Capítulo 17 – O Sonho

Capítulo 17 – O Sonho



Uma brisa quente. Como a brisa que entrava pela janela do seu quarto nas manhãs de verão. Não. A janela nunca estava aberta. Mas a brisa ainda batia, quente e suave. Mãos. Mãos delicadas, dedos longos, unhas curtas. Aquele toque suave. Suave e quente. Ele abriu os olhos. Estava tão claro! E ele não via. Chamava. Quem ele chamava? Queria ouvir o nome que chamava. Não podia. Queria ver. Não podia. Tudo eram aquelas mãos e aquelas mãos eram tudo. Sensações delicadas. Delicadas como uma chuva fina de inverno. Não eram grosseiras, não eram vulgares. Eram doces.Gostava do inverno. Gostava dela. Ele chamava. Chamava e ela não vinha. Dor. Aquela luz cegando. Ela não vinha. Dor. Ele chamava e não ouvia. Dor. Já não queria mais saber, só queria a resposta. Algo gelado na sua orelha. Língua. Ele riu, não havia mais dor. Mãos, e pernas, e braços e línguas. Sensações. E ele não via. Mas sentir era tudo. Ele ria. Mais uma vez ele chamou. Uma risada. Uma risada que não era a dele. Uma risada alta e divertida.Uma risada em todos os tons. Ele riu. A risada ficava alta e alta. Ele ria também. Uma risada quente como aquela brisa. Uma risada delicada como aquelas mãos. Doce. Quente.Uma risada vermelha. Vermelha como toda aquela luz que o impedia de ver. Vermelha como os cabelos de...

- GINA WEASLEY!?

Quando voltou a realidade, Draco estava sentado em sua cama nas masmorras pronunciando aquele nome. Repetiu por mais uma vez, tentando entender o que estava dizendo. Olhou para si mesmo e viu-se encharcado em suor. A camisa molhada o incomodava, e ele a tirou. O vento frio da madrugada quase congelou suas costas, mas ele não estava ligando pra isso. Ele ofegava como se tivesse participado de uma corrida. Um barulho alto o assustou, era Crabbe batendo a mão gigante na armação da cama. Draco prendeu a respiração, mas em um segundo o garoto voltou a ressonar tranqüilamente.

O louro abriu a boca para falar consigo mesmo, mas as palavras não vieram. Ainda ofegava e o frio começava a incomodar. Porque tinha sonhado com ela? Que maluquice! Que ela fosse bonita tudo bem, ele achava muitas garotas bonitas, mas nunca sonhara com nenhuma delas. Nunca tinha sonhado com Pansy! “Que comparação ridícula!”, não pode evitar pensar.

O louro segurou a cabeça nas mãos. O que estava acontecendo? Essa convivência com Gina não estava lhe fazendo nada bem. Esse tipo de... , sentimento não era nada apropriado (ele não gostou de ter que usar a palavra “sentimento” em relação a Gina. Achou que soava muito estranho). Draco sabia bem o quanto seria perigoso uma aproximação mais “íntima” com uma Weasley. Poderia significar, vergonha familiar! Na melhor das hipóteses ele seria deserdado! Sem contar os anos de reputação pessoal jogados ao vento...

Mas porque estava pensando em toda essas possibilidades? Não ia haver aproximação nenhuma! Era só uma menina como tantas outras! Era só uma menina como Pansy (ele forçou a comparação, por mais que a achasse ofensiva para Gina). Não ia perder noites de sono por causa de uma menininha... Nem que fosse uma menininha especialmente interessante. “Ela NÃO É INTERESSANTE!”, gritou uma voz muito enérgica dentro da sua cabeça. “E também não é uma menininha...” disse mais brandamente uma outra voz. Caos é a palavra que definia o estado mental de Draco naquele minuto. Ele não entendia como as coisas tinham chegado naquele ponto, e nem sabia “em que ponto” elas estavam.

Era só parar de vê-la todo dia que essas idéias estúpidas terminariam tão depressa quanto começaram. Aqueles treinos de Quadribol vieram bem a calhar, uma semana de paz estava garantida. Draco buscou um pergaminho ao lado da cama e rabiscou um bilhete furtivamente, pretendendo mandar a coruja logo pela manhã. Um pouco mais tranqüilo ele ajeitou-se para voltar a dormir, amanhã as coisas começariam a voltar pros seus lugares, ele tinha certeza.

E quanto ao sonho...”Ora, foi apenas um sonho!”

***

Lá no seu quarto, no alto da torre da Grifinória, uma mocinha de cabelos vermelhos olhava pela janela e suspirava, se perguntando porque não conseguia dormir.

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