Super Herói



“Ter aulas com Malfoy!” pensou irritada enquanto se dirigia para fora da ala das masmorras. “Aposto que ele fez de propósito para que eu não passe de ano! Humf!”.

Ia organizando os pensamentos, quando sentiu uma mão pesada em seu ombro. Subitamente lembrou-se que não devia estar andando sozinha, e ainda mais nas masmorras. Estava positivamente no lugar errado e na hora errada.

- Agora eu te peguei, Weasley! – Emília Bulstrode forçou-a a virar-se de frente.

Lá estavam as outras duas também, mas mantinham uma distancia de alguns metros, coisa que deixou Gina bastante apreensiva. Agora não havia Madame Norrra, nem uma multidão de alunos para evitar que Bulstrode a quebrasse em duas. E a julgar pelos olhares esperançosos de Donovan era isso mesmo que ela pretendia fazer.

- Porque não repete o que disse ontem, pobretona! – disse Gunnar com as mãos na cintura. Edith Donovan deu uma de suas guinchadas estranhas.

- Vamos repita! – Gina sentiu-se erguer pela mão enorme de Bulstrode até que seus pés não tocassem mais o chão. Os dentes cerrados de Bulstrode rangiram, Donovan guinchou alto novamente, Babette bufou satisfeita.

“Então é isso!” pensou meio em pânico enquanto se esforçava para não encarar Emília (coisa que era bem difícil estando a cinco centímetros dela e sendo suspensa no ar). “Eu vou apanhar não importa o que eu diga”

- Eu...eu...

Ora! Se ia apanhar merecia uma compensação. Ir para ala hospitalar pelas mãos de uma sonserina deveria ter uma recompensa – uma faísca do que os gêmeos chamavam de “fogo Weasley” acendeu em Gina. Acontecia sempre com Rony e com Carlinhos, mas Gina nunca achou que tinha isso também. A garota respirou fundo e disse de uma só vez.

- Sonserinas cretinas, nojentas e porcas! – fechou a boca depressa, não acreditando que tinha tido coragem. Não se lembrava de ter feito nada tão idiota antes.

Ela fechou os olhos e prendeu a respiração. Estava feito e não podia mais ser desfeito! Só esperava que fosse rápido. Contraiu todos os músculos para receber o soco (que não deveria ser nada fraco), mas o tal soco não veio.Ao invés disso, uma voz desdenhosa e arrastada cortou o ar. Gina abriu os olhos, estupefata.

- Que ridiculo! – era ninguém menos que Draco Malfoy, sustentando uma expressão de desgosto e de braços cruzados sobre o peito.

- O que você disse Malfoy?! - A voz da enorme sonserina estava assustadoramente rouca, mas Draco não pareceu intimidado.

- Porque você não procura alguém do seu tamanho?! – os olhos dele brilharam maldosos e ele completou - Como Hagrid, por exemplo!

Bulstrode largou Gina, que caiu sentada no chão, e lá ficou chocada com o que estava vendo. As outras garotas também pareceram reconhecer a gravidade da situação, pois Edith não guinchou, apenas levou as mãos à boca, enquanto Babette se escondeu debilmente atrás dela. Emília estava na frente de Malfoy, se projetando ameaçadora para frente.

- Já apanhou de mulher, Malfoy?

Novamente, Draco não pareceu se afetar com as palavras da garota. E contrariando todo bom senso, ele disse em tom de voz alto.

- Me bata Bulstrode! Vamos! Me bata e eu juro que conto pra todo mundo seu segredinho!- deu uma ênfase estranha nessa ultima palavra.

Gina não podia ver o rosto dela, mas supôs que ela tivesse sido afetada por aquela ameaça, já que ela deu um passo discreto para trás.

- Que...que...segredinho? - balbuciou

- Imagine só! Todos na Sonserina sabendo que você não é nada além de uma sangue ruim! – essas últimas palavras ele disse num sussurro tão baixo que Gina duvidava que Edith e Babette tivessem ouvindo. Na verdade, ela mesma teve que ler os lábios de Malfoy para ter certeza que ele tinha dito “sangue ruim”. E tinha.

Emília Bulstrode virou-se para as amigas numa expressão mortificada, como se tivesse estado com Lord Voldemort em pessoa. Num aceno mudo de cabeça liderou as duas colegas depressa para longe dalí.

Ainda sentada no chão, Gina procurava entender o que tinha acabado de acontecer. Mas o fato de Draco Malfoy ter aparecido do nada e evitado que ela levasse um soco de garotas da Sonserina não parecia muito lógico, claro que ele tinha um plano ou algo assim. De qualquer modo, lhe parecia correto agradecer.

- Malfoy...- quando ela resolveu falar, já era tarde. Draco estava virando no fim do corredor que dava para a escada de acesso ao salão principal.

***

- Puxa! Que sorte você teve com aquelas sonserinas! – disse Neville com um pedaço de bolo na boca. – Ser salva pela Madame Norra duas vezes! Você é mesmo uma pessoa de sorte!

Duas vezes? Sim, porque Gina havia contado toda a história a Neville, mas fez uma pequena “adaptação” substituindo Draco, pela gata de Filch.

- Escapou de umas sonserinas?! – disse Rony, que pegou a ultima parte da conversa.

- Não graças a você! – disse sem pensar.

Rony fez um muxoxo e Mione correu em sua defesa.

- Gina, desculpe não estarmos dando atenção para você.

- Estamos com problemas muito grandes! Muito mesmo! – Harry completou em tom grave.

- É claro...eu imagino. Desculpem o mau humor, é que eu estou tendo que estudar demais. – a intervenção de Harry era sempre suficiente para deixar Gina fora dos seus padrões normais de comportamento. Ela não se lembrava de ter falado alto perto dele nenhuma vez.

- Ora, mas isso é bom! – disse Mione animada – Eu gostaria de ter mais tempo para me dedicar aos meus estudos. Na noite passada tive que ficar acordada até duas da manha para poder terminar tudo.

Hermione havia colocado, sem saber, o ponto final em todas as esperanças de Gina de conseguir um parceiro de estudos que não fosse sonserino. “E agora?” pensou desolada. Uma voz na sua cabeça respondeu.

“Tem o Malfoy! Você devia pedir ajuda pra ele, afinal você precisa de ajuda”. Era realmente uma voz chatinha que lembrava Gina da sua ultima opção. Mas não podia ser! Tinha que ter outro jeito!

- Neville! Se você precisasse de muita ajuda, de uma pessoa que você não tem certeza que é legal... Você pediria?

- Eu preciso de ajuda de todo mundo! – disse dando de ombros - Aprendi que não há vergonha nenhuma em pedir ajuda a alguém melhor. Especialmente se você precisa...

- Ah... – não era bem isso que queria ouvir. Talvez tivesse feito a pergunta para a pessoa errada.

- Mas você não precisa se preocupar! Precisaria da ajuda de quem?

Neville não tinha idéia de o quanto estava enganado. Não só ela precisava de ajuda como precisava de ajuda da ultima pessoa que gostaria. Novamente a vozinha na sua cabeça entrou em ação (e Gina reparou que a tal “voz” falava como sua mãe!):

“Você já teve ajuda dele antes! Se não quer pedir pelo menos deveria agradecer, sua mal educada!” Gina não podia imaginar que tinha uma consciência tão autônoma. Mas era verdade! Ela não tinha agradecido a Draco ontem, tinha o pretexto perfeito para procurá-lo!

Antes que mudasse de idéia, pegou uma folha de pergaminho dentro da mochila e rabiscou as seguintes palavras.

“Malfoy,

Gostaria de lhe agradecer por ontem e lhe falar sobre um outro assunto também. Se você tiver um tempo para falar comigo eu ficaria agradecida.

Virginia Weasley”

Achou ridículo, mas mesmo assim, despediu-se do povo que estava na mesa e saiu correndo para o Corujal. Ia mandar pelo correio?! Bem, a idéia de ir a mesa da sonserina e entregar a ele lhe pareceu pior do que enfrentar dragões.

***

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