão negro no céu. Harry avistou três formas escuras à frente que entram dentro de uma nuvem repolhuda, cinza-chumbo.

Ele fez com que o testrálio diminuísse a velocidade e entrasse dentro da nuvem. As vestes de Harry ficaram instantaneamente molhadas. Observou as aves à frente. Em uma delas Gina estava. Nesta ave ele não poderia lançar feitiço ou maldição alguma. Ele lembrou-se das aulas de Tonks, dos feitiços que aprendera e lembrou-se de um muito sutil. Harry suspendeu a varinha e com um aceno amplo ele disse sussurrando.

Charoneux! – uma fina corrente prateada foi expelida da ponta de sua varinha. Harry sacudiu a varinha e o chicote de prata balançou imponente dentro da nuvem escura. As pontas do chicote mágico enrolaram-se na ave de Voldemort da esquerda. Ele puxou a varinha com força e a ave perdeu altitude e velocidade, sendo banida da nuvem. Restavam apenas dois. Em quem usar a força do chicote? Harry fechou os punhos e exclamou mais uma vez.

Charoneux! – a mesma corrente prateada foi conjurada e Harry, sem pensar ou decidir, brandiu o chicote contra uma das aves negras. Ele apenas escutou o estalido seco do couro sendo fustigado pela prata pura. Ele puxou as pernas do animal e escutou um som de desespero. Não era um guincho da ave ou um grito ensurdecedor do Dementador. Era o grito de Gina. Ele fizera com que sua fortaleza caísse a mais de trinta metros de altura. Harry parou no ar. Viu apenas o dementador salvar-se flutuando e a ave recobrar altitude. Gina caía até que Harry a perdeu de vista.

Tomado pelo desespero do arrependimento Harry começou a descer. O testrálio descia uma vertigem a uma velocidade inimaginável. O que fizera? Por que não escolheu o outro, porque não esperou por ver qual escolher? Porque fora tão burro? Perguntas assolavam o cérebro enquanto descia do alto céu até onde Gina havia desaparecido. O garoto levou a mão até o peito e segurou a medalha que recebera de Dumbledore. Antes de atingir o solo, ele ainda segurou mais forte na medalha da fênix e gritou.

– Dumbledore! – Harry avistou sombras coloridas. As lágrimas lhe atrapalhavam o sentido ocular. Harry desceu do testrálio e quando sua visão turva, pelas lágrimas do desespero, foi limpa pela manga úmida das vestes de Hogwarts, ele finalmente viu onde estava. As ruas eram largas e asfaltadas. Nas calçadas, altos postes de três lâmpadas iluminavam a rua escuta. Cabines telefônicas de cor vermelha era a única cor vibrante ali. O restante era cinza e pobre de vida. Era inquestionavelmente Londres. A Marca Negra que havia sido noticiada em edição extra do Profeta, não mais brilhava no céu londrino. Mas o mais triste foi ver onde em Londres ele estava. Na rua não havia ninguém senão ele. E em sua frente uma enorme praça, com bancos de madeira e mesas de xadrez, árvore e canteiros de flores. Um praça como outra qualquer. A um canto uma plaqueta erguia-se e podiam ler-se os dizeres: Largo Grimmauld. Harry virou-se de costas e viu que havia duas casas, lado a lado. A casa de número onze e a casa de número treze. Não havia o número doze. E Harry suspeitava o porquê. A ave provavelmente havia entrado no número doze, assim como Gina e o Dementador.

O número doze era onde outrora a Ordem da Fênix fixara-se. Porém, pela ação maléfica de um elfo inescrupuloso e fiel a sua mestra, o Feitiço que guardava a sede da Ordem havia se desfeito, sendo quebrado, não pelo fiel, mas pelo adjacente. Mesmo o segredo ainda Guardado, Dumbledore preferiu construir outra sede, menos curiosa e mais segura. Harry sabia que Narcisa e Bellatrix Lestrange eram as donas atuais da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black, e também tinha certeza que Gina estava ali dentro. Tomado pela fúria que lhe ocorrera minutos antes Harry gritou.

– SEU FRACO! – gritou Harry, perdigotos foram disparados. – VOCÊ NÃO TEM CORAGEM PARA APARECER, NÃO É MESMO?

Harry brandiu a varinha e explodiu duas latas de lixo à sua frente. Elas explodiram com um som abafado e metálico que retiniu na rua vazia.

– APAREÇA LORD VOLDEMORT! – vociferou Harry desdenhando seu nome devido a raiva e decepção que sentia arder no peito. Harry fechou os olhou e começou a caminhar de um lado para o outro. Quando voltou a abrir os olhou, viu que da fresta entre os números onze e treze uma chama verde perolada ardeu e um pergaminho surgiu. Era verde e possuía poucas letras escritas. Harry exclamou. – Accio pergaminho! – o pergaminho verde voou até sua frente. Harry não o tocou, suspeitou que poderia ter sido amaldiçoado ou enfeitiçado. Ele brandiu a varinha e o pergaminho flutuou até a altura de seus olhos. Uma caligrafia em rubra tinta, torta e garranchosa dizia.







Nos diga onde escondeu As Runas do Gringotes e libertaremos sua namoradinha tola e fútil. Ah, me esqueci, ela está lhe dizendo algo, mas creio que representar gritos no papel não seja algo compatível com pena e pergaminho. Não se demore ou nem gritos haverá. Nos diga e ela sai ilesa.





Harry não acreditava no que lia. Não pôde deixar de ficar feliz por descobrir que Voldemort não tinha tomado posse das Runas, mas desesperou-se ao ver o quê com Gina estavam fazendo. Harry escutou um estalido. Ele olhou para trás e viu que um bruxo, com longas vestes marrons, caminhava em sua direção. Com o capuz cobrindo seu rosto Harry suspeitou que fosse um Comensal. O garoto ergueu a varinha.

– Quem é? – perguntou imperando. Ele escutou outro estalido e do outro lado da rua, uma bruxa com vestes magenta e cabelos roxos acabava de aparatar ao lado de um bruxo de vestes velhas e esfarrapadas. Eram Ninfadora Tonks e Remo Lupin. Ele escutou o barulho oco de madeira contra o asfalto. Ele virou-se e viu que o bruxo de capuz estava a poucos centímetros de distância. Harry fez um amplo aceno com a varinha...

– Não seja tolo garoto Potter... – não era uma voz, era na verdade um rosnado. Era Alastor Moody, um ex-auror muito competente que já havia prendido muitos Comensais e por isso, lhe faltava um pedaço do nariz além de um olho, que fora substituído por um olho mágico e azul-elétrico que podia enxergar por através de capas de Invisibilidade e objetos sólidos. – Fixe-se no número doze. Dumbledore e McLaggan me contaram de sua força. Conto com você, garoto.

Harry não teve tempo de perguntar quem era McLaggan, pois quando se virou viu que uma multidão havia ali desaparatado. No mínimo uns sessenta bruxos estavam ali fora, esperando uma reação do número doze. Harry avistou rostos conhecidos, como Quim, Emelina, Dédalo, Estúrgio, Mcgonnagal, Snape, Molly, Arthur, e outros como Mundungo, Hagrid e Madame Máxime, Flitwick e Rosmerta. Fred, Jorge, Fleur, Carlinhos, Krum e Gui estavam juntos noutro extremo da multidão bruxa. Haviam outros conhecidos, mas Harry não os viu. Moody e Harry estavam quase que exatamente no meio da multidão, foi quando uma pequena porta de carvalho apareceu no asfalto. Harry preparou-se. Ergueu a varinha. A maçaneta girou.

Era Alvo Dumbledore e seus amigos, Rony, Mione, Luna e Neville. Harry espantou-se ao vê-los. O diretor de Hogwarts usava longas vestes douradas e uma belíssima capa azul-miosótis com a barra das longas mangas em dourado, combinando com o chapéu pontudo também azul-miosótis com uma larga faixa dourada na parte inferior. O velho bruxo tinha os olhos azuis emoldurados pelos seus típicos oclinhos de meia-lua suspensos no ar pelo seu nariz branco e torto. Ele não parecia ter raiva, tampouco estava preocupado. Seu semblante era de pura serenidade. Seus amigos ainda trajavam as vestes de escola; Luna embora não tivesse presenciado o Rapto de Ginevra, parecia tão preocupada quanto os outros que haviam visto, talvez à exceção de Rony que parecia ainda não ter se recuperado do trauma inicial. À volta de Dumbledore uma áurea de poder foi formada. Ele olhou para Harry. Seus olhos não expressavam desgosto, culpa ou desaprovação. Ele apenas disse.

– Harry, você não sabe os amigos que possui. – Dumbledore voltou a olhar para o número doze. Ele admirou o céu por alguns segundos e ergueu a varinha. Ele encheu-se de uma fúria gelada que fez com que Harry recobrasse toda a sua força. Seu ombro pareceu aliviar a dor e sua fúria agora estava controlada. Seus amigos correram para trás de Harry.

– Dumbledore não gostou da nossa vinda. – sussurrou Hermione em seu ouvido.

– Quase o azaramos. – afirmou Neville muito convicto.

– Eu cheguei a... – Não houve tempo de Luna explicar como havia encontrado-os.

Dumbledore apontou a varinha para o céu.

PHOENIX FLAMARIOUNS! – uma fênix de fogo saiu da ponta da varinha do diretor. Sua cauda era formada de espiral de fogo que subia no alto céu da noite escura. O canto melodioso da fênix encheu o coração de todos com esperança, coragem e força. A fênix de fogo subiu no céu e descreveu círculos sobre onde seria o número doze. Neste exato instante a fênix de Dumbledore, Fawkes, pousou no ombro do diretor. Ela abriu o bico fino e dourado e cantou uma melodia agradável que apenas reconfortou-os ainda mais. Harry olhou para o céu. A fênix que Dumbledore havia conjurado ficou imóvel no céu escuro. Era exatamente como a Marca Negra, porém era dourada e havia uma fênix no lugar do crânio de costume.

O silêncio ondulou entre os presentes. Nem mesmo o vento ousou balançar as verdes folhas das árvores. Nem as cigarras cantaram, ou os grilos fizeram seu barulho típico. A noite não era noite, era apenas breu. Não havia lua, estrelas ou nuvens, apenas a Marca da Fênix no céu. Após longos minutos de silêncio e exaustão. Um silvo agudo e frio foi escutado. Entre a fresta do número onze e o número treze, uma casa começou a surgir. O silêncio intensificou-se. Começou por uma porta alta, negra e com uma enorme alça no lugar da maçaneta. As janelas quadradas e gradeadas surgiram logo após. Era sem erro algum a Mansão dos Black, a casa que, outrora pertencera a seu padrinho. Os olhares estavam fixos na porta central. Ouve um rangido alto e assustador. A fresta aberta pela porta abriu uma larga faixa de luz dourada no asfalto negro.

Dois seres encapuzados de varinhas em punho saíram e logo atrás seguia Tom Riddle. Era uma criatura semi-humana. Dentro de seu peito não mais havia um coração, apenas o vazio que os escaravelhos haviam feito. As mãos finas e aranhosas haviam sido reconstituídas pelo pior poder das Trevas conhecido. No lugar do nariz, apenas fendas verticais. Os olhos rubros de pupilas verticais eram a marca da transformação ofídica. Eram os olhos de Nagini, sua cobra egípcia e traiçoeira.

Aos seus pés uma cobra prateada muito comprida e grossa rasteja sorrateira e maliciosa. Era Nagini, seus losangos coloridos em sua cabeça triangular pareciam hipnóticos e Harry preferiu não observá-la muito. Os olhos cruéis de Voldemort fixaram-lhe a cicatriz.

– Harry Potter... – sibilou ele, sua pele era tão branca que não poderia ser viva. – Dumbledore... Que prazer recebê-los. – disse irônico. Ele brincava com a varinha de forma fútil e tola. Parecia mais confiante que no ano anterior, menos pesaroso. – Ah, Dumbledore... Você não foi gentil em roubar as Runas do Gringotes. Acho que sua ministra ficaria satisfeita em saber porque um bruxo tão bom assim o fez, não?

– Você realmente se considera um menino astuto, não é mesmo Tom? – disse Dumbledore como se nada o afligisse. Harry sentiu uma gota de suor descer-lhe a testa. Estava nervoso. – Você realmente acreditou que as Runas ficariam à sua disposição? – Dumbledore ergueu as sobrancelhas, irônico. – Creio que não seja tolo a este ponto.

Voldemort deu uma risada fria e cortante que invadiu o silêncio e encheu a noite de terror.

– Vamos Dumbledore! Não me faça matar aquela pirralha traidora... – disse Voldemort ameaçadoramente – As Runas por ela. – Voldemort abriu um sorriso sem dentes. O rasgo que se compreendia sendo sua boca abriu com uma ironia maléfica.

– Tom, acho que você ainda não entendeu porque estou aqui. – E dizendo isso Dumbledore encheu-se de uma fúria gelada que era presente em cada fenda de seu rosto experiente. Um furor inocente e poderoso parecia irradiar de sua varinha. À sua direita um bruxo alto de cabelos sebosos empunhava uma varinha longa e poderosa, que Harry já havia conhecido, na direção do peito do Comensal a sua frente. À sua esquerda, uma jovem senhora com longas vestes verde-escocês, também mantinha a varinha erguida, visando o coração do outro comensal. Na cabeça um coque parecia prender todo o poder que nela era encerrado.

Do outro lado da rua úmida e fria, Voldemort, o Lorde das Trevas mantinha os olhos fixos na varinha de Dumbledore. As vestes verde-escuras contrastavam com sua pele branca e semitransparente. Os Comensais ao seu lado levaram as mãos aos capuzes e o abaixaram. Eram Bellatrix Lestrange e Narcisa Malfoy. Uma bruxa de longos cabelos negros, lisos e sedosos tinha os olhos negros tomados por uma raiva macabra. A curta varinha de madeira escura parecia apontar para o peito de Snape. Ela parecia cheia de rancor. Narcisa por sua vez tinha seus belos cabelos louro-prateados entrelaçados em uma trança. A varinha apontava para o peito de McGonnagal, a Comensal parecia grata por aquilo, como se antigos desejos agora fossem realidade.

A linha que ligava os olhares de Dumbledore e Voldemort era mais resistente que o cordão dourado do Priori Incantatem que havia ligado a varinha de Harry à de Voldemort, dois anos mais cedo. Eles pareciam batalhar mentalmente. Legilimencia e Oclumência avançada lutavam ferozmente na rua silenciosa e escura. Harry tentou se mexer, para acabar de uma vez por todas, mas uma mão invisível o segurou. Ele olhou para os lados e viu a varinha de Moody apontada para ele. O ex-auror apenas consentiu fechando os olhos. Após Dumbledore contrair as sobrancelhas e Voldemort levar as mãos ao rosto, o duelo mental pareia ter acabado.

– Não se mexam! – exclamou Voldemort visivelmente abalado dos ataques e investidas contra sua mente. Ele parecia atordoado, mas ainda sim consciente. – Você pensa que pode me derrotar, não é mesmo Dumbledore? – Voldemort parecia depreciar a perda de tempo. – Não seja tolo... – Dumbledore negou com a cabeça.

Voldemort ergueu a varinha, parecia indignado da ausência de fúria em Dumbledore. O Lorde brandiu a varinha e um raio verde e tremeluzente cortou o silêncio da noite. Dumbledore desaparatou e reapareceu, metros à frente. McGonnagal ao seu lado parecia muito concentrada.

– Tom, você terá suas Runas esta noite.

– Não chame meu Lorde, de Tom! – berrou Bellatrix perdendo a compostura – Seu velho imundo e nojento! – Ela lançou uma maldição preta contra Dumbledore, mas a reação foi tão rápida que Harry não pode ver como ocorrera. Do nada um globo de luz roxa circundava Dumbledore. Era um escudo suficientemente forte para banir a maldição negra para o céu escuro.

Bella! – Voldemort chamou a atenção, fazendo com que a Comensal caísse de joelhos e pedisse misericórdia a seu Lorde. Os olhos de Voldemort ainda fixos na proposta ainda não terminada de Dumbledore.

– Como dizia – até mesmo Harry começou a se irritar com a calmaria do diretor –, você terá suas Runas esta noite. Mas creio que para isso você terá de me devolver, Ginevra Weasley. Apenas uma criança, que não tem consciência do que se passa aqui. – Harry sabia que ela não era uma criança e que muito menos não compreendia a guerra, mas seus ímpetos para correr e esbofetear Voldemort, eram inúteis.

– Apenas isso? – disse Voldemort, seus olhos sedentos por mais poder – Sem jogadas ou brincadeiras, certo? – Era fato que pareciam crianças dialogando sobre o seqüestro de fim de semana de um carrinho de corrida ou um brinquedo qualquer, mas acima de qualquer suspeita, Harry confiava no que Dumbledore dizia, além de acreditar que ele não fosse burro a ponto de perder uma vida tão infantilmente.

– Apenas isso, Tom. – Dumbledore sorriu – Nada mais que isso.

– Onde estão as Runas? – perguntou Voldemort desconfiado. Dumbledore levou o dedo fino até a boca. Harry sentiu medo. – ONDE! – vociferou o Lorde das Trevas. – DIGA DUMBLEDORE! NÃO BRINQUE COMIGO!

Voldemort ergueu a varinha e de sua ponta um fio de cabelo foi dissolvido no ar. Era vermelho vivo e longo, como se fosse até as costas de alguém. O fio de cabelo ficou pendente no ar por alguns minutos.

– Você sabe o que é isto Dumbledore? – informou Voldemort com a serenidade forçada sobre a raiva da curiosidade. – Acredito que sim. – respondeu Dumbledore, ele parecia um pouco preocupado agora. E Voldemort notou isso. – Não se preocupe... Apenas me diga onde...

– Próxima à estação de metrô Vauxhall. – disse Dumbledore. Harry sentiu a mão invisível soltar-lhe. Ele olhou para o lado e viu que Moody parecia desconcertado com a decisão do amigo Dumbledore. Ele apenas abaixou o pescoço e o pendeu negativamente por alguns segundos. – Me aguarde na estação. Estarei à sua espera.



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