O baile



Draco, que normalmente já passava horas no banho, demorou mais do que de costume. Seu traje de gala era escuro e sóbrio, composto de uma calça de tecido pesado, com uma pequena prega nas laterais; uma camisa branca em estilo antigo (muito parecida com as que seu pai costumava usar), mas ela ficava quase totalmente escondida por uma blusa de manga comprida, também preta, feita de veludo.

Antes de sair, olhou-se no grande espelho do toalete e sorriu: estava mesmo muito bonito. Ele censurou-se rapidamente por demorar tanto tempo se arrumando, já que não ia ficar muito na festa. Ao olhar no relógio do corredor agradeceu aos céus por não ter par, porque, se tivesse, já teria demorado mais do que a menina.

- Aposto que a Weasley esta de arrumando toda pro Potter... – ele resmungou enquanto entrava no salão, que ainda não estava cheio.

Em parte, ele tinha razão, porque Gina estava ainda estava se arrumando. Todas as meninas da grifinória estavam, e o quarto estava uma perfeita bagunça. Anáguas, bob´s de cabelos, grampos, poções alisantes, pulseiras e colares pra todos os lados. Meninas seminuas passando perfumes afrodisíacos, filhas de trouxas tentando pintar as unhas da forma convencional e bruxas indignadas por não entrarem em seus vestidos.

- Gente! Meu cabelo está inteiro liso? - Hermione, que já estava pronta pedia uma ultima aprovação para poder sair.

- Está! Mione, como você consegue se arrumar tão depressa? - choramingou Lenina que tentava achar o outro pé do seu calçado.

- Deve ser porque eu sei onde ponho minhas coisas. - disse entregando o sapato cor de rosa a Lenina. - Bem eu vou indo...

- Espera Mione! - disse Gina urgente - Fecha aqui o meu vestido que eu também já estou pronta.

A ruiva deu as costas para a amiga, e esta fechou os botões do vestido azul. Gina ajeitou o vestido simples com as mãos e pediu aprovação das colegas.

- Esta linda Gi! - exclamou Lenina, que agora lutava para arrumar o cabelo.

- Muito bonita mesmo! Tem certeza de que você vai sozinha? - desconfiou.

- Eu duvido! - Lenina se meteu, ainda em guerra contra seu cabelo - Esta toda perfumadinha... Aposto que esta de namorado secreto! Eu tenho até um palpite de quem seja...

- Cala a boca Leny! - Gina não deixou a colega acabar de falar - Eu não me arrumei pra ninguém! Eu vou ficar sozinha, vocês vão ver!

- Sem brigas meninas! - Hermione disse, posando de monitora chefe - Mas bonita assim, eu duvido que você fique sozinha até o fim da festa

As duas saíram juntas, deixando uma legião de meninas histéricas para trás.

- Sabe Gina, você fica muito bonita de azul. - Colin disse quando elas chegavam ao salão. A garota corvinal que o acompanhava pisou no pé dele, irritada, e o puxou para dentro.

“Será que o Draco gosta de azul?”, pensou olhando para a própria roupa.

***

“Ow!”, foi o único pensamento que ocorreu a Draco quando ele viu Gina entrar no salão. Ele observou que o vestido azul petróleo caia perfeitamente na jovem. A roupa dela era muito mais simples, e infinitamente mais barata do que a de Draco, tinha sido comprada pelos gêmeos, com os lucros da “Gemialidades Weasley”. Era um vestido de alcinhas largas, que cobriam os ombros, mas deixavam os braços e o pescoço desnudos; ele seguia moldando a cintura e alargava-se levemente nos quadris. Simples como Gina gostava, nada de brilhos nos cabelos, nem feitiços que faziam os sapatos mudarem de cor. Só uma tiara de pedrinhas brancas no cabelo solto.

Gina cumprimentou os amigos, e nem viu quando Parvati passou na sua frente de propósito, levando Harry pela mão para a pista de dança. Ela não pode reparar porque estava mais ocupada procurando uma outra pessoa: Draco. Estava doida pra saber com quem ele tinha vindo, tinha sido quase uma obsessão desde que ela soube que Pansy já não era mais a namorada oficial. Ela deu uma volta no salão observando em todos os cantinhos, mas, quando tropeçou num casal que dançava ela caiu em sí. O que estava fazendo? Pra que ela queria ver Draco? Não tinha nada pra falar com ele e, alias, nem podia falar com ele em público. Queria acha-lo porque então? Ela engoliu seco quando pensou que talvez estivesse mais interessada em Draco do que deveria. “Só agora você descobriu?!”, Gina ouviu uma voz na sua cabeça e sentiu-se muito tola.

Não podia estar certa! Isso era ridículo, como ela estaria... gostando...er... a fim... de um Malfoy? Isso era inadmissível, era loucura. Gina sentou-se num cantinho do salão procurando acalmar o pensamento. “Ok, Gina, vamos por partes”, ela respirou fundo, “Ele é bonito.”. Ela concordou, ele era bonito mesmo, e isso ela não podia negar. “Ah, mas eu não achava ele bonito antes de conhece-lo melhor”. Ela começou a ficar desesperada. Aquilo estava desafiando toda a lógica que ela conhecia; conhecer melhor Draco deveria ser um motivo pra detesta-lo ainda mais.

“E eu detesto!”, defendeu-se, “Eu o odeio!”, repetia para sí mesma. Mas será que odiar era assim? “Ah Gina, você deve estar pirando”, ela pensou que se o visse, se olhasse pra aquela cara cínica e lembrasse da pessoa horrível que ele era, ela ia parar de maluquice. Ela se levantou e continuou sua busca, confiante que era só uma crise de quem não estava acostumada a ficar com o coração vazio.

Draco ainda a olhava, porque não tinha conseguido tirar os olhos dela desde que a vira entrar no salão. “Draco, você não devia ter terminado com a Pansy”, pensou com medo do friozinho na barriga que estava sentindo. De repente Gina o surpreendeu, respondendo-lhe o olhar. O louro percebendo que ela o fitava de forma estranha, parecia assustada. “O que ela tem?”. Então ela olhou para Harry, que apanhava um refresco para a namorada. “Que estúpida, ainda babando pelo Potter”, pensou com uma pontada de rancor e um pouco daquela “curiosidade” que lhe fazia querer entrar nos pensamentos dela.

“Ah, não Gina!”, ela olhava de Harry para Draco, tentando compreender. “Como isso aconteceu? Harry é lindo, um rapaz de ouro, tão simpático, gentil... E Draco... Ora ele é o Draco!”. Entendia cada vez menos. Só sabia que mesmo agora, olhando pra cara “cínica” do sonserino (que agora parecia mais intrigada do que cínica), e mesmo comparando-a com seu querido Harry (que não era tão querido quanto fora antes) ela ainda queria falar com ele. E nem sabia o que queria dizer, só queria chegar mais perto e dizer alguma coisa que era importante, mas ela não sabia o que era.

Gina sentiu que aquilo era familiar, aquela vontade de estar perto, ela já tinha sentido algo assim antes. “Era assim quando eu me apaixonei pelo Harry...”, ela pensou, lembrando de quantas vezes tropeçara, ou falara baixo demais, ou tinha ficado olhando de longe. Ela lembrou-se que gostava de Harry, mas tinha vergonha de ficar perto dele e fazer alguma bobagem... “Do Draco você não tem vergonha”, zombou uma voz na sua cabeça.

Foi com horror absoluto que Gina entendeu o que estava sentindo. Quis expressa-lo em palavras, mas não teve coragem. “Eu não estou apaixonada por Draco Malfoy”, foi o ultimo pensamento que ela teve, antes de sair discretamente em direção ao jardim.

- Olha por onde anda! – a sonserina quarto-anista em quem Gina esbarrou reclamou.

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