Uma prova de amizade



Draco passou como uma bala pela entrada secreta da Sonserina, atropelou três estudantes do primeiro ano, ignorou um "olá" de uma garota bonita de cabelos escuros e disse alguma coisa bem mal educada para seus dois guarda costas (que ultimamente andavam sem rumo, já que Draco sempre queria sair sozinho).

Quando entrou no dormitório, não teve problemas em arrancar um pergaminho em branco das mãos de um dos estudantes que fazia sua lição. Aproveitou e pegou também a pena que ele segurava. O rapaz não reagiu. Apenas lançou um olhar diabólico, que teria assustado a muitos Lufa-Lufa. Rapidamente ele despejou sua raiva em forma de palavras polidas, escritas no pergaminho.

"Pai,

Como estão você e a minha mãe? Bem, eu espero. Eu estou muito bem.

Eu agradeço a sua atenção esses meses todos, com tantas cartas e recomendações. E entendo a sua preocupação em me lembrar da minha responsabilidade. Mas isso não é mais preciso. Receio que suas cartas estejam ficando repetitivas. Não me leve a mal, pai. O que quero dizer, é que você pode se ocupar dos seus afazeres, porque eu estou consciente da minha vida futura.

E há uma outra coisa... receber cartas todos os dias esta começando a me constranger em frente aos outros rapazes (e das moças!). Você entende, não?

Antes que eu me esqueça, agradeça a minha mãe pela ajuda.

Eu me despeço aqui, esperando não ter tomado muito do seu tempo.

Draco"

Os olhos cinzentos passearam pela carta e detiveram-se na parte onde agradecia a sua mãe. Ele já havia agradecido em uma carta particular, mas achou melhor incluir ali também, para deixar o tom mais natural. Ele sentiu uma pontada no coração ao pensar que estava agradecendo pela sugestão do vestido. Não, claro que ela não sabia quem seria a presenteada. Draco apenas pediu uma sugestão, sobre algo que impressionasse uma garota, e Narcisa falou sobre a seda da Malásia. "Se eu fosse uma jovem da sua idade, ficaria muito impressionada", ela escrevera.

Draco enviou a carta tão logo terminou de escreve-la certo de que não receberia resposta. "É bom mesmo...". Ele só lamentava que tivesse tomado aquela atitude tarde demais.

***

- Gina, querida, o que foi? – Lenina balançava as mãos ansiosamente, enquanto Gina chorava de forma muito barulhenta. Estava deitada, com a cabeça no travesseiro e os braços estendidos sobre ela.

Mas a insistência da amiga não adiantou muita coisa, tudo que Lenina conseguiu arrancar de Gina, foi um "Por favor me deixe sozinha!". Ela não hesitou em respeitar o pedido. Os pensamentos da ruiva não tinham muita variação, ela só chorava e se perguntava como tinha acreditado que seu relacionamento poderia ter dado certo. Com o tempo, ela foi se acalmando, os soluços foram cessando, as lágrimas permaneceram, mas agora silenciosas e calmas. Fora uma longa tarde...

Gina não desceu para o jantar. Não tinha fome, não tinha ânimo para descer as escadas, para encarar todos os alunos de colégio... para encarar Draco. E não queria ter que responder as perguntas das amigas sobre os motivos dos seus olhos vermelhos. "Mas amanhã na aula elas vão perguntar...", ela pensou suspirando. Ainda estava deitada, de uniforme amassado, com o rosto molhado quando alguém a surpreendeu.

- Gina? – uma mão leve tocou seu ombro. Ela reconheceu a voz e se levantou imediatamente. – Podemos conversar?

- Mione, eu não estou muito bem... – ela fungou e tentou secar o rosto com as mãos - Não podemos falar outro dia?

- Mas é por isso mesmo! – Hermione sentou-se na beirada da cama – Eu andei conversando com a Leny e nós estamos preocupadas com você.

- Não dê atenção para as histórias da Lenina. Foi só um dia ruim...

- Mas não é só por hoje. Eu acho, nós achamos, que esse seu "dia ruim" tem a ver com seus sumiços dos últimos meses...

- Que sumiços? – Gina corou. Ela realmente não estava esperando. Alguém tinha notado seus desaparecimentos das tardes? "Isso porque eu achava que ninguém me notava!", ela pensou.

- Você achou que ninguém ia perceber? – ela perguntou, lendo-lhe os pensamentos – Seu irmão esta muito desconfiado. Ele também acha que você esta escondendo alguma coisa. E você está.

Não era uma pergunta, era uma firmação muito segura. Gina fez que "sim" com a cabeça. Estava muito cansada de mentir, muito desapontada, muito triste. Não se sentia com forças pra negar. Que ela descobrisse. Que diferença isso faria agora?

- É um garoto, não é? – Hermione a olhava amigavelmente.

- É... – Gina respondeu num suspiro.

- E porque você não contou pra gente? O Rony é um pouco ciumento, mas eu poderia ajudar a "amacia-lo"...

- Mione não é tão fácil... – Gina deu uma risada nervosa – O garoto ele... bem, vocês não iam gostar de saber, por isso eu não contei.

Hermione pareceu ponderar por um instante e depois suas sobrancelhas se ergueram e seu rosto se iluminou em sinal compreensão.

- Ele te deu o vestido. E não é o Harry, agora eu sei que não. – ela falava rápido demais, sem dar tempo para Gina replicar. – Se você não quis nos contar porque nós não iríamos gostar... GINA! Ele é um sonserino?

"Esta ficando quente...", Gina pensou dando um sorriso muito amarelo.

- É, sonserino é uma palavra muito boa pra o que ele é. Mas Mione, eu acho que é melhor eu não dizer quem ele é porque nós terminamos, e isso não importa mais.

Hermione não ouviu nada que foi dito depois de "sonserino é uma palavra muito boa pra o que ele é". Ela simplesmente continuou falando como se nunca tivesse parado.

- Erick Masters!

- Quem?! – Gina estava chocada. Será que era TÃO impossível que ela tivesse ter algo com Draco que Hermione nem pensava nessa possibilidade? Era.

- Não? – Mione a olhava com surpresa. – Mas se não é o Masters eu nem posso imaginar quem seria! Ah! Claro que é ele! Não precisa mentir pra mim, eu não vou contar nada pra ninguém. Além disso, dos sonserinos todos, esse não é dos piores... Ele é até... Hum... Bonitinho.

- Não! Eu nem conheço esse garoto! – Gina deu uma gargalhada. Tinha tanta vontade de saber o que a amiga diria. Tanta! Mas não podia fazer isso... Bem, também não podia ter namorado Draco e mesmo assim... – O sonserino é outro!

Hermione desanimou, como quando Snape lhe tirava pontos. Ela não entendia como podia estar errada. Mas adaptou-se depressa a nova situação, retomou seu ar esperto e voltou a falar.

- Maurice Clark? Nossa, Gina seu irmão te mataria se soubesse... Tudo bem que o amor é cego, mas...

- Não, Hermione, não...

Novamente, Mione continuou falando, sem dar muita atenção as negativas da amiga. Ela citava nomes de garotos com quem Gina nunca nem tinha falado. Com medo de que a lista chegasse em Crabbe ou Goyle, ela achou melhor interromper.

- Draco Malfoy. – Gina ergueu a voz para tentar chamar a atenção.

Funcionou. A garota de cabelos lanzudos parou de falar e analisou a expressão de Gina.

- Como é?

- Draco Malfoy. – ela repetiu pausadamente, com os olhos grudados nos de Mione. - Eu estava namorando Draco Malfoy.

Gina achou que estava preparada para todas as reações da amiga, mas não estava. Quando ela começou a rir, a gargalhar, Gina ficou absolutamente boquiaberta, não podia nem imaginar o que havia de tão engraçado. "Ela não devia estar brigando comigo?".

- Você ouviu o que eu disse? Eu disse que estava namorando o Malfoy!

- Não, não estava! – Hermione ainda ria.

- Estava sim. – Gina disse muito séria.

- Estava?! – a risada cessou imediatamente – Malfoy? Gina, se você não quer me contar quem era tudo bem, mas não diga essas coisas eu quase acreditei...

‘Eu é que não acredito!", Gina se levantou, vendo que a amiga se recusava a acreditar no que ela dizia.

- Espera, Gi! – ela pegou no braço dela, fazendo com que ela voltasse a se sentar. – Isso é sério mesmo?

- É.

Hermione estava de olhos apertados, murmurou algumas coisas que Gina não entendeu, passou a mão nos cabelos, olhou para Gina, olhou para o chão, murmurou mais alguma coisa que terminava com "eu devia ter adivinhado...". Só então ela dirigiu a palavra a Gina novamente.

- Isso acontece desde aquela vez em que eu...

Adivinhando que ela se referia a vez em que tinha visto Gina indo se encontrar com Draco na árvore, ela a interrompeu.

- Desde alguns meses antes disso.

- Meses?! Pelos deuses! – ela balançava a cabeça – Gina, isso é impossível, ele é um Malfoy... Ele não encostaria em você!

Gina revirou os olhos nas órbitas.

- Ele encostou. – houve uma pequena variação da cor do rosto de Gina. Ela ficou ligeiramente rosada. - E bastante.

Ao ouvir o "bastante", Hermione arregalou os olhos, ficou cor de cera e foi tomada por uma expressão de horror e choque. Gina ficou escarlate ao compreender em que ela tinha pensando.

- Não encostou TANTO assim! – ela enfatizou, e Hermione voltou a respirar normalmente.

- Ah bom... Mas mesmo assim, - ela voltou a falar rapidamente – aonde você estava com a cabeça? Ele enfeitiçou você! Só pode ser isso...

- Ele não me enfeitiçou. Antes tivesse enfeitiçado...

Gina contou-lhe toda a história. Todos os detalhes, desde seus encontros para estudo, passando pelo baile e terminando tragicamente na sua última discussão. Ao terminar, as lágrimas voltaram a brotar dos olhos de Gina e ela recebeu um abraço carinhoso da amiga.

- Eu sinto muito! Bem, na verdade eu acho melhor assim. Mas eu fico triste que você esteja sofrendo... Como você pôde esquecer quem ele era? Como pôde se apaixonar pelo Malfoy? – ela perguntou com sinceridade absoluta. Não conseguia, por mas que estivesse tentando, entender o que faria alguém se apaixonar por Draco.

- E você acha que eu queria? – Gina deu um sorriso triste – Eu não queria isso. Eu detestava aquele garoto e o que o nome dele significava para minha família! Mas as coisas ficaram fora de controle de repente... – olhar dela se perdeu no vazio e ela parou de falar.

De repente, Hermione franziu o cenho.

- Seu irmão vai te matar quando souber. E vai matar o Malfoy também.

- Por favor não conte nada ao Rony! Ele faria um, escândalo, contaria pro papai. Você imagina só se meu pai resolve tirar satisfações com Lúcio Malfoy? Mione, você tem guardar segredo....

- Você tem toda razão. – ela concordou muito séria – Isso pode dar problema bem grave...

- Então eu posso contar com você?

- Se você me prometer que não vai mais se encontrar com esse cretino! – Mione disse energicamente.

- E porque eu faria isso? – o tom era de desesperança.

- Então esse segredo fica entre nós duas! – ela abriu um sorriso e as duas selaram o compromisso.

Hermione saiu do quarto confiante de que cumpriria até o fim a sua palavra, ela sabia dos riscos que estavam envolvidos. "Nem que o Rony faça greve de fome eu digo alguma coisa!". Só Gina não tinha muita certeza se poderia cumprir sua parte no trato, já que tudo em que ela podia pensar era em ver Draco novamente.

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