Todo mundo se machuca...

Todo mundo se machuca...



Três semanas se passaram e mais uma folhinha fora arrancada do calendário...

Gina havia retomado o que Mione chamava de "sanidade" e "vida normal". Tinha inventado uma mentira qualquer para Lenina, para Rony e para todos que perguntavam porque ela estava tão abatida naqueles dias. Não se importou quando todos pensaram que sua tristeza era pela retomada de namoro de Harry e Parvati. "Que pensem o que quiserem...".

Por ser a única que sabia da verdade, Hermione era a mais esforçada em fazer Gina feliz, levando-a para cima e pra baixo e não deixando que ela ficasse sozinha um instante sequer. Não era só o receio de que ela voltasse a se encontrar com Malfoy, ela também queria poupar a amiga de ter que ficar a sós com seus pensamentos. Ela não conseguia compreender como alguém tão doce como Gina podia gostar tanto de uma pessoa tão...tão...tão Malfoy! E se Hermione já o detestava, agora isso era um caso de quase ódio. Que ele lhe chamasse de sangue ruim tudo bem, mas fazer sua amiga sofrer? Não haviam sido poucas as vezes que Gina tinha impedido da monitora ir tirar satisfações com ele em plena hora do jantar. Jantar... Às refeições Gina comparecia por mera formalidade, já que não estava comendo normalmente. Um olhar mais atento perceberia que ela tinha perdido algum peso naquelas semanas e que já não corava tão vigorosamente como antes. E claro que ela tinha o cuidado de sentar-se de costas para a mesa da Sonserina. Tinha tanta vontade de falar com ele! Mas como poderia se não agüentava nem olha-lo?

Gina não conhecia palavras suficientes para agradecer Hermione por estar a ajudando tanto... Ou tentando lhe fazer companhia pelo menos. Mas em uma tarde nublada de sexta-feira, Gina teve que pedir alguns minutos para ficar sozinha. Se sentia sufocada as vezes. Não pelos amigos, mas por sí mesma. Pelo sentimento cruel que impedia que ela sorrisse. Precisava ficar sozinha... Sem nenhum plano, nenhum motivo. Apenas queria ficar consigo mesma, talvez entender tudo aquilo que tinha acontecido. Quem sabe até descobrir o ponto onde ela tinha perdido o juízo e se entregado a aquele sentimento que agora a torturava.

- Se cuida... – a despedida de Mione fazia parecer que Gina daria a volta ao mundo. Ela só ia dar uma volta pelos jardins.

***

- Estão sabendo da última? – disse Pansy Parkinson invadindo a conversa dos meninos do time de quadribol da sua casa.

- Não, mas eu aposto que você sabe... – Draco irônico. Ela não entendeu.

- Sei mesmo!

- Então, nenêm, diz logo e desaparece depois. – disse Montague rudemente.

- Eu desapareço, pode deixar... - Apesar da total grossura da ordem, Pansy pareceu gostar muito e deu um beijo rápido no capitão do time (e ainda seu namorado).

"Porque quando EU mandava essa ridícula sumir ela não sumia?", Draco pensou com uma irritação exagerada para o assunto. Ele andava muito exagerado. Todos notavam, até mesmo Crabbe e Goyle estavam sendo mais xingados do que de costume. O único que não percebia nada era Draco, ele achava que estava tudo bem. "E está!". Ele achava que estava tudo perfeitamente normal. "E está! Na verdade, eu me sinto melhor do que nunca!". Ele mentia para sí mesmo. Descaradamente.

- A Weasley! – ouvir Pansy dizer aquele nome despertou Draco das suas divagações, ele a ouvia com mais atenção do que jamais tinha ouvido – Desde que o Potter voltou com a namoradinha dele, ela esta mais sonsa do que já era!

- Como assim? – Draco disse ardendo de curiosidade.

- Você não reparou?

- Eu não fico reparando nos Weasley. Agora dá pra explicar logo a porcaria da fofoca?

- Ela esta mais magra, deve estar fazendo greve de fome. Se bem que isso deve ser rotina na casa dela, né? – Pansy e os garotos riram. Draco achou que era uma piada muito velha e muito babaca. – E dizem que ela anda chorando pelos cantos por aí... Isso não é meigo? Agora quanto a ela estar sem comer, eu até acho bom porque ela bem que precisava perder uns quilinhos e...

- Aonde você vai, cara? – um dos rapazes disse ao ver Draco afastando-se do grupo.

Ele não respondeu. "Bando de idiotas...", ele pensou sem entusiasmo. Estava tentando se distrair, e esta indo bem até vir a Parkinson com aquele assunto desagradável. Que perseguição! "Se ela está chorando é porque ela é uma boba! Uma chorona! Eu não tenho culpa.", ele pensava sem notar que se defendia das próprias acusações. Tinha vontade de ver como ela estava, de lhe dar um abraço e perguntar porque ela estava triste. Aí começava o problema. Ele sabia porque ela estava chorando. "E se for mesmo pelo Potter?", ele pensava, mas seu ego e seu bom senso repeliam a idéia. "Não é mais problema meu", o barulho das conversas dos jovens ficava cada vez mais pra trás.

***

Gina deu a volta na quadra de quadribol a passos muito lentos. Ela preferia cruza-la, mas havia um jogo em andamento e ela teve medo de levar um balaço na testa. "Só faltava essa." Logo não havia mais barulho, nem balaços, em nada... Só aquela enorme árvore, o gramado limpinho (a não ser pelas pequenas flores brancas que caiam das outras árvores em volta). Ela sentou-se no chão e abraçou os joelhos. "O que eu faço agora?", nunca uma pergunta fora tão importante e nunca ela esteve tão sem resposta.

- Gina?

Uma parte dela sabia que ele ia chegar, tinha ido ali na esperança de que ele viesse e tinha exultado ao ouvir sua voz. Mas a outra parte, aquela que queria ficar sozinha, não estava esperando isso e sabia o que ia fazer. Ela ficou em pé imediatamente.

- O que você esta fazendo aqui?

- Estava só andando sem rumo... – ele disse com simplicidade – Eu ouvi dizer que você estava triste...

"Ele está preocupado? Ele está me gozando? Ele veio aqui pra alimentar o ego dele?"

- E eu estou. - Gina mantinha seus olhos fixos nos seus próprios pés – Eu vim até aqui pra ficar sozinha. "Mas eu adorei que você tenha chegado..."

Draco murmurou alguma coisa, cruzou os braços e mordeu o canto do lábio.

- Acho que essa é minha deixa pra sair à francesa... – ele disso dando de ombros e virando-se para ir embora.

- Draco...

Não podia deixa-lo ir assim. Seria sua última chance de falar com ele, de estar perto dele... Que loucura! No que estava pensando? Não era hora de pensar em beijos e abraços. Mas, quando ela finalmente se levantou e olhou para ele, era só nisso que ela podia pensar. Queria dar-lhe um beijo, dizer que o amava e que não se importava com o que quisesse ser ou de que lado ele preferia estar. Ela respirou fundo. Não era bem assim...

- Eu queria te perguntar uma coisa.

Draco abriu a boca, mas não disse nada, apenas fez um sinal para que ela fizesse a tal pergunta. Sentia-se tão ridículo, tão fraco... Porque estava agindo assim? Ele, que sempre tinha algo na ponta da língua estava assim, mudo. Ela estava tão pálida. "A culpa é minha?". Não podia ser. Era tão surreal! Como aquilo a tinha afetado tanto? E ela queria fazer perguntas? Ele tinha vontade de dizer algo que a fizesse dar uma daquelas gargalhadas altas e divertidas. "Acho que nenhuma resposta que eu der a faria sorrir...", ele disse imaginando qual poderia ser a pergunta.

- O que faz alguém quer ser um Comensal? – não, não queria generalizar – O que faz você querer ser ?

- Eu não sei... – nunca tinha falado sobre aquilo antes – Bem... Olhe pro meu pai, ele é respeitado! Eu quero ser respeitado. Quero ser levado a sério...

Gina meneou a cabeça.

- Seu pai não é respeitado... Ele é temido! É diferente...

Draco não concordava. "Temor gera respeito" era uma frase clássica nos discursos de Lúcio. Mas ele não quis discutir.

- E quanto ao Você-sabe-quem? – seu tom de voz era urgente – Ele...é um monstro! Como você pode querer ser seu servo?

- Servo? - Draco achou que Gina tinha sido muito infeliz na utilização das palavras. – Acho que é mais como "aliados".

Pensar em Draco, o garoto que ela amava querendo ser "aliado" daquele homem terrível lhe encheu de uma raiva que ela nunca tinha sentido. Queria bater nele. Bem forte, na cabeça, pra fazê-lo entender.

- Ele nunca me falou de aliados. Aliás, ele usava a palavra "servos" constantemente. "Os meus servos..." – ela imitou o modo de falar de Tom Riddle.

- Que seja... – ele expirou ruidosamente – É o preço que se paga. Além disso não me parece tão ruim ser o servo – essa palavra realmente o incomodava – de um dos mais poderosos bruxos que já existiu. Melhor do que ser aliado de um Ministério povoado idiotas patéticos...

"O pai e os irmãos dela!", uma voz berrou muito alto na cabeça de Draco tão logo ele terminou de falar. Ele se lembrou tarde demais que Gina tinha parentes no Ministério. Teve ímpetos de pedir desculpas, mas achou que não era necessário. "São todos uns fracos mesmo!"

- Ele não é o melhor bruxo que já existiu... – os lábios de Gina se abriram num sorriso muito estranho.

- Quem é? Dumbledore e seus ridículos escrúpulos? Que você não goste dele eu entendo, mas ele É o bruxo mais poderoso que já existiu...

- Não sei se é Dumbledore. Mas, acredite, Tom Riddle não é o maior bruxo que já existiu. Ele é um idiota. – o mesmo sorriso.

"Tom Riddle? Esses sonhos mexem mesmo com ela...", ele pensou tentando decifrar o que haveria por trás daquele sorriso tão estranho. Tinha algo de irônico, de nostálgico...

- E quanto a Harry Potter? – ela continuou falando - Ele derrotou seu poderoso Lord quando nem tinha um ano!

A provocação embutida naquela frase enfureceu Draco. Ele a olhou com raiva como se ela fosse o próprio Harry Potter, assustada ela deu um passo para trás. Ele percebeu e amenizou vagamente o ódio em seu rosto. "Potter, Potter sempre esse cretino. Engula a porcaria de Potter!"

- Potter era um bebê! Um inútil e estúpido bebê! – ele rangeu os dentes – Ele não fez nada heróico. Só teve muita sorte...

Como era possível que as pessoas vissem heroísmo naquele tonto? Aí estava o grande mistério que Draco nunca compreenderia...

- Sorte... Ou um bom feitiço de proteção... – Gina insinuou

- Feitiço de proteção? Como aqueles que aprendemos no quinto ano?

- Exatamente. Não contam essa história nas reuniões de Comensais? A mãe de Harry se sacrificou por ele com um simples, antigo e incrivelmente previsível feitiço de proteção.

Qualquer um teria previsto que uma mãe amorosa, na iminência de morrer protegeria seu filho. Era revoltante, mas ele não podia negar que fazia sentido. Draco queria dizer alguma coisa. Qualquer coisa! Sentia-se ofendido por cada uma das palavras ásperas de Gina. Ela era tão delicada, como podia ser aquela pessoa tão ácida também? Draco queria desesperadamente achar palavras pra se justificar e se defender. Ela foi mais rápida.

- Acostume-se, ele comete muitos desses erros. Alguns deles custam bons planos.... e boas vidas. – ela fez uma pausa pensando que uma daquelas vidas, um dia, iria ser a de Draco - Na verdade, vidas ruins também.

- Você está blefando! – ele disse com desdém. – Você não tem a menor base para dizer essas tolices.

- Não estou mentido. Ele é meu melhor amigo esqueceu? Sabe, ele é a pessoa mais esquecida que eu já conheci! Uma vez ele esqueceu dos poderes curativos das lágrimas de Fênix. – uma risada nervosa – Não é engraçado? E, por isso, perdeu a sua segunda chance de matar o Harry! E perdeu uma boa chance de matar a mim também... Eu acho que ele puxou essa memória terrível e esse gênio ruim do seu pai trouxa.

Era impossível que alguém esquecesse que as lágrimas de Fênix curam. Impossível. Nem mesmo o Logbotton... Ok, talvez o Longbotton sim, mas qualquer outra pessoa com o mínimo de inteligência... E, por todos os deuses, o que ela queria dizer com "pai trouxa"?! ‘Não." ele afastou aquela insinuação com um sorriso de descrença, "O Lord não é filho de um trouxa. Não mesmo. Porque isso não faria nenhum sentido."

- Cometendo erros ou não ele é perigoso. Perigoso o suficiente pra matar quem estiver no seu caminho. Eu não quero estar no caminho, e se você fosse esperta não quereria estar também... – ele disse sombriamente.

- Eu já estive no caminho e eu não tenho mais medo! – ela começou a falar alto – Porque eu o conheço melhor do que ninguém, e sei que cedo ou tarde ele vai cometer o erro que vai ser o seu fim.

- Mesmo que você esteja certa. Quando morrer, ele terá levado com ele metade dos seus inimigos. O seu precioso Potter estará entre as baixas com certeza! – ele bradou - E isso me faria muito, muito, muito feliz! Porque ia provar pra todo mundo o grande perdedor que ele é!

A primeira coisa que veio a mente de Gina foi se ele teria coragem de matar Harry se assim lhe fosse ordenado. Não teve coragem de perguntar.

- Ele vai levar muitos dos seus valorosos "aliados" também! Esteja certo de que ele vai levar muitos dos bruxos poderosos que ele transformou em assassinos! Quando se trata de Tom, todos perdem Draco...

Quando Gina finalmente se calou, Draco estava exausto, sentia como se tivesse jogado três partidas de Quadribol e perdido todas elas. Gina sentia o mesmo. Estava cansada, triste, desesperançosa... Ela deu alguns passos a frente e ficou a poucos centímetros do louro. Eles se observaram por um momento. Os olhos de Gina ficaram úmidos.

- Eu fico imaginando como ele vai fazer aquela marca em você... - uma lágrima grossa escorreu pelo rosto sardento - ...fico pensando em quem ele vai mandar você matar primeiro... – ela reprimiu um soluço - Eu me pergunto em que momento você vai deixar de ser o garoto por quem eu me apaixonei para se tornar um assassino...

As palavras de Gina o oprimiam, o colocavam contra a parede e ele odiava estar sob pressão. Mas piores dos que as palavras eram as lágrimas. Aqueles olhos lacrimejantes eram pura tortura. Ele afagou o rosto dela, e Gina colocou sua mão sobre a dele, evitando que ele se afastasse. Os olhos fechados e os lábios entreabertos, como que espera um beijo. Ele ia beija-la mas não teve tempo. Ela largou sua mão e saiu correndo por entre as árvores, de volta para o movimentado gramado do castelo. Draco não fez nada para impedir.

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