E Agora?



- Nada como a vida em família para melhoorar nosso humor! - Hermione tinha dito pouco antes da despedida na estação. - Qualquer coisa me escreve!
Gina não tinha escrito, embora as vezes tivesse tido vontade. Mas escreveria pra que? Pra dizer que não tinha melhorado, que não tinha fome, nem vontade de sair de casa? Que sua mãe já estava começando a desconfiar que algo ia mal? Além disso, não precisava escrever, porque em alguns dias Hermione viria para o casamento de Gui e ficaria sabendo de tudo.
Ela tinha a impressão de que o acaso conspirava contra ela. Estava em casa a menos de uma semana, quando achou em meio a seus livros, a foto que Colin havia tirado. Draco tinha devolvido para ela, mas não antes de acrescentar uma bela moldura e um feitiço. Toda vez que ela tocava a parte de traz da moldura apareciam as palavras: "Um belo casal, não acha?", escrito na letra caprichada de Draco. "Rasgue", ordenou sua racionalidade. E desde quando Weasleys davam ouvidos a racionalidade? Ela escondeu num fundo falso do seu guarda roupas, onde, um dia, havia escondido seu diário. Não voltou a mexer ali nos dias que se seguiram, mas era estranhamente confortador saber que a foto ainda estava lá.
O dia do casamento chegou depressa. E Gina descobriu da onde conhecia a noiva de Gui quando Mione repreendeu Rony por estar "prestando atenção demais" nela. Era a garota veela que tinha participado do torneio tribruxo anos atrás. Péssimas recordações daquele ano.... Mas o que importava era que o casamento estava lindo, todo mundo estava alegre, e a casa cheia. Durante a cerimônia, Gina, assim como Hermione, Penélope e todas as jovens apaixonadas, se imaginavam no lugar de Fleur. Casando com o homem dos seus sonhos... "Ah, sim!", ela pensou tristemente, "O homem dos meus sonhos, o Comensal da Morte do ano" Gina se irritou consigo mesma quando sentiu uma lágrima se formar em seus olhos. "Você ainda é uma menina chorona...", ela repreendeu-se.
- Você vai ser muito feliz, Gi. - sussurrrou Hermione vendo a expressão de tristeza da amiga e adivinhando seus pensamentos - Com um bom rapaz que te mereça.
Ela tentou imaginar-se, como já tinha feito tantas vezes, casando-se com Harry. Ela quase gargalhou. Era tão ridículo! Não tinha clima, era como casar com um de seus irmãos! "Imagine só, beijar Harry Potter!", ela pensou sem poder esquecer de como tinha saudade dos beijos de Draco. Ela bem que tentou se imaginar feliz, casada e com aquele monte de filhos que ela queria ter quando era criança... Mas ela só conseguia quando Draco estava no seu devaneio. "Imagina só que fofo, papai Draco trazendo o padrinho de Draco Jr pra jantar em casa.", ela imaginou-se jantando com Lord Voldemort, sendo chamada de "Sra. Malfoy" e novamente prendeu uma risada histérica.
O casamento de Gui e Fleur tinha sido duas vezes mais exaustivo para ela do que para os demais, por isso ela resolveu recolher-se tão logo os noivos partiram em lua de mel. Ela sabia que seria mais uma noite em que não ia dormir...
- Virgínia Weasley, você precisa dar um jeito na sua vida. - ela disse em voz alta, quando já estava sozinha no quarto. - Como? - ela disse baixinho, prometendo para sí mesma que não ia chorar mais.




Fora o jantar mais luxuoso que Draco já vira na vida, e ele sentia-se orgulhoso de que fosse na sua casa. Tantos tipos diferentes de prato que seria impossível provar de todos em um só dia. Tantas pessoas que a casa não teria comportado sem uma ajuda mágica. Lúcio falou a noite toda, Draco não teve dúvidas de que ele tivesse falado com todos os convidados da festa. Ele não se lembrara de ver o pai tão orgulhoso, tão alegre. Narcisa fez bem menos social do que seu esposo, sempre mais comedida e discreta. Mesmo assim, ela usava jóias novas, parecia muito mais sorridente do que o habitual.
- Um brinde, a aquele que há de ser o meelhor de nós! - Lúcio ergueu a taça de vinho, oferecendo a Draco o seu brinde.
Sendo o centro das atenções e recebendo um brinde tão lisonjeiro, Draco se sentia perfeitamente confortável. "Ser o melhor de vocês não parece muito difícil", ele pensou sorrindo cordialmente para seus convidados, como um bom anfitrião deve fazer.
- Darei o melhor de mim. - disse com firrmeza, e brindou.
"Que chatice". Agora, deitado confortavelmente no sofá da sala da lareira, Draco não podia dizer que o jantar tinha sido divertido. Como um bando de bajuladores falsos que estão na sua casa cheios de segundas intenções pode ser divertido? Mas tinha valido a pena, por sua mãe e seu pai... E por ver braços direitos de Lord Voldemort o olharem com inveja. Logo, ele seria superior a todos eles, tendo que receber ordens apenas do Lord. "Seria divertido mandar em todos eles...", ele divagava com um sorriso superior dos lábios. Teria que obedecer o Lord, mas bem, era um preço justo a se pagar... "Não é?".
Tinha sido fácil ser simpático com Klaus Masters, tinha sido fácil ouvir os discursos constrangedores de Lúcio sobre "como eu estou orgulhoso do meu filho", tinha sido fácil até mesmo ignorar os comentários imbecis da mãe de Crabbe (era evidente da onde tinha saído aquela genialidade). A única dificuldade foi desviar o pensamento que insistia em voltar para uma certa garota ruiva. Draco não podia evitar de pensar nela, de pensar em como ela se sentiria se visse aquele jantar para comemorar uma coisa que lhe dava tanto desgosto. A lembrança de Gina, o semblante tomado de tristeza, as lágrimas... Draco apertou os olhos e passou as mãos pelo rosto, como se uma lembrança pudesse ser espantada com movimento.
Ele se levantou num salto. Já era hora de dormir, teria um dia cheio amanhã, e uma noite muito, muito, muito importante. No caminho para seus aposentos, Draco chegou ao longo corredor do andar superior, que dava para todos os quartos da casa. Naquele corredor havia praticamente um museu Malfoy, uma coleção dos retratos de todos os homens da genealogia da família desde... bem, desde muito tempo. Draco podia passar rapidamente por ali, mas resolveu fazer algo que a muito tempo ele não fazia: olhar os quadros.
"Roger Malfoy - 1315/1347", Draco leu no rodapé do retrato que trazia um homem jovem de cerca de vinte anos, mas com linhas de expressão bem marcadas, que o faziam parecer bem mais velho. Draco continuou andando vagarosamente, passou por alguns outros Malfoys e parou novamente em "Michel Malfoy - 1493/1537". Este chamou a atenção de Draco por não ser louro como ele e seu pai, e sim ter os cabelos muito escuros e a pele bronzeada. "Quantos anos será que ele tinha nesse quadro?", ele se perguntava analisando as feições do rapaz do quadro, "No máximo uns 25...". Quando chegou em "Richard Malfoy - 1566/1610" e percebeu que ele também parecia muito jovem, Draco se lembrou que uma vez, quando ele ainda era criança, seu pai lhe dissera que era o costume da família ter seu filho homem retratado assim que se tornasse homem. Sim, um artista, o melhor do mundo mágico, havia sido chamado para pintar Draco há algumas semanas. "Aonde será que está meu quadro?", ele ainda não havia visto o resultado final. Adam, Henry, Felix, Robert, Emilio, Brian, Derick, Louis... Draco foi passando os olhos por cada um deles, todos com mais ou menos a sua idade, todos com as melhores roupas de sua época, seus nomes gravados no mais puro ouro. O garoto não pode deixar de notar que nenhum deles havia vivido mais do que 60 anos, uma idade bastante baixa para um bruxo. Draco pensava nisso, quando se deteve em frente a "Julian Malfoy - 1823/1842". Três coisas lhe fizeram parar naquele quadro: Ele estava acordado, e seus olhos muito claros chamaram atenção naquela escuridão do corredor. Ele não apenas era jovem na pintura, como tinha falecido muito jovem. "Só dezenove anos!", Draco pensou fazendo a conta mentalmente. E terceiro, aquele quadro já havia chamado a atenção dele antes...
- Mãmae! Olha esse! - o menino de 7 anoss, pálido e sem um dente de leite apontava para a pintura.
- Estou vendo, querido... Vamos ver se vvocê vai acertar...- a jovem mãe aproveitava a empolgação da criança para zelar por sua educação.
O menino parou por um instante para contar nos dedos. Pouco tempo depois seu semblante se abriu num sorriso de compreensão.
- Dezenove!
- Isso mesmo! Acho que já chega de contaas por hoje, não? - ela disse não muito animada pela perspectiva de mais uma dezena de quadros pela frente.
Draco pegou na mão da mãe para ir em direção a escada, mas não deu nenhum passo. Narcisa virou-se para ver porque.
- Mãe... Papai diz que o Lord é muito veelho e sábio... E ele diz que o Dumbedlore...
- Dumbledore... - ela corrigiu pacientemmente.
- ...é um velho caduco.
Ela conteve uma risada.
- Sim. E o que tem isso Draco?
- Por que nenhum Malfoy é um velho sábioo?... Ou um velho caduco? Todos eles são mocinhos olha! - ele largou a mão da mãe para apontar novamente para o quadro de Julian.
Narcisa deu um longo suspiro, passou as mãos pelos cabelos e abaixou-se o suficiente para olhar o menino nos olhos.
- Os Malfoy nunca ficam velhos querido. - ela sorria aquele sorriso esperto, que Draco iria repetir tantas vezes quando fosse mais velho.
Draco sorriu ao ter aquelas lembranças de volta, estava tão dentro de sua cabeça que ele achava que estava perdida. Ele riu de sí mesmo, de sua ingenuidade, de ter se satisfeito e acreditado literalmente nas palavras que sua mãe dissera naquela tarde. Era uma resposta boa... Draco nunca mais tocara no assunto e nem voltara a olhar os quadros. Até aquela noite.
"Claro que os Malfoy não ficam velhos...", ele olhou todo o comprimento do corredor, a fileira de quadros na parede, "...porque ele morrem antes", não havia nenhuma emoção especial quando ele pensou nisso. Draco continuava de pé, em frente ao tal Julian, sorrindo vagamente, pensando, as lembranças iam e vinham em sua mente...
- Um homem de verdade, Draco...- disse uum austero Lúcio Malfoy para um Draco de treze anos recém completos - ... está sempre um passo a frente do inimigo. Só os tolos se deixam surpreender! A vida não é uma folha ao vento, como dizem uns imbecis, a vida é um barco esperando que você tome o leme. Está prestando atenção em mim garoto?
- Claro pai! - Draco despertava desajeittado de uma distração - Eu vou tomar o leme! Eu não sou um tolo, nada vai me surpreender, não senhor.
Lúcio sorriu, os olhos cinzas se apertaram com satisfação.
"É incrível como tantos pensamentos podem passar pela cabeça de uma pessoa em um segundo.", foi o ultimo devaneio de Draco, antes de ele ser bruscamente interrompido.
- Está olhando o que? Perdeste alguma cooisa aqui ou és apenas idiota? - Julian Malfoy esbravejava irritado de dentro do quadro. - Não tens nada de que se ocupar?
Draco nem se deu ao trabalho de responder, apertou o passo e quase correu até seu quarto. Na sua cama, havia o seu quadro terminado e com um bilhete.
"Mais um homem para a história da família. Temos certeza de que será um orgulho para seu nome.
Seu pai e sua mãe."
- Eu serei... - Draco abriu a janela e ssentou-se no chão da sua varanda observando o céu sem estrelas. Uma brisa abafada soprava lentamente.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.