McLaggan



CAPÍTULO QUARENTA – McLaggan







Assim que todo rastro ou espasmo de fumaça desapareceu, uma calmaria pareceu ser criada a partir do corpo caído de Dumbledore. Snape ao seu lado, tentava dar-lhe de beber um líquido fumegante de um frasquinho de bolso. Madame Pomfrey não se encontrava visível. Ainda haviam espectros coloridos brilhando no céu, mas a única coisa que Harry podia pensar era no que havia acabado de acontecer, algo magnífico e perigoso. Algo inextricável. Harry caiu de joelhos sentiu a cicatriz arder em brasa, mas ela ardia pela fúria do Lord.



Os olhos semicerrados deram a Harry uma visão ampla do que ocorria, mas era evidente que o feitiço de Dumbledore já havia perdido o efeito, visto que o McLaggan veio por trás de si e o acolheu com uma capa cor de vinho. Moody e Tonks, algum dos progenitores do maior escudo mágico que Harry já havia visto, cuidaram de conjurar algemas douradas e brilhantes para os Comensais que haviam derrotado. Ainda que muito embaçado Harry notou que havia muito sangue no rosto de Moody e havia dois buracos abaixo da testa, seus dois olhos não estavam nas órbitas; um buraco estava obviamente seco, mas o outro não parava de sangrar. Borgins, o bruxo velho e trapaceiro da Travessa do Tranco recebeu algemas douradas fortemente presas nos punhos e calcanhares.



Narcisa Malfoy a duelista de Tonks se encontrava estuporada no chão, estava obviamente desmaiada, mas a expressão moribunda deu a Harry um outro pressentimento. Tonks conjurou as algemas douradas que se agarraram com força no punho alvo e delicado da Sra. Malfoy. Os cabelos da Comensal estavam espalhos pelo chão como uma enorme estrela brilhante, loura-prateada. Próximo a Comensal uma outra mulher loura estava estirada no chão, era a jovem Fleur Delacour; sua varinha estranhamente comprida e acinzentada estava à metros de distancia, próximo de uma montanha desacordada que recebia o nome de Vítor Krum. Os Comensais responsáveis, Peasegood e Bonani, foram pegos pela fúria de Gui e Carlinhos Weasley que lutaram bravamente, mas conseguiram estuporar apenas um deles, Bonani fugiu ileso.



Próximo ao beiral da ponte haviam dois corpos estranhamente azulados, pareciam congelados, mas Harry sabia que não estavam, pois fumegavam como chama da lareira. Os olhos vidrados e inertes pareciam suplicar pela vida, mas nada, nem ninguém, os escutavam. O nariz e boca do bruxo estavam em um ângulo impossível e torto que davam ao dois, expressões de terror. Harry sabia quem eram os dois, dois Comensais astutos e leais a Voldemort, eram Avery e Nott, pai de Theodore, o insosso sonserino amigo de Draco. Snape os havia realmente amaldiçoado, Harry duvidou que aquilo não fosse magia negra. Não sobreviveram.



O único duelo que ainda era disputado era entre Percy, Rabicho, Lupin, Fred e Jorge Weasley. Os traidores da Ordem mostraram mais bravura e furor do que todos os Comensais juntos, não lutavam pela causa de Voldemort, mas por suas próprias, o medo comum. Jorge e Fred não pareciam acreditar na babaquice de Percy, mas não deixavam de duelar com a força que dispunham. McGonnagal estuporou Percy, mas o mesmo foi acordado por Bulstrode na fuga desenfreada pelas fendas escuras de Vauxhall. Rabicho brandia a varinha contra o antigo amigo maroto e sua mão prateada brilhava no escuro da noite silenciosa. Falar era difícil para todos.



Mas o último feitiço da noite foi extremamente barulhento. Num último ímpeto de fúria Rabicho lançou contra Lupin um raio negro avermelhado que fez um estrondo infernal e mortífero. Lupin ergueu a varinha e conjurou um escudo gigantesco de pêlos marrons e dentes afiados. As chamas negras consumiram a resistência do escudo, mas quando Lupin brandiu a varinha mais uma vez, seu escudo explodiu em mil pedacinhos e finalmente refletiu a maldição que atingiu Percy em cheio no rosto.



O mais ambicioso dos Weasley tentou um movimento com a varinha, mas não atingiu o êxito a tempo. Sufocado pelo poder das chamas, Percy vislumbrou seu fim chegar em câmera lenta. Ele se debateu desesperado, mas havia chamas em todo o seu corpo. Nada poderia impedir a cremação completa e dolorosa. Harry quis ajudar, mas não tinha mais forças, a varinha, na mão direita, fervendo. Lupin não podia parar o duelo com Rabicho que agora corria contra o antigo amigo de Escola. Percy olhou para os irmãos desesperado, clamando por uma ajuda à vida. Ele gritava e se debatia com força, não entendia por que eles ajudavam. Mas Harry entendeu, eles estavam em choque, as pernas arqueadas e os braços caídos os deixaram estáticos.



– PEEERCY! – era a voz desesperada da mãe. A Sra. Weasley surgiu do meio da multidão, a varinha erguida na direção do filho. Ela lançou jatos congelantes, jorros de água fresca e cubos e gelo foram disparado contra Percival. Mas as negras chamas eram mais fortes e resistentes que os feitiços domésticos de Molly Weasley. – MEU... – Percy desmoronou. O fogo obscuro consumiu-lhe as pernas e elas não mais sustentavam o peso de sua capa negra e pútrida. – NÃÃÃOO! – mas desta vez não foi à voz de Molly Prewett Weasley que gritou por justiça. Era a sétima filha Weasley, uma bruxa poderosa e amável, Ginevra Molly Weasley. Percy sempre a protegia dos irmãos mais velhos e ela sempre fora a que mais acreditava na reconciliação com Percy.



Mas não havia sido assim, a guerra que havia levado tantos outros, agora tomara Percival. Molly tropeçou nos corpos estuporados e ficou silenciosamente triste e imóvel, no chão. Ela soluçava e parecia não dali querer sair. Gina, a fortaleza que Harry salvara ainda naquela noite, veio arrastando os pés choramingando para junto da mãe. Ela agachou-se e abraçou as costas da mãe.



Rabicho, o traidor maldito que Harry um dia lhe salvara a vida permanecia a lançar maldições contra Lupin, o lobisomem que fora discriminado por toda sua vida e que finalmente parecia começar a trilhar um caminho mais justo. Os antigos marotos de Hogwarts travavam a batalha sangrenta e mortífera estipulada pelos desejos maléficos e individualistas de Lord Voldemort.



Rabicho corria na direção do antigo amigo de escola, a mão de prata apontada contra o coração de Lupin. Faltavam poucos centímetros para que a prata letal dos dedos grossos de Rabicho perfurassem o peito lupino de Remo. Então, como se Dumbledore estivesse ao seu lado, Harry escutou a voz do diretor em seu ouvido.



Um laço contratual mágico.



Com as últimas gramas de oxigênio que ainda restavam em seus pulmões cansados e abatidos pelas longas horas de duelo e debate, Harry abriu a boca e gritou brandamente pela rua estranhamente parada.



PARE PEDRO PETTIGREW! EU O ORDENO! – e Harry sentiu um vento frio e gelado transcender-lhe o corpo ainda inerte no chão. Ele levantou o pescoço vagarosamente, a cabeça pendendo e viu a mão de Rabicho obrigar-se a voltar para trás. Salvara a vida de Lupin, e prezava por isso. Harry só pôde ver as algemas de Tonks enroscarem o pulso prata antes que desmaiasse no chão frio da ponte úmida.







Era um aposento relativamente amplo, haviam janelas quadradas a toda volta por onde ardentes raios de sol penetravam e transformavam a comum poeira do ar em grânulos brilhantes e sedutores. As paredes eram de pedra fria e lisa, eram muito limpas para serem as antigas pedras de Hogwarts. Velas suspensas iluminavam o salão. Harry estava deitado em uma cama macia de cabeceira de ferro branco com lençóis verdes claros com listras brancas. Havia um cheiro alcoólico no ar. O chão também de pedra possuía pequenos ladrilhos verde-medicina e uma cobra estava entalhada no centro dos mesmos. Harry estava deitado, um olho meio aberto e o outro totalmente fechado. Mas ao vislumbrar o entalhe serpentino do chão desesperou-se.



Harry deu um solavanco e escutou o barulho retinindo de frasquinhos e instrumentos de metal serem titubeados pela revolução na cama. Harry abriu os olhos e viu tudo embaçado, as janelas quadradas ainda brilhavam e Harry escutou uma voz fria dizer-lhe.



– Harry Potter... – Harry procurou sua varinha, mas o homem lhe respondeu. – Está guardada, não se preocupe. – Harry viu o homem entregar-lhe algo negro e ao tocar viu que eram seus óculos. Ele os calçou e finalmente tudo entrou em foco. Para sua surpresa, o homem era o amigo de Dumbledore, que Gina chamara de McLaggan.



– Onde estamos? – perguntou Harry confuso, a cabeça latejando enquanto algumas cenas da noite anterior invadiam-lhe a mente. Seu pé derretendo, a estação explodindo, Dumbledore sendo derrotado, o desaparecimento e a ira de Voldemort, a morte de Percy e por fim o resgate de Lupin. E ele ouviu o barulho assustador da varinha de Dumbledore cair no chão novamente. – Onde está Dumbledore? – O bruxo deu um sorriso amarelo, os cabelos desgrenhados e laranjas pareceram diminuir o volume pela periculosidade da pergunta. Ele aproximou-se da cama de Harry, a cabeça abaixada, os passos arrastados e a respiração alta.



– Harry... posso lhe chamar assim? – perguntou cuidadoso recostando-se na barra da cama de ferro branco. Harry confirmou com a cabeça, esperava pelo pior, seu cérebro lateja pela perda, mas ainda sentia um fio único e tênue de esperança. – Harry, bem começando pela sua primeira pergunta você está no Hospital St. Mungus. Você estava tão fraco pelas forças gastas na batalha que Madame Pomfrey recomendou que você viesse direto para cá. McGonnagal pediu que você ficasse em um quarto particular e isso lhe foi concedido.



– Mas eu estou bem! – afirmou Harry em falsete e sentiu a cicatriz arder e as costelas doerem.



– Bem você só ficará esta manhã, – explicou o bruxo – acharam melhor lhe dar uma Poção Revigorante. Todas suas imunidades estavam em baixa, mágicas ou não. – complementou brandamente, a voz grave enchendo o quarto de hospital. Harry fez que ia abrir a boca, mas antes mesmo que concretizasse sua ação, McLaggan o interrompeu. – Sobre Dumbledore. – O bruxo baixou os olhos e ficou por longos segundos a fitar as dobras de suas pesadas vestes de veludo carmim. Ele suspirou e ergueu o semblante preocupado. – Dumbledore não está bem. – Harry hesitou. Suas entranhas pareceram derreter e ele apenas sentia o batido rítmico do coração pulsante.



– Como assim? – perguntou desesperado, a voz pastosa.





– A maldição que Voldemort lançou em Alvo é conhecida como a Maldição do Cemitério. – McLaggan respirou – Voldemort a criou; e somente usa àqueles que deseja ver definharam perante a morte.



– Definhar perante a morte? – o cérebro de Harry esforçava-se para entender – Dumbledore vai morrer?



– Os curandeiros estão tentando todos os métodos possíveis e impossíveis, para salvá-lo. – McLaggan olhou para Harry, os olhos rubros do leão o encararam clamando pela coragem – Eles infelizmente acham, porém que Dumbledore não resistirá mais do que um dia.



Harry sentiu a boca secar. Os olhos queriam chorar, mas não havia vida em seu rosto. Acima de qualquer coisa, Dumbledore era o pai que perdera, acima de Sirius, Dumbledore sempre esteve ao seu lado, sempre o protegeu, sempre o assegurou a felicidade e agora terminaria assim? Perante a morte? Não era possível que a vida de Harry pudesse ser tão desgraçada e predestinada às perdas constantes de amigos e parentes. O pobre garoto de dezesseis anos não acreditava que os profundos e sábios olhos azuis não poderiam mais lhe aconselhar diante de horas difíceis. Em meio a tantos pensamentos tristes e alucinações melancólicas a voz de McLaggan foi ouvida.



– Harry! – chamou-o á atenção – Lembre-se do que ele mesmo dizia, as pessoas que realmente amamos nunca se vão para sempre.



– Quero vê-lo. – pediu Harry, já se levantando da cama.



– Você não pode.



– Quem vai me impedir? – perguntou Harry já de pé encarando o bruxo.



– Por favor, você vai vê-lo. – disse com a voz branda – Você precisa escutar.



Harry olhou desconfiado e duvidoso, quando deu o primeiro passo no chão frio sentiu o pé queimado na noite anterior latejar. Harry apoiou-se na cama e voltou a sentar, encarou o bruxo com a pressa das formigas no verão.



– O que realmente importa, é que neste instante você me conheça. Quem eu sou, por ajudo Dumbledore e porque jamais o ajudei até então. – O bruxo tinha no olhar o furor da lembrança de reminiscências passadas. – Meu nome é Patrick McLaggan. Sou um bruxo velho e amigo de Dumbledore, na verdade, mais do que imagina. Conheci Alvo ainda em Hogwarts. Ele lecionou-me Transfiguração e era um excelente professor, aprendi mais com ele que qualquer outro bruxo na vida. Por sorte, ou azar não sei dizer, não fui da época de Tom Riddle, mas conheci as lendas que envolviam a Câmara Secreta. Remontavam aos antigos quatro fundadores de Hogwarts, Helga, Rowena, Godric e Salazar. O último havia construído um refugio em Hogwarts, sem conhecimento dos demais, fora infelizmente algo que ninguém acreditava possível.



– Sim. – disse Harry – E o que eles tem à ver com você?



– Muita coisa Harry. – McLaggan tirou de dentro das vestes um pesado brocho de ouro e rubi, havia um belo “G” entalhado no meio com diversos floreios finos e delicados, um brasão de família. – Olhe isto. – disse mostrando o broche – Fora de meu pai.



– Por que o brasão dos McLaggan possui um “G”?



– Por que os McLaggan não existem. Este nome é uma fantasia arbitrária adotada por meus mais antigos tataravôs. Cansaram-se da incômoda vida de “conhecidos”, digamos assim.



– E quem eram os seus avós? – perguntou Harry analisando o brioche e reconhecendo-o de algum lugar muito familiar.



– Amigos dos seus. – afirmou Patrick de forma repentina. Harry ergueu a cabeça do broche para o homem.



– Meus avós? – perguntou Harry descrente.



– Sim, Harry. – afirmou – Na verdade, seus tataravôs. Eles trocaram de casa, vilarejo e vida. Os Potter sempre foram extremamente dignos e acolhedores. Quando meu mais antigo ancestral cansou-se de viver se escondendo, abandonou Godric’ Hollow. Foram os seus avós que ocuparam o vilarejo como um favor aos amigos Gryffindor.



Harry engasgou com a própria saliva.



– Gryffindor? Você é descendente de Godric Gryffindor? – perguntou Harry pasmo – O fundador de Grifinória e Hogwarts?



O bruxo confirmou com a cabeça.



– Sim Harry. Sou descendente de Gryffindor, minha família se escondeu por séculos nos campos trouxas e nas cidades pacatas e sem magia, não agüentaram a pressão. – afirmou convicto e apontando para si mesmo completou – E nós, os filhos, mesmo sem conhecer esta pressão mantivemos a tradição e escondemos nossos poderes para não chamar atenção da comunidade bruxa. Mesmo o ministério desconhece nossa existência, pelo menos até eu nascer.



– Por que até você?



– Porque eu fui o primeiro filho de Gryffindor a freqüentar Hogwarts. De alguma forma, que mais tarde acabei por descobrir a carta convite de Hogwarts chegou à fazenda de meus pais. Eles ficaram extremamente alarmados e tentaram me impedir de ler a carta, mas por fim decidiram me contar toda a história da minha família.



– E você foi, não é mesmo?



– Sim, sim... Eu fui a Hogwarts e, o Chapéu Seletor reconheceu seu dono imediatamente assim que cheguei em Hogwarts. Mas, por minha vontade, ele permaneceu quieto quanto minha identidade na noite de Seleção. – McLaggan olhou para o horizonte além da moldura quadrada das janelas e ficou estático por alguns minutos, ainda falando. – Cresci feliz em Hogwarts, havia encontrado minha verdadeira casa, a fazenda nunca havia me satisfeito. Foram os melhores sete anos de minha vida, lá conheci Dumbledore, que alguns anos após minha saída tornou-se diretor.



Houve um estalido eco e agudo e a porta do quarto abriu-se. Um bruxo, com longas vestes brancas, procurou na sala com os olhos e por fim parou em Harry.



– Sr. Potter? –disse o bruxo de feições brutas – Acho que você já pode visitar o Sr. Dumbledore.



– Ele está indo. – respondeu McLaggan pelo garoto. – Então é isso Harry. Dumbledore me prometeu lhe contar sobre isso, quando ele não o pudesse fazer, ele já sentia que sua missão estava terminando. – Harry levantou ainda confuso da cama e correu até a porta e saiu à procura de Dumbledore.



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